O Amor que ficou

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Nei Silveira de Almeida

O AMOR QUE FICOU

A trajet贸ria que levou um homem a profundas reflex玫es e o fez empunhar uma bandeira para tentar mudar e hist贸ria e o destino do seu pa铆s.


BIOGRAFIA DO AUTOR Brasileiro, com memória histórica, política e econômica. Viveu neste país, viu ainda criança e sem muito entender, a comoção nacional com a morte de Getúlio Vargas. Assassinato? Suicídio? Ouviu falar de carestia. Ninguém sabia explicar. Depois mudaram o nome: inflação. Assistiu, adolescente, a construção de Brasília. Viu Jânio Quadros subir ao Poder: um louco! Renúncia: incredulidade! Os comícios comunistas. Falavam de Prestes, Arraes, Brizola. Jango caiu! É a revolução, a ditadura. Viu tudo: a dívida externa, a inflação. Viu espantado a campanha “Ouro para o bem do Brasil”. Por quê? Respostas evasivas. Onde foi? Respostas evasivas. Já adulto, pôde ver a moeda mudando de nome, perdendo zeros: uma, duas, três vezes. Anistia, diretas-já, um Presidente eleito por voto indireto, que nunca assumiu, morreu e ficou sendo considerado, não sabe porque, um dos maiores do país. Planos Funaro, Collor, Verão. Inflação, corrupção, desfalques daqui e dali. Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique (8 anos: Ufa!!!???), Lula. FMI, assentamentos, sem-terras, semtetos, sem empregos, sem saúde, sem segurança, sem dignidade, sem esperanças, sem futuro, sem nada. Brasileiro com memória, viu Brizola ser eleito com apoio da contravenção e transformar a Cidade Maravilhosa no paraíso da violência e do crime, não conseguir ser reeleito. Mas, o viu morrer herói nacional e o povo, em filas intermináveis, chorando à beira de seu caixão. Viu Collor, Maluf e Palocci. Um deposto; outro processado por desvio de dinheiro ilícito para paraísos fiscais; e, outro mais, entregando o cargo de Ministro da Fazenda, acusado de corrupção. Mas, os viu reeleitos: Senador(o primeiro) e Deputados Federais (os outros dois). Bem, Nei Silveira de Almeida, 58 anos, é natural de Santos Dumont/MG, cursou escola técnica de mecânica e faculdade de ciências econômicas. É aposentado, divorciado e mora em Belo Horizonte/MG. Plantou uma árvore, aos 5 anos de idade, no jardim da escola Instituto Santos Anjos, em Juiz de Fora/MG; teve duas filhas, aos 25 e 31 anos; escreveu este livro aos 54 anos. Travou uma verdadeira guerra durante 4 anos para publicá-lo. Continua atual, nada mudou de lá pra cá.

O AUTOR


Nei Silveira de Almeida

O AMOR QUE FICOU

A trajet贸ria que levou um homem a profundas reflex玫es e o fez empunhar uma bandeira para tentar mudar o destino e a hist贸ria de seu pa铆s.

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Título: O Amor que Ficou Autor: Nei Silveira de Almeida Primeira Edição Janeiro/2007

Impresso na: Gráfica da Imprensa Oficial de Minas Gerais

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DEDICATÓRIA: A todos jovens brasileiros HOMENAGENS: ÁUREA PEREIRA DA CUNHA, pelo apoio, amizade e por ser a primeira pessoa a acreditar na proposta do livro. MARIA DAS GRACAS RALLO, em quem fui buscar determinação e obstinação, inspirado no seu exemplo pessoal. RENATA CORRÊA DE ALMEIDA, minha filha, que me deu uma lição de justiça social e a certeza de que a educação é a base de todos os princípios e ideais.

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S U M Á R I O PÁG. APRESENTAÇÕES INTRODUÇÃO ...................................................................................... CAPÍTULO 1

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- O COMEÇO DE TUDO............................................ 10 Sub-título: Geração Shopping

CAPÍTULO 2

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A IDA ..................................................................... 20

CAPÍTULO 3

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A VOLTA ................................................................ 28 Sub-títulos: Inteligência Mecânica Base Educacional Cívica

CAPÍTULO 4

- A REVELAÇÃO ....................................................... 38 Sub-títulos: O Difícil Caminho da Reconstrução Participação e Vontade

CAPÍTULO 5. - A GOTA D'ÁGUA ..................................................... 49 Sub-títulos: Triste Realidade Desemprego: Uma Grave Doença Nacional Potenciais Mal Explorados CAPÍTULO 6

- O REGRESSO ........................................................... 65 Sub-títulos: Ideal de Justiça Social Violência, Criminalidade e Justiça

CAPÍTULO 7

- O FUTURO ................................................................ 79 Sub-títulos: Visão de Futuro Educação: Dever de Todos Patriotismo, Criatividade e Capacidade

CONCLUSÃO .......................................................................................... 85

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INTRODUÇÃO

Quem resolve escrever e publicar a sua história tem motivos para que assim o faça, e eu não sou diferente, tenho motivos muito fortes e um objetivo, talvez, até audacioso demais. Na realidade, não é minha história, mas, sim, uma etapa de minha história. O que me aconteceu até então, pouco interessa. O que mais importa foi o ocorrido e o que poderá acontecer daqui pra frente. Eu sofri um revés da vida, em circunstâncias bastante desagradáveis, que me ocasionou uma situação difícil e quase que insustentável. Não fosse aí buscar as próprias razões para a superação e o motivo maior para fazer desta história uma bandeira de luta. A minha história tem de ser contada, pois através dela sai um grito entalado de uma esmagadora parcela da população de meu país, que sofre os efeitos do caos sóciopolítico-econômico em que o mesmo se encontra mergulhado. Não é uma história qualquer, uma simples narrativa, é um fato, que talvez milhares de vidas estejam vivenciando, das mais variadas formas. É através dela que pretendo sugerir muitas coisas, contribuir de maneira efetiva e eficaz para que a consciência de uma nação se transforme. Saia do comodismo e passe a acreditar que somente uma mobilização social de grande vulto, inteligente, ordenada e bem administrada possa resgatar o país deste naufrágio insuportável, promovendo mudanças capazes de nos oferecer um país onde se possa sobreviver

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dignamente. E que no futuro, histórias iguais a minha, não ocorram e não venham a ser contadas. Falar de mobilização sugere, à primeira instância, uma revolução, uma luta armada, uma tomada de poder pela força. Não é nada disso. Uma revolução, sim, social, um processo de educação e reeducação cívica, capaz de transformar conceitos deteriorados; modificar valores adversos e mudar atitudes repreensíveis, promovendo uma nova consciência nacional. Formando um novo sentimento pátrio, uma nova ordem cívica, novos líderes com novas mentalidades, novos eleitores e novos administradores. Reeducar aqueles milhares que ainda clamam e acreditam que o país ainda possa ser mudado e ser um lugar bom para se viver. Educar os milhões de jovens em formação – sobretudo esses – para que venham construir, através desta nova consciência, um novo país. Com mais justiça social, com uma melhor distribuição de riquezas, um maior equilíbrio demográfico, sem corrupções, sem violências, sem fome e misérias. Ao contar a minha história, estarei discorrendo, passo a passo, a minha visão crítica da situação sóciopolítico-econômica do meu país. Fruto de minhas reflexões, tal qual aconteceu na realidade, pois, o que a mim ocorreu, em sua maior parte, é decorrente desta situação caótica nacional. Evidentemente alguém, que junto a mim faz parte dos personagens centrais deste drama, teve a sua parcela de contribuição, pela sua insegurança, pela sua fraqueza e pela sua irresponsabilidade; mas, por outro lado, são frutos das mesmas condições em que o país se encontra. Abro um parêntese para observar que os homens públicos, que tanto desconhecem a verdadeira realidade

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brasileira, ignoram o enorme contingente de seus concidadãos que procuram uma nova oportunidade em países estrangeiros. Nem mesmo fazem idéia de quantas pessoas saem daqui por dia, legal ou ilegalmente, muitos se submetendo a toda sorte de preconceitos, descasos e subestimas. Não sabem, estes homens públicos, que muitos brasileiros com formação superior trabalham em outros países, exercendo profissões dos mais baixos níveis: serviços braçais, faxinas, lavagem de carros, entrega de jornais, empregos domésticos e outros, ganhando muito mais que milhares e milhares de profissionais qualificados de nosso país. Mal sabem estes homens públicos, a quantidade de mulheres brasileiras que militam na prostituição em cabarés e boates de vários países europeus. E se sujeitam a essa prática por falta de oportunidades de trabalho digno em nosso país. Para quem viu sepultados os sonhos que havia construído para si, aprofundado no abismo da depressão, do sentimento de fracasso e da falência pessoal, buscar nas ruínas desses sonhos, uma proposta de reconstrução de uma outra realidade, tornou-se uma imperiosidade, para que outras pessoas e famílias não venham sofrer idêntico suplício. Se eu saísse por aí, rua afora, gritando, esperneando, conduzindo cartazes alusivos e megafone em punho, o que iria conseguir seria ser rotulado de um louco, um insano a mais a ser pilheriado e não ouvido. Por isso, resolvi escrever este livro e lutar para que seja levado a cada brasileiro, principalmente a cada jovem em formação, nos quatro cantos do território nacional, nos mais longínquos rincões.

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São em vocês, educadores, que a princípio, estou buscando apoio para divulgar entre seus alunos, este livro - ele é minha bandeira de luta - E são em vocês, meus jovens, que estou depositando a minha inteira confiança, justamente para lhes dar um novo Brasil. Façam dele a sua cartilha, o seu livro de cabeceira, levem-no a seus pais, irmãos, parentes e amigos. Este livro não pretende defender ideologias políticas, apoiar posições político-partidárias, influenciar crenças religiosas, apoiar grupos elitizados, promover organismos, organizações ou instituições, nem mesmo minha própria promoção pessoal. Ele propõe algo muito maior e mais importante, e é a vocês, futuro do Brasil, que eu o dedico. É em vocês que estou apostando, meus meninos e meninas, para que se tornem os agentes destas transformações.

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CAPITULO 1 - O COMEÇO DE TUDO

Eu sou um homem divorciado de um casamento que durou dezoito anos. Muito mais em razão da responsabilidade de um compromisso de vida em comum assumido, do pai que me tornei e pela insistente tentativa de evitar a desagregação da família; do que em função da felicidade da realização afetiva, da união coesa, do companheirismo ou da cumplicidade irrestrita que um casamento exige, e no qual havia buscado com minha expectativa sonhadora, desde os tempos de adolescência. A frustração, as decepções e a insatisfação desse longo período de convívio, levaram-me, depois de inúmeras tentativas de salvar o casamento, a rompê-lo definitivamente. Dele, duas filhas maravilhosas foram razões de muitas alegrias e momentos de intensa felicidade: o que ficou e aconteceu de bom e agradável. Sempre fui assim, de buscar nos sonhos desfeitos, as razões e as motivações para tecer novas metas e novos objetivos. Em razão disso, decidi que iria procurar alcançar, custe o que custasse, o meu sonho de realização afetiva. Não sou muito de acreditar em sina ou destino traçado, mas em alguns momentos, cheguei a crer que não era fadado a ser feliz no amor. Após três tentativas posteriores e mal sucedidas, cheguei a acreditar que possivelmente, o errado fosse eu, não sabendo instalar-me dentro de uma relação afetiva. Entretanto, também considerei a hipótese do desencontro, deparando-me com as pessoas erradas. Isso,

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inúmeras vezes, me levou a reflexões e avaliações muito profundas - outra característica minha – a de ser analítico e acentuadamente reflexivo. Sempre achei que julgar é extremamente difícil. Emitir julgamentos exige o total e absoluto conhecimento de uma situação, o pleno conhecimento da ou das pessoas envolvidas. O suficiente domínio das mais diversas reações humanas, a profundidade das mais variadas condições emocionais e circunstanciais de um ou mais acontecimentos como um todo. Aliado a tudo isso, há de se considerar outros tantos fatores, tornando muito difícil a certeza de um julgamento correto e justo, de imensa responsabilidade condenar, nos fazendo acreditar que somente o Criador o faria com absoluta isenção. Contudo, nos deparamos, inúmeras vezes em nossa vida, com a necessidade de um julgamento. Dado nosso envolvimento com pessoas e acontecimentos, a condenação ou absolvição dependem de nosso conhecimento, de avaliações, análises e reflexões, de como lidar com inúmeros fatores e, sobretudo, em ter a consciência de que acertar é tão difícil, como é fácil cometer um erro. Aprendi a fazer um exercício muito importante ante um julgamento ou diante da avaliação de uma questão: mesmo que tenha a absoluta convicção de uma certeza, passo para o outro lado e procuro ver a mesma situação nas condições e sob o ponto de vista da outra pessoa. Surpreendentemente, muitas vezes percebi que não estava tão correto como acreditava. Por tudo isso, concluir que estive errado o tempo todo ou se eram as pessoas que eram as erradas tornou-se muito difícil. Com isso, cheguei a quase certeza de que não basta encontrarmos a pessoa certa, temos também de ser a

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pessoa certa dessa outra pessoa. Partindo dessa premissa, passei a entender que pessoas em busca da realização afetiva têm de encontrar outras com as mesmas expectativas, com valores semelhantes e convicções parecidas. Contudo, cientes que diferenças sempre vão existir, e serem suficientemente inteligentes para fazer dessas diferenças o fator de complementação um do outro. Chegar a concluir isso, que não é uma regra e nem mesmo uma lei universal, mas apenas uma opinião meramente pessoal, levou-me certo tempo em reflexões. E o tempo não pára. A vida continua girando, por isso continuei dividindo meu tempo e a minha vida entre o meu trabalho e o recolhimento pessoal. Nesses momentos, eu sou muito recluso, fecho-me em torno de mim, fazendo de minhas reflexões, a alavanca do meu reencontro e a razão de um novo empreendimento rumo aos meus anseios. Além disso, tenho uma enorme dificuldade em me desprender de um amor e desenvolver sentimentos em torno de uma nova expectativa. O rompimento de minha terceira incursão amorosa, após o meu casamento, certamente estava sendo o mais difícil, pois paralelamente, eu vivera um outro sentimento de perda muito grande. Falecera, na mesma ocasião, o meu irmão caçula de falência múltipla de órgãos, motivada por uma cirrose hepática aguda, provocada por um longo e doloroso processo de alcoolismo acentuado. Ele, então, com quarenta e quatro anos, aprofundara-se na bebida, supostamente por herança genética (nosso pai fora alcoólatra) e impulsionado por uma sucessão de perdas pessoais, muitas delas geradas pelo próprio alcoolismo, legando-lhe a insuportável perda da auto-estima. Apesar de todos os meus esforços para afastá-lo da bebida e pela sua

