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Mais próximos em 2015 segunda edição da Revista da Fruta chega com uma grande novidade: a partir de 2015, a periodicidade da nossa publicação muda para trimestral, atendendo a pedidos de nossos assinantes, empresas e leitores. A ótima recepção nos traz uma responsabilidade ainda maior de levar informação diferenciada aos integrantes da cadeia de fruticultura e, para isso, vamos nos empenhar a fim de fazer a cada edição um veículo completo, destinado a um setor dinâmico que movimenta a economia - de grandes empresas a agricultores familiares. Para que isso aconteça, é importante estarmos nas principais feiras e eventos, como aconteceu desde o lançamento, em maio, durante a Hortitec (Holambra, SP), maior feira de hortifrutiflor da América Latina. Desde lá, estivemos com a RF circulando também na Senafrut (São Joaquim, SC), no Simpósio Internacional de Oliveiras (Porto Alegre, RS) e no XXIII Congresso Brasileiro de Fruticultura (Cuibá, MT). Em novembro, vamos participar da EIMA Internacional, acompanhando um grupo de empresários brasileiros. A feira acontece uma vez a cada dois anos, em Bolonha, na Itália, e reúne os principais nomes e empresas do setor de máquinas e equipamentos agrícolas. Em sua última edição, recebeu mais de 196 mil pessoas, entre visitantes e expositores. Da Itália, traremos para a edição no. 3 os lançamentos e as novidades apresentadas durante a feira, considerada a maior do mundo. Enquanto isso, aproveite para conhecer o que a pesquisa nacional fala sobre TPC – Thermal Pest Control – técnica aplicada em viticultura. Também acompanhe as principais orientações para o manejo da mosca-das-frutas, que vem trazendo prejuízo às plantações do Vale São Francisco e de outras regiões. As dicas são apresentadas pelos pesquisadores da Embrapa Semiárido, que recomendam enterrar frutas contaminadas. Veja ainda a crescente cultura de oliveiras, que depois de tentativas frustradas no começo do século 20, após quase cinquenta anos, se firmou a partir de Minas Gerais e tem hoje no Rio Grande do Sul seu maior pólo de produção, mas está presente também em algumas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro, entre outros estados. Com muita dedicação, o setor cresceu e ganhou força com a fabricação de azeites nacionais, considerados de excelente qualidade, em um país que já é o terceiro maior consumidor mundial do produto. E é a dedicação e a garra de nosso produtor rural – fruticultor ou não – que encontra saídas para desafios como a implantação de uma nova cultura e para momentos de crise, se supera e mantém o equilíbrio da balança comercial em nosso país. O que nos faz sentir orgulhosos por buscar e levar notícias ao setor - tanto aos leitores quanto aos nossos anunciantes. A ambos, nosso muito obrigado pelo prestígio e apoio às duas primeiras edições da Revista da Fruta, em 2014. Até a próxima edição, em 2015, se Deus quiser.

Lauro Gomes e Marlene Simarelli

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6 viticultura

TPC: estudo demonstra que tratamento não inativa estruturas reprodutivas do míldio, mas preserva cachos

10 Tomaticultura

Ações preventivas contra viroses são fundamentais para não perder a plantação

12 Olivicultura

Produção de azeitonas no Brasil cresce 20% ao ano, com cultivo nas regiões mais frias do

Sudeste e Sul

16 Ambiente

Adubação verde recupera solos degradados pelo cultivo e melhora solos naturalmente pobres

30 Expediente

24 Tecnologia

Escolha correta da cobertura da videira maximiza produção, qualidade e rentabilidade

26 Palavra da ciência

Pesquisadores da Embrapa apontam os principais cuidados para o manejo das moscas-das-frutas

30 Pomicultura Manejo da água na cultura da maçã

36 Opinião

Preço do melão segue em alta até o fim de 2014 e começa o tempo de manga

38 Saúde no prato

Jabuticaba, além de saborosa, também faz bem à saúde

REVISTA

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O veículo de informação do fruticultor

A Revista da Fruta é uma parceria entre as empresas Jornal da Fruta e Artcom revista A.C. dirigida a produtores, pesquisadores, associações e revistadafruta.com.br O v e í c u l o d e i n f o r m a ç ã o d o f r u t i c u l t o r cooperativas, universidades, Ceasas e empresas ligadas à cadeia frutífera.

DAFR TA

A Revista da Fruta é marca registrada pertencente à LS Editora Jornalística Ltda.

Editores Lauro Gomes jornaldafruta@jornaldafruta.com.br Marlene Simarelli artcom@artcomassessoria.com.br

Redação Larissa Straci, Marlene Simarelli e Tatiane Bueno

Jornalista responsável Marlene Simarelli MTB: 13.593 – SP

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VITICULTURA

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o ano de 2008, a tecnologia TPC (Thermal Pest Control) chegava ao Brasil com o objetivo de controlar termicamente pragas e doenças da videira. “O TPC é um método de aplicação de fluxo de ar quente (FAQ). São utilizados inúmeros calendários de aplicação sobre as copas do vinhedo e a principal indicação é a proteção contra doenças”, explica o pesquisador Fabio Rossi Cavalcanti, da Embrapa Uva e Vinho.

ESTUDO SOBRE A TECNOLOGIA DEMONSTROU QUE TRATAMENTO NÃO INATIVA AS ESTRUTURAS REPRODUTIVAS DO MÍLDIO. DOENÇA É A PRINCIPAL AMEAÇA DOS VINHEDOS ATUALMENTE. Larissa Straci

De acordo com José Eduardo Monteiro, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, “a viabilização do uso de FAQ em pomares foi resultado da criação de um implemento agrícola, que se popularizou com o nome comercial de TPC. Trata-se de

um implemento rebocado por trator que lança ar quente em alta velocidade nas plantas, com temperatura regulável entre 120oC e 180oC, utilizando um sistema de combustão de gás liquefeito de petróleo. Segundo o fabricante, este tratamento poderia reduzir significativamente a necessidade do uso de fungicidas”.

Sensor de temperatura em contato com a superfície da folha de videira, durante testes de tratamento térmico.

Foto: Eduardo Monteiro/ Embrapa

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TPC: pesquisa orienta produtores na aplicação


Entre os anos de 2008 e 2012, o uso da tecnologia de aplicação de fluxo de ar quente, para o controle de pragas em condições de campo, difundiu-se rapidamente. Em 2011, por exemplo, o método foi usado em cerca de mil hectares de vinhedos em todo o país. “A tecnologia foi mais intensamente utilizada na região de Petrolina (PE) e na região da Serra Gaúcha. Algumas outras localidades produtoras de uvas, em menor número, como na Campanha Gaúcha (RS) e no Planalto Catarinense (SC), também já utilizaram ou utilizam o equipamento”, detalha Monteiro. Diante de tamanha disseminação, surgiu expressiva demanda por informações e orientações técnicas sobre o uso dessa tecnologia. A busca por estes dados deu origem a um projeto de pesquisa, cujos primeiros resultados foram apresentados em uma reunião técnica realizada em agosto, na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves (RS).

Pesquisa desdobrou míldio em vários níveis Segundo Fábio Rossi Cavalcanti, da Embrapa Uva e Vinho, a pesquisa, iniciada em 2012, utilizou o modelo de doença mais clássica da videira e a principal ameaça dos vinhedos, que é o míldio. “Nós pesquisamos o

míldio em vários níveis. Toda doença de planta possui uma estrutura montada sobre os principais fatores causadores da doença. São fatores biológicos que não são desconectados entre si; é o chamado triangulo da doença, que é composto por: ambiente, patógeno e hospedeiro. O objetivo do estudo foi conhecer um pouco sobre o mecanismo biológico desse fluxo de ar quente que é impelido pelo modo TPC”, comenta. As variedades estudadas foram a Cabernet Sauvignon e a Bordô. Entre as hipóteses, estava a afirmação se o fluxo de ar quente danificava o patógeno. “A pergunta científica era justamente sobre essa afirmativa. Então, nós fizemos alguns ensaios para observar algum dano sobre as estruturas do patógeno. Por outro lado, existia a hipótese de que o fluxo de ar quente promovia uma perturbação na célula vegetal do hospedeiro, no caso a videira. Neste caso, como amostra foram utilizadas folhas de videira. Nós desdobramos os fatores da doença, testamos um a um e encontramos algumas conclusões. Inesperadamente, por exemplo, o fluxo de ar quente não inativa a estrutura do patógeno, ao contrário do que esperávamos. E as respostas foram até de ativação ou viabilização da liberação

de zoófitos, ou seja, do agente biológico da doença”, salienta o pesquisador Fábio Rossi Cavalcanti. Marcus André Kurtz Almança, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Bento Gonçalves afirma que, com relação aos resultados obtidos nos testes feitos para o controle de míldio da videira, descobrimos que este tratamento não afeta a viabilidade das estruturas reprodutivas de míldio e, além disto, aumenta a liberação destas estruturas na superfície da folha de videira. “No campo, também não observamos controle da doença nas folhas de videira, resultados semelhantes aos obtidos na casa de vegetação e com alta pressão de inóculo do fitopatógeno (míldio). Entretanto, nas avaliações de ocorrência de míldio larvado (sintomas nos cachos), foi observada redução significativa da doença na cultivar Chardonnay. Uma hipótese interna é de que haja um ‘efeito limpeza’ das estruturas reprodutivas de míldio nas estruturas florais”, relata. Segundo Almança, na próxima safra serão realizados ensaios buscando esclarecer esta hipótese e, possivelmente, serão feitas combinações de FAQ com tratamentos, utilizando produtos à base de enxofre.

