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Fé e Política
from O Mensageiro - Junho 2020
by Loreto
Fé e Política Robson Leite
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“... E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor, 47. meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, 48. porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, 49. porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. 50. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. 51. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. 52. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. 53. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. 54. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55. conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre ...” (Lc, 1, 46-55)
Mais um jovem, ou melhor, uma criança assassinada pela polícia. Recebo essa notícia no período pascal, mas o que vem a minha cabeça é a sexta-feira da paixão, quando recordamos o sofrimento e a morte de Jesus. Ele que no Evangelho coloca o seu rosto no rosto de quem sofre e é perseguido. Ele que se pôs ao lado do pobre, do oprimido e do marginalizado. Ele que nasceu pobre e sem teto em um estábulo no seio da família de Nazaré, e se fez operário na oficina de José. E morreu pelas mãos das autoridades políticas e religiosas de seu tempo. As mesmas que, certamente, defenderiam hoje a redução da maioridade penal, a liberdade dos mercados, a diminuição do Estado, a escravidão dos negros e os mecanismos econômicos concentradores de renda e oportunidades ao mesmo tempo em que geram, em função disso, pobreza, miséria, morte e opressão.
O nome da mãe que sofre pela morte do seu filho não é Maria, mas é pobre e humilde como a mãe de Jesus. Doméstica, assalariada e moradora de favela que viu seu filho inocente morrer pelas mãos do Estado, assim como foi a morte de Jesus de Nazaré. A história triste, opressora e lamentável se repete, e nós nos perguntamos: até quando? A Maria mãe do Salvador proclamava, quando esteve com Isabel, sua prima, o claro lado de Deus em uma das mais lindas orações, chamada de Magnificat, registrada no Evangelho de São Lucas e que encabeça este artigo: a defesa incondicional dos pobres e dos oprimidos. E nós? De que lado estamos? O que faremos? Nesse momento, se solidarizar com a profunda dor dessa mãe. E lembrar sempre o que dizia o Profeta Isaías sete séculos antes de Cristo: “Não há paz sem justiça”. Talvez os nossos governantes devessem entender essa frase do Profeta Isaías não como algo puramente religioso, mas como uma proclamação estratégica de política pública. O último braço do Estado que deveria estar dentro de uma comunidade carente deveria ser a polícia – evidentemente que não essa que mata e oprimi os pobres e os negros. Antes disso, deveríamos ter educação, saúde, saneamento e cultura. Mas, infelizmente, o conceito de pacificação propagado pelos nossos governantes resume-se apenas a presença, quase sempre opressora e violenta, da polícia...
Que os Dons do Espírito Santo nos levem a lutar, com esperança e amor, por um mundo justo, fraterno e solidário... Ou seja, pelo Reino de Deus prometido pelo Cristo no Evangelho.