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recuperação pessoal, ele partiu prematuramente, acrescentando em mim o sabor amargo da derrota, já que não lograra êxito no intento de resgatá-lo para a vida. Minha ajuda não pautara apenas em procurar afastá-lo da bebida, mas incidira-se também na iniciativa de abrir um estabelecimento comercial para lhe dar a oportunidade de sobrevivência e trabalho, uma vez que estava em dificuldades para se empregar pela condição que a bebida o mergulhara, e, sobretudo, para lhe permitir recuperar a auto-estima e um novo apego à vida. Entretanto, ele já se encontrava em um processo de negação tão intenso que meus esforços foram insuficientes e a situação irreversível, culminando com o pior desfecho: sua morte. Eu tive que lutar muito para continuar acreditando na vida e nas razões por existir. A minha reclusão era insustentável. Os questionamentos saltavam a minha mente, as reflexões varavam madrugadas adentro, e a insônia, os sobressaltos, as indagações e insatisfações, os meus únicos companheiros. Sou um homem muito emotivo e sensível, o que torna muito mais difícil conviver com situações frustrantes, muito embora seja alguém alegre e com acentuada capacidade de superação, além de acreditar que cada derrota ou queda é uma fonte de conhecimentos e aprendizados que nos conduzem ao crescimento e ao fortalecimento. Saber levantar é o mais importante e decisivo passo para novas conquistas e vitórias. Geração Shopping Procurava sair em minhas horas vagas, para arejar a cabeça, preenchê-la, distrai-la e afastá-la daquele incessante martírio que a martelava inesgotável e

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incontrolavelmente. Gostava de ir passear nos shoppings, ver as pessoas, observar seus movimentos, ações e reações, e foi ali que passei a perceber melhor e demoradamente a “geração shopping”. Essa geração que vai buscar neste ambiente o lazer, o prazer da degustação de sorvetes, pizzas e refrigerantes. A emoção dos fliperamas, a paquera, os cinemas e as delícias do consumismo, mas, sobretudo, buscar a segurança, longe das ameaças e da violência das ruas. Aí vem à mente um turbilhão de pensamentos e conclusões. Por que chegamos até aqui, a esta condição? Nossa juventude presa dentro de casa e nos shoppings, enquanto a marginalidade transita livremente pelas ruas, ameaçando, assaltando, matando, roubando, traficando, enfim, desfilando misérias, agressões e violências. Por que os grandes centros, as grandes capitais estão infestadas de tanta gente? E com isso, tornando incontrolável a administração, organização urbanística, o equilíbrio ecológico, o controle demográfico, o ajustamento social, a manutenção da ordem e a contenção da violência? O que faz o homem do campo recorrer aos grandes centros em busca de oportunidades que não mais existem? Conseqüentemente, superpopulando-os, sublocando-se, sub-empregando-se, marginalizando-se, promovendo um caos urbanístico com proliferação de favelas, alastramento da economia informal, aumento da indústria da mendicância, miséria, fome e dores? Por que os homens estão esvaziando os campos, deixando para trás terras produtivas, todo um potencial agropecuário entregue às traças, obrigando-nos muitas vezes a importação de alimentos, evadindo divisas, gerando o déficit da balança comercial?

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Será por falta de uma política agrária capaz de inverter essa situação, dando ao homem do campo oportunidades não encontradas? É fácil fazer uma reforma agrária? Não! Não basta fazer assentamentos malfeitos, destinar aleatoriamente algumas frações de terras, que em muito pouco tempo, serão vendidas de oportunistas menores para oportunistas maiores. É preciso fazer um cadastramento, identificar os futuros cessionários, vender-lhes a terra com incentivos para que possam ser pagas com um percentual sobre o lucro líquido produtivo, parceladamente até a sua quitação. Mas para isso é necessário dar-lhe também o apoio técnico com a instalação de cooperativas agrícolas; financiar-lhes recursos para o plantio e colheita; dar-lhes assistência médica; implantar escolas; desenvolver centros de lazer e cultura; incentivar a instalação de agroindústrias, para a absorção da produção e exportação de alimentos industrializados, com a conseqüente captação de divisas e superávit da balança comercial. Com isso, vamos atrair para o campo não só o agricultor e o pecuarista, como o professor, o médico, o enfermeiro, o construtor civil, o engenheiro, o dentista, o técnico, o contador, o administrador, a telefonista, o nutricionista, o advogado, os operários. Enfim, uma infinidade de profissionais das mais diversas categorias, dando-lhes oportunidades de empregos que não mais existem nos grandes centros; uma melhor expectativa de qualidade de vida, esvaziando as superpopulosas cidades urbanas, estabelecendo um maior equilíbrio demográfico, reduzindo a economia informal, erradicando favelas, marginalidades, violência, fome e misérias. Difícil é, sendo

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necessário vontade política, coragem e determinação. É preciso abandonar a sede irrefreável do poder, a prática exacerbada da corrupção, os mandos e desmandos e as mazelas administrativas. Ficava ali nos shoppings observando as pessoas, os jovens e os adultos, estabelecendo um paralelismo entre as divergências de um e de outro; e mais, pensava nos contrastes sociais, lembrando-me daquelas pessoas que não freqüentam os shoppings, uma imensa maioria que vive em condições financeiras absolutamente precárias e uma minoria ínfima que detém um poderio econômico enorme e vive em paraísos particulares. São as distorções sócio-econômicas de um país em desequilíbrio, mergulhado no desajuste social provocado por um processo de administração pública incompetente e corrupta, no curso de anos e anos de poder. Diante deste quadro, via o quanto é mal formado e mal informado o cidadão brasileiro, que vive uma realidade da qual ignora as causas, desconhece os mecanismos sócio-político-econômico, não sabe como funcionam, não participa efetivamente, apenas observa superficialmente, vota aleatoriamente no mero cumprimento de um dever e vive no sistema do “salve-se quem puder”, torcendo para que milagres aconteçam e o barco não afunde de vez. Vive no obscurantismo, ou seja, em condições de má formação e desinformação propositadamente orquestradas para que não lute, não exija, não cobre e não influencie na irresponsabilidade e na inconseqüente ganância pelo poder, que certamente é de interesse de outros poderosos maiores, ignorando o batalhão de judas -iscariotes e joaquins-silvérios-dos- reis que têm vendido a Pátria durante muitos anos, em troca do

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egoísta interesse pessoal, do enriquecimento e de uma esmola de pequena participação no poder. Eu vejo o homem em três etapas distintas da vida. A infância/adolescência, a fase adulta e a velhice. A primeira é a fase da inocência, da pureza e da descoberta, é o momento da vida em que o ser humano é puro e vive o aprendizado, a descoberta do mundo à sua volta. A segunda, a fase adulta, é o pior momento do ser humano, é quando ele entra no processo da disputa, da luta pela sobrevivência, da busca da satisfação de necessidades e do anseio das realizações pessoais. Aí, ele conhece a maldade, o egoísmo e a inveja. A velhice é a fase da maturidade, da vivência, da experiência e da sabedoria, e neste momento, ele começa a entender melhor os mistérios da vida, mas na maioria das vezes, cansado e enfraquecido pelo peso dos anos, e às vezes, até doente, deixa de ser ouvido, é ignorado, subestimado e colocado de lado como um objeto inútil. Fico até pensando que depois de muito insistir para ser ouvido, sem o menor interesse e com o maior descaso, passa a se divertir, rindo a um canto, disfarçadamente, e pensando: “Deixa que sofram o martírio de suas próprias ignorâncias”. Talvez seja por isso que os idosos se irradiam com seus netinhos, brincam e se divertem com eles. É o seu reencontro com a pureza que novamente se lhes assemelham. Quem sabe é até a maneira que encontram para recuperar o tempo perdido em terem sido adultos! Ali, nos shoppings, ficava observando os jovens e admirando o imenso potencial que têm dentro de si, ficava sonhando com a esperança da possibilidade de em futuro bem próximo lhes ser dado a oportunidade de uma

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formação que venha capacitá-los a exercer uma cidadania com propriedade, dentro de uma conscientização sóciopolítico-econômica adequada e suficiente em transformálos nos novos homens de novos rumos. Foi no trajeto de minhas idas aos shoppings que a vi pela primeira vez. Ela não era uma mulher bonita, nem mesmo elegante. Vestia uma blusinha simples com uma saia comum e muito curta. Tinha um corpo agradavelmente delineado, umas pernas bem torneadas e mesmo não sendo bela, era atraente, e exerceu sobre mim um fascínio jamais experimentado.

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PENSAMENTO “Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor, e não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam nas flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta e, porque não dissemos nada, não podemos dizer mais nada.” (V. Maiakovski – Poeta e filósofo russo)

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CAPÍTULO 2 - A IDA

Marlene estava abrindo as portas de um pequeno estabelecimento comercial que possuía, um restaurante com self-service. Ao abaixar-se para abrir o cadeado de segurança, ao pé da porta, rente ao chão, sua curta saia subiu mais ainda, deixando à mostra aquelas belas pernas. Ela percebeu que eu, bem em frente, à sua porta, em um ponto de ônibus, a observa atenta e demoradamente. Um ligeiro ar de acanhamento saltou de sua face, fazendo com que se recomposse, imediatamente, com o olhar cabisbaixo. Em seguida, o ônibus surgiu e adentrei-me ao mesmo, levando comigo aquela imagem que me perturbou por todo o resto do final de semana. Era um sábado pela manhã. O self-service de Marlene ficava a duas quadras de minha casa, e ela residia a quatro, bem próximo de seu estabelecimento. Eu morava sozinho, saindo muito cedo para o trabalho, retornando sempre muito tarde, cansado e desanimado para empreender-me em jornadas culinárias. Estava justamente procurando uma alternativa para suprir minhas necessidades alimentares, por isso resolvi unir o útil ao agradável, procurando Marlene para lhe propor o fornecimento diário de um marmitex. Por chegar após o horário do seu expediente, a mesma se prontificou em leválo todas as noites em minha casa, dado a proximidade de sua residência a minha. No começo, ela o levava apenas ao meu portão, e depois de muita insistência passou a entrar, ante o convite de um cafezinho, que mais tarde viria a ser substituído por uma cerveja e, algumas vezes, por um bom copo de vinho. Tornamo-nos bons amigos. Eu respeitava Marlene com

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muita consideração, já que a mesma vivia com um companheiro e três filhos, ainda que houvesse comentado que a relação não andava nada bem e em vias de uma separação. A amizade foi crescendo e passamos a confidentes em assuntos de menor importância. Certo dia, Marlene, parecendo-me muito triste, confidenciou-me que o seu negócio comercial não ia bem e que deveria fechar as portas, já que seu prejuízo estava crescendo e as dívidas aumentando, além de um problema de contratura muscular nos braços que exigia menor esforço e um tratamento fisioterapêutico. E assim aconteceu, Marlene cerrou as portas, transferindo o negócio para outra pessoa. Com isso, suas idas diárias à minha casa cessaram, ocorrendo em periódicas visitas, cada vez mais escassas. Eu sempre lhe telefonava, outras vezes ela De vez em quando, Marlene aparecia para tomarmos uma cerveja, ou um vinho, ante um bate-papo informal. Às vezes, Marlene sumia por muitos dias e somente depois de muitas cobranças de minha parte, resolvia aparecer. Nestas raras visitas, ela me participava que sua relação com o companheiro a cada dia piorava e que a separação seria inevitável. Até que um dia me contou que o mesmo saíra de casa, indo morar provisoriamente com umas tias, deixando-a com os filhos em seu apartamento, mas com a ameaça que procurasse outra moradia, pois ele não daria a ela nenhum direito sobre os seus bens, sobretudo do apartamento. Mesmo tendo garantias legais, ela não queria mover nenhuma ação processual nesse sentido, talvez por motivo de orgulho. Marlene, com trinta e três anos, tinha três filhos. Uma filha com dezenove anos, já que fora mãe aos quatorze anos, cujo pai negou-se a assumi-la, e dois outros

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filhos menores, com quatro e seis anos de idade, deste companheiro com quem conviveu por nove anos, segundo ela, em condições de insatisfação mútua e freqüentes atritos. Diante de tal situação, Marlene passou a ter a preocupação de buscar um emprego e assumir o compromisso de encontrar uma moradia para viver com os filhos. Com formação escolar limitada e sem uma especialização profissional, as dificuldades foram se apresentando. Os empregos que conseguia eram com remuneração insuficiente para tamanha responsabilidade, levando-a ao desespero. Além do mais, tinha dívidas com o próprio ex-companheiro. Ele lhe emprestara parte dos recursos com os quais abrira o self-service falido, através de promissórias, que o mesmo ameaçava cobrar. Também contraíra um empréstimo para sua irmã através de um agiota, o qual fazia cobranças e ameaças constantes, já que ela não honrara o compromisso assumido. Eu queria ajudar Marlene, mas me encontrava em processo de reorganização financeira, pois havia incorrido em enorme prejuízo abrindo um negócio comercial para o meu falecido irmão, que não apenas o falira, como deixara dívidas a serem pagas. É próprio do ser humano afastar-se de seus semelhantes em dificuldades. A solidariedade não existe, os amigos desaparecem, os parentes ignoram, enfim, todos se ausentam. Foi assim que aconteceu a Marlene, que encontrou em mim o único apoio, mesmo que limitado. E também foi assim, que me reencontrei com a perda da autoestima, do amor-próprio e da própria identidade, desta vez na figura de Marlene. Pelo menos, isso eu pude dar a ela naquele momento, procurando reerguer sua auto-estima

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direcionando-lhe elogios e palavras de esperança, enaltecendo sua beleza, injetando-lhe palavras de ânimo, prestando-lhe solidariedade, carinho e atenção. Assim, peguei pela primeira vez suas mãos entre as minhas, dei-lhe o primeiro beijo e entreguei-lhe, pela primeira, vez o meu amor. Recebi aquela mulher desprezada, mal amada e humilhada, com afeto e amor dentro de meu coração e de minha vida. Passei a partilhar com ela o meu mundo pequeno e simples, mas aconchegante e acolhedor. Envolvi-a nos meus braços, aqueci-lhe o corpo, embebi-lhe a alma e a chamei de Mulher. Foram cinco meses de felicidade, de amor, afeto e apreço. Os melhores momentos de toda a minha vida. Foi a descoberta de amar e foi a primeira vez que realmente experimentei a delícia de ser amado, querido e respeitado. Contudo, os problemas pessoais de Marlene não foram solucionados, o ex-companheiro resolveu pressionar, voltando a se instalar no apartamento, exigindo dela uma solução. Isso fez com que suas aflições e agonias a incomodassem muito mais ainda. E chegou o dia em que Marlene apareceu em minha casa, dizendo-me que conseguira um emprego na Espanha através de pessoas conhecidas. Iria receber um salário suficiente para que, depois de um ano ou um ano e meio, regressasse com recursos para começar um novo negócio e poder assumir uma moradia com os filhos. Insisti com ela para que ficasse e esperasse, até estabilizar-me, para termos uma vida em comum. Marlene contra-argumentava ser injusto eu arcar sozinho com responsabilidades que não me competiam, sendo o mais correto ela adquirir meios para contribuir com essa realização, sustentando-se. Ela foi veemente na argumentação da imperiosa necessidade que