NETAFIM (RODAPÉ)

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VITICULTURA

Foto: Eduardo Monteiro/ Embrapa

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Folha de videira com míldio.

Resultados apontam para um tempo curto de tratamento As pesquisas realizadas pela Embrapa e IFRS sobre o TPC usado em videiras, trouxeram várias respostas às muitas dúvidas colocadas sobre esta tecnologia. Segundo José Eduardo Monteiro, da Embrapa Informática Agropecuária, “entre os principais resultados, podem-se destacar: 1) apesar das altas temperaturas do FAQ, o tempo de tratamento é muito curto, o que permite que apenas uma pequena quantidade de calor seja transferida para as folhas, resultando em um pequeno aumento efetivo de temperatura das folhas; 2) a aplicação de FAQ induz a falência de lesões de míldio e tal fenômeno pode cooperar para reduzir sítios infecciosos da doença. No entanto, o efeito desejável de redução de sítios infecciosos ativos só é obtido em temperaturas muito próximas das que também causam injúrias em área foliar sadia, resultando em aumento do total de área foliar injuriada; 3) os estudos com míldio demonstraram que o fluxo de ar quente não inativa e nem mata propágulos do patógeno. Ao contrário, promove aumento na atividade de lança-

mento de esporos ativos e reduz o inóculo na superfície do tecido foliar. Este efeito pode ser positivo quando o tratamento for feito em um período desfavorável à infecção, pois esse inóculo disperso não sobrevive por muito tempo no ambiente. Por outro lado, se esse inóculo for disperso em condições de alta umidade durante ou logo após o tratamento, o resultado será favorável ao aparecimento de novos sítios de infecção; 4) Os estudos não encontraram evidências suficientes para provar a resistência sistêmica adquirida (SAR), induzida por fluxo de ar quente, em plantas de videira Cabernet Sauvignon e Bordô e 5) Aplicações de FAQ por equipamento TPC, suplementando um esquema de controle químico, promove redução de lesões de míldio nos cachos de uva”. A pesquisa também concluiu que as diferenças de temperatura observadas entre os pontos de medida revelam falta de uniformidade na distribuição dos volumes de ar aplicados pelo TPC, tanto na direção vertical, quanto na horizontal. Na direção vertical, medidas técnicas podem ser tomadas para providenciar melhor uniformidade na distribuição de calor. Na direção horizontal, pode ser muito difícil, senão impossível, conseguir a uniformidade necessária, pois variações relativamente pequenas, de 20 cm, implicam em grande variação na temperatura do FAQ, e isso ocorre devido a variações naturais na posição das folhas no dossel, devido à agitação das folhas durante a aplicação de FAQ e a diferentes espaçamentos entre linhas ou irregularidades no terreno.

IMPORTÂNCIA DO DEBATE SOBRE O FAQ A reunião técnica contemplou a caracterização detalhada do fluxo de ar quente e seus efeitos sobre a planta, sobre a ocorrência de doenças e sobre os mecanismos de resistência da videira a doenças. As exposições foram feitas por pesquisadores da Embrapa e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) – Campus Bento Gonçalves. O chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho, Alexandre Hoffmann, salienta que o encontro foi “uma oportunidade para identificar novos pontos de convergência com a demanda do setor vitivinícola e dos parceiros no trabalho, que desejam ter uma visão técnica e com bom embasamento científico para orientar investimentos dos produtores no TPC”. O trabalho sobre a tecnologia foi desenvolvido em uma parceria entre Embrapa, IFRS – Campus Bento Gonçalves, Vinícola Cave Geisse, Supergasbras e Vinícola Miolo. Cerca de 70 pessoas participaram do evento de apresentação dos primeiros resultados da pesquisa.


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TOMATICULTURA

RÁPIDA INFESTAÇÃO TORNA O CONTROLE DIFÍCIL, PORTANTO AÇÕES PREVENTIVAS SÃO FUNDAMENTAIS PARA NÃO PERDER TODA A PLANTAÇÃO, ALERTAM ESPECIALISTAS

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Viroses: as vilãs do tomateiro

Tatiane Bueno

egundo relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) – ESALQ/USP – publicado em maio de 2014, no primeiro quadrimestre do ano a oferta de tomate foi baixa principalmente devido aos problemas com viroses enfrentados por produtores paulistas de Sumaré e Mogi Guaçu e de Araguari (MG). As doenças e pragas têm tornado a produção de tomate um desafio para o agricultor e as mudanças climáticas têm intensificado os surtos de viroses como vira-cabeça e geminivirus (conhecida como “mosaico dourado do tomateiro”), por exemplo. Com isso, cada vez mais o produtor precisará fazer o manejo adequado em sua cultura, tanto para garantir a saúde de sua produção, de seu consumidor e principalmente para assegurar o retorno econômico da cultura. Cada vírus atua de forma diferente no tomateiro, mas de forma geral, pode-se dizer que afetam a produtividade e a qualidade dos frutos. Em alguns casos, causa danos tão profundos que o produtor acaba perdendo toda a sua produção.

Addolorata Colariccio, pesquisadora do Laboratório de Fitovirologia e Fisiopatologia do Instituto Biológico de São Paulo, afirma que as cultivares com resistência são as grandes aliadas no controle das epidemias causadas pelos vírus. “Na cultura do tomate existem muitas variedades com a finalidade de reduzir os danos causados por begomovírus, tospovírus, tobamovírus, entre outros”. O acompanhamento de um engenheiro agrônomo na área de produção é muito importante, pois a identificação dos sintomas não é tarefa fácil, já que podem ser confundidos com aqueles causados por outros patógenos, pelas deficiências nutricionais e pela ocorrência de plantas com ausência dos sintomas, ou seja, hospedeiras latentes. Os insetos são os mais importantes transmissores das viroses no campo, mas os ácaros, nematoides e fungos também contribuem, explica Odivan Schuch, representante técnico de Vendas da Enza Zaden. “No caso do

Foto: Golmar Beppler, Enza zaden Brasil

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vira-cabeça, a planta é atacada pelo toposvírus TSWV e não produzirá frutos capazes de serem comercializados. Portanto, as plantas infectadas devem ser retiradas da lavoura para evitar a proliferação da doença”, aconselha Schuch. Já a geminivirose é, segundo a pesquisadora Addolorata, “um dos mais sérios problemas da tomaticultura brasileira”, pois o biótipo B de Bemisia tabaci (mosca-branca) foi introduzido acidentalmente e possui maior capacidade reprodutiva, forma grandes colônias, se alimenta em um grande número de espécies de plantas e possui resistência ao controle químico, o que faz com que o controle do transmissor e da doença seja muito difícil. Outro fator dificultador é que os vírus infectam plantas da vegetação espontânea e podem se manter no local mesmo na ausência da cultura, por isso “o mais importante são as medidas preventivas”, alerta a pesquisadora. Os especialistas concordam que hoje a maneira mais eficiente de prevenir as viroses é o plantio de híbridos resistentes. “As cultivares com resistência são as grandes aliadas no controle das epidemias causadas pelos vírus. Na cultura do tomate existem muitas variedades com a finalidade de reduzir os danos causados por begomovírus, tospovírus, tobamovírus, entre outros”, afirma Addolorata. Golmar Beppler, especialista em tomate da Enza Zaden, alerta para outro ponto importante para a sanidade da cultura: deve-se escolher bem o viveiro que fará as mudas, pois infestações em estágios iniciais podem ocasionar perdas de até 100% da produção. “Existem relatos de que a planta infectada pelo geminivirus pode permanecer por até três se-

Foto: Golmar Beppler, Enza zaden Brasil

Planta atacada por vira-cabeça, doença causada por toposvírus TSWV.

manas sem apresentar sintomas de infecção. Por isso, o uso de mulching refletivo ajuda a espantar o trips da lavoura, principalmente no estágio inicial da cultura. Armadilhas também são importantes aliados para monitorar afídeos e mosca branca e o movimento do trips”, detalha Beppler.

