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Inovações no campo e na mesa uito do que chega à mesa do consumidor faz parte do trabalho, criatividade e ousadia do produtor rural. As inovações presentes no campo garantem maior qualidade e sabor para o produto final. No entanto, muitos consumidores não fazem ideia do trabalho, da origem e das observações que o produtor rural realiza para que tudo dê certo com a sua colheita. A terceira edição da Revista da Fruta, a primeira de 2015, traz como matéria de capa um exemplo de observação, perseverança e paciência. Antonio Roberto Losqui, produtor de Jundiaí (SP), após muitos anos de testes, implantou em seu sítio a poda do segundo andar para as videiras, técnica desenvolvida por ele, que possibilita três safras de uva ao ano. A qualidade e produtividade aumentaram graças às suas extravagancias, como ele mesmo diz. É um conhecimento que só quem está no campo, todos os dias, pode adquirir. Veja mais sobre esta nova técnica na matéria de capa “Inovando a poda da uva”. Esta edição traz também um especial de 45 anos da empresa gaúcha Agrimar, que colabora com o desenvolvimento da agricultura através das tecnologias que leva até o produtor. Em uma entrevista com os sócios Nadir Rizzi e Nelson Belenzier, eles contam a história de como a Agrimar começou e as principais dificuldades da agricultura naquela época, cenário bastante diferente do de hoje. A matéria “Do laboratório para as roças” mostra como as mudas clonadas podem ajudar o produtor garantindo mais produtividade e qualidade fitossanitária. E traz uma novidade: a empresa Bioclone, especializada em micropropagação de plantas, lançará ainda este ano no mercado brasileiro, mudas clonadas de mamão, algo inédito no país. É a pesquisa que avança em favor do campo. Além disso, nesta edição você encontrará na seção tomaticultura informações de como o cultivo protegido de tomate pode garantir a redução da incidência de pragas e doenças, para uma das culturas que mais sofre com este problema. A seção pomicultura traz detalhes de como está a produção de maçã fora do Sul, maior região produtora do país. Algumas variedades que exigem menos horas de frio durante o ano estão permitindo a abertura de mercado para produtores do Sudeste e do Nordeste. No artigo Opinião desta edição, o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Marcelo Lopes da Silva, conta que a fruticultura está ameaçada no país devido à presença de algumas pragas disseminadas com uma rapidez incomum. Para acompanhar as tendências da fruticultura internacional, a Revista da Fruta estará em Madri, Espanha, no evento 5º Fruitacttraction, que acontece de 28 a 30 de outubro de 2015. Um grande abraço e uma ótima leitura,
Lauro Gomes e Marlene Simarelli
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6 Viticultura
Poda do segundo andar é nova técnica desenvolvida por Antonio Roberto Losqui para uvas
10 Tomaticultura
Cultivo protegido garante menor incidência de pragas e doenças na plantação de tomates
22 Tecnologia
Mercado fruticultor terá mudas clonadas de mamão
24 Palavra da Ciência Pesquisa
comprova
aproveitamento da mangaba para agroindústria
28 Expediente
28 Pomicultura
Produção de maçãs em São Paulo e Bahia precisa de tecnologia para dar certo
32 Atualidades
Empresa conquista mercado de laranjas comercializando na web
36 Opinião
Os desafios da fruticultura nacional frente às pragas
38 Saúde no Prato
Morangos, uma das frutas mais conhecidas do mundo
REVISTA
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A Revista da Fruta é uma parceria entre as empresas Jornal da Fruta e Artcom revista A.C. dirigida a produtores, pesquisadores, associações e revistadafruta.com.br O v e í c u l o d e i n f o r m a ç ã o d o f r u t i c u l t o r cooperativas, universidades, Ceasas e empresas ligadas à cadeia frutífera.
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A Revista da Fruta é marca registrada pertencente à LS Editora Jornalística Ltda.