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tinha de provar, até para si mesma a sua capacidade de resolver os seus próprios problemas e de vencer as limitações que a castravam. Eu não podia negar a Marlene a oportunidade do triunfo, do soerguimento da auto-estima e do reencontro da sua própria identidade. Não podia ser egoísta bastante para lhe tolher o direito de se auto-afirmar, de buscar a tão sonhada independência e alcançar uma vitória pessoal tão importante. Restava-me conformar e aceitar sua decisão. Sabia que ia sofrer muito com a sua ausência, que o tempo iria impiedosamente se arrastar. Teria, novamente, a solidão como fiel e inseparável companheira. Os dias que antecederam a sua partida foram ocupados com a regularização de documentos, passaporte e preparativos para a viagem. Por indispor de recursos, comprei-lhe a passagem, roupas e dei-lhe algum dinheiro para sobreviver os primeiros tempos até receber o primeiro salário. E, nestes dias, procurei viver junto a ela como se fossem os meus últimos, já que estava abrindo um parêntese no meu velho sonho de realização afetiva, bem como tinha a considerar que por muitas razões e circunstâncias, poderia estar perdendo-a definitivamente. Na noite anterior à sua ida, Marlene passou a tarde comigo e ficou até às 22h em minha casa, pois desejava passar a sua última noite com os filhos, embarcando bem cedo para o seu destino. Senti-a muito inquieta, incomodada e às vezes triste. Amei-a pela última vez com muita intensidade, aspirei seu perfume para não esquecê-lo e beijei seus lábios inúmeras vezes para guardar comigo seu inigualável sabor. Despedimo-nos no portão, segui seus passos com os olhos, até se perderem de vista. A partir daquele instante, comecei a suspirar a saudade que sabia

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iria me incomodar muito. Durante toda noite, ela me ligou no telefone celular, quando eu atendia, ela desligava, dando-me a certeza de que não pregara os olhos por um só instante, revelando-me haver muito mais que uma despedida incomodando-a impiedosamente. Os dias sucessivos foram martirizantes, pois a falta de notícias me deixava apreensivo. Os pensamentos me atormentavam, sobretudo as contradições relacionadas ao seu emprego, pela inconsistência dos fatos, ausência de nomes e endereços, falta de referências; somente o evasivo e incertezas. Seis dias depois, recebi sua primeira ligação telefônica. Senti apreensão em sua voz, algo bem mais forte que uma simples tristeza ou saudade. Com perplexidade, tomei conhecimento de que ela não estava em Barcelona, que era a princípio o seu destino, mas em outra cidade. Deu-me um número de telefone celular para contato e deixou muitas dúvidas com relação a horários, sob a alegação de diferença de fusos. Forneceu-me um endereço para o qual enviei imediatamente a primeira carta por Sedex. Implorava que largasse tudo e voltasse, assegurando-lhe meu total apoio e prometendo-lhe que a receberia em minha casa com os filhos e que daríamos logo solução para todos os problemas. Alguns dias depois, ela me telefonou que não seria possível, pois já firmara compromissos. Tinha um contrato de permanência que seria renovado a cada três meses. E, sobretudo, porque dera o primeiro passo e tudo aquilo era importante para ela, dado ao propósito que estabelecera inicialmente. Eu lhe escrevia todos os dias, enviava telegramas regularmente, cartões de mensagens afetivas e lhe

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telefonava pelo menos duas vezes por semana no primeiro mês, e quase todos os dias nos meses sucessivos. Transmitia mensagens fonadas com bastante assiduidade e lhe enviava Sedex com mensagens de amor, carinho e saudades. Mas, muito mais que saudades, eu sentia preocupação e apreensão, pois mesmo sem que me revelasse, ia construindo a cada dia, a certeza do que realmente estava ocorrendo naquele país distante, devido a uma série de fatos, circunstâncias, contradições e desencontros. Ela me telefonava com regularidade, mas angustiada. Escrevia-me esporadicamente, revelando que quando voltasse, tinha algo muito sério para conversar comigo e isso só poderia ser feito pessoalmente, olhos nos olhos, e nem mesmo sabia se eu iria aceitá-la de volta.

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PENSAMENTO “Existem três tipos de ignorância: Ignorar o que se deve saber, saber mal o que se sabe e saber o que não se deveria saber.” (François Poitu – Duque de La Rochefoucauld)

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CAPITULO 3 - A VOLTA Inteligência Mecânica Acreditar que a inteligência é um instrumento meramente mecânico é um enorme engano. Ela é a capacidade da percepção, absorção, entendimento, reflexão e, sobretudo, da ação calculada. Fazer uso da inteligência é aglutinar esses elementos e, através do raciocínio, obter resultados consistentes e consolidados. A inteligência não pode ser desassociada da cultura e do conhecimento e exige saber como atuam as determinantes que regem o funcionamento de todo e qualquer tipo de mecanismo; saber utilizar o raciocínio dentro de qualquer contexto; organizar mentalmente variáveis e invariáveis e entender que acima da matemática, da física, dos cálculos, enfim, das ciências exatas, estão as ciências humanas: campo totalmente destituído da precisão milimétrica, da exatidão ou do cálculo perfeito. Partindo daí, é que se pode concluir que a máquina jamais superará o homem, pois ela não tem alma e nem mesmo coração. A máquina não tem sensibilidade, não vive emoções e nem possui sentimento de percepção. Ela obedece rigidamente o programa que lhe foi definido e oferece os resultados para os quais ela foi calculada e dimensionada. Com o passar do tempo, ela se desgasta e muitas vezes chega a ser superada por máquinas mais modernas, mais evoluídas e com capacidade maior de rendimento e espaço de tempo. Aí o seu destino é o desmanche ou o lixo. Assim funciona a inteligência mecânica, que já nasce condenada à morte, por ser nada mais que um

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simples mecanismo, uma máquina a serviço de um programa pré-definido. Estamos preenchendo os nossos jovens com uma infinidade de recursos mecânicos e tecnológicos. São videogames, fliperamas, computadores, etc; permitindolhes acesso enorme a uma infinita gama de informações, mas estamos nos esquecendo de lhes fornecer informações mais importantes, por exemplo, como funcionam os regimes sócio-político-econômicos e, sobretudo, de lhes dar referenciais humanos de avaliação, percepção, análise, elaboração de raciocínio e capacidade de conclusão. Estamos transformando-os em autômatos, robôs, enfim, máquinas a serviço de programas meramente mecânicos. Base Educacional Cívica Se for feita uma pesquisa para testar o embasamento sócio-político-econômico do cidadão brasileiro, nas mais diversas faixas etárias, nas mais variadas classes sociais e em diferentes níveis de escolaridade e cultural, poderemos observar que uma esmagadora maioria desconhece como tudo funciona, e o que é pior, se avaliarmos os homens públicos nas mais diversas esferas e hierarquias, haveremos de constatar que a maioria nem mesmo sabe a real finalidade de sua função. Não basta criar as matérias e inseri-las no currículo escolar e depois proceder aos exames periódicos na base da "decoreba". É preciso ensinar, estimular o interesse no aprendizado, promover debates, proceder a simulações, criar simpósios entre escolas, municípios e estados, motivando a participação dos alunos. Levar aos seus conhecimentos o que são os três poderes: Executivo,

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Legislativo e Judiciário, como funcionam no âmbito municipal, estadual e federal. O que é balança comercial, déficit, superávit; o que é reserva cambial, para que serve, como funciona; o que são os índices econômicos, como são definidos; o que é arrecadação tributária e sua distribuição; receitas e despesas orçamentárias, de onde provêm e como são distribuídas; o que é bolsa de valores e mercado de ações, como funcionam; o que é mercado de capitais, sistemas monetários, dívida externa, dívida interna, inflação, deflação, FMI, comércio exterior, câmbio monetário, etc; enfim, todas as informações que regem as sociedades, a política e a economia nacional e mundial. Nas simulações, criar os partidos políticos, proceder a eleições, criar o executivo, o legislativo e o judiciário, nomear assessorias de primeiro escalão, promover debates sobre os principais problemas nacionais, definir e discutir soluções, elaborar os projetos de leis pertinentes, submetê-las a aprovação. Elaborar uma nova constituição federal, discutir e debater sobre o sistema federativo com constituições estaduais. Apresentar propostas, idéias e soluções. Com isso, estaremos preparando o cidadão de amanhã, o eleitor bem informado, socializado, politizado, com capacidade de avaliação e escolha. Estaremos preparando o homem público do futuro, novas lideranças, novas consciências. Não devemos influenciar ideologias políticas, predileções político-partidárias, regimes econômicos ou quaisquer outras filosofias, devemos ensinar o que propõem e seu histórico, permitindo que o desenvolvimento de cada um lhe faculte as opções de escolha. E quando nas vésperas de eleições, algum candidato disser que vai dobrar o salário mínimo em tanto tempo e

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triplicá-lo em outro tanto, as pessoas estejam preparadas para lhe perguntar: quais os instrumentos ou mecanismos sócio-político-econômicos vai utilizar para conseguir isso? Como vai obter recursos para sustentar a folha de pagamento do funcionalismo público e aos beneficiários da Previdência ? Se serão dados aos empresários incentivos fiscais ou redução da carga tributária para balancear suas folhas de pagamentos? Como será a incidência sobre custo de produtos e serviços? Se o preço do produto nacional não iria inviabilizar muita mais a exportação? Qual o impacto na economia nacional e sobre a política econômica externa? Enfim, quais os artifícios seriam utilizados para neutralizar esses impactos? E assim, no futuro, o eleitor saberá cobrar, avaliar e questionar planos de governo, escolher as melhores propostas e eleger os verdadeiramente capacitados. O ser humano tem algumas peculiaridades por demais negativas. Não admite, na maioria das vezes, a sua ignorância sobre determinados assuntos, dissimula ante questões que não conhece e tem uma enorme vergonha de perguntar e se informar adequadamente. Quando assuntos de interesse nacional, sobretudo os da área econômica, são reportados nos jornais escritos e televisivos, são feitos dentro de uma linguagem que deixam a maioria em absoluta marginalização. Não existe um esclarecimento e nem mesmo uma abordagem para facilitar o seu entendimento. Causas e efeitos não são elucidados e fica apenas no ar a pompa e o mistério em torno do assunto ou questão. Experts, entrevistados para opinar, fazem-no em um linguajar excessivamente técnico, ostentando uma onipotência a lhes conferir o orgulho de entender o que muito poucos entendem, parecem fazer questão de não

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esclarecer nada ou até dão a impressão de também nada saber. Isso tem que ser mudado dentro desse processo de educação, possibilitando aos jovens não assumirem essas peculiaridades tão nocivas e pouco construtivas. Meus pensamentos foram cortados, subitamente, pelo toque do telefone. Era Marlene, sempre angustiada e dizendo sentir saudades minhas. Em uma ligação rápida, voltou a insistir que não era merecedora de mim e de minha confiança, e que em seu regresso deveria esclarecer tudo comigo. Eu me negava a acreditar nas evidências e a aceitar a realidade, fingia comigo mesmo que tudo não passava de coisas da minha imaginação, inventava desculpas e justificativas, convencendo-me com veemência, que realmente ela estava trabalhando em um estabelecimento comercial, como me havia dito desde o princípio. Os dias e meses se arrastavam, e com a chegada do Natal completaram-se três meses que Marlene havia partido. Entre preocupado, angustiado e saudoso, telefoneilhe, e neste dia, falei-lhe que a situação era insustentável e que nunca havia lhe pedido nada, mas que naquele momento suplicava que voltasse e deixasse tudo para trás, prometendo-lhe não só equacionar todos os problemas que a motivaram a ir, como uma nova vida em comum, sob minha inteira responsabilidade. Pediu-me uns dias para pensar e na passagem de ano, quando me telefonou, marcou a data de sua volta: 21 de março. Passei a contar os dias, as horas e até os minutos, em um estado de ansiedade descontrolado, e comecei a preparar o seu regresso. Nestes meses em que Marlene esteve fora, comecei a comprar móveis, eletrodomésticos e utensílios para um novo lar. Ocupei-me com trabalhos

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extras para adquirir recursos financeiros, fazendo prestações de serviços como autônomo nas horas em que não estava empenhado na empresa na qual trabalhava. Essa carga de trabalho extraordinário, aliado ao meu descontrole emocional em face de situação, trouxe-me desconcentração na minha ocupação funcional, queda de rendimento e comprometimento na minha atividade regular, gerando inseguranças e insatisfações na minha empresa. Invariavelmente, eu sou um homem emocionalmente equilibrado, muito embora, sensível e emotivo. Desta vez, confesso que me deixei descontrolar, mediante as circunstâncias que transpareciam evidentes as suspeitas que ocupavam ininterruptamente a minha cabeça, acrescido do cansaço físico e mental, ansiedade, preocupações e apreensões. Contudo, planejei, organizei e preparei tudo para o retorno de Marlene, adquirindo o básico necessário para instalar uma casa e fazendo reservas monetárias para ajudá-la a quitar dívidas pendentes e um fundo reservado para montar algum negócio comercial para que ela tivesse uma fonte de renda. E chegou o grande dia. Providenciei uma festa particular, a dois, para recepcioná-la. Cartazes de boasvindas e de juras de amor, flores, canapés, champanhe e os presentes de Natal que haviam ficado guardados. Quando a campainha soou, abri-lhe a porta e a recebi efusivamente, pude perceber inequívoca e imediatamente que ali não estava a mesma mulher que eu conheci, aprendi a amar e vi um dia partir. Diante de mim, encontrava-se uma outra mulher: insensível, fria e distante. Mas, apesar disso, tomei-a em meus braços e beijei-a demoradamente, acreditando que a intensidade da emoção houvesse lhe gerado um impacto de impassividade

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momentânea. Nos falamos, dei-lhe as flores, os presentes e brindamos com o champanhe, enquanto ela percorria os olhos nos cartazes que eu havia espalhado por toda a sala, e em poucos minutos, estávamos no quarto, sobre a cama, em uma extasiante entrega de amor. Neste momento de entrega mútua, pude perceber a Marlene de outros dias, mas logo depois que nos recompomos voltei a sentir nitidamente a sua ausência. Ficamos algum tempo juntos a conversar superficialmente sobre saudades e projetos futuros, prometendo-nos um maior aprofundamento de assunto para os dias seguintes, quando então definiríamos planos consistentes. Depois ela se foi para casa reencontrar os filhos, com os quais iria passar a noite. Após sua saída, mergulhei-me em pensamentos e reflexões sobre o que havia percebido e por mais que buscasse explicações e justificativas pairou sobre mim uma enorme interrogação. Todavia, fiquei acreditando que com o correr dos dias, tudo iria voltar à normalidade e que poderíamos buscar os entendimentos para nosso planejamento de uma nova vida. Os dias que se seguiram foram ocupados por Marlene em seu reencontro com os filhos, readaptação e os preparativos de uma festinha de aniversário de seu filho mais novo que ocorreria dentro de alguns dias. Vinha com pouca freqüência à minha casa, mas pouco a pouco, íamos definindo nossos planos em comum, concordando que iríamos alugar um apartamento para se instalar com as crianças e que minha aproximação se daria gradativamente, para que eles me conhecessem, aceitassem e a mim se adaptassem. No tempo devido, nos uniríamos através do casamento, consolidando desta forma nosso objetivo. Conversamos sobre a montagem de um estabelecimento