EVITANDO O APARECIMENTO DAS VIROSES Se o cuidado preventivo com a lavoura é a melhor alternativa para manter a produção sadia e evitar a infestação de transmissores de vírus, a eficiência só é garantida se houver um manejo nutricional e de plantas daninhas adequado. Solo corrigido e equilibrado é outro fator fundamental para que a planta seja saudável e blindada contra doenças e adversidades climáticas. Confira algumas medidas fitossanitárias para ajudar o produtor: •Uso de sementes e mudas certificadas; e de variedades resistentes; •Controle da vegetação espontânea e de plantas velhas de tomate no campo para evitar a multiplicação do vetor e a manutenção da fonte de inóculo. Para tanto, recomenda-se a aplicação de herbicidas ou eliminação e queima do material vegetal indesejado;

•Instalação de novos cultivos nos períodos em que o vetor atinge níveis populacionais mais baixos; •Adoção de um intervalo mínimo de 15 dias para o início do próximo ciclo de produção, em áreas de cultivo intensivo; •Manejo adequado e racional aliado às boas práticas de cultivo; •Não perpetuar sementes obtidas de frutos de tomate provenientes do campo; •Evitar transplantar áreas novas perto de áreas velhas, principalmente se estiverem infectadas por vira-cabeça ou geminivírus; •Em caso de plantas infectadas por vira-cabeça, remover da lavoura e destruí-las; •Fazer tratamento das mudas desde o viveiro até o transplante, com o objetivo de evitar a presença de tripes e mosca-branca na fase inicial da cultura; •Controle biológico e químico durante o ciclo de cultivo, para evitar infestações dos vetores tripes (vira-cabeça) e mosca branca (geminivirus). No caso dos inseticidas químicos, buscar sempre rotacionar os princípios ativos evitando a incidência de insetos resistentes; •Fazer a desinfecção de ferramentas durante as operações culturais (podas e desbastes).

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CAPA - OLIVICULTURA

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Produto nacional TERCEIRO MAIOR IMPORTADOR DE AZEITE DE OLIVAS DO MUNDO, O BRASIL AINDA ENGATINHA NA PRODUÇÃO DE OLIVEIRAS, MAS JÁ POSSUI UM FUTURO PROMISSOR Tatiane Bueno

Brasil começa a ficar interessante para o circuito internacional de olivicultura. Segundo o International Olive Council (IOC/COI), em 2013 consumimos mais de 70 mil/ton/ano de azeites e mais de 90 mil/ton/ano de azeitonas, com uma projeção


de consumo da Associação Rio-Grandense de Olivicultores (ARGOS) para 2015/2016 de cerca de 100 mil/ ton/ano de azeites e cerca de 120 ton/ano/azeitonas. Segundo Fernando Retondo, proprietário da Olivo Pampa, empresa que produz olivas e presta consultoria sobre olivicultura, quase a totalidade

do azeite consumido pelos brasileiros é importada, “então há demanda de mercado e é preciso conquistar esse espaço”. Para isso, o cuidado com a qualidade da produção e dos produtos finais – tanto a azeitona de mesa quanto o azeite – tem que atender os requisitos químicos e sensoriais que o mercado demanda. A produção de olivas brasileira está concentrada no Rio Grande do Sul, onde há entre 1500 e 1800 hectares cultivados. Em segundo lugar, vem Minas Gerais com mil hectares e em terceiro, São Paulo, com cerca de 500 hectares, principalmente nas terras altas da Serra da Mantiqueira, aponta Edna Bertoncini, pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). Luiz Fernando de Oliveira da Silva, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), estima que a produção tem crescido em torno de 20% ao ano – em termos de área plantada e em número de plantas – com potencial no Rio de Janeiro (na área da Serra da Mantiqueira) e em algumas localidades do Espírito Santo, Santa Catarina e Paraná. No mundo, a estimativa do pesquisador da Epamig é que haja mais de 8 milhões de hectares de produção de olivas, sendo que, segundo a APTA, a produção se concentra na Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Tunísia, Turquia e Marrocos. Edna afirma que esta é quarta tentativa de implantar a cultura no país. A primeira foi com os portugueses na época da colonização; a segunda, em 1930, no Sul, com influência de Getúlio Vargas; e a terceira, em Minas Gerais, em 1940. As tentativas não deram certo, segundo

Edna, porque houve erro de implementação. “Hoje, a probabilidade de acerto é muito maior, pois existem muitos dados na área técnica, há mais pesquisa e, portanto, o alicerce é mais forte. No entanto, ainda assim é uma produção em caráter experimental, pois precisa ser adaptada às regiões e não há pacote tecnológico definido”, explica a pesquisadora.

Os pré-requisitos para implantar a produção Como qualquer outra cultura de plantas perenes, há requisitos importantes a serem seguidos para começar a plantação das oliveiras. Especialistas relatam os principais: antes de começar, é necessário escolher mudas de boa procedência e realizar análise de solo. Embora não seja muito exigente quanto à fertilidade, não tolera solo encharcado e com valor de pH próximo ou acima de sete. Também não suporta sombra e mata ao seu redor. Para o plantio, a melhor época é a de chuvas, que acontece entre os meses de novembro e março, pois facilita o pegamento das mudas. “Para isso, o produtor deve começar a preparar o solo dois meses antes do plantio. Caso queira realizá-lo fora dessa época, deverá usar irrigação, caso haja necessidade”, explica Oliveira da Silva. Outra condição essencial é a ocorrência de baixas temperaturas no período de inverno, entre 200 e 300 horas com temperaturas abaixo de 12 °C, para que ocorra o florescimento e consequentemente a produção de azeitonas. O local também deve ter ventos moderados, porque se há muito vento, a pegação das flores é prejudicada. A pesquisadora salienta

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CAPA - OLIVICULTURA

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OURO LÍQUIDO O azeite deve ser consumido fresco, o que não acontece se consumimos azeite importado. “Essa é a principal vantagem de se ter uma produção nacional: é oferecer azeite fresco” , diz o consultor Fernando Retondo, da Olivo Pampa. Como o consumo dos azeites importados ainda é maior, os especialistas afirmam que para melhor conservação do produto, o azeite deve ficar em embalagem de vidro escuro ou de lata para não permitir que a luz oxide o líquido. Segundo Edna Bertoncini, da APTA, quando a luz entra em contato com o azeite ele rancifica e estraga. O excesso de

CULTIVARES Existem mais de 500 cultivares de olivas, mas as mais plantadas no Brasil, segundo a APTA, são: ESPANHOLAS: Arbequina, Arbosana, Picual; GREGA: Koroneiki; ITALIANAS: Frantoio, Grapollo, Ascolana, Coratina; PORTUGUESA: Galega

que produtor deve também “obedecer ao espaçamento entre as ruas, intercalar as cultivares (a cada duas ruas, repetir cultivar), buscar técnicas de manejo adequadas à sua produção e aos resultados que deseja, controlar pragas e doenças, principalmente formigas, podas anuais antes da formação e da produção, e adubação adequada”. No entanto, tudo isso se perde se o produtor não tiver feito um bom planejamento e não for orientado por um profissional que conheça a cultura. “A logística de produção deve ser planejada com antecedência para que o produtor tenha não só uma boa produção, mas também que esta seja rentável”, analisa Edna.

Colheita, reg iões influenciam os resultados A colheita acontece entre dois e três anos após o plantio – praticamente metade do tempo da Europa, onde a oliveira pode levar entre cinco e seis anos para produzir seus primeiros frutos. A maturidade de produção é alcançada entre os 10 e 12 anos. A colheita brasileira é feita quase integralmente à mão, já que há pouco maquinário, e acontece entre os meses de fevereiro a abril, dependendo da cultivar e da região. “Regiões mais altas tendem a ter colheitas mais tardias”, comenta o pesquisador da Epamig, Oliveira da Silva. Segundo orientação de Edna, da APTA, os frutos estragados e as folhas devem ser retirados, sendo necessária a lavagem das azeitonas antes do processamento. A conservação dos frutos colhidos, por sua vez, deve ser feita em caixas

aeradas e distantes do solo, evitando o armazenamento em pilhas ao ar livre, que contribuem com a deterioração dos frutos e a má qualidade dos azeites. A pesquisadora indica que “o tempo de estocagem, da colheita até o processamento não deve ultrapassar 48 horas, sendo mais recomendado 24 horas”. Retondo enfatiza que o produtor precisa entender que o controle de qualidade é importantíssimo. “Além do cuidado com armazenagem e engarrafamento, a elaboração do produto é muito importante para determinar a qualidade final do azeite – tem que ser logo em seguida à colheita, no máximo 48 horas.” Além destes fatores, doenças e pragas, primavera úmida, polinização pobre, solo mais ácido, períodos de estiagem e manejo inadequado podem comprometer a qualidade tanto da azeitona de mesa quanto do azeite.


calor nas prateleiras de supermercado e o longo período de estocagem também contribuem para a deterioração do produto. O consumidor deve ficar atento se na gôndola do supermercado não há luz incidindo diretamente no produto e, ao abrir a garrafa, se o odor não é de ranço, mofo ou qualquer outro cheiro que indique deterioração do azeite. Edna indica que o ideal é que o azeite exale aroma de ervas frescas, fruta madura ou grama cortada. Azeites mais ‘adocicados’, como os de origem portuguesa e espanhola, muito comercializados no Brasil, possuem tempo de vida mais curto entre a extração e o con-

sumo. Azeites com toques amargos e picantes, como os chilenos, gregos e italianos, apresentam maiores quantidades de polifenóis, que protegem o organismo de radicais livres e aumentam a vida útil dos azeites. “O tempo ideal de consumo entre a extração e consumo é de 6 a 12 meses”, estabelece. “O grande problema é que não há fiscalização organolítica, sensorial. Assim, quimicamente o azeite pode até atender os requisitos, mas sensorialmente está muito abaixo da qualidade desejável. Algumas vezes, o defeito pode não ser atestado quimicamente, apenas sensorialmente”, explica Retondo. No

entanto, há pouquíssimos analistas sensoriais no Brasil, como o próprio consultor afirma. Brasil já é um grande produtor de azeites, embora ainda em escala insuficiente para abastecer o mercado

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AMBIENTE

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Foto: Piraí Sementes

Crotalária breviflora.