Editores Lauro Gomes jornaldafruta@jornaldafruta.com.br Marlene Simarelli artcom@artcomassessoria.com.br
Redação Larissa Straci e Marlene Simarelli
Jornalista responsável Marlene Simarelli MTB: 13.593 – SP
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CAPA • VITICULTURA
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Losqui e seu pomar de uvas com dois andares altamente produtivos
Inovando a poda da uva UMA NOVA TÉCNICA PARA A PODA DAS VIDEIRAS, DESENVOLVIDA PELO PRODUTOR PAULISTA ANTONIO ROBERTO LOSQUI E BATIZADA COMO PODA DO SEGUNDO ANDAR, GARANTE MAIOR PRODUTIVIDADE E MAIS QUALIDADE, ALÉM DE POSSIBILITAR TRÊS SAFRAS POR ANO. Larissa Straci
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ma nova forma de podar a videira que resulta em mais produção e qualidade. Esse é o resultado das ‘extravagâncias’ e observações do fruticultor Antonio Roberto Losqui, que cultiva, além de uvas, goiaba, caqui, seriguela e muitas outras frutas em seu sítio na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo. Com a nova poda da videira, sua produção passou de uma para três safras ao ano. A produtividade também aumentou: “Em uma plantação convencional, com o sistema em Y, a planta produz de três a quatro quilos de uvas por pé. Já com a poda que utilizo, que eu chamo de poda do segundo andar, consigo tirar em cada safra, cinco quilos de uva por pé. Com a diferença é que agora eu tenho três safras ao ano, portanto são 15 quilos por pé ao ano”, detalha o produtor. Para obter este resultado, Losqui plantou as videiras em Y, sistema desenvolvido no IAC - Instituto Agronômico de Campinas (SP), pelos pesquisadores José Luiz Hernandes e Mário José Pedro Júnior. “Aqui foi plantado no sistema em Y, mas usamos a distância de plantas de espaldeira, que é 80 centímetros entre cada pé. Plantei mais perto justamente para poder fazer extravagâncias com a poda das plantas”, explica. Ele comenta que a poda do segundo andar também pode ser feita no sistema espaldeira, mas o segundo fio precisará ter uma abertura com um fio em cada lado (conforme mostra a imagem ao lado) e um mourão no meio, abrindo a condução. “Se fizer o pé numa linha só, pode haver problema na condução e na desbrota. Mas o melhor para esse tipo de produção é o sistema em Y”, garante.
A estudante de agronomia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Kézia Carolina Barbosa, está no sítio de Losqui para acompanhar o desenvolvimento desta e de outras técnicas de poda. “Na faculdade, o que os professores passam é uma coisa muito vaga, o aluno não tem uma noção real do que são as técnicas. Na prática, a gente vê o que é realmente feito e aprende que existem outras formas de fazer. A técnica do Sr. Losqui, por exemplo, para nós, na teoria, seria impossível”, ressalta Kézia.
Como fazer a poda do seg undo andar A poda do segundo andar foi feita pela primeira vez em 2014, mas uma chuva de granizo afetou a produção e por isso, Roberto Losqui não conseguiu observar corretamente os resultados. Porém neste ano de 2015, tudo está correndo muito bem e a produção já está consolidada. Losqui relata como faz a poda: “Primeiro fiz a poda
convencional. Dois meses depois da primeira poda, com os primeiros cachos já em formação, cortei os ramos que nasceram. O corte deve ser feito entre a 4ª e 6ª gema. A planta ficará com um segundo andar, de onde surgem os novos cachos que darão a segunda colheita. Desta forma, tenho duas safras com pouca diferença na época de colher.” Losqui conta que na segunda poda é necessário deixar um bom volume de folhas para não queimar o primeiro cacho que foi podado. “Além disso, existe um ponto exato de poda. Existe uma coloração certa para que a gema tenha brotação com o cacho de uva (imagem mostra a coloração certa na pág. 8). É uma coloração amarelada, que está indo para um tom de amarelinho. Se passar dois ou três dias já não se consegue mais esse resultado. Esse ponto exato o fruticultor vai adquirir com a experiência, não tem jeito.” O produtor afirma que a poda do segundo andar não atrai mais doen-
Plantio em espaldeira também aceita a poda do segundo andar
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CAPA • VITICULTURA
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SEM MEDO DE OUSAR
À esq., maturação do galho para poda.
À dir., Losqui
mostra o ponto exato da poda
ças para as plantas e para as frutas. “Em relação às doenças, não temos tanta incidência, pois a doença está muito vinculada ao tempo. Se está tempo chuvoso ou com muita serração, então as doenças acabam ocorrendo. Se for um tempo mais seco, como foi em 2014, em função de toda a nutrição do solo, podemos perceber a qualidade da fruta e a alta produtividade, sem índices de doenças”, comenta Losqui, orgulhando-se de produzir uvas de qualidade mesmo na seca e sem utilizar nenhuma irrigação. Com a técnica desenvolvida pelo produtor de Jundiaí, o viticultor consegue retirar do mesmo pomar três safras por ano, nos meses de dezembro, fevereiro e final de março a começo de abril. Mas ter três safras em um mesmo pomar tem um segredo: “A poda do segundo andar só é possível se a videira possuir alto vigor vegetativo. Para trabalhar com este sistema, é preciso que a planta tenha uma alta nutrição. Basicamente a nossa nutrição é orgânica, com muita matéria seca formada por vários tipos de capim. Praticamente não trabalhamos com adubo químico.”
