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Fé e Política
from O Mensageiro - Julho 2020
by Loreto
Fé e Política Robson Leite
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“Não haverá um modelo de sociedade justa e fraterna sem o rompimento com qualquer sistema opressor existente em seu seio”
A paz se cria e se constrói na presença firme e inabalável da justiça. Sem ela, a justiça, não haverá nunca uma paz verdadeira e duradoura. E essa justiça passa, sobretudo, pela denúncia e combate a qualquer sistema opressor existente na sociedade. Esses são, sem sombra de dúvidas, os pilares que fundamentam a firme construção de um novo mundo: justo, fraterno e igualitário.
Trabalho escravo, exploração de menores, violência contra a mulher, corrupção, miséria, fome e pobreza são consequências de um sistema social em que não há justiça. Toda essa exploração tem origem na opressão de um poder vigente, normalmente o capitalismo, de poucos sobre muitos. Um poder que oprime, esmaga e mata em nome do “deus dinheiro”, conforme o Papa Bento XVI afirmou na Encíclica “Caritas in Veritat” e que vem sendo repetido sistematicamente pelo Papa Francisco. Um poder que, em pleno século XXI, traz ao seio da sociedade problemas que deveriam ter sido banidos há muito tempo. A falta de uma legislação em diversos países, como o Brasil, que puna com rigor a existência de trabalho escravo em seu contrato social é um grande exemplo disso.
A Constituição Brasileira, assim que foi promulgada, recebeu o apelido de constituição cidadã. Isso por incluir, em seu texto, dispositivos que protegem minorias e que zelam pela inclusão social de todos. Porém, infelizmente, a falta de regulamentações de diversos artigos fez com que esse apelido se tornasse distante da realidade social brasileira. Vide, por exemplo, a falta de coragem do nosso Congresso em regulamentar o IGF – imposto sobre grandes fortunas. Cabe aqui explicar que o “imposto” é uma espécie de tributo que tem a função constitucional de distribuir renda e patrimônio. Cobrar mais de quem tem mais e menos de quem tem menos.
Outro exemplo de como estamos distantes de uma verdadeira libertação dos regimes opressores que comandam a nossa sociedade é o nosso próprio código penal. A sua lógica não segue a defesa da vida, mas do patrimônio. As punições aos crimes contra o patrimônio possuem um rigor maior do que os crimes contra a vida. Outro triste exemplo que justifica esse terrível e infeliz privilégio da defesa do patrimônio é a atuação das polícias estaduais em nosso país. As táticas de confronto das secretarias de segurança estaduais, que fazem com que tenhamos a polícia que mais morre e mais mata do mundo, revelam que o direito ao patrimônio e a criminalização da pobreza são os princípios que orientam essa nefasta lógica opressora presente no capitalismo. O que, provavelmente, justifica essa prática é uma tática eleitoral de tentar, usando o sangue de pessoas pobres que moram em favelas, enganar o cidadão construindo uma falsa impressão de que o estado está “lutando” para coibir a violência e proteger o patrimônio do cidadão, mas na verdade o que ocorre é apenas o aumento do número de homicídios e da violência propriamente dita. E isso é um absurdo incomensurável e uma grave ofensa a Deus.
A solução para esse problema é a nossa participação ativa nos instrumentos de cidadania que a constituição nos oferece. Os conselhos municipais de fiscalização, as associações de moradores, os sindicatos e até mesmo os partidos políticos estão a nossa disposição para isso. Se não funcionam, certamente é porque estamos ausentes da participação desses instrumentos de transformação social ou não o utilizamos com o princípio do Bem Comum como base e inspiração. A perversidade dos sistemas opressores se alimenta da nossa omissão. Até quando iremos ficar inertes, calados e omissos diante de tanta violência, pobreza, miséria e opressão da nossa sociedade? Dessa forma, infelizmente, estaremos cada vez mais distantes da construção do Reino de Deus aqui e agora.