Plantando vida para recuperar o solo

Foto: Piraí Sementes

A Nabo forrageiro.

TÉCNICA DA ADUBAÇÃO VERDE ELEVA FERTILIDADE DO SOLO, AUMENTA PRODUTIVIDADE E REDUZ CUSTOS NA PRODUÇÃO DE FRUTAS Larissa Straci

umento da proteção do solo e da matéria orgânica, maior fertilidade e plantas mais saudáveis e produtivas. Essas são algumas das vantagens da adubação verde, nome dado à prática de adicionar espécies vegetais – cultivadas ou não - na superfície do solo, com intenção de enriquecê-lo nutricionalmente e aumentar sua capacidade produtiva. “A adubação verde é uma técnica que recupera os solos degradados pelo cultivo, melhora os solos naturalmente pobres e conserva aqueles que já são produtivos. Consiste no plantio de algumas plantas em rotação, sucessão e consorciação com as culturas, que melhoram significativamente os atributos químicos, físicos e biológicos do solo. Essas plantas denominadas ‘adubos


verdes’ possuem características recicladoras, recuperadoras, protetoras, melhoradoras e condicionadoras de solo”, afirma o engenheiro agrônomo José Aparecido Donizeti Carlos, diretor comercial da Sementes Piraí, empresa que produz e comercializa sementes para adubação verde e cobertura vegetal há 40 anos. Elaine Bahia Wutke, engenheira agrônoma e pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), do Estado de São Paulo, explica que a esta prática agrícola tem sido utilizada na produção de frutas e hortaliças há mais de dois mil anos pelos chineses, gregos e romanos, com o objetivo de aumentar a produção das lavouras. “No Brasil, estudos foram iniciados há quase cem anos pelo Instituto Agronômico, alcançando resultados muito positivos nos quais já se constatava um evidente efeito melhorador dos adubos verdes na fertilidade dos solos. Nos anos de 1980, os adubos verdes também passaram a ser denominados ‘plantas de cobertura’ e, além das leguminosas, começaram a ser utilizadas algumas gramíneas (poáceas), crucíferas (brássicas) e compostas (asteráceas), sendo cultivadas até a colheita de suas sementes.”

Solo mais fértil com sustentabilidade Uma das espécies mais indicadas para a adubação verde é a leguminosa (fabácea), por conta da sua capacidade de fixação do nitrogênio, com resultados diretos na elevação da fertilidade do solo e na produtividade das culturas, por meio de sua massa vegetal. “A fitomassa verde ou seca, também conhecida como mulch, pode ser produzida no local ou mesmo trazida de fora, estabelecida em todas as ruas ou em ruas alternadas, durante todo o ano ou apenas em parte dele e pode ser incorporada ao solo ou não”, detalha Elaine. Segundo a pesquisadora, a adoção continuada dessa prática agrícola pode contribuir efetivamente na otimização do retorno econômico ao agricultor, com garantia da sustentabilidade e da manutenção da biodiversidade na propriedade agrícola. Donizeti Carlos ressalta que entre os resultados mais evidentes da adubação verde estão ganho de produção e redução de custos com insumos. “Mas a prática possui outros benefícios como: aumento da capacidade de armazenamento de água no solo;

controle de nematoides fitoparasitos com espécies não hospedeiras/ antagônicas; descompactação, estruturação, arejamento do solo e fornecimento de nitrogênio fixado diretamente da atmosfera. A adubação verde também intensifica a atividade biológica do solo; melhora o aproveitamento e eficiência dos adubos e corretivos; produz fitomassa para cobertura morta; protege as mudas e plantas contra o vento e a radiação solar; e protege o solo contra os agentes da erosão. Resumidamente, é uma técnica de agricultura sustentável que, além de aumentar a produção, protege e melhora os aspectos químicos e físicos do solo.”

Produtividade: mais em menos área A adoção de adubos verdes faz com que o solo fique mais fértil, tornando uma área menor mais produtiva. “Assim, o agricultor produz mais em uma área menor, além de alimentar o solo e não desgastá-lo. Hoje, por exemplo, boa parte dos solos está em estágio de degradação pelo uso intensivo e incorreto da atividade agrícola”, relata Donizeti Carlos.

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AMBIENTE

Foto: Piraí Sementes

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Tremoço-branco.

Segundo a pesquisadora do IAC, Elaine Bahia Wutke, em muitos dos estudos realizados no Estado de São Paulo, a produtividade das culturas em rotação, sucessão ou em cultivo intercalar foi mantida ou efetivamente aumentada. “Em culturas frutíferas, alguns exemplos de resultados positivos podem ser destacados: aumentos de 8%, 11,6%, 22% e 23% de frutos de laranja pera (t/ha) com, respectivamente, cultivos intercalares de mucuna-anã, mucuna-preta, guandu e crotalária-júncea, sem adubação NPK; aumentos de 23,3% e 34,5% na produtividade de tangerina Murcott, após o primeiro ano de cultivo intercalar de crotalária júncea e guandu, em ruas alternadas”, conclui.

Redução do custo de produção e de ag roquímicos Com a prática da adubação verde pode-se esperar redução dos custos de produção, em decorrência da menor quantidade de alguns agroquímicos para controle de plantas daninhas e de nematoides. “Além disso, há economia no consumo de adubo nitrogenado pelo cultivo das leguminosas fixadoras desse nutriente”, comenta Elaine. Ela exemplifica que, na cultura da cana-de-açúcar, em que esse aspecto foi mais estudado, alguns resultados positivos foram observados. “Nos períodos de entressafra, a receita da soja pode cobrir praticamente 50% do custo de implantação da cultura da cana, já que todo o preparo do solo estaria sendo feito para a leguminosa. Além disso, há economia na utilização de herbicidas, em torno de US$30 dólares por hectare, apenas com o cultivo de um ciclo de soja, crotalária-júncea ou de mucuna-preta, em sucessão”, detalha. O plantio intercalar ou em rotação/sucessão quebra o ciclo de pragas, doenças e nematoides, reduzindo o custo de controle e aumentando o ganho de produtividade e a fixação de nitrogênio por simbiose, ou seja, gratuitamente, salienta Donizeti Carlos. Para auxiliar o produtor em casos de solos com baixa fertilidade, infestação de pragas e doenças ou em situações em que ele não consegue definir o que fazer, a empresa Sementes Pirai mantém o

DICAS PARA INICIAR A ADUBAÇÃO VERDE • Sempre adquira sementes com qualidade, produzidas por produtor credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); • Verifique quais espécies não tem relação com pragas e doenças comuns à cultura comercial e ao adubo verde; • Verifique a época de plantio e faça manejo dentro das épocas ideais. Conheça o hábito de crescimento das pragas; • Não basta adquirir as sementes, procure conhecer. Saiba a quantidade e a espécie ideal para cada cultura; • No caso de fruteiras, a adubação verde deve ser feita de forma intercalar, nos espaços entre as linhas das plantas. Utilize espécies como a crotalária-breviflora, feijão-de-porco e mucuna-anã, no plantio de primavera-verão. No plantio de outono-inverno, prefira as espécies aveia, nabo e tremoço. Fonte: José Aparecido Donizeti Carlos, Sementes Piraí


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AMBIENTE

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programa Pirai Recupera. De acordo com Donizeti Carlos, já se sabe que os benefícios da adubação verde para o ecossistema são enormes, pois o solo fica sempre protegido das ações do sol e da chuva: ora pela plantação principal, ora pelas plantas adubadoras. “E o que alimenta as plantas não é o solo, mas a vida que existe nele. Proteger e potencializar esta vida são as nossas missões.”

IMPORTANTE SABER

Fotos: Piraí Sementes

Acima: Feijão-de-porco; abaixo Mucuna-anã.