O fruticultor Antonio Roberto Losqui é reconhecido pelo desenvolvimento de diferentes e inovadoras técnicas de podas em várias frutas, baseadas em observação e comprovadas com auxílio de pesquisadores. Pioneiro na introdução da poda da uva fora de tempo, seus experimentos começaram há 42 anos, quando um vizinho do seu sítio vendeu a propriedade para fazer um loteamento. Ele conta que “no local, foram abrindo ruas e cortando os pés de uva e percebi que elas estavam brotando e com cachos, mesmo não sendo a época. Chamei meu pai, que também era produtor de uvas, para ver aquilo e fiz uma proposta: vamos fazer uma experiência em um pedaço de terra? Ele aceitou e fizemos a experiência em mil pés de uva. Brotou que é uma beleza, mas como eu não tinha conhecimento de manejo na época, o míldio entrou e derrubou tudo. No segundo ano, fizemos em dois mil pés, pulverizei e deu tudo certo. No terceiro ano, fiz em cinco mil pés e chamei um engenheiro agrônomo da CATI para que viesse me acompanhar. E ele me disse: para com essas loucuras, você vai acabar com o dinheiro do seu pai”, conta o produtor. Mesmo assim, Losqui continuou seu trabalho, até acertar o manejo correto, e passou a divulgar as técnicas para os produtores da região. “Tenho orgulho de falar que sou pioneiro no país em relação à poda fora de tempo. Inclusive estou nos registros do IAC como pioneiro dessa área”, enfatiza.
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TOMATICULTURA
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Mais produção, menos doenças
CULTIVO PROTEGIDO GARANTE REDUÇÃO NA INCIDÊNCIA DE PRAGAS E DOENÇAS PARA UMA DAS CULTURAS QUE MAIS SOFRE COM O PROBLEMA NO PAÍS, A DE TOMATE. PRODUTORES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INVESTEM EM COBERTURA E PRODUZEM DURANTE OITO MESES AO ANO
O Larissa Straci
Cultivo protegido permite ciclo mais longo de produção
tomateiro é uma hortaliça que apresenta graves problemas de pragas e doenças na maioria das regiões de cultivos do Brasil, podendo comprometer até 100% da produção. Isso ocorre porque as condições tropicais do país não são favoráveis ao pleno desenvolvimento da cultura, deixando-a mais suscetível aos danos ocasionados por esses agentes. “Para contornar estes problemas, o cultivo de tomate em abrigos (protegido) pode ser uma alternativa. O abrigo tem grande importância na proteção das chuvas, minimizando assim as condições favoráveis às principais doenças e pode ser construído com telas anti-insetos em suas laterais, o que evitará a incidência das pragas”, aponta Rafael Cantu, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). O cultivo protegido foi uma das medidas adotadas pelos produtores do sul do Estado do Rio de Janeiro, região tradicional no cultivo de tomate, desde 2010. A incidência de doenças e os altos e baixos dos preços do fruto
INVESTIMENTO INICIAL E RETORNO De acordo com os especialistas, o preço da estrutura da cobertura varia conforme a qualidade do material empregado, podendo ser de aço, concreto e madeira. “Como valor base, podemos colocar que uma estrutura em madeira pode variar de R$20 a R$40 o metro quadrado e a de aço varia de R$45 a R$60 o metro quadrado. Contudo, são observados valores muito superiores sendo praticados pelas empresas, cabendo ao produtor uma pesquisa de mercado. Se os cultivos forem realizados corretamente com produções bem sucedidas, é possível o pagamento da estrutura em dois anos”, garante Rafael Cantu, pesquisador da Epagri. Já o presidente do Cobapla, Bliska Junior, afirma que o custo, que varia de acordo com o nível tecnológico aplicado, oscilando entre R$80,00 até R$120,00 por metro quadrado ou mais, dependendo do material, que deve ter a durabilidade considerada também na hora da seleção. “A mão de obra é cada vez mais limitada no meio rural. Trabalhar com altos rendimentos de produtividade é o desafio. O retorno vem em dois a quatro anos”, comenta Bliska.
