Palavra e vida 187 29 de julho

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Carta para Josefa minha avó Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste, a mais bela rapariga do teu tempo e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas, deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio começava a gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua cama, lume da tua lareira, - sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.

assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti a palavra Vietnam é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de palmo. Da fome sabes alguma coisa. Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. Como tu não vi rir ninguém. Estou diante de ti e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber onde é o mundo. Chegaste ao fim da vida e o mundo é para ti o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não fazia parte da tua herança. (...)

Não sabes nada do mundo. Mas porquê, avó, porque te Não entendes de política, nem de sentas tu na soleira da porta, aberta economia, nem de filosofia, nem de para a noite estrelada e imensa, para religião. o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos Herdaste umas centenas de campos e das árvores assombradas palavras práticas, um vocabulário e dizes, com a tranquila serenidade elementar. Com isto viveste e vais dos teus noventa anos e o fogo da vivendo. És sensível às catástrofes e tua adolescência nunca perdida: "o também aos casos da rua, casamentos mundo é tão bonito, e eu tenho de princesas e ao roubo dos coelhos tanta pena de morrer!" da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a José Saramago lembrança, grandes dedicações que Horário de Atendimento no Mosteiro de Refojos 3ª, 5ª feiras das 16h às 17h30 > 2ª, 4ª, 6ª feiras e Sábados das 09h às 13h. Pároco [Pe Baptista]: 969419605 Cartório Paroquial [Eduarda Catarina]:969419606 paroquiascbc@hotmail.com facebook.com/paroquiascbc

L1|1 Reis 3,5.7-12

"Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti."

L2|Rom 8,28-30

"Predestinou-nos para sermos conformes à imagem do seu Filho."

Ev| Mt 13,44-52 "Vendeu tudo quanto possuía para comprar aquele campo."

Mensagem interparoquial de Refojos, Outeiro e Painzela

PALAVRA e Vida Domingo XVII do Tempo Comum

Nº187

29 julho de 2014

Valorizar o Tesouro Supremo que é o Reino de Deus, sobre todas as coisas A liturgia deste domingo convida-nos a reflectir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus. A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele é o protótipo do homem “sábio”, que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir e alienar por valores efémeros. No Evangelho, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e interesses devem

passar para segundo plano, face a esse “tesouro” supremo que é o Reino. A segunda leitura convida-nos a seguir o caminho e a proposta de Jesus. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas.


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