Muitas espécies, sobretudo as leguminosas, estão adaptadas às distintas condições agroclimáticas do país. Pesquisa conduzida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) mostra que em São Paulo, foram obtidos resultados favoráveis para culturas frutíferas com a utilização dos seguintes adubos verdes: • Na amoreira: crotalária júncea em semeaduras consecutivas, a partir de outubro, com cortes aos 60 dias; mucuna-anã ou guandu de ciclo curto; • Na bananeira: espécies eretas como crotalárias, guandu e algumas gramíneas, como milheto e milho, além de trepadoras, como labe labe e mucunas preta e cinza, semeando-se plantas eretas no meio das ruas, como guandu e crotalárias, para serem utilizadas como plantas tutoras das ramificações dos adubos verdes trepadores; • Na goiabeira: chícharo, ervilha-forrageira, grão-de-bico ou tremoço-amargo no outono-inverno, em regiões de altitude, ou leguminosas na primavera-verão, com manejo das trepadoras ou podas ou semeaduras mais tardias das eretas; • No maracujá: girassol, crotalárias, guandu anão e mucuna-anã, de janeiro a abril; • Na videira: – no outono-inverno: aveia-preta, chícharo, ervilha-forrageira, tremoço-branco, grão-de-bico, nabo-forrageiro, cultivados até o final de ciclo para produção de grãos; centeio, em cultivo exclusivo ou em coquetéis/misturas com outras espécies anuais de outono-inverno (aveias, ervilha-forrageira, ervilhacas, nabo-forrageiro e tremoços); – na primavera-verão: mucuna-anã, feijão-de-porco, centeio, sorgo, cultivados para produção de fitomassa; – de janeiro a junho, na safrinha e, antes da poda da videira, pode ser bastante vantajoso o cultivo intercalar com espécies anuais eretas e não trepadoras, como as crotalárias, o guandu – de ciclo normal ou curto; a mucuna anã, o feijão de porco (este se não houver incidência de nematoide-formador-de-galha na área); o milheto, o sorgo e ainda, o centeio ou mesmo coquetéis, como crotalária júncea + milheto ou centeio ou sorgo. Fonte: Elaine Bahia Wutke/IAC


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Foto: Ginegar Polysack

TECNOLOGIA

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C

Escolha correta da cobertura em cultivo protegido da uva é fundamental Alessandro Mangetti, gerente de Vendas e Marketing da Ginegar Polysack

ultivar espécies vegetais em ambiente protegido é uma forma de produzi-las em épocas ou locais desfavoráveis, modificando as condições microclimáticas através de técnicas e estruturas. O objetivo é maximizar produção, qualidade e rentabilidade, além de reduzir os riscos ambientais e custos. No caso das videiras, os principais fatores ambientais que interferem no desenvolvimento, produtividade e qualidade são radiação solar (quantidade e qualidade), precipitação, ventos, temperatura e umidade relativa do ar. Por essas razões, o cultivo protegido de videiras no Brasil tem aumentado significativamente, seja com o uso de telas de sombreamento ou de filmes plásticos de baixa densidade, com a finalidade

de controlar os efeitos indesejáveis desses fatores ambientais. O uso de telados, estruturas de telas de sombreamento permeáveis, é muito comum em países e regiões do Brasil onde chuvas de granizo ou ventos podem afetar o desenvolvimento, produção e qualidade das videiras, já que esta tecnologia serve como proteção mecânica para as plantas. Recentemente o uso de telas coloridas, capazes de fazer foto conversão da luz, está se transformando em uma tendência muito forte em fruticultura de maneira geral. A adoção da tecnologia minimiza os efeitos negativos da quebra excessiva da radiação solar fotossinteticamente ativa (RFA) causada pelas telas comuns antigranizo. Os filmes plásticos impermeáveis também têm ganhado espaço. Isto

porque protegem as folhas e cachos da ocorrência direta da chuva, reduzindo as condições que favorecem o desenvolvimento de doenças fúngicas, além da proteção mecânica contra o granizo, que pode causar ferimentos nas plantas e levar à infecção por patógenos. A maior pluviosidade e umidade relativa do ar, principalmente na época de colheita, são favoráveis para o aparecimento de doenças, como míldio, antracnose, mancha nas folhas e podridões. Por essa razão, muitas vezes, as safras são antecipadas e colheitas são feitas fora do ponto ideal de maturação, o que compromete a qualidade final da uva no processamento (qualidade enológica do mosto) bem como no consumo in natura.


Filme Plástico ideal acrescenta qualidade às videiras Entre os fatores ambientais que a cobertura plástica modifica está a radiação solar. A modificação ocorre tanto em quantidade quanto na qualidade da luz, o que irá influenciar no desenvolvimento vegetativo, na floração, na maturação, na época de colheita, na produção e na qualidade do fruto. Vale salientar que a luz é a principal fonte de energia das plantas e as videiras são muito exigentes em relação à luminosidade. Por isso, a escolha correta do tipo da tela de sombreamento é fundamental. Estudos mostram que há uma redução drástica da radiação fotossinteticamente ativa pelo sombreamento excessivo, ocasionado principalmente pela baixa transmissividade e difusibilidade do material e pelo acúmulo de poeira. Portanto, é importante o produtor rural adquirir materiais desenvolvidos para atender as necessidades fisiológicas das videiras, com alta transmissão e difusão de luz e com aditivos antiestáticos (que favorecem a menor deposição de poeira sobre os filmes plásticos). Outro fator a ser considerado na escolha do tipo do filme plástico é a presença de micro furos que permitam a troca de ar entre o ambiente

interno do dossel e o externo. Esses furos com tamanhos controlados são importantes para impedir a condensação que normalmente há sobre as plantas, em função da menor ventilação. No processo fotossintético, as plantas liberam água ao ambiente e, com a menor ventilação ocasionada pela presença do filme plástico, pode haver um aumento da umidade relativa do ar próxima às plantas. Em condições de saturação, dependendo da época do ano, há formação de gotículas nos plásticos, o que pode aumentar a presença de água livre sobre as plantas e, por consequência, pode causar o desenvolvimento de doenças fúngicas. Além disso, a presença de água na parte inferior dos plásticos torna-o mais opaco, ou seja, menos transparente à passagem de luz, reduzindo a intensidade luminosa nos horários em que a luz já é um fator limitante. Vale observar que o mercado dispõe de tecnologia para atender a essas necessidades das videiras. São materiais extrusados em multicamadas, com maior resistência mecânica e antiestáticos, o que permite menor deposição de poeira. Também contêm micro perfurações para troca de

ar entre o dossel e parte externa, reduzindo inconvenientes provenientes da formação de gotas na parte inferior dos filmes plásticos e o impedimento da passagem de luz para as plantas especialmente nas primeiras horas da manhã. De qualquer maneira, o uso do ambiente protegido, seja pelo uso de telas de sombreamento corretas ou de filmes plásticos específicos para a necessidade das videiras, pode influenciar de maneira positiva no desenvolvimento, produção e qualidade das uvas. A proteção contra impacto de granizos e redução do impacto dos ventos, principalmente em épocas onde os ramos e brotos ainda são jovens, é muito importante. O filme plástico impermeável correto ainda impede o molhamento foliar, ocasionado pela precipitação fluvial, especialmente na época de maturação e colheita, proporcionando frutos de melhor qualidade sem ter que alterar o período ideal da colheita. Isso reduz drasticamente os tratamentos fitossanitários, pois diminui as condições favoráveis ao aparecimento de doenças fúngicas. Fotos: Ginegar Polysack

Entretanto, ao adotar o filme plástico impermeável, o viticultor deve ficar atento para que não ocorra o estresse hídrico, fator que reduz o desenvolvimento vegetativo das plantas. Por essa razão, o controle hídrico é importante. Estudos evidenciam que o estresse hídrico moderado pode adicionar qualidade enológica à uva, pois aumenta os níveis de açúcar nas bagas.

Telas coloridas, capazes de fazer foto conversão da luz, minimizam os efeitos da quebra excessiva da radiação solar.

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PALAVRA DA CIÊNCIA

Fotos: Fernanda Birolo, Embrapa

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A

Moscas-das-frutas: principais cuidados para manejo Beatriz Aguiar Jordão Paranhos, Pesquisadora da Embrapa Semiárido, beatriz.paranhos@embrapa.br Tiago Cardoso da Costa Lima, Pesquisador da Embrapa Semiárido, tiago.lima@embrapa.br José Adalberto de Alencar, Pesquisador da Embrapa Semiárido, adalberto.alencar@embrapa.br

s moscas-das-frutas são as principais pragas de diferentes fruteiras ao redor do mundo. As espécies quarentenárias são Anastrepha fraterculus, A. obliqua, A. grandis e Ceratitis capitata, além da Bactrocera carambolae, que está restrita ao Estado do Amapá. A C. capitata ou mosca-do-mediterrâneo ou moscamed é a de maior importância econômica, devido à sua capacidade de infestar uma grande diversidade de frutos e de se adaptar a novos hospedeiros. Na região do Vale do São Francisco, essa espécie está associada a diferentes frutas, como manga, goiaba, acerola, carambola, cajá, seriguela, uva e outras. Pela falta de cuidados, a infestação em pomares de uva vem aumentando nos últimos anos.