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TOMATICULTURA
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no mercado forçou produtores a migrarem para o sistema. Rui Oliveira plantou tomate em campo aberto durante 35 anos em Paty do Alferes (RJ), mas, por conta destes problemas, chegou a desistir do cultivo. Ficou quatro anos longe do campo e resolveu voltar com a produção de tomates-uva (Sweet Grape), dessa vez no cultivo protegido, utilizando estufas e vasos suspensos. “Meus caminhos estavam fechados no cultivo em campo aberto por conta de doenças e problemas de solo cansado, além de muitos outros fatores que me fizeram optar pelo cultivo protegido, que é um sistema muito mais vantajoso. Hoje, eu tenho a minha produção garantida, não tenho grandes riscos com chuvas e tempestades e, além disso, como a minha planta não está no solo, ela está em cima de um vaso, dentro de um substrato, também não tenho problemas com doenças de solo”, comenta Oliveira. Para adotar esse cultivo, o investimento inicial de Oliveira foi de R$ 250 mil. Em Paty do Alferes (RJ), nove produtores, incluindo Rui Oliveira, fazem parte de um sistema integrado onde toda a produção é comercializada por uma única empresa. “Como eu estou integrado, já tenho a minha venda garantida”, aponta o produtor. Desde a preparação até a colheita, a produção em cultivo protegido dura 60 dias. Neste sistema, cada pé tem capacidade para produzir nove quilos de tomate e o ciclo da colheita dura em média oito meses, diferente do cultivo tradicional, onde é possível produzir somente em três meses do ano.
Cultivo bem conduzido garante produção e renda De acordo com o engenheiro agrônomo, Antonio Bliska Junior,
Controle de umidade e luminosidade, e de acesso às estufas são importantes
pesquisador da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp e presidente do Comitê Brasileiro de Desenvolvimento e Aplicação de Plásticos na Agricultura (Cobapla), o cultivo de uma planta em ambiente protegido é diferente daquele realizado a céu aberto. “Se bem conduzido, o manejo do tomate em estufas ou casas de vegetação resultará em longos ciclos de produção, com baixo uso de agroquímicos, elevada qualidade dos frutos e alta produtividade”. Em relação à produção convencional, o cultivo protegido apresenta inúmeras vantagens, segundo Rafael Cantu, entre elas: “redução do uso de agrotóxicos, proteção a intempéries como chuvas, granizo, ventos, entre outras, maior garantia da produção, o que permite melhor acesso ao mercado, além da garantia de renda. O abrigo possibilita também o desenvolvimento de atividades em dias de chuva, mantendo secos os caminhos entre as filas facilitando e humanizando o trabalho.”
Manejo correto pode estender o ciclo de produção O manejo de uma cultura em ambiente protegido muda radicalmente em relação ao campo aberto, alerta Bliska Junior, do Cobapla. “É quase uma ‘outra cultura’. O ciclo, principalmente no tocante ao período de
colheita, pode ser estendido por vários meses, como acontece no hemisfério norte. O controle é muito maior, mas é preciso uma pessoa que reúna conhecimento técnico de fatores ambientais como luminosidade, umidade relativa do ar, irrigação, nutrição, fitossanidade, etc. e todas as inter-relações entre estes fatores”, aponta o especialista. Cantu, pesquisador da Epagri, salienta que o manejo do tomateiro dentro do cultivo protegido deve ser realizado com atenção, principalmente em relação ao espaçamento da cultura e ao uso de variedades recomendadas para esse sistema, que são variedades distintas das recomendadas para o campo aberto. E orienta: “A adubação é especialmente importante, uma vez que é comum que ocorra no cultivo protegido a salinização do solo, com degradação da matéria orgânica provocada pelo uso irracional de fertilizantes sintéticos. Esses aspectos chegam a inviabilizar o desenvolvimento da cultura e até mesmo do abrigo, caso não sejam adotadas práticas de manejo correto de adubação como a utilização de doses recomendadas, uso de fertilizantes orgânicos e monitoramento da fertilidade do solo. O controle da irrigação e a qualidade da água utilizada no abrigo também são importantes para evitar contaminações do solo e a falta ou excesso de água para as plantas.”