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comercial que lhe permitisse uma renda, muito embora a manutenção de sua residência houvesse ficado sob minha responsabilidade, mas que a partir de nossa união definitiva teria a sua participação no nosso orçamento familiar, pois até lá o seu negócio estaria consolidado e rendendo lucros. Metas e diretrizes definidas, parti em busca de suas realizações. Aluguei um apartamento, procedi a montagem do mobiliário e utensílios, e Marlene instalou-se se com sua prole, freqüentando meu recôndito lar nas folgas de seus afazeres domésticos e maternos. Alguns dias mais tarde, concluímos que montaríamos para ela uma pequena loja de utilidades domésticas no centro comercial de nosso bairro, uma lojinha simples, mas bem montada. Locamos o imóvel, adquirimos as instalações necessárias, compramos as mercadorias para comercialização e inauguramos discretamente aquele pequeno negócio, contratando uma funcionária para ajudar e substituir Marlene nos momentos em que suas responsabilidades de mãe e dona de casa o exigissem. Entretanto, seu comportamento continuava mudado, e eu não só percebia essa alteração como sua insatisfação com o negócio comercial, sua insegurança com relação ao futuro e o seu ceticismo em função da situação sócio-econômica do país. Em nossas conversas revelava sua preocupação e insatisfação, aludindo que conhecera uma outra realidade em outro país, onde reinava uma estabilidade econômica muito grande, com uma distribuição de renda mais justa e equilibrada, satisfatório poder aquisitivo, oportunidades de trabalho e mais justiça social, infinitamente menor índice de violência, sem misérias alarmantes e muito mais dignidade humana. Aí, eu passei a perceber que Marlene

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não voltara, apenas seu físico veio, mas sua cabeça havia permanecido em um outro mundo. Em outro momento, Marlene me confidenciou que a sua própria filha, com dezenove anos, condenara o seu prematuro regresso. Argumentando as dificuldades que ela estava enfrentando, já que apesar de inúmeras tentativas, não conseguia se empregar, embora tivesse o segundo grau completo, cursos de informática e outros de especialização profissional. Sua filha considerava uma irresponsabilidade muito grande por parte da mãe, não haver permanecido mais tempo no exterior e retornando com melhores recursos financeiros, capazes de lhe permitir a aquisição de um imóvel, sem ter que se sujeitar ao aluguel, poder abrir um negócio comercial mais sólido e rentável, sem qualquer dependência financeira comigo. E, muito mais que isso, Marlene continuava achando injusto eu arcar com a responsabilidade de filhos que não eram meus e problemas que não me competiam. Ela deixava claro uma enorme preocupação com os filhos menores, principalmente, por considerar o pai financeiramente instável e não admitia qualquer relação de dependência com ele, mesmo que a responsabilidade com as crianças fossem igualmente dele. Afora isso, Marlene via as pessoas desesperançosas manifestando descontentamentos, gente desempregada e com parentes nas mesmas condições, pessoas com salários baixíssimos vivendo a duras penas, comerciantes reclamando do declínio dos negócios, cada vez mais pessoas incursando na economia informal, índices econômicos assustadores, miséria e pobreza por todos os lados, ficando cada vez mais insegura.

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PENSAMENTO “A maneira mais segura de perpetuar a miséria é dar esmola aos pobres ao invés de escolas e empregos.”(Calheiros Bonfim – Jurista Brasileiro)

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CAPITULO 4 - A REVELAÇÃO O Difícil Caminho da Reconstrução A disparidade e o acentuado desequilíbrio da distribuição de renda pode ter inúmeras causas: o desequilíbrio demográfico, o superpopulacionamento urbano, a enorme carga tributária, despesas orçamentárias infinitamente maiores que a receita, o elevado índice de desemprego. Assim como, o crescimento exacerbado e descontrolado da economia informal, o desequilíbrio dos setores produtivos, os desvios de verbas, os superfaturamentos, a corrupção desenfreada, o desaquecimento e a inércia do mercado financeiro, entre tantos outros. Sendo que é tudo uma roda viva, já que uns são causas e outros efeitos, uns dos outros. Equacionar tudo isso não é nada fácil, é um processo longo e demorado. Exige muitas mudanças e o primeiro passo começa na educação. Não se pode promover mudanças tão estruturais sem antes preparar o homem, mudá-lo em primeiro lugar. Não se começa uma casa pelo telhado, ou pelas paredes. Primeiro é preciso implantar uma base, um alicerce, para depois subirem as estruturas e só depois montar o telhado. Há de se educar, preparar, levar o conhecimento e ensinar como utilizá-lo. Entre tantos ensinamentos, um muito importante é o princípio das causas e efeitos. Analisando o contexto nacional sob essa ótica, não fica difícil de se entender que uma política agrária bem planejada e desenvolvida seria o impulsionamento de um processo típico de causas e efeitos, pois, atrairia a implantação de agroindústrias através de incentivos,

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sobretudo para o investimento estrangeiro, que por sua vez atrairia a implantação de indústrias indiretas. Com isso, estaríamos devolvendo o homem do campo às suas origens e empregando um enorme contingente de mão de obra de outros setores. Equilibrando a densidade demográfica e propiciando os benefícios concernentes. Nesse processo cascata que se desencadearia, ocorreria um ajustamento consideravelmente significativo, pois estaria erradicando a economia informal que existe porque é emergente ante a falta de oportunidades de empregos. Aumentando, inclusive, a arrecadação do Estado e da Previdência, já que esta mão de obra empregada estaria recolhendo impostos e pagando encargos sociais. O aumento da produção de bens de consumo e serviços permitiria uma redução da carga tributária incidente, pois aumentaria na proporção quantitativa, tornando os custos mais baixos com redução de preços, tornando-os mais atrativos, sobretudo no mercado externo. Com mais gente empregada, o consumo cresceria, gerando o aumento da produção e mais empregos, aumentando ainda mais a arrecadação, possibilitando uma maior redução da carga tributária. Com uma oferta maior de empregos e a diminuição de imposto sobre produtos, seriam provocadas mudanças nas políticas salariais, gerando uma melhor distribuição de rendas e um ajuste social mais justo e equilibrado. Com preços mais atrativos, nossos produtos alcançariam maior volume de vendas no mercado externo, captando divisas e o crescimento do capital circulante, alimentando e movimentando o mercado financeiro interno e promovendo o aumento de nossas reservas cambiais.

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Participação e Vontade O desenvolvimento deste processo exige administradores preparados e envolvidos em uma nova consciência, descompromissados da atual mentalidade maculada pela incompetência, corrupção e ganância pelo poder. Exige uma população igualmente preparada para um novo sentido administrativo, imbuída de sentimentos pátrios mais elevados e uma consciência cívica irrepreensível. Condições que só poderão ser alcançadas através de uma mobilização educativa, ordeira, disciplinada e abrangente. Investindo no jovem cidadão, creditando-lhe a confiança e a certeza de que em suas mãos está a responsabilidade e a capacidade de tornar este um país próspero e agradável de se viver. Não é um processo tão simples de se realizar como discorrer sobre o mesmo. Mas se não iniciá-lo dentro de um planejamento bem delineado e bem definido, jamais será factível. E se nas esferas governamentais tudo isso não está sendo motivo de preocupação, a iniciativa deve partir dos educadores, intelectuais, escritores, jornalistas e da própria população jovem, exigindo a sua preparação para assumir, no seu tempo devido, o comando da Nação, em condições de administrá-la e torná-la tão imensa como merece ser. Os temores de Marlene não eram infundados, todavia eu não podia compreender que mesmo com todas as dificuldades, estava dando-lhe uma oportunidade que recusava abraçar com determinação. Acho que lhe faltava obstinação, deixando-se vencer pelo desestímulo da situação instalada no cenário nacional e pela influência de tantas e tantas pessoas a lhe apregoarem o pessimismo aos ouvidos.

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Isso me fez lembrar de Maria das Graças Rallo, alguém que nem mesmo pode imaginar a lição de determinação e obstinação que me deu nos tempos de adolescência. Talvez ela nem se lembre de mim ou até mesmo imagine que eu exista. Éramos bem jovenzinhos e estudávamos na mesma escola, cursando os primeiros anos do ensino básico. Maria das Graças era uma menininha franzina e das canelinhas finas, que possuía um acordeão. Em todas as festinhas da escola, lá estava ela com seu instrumento musical e a sua vozinha estridente desfilando seu repertório. Em uma dessas ocasiões, não me lembro porque , me disse que se tornaria uma grande cantora, custasse qualquer preço. Algum tempo se passou, em certo dia, uma rede de lojas de discos e aparelhos fonográficos estava lançando uma nova marca estrangeira no mercado e circulou pela cidade um carro alto-falante com os reclames através de um jingle sofrivelmente cantado por Maria das Graças. O que se soube, posteriormente, é que os patrocinadores se interessaram pela garota, convidando-a para um curso de educação e impostação vocal. Pouco tempo depois, ela fazia o seu primeiro contrato com a gravadora, tornando-se realmente uma grande cantora de renome no cenário nacional e internacional. Ela nem mesmo sabe que é um dos meus maiores ídolos, não só pela qualidade profissional, mas antes de tudo pela sua determinação. Certamente as pessoas não são iguais. Pensam diferente , agem e reagem de forma adversa, têm valores opostos, mesmo que se assemelhem em muitos aspectos. Por isso, sabia que não podia cobrar de Marlene atitudes baseadas nos meus anseios ou fundamentadas em exemplos de outras pessoas. No entanto, esperava que, no mínimo, se

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esforçasse por lutar pela chance que estava lhe propiciando. Ao mesmo tempo, me intrigava sua mudança de atitude e postura, não entendendo uma inquietação que eu supunha estender-se muito mais além da instabilidade econômica. Fiquei por muito tempo aguardando sua iniciativa e a tal conversa “olhos nos olhos” que tanto me prometera. Diante de sua impassividade, acabei por colocá-la contra a parede, sem chances de escapar. A revelação veio confirmar tudo aquilo que eu desconfiava: Marlene esteve aqueles seis meses trabalhando como prostituta em um cabaré espanhol, atendendo pelo nome de Heloísa. Enquanto tudo era apenas suspeita, mesmo que dentro de condições praticamente inequívocas, ainda existia a possibilidade de um engano, por mais remoto que fosse. A partir do momento da confirmação, a dor é extremamente insuportável. O chão parece abrir-se sob seus pés. A cabeça gira em velocidade infinitamente absurda. O corpo gela e subitamente aquece ante um calor infernal. A língua cresce dentro da boca, impedindo a emissão de voz e dificultando a respiração. Tambores imaginários em batidas frenéticas e estupidamente ruidosas parecem que vão estourar os ouvidos. Enquanto os olhos sofrem uma pressão tão imensa, dando a sensação que vão saltar fora das órbitas. Os segundos parecem intermináveis, enquanto evitar o desfalecimento exige um esforço quase sobre-humano. Enfim, aterrissar novamente no plano da lucidez é um exercício longo e doloroso. Manter o equilíbrio emocional torna-se uma imperiosidade e controlar-se, uma necessidade quase vital. Quando me pus a sós e julguei ter encontrado novamente um ponto de equilíbrio, é que pude pensar, analisar e refletir. Comecei a me recordar da véspera da

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partida de Marlene, de sua inquietação e de seu incômodo. Lembrei daquela noite em que ela quase que ininterruptamente ligava em meu telefone celular, e também da sua primeira ligação em seu destino, dando-me a impressão de que algo muito estranho estava acontecendo. Intimamente, já sabia de tudo, fingindo não saber durante todo esse tempo e não aceitando que tivesse tanta certeza. Estaria ela sentindo um remorso tão grande, razão de sua tristeza e angústia? Teria sido o medo do desconhecido? Seria o julgamento de seu próprio consciente a lhe atormentar e condenar? O que leva uma pessoa a esse tipo de extremismo? Qual tamanho é o seu desespero que a levou a tal situação? O que terá sido negado a essa mulher de forma tão brutal que a tenha conduzido a uma prática desta natureza? As interrogações foram muitas, as dúvidas e incertezas maiores ainda. Tecer um julgamento é extremamente difícil. Talvez as mães possam procurar entender um pouco mais o desespero de uma outra mãe vivendo em um país tão difícil, tendo que abrir mãos de sua própria dignidade para que seus filhos venham encontrar uma sorte menos cruel. Eu conhecia muito de Marlene, ela havia me contado muito sobre seu passado. A condição de pobreza em que nascera, a separação dos pais que a levaram ainda muito pequenina a ser criada por uma outra família. Tivera conhecimento do estupro que sofrera ainda menina, cujo autor jamais me revelou, talvez pelo pavor que tinha de sua lembrança, mas que me levou a crer ter sido o próprio pai, nem mesmo sei por que sempre pensei isso.

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Relatou-me sua difícil trajetória na adolescência, em que sofrera todo o tipo de privações, inclusive gerando uma filha aos quatorze anos, que o pai negara assumir. Depois disso, houve um convívio de nove anos com um companheiro distante, de comportamento estranho, sobremaneira frio e que não se dignou a regularizar, durante todo esse tempo, a relação através dos laços matrimoniais. As oportunidades negadas, as humilhações sofridas, a auto-estima perdida, o medo e a insegurança foram os construtores dessa confusa e inconseqüente condição. Como julgar e condenar alguém que tivera, até então, um percurso de tantos sofrimentos e incertezas, vivendo a desesperança em um país que constantemente lhe negara as oportunidades que almejara alcançar? Até porque, durante a revelação, me contara que essa decisão já havia sido tomada muito antes de me conhecer e que sua realização somente ainda não se dera por razões meramente circunstanciais. Como sentar alguém no banco dos réus e sentenciar-lhe, imaginando o conflito íntimo que tivera de travar? Como apontar o dedo acusador e banir alguém impiedosamente e mais uma vez soterrar-lhe uma oportunidade? Sobretudo a quem só experimentara o sabor amargo da negação pela vida afora. E, eu? O meu orgulho, os meus sentimentos e o meu amor-próprio, como ficariam? Como iria fitar-me ao espelho? Como olharia para as outras pessoas e até mesmo Marlene? Como deitar e amar alguém que por seis meses se deitou ao lado de tantos outros homens? Como abraçá-la, envolvê-la e chamá-la de mulher?

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Naquela noite, chorei profusamente, transpirava tão caudalosamente que encharquei o lençol e umedeci tanto o colchão que parecia haver dormido ao relento ante intenso serenar. Não preguei os olhos por nenhum momento e vi o dia raiar com os mesmos inchados, a mente confusa e um gosto amargo no paladar. Não! Eu não poderia proferir-lhe uma sentença condenatória à baixo-estima, naufragá-la novamente na lama do fracasso e devolvê-la ao submundo das oportunidades perdidas. Haveria de vencer o meu orgulho, manter aceso o meu amor-próprio e intactos os meus sentimentos. Buscaria coragem seja lá onde fosse, mas não iria negar a essa mulher o que lhe havia sido negado pela vida inteira. Ao reencontrá-la, abracei-a e beijei-a em uma manifestação silenciosa de resignação, e assim ficamos abraçados por longo tempo. Depois de alguns minutos, sugeri-lhe esquecermos definitivamente colocando uma pedra sobre tudo. Dali em diante, senti Marlene menos sufocada e mais espontânea, leve e desenvolta. Contudo, ainda tinha a sensação que não era a mesma mulher de outros tempos, e à medida que o tempo ia passando, percebia nela uma irreverência nunca antes revelada e, em certos momentos um ar de deboche e ironia até então desconhecido. A mulher ponderada, compreensível e sensata, foi dando lugar a uma mulher questionadora, conflitante e arrogante. A intolerância e o nervosismo iam pouco a pouco crescendo e tomando conta do seu dia-a-dia. A freqüência de nossos momentos a sós foi diminuindo na assiduidade e na permanência de tempo, enquanto sua insatisfação e insegurança iam só

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aumentando, provocando-lhe insistentes proposta de adiamento de nossa união. Eu não percebia em Marlene nenhuma determinação e vontade em fazer progredir o estabelecimento comercial. Ela mencionava, incessantemente, as dificuldades que estava encontrando, dado a vagarosidade de evolução das vendas e a inércia do mercado comprador. Certamente, devido à limitação imposta pelo baixo poder aquisitivo da população e a concorrência da economia informal, levandonos a discorrer inúmeras vezes sobre o assunto. Enquanto ela manifestava todo seu ceticismo, eu defendia o argumento de que todo negócio no começo é difícil e que a situação do país não era tão negra como ela a enxergava. Isso nos levou a discussões, por muitas vezes, em clima tenso e desagradável, gerando mal-estar e inconformismo de parte a parte. A docilidade da Marlene de outrora deu lugar a uma agressividade, às vezes, descontrolada e a sensação que havia um oceano entre sua cabeça e seu físico, passou a ser certeza absoluta e incontestável. Quando conheci aquela mulher, ela não tinha identidade, a havia perdido. Depois voltou com duas, Marlene e Heloísa, e minha mente entrou em uma confusão tão grande, que eu não sabia quando era uma ou outra, e em certos momentos me sentia tão embaraçado que não sabia se a tratava como minha mulher ou como uma prostituta. Quando regressou, uma certa noite, disse que se preocupava muito com minha ingenuidade. Naquele momento ainda não fizera a revelação e não sabia de minhas certezas. Calei-me, mas mal sabe ela que sempre apostei nas pessoas, muito embora tivesse sempre motivos para não confiar, mas que por toda minha existência tenha sempre primado por preferir me enganar pelo erro de

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acreditar em quem não devia, do que errar pelo engano de não ter acreditado em quem merecia. Só lamento que Marlene venha, muito tardiamente, descobrir que a grande esperteza da vida é não ser esperto.

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PENSAMENTO “Na nossa sociedade, privar um homem de um emprego ou de meios de vida, equivale psicologicamente a assassiná-lo.” (Martin Luther King – Pacifista norte-americano)

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CAPITULO 5 - A GOTA D’ÁGUA Triste Realidade É inadmissível ver que um país com tamanha extensão territorial, com terras e mais terras produtivas, com um manancial de riquezas tão imenso, com um clima tão maravilhoso, com uma posição geográfica tão favorável, com um contingente de mão de obra tão vasto, esteja em situação tão delicada, com uma população tão empobrecida e a concentração de riquezas, em desproporcional parcela, nas mãos de uma minoria, sendo que em muitos casos levada pelo enriquecimento ilícito. É triste ver um sistema educacional agonizante, com professores tão mal remunerados e tratados com tanto descaso, um sistema judiciário ineficaz e injusto, um sistema de saúde pública falido esmolando CPMF, a segurança pública maltratada, ineficiente e desacreditada, a violência imperando, a corrupção desenfreada, tão elevada taxa de desemprego, miséria, fome e dor por todos os lados. Torna-se inacreditável e difícil de entender os absurdos que se ouve dizer dos responsáveis pelos desígnios do país, tal como a criação do “imposto da miséria”. É a flagrante auto-diplomação de incompetência, de alguém que está assumindo a condição de miserabilidade pela qual deveria estar lutando para erradicar de forma eficaz e inteligente. É doloroso ver e aceitar como realidade os famigerados subsídios do vale-transporte, da bolsa-família e outras tantas reticentes esmolas de uma administração que não tem uma receita capaz de suportar as próprias

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despesas, e ainda por cima assistir essa incompetência se vangloriar disso em propagandas publicitárias nos caríssimos horários nobres. Além disso, assumir orgulhosamente tais paternidades nas campanhas eleitoreiras. A população quer empregos com salários dignos, capazes de lhe permitir arcar com suas despesas e necessidades. Quer o Estado cumprindo rigorosa e competentemente com suas obrigações nos campos da educação, segurança, justiça, saúde e previdência, pelas quais ela paga pesadíssimos tributos, e deixe de enganá-la com essas esmolas propositadamente ilusórias e mascaradoras de uma realidade incontestável. A Nação quer ver esse enorme contingente de formandos de cursos superiores, escolas técnicas e de ensino profissionalizante, que a cada ano são despejados dos estabelecimentos de ensino, encontrando o seu espaço no mercado de trabalho. Quer assistir aos milhares de jovens oriundos de cursos de especialização profissional sendo aproveitados imediatamente em seus setores de atividades, ao invés de assisti-los pelas ruas, distribuindo panfletos de publicidade comercial, trabalhando em pesquisas atraindo clientes para escolas de informática e outras, operando como auxiliares de camelô no profuso universo da economia informal ou sendo atraídos à marginalidade pela falta de oportunidades. Desemprego: uma grave doença nacional Do alto dos meus 58 anos de idade, vivenciando a experiência de ser brasileiro, não consigo me acostumar à idéia de que as buscas de soluções dos problemas de

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nossos administradores públicos nunca são pautadas em cortar o mal pela raiz. Neste país, não se aprende com os erros cometidos e eles vêm sendo repetidos, insistentemente, por anos e anos, há mais de quinhentos de existência. Pouco ouvi nos discursos políticos, tímidos pronunciamentos de analistas especializados e referências discretas de governantes admitindo que o problema do Brasil seja estrutural. Se faça necessário analisar as causas, avaliar os efeitos e tomar ações a partir da base, da origem dos problemas. O que é o desemprego? Por que atingiu patamares tão elevados? Como buscar soluções? Este é o caminho certo para a busca e resolução de problemas, ao invés de ficar dando esmolas paliativas e nocivas ao crescimento do indivíduo dentro da sociedade, assim como ao desenvolvimento econômico e social de um país. O homem, antes de tudo, precisa de ocupação e emprego para arcar com a própria sobrevivência com dignidade. Não tive nenhuma dificuldade para obter o meu primeiro emprego ao concluir o curso técnico de mecânica. Eu não tinha experiência profissional, era recém-formado e totalmente inexperiente em relação à vida, ou seja, tinha todos os predicados dos recém-formados atuais, do jovem brasileiro de hoje. A diferença fundamental era apenas uma: oferta e procura. Havia procura de mão de obra em equilíbrio com a sua oferta. Existiam oportunidades. O que aconteceu nestes 35 anos? Bem, o primeiro passo é levantar as causa, e elas são várias, algumas até ignoradas, por se tratarem de fenômenos sociais e de comportamento. Outras são mais difíceis de serem aceitas,

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já que levam a desmistificar idolatrias políticas e deitam por terra conceitos, bravuras e falsos heroísmos, construídos na ignorância e desinformação de elevada parcela da população, marca registrada desta tão sempre mal contada história brasileira. Comecemos por um fenômeno social e de comportamento: o acelerado crescimento profissional feminino. A mulher que até o início/meados dos anos 60 era preparada para ser dona de casa, empregada doméstica, quando muito, professora primária. Ela sofria a pena de ter que se manter escrava do casamento. Quando infeliz, ficava submissa ao marido, não tinha como sair porta afora, por não dispor das condições para buscar a própria sobrevivência, salvo raros casos. Com isso, a mulher passou a encarar com afinco a necessidade de se preparar para isentar-se dessa condição, procurou estudar além do ensino básico, fazer cursos profissionalizantes e universitários. Gradativamente, passou a ocupar postos de trabalho antes reservados exclusivamente ao homem. Isso ocorreu em profusa e crescente evolução, em muito pouco tempo. Conseqüentemente, esse afluxo de oferta de mão de obra passou a atuar como um elemento de preenchimento maior das oportunidades de trabalho, com um agravante, o do empresário aproveitando-se da situação para reduzir custos remunerando a mão de obra feminina oportunistamente aquém. Analisemos, em seguida, outra causa extremamente significativa: o erro estratégico sóciopolítico-analítico. Indubitavelmente, Juscelino Kubitschek foi um grande estadista, carismático, trabalhador e bem

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intencionado. Talvez o único que tentou fazer estruturalmente algo de concreto neste país, só que pelas avessas, já que cometeu um grave erro estratégico pela falta da correta visão, da devida projeção de futuro e de um planejamento bem definido. Construir, inicialmente, Brasília, para quem já tinha uma dívida externa incontrolável, pode ter parecido um excelente empreendimento, mas não foi, já que foi um investimento improdutivo, sem retorno financeiro. Seria, se houvesse ocorrido em outra ordem, como poderá ser observado mais à frente. O desenvolvimento da indústria automobilística, outro de seus empreendimentos, pecou pela falta de visão e planejamento. Ora, a criação da Fábrica Nacional de Motores e o incentivo para implantação das grandes montadoras multinacionais, com a conseqüente geração de indústrias e serviços indiretos, despertou o homem rural, que desassistido, acorreu à oferta de oportunidades nos grandes centros, abandonando o campo e amontoando-se nas grandes cidades. E, o êxodo não cessou com o preenchimento das vagas e oportunidades. O homem do campo continuou vindo, sub-empregando-se, sublocandose, proliferando favelas, marginalizando-se e transformando os grandes centros na caótica realidade que salta aos nossos olhos. Daí, um dos fatores do crescimento acelerado da violência urbana. Hoje, o país endividado, com pesados compromissos com bancos e organismos internacionais, teve o seu desenvolvimento inibido por causa desses compromissos que se arrastaram por todos esses anos, ocasionando um elevadíssimo índice de desemprego,

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grandes centros superpopulosos, distribuição demográfica desequilibrada, distribuição de rendas desproporcionados e altíssimos índices de criminalidade Se JK tivesse uma equipe competente, que houvesse estabelecido um Planejamento de Desenvolvimento Nacional baseado em uma projeção de futuro adequada e uma visão realista, teria pela ordem: feito uma reforma agrária;captado e destinado recursos para o financiamento da produção agro-pecuária;capacitado e assistido o agropecuarista;incentivado a instalação da agroindústria; desenvolvido potencial mercado externo;implantado a indústria automobilística e mecânica, e só depois,construído Brasília. Outra causa, que é resultado em cadeia do erro estratégico de JK, é: o acelerado crescimento da economia informal. Com a falta de oportunidades gerada pelo transbordamento do mercado de trabalho, o cidadão brasileiro se viu obrigado a buscar alternativas de sobrevivência, o que levou ao desenvolvimento e crescimento acelerado da economia informal e seus maléficos efeitos: a não tributação, a falta de recolhimento à previdência, o surgimento da indústria da pirataria e a circulação de moeda em um mercado sem controle, gerando a economia paralela. Conseqüentemente, a carga tributária da economia legalizada é aumentada para suprir as despesas públicas, a produção de bens e serviços é inibida pela concorrência da informalidade, o mercado financeiro entra em colapso contribuindo para o aumento de juros sobre recursos de estímulo à produção, tendo como resultado um maior aumento do índice de

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desemprego. Existem outras causas, mas as citadas são as principais. É na análise das causas que concluímos os efeitos, e é no conhecimento profundo de todo um contexto que deve ser construído um planejamento par solucionar a questão do desemprego e de muitos outros problemas nacionais, não através de programas paliativos e ineficazes. Nosso problema é estrutural e não são programas e medidas isoladas que irão nos propiciar o desenvolvimento e crescimento. É pela estrutura que devemos começar, sabendo que demanda tempo, trabalho exaustivo, dedicação e participação de toda a nação, sobretudo colocando o amor à pátria acima de todos os interesses pessoais, de categorias ou grupos. Devemos abandonar o egoísmo que se apoderou de muita gente, propiciou privilégios e elitização de muitas classes sociais e profissionais, pensar na reversão dessa caótica situação em que o país se encontra. Precisamos aprender que um conjunto é formado de peças e seu funcionamento depende de todas as peças estarem ajustadas em sincronia absoluta. Se o governo não entender assim, o empresário não entender assim, as instituições e seus corpos não entenderem assim, as diversas classe e categorias não entenderem assim, cada um defendendo o seu único interesse, sem perceber que os demais devem ser supridos de recursos e instrumentos de operação, a máquina emperra e nada funciona. Também deve ser analisada a ordem das medidas e das reformas, para não tomar ações pela ordem inversa, repetir os mesmos erros do passado e continuar sem sair do lugar.

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Que se faça um pacto social de verdade, abandonando-se a ânsia pela poder, unindo-se me torno de um objetivo comum, único. Que se analise o contexto, conclua-se e proceda-se um Planejamento Nacional de Emergência, caso contrário o brasileiro permanecerá nesta incômoda situação de desemprego, refém de programas pseudo-sociais e miseráveis. Estes homens públicos que desconhecem a realidade brasileira porque não transitam pelas ruas em condições de insegurança e o fazem em seus luxuosíssimos carros blindados, de vidros fumê e cercados por uma escolta particular pagos com as verbas que deveriam estar utilizando em benefícios sociais, não podem enxergar a quantidade de mendigos esmolando por todos os cantos, gente conduzindo cartazes implorando um emprego e seres humanos revirando as latas de lixo a lamber os restos de guardanapos e recipientes descartáveis com resíduos de molho, manteiga e polpa de frutas ou iogurtes. É estarrecedor e deprimente vê-los falar de urbanização de favelas, quando o melhor seria convencerem-se de que favelas não deveriam existir, pois é o retrato de suas próprias incompetências e o fruto de suas irresponsabilidades em cinco séculos de administração pública. O que deveriam era aprender e empreender um programa de descentralização urbana através de administrações competentes e inteligentes, destituídas de politicagem e revestidas de uma política social e econômica cuidadosamente planejada e conduzida. É ridículo assistirmos as campanhas no horário eleitoral obrigatório, que se estamos em um regime democrático, essa democracia deveria ser exercida, com as

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propagandas eleitorais sendo transmitidas em horários alternados em canais diferentes, permitindo-nos a alternativa de não sofrermos, por nossa própria escolha, com os absurdos que se vê. Chega a ser inacreditável observar aqueles indivíduos fazendo promessas mirabolantes de soluções de problemas que nem mesmo conhecem as origens e que nem mesmo, às vezes, é de competência do cargo que pleiteiam. E o que é pior, estarrecer-se com os candidatos a reeleição arrotando feitos maravilhosos de sua gestão que trouxeram benefícios incalculáveis a uma sociedade que estamos vendo rota, miserável e desassistida em todos os aspectos, quando apenas o que conseguimos enxergar foi vê-los votando o aumento astronômico de seus salários, desviando verbas em benefícios próprios através de mecanismos ilícitos e aumentando seus patrimônios de forma avassaladora. Potenciais mal explorados: Este país possui fontes de riquezas incomensuráveis. Temos potenciais imensos, não explorados ou mal explorados. Pode-se citar vários, que garantiriam ocupação, emprego e receita. As prefeituras, governos estaduais e federal, para aumentarem suas receitas, preferem o caminho mais curto e cômodo: a sobrecarga de tributos fiscais. Se ao invés disso, criassem formas de exploração das riquezas e potenciais que possuímos, arrecadariam muito mais e não desequilibrariam a economia do país. Falemos de dois enormes potenciais: o agropecuário e o turístico. Avaliar potenciais de produção agrícola e pecuária traria enormes benefícios, como já foi discorrido ampla e excessivamente em capítulos anteriores.

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A promoção de eventos, por todo o território nacional, transformaria a indústria do turismo em uma de nossas mais rentáveis. Temos uma cultura regional e folclórica riquíssima, além de contarmos com uma beleza natural que enche os olhos de quem quer que seja; um acervo histórico maravilhoso e um universo artístico de primeira grandeza. O que não sabemos é explorar isso. Um impulsionamento neste sentido estaria estimulando as artes e os artistas, gerando empregos em profusão, aumentando a receita de municípios, estados da federação e do país, trazendo divisas e conseqüências salutares ao sistema econômico-financeiro nacional. Explorar o turismo significa unificar arte, cultura e beleza natural, riquezas que temos de sobra, em torno de um objetivo maior. É preciso se mexer, ao invés de ficar esperando, de braços cruzados, por oportunidades milagrosas. Os formandos das faculdades de turismo poderiam fazer um levantamento de potenciais turísticos, desenvolver planos de execução e apresentá-los às prefeituras e governos estaduais. Esses órgãos, por sua vez, se incumbiriam de viabilizá-los, abrir concorrências para a estruturação física: estradas, aeroportos, rodoviárias, restaurantes, hotéis, pousadas, salões e galpões de eventos; proceder calendários, divulgá-los nacional e internacionalmente; enfim, alavancar com afinco esse potencial de desenvolvimento que dispomos e, conseqüentemente, colherem benefícios advindos da iniciativa. Imaginem concursos de corais, apresentações de orquestras sinfônicas, de corpos de bailes, de companhias de balé, grupos de dança, feiras de livros, festivais de canções, de cinema, de poesia, feiras de artesanatos,

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mostras de teatro, concursos e apresentações de bandas nacionais e outros tantos, em locais aprazíveis e belos como as serras e montanhas de Minas, o litoral fluminense, capixaba, sulino e nordestino, as regiões bucólicas e sertanejas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais, interior de São Paulo; nos folclóricos Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste; nas regiões pantaneiras deste país-continente tão rico e maravilhoso. Imaginem o campo fértil que estaria sendo aberto aos artistas nacionais, aos nossos intelectuais, que por sua vez, estariam divulgando suas obras dentro da proposta de edificação do novo cidadão brasileiro, da estruturação e educação do jovem em formação, com mensagens compatíveis a esse processo tão necessário. Imaginem quantos profissionais de outras áreas seriam beneficiados através das oportunidades paralelas que surgiriam. É preciso criatividade, vontade e determinação de todos, e, sobretudo, a união de esforços, seja da sociedade como dos governantes. E era em discussões cada vez mais acirradas sobre esta tão degradante e desestimulante condição social, política e econômica, que Marlene pautava seus temores e manifestava todo o seu descontentamento, dando a entender que uma possibilidade de bater em revoada novamente era uma questão de muito pouco tempo. Muitas vezes cheguei a imaginar que Marlene apenas viera ao Brasil, não em atendimento ao meu apelo, reassumindo sua vida junto aos filhos e a mim, mas aqui apenas viera para preparar condições de regressar por um tempo ainda maior, rever apenas os filhos, me dar o tiro de

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misericórdia e organizar o campo para uma nova ausência, muito mais prolongada. E não demorou muito tempo para que através de contatos telefônicos, deixar eu perceber que a sua volta seria eminente. Os abutres da exploração da rede de tráfico de mulheres sentem o cheiro da carne podre a milhares e milhares de léguas, e já farejavam a sua presa, urdindo, com certeza, o processo de rapinagem rapidamente. Eu podia perceber isso no ar. A inquietação cada vez mais crescente ia modelando um quadro de ansiedade flagrante, alusões sutis e outras indisfarçadas iam tornando prementes uma tomada de decisão e Marlene com resquícios de uma maldade cada vez mais debochada, delineava em seu semblante e atitudes os traços de Heloísa. E veio a gota d água. Uma manobra política interna, em minha empresa, aliada a insatisfação gerada na diretoria pela minha queda de rendimento e inconsistência no exercício de minhas atividades profissionais, ocasionado pela fragilidade emocional de que estava acometido, dado este drama que estava vivendo, definiram minha demissão, agravando a situação e alarmando Marlene ainda mais. Procurei tranqüilizá-la aludindo que em muito pouco tempo encontraria uma nova colocação, mas muito mais que isso, tinha um projeto de instalação de um negócio próprio com os recursos provenientes de minha indenização trabalhista e não tardei a dar andamento em sua consecução. Cada passo que eu dava era motivo de críticas de sua parte e razões da manifestação de seu ceticismo quanto ao sucesso de qualquer empreendimento no momento em que milhares de alternativas naufragavam pela proliferação que o crescente número de

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desempregados despejava em um mercado efervescente em pulverização de todos os tipos de iniciativas comerciais e industriais. E ao invés de contar com seu apoio, recebia o desestímulo, e em lugar de sua solidariedade, percebia uma contrariedade cada vez mais acentuada. A partir de determinado momento, comecei a perceber em Marlene um empenho muito grande em provocar minha aversão a ela. Eu sentia que buscava claramente suscitar sobre ela um sentimento de ódio e repulsa, revestindo-se insistentemente de Heloísa, como que querendo desencadear um processo de desamor, mas cuidando de preservar os laços de amizade e manter vivo o sentimento de solidariedade que sou possuidor. O que pude concluir é que se tratava de uma manobra muito bem tramada, pois caso decidisse voltar, queria evitar novamente o meu assédio inquietante durante a sua permanência lá, acreditando que eu cometeria o desplante de recebê-la novamente de volta quando lhe aprouvesse. E mais ainda que isso, queria contar com o meu apoio, pois se apavorava com a idéia de ter que deixar os filhos em companhia do pai, considerando que seria um retrocesso na conquista de independência dele, que bem ou mal, já havia logrado. Marlene já tinha tudo, ou quase tudo, que justificasse a sua decisão de regressar, faltava apenas mais um pequeno impulso e diante de um quadro tão comprometedor, era uma questão de pouquíssimo tempo. Era como se estivesse sentada sobre um barril de pólvora aguardando a centelha derradeira para detonar a carga explosiva e a alguns passos me encontrava desesperadamente tentando cavar um buraco bem profundo capaz de soterrar aquele arsenal perigoso e fatal. Mas não

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havia argumentação suficiente a demover ou mudar sua opinião. Toda e qualquer tentativa de minha parte era rechaçada com um bombardeio de razões irrefutáveis. Senti-me como um pregador no deserto a falar inutilmente ao vento, e minhas ações refletiam instabilidade ao invés de segurança. Eu me agarrava ao meu projeto que pela força das circunstâncias se desenvolvia lento, não podendo ser acelerado, pois exigia acuidade e um cadenciamento progressivo bem definido e melindroso para não incorrer em falhas que poderiam comprometer o seu sucesso. A demora de resposta provocava intranqüilidade, despertavam críticas, incredulidades e reforçava mais os conceitos e as incertezas de Marlene, cada vez mais impaciente e intolerante. Quis fazê-la enxergar que a pressão exercida criava uma instabilidade muito grande e aflitiva e mencionar a ela que fora justamente essa instabilidade emocional desencadeada em mim com a apreensão e preocupações de sua ida, as contradições, suspeitas e incertezas em seu incurso, a causa do delineamento de meu caminho rumo à demissão, irritou-a profundamente, que segundo seu ponto de vista, emoções não exercem influências no comportamento a ponto de submeterem alterações tão relevantes. O que se pode entender dessa sua posição é que prostitutas são obrigadas a romper com as emoções e desvestir-se de qualquer condição de sensibilidade, alienando-se de sentimentos de amor e prazer, pois o desgaste emocional provocado seria tão desastroso e muito mais acelerador do processo de desgaste físico e o exercício deste mecanismo acaba por transformá-las em máquinas frias e calculistas, impondo-lhes imensas dificuldades em

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reabilitar os sentimentos, podendo até se tornar irreversível e fazendo-as acreditar que emoções são fraquezas desprezíveis. Em meio a todo esse turbilhão, eu me aprofundava em pensamentos e reflexões. Avaliava causas e efeitos, buscando incessantemente respostas, razões e justificativas, mas procurando preservar a lucidez para ordenar mentalmente este confuso universo de desencontros e incoerências. Passei a me preocupar mais em manter o equilíbrio e evitar incursar-me perigosamente no campo da loucura, por sentir-me muitas vezes, caminhando sobre a linha que a separa da razão. E, assim, diante de toda essa turbulência, pedia a Deus para me dar sabedoria, me tornando capaz de não julgar e, sobretudo, não condenar, pois ninguém melhor que a própria Marlene poderia saber por que chegara até ali nas condições em que se encontrava. Ninguém poderia saber melhor que ela os caminhos que havia percorrido, o que lhe havia sido imposto para que tivesse chegado aonde chegou.

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PENSAMENTO “Cada criança é uma aventura em uma vida melhor, oportunidade para mudarmos padrões antigos e tornálos novos.” (Hubert Humphrey – Ex Vice-Presidente dos EEUU)

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CAPITULO 6 - O REGRESSO Ideal de Justiça Social Transcrevo abaixo, na íntegra e sem mudar qualquer linha, frase ou parágrafo, uma carta que minha filha, Renata, na inocência de seus dez anos de idade escreveu a Deus, cuja carta eu achei por acaso, ao procurar na escrivaninha de seu quarto uma régua que precisava para tirar uma medida qualquer. 29 de abril de 1984 Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, América do Sul, Planeta Terra. Deus, Eu, Renata, queria pedir para Você dar um jeito de acabar com o dinheiro e com tudo que fosse artificial, menos os parques de reserva natural, como: Municipal e Mangabeiras, nem com as bancas de revistas, os videogames e televisões a cores. O resto eu até gostaria que acabasse. E as pessoas morassem nas roças, fazendas e sítios. Os animais só comessem frutas, verduras e legumes, e as pessoas também. Ninguém matasse animais para comer. E as pessoas criassem animais para serem amigos delas. E que as pessoas nunca se lembrassem que a maldade já tivesse existido. E que até as cobras fossem amigas do homem. Se possível quero resposta. E que nunca mais existam doenças. Renata

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Não é de se surpreender que alguém quando criança, mesmo tentando salvar os videogames, as bancas de revistas e as TVs em cores, possuindo tão nobres ideais de justiça social, houvesse se graduado em Ciências Sociais e Humanas, o que surpreende é que quase depois de cinco anos de formatura, ainda não tenha encontrado espaço em seu campo de formação. Com sua carta a Deus, que até hoje guardo comigo, Renata me deu a certeza que a juventude possui dentro de si a pureza do senso de justiça, que é no processo de educação e construção de valores que se edifica o ser humano adulto futuro, daí eu acreditar que a construção de uma nova consciência nacional através da educação é o primeiro e mais importante passo, que é nessa juventude em formação que reside à esperança de se construir valores muito mais elevados para que o futuro do país seja promissor. Mas, não basta o investimento na juventude, como também a reeducação daqueles que ainda preservam dentro de si ideais de justiça social, que se acomodaram ante tanta desfaçatez e tiveram valores inibidos pela hipocrisia do descaso, mas que ainda clamam por mudanças e encontram-se limitados e acuados, assistindo com perplexidade essa balbúrdia que desfila incólume, irrefreável e irresponsavelmente aos nossos olhos. Somos uma nação em sua maioria formada por homens de bem e essa imensa maioria divide-se em duas parcelas distintas. A primeira, bem menor, é constituída de pessoas que pela força das circunstâncias que lhes fora imposta estão aprofundadas no simesmismo e que dado a uma melhor oportunidade recebida sobrevivem na base do “salve-se quem puder”. A segunda, consideravelmente

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maior, sobrevive à duras penas com escassíssimos recursos provenientes de um salário irrisório ou de atividades não legalizadas em registro de trabalho regular, sofrendo toda a sorte dos efeitos ocasionados dessa ingovernabilidade instalada no país. São seres humanos em quase absoluta petição de miséria, sentindo na pele o resultado desastroso de uma administração pública que, antes de ser incompetente é irresponsável e impiedosa. É lógico que existem homens sérios e imbuídos de nobres propósitos, mas que estão limitados em suas ações pela condição de ingovernabilidade que as administrações anteriores lhes legaram e engolidos pelas tramóias dos irresponsáveis de hoje. Violência, criminalidade e justiça – É alarmante o aumento da violência e da criminalidade no país nos últimos tempos. Fala-se em Reforma do Judiciário, mas de concreto, nenhuma ação. Estamos atrelados a um Código Penal arcaico e caduco, que não acompanhou a evolução dos tempos e não sofreu qualquer modificação substancial. Criticar o Poder Judiciário é muito cômodo, proceder a reformas exige muito mais. O que se ouviu do Poder Executivo, em todos esses anos, foram promessas de aumentar o efetivo policial, unificar forças policiais e construir mais penitenciárias. Apregoou-se isso, sobretudo em ocasiões de eleições, quando reeleições são pleiteadas. Combater a violência e a criminalidade não é isso, significa levantar e erradicar as causas que conduzem o indivíduo às suas práticas, promover reformas judiciárias que punam exemplarmente os infratores da lei e da ordem e, sobretudo, combater veementemente a impunidade que reina no país.

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É preciso rever os Códigos Civil e Penal, impedir que beneficiem infratores, façam com que a repressão se processe eficazmente e não desestimule a força policial. Essa empreende esforços , mas se sente desmotivada diante do quadro de impunidade que assiste constante e regularmente. Somos uma sociedade em estado democrático que, paradoxalmente, tem sua liberdade tolhida, impedida de transitar livremente diante das constantes ameaças que sofre de assaltos, violências, estupros, seqüestros e outras tantas ações criminosas, seja à luz do dia ou à noite. Uma sociedade que tem a sua liberdade ameaçada por invasões de seus próprios domicílios, sejam condomínios fechados, prédios residenciais ou casas. Quanto ao Poder Legislativo, há de se considerar que seus ocupantes são eleitos por uma sociedade, em sua maioria, destituída do embasamento adequado, por isso, elegem (em todos os âmbitos; municipal, estadual e federal) representantes totalmente despreparados para o exercício do cargo. Em outro caso, elegem pessoas com o único propósito de tirarem proveito do cargo para benefícios próprios, geralmente escusos. E, para finalizar, há de se considerar que existem representantes sérios, éticos e bem intencionados, mas que ficam limitados pelas pseudo coligações partidárias e do exercício das tramóias politiqueiras que desfilam no cenário nacional. Focalizar este quadro confuso e esdrúxulo podese usar dois momentos nacionais que resultaram em equívocos: novo Código Nacional de Trânsito e Estatuto da Criança e do Adolescente.