As moscas-das-frutas fazem suas posturas nos frutos em geral no início do amadurecimento. No entanto, podem infestar frutos ainda verdes e com elevada acidez. As larvas se alimentam da polpa dos frutos hospedeiros e favorecem a entrada de patógenos, reduzindo a produtividade e a qualidade dos frutos, deixando-os impróprios para consumo in natura e para industrialização. Os frutos atacados amadurecem e caem prematuramente. Após a larva se desenvolver no interior do fruto, esta migra para o solo, enterrando-se de 5 cm a 7 cm de profundidade para se transformar em pupa, onde fica até ocorrer a emergência dos adultos e iniciar um novo ciclo. Desta forma, nunca se deve deixar frutos caídos no

solo, pois permitirá a continuidade do ciclo da mosca. O período de ovo-adulto varia de 18 a 25 dias na região do Vale do São Francisco. Já foi constatado que a mosca-do-mediterrâneo completa seu ciclo em todas as variedades de uva presentes na região.

Como fazer o monitoramento Adultos de moscas-das-frutas podem percorrer até 10 km de distância com o auxílio de correntes de vento. Logo, é importante a conscientização de todos os produtores sobre o manejo adequado da praga em suas áreas, para não prejudicar seus vizinhos ou não ser prejudicado. Elas podem voar até 10 m de altura, logo, o uso de barreiras físicas ao redor do pomar é ineficiente.


Práticas de controle no pomar A armadilha do tipo McPhail é usada para atrair adultos de Anastrepha spp. e de C. capitata com atrativos alimentares, como o hidrolisado de proteína a 5% ou suco de frutas. Para a mosca-do-mediterrâneo, C. capitata, é melhor utilizar armadilhas do tipo Jackson com o atrativo de machos, o trimedilure. Em geral, considerando-se todas as frutas hospedeiras no Vale, recomenda-se a densidade de 1 armadilha/ha. Em pomares de mangas para exportação, aceita-se menor densidade, tal qual a de 1 armadilha/10 ha. A armadilha deverá ser colocada na planta, em local protegido do sol e do vento, a uma altura média de 1,50 m acima do nível do solo ou no terço médio da altura da planta. Considerando que a infestação do pomar ocorre de fora para dentro, recomenda-se dispor as armadilhas na periferia para detectar a presença das moscas-das-frutas o mais rápido possível. As inspeções devem ocorrer semanalmente e medidas de controle devem ser aplicadas quando o índice MAD – mosca/armadilha/dia – for igual ou superior a 0,25.

O fruticultor pode lançar mão de várias práticas de controle para prevenir ou eliminar as moscas-da-fruta das fruteiras. •Controle cultural: Frutos não comercializados, remanescentes ou caídos devem ser descartados em valas profundas, sobre as quais deve-se colocar uma camada mínima de 30 cm de solo bem compactado. Podem também ser triturados e usados na alimentação animal. O ensacamento de frutas, embora eficiente, é uma prática de custo elevado, muitas vezes impraticável e deve ser feito quando os frutos estão verdes. Entretanto, onde a população de moscas-das-frutas é muito alta, pode tornar-se viável economicamente. •Controle químico: O controle convencional com o uso de agrotóxicos está restrito aos inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA (www.agricultura.gov.br/servicos-e-sistemas/sistemas/agrofit) para a praga e para cultura em questão, que são muito limitados ou inexistem para algumas fruteiras consideradas “minor crops”. Para as fruteiras cultivadas no Vale do São Francisco, no

Armadilhas devem ser dispostas na periferia do pomar para detectar presença das moscasdas-frutas o mais rápido possível

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PALAVRA DA CIÊNCIA

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Frutos atacados devem ser enterrados para evitar proliferação

momento existe apenas registro de Splat 120 GF® para uva, manga, goiaba e acerola (registro provisório até outubro de 2014) e de Safety® para manga. O único produto que é registrado para todas as fruteiras hospedeiras de moscas-das-frutas é o macho estéril de C. capitata. Os inseticidas devem ser aplicados em forma de isca tóxica, que deve ser aplicada em fileiras e em plantas alternadas. Lembrar que mesmo depois de seco, o produto continua atraindo as moscas para a alimentação e, depois que elas se alimentam, morrem intoxicadas. •Controle biológico: Dentre os diferentes organismos biológicos, tais como entomopatógenos, predadores e parasitoides, o último tem sido usado com sucesso em vários países. No Brasil, existem vários parasitoides

nativos, mas para se alcançar bom nível de controle em campo, devem-se fazer liberações inundativas semanais e, neste caso, existe tecnologia disponível para multiplicar a vespa exótica Diachasmimorpha longicaudata. •Técnica do Inseto Estéril (TIE): Esta prática consiste na criação em escala industrial do inseto praga, na sua esterilização e posterior liberação em campo de uma população, no mínimo, cinco vezes maior do que a selvagem do campo. Esses machos estéreis copulam com as fêmeas selvagens da mesma espécie, mas não geram descendentes. Esta tecnologia está disponível para ser aplicada no Vale do São Francisco para o controle de C. capitata. •Quarentenário: São tratamentos aplicados após a colheita de uvas e de mangas destinadas à exportação

para alguns países, como Estados Unidos e Japão. No caso de uvas é exigido o tratamento a frio e de mangas o tratamento hidrotérmico. Todos os fruticultores do Vale do São Francisco devem fazer o monitoramento e controle em seus pomares que contêm frutas hospedeiras de moscas-das-frutas, independentemente de sua obrigatoriedade. Se cada um fizer a sua parte, o problema poderá ser amenizado. Populações baixas de moscas-das-frutas podem reduzir os custos de produção e diminuir os riscos com resíduos tóxicos nos frutos, assim como a contaminação do meio ambiente e dos operadores. Além disso, indiretamente poderá abrir novos mercados importadores, com geração de novos empregos e maior desenvolvimento para a região.


PUBLIEDITORIAL

Sistema de Qualidade SmartFreshSM INFORMAÇÕES BÁSICAS SOBRE NUTRIÇÃO

SISTEMA DE QUALIDADE SMARTFRESHSM – UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A MANUTENÇÃO DA QUALIDADE NUTRITIVA DAS MAÇÃS As maçãs são amplamente consumidas, uma fonte rica

SmartFreshSM contribui para diminuir o ritmo da redução da

de vitamina C e antioxidantes. Apesar disso, o conteúdo de

vitamina C durante toda a cadeia de suprimento. Esse é es-

vitamina C varia entre as diferentes variedades: na colheita, a

pecificamente o caso quando o SmartFreshTM é usado durante

Jonagold, uma variedade específica e popular, especialmente

a armazenagem ULO (Ultrabaixo Oxigênio), mas mesmo com

nos países do norte da Europa, tem em média, aproximada-

todos os outros métodos tradicionais de armazenagem, há uma

mente, 26 mg/100g, quando comparada às maçãs Rubinette

prova consistente de que o SmartFreshTM ajuda a manter o teor

(em média 13 mg/100g) ou à Gala (em média 14 mg/100g). As

de vitamina C em vários cultivos.

maçãs Golden Delicious normalmente têm um pouco menos (em média 12 mg/100g) e a Elstar tem em média 8 mg/100g.

Em 2010, diversos estudos da Kompetenzzentrum Obstbau-Bodensee (KOB), na Alemanha (Neuwald and Streif),

Assim que colhidas, durante as fases de maturação e

mostraram que as maçãs Elstar e Jonagold com SmartFresh

amadurecimento na planta, o conteúdo de vitamina C diminui

contêm, em geral, um maior conteúdo de Ácido Ascórbico que

rapidamente ao longo do tempo. A condição da fruta no período

as maçãs sem SmartFresh. Em ambas as cultivares, as frutas

da colheita e a tecnologia de armazenagem também afetam o

SmartFreshTM tiveram aproximadamente 10% a mais de Ácido

valor da vitamina C em uma maçã. As pesquisas mostram que

Ascórbico que as maçãs que não receberam SmartFreshTM.

a vitamina C tem uma queda muito rápida, de pelo menos em

Além disso, estudos de 2007 do CTCPA na França (Centre

50% em um pouco mais de 2 meses de armazenamento e 10

Technique de la Conservation des Produits Agricoles) sobre o

dias nas prateleiras à temperatura regular (Streif, Universidade

conteúdo de vitamina C de kiwi com SmartFreshtm, comparado ao

de Hohenheim, Alemanha 2005).

kiwi sem SmartFresh, indicou um aumento de 15% a 25% de vita-

Contudo, embora levando-se em consideração todos os

mina C nas frutas com SmartFreshTM. Mesmo nos períodos mais

diferentes fatores que influenciam o valor nutricional das maçãs,

longos na prateleira, de 10 a 14 dias, têm mostrado benefícios

diversos estudos comprovaram que o Sistema de Qualidade

mensuráveis do SmartFreshTM na retenção do teor de vitamina C.

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POMICULTURA

Fotos: Embrapa Uva e Vinho

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Pouca água, muita água... Quanta água?

A

SABER LIDAR COM AS VARIAÇÕES NATURAIS DE EXCESSO DA ÁGUA, ALÉM DO MANEJO ADEQUADO, SÃO FATORES FUNDAMENTAIS PARA A SAÚDE E A PRODUTIVIDADE DA MACIEIRA Tatiane Bueno

s condições meteorológicas são determinantes para o bom desenvolvimento e a saúde de um pomar, além de contribuir também para a atividade dos agentes polinizadores e para a realização de práticas de manejo, como a aplicação de produtos químicos para superação da dormência, raleio de frutos, aduba-

ção, irrigação, controle fitossanitário e colheita. Assim, o produtor precisa estar atento às alterações climáticas e às necessidades de seu pomar, principalmente em relação à água. Ainda pouco utilizados e até mesmo pouco difundidos entre os pomicultores, sistemas de irrigação podem ser uma alternativa

tanto para driblar as intempéries climáticas quanto para melhorar a produtividade das macieiras e incrementar o fruto – neste caso, fazendo uso da fertirrigação. A viabilidade econômica desta técnica foi comprovada pelo pesquisador Gilmar Ribeiro Nachtigall, da Embrapa Uva e Vinho, em julho


de 2014, depois de cinco anos de pesquisa em Vacaria (RS). O estudo foi realizado com duas cultivares: a maxigala e a fuji suprema, em parceria com a Netafim, empresa de sistemas de irrigação por gotejamento. Dentre os resultados, o pesquisador destaca que a irrigação aumentou o calibre dos frutos, a produção total e a coloração vermelha da epiderme. Além disso, “a análise da viabilidade econômica da irrigação mostrou que considerando os incrementos de produtividade e frutos de maior calibre obtidos em função da irrigação, em comparação com o sistema convencional, os investimentos necessários para o sistema de irrigação podem ser restituídos no terceiro ano após o plantio”, afirma o coordenador agronômico da Netafim, Cristiano Jannuzzi. Estes resultados foram obtidos nas safras 2011/12 e 2013/14, quando o solo da região sofreu com períodos de déficit hídrico, identificados durante a fase vegetativa da macieira. Apenas a produtividade foi afetada, mas o suprimento de água via irrigação foi crucial para garantir os outros resultados, relata Nachtigall.

Pouca ág ua pode ajudar a produção Tanto o excesso quanto o déficit hídrico são prejudiciais à planta, porém o déficit hídrico nem sempre é negativo. Desde que seja leve, pode ser interessante em pomares muito vigorosos, já que podem aumentar a produção no ano seguinte, como também o fazem déficit leves após a colheita. “Pode até ser benéfico por permitir a paralisação dos meristemas vegetativos, favorecendo o aporte de fotoassimilados nos órgãos reprodutivos da plantas. A maçã possui raízes profundas e não sofre tanto com a estiagem”, explica Clandio Medeiros da Silva, pesquisador do IAPAR. A escassez de água na região Sul do Brasil geralmente acontece no verão, quando as temperaturas são elevadas e o fruto está se desenvolvendo. Isto pode diminuir o calibre, o potencial de armazenamento e provocar queimaduras. Já no Sudeste, o déficit hídrico ocorre com frequência no inverno e na primavera, durante o florescimento e início de crescimento dos frutos. Roberto Hauagge, doutor em Melhoramento Genético de Frutas de Clima Temperado da Clone

Viveiros e Fruticultura, pondera e diz que embora ausência de chuvas seja interessante na florada por causa da diminuição da incidência de doenças, “se for prolongada pode diminuir o pegamento dos frutos e produtividade”. No entanto, segundo Nachtigall, no estágio vegetativo, mesmo períodos curtos de estiagem (entre dez a doze dias) são significativos para afetar a qualidade e a produtividade, além de comprometerem a safra seguinte, caso as gemas se formem durante o período de estresse. Elvito Coldebella, produtor de uma área de 15,2 hectares de maçã gala já passou por essa experiência em seu pomar. “Tivemos duas secas severas até agora e a perda não ocorreu diretamente nos frutos. O prejuízo veio no ano seguinte, na diferenciação de gemas e consequentemente tivemos uma redução significativa na produção, o que chamamos de alternância”, conta. A escassez de água na floração e na maturação dos frutos também pode ocasionar queda de flores e frutinhos, redução da frutificação efetiva, redução do tamanho dos frutos,

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POMICULTURA

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Escassez hídrica pode ser benéfica para pomares vigorosos, pois pode aumentar a produtividade no ano seguinte

Água demais contribui para o adoecimento da macieira com reflexos na redução da produção, perda de qualidade e maior descarte de frutos durante as etapas de beneficiamento e classificação. Além do tamanho, a coloração e a composição dos frutos estão relacionadas às condições ambientais, especialmente ao adequado suprimento de água.

Já o excesso de umidade leva os nutrientes da solução do solo e precisam ser repostos, principalmente o nitrogênio. Solos bem equilibrados sofrem menos e uma planta bem nutrida tem melhores condições de superar os diferentes problemas, “mas o problema não se resolve somente com isso”, alerta Hauagge. Quando o

excesso é prolongado, pode matar a planta diretamente ou favorecer o desenvolvimento de fungos que causam o apodrecimento das raízes. A sarna (Venturia inaequalis), por exemplo, é uma importante doença da macieira e aumenta com a precipitação, exigindo maior aplicação de fungicidas. “Excessos de água devido à demasia de precipitação favorecem o desenvolvimento de diversos tipos de fungos e bactérias que são patogênicos”, explica. Outras doenças comuns são a mancha de gala, desfolha precoce e quando o excesso acontece no período de pré-colheita desenvolve-se a podridão do fruto, conforme indica o pesquisador da Epagri – SC, José Luiz Petri. Para evitar esses problemas, há necessidade de se escolher solos profundos e bem drenados, ou instalar um sistema de drenagem para eliminar o excesso de água. Segundo Hauagge, uma alternativa para proteger os frutos das chuvas seria o plantio sob plástico. No entanto, os custos e a diminuição de qualidade devido às temperaturas mais altas inviabilizam comercialmente. Já o ensacamento sozinho não diminui a incidência de doenças, mas evita pragas como a mariposa oriental e a grapholita, que são causadoras de danos que induzem a podridões, por exemplo. “Não há como prevenir ou se proteger do excesso de água. Construir uma cobertura sobre o pomar é economicamente inviável, então o que se pode fazer é intensificar o tratamento fitossanitário, em alguns casos precisando aplicar duas vezes na mesma semana, sendo que o normal é uma vez a cada 10 ou 15 dias”, explica Petri.


ANÁLISE E PLANEJAMENTO PRÉVIO AUXILIAM A EVITAR PROBLEMAS FUTUROS A implantação de um pomar exige técnica e dedicação. A primeira questão é a escolha do local dentro do terreno. Outro aspecto importante a considerar é o clima da região. Nas condições de pouco frio, faz-se necessária a quebra de dormência com produtos químicos específicos; utilizar material sadio e adaptado à região; comprovação de implantação com mudas fiscalizadas ou com registro de procedência e com certificado fitossanitário conforme legislação vigente;

utilizar preferencialmente variedades resistentes ou tolerantes as pragas. O uso de porta-enxertos com enraizamento profundo e mais tolerante a acidez/alumínio são menos sensíveis a déficits hídricos. “A escolha do porta-enxerto também deve ser observada de acordo com o solo disponível. O Marubakaibo (Maruba), por exemplo, enraíza muito e procura água na parte profunda do solo e o M9 é muito superficial, portanto com uma seca a planta sente na hora”, explica o pesquisador do IAPAR, Clandio Medeiros da Silva. Os sistemas de irrigação e fertirrigação também devem ser analisados

antes da implantação. A orientação do pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Gilmar Ribeiro Nachtigall, é que o produtor comece com uma pequena área para aprender a lidar com o sistema e aumentá-la aos poucos. Outro fator importante é a análise do desempenho do pomar. Nachtigall explica que não adianta investir em um sistema de alta performance para um pomar de baixa performance. “É como colocar um pneu de carro de Fórmula 1 em um Fusca: não vai render o que foi designado para render. Com o sistema de irrigação é mesma coisa”, explica.

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ATUALIDADES

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Melão e melancia: das roças nordestinas para o mundo 30 contêineres por semana para os árabes, em cinco anos. As frutas são cultivadas entre os estados do Ceará e Rio Grande do Norte, onde se concentra uma das maiores produções do mundo. Melões e melancias são algumas das frutas que a região produz em alta escala e exímia qualidade. Exportadas para diversos cantos do planeta, as frutas produzidas em mais de 16 fazendas, que compõem a Agrícola Famosa, são referência para o setor. A empresa, fundada em 1995, na divisa dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, alcançou um nível de desempenho associado a uma alta capacidade tecnológica na sua produção e na pós-colheita. Além de abastecer todo o país com diversos produtos, a Agrícola Famosa exporta uma grande quantidade do que colhe para os mais exigentes mercados do mundo. Os números que a Agrícola Cerca de 174 mil toneladas de melões e melancias de diversas variedades seguem para o exterior e para o mercado interno

Foto: Rodrigo Tomba/Attuale Comunicação

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Agrícola Famosa começou em setembro as exportações de melão e melancia da atual safra para o mercado árabe. A empresa vende ao redor de dez contêineres por semana para Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. “Já é a terceira safra que vendemos para lá”, comenta Luiz Roberto Barcelos, um dos sócios da empresa. As vendas para o Oriente Médio ainda são pequenas diante do total que a Agrícola Famosa embarca para o exterior por semana, que são 300 contêineres. Mas Barcelos acredita no potencial do mercado para as frutas que a empresa cultiva. “É um mercado novo para nós, mas tem um potencial grande, tem clima quente e bastante consumo deste tipo de frutas”, diz Barcelos sobre o melão e a melancia, que são mais consumidos em locais de temperatura alta. O empresário Barcelos acredita que é possível ampliar a exportação para

Famosa atualmente ostenta representam um trabalho bem elaborado, aliado a investimentos em tecnologia que trazem resultados surpreendentes. A fazenda sede da empresa possui 7 mil hectares, e a ela somam-se mais três propriedades da empresa e outras 12 arrendadas, as quais juntas ultrapassam 25 mil hectares de áreas altamente produtivas. Os principais produtos da Agrícola são o melão e a melancia, que somados ocupam 6 mil hectares plantados. Levando em consideração que a média de produção por hectare destas frutas é de 28 a 30 toneladas, a empresa colhe por safra cerca de 174 mil toneladas de melões e melancias de diversas variedades. A empresa planta, ainda, 800 hectares de banana, 500 hectares de mamão, 50 hectares de aspargo, 15 hectares de abacaxi, além de outras culturas menos expressivas em área. Segundo o Supervisor de Produtos Agrícolas da empresa, Paulo Dantas, atualmente 58% do total produzido é exportado para países da Europa, para a China, Rússia e Arábia Saudita. O restante abastece o mercado interno. O grande desafio que a empresa conseguiu superar foi conseguir levar seus produtos para mercados distantes e exigentes, sem que eles perdessem qualidade. “Aqui se investe muito em desenvolvimento e tecnologia. Buscamos aprimorar sempre a qualidade dos nossos produtos. Queremos que eles cheguem à mesa do consumidor com a mesma qualidade com que foram colhidos”, afirma Dantas.


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OPINIÃO

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MELÃO: PREÇOS PODEM SEGUIR EM BONS PATAMARES ATÉ O FIM DE 2014

É TEMPO DE MANGA!

Por Letícia Julião, editora econômica de frutas da Hortifruti Brasil

Por Larissa Gui Pagliuca, Editora econômica de frutas da Hortifruti Brasil

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o Brasil, o melão é produzido no Rio Grande do Norte/Ceará e no Vale do São Francisco (BA/PE). O RN/CE colhe a fruta de agosto de um ano a março do seguinte, enquanto o Vale oferta principalmente de abril a julho – nos outros meses do ano a oferta é existente, mas menor. Neste ano, as vendas têm sido, de certa forma, favoráveis ao produtor – de janeiro a agosto, os preços do melão amarelo tipos 6 e 7, na média das duas regiões produtoras, foram de R$19,58/cx de 13 kg, e estiveram acima dos custos de produção estimados pelos produtores em ambas as regiões produtoras. Estimativas do Hortifruti/Cepea apontam que os preços podem seguir em bons patamares até o final de 2014. Para os próximos meses, a oferta deve aumentar no RN/CE e diminuir no Vale, equilibrando a disponibilidade da fruta no País para que as cotações não sejam pressionadas. Em dezembro, porém, a oferta aumenta nas duas regiões produtoras para suprir a demanda das festas de final de ano. O RN/CE ainda é responsável por abastecer o mercado europeu no período de janela de produção da Espanha, principal país produtor naquele continente. Na última safra (ago/13 a mar/14), os envios somaram 177 mil toneladas, com receita (FOB) de US$140 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O volume foi 3% inferior em relação à temporada de 2012/13 e, em valores, houve aumento na mesma comparação, de 2%. Para esta safra, a Europa pode manter as compras, mas há um novo parceiro, o Chile. Contudo este destino não deverá ser responsável por acréscimo significativo no volume total. Isso porque a logística do transporte da fruta até o país é mais difícil. O destaque ainda deve ser o mercado do Oriente Médio – que apresentou aumento significativo na safra 2013/14 frente a anterior. Atualmente, o RN/CE envia cerca de 60% da sua produção para o mercado externo – no passado, essa porcentagem chegou a ser 80%, mas com o aquecimento do mercado interno nos últimos anos, o direcionamento mudou.

partir de setembro a oferta de manga começa a aumentar no Brasil. O país possui hoje 4 grandes polos de produção da fruta, a região paulista de Monte Alto/ Taquaritinga e Valparaíso/Mirandópolis, Livramento de Nossa Senhora (BA), Vale do São Francisco (BA/PE) e no Norte de Minas Gerais. O Vale é a principal região a aumentar o ritimo de colheita da manga em outubro, mesmo período em que a safra paulista está prevista para ser iniciada. Com a coincidência entre elas, agentes consultados pela Hortifruti/Cepea estimam que o volume da fruta a ser colhido até o final do ano seja maior que o do mesmo período de 2013. Além disso, o clima seco foi propício para a florada em São Paulo e, apesar da falta de água também ter causado abortamento de alguns frutos em fase de desenvolvimento, a produtividade das mangueiras paulistas ainda pode ficar maior que a da temporada 2013. Na região mineira de Jaíba/Janaúba a produção de manga também está sendo favorecida pelo clima e a oferta deve seguir escalonada até novembro. Livramento de Nossa Senhora (BA) seria outra região que estaria colhendo um maior volume de manga este mês, se não fosse a forte seca que se extende desde 2012, comprometendo os pomares. Em relação aos preços da fruta este ano, como normalmente durante o primeiro semestre a oferta nacional de manga é mais restrita, os preços ficaram em patamares atrativos ao produtor. De janeiro a agosto/14 a variedade Tommy Atkins foi comercializada à média de R$1,10/kg na região produtora do Vale do São Francisco.


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SAÚDE NO PRATO

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Jabuticaba,

sabor do Brasil Marlene Simarelli

á se foi o tempo de comer jabuticaba só no pé. A criatividade brasileira transformou esta fruta em deliciosas iguarias como geleias, sucos e até receitas com pratos salgados. A brasileiríssima jabuticaba ocorre nas regiões Sul, Sudeste e em parte do Centro-Oeste e quase desapareceu do seu habitat natural bem como dos quintais das grandes cidades. Mas, aos poucos, o gosto guardado da infância trouxe de volta a presença de jabuticabeiras em projetos paisagísticos de condomínios residenciais, comerciais e até em shoppings, onde podem ser encontradas em vasos, jardins e calçadas. Além do retorno aos quintais. Em função desta procura, viveiristas passaram a cultivar a planta, que a partir da semente demora cerca de quinze anos para frutificar. Mas técnicas de propagação, como a enxertia, permitem hoje o cultivo de jabuticabeiras bem mais precoces com produção em menos de cinco anos. A fruta tem várias espécies, algumas bem regionais, como a ‘branca’ e a ‘rajada’, conforme relatos do livro Jabuticaba - instruções de cultivo, de autoria do engenheiro agrônomo e pesquisador Celso V. Pommer. As mais conhecidas são a jabuticaba

de cabinho (Myrciaria peruviana var. trunciflora) encontrada de Minas Gerais até Orleans (SC) e Sarandi (RS); a jabuticaba paulista, conhecida também como jabuticaba assú e jabuticaba ponhema (Myrciaria cauliflora), que ocorre em Minas Gerais e no Rio de Janeiro; e a sabará (Myrciaria jaboticaba) encontrada em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Além de saborosa, a jabuticaba também faz bem à saúde. Segundo pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é a fruta com o maior teor de antocianinas, substâncias com princípio antioxidante, que ajuda no combate aos radicais livres, ligados ao câncer e ao envelhecimento. São 314 mg de antocianinas a cada 100 g - valor superior ao encontrado nas uvas tintas. Pertencente à família das Mirtáceas, a mesma da goiaba, pitanga, uvaia, cambuci, grumixama e outras tantas frutas pouco conhecidas da quase extinta Mata Atlântica, há diversas cidades que atraem turistas no auge da produção da fruta. Entre elas: Casa Branca (SP), Distrito de Cachoeiro do Campo e Sabará (MG), Hidrolândia

(GO) e Juscimeira (MT), onde festas são promovidas e movimentam a economia local através das suas iguarias, como a geleia feita a partir da casca.

GELEIA DA CASCA DA JABUTICABA Aproveite esta delícia, que pode ser servida quente ou fria, acompanhando sorvete de creme, queijos, pães etc. •1 prato (sopa) de casca de jabuticabas •½ prato (sopa) de açúcar •1 litro de água Corte as cascas em pedaços pequenos (com faca ou no processador). Leve ao fogo médio para cozinhar com o açúcar e a água, mexendo sempre, até que as cascas fiquem bem macias e a calda espessa. Caso as cascas não amoleçam ou a geleia fique muito concentrada, acrescente mais água. A geleia pode ser armazenada em embalagens de vidro, previamente esterilizadas, e guardadas em geladeira por até seis meses.


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