Cobertura evita entrada de pragas e doenças O cultivo protegido deve evitar a entrada de pragas e doenças na cultura do tomate e no solo. Isto permite o uso da área do abrigo por tempo indeterminado, sem necessidade de troca de áreas, segundo Rafael Cantu. “A instalação de pedilúvio, antessalas e utilização de água de qualidade devem ser estratégias adotadas nos abrigos para contornar os principais problemas com pragas e doenças. Uma estratégia para evitar a contaminação do solo com patógenos transmitidos pela água de irrigação é a utilização da água da chuva captada na cobertura, que além de não ser contaminada com os principais patógenos incidentes à cultura, permite a utilização sustentável deste recurso natural”, aconselha ele. Segundo o pesquisador da Feagri/ Unicamp, Bliska Junior, é mais fácil prevenir a entrada de doenças no ambiente, limitando o acesso das pragas, do que tratá-las depois. “É preciso conhecimento técnico para cumprir procedimentos de segurança fitossanitária. O uso de ante câmaras, pedilúvio e outros recursos de prevenção será obrigatório. Tela antiafídicas, limitação do trânsito de pessoas, etc., são práticas que precisam ser incorporadas à rotina do empresário rural”, garante Bliska.
DICAS: COMO MELHORAR OS RESULTADOS DA PRODUÇÃO • O agricultor deve procurar a assistência técnica de um engenheiro agrônomo para orientações sobre o sistema; • O abrigo (ou estufa) deve proporcionar ventilação, temperatura e luminosidade correta. Para isso, a construção deve ter altura suficiente para permitir a troca de ar com o ambiente externo, evitando temperaturas mais altas no seu interior; • Para a região Sul do Brasil, a altura mínima do pé-direito é de três metros. Outra recomendação é que a largura do abrigo não seja superior a 10 metros; • Para minimizar os efeitos da temperatura podem ser usadas telas como a ‘aluminet’, que reduzem a temperatura sem afetar a luminosidade; • É possível acessar modelos propostos por empresas de pesquisa como a Epagri, bem como de empresas privadas especializadas na construção dessas estruturas; • É preciso restringir a entrada de insetos, quer sejam pragas ou vetores de doenças, através do uso de controle biológico e manejo nutricional, segundo a fase de desenvolvimento da cultura; • A irrigação controlada ou o cultivo em solução hidropônica/ substrato, a desbrota e a eliminação de folhas velhas também são importantes para aumentar o período produtivo da cultura; • Sobre a comercialização: o empresário rural deve analisar quem é seu público consumidor. O primeiro passo é montar um plano de negócios - definir sua atividade, levantar informações, planejar e estabelecer um cronograma de trabalho. No site www.plasticultura.org.br, o produtor pode acessar gratuitamente o Guia Brasileiro de Plasticultura e Cultivo Intensivo, que traz as principais orientações sobre este sistema de cultivo. Fontes: Rafael Cantu, Epagri-SC Antonio Bliska Junior, Feagri/Unicamp e Cobapla.
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Especial empresa
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Fachada da sede da Agrimar
AGRIMAR: 45 ANOS DEDICADOS À TERRA E AO PRODUTOR Empresa gaúcha colabora com o desenvolvimento da agricultura nas regiões onde atua e leva conhecimento e tecnologias aos produtores Desde março de 1970, quando foi fundada, até os dias de hoje, a Agrimar mantém viva a missão de atender com excelência o homem do campo. A empresa iniciou suas atividades com o objetivo de atender, principalmente, agricultores da região nordeste do Rio Grande do Sul, comercializando produtos e máquinas agrícolas. Seus fundadores da Agrimar, Nadir Pedro Rizzi e seu pai, Giacomo Rizzi, contribuíram para que o homem do campo pudesse dispor de novas ferramentas de trabalho com mais tecnologia, numa época em que a agricultura no país
estava em pleno desenvolvimento. Em 1971, Nelson Belenzier ingressou na sociedade e começou a atuar nas compras da linha fitossanitária. Hoje, além da matriz, localizada em Caxias do Sul, a Agrimar conta com nove filiais – nas cidades gaúchas de Antônio Prado, Bento Gonçalves, Bom Jesus, Caxias do Sul, Farroupilha, Nova Petrópolis, Porto Alegre, São Marcos e Vacaria. Possui uma equipe de mais de 70 vendedores técnicos internos e externos e conta, ao todo, com 180 colaboradores. Seu grande diferencial é o atendi-
mento personalizado, com visitas nas propriedades de engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas e outros profissionais de apoio, levando orientações aos agricultores e elevando os índices de satisfação e produtividade.
RESPONSABILIDADES COM O CAMPO Além da comercialização de mais de cinco mil produtos com garantia das melhores marcas nacionais e mundiais, a empresa dispõe de uma ampla gama de soluções técnicas especializadas, para auxiliar
os produtores a obterem os melhores resultados na sua produção. Máquinas agrícolas, implementos, tratores, motores, jardinagem, ferramentas, insumos, sementes, defensivos e fertