Palavra e vida 185 13 de julho

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A Sociedade do Cansaço Todas as épocas têm as suas patologias e estas funcionam como indicadores que vão além da superfície. As enfermidades dominantes mostram-nos o ponto de dor escondido, revelam comportamentos e compulsões, desocultam a vulnerabilidade que é a nossa, mas que raramente queremos ver. Ora, a acreditar em Byung-Chu Han, o alemão de origem coreana que é uma das vozes filosóficas mais originais da cena contemporânea, a doença representativa do nosso tempo é o cansaço.

hiperatividade, seja por uma neurastenia paralisante), o síndrome galopante do desgaste ocupacional que faz-nos sentir consumidos e esvaziados por dentro, definem o difícil panorama destas décadas. E o pior é que todas as previsões coincidem no agravamento das tendências. Estas enfermidades não são infeções, mas estados de alma, modalidades vulneráveis de existência, fragmentação da unidade interna, incapacidade de integrar e refazer a experiência do vivido.

O grande combate dos séculos que nos precederam foi bacterial e viral. A invenção dos antibióticos e das vacinas, partindo do reforço imunológico, sem resolver tudo como sabemos, tornaram, no entanto, controlados esses problemas sanitários. É verdade que de vez em quando irrompe o pânico de uma pandemia viral, mas essa não é a questão que condiciona mais profundamente com os nossos quotidianos e práticas. O filósofo Byung-Chu Han defende que este começo do século XXI, do ponto de vista das patologias marcantes, é fundamentalmente neuronal.

A verdade é que as nossas sociedades ocidentais estão a viver uma silenciosa mudança de paradigma: o excesso (de emoções, de informação, de ofertas, de solicitações…) está a atropelar a pessoa humana e a empurrá-la para um estado de fadiga, de onde é cada vez mais difícil retornar.

O risco é o aprisionamento permanente nessa armadilha como explicava profeticamente Fernando Pessoa: «Estou cansado, é claro,/ Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado./ De que estou cansado não sei:/ De nada me serviria sabê-lo/ Pois o cansaço fica na O sol negro da depressão, os mesma». Valia a pena pensar nisto. transtornos de personalidade, as anomalias da atenção (seja por José Tolentino Mendonça Horário de Atendimento no Mosteiro de Refojos 3ª, 5ª feiras das 16h às 17h30 > 2ª, 4ª, 6ª feiras e Sábados das 09h às 13h. Pároco [Pe Baptista]: 969419605 Cartório Paroquial [Eduarda Catarina]:969419606 paroquiascbc@hotmail.com facebook.com/paroquiascbc

L1|Is 55, 10-11

"Assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito"

L2|Rom 8, 18-23

"Os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de manifestar em nós"

Ev| Mt 13, 1-23 "Outras caíram em boa terra e deram fruto"

Mensagem interparoquial de Refojos, Outeiro e Painzela

PALAVRA e Vida Domingo XV do Tempo Comum

Nº185

13 julho de 2014

A Palavra de Deus é a semente que procura «terra boa» em nós A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum convida-nos a tomar consciência da importância da Palavra de Deus e da centralidade que ela deve assumir na vida dos crentes. A primeira leitura garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda e criadora de vida. Ela dá-nos esperança, indica-nos os caminhos que devemos percorrer e dá-nos o ânimo para intervirmos no mundo. É sempre eficaz e produz sempre efeito, embora não actue sempre de acordo com os nossos interesses e critérios. O Evangelho propõe-nos, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a forma como acolhemos a Palavra e exortanos a ser uma “boa terra”, disponível para escutar as propostas de Jesus, para as acolher e para deixar que elas dêem abundantes frutos na nossa vida de cada dia. Garante-nos também que o “Reino” proposto por Jesus será uma realidade imparável, onde se manifestará em todo o seu esplendor e fecundidade a vida de Deus.

A segunda leitura apresenta uma temática (a solidariedade entre o homem e o resto da criação) que, à primeira vista, não está relacionada com o tema deste domingo – a Palavra de Deus. Podemos, no entanto, dizer que a Palavra de Deus é que fornece os critérios para que o homem possa viver “segundo o Espírito” e para que ele possa construir o “novo céu e a nova terra” com que sonhamos.


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