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NOVO CÓDIGO NACIONAL DE TRÂNSITO: No Brasil, criam-se leis aleatoriamente. Em geral, elas são criadas nos momentos críticos, exatamente nas situações de pânico social. Ou seja, quando a sociedade clama por regulamentação de situações de descontrole e que estejam gerando convulsões sociais. Imediatamente, os legisladores (essa classe tão despreparada e tão desprovida de condições do exercício do cargo para o qual foram eleitos, muitos deles até mesmo sem saber quais as responsabilidades inerentes ao cargo que ocupam) passam a criar normas e regulamentações visando apenas atender aquela necessidade premente, sem proceder a análises e avaliações e, se aprovadas, sem definir um projeto de implantação adequado. Isso ocorreu com o Novo Código Nacional de Trânsito, que tão logo entrou em vigor, surgiram questionamentos primários como: de quem é a responsabilidade? Estadual ou Municipal? Seria da polícia ou da administração pública? Como será multado o pedestre? E tantos outros questionamentos que o resultado está aí, nada mudou nas condições desastrosas do trânsito e nasceram novas maracutaias, como a venda de pontos da carteira de habilitação, a indústria de fabricação de multas e a indústria do recorrimento dos escritórios advocatícios. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente para uma sociedade com as diferenças sócioeconômico-culturais como a nossa e destituída de uma fórmula de equilíbrio entre o aspecto patológico e o emocional do indivíduo, é a constatação inequívoca de um Poder Legislativo incompetente e irresponsável; e de um Poder

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Judiciário limitado. Além do mais, fazer o estatuto sem criar dispositivos de regulamentação e sem aparelhar o Estado para o cumprimento de suas exigências é sinônimo de incompetência. É disso que nossa sociedade precisa: INFORMAÇÕES. Aos seus ouvidos chega somente a propaganda política, muita bem elaborada pelos institutos de marketing, que escondem os aspectos negativos e discutíveis e a mantém mergulhada no obscurantismo providencial ao poder constituído e às classes elitizadas desse poder. DISPOSITIVO DE EQUILÍBRIO: Nada funciona sem um dispositivo de equilíbrio. Um avião, por exemplo, não se manteria no ar e nem mesmo poderia cumprir uma rota, sem as suas asas; ou uma panela de pressão estouraria se não tivesse a válvula de escape. Assim como, um tribunal de júri jamais chegaria ao consenso entre defesa e acusação se não houvesse a presença do juiz do tribunal. Desta forma, a justiça deveria se equipar de um dispositivo de equilíbrio. Analisemos o Estatuto da Criança e do Adolescente. Vejam como as opiniões se divergem. De um lado, muita gente defendendo a sua inquestionabilidade, de outro, muitos exigindo uma revisão imediata. Por que não utilizar um dispositivo de equilíbrio? Entre os aspectos legislativo e judiciário inserir o aspecto patológico? Seria a melhor maneira de se fazer justiça com isenção e poria por terra essa mania nacional de usar assuntos sérios com finalidades politiqueiras e eleitoreiras. Para isso basta entender que a mente humana é regida por dois aspectos: o patológico e o emocional;

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como também nos conscientizarmos que devem participar da elaboração de leis, especialistas como médicos, psiquiatras, psicólogos, sociólogos, neurologistas e neuropsiquiatras. Deve-se avaliar não ser possível adotar o mesmo critério de julgamento para um indivíduo que cometeu um delito movido por uma necessidade de sobrevivência ou por uma emoção circunstancial; àquele adotado no julgamento de um indivíduo levado ao delito pelo estado patológico. E, nem mesmo, admitir que os mesmos sejam punidos e recuperados no mesmo ambiente, com os mesmos critérios. Por isso mesmo, há de se rever o Estatuto da Criança e do Adolescente, para que ele não proteja inadequadamente o menor que comete um delito motivado pela psicopatia(aspecto patológico)e requeira sua internação em regime especializado pelo período necessário, ainda que exceda o limite de idade, ao invés de devolvê-lo prematuramente às ruas e venha cometer novos delitos; ao mesmo tempo em que ele permita ao menor que comete o delito motivo pela condição de miserabilidade(aspecto emocional), seja assistido em ambiente adequado, dentro do limite de idade e reintegrado à sociedade devidamente recuperado. Imaginem uma construção arquitetônica somente com a contribuição do arquiteto e do pedreiro, sem a participação do engenheiro? Como pode uma sociedade escolher seus representantes e analisar suas atuações sem o conhecimento necessário, sem a informação e sem a capacidade de análise? Como uma sociedade pode entender se uma lei está correta ou se as reformas em

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andamento atendem os interesses da nação? Se ocorrem adequadamente? Há de se criar para a sociedade um fator de equilíbrio: UM NOVO MODELO EDUCACIONAL. Eram telefonemas pra lá, telefonemas pra cá, contatos daqui e de lá, um movimento incessante, um vai-evem constante. Poucas palavras eram suficientes para indicar o que estava acontecendo e eu percebia em Marlene uma preocupação enorme, um medo muito grande de dar o passo decisivo. Em uma de nossas conversas, falou do ódio de si mesma em haver se sensibilizado em ouvir meu apelo para que voltasse tão prematuramente e do tempo que perdera em razão disso, pois nesses seis meses que aqui estava teria dado prosseguimento nos objetivos que a haviam levado e agora já poderia estar de volta em condições consideravelmente melhores e definitivas. Já com trinta e quatro anos, corria o risco de não mais ser aceita, pois já é uma idade considerada avançada para o exercício da profissão e tivera problemas da vez anterior. Além disso, temia o risco de insucesso no processo migratório, relembrando as dificuldades que igualmente enfrentou em sua primeira incursão. Como pode alguém imaginar que um homem viva tal situação em condições de insensibilidade e dentro de absoluta normalidade? Para Marlene, era uma fraqueza e um desequilíbrio incompreensível, minha tentativa de dissuadi-la da idéia e a proposta de unirmos forças para derrotar as adversidades que poderiam ser vencidas em nome de um objetivo mais digno. Com isso, deu lugar a me preparar para o seu novo regresso, criando expectativas de me encontrar, sabe Deus quando, de braços abertos a

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esperá-la. E o seu intuito era maior, pois queria deixar os seus filhos no apartamento que eu montara, pretendendo conseguir alguém de sua confiança para destinar-lhe a responsabilidade de cuidar dos mesmos durante sua ausência. Obviamente, com ela enviando mensalmente os recursos financeiros para a manutenção desta situação. Eu não pude acreditar quando Marlene me disse que seus filhos com cinco e sete anos de idade já tinham caráter e personalidades formados ao aludir que a sua ausência, naquela fase de formação de valores, lhes seria muito prejudicial em seus processos de desenvolvimento. Era inacreditável que alguém com demonstrações, muitas vezes, de raríssima inteligência, pudesse revelar tamanha ignorância diante de questão tão delicada, e isso, permitia dimensionar a impulsividade determinada de que estava acometida e a certeza que nenhum argumento seria capaz de reverter a sua decisão. Sua preocupação como mãe residia muito mais no aspecto da estrutura econômica do que na estrutura emocional. Ela pensava em construir um futuro para os filhos que lhes garantisse moradia, alimentação e formação profissional, negligenciando em edificá-los como indivíduos emocionalmente estruturados e capazes. Isso me fez lembrar que permaneci dezoito anos em um casamento infeliz, em razão de permitir que minhas filhas crescessem em um lar de ambiente familiar constituído e desenvolvessem uma estrutura de valores pautada em princípios sociais de união, participação e agregação. Nestes momentos, apodera-se da gente um sentimento ímpar. Passamos a nos perguntar se estamos agindo corretamente em sermos coniventes com uma situação da qual nós mesmos discordamos, só para agradar

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e possibilitar a satisfação dos anseios de uma pessoa que não está sendo, aos nossos olhos, coerente e responsável. Também passa a ser objeto de avaliação a falta de oportunidades que outras pessoas envolvidas estejam merecendo em uma decisão que não deve ser unilateral, nem mesmo imposta pela posição egoísta de querer inferir ditames de uma onipotência a que não tem direito exclusivo. Por outro lado, vem a indagação de nós mesmos, perguntando se temos direito de interferir e qual a competência que temos para julgar aquilo que não nos é de direito. Ao mesmo tempo em que a razão nos cobra a responsabilidade de um cumpliciamento que no futuro possa nos colocar diante do nariz o dedo acusador de nossa própria consciência. Não se tratava mais de lutar para impedir a ida de Marlene, mas de não participar como co-autor de uma atitude que eu deplorava, deixar seus filhos à mercê de uma ausência de responsabilidades comprometidas com a base familiar. Apostando que o pai, pelo que percebi em suas atitudes como tal, sem que tenha ao menos conhecido pessoalmente, deveria ser o guardião de suas responsabilidades e entendendo que as razões de Marlene fundamentadas na infelicidade de seu convívio mútuo, não o desqualificava do exercício da função paterna e que pelo menos sua presença aliviaria a ausência da mãe, tramei e desferi o golpe crucial. Criando uma situação de discussão e desentendimento entre mim e Marlene, fingi um desatino muito grande, culminando com uma determinação em revide que acorresse a outro local e condição para que deixasse os filhos em sua partida, provocando uma reação

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imediata de repúdio e ferida por uma pressuposta rejeição de apoio aos mesmos, instantaneamente, convocou o pai para lhe confiar a guarda dos filhos. Sentenciou que com aquela atitude eu estava dando a ela tudo o que precisava para definitivamente decidir pelo seu regresso, retomando seu objetivo a qualquer preço e jurando ir até o fim conforme a princípio havia planejado. Em contrapartida, rompeu comigo compromissos de qualquer natureza. Talvez, Marlene nunca venha entender o bem que lhe fiz e aos filhos, como também à sua filha, que desta forma se livrava de uma responsabilidade que lhe estaria sendo imputada e para a qual ainda não reunia a suficiente maturidade, que a si estava sendo legada de uma forma inadequada por uma ação inconseqüente e desavisada. A filha, por sua vez, sentia-se envergonhada em ter que voltar para um lar de onde um dia saíra em solidariedade à mãe. Por isso, lhe permiti que mudasse para minha modesta moradia de quatro cômodos com todo o mobiliário que a compunha e transferindo apenas para Marlene a responsabilidade de locação do imóvel. Mudaria-me para o apartamento, quando ela seguisse o seu destino e os filhos fossem confiados ao pai. Minha consciência, a partir daí, se tranqüilizou e passei a entender que agira corretamente, mesmo que a indignação de Marlene colocou por soltar-lhe todas as cobras e lagartos sobre mim, que pelo conjunto de minha obra intitulou-me “burro, desequilibrado e desprezível”. Deram início os preparativos para sua ida. Não me furtei em solidarizar-me a ela na nova investida em regularização de documentação e outras tantas coisas que precisava organizar, mesmo ante seu desprezo e descaso e um deboche irritante que vez ou outra despejava sobre

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mim, como se quisesse me ferir e punir. Com certeza, em algum momento no amanhã de sua vida, ela vá reconhecer que em um instante muito difícil eu fora o único que lhe estendera as mãos, a própria vida se incumbe disso, e não medira esforços e conseqüências para ajudá-la, mesmo que com parcos recursos que, entretanto, lhes possibilitaram dar o passo primeiro que lhe abriu portas, massageando o seu ego, elevando sua auto-estima e abrindo mão de mim próprio para que pudesse lograr êxito em seus anseios. Talvez um dia, quem sabe, se envergonhe em me cobrar atitudes, quando suas atitudes para comigo não lhe credenciaram tamanha pretensão. E, muito provavelmente, quem sabe, terá adquirido um pouco de sabedoria suficiente para aquilatar o único verdadeiro amigo e companheiro que teve em sua vida, que irresponsavelmente atirou no lixo. Contudo, eu pude ver claramente que Marlene era o produto de um meio gerado pela inconseqüência administrativa, pela incompetência na direção dos rumos do País, pela corrupção escandalosa e volumosa que cerceia a politicagem irresponsável de norte a sul, leste a oeste, do território nacional, pela gana famigerada do poder e suas terríveis conseqüências, que transformaram este em um país desacreditado, de pouquíssimas e restritas oportunidades, levando milhares de seus filhos ao desespero, em busca de alternativas indignas e desonrosas, à marginalidade, ao desajuste social e ao caos humano. Em uma movimentação frenética e descontrolada, Marlene se preparava para partir, e de forma confusa e desordenada dava demonstrações do conflito íntimo que enfrentava, procurando disfarçar uma segurança que não tinha em contraste com uma insegurança que exalava

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através da incoerência de suas atitudes e das contradições em tudo que afirmava. Falou-me que desta vez estava se dirigindo para um outro país, em uma outra atividade, ao mesmo tempo em que reafirmava voltar ao mesmo lugar para o exercício da mesma prática. O que precisava nas linhas, negava nas entrelinhas, e o que escondia entre os dedos ostentava nas palavras e gestos. Marlene partiu, sem ao menos me dizer adeus, foi encontrar Heloísa, ou quem sabe lá, Heloísa que foi ao encontro de Marlene que por lá ficara, não importa. Deixou-me aqui mergulhado nas dívidas que contraíra para inutilmente tentar convencê-la a ficar e encontrar uma razão maior para aqui permanecer. Sepultou meu sonho de realização afetiva, que deu lugar a um novo sonho: erguer uma bandeira e empreender uma luta para que novas “Heloísas” não nasçam da desesperança que cresce no coração de uma Nação inteira, cada dia mais, cada vez mais. Este episódio acabou por consumir definitivamente com os devaneios de um jovem que neles cresceu alimentando-os, tornou-se adulto na ilusão de sua realização, e que mesmo sem a tão sonhada companheira, quer terminar os seus dias assistindo uma nova realidade capaz de impedir o naufrágio dos sonhos dos milhares de jovens de seu país.

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PENSAMENTO “A juventude de uma nação é a fiadora de sua prosperidade.” (Benjamin Disraeli – Ex-Primeiro Ministro Britânico)

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CAPITULO 7 - O FUTURO Visão de Futuro Se continuarmos nessa marcha, o futuro que nos espera deverá ser mais triste e tenebroso que a nossa atual realidade. Com 24% da população economicamente ativa desempregada e 40% atuando na economia informal (não são índices oficiais, mas amplamente divulgados nos telejornais) é possível entender porque a arrecadação do Estado é insuficiente para cobrir as despesas e porque a Previdência é tão deficitária. A distribuição de renda tão desequilibrada e a concentração de riquezas em poder de uma minoria, aliadas às artimanhas da sonegação fiscal, são outras causas que surtem o efeito de uma receita insuficiente. A corrupção deslavada que desvia verbas municipais, estaduais e federais para os paraísos fiscais através de manobras urdidas por transações comerciais entre empresas fantasmas aqui e nestes edens, explica o sumiço do capital circulante, a evasão de divisas, a infinidade de obras inacabadas, muitas delas gigantescas, e o déficit da receita. Onde estão esses 24% de desempregados? Uma parcela que cruzou fronteiras, legal ou ilegalmente, em busca de nova alternativa; outra compondo uma parte dos 40% que atuam na economia informal; uma terceira vivendo de esmolas de parentes e uma muito maior, em absoluta miséria nas encostas de morros, debaixo de viadutos e pelas beiras das calçadas dos grandes centros, farejando migalhas, esmolando e revirando latas de lixo.

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Esse batalhão que compõe a economia informal não só deixa de recolher os tributos da pessoa física e não contribui com a Previdência, como também opera com produtos não tributados da indústria igualmente informal, da indústria da pirataria, das articulações de sonegação de impostos e do contrabando. Ora, se os homens públicos no exercício de suas funções, à primeira instância preocupados com o seu enriquecimento pessoal e ilícito, não entenderem que a economia reside na administração competente de todos os seus setores, e não apenas na prática do tabelamento de juros extorsivos e cargas tributárias elevadas sobre bens e serviços, torna-se impossível o crescimento econômico, o ajuste social, o equilíbrio da economia interna e externa, a captação de divisas, o funcionamento regular do mercado de capitais e a sadia circulação monetária interna. Mas eles nem sabem disso e nem preocupam em aprender, arremetem-se à política com o mero propósito de um profissionalismo altamente rentável, gigantescamente corruptível e atraentemente propício ao fascínio do exercício do poder. Com um agravante: levados pelas mãos de uma população mal formada e mal informada, iludida com campanhas eleitorais magnificamente elaboradas e promessas de realizações que nem mesmo eles sabem o caminho para atingi-las. Mas, como cobrar de políticos e eleitores, se no curso de anos e anos tudo que aprenderam foi apenas isso? Somos produtos do meio em que vivemos e se por quem compete nada está sendo feito, ou melhor, o que está sendo feito é isso que se vê, o cidadão brasileiro está se especializando em maracutaias e cambalachos, buscando se defender através da “Lei de Gerson”, sonegando

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impostos, atropelando conceitos éticos e morais, tirando proveito de oportunismos e buscando outras alternativas pouco recomendáveis, tudo dentro de uma absoluta naturalidade e parecendo que está fazendo tudo com muita retidão, chegando ao cúmulo de acreditar nisso. Os empresários, em grande parcela, céticos com uma política econômica funcional, carregando o ônus de uma tributação fiscal aviltante, lançam mão de caixa 2, todo outro e qualquer tipo de expediente de sonegação fiscal, salários irrisórios aos seus colaboradores, face à monstruosa distância entre oferta e procura de mão de obra, baixíssima qualidade de insumos e serviços, e cada vez mais, utilizando a prática da adulteração de pesos e medidas nas embalagens de produtos. Algumas na redução da quantidade de produto com a manutenção do preço, e até outras com quantidades menores às mencionadas nas embalagens. Com o capital circulante concentrado, em maior parcela, nas mãos de uma minoria, evadindo para paraísos fiscais e sendo administrado nas raias da ciranda financeira de um mercado de capitais orquestrado por altas taxas de juros e pesadíssima carga tributária, dentro de um processo altamente inibidor da produção, gerado pelo baixíssimo poder aquisitivo e de uma capacidade de exportação inviabilizada pela qualidade e alto custo produtivo que não nos permite ser competitivos no mercado externo, estamos condenados a sermos eternos reféns das instituições financeiras internacionais, que nos ditam regras recessivas capazes de nos afundar cada vez mais na pobreza e miséria, a lhes garantir o recebimento da dívida, com a conseqüente evasão de divisas, pagamento de juros, redução de nossas reservas cambiais

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e diminuição do capital circulante interno, obrigando-nos a emissão de títulos, apoderando-se cada vez mais do patrimônio nacional, nos levando a um empobrecimento irreversível para o deleite e enriquecimento das sociedades dos países de primeiro mundo que representam. Educação – Dever de Todos Temos uma única saída: a educação. Ensinar o que não foi ensinado até hoje. Edificar uma estrutura social bem formada e suficientemente informada. Capacitar nossa população futura para administrar e também saber escolher seus representantes. Temos que criar uma população onde não existam “Marlenes”, onde falta de oportunidades e condições sócio-econômicas, não as gerem em profusão, não as levem ao desespero e à desesperança. Mas, não compete apenas aos educadores, e sim a todos nós, cada segmento da sociedade, cada um fazendo a sua parte, cada qual dando a sua contribuição. Sindicatos de classes, conselhos de categorias, organizações não governamentais. É preciso constituir sindicatos de classes verdadeiramente fortes e imbuídos de seu verdadeiro sentido, e não da mera prática do poder e dos atuais trampolins políticos eleitoreiros. Patriotismo, Capacidade e Criatividade Temos que vestir a camisa do patriotismo em todos os momentos, não apenas nos eventos esportivos, cantar o hino nacional a cada instante, marejar os olhos de lágrimas ante a emoção de conquistas sócio-econômicas

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mais justas e necessárias, e nos orgulharmos de sermos brasileiros por nossa capacidade de organização sóciopolítico-econômica e não por sermos campeões de maracutaias e de índices negativos alarmantes. Temos que rir e sorrir ante a alegria de sermos uma Nação com níveis de qualidade de vida elevados e vivermos em um paraíso beneficiado pela natureza, abençoado pela beleza que enche os olhos do mundo inteiro e não das piadas tragicômicas de nossas imperfeições e misérias. Temos que saber fazer uso e proveito desse enorme potencial, capacidade e criatividade que temos, como por exemplo: Marco Polo, em suas viagens, trouxe para a Itália a descoberta da massa criada na China, cuja Itália diversificou em talharins, espaguetes, canelones, pizzas, etc; mas fomos nós que os transformamos e lhes demos o inigualável sabor de nossa criatividade. Os gregos já jogavam nas olimpíadas um esporte semelhante ao futebol praticado desorganizadamente com um número infinito de participantes a chutar uma bexiga de boi, cabendo aos ingleses lhe criarem as regras e lhe conferirem um nome. Mas fomos nós que lhe demos o fascínio e a magia, transformando-o em arte e nos tornando o maior campeão mundial em todos os tempos de sua prática. Vamos aprender a fazer uso dessa capacidade que somos possuidores para transformarmos o Brasil em um modelo de organização cívica inigualável. Vamos fazer uso do poder de comunicação para educarmos e prepararmos uma Nação de futuro promissor. Vamos utilizar os recursos tecnológicos que dispomos nessa prática educacional, fazendo da informática, dos livros, publicações técnicas e

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das salas de aula os veículos potenciais dessa transformação com a mesma maestria que soubemos proceder tantas outras de forma tão eficaz e elogiável. Vamos passar isso de sonho para realidade, talvez a única saída, provavelmente uma única esperança. Acordemos desse comodismo conferido pelo ceticismo imposto pelas dificuldades e barreiras que acreditamos serem intransponíveis. Temos que acreditar em alguma coisa, plantar a semente da esperança e desenvolvermos este potencial que está aí ainda puro e que ainda não foi infectado e maculado por uma consciência deteriorada, gerada pelo exercício da incompetência e desmandos destes longos e sofridos anos. Minha história não é única e nem a mais dramática. Existem milhões de histórias neste país, muitas delas até trágicas. Pode até parecer corriqueira e sem importância. Pode até ser considerada desproposital, mas tinha de ser contada, eu não podia limitar-me em uma reação egoísta, deixando simplesmente que a vida continuasse em um processo de passividade conformada. Pensei nos milhões que como eu sofreram e sofrem, a cada novo dia, os efeitos dessa inconseqüência reinante em nosso país. Pode até não produzir os efeitos que acredito tão veementemente, mas vou ter sempre a consciência de que fiz a minha parte, que dei meu grito e empunhei minha bandeira. Mesmo que ganhe as latas de lixo, fique empoeirado em uma prateleira de porão ou sepultado no fundo de uma gaveta do esquecimento e do descaso, esse livro poderá ser achado e lido em algum momento do futuro, aí quem sabe, tardiamente.

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CONCLUSÃO

As propagandas de governos municipais, estaduais e federal, muito bem elaboradas por agências publicitárias, as matérias pagas veiculadas na imprensa escrita, falada e televisiva, pronunciamentos em cadeia de emissoras, que nada mais são que tramas politiqueiras, projeções políticopartidárias e instrumentos eleitoreiros futuros, dão a impressão de que estamos vivendo no paraíso, um país de primeiro mundo, socialmente justo e organizado, com uma economia estável e equilibrada, com uma população saudável, ocupada e com salários a lhe permitir excelente padrão de qualidade de vida, quando sabemos que a realidade é bem outra. Certamente, vou ser taxado de ignorante, minha proposta será por muitos ridicularizada, meu senso crítico considerado inconsistente e minha visão distorcida. Serei rotulado de alarmista, disseminador do pânico e propagador de um pessimismo inconseqüente e irresponsável. Isso com certeza será feito por aqueles que militam na política e administração pública e também por todos aqueles oportunistas que vêem se beneficiando do cabide, da carona e do nepotismo de uma administração corrupta e incompetente, sanguessugas do enriquecimento ilícito, exploradores da causa própria e especuladores das sobras do lixo gerado. Mas será dos educadores, da juventude em formação, que muito cedo já percebe os efeitos da situação caótica instalada, da população sofrida, massacrada e empobrecida que virá o correto julgamento e a resposta esperada.

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Insisto em enfatizar que meu propósito não é ditar regras. Meu intuito é provocar reflexões, levantar questões e colocá-las em discussão, sobretudo, despertar interesses. É o clamor de um cidadão comum, como o de muitos nesse país, a esperar que educadores, juristas e outras tantas categorias conheçam nossas expectativas e nossos anseios. E, profissionais devidamente embasados em suas respectivas áreas, busquem um ponto de partida para efetuar mudanças, renovar, reformular. Analisem se este é realmente o caminho ou têm melhores propostas e mais eficazes, e principalmente discutam essas propostas. Abandonem o espírito do corporativismo, inequívoco gerador de elitização de classes, compreendam que o mundo vive em processo evolutivo constante e se fazem necessárias adequações. Entendam porque aquilo que era bom ontem, não o é mais na realidade de hoje. Nada poderá ser mudado se não houver união em torno de um objetivo, e muito mais ainda, se não acreditarmos nisso. Temos que confiar que somente uma mobilização ordenada, inteligentemente delineada e disciplinarmente desenvolvida será capaz de promover mudanças. É preciso acreditar na força de coesão, da participação em massa e do interesse comum pelos destinos da Nação. Alienar-se, individualizar-se e desanimar-se ante as dificuldades é conformar e sofrer as conseqüências de um futuro cada vez mais insuportável, que avança rápida e impiedosamente rumo à irreversibilidade. Jovem brasileiro, é para você que escrevi este livro contando essa história e buscando um impulsionamento de um processo de reversão para o seu próprio futuro. Construa-se dentro desta proposta para construir para

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você mesmo um outro País, com outra mentalidade, com oportunidades e um futuro mais digno. Exija, participe, cobre. Não se curve, mostre a sua força, você é a sua única esperança. Estude, leia, informe-se, indague, questione. Edifique e propague um sentimento pátrio, acima de seus próprios interesses. Adote uma postura cívica inquestionável e construa dentro de si princípios éticos e morais elevados. Interesse-se pela vida nacional, abandone os princípios de egoísmo, isole-se da “Lei de Gerson”, afaste de si as maracutaias das facilidades, não se paute em exemplos degradantes. Educadores, unam-se em torno desse objetivo, estimulem a união e a participação dos alunos de suas escolas. Comecem a se organizar por estabelecimentos, criem grupos de estudos, organizem debates, proponham idéias, indiquem livros, publicações especializadas e jornais técnicos. Coloquem assuntos pertinentes ao contexto nacional em discussão, utilizem textos concernentes, promovam simulações, criem simpósios entre escolas de mesmo município, de outros e de outros estados da federação. Mostrem o quanto são importantes na formação educacional e cultural de um povo, demonstrem a sua capacidade de implantar uma nova consciência e instalar uma nova ordem cívica, abracem essa causa com amor e determinação. Escritores, dramaturgos, artistas, apresentadores, novelistas, jornalistas, criem temas em suas obras, em suas peças, em suas novelas, em seus programas, em seus artigos e colunas, que informem, discutam, esclareçam e discorram sobre assuntos ligados à história, o desenvolvimento e a

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realidade atual sócio-político-econômica do País e do Mundo. Façamos uma revolução sem um único tiro, sem agressões e sem violências. Arquitetada e sustentada pelo processo eficaz da educação e da informação. Um movimento de implantação de uma estrutura de valores sólida, coesa e uníssona, capaz de buscar a unidade nacional e emergir das cinzas um País que tem tudo para se transformar em uma enorme potência no cenário mundial. Jovem, mais do que minha, essa é a sua bandeira, empunhe-a, erga-a até o mais alto que puder, o País em que você vai viver é aquele que souber construir. Essa é a minha luta, a minha realização afetiva, O AMOR QUE FICOU: o imenso amor pelo meu País!

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NOTA DO AUTOR Este livro nasceu de um drama pessoal vivido por mim e do anseio de milhares de brasileiros, traduzidos através de várias formas de manifestações.. Inspirado em um pensamento de Martin Luther King que diz: “O que me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem caráter e nem dos sem ética. O que me preocupa é o silêncio dos bons”, decidi romper o meu silêncio e manifestar o meu grito da melhor maneira que pude idealizar. Aos educadores, cabe-me esclarecer que, a proposta contida neste livro não se refere e nem pretende inferir em metodologia de ensino, mas provocar a reflexão sobre a adoção de um novo modelo educacional, assim como levantar a discussão sobre sua importância e necessidade. Enfim, seu conteúdo por si só se explica.


COMENTÁRIOS “Depois de uma releitura do livro (desta vez com mais calma.... a primeira foi com muita voracidade, pois não conseguia parar de lê-lo, para as devidas reflexões), surpreenderam-me: - A visão nítida que um profissional de outra área, tem de que uma base educacional pautada na excelência é fundamental para o desenvolvimento social, econômico e político de uma Nação. - A forma escolhida para colocar as idéias a respeito dos problemas do Brasil, usando uma história de amor para permear estas informações (o que prende mais ainda a atenção do leitor) e, mais importante: listando uma série de soluções para cada problema observado. A maioria dos sociólogos (Durkeim, Dimenstein e outros) apenas constatam os problemas não oferecendo alternativas para solucioná-los, além de usarem vocabulário altamente específico, dificultando a leitura para os estudantes.” (Anésia Da Silva Costa – Pedagoga pós-graduada em Didática de Ensino – Diretora do Departamento de Assessoria Especial da Secretaria Municipal de Educação de Pouso Alegre/MG)

“Desde os primeiros parágrafos, o autor já nos torna cativos ao enredo que entremeia a sua vida amorosa com as considerações políticas, econômicas e sociais, traçando um paralelo entre a política e as necessidades sociais e financeiras vividas pelo povo brasileiro. Apesar de sua vida sofrida, quase insuperável, não perdeu a esperança e decidiu romper o silêncio dos omissos , para cutucar nossos brios e conclamar educadores, juristas e outras categorias a criarem um novo conceito educacional. Ainda idealista,, ele dedica o livro aos jovens e incita-os a acreditar na luta corpo a corpo, sema armas, por um maior desenvolvimento social e econômico para o nosso País. Que os jovens, a quem o livro é dirigido, saibam aproveitá-lo.” (Maria de Lourdes Micaldas – Educadora Aposentada - Ex-jornalista/ Suplemento Literário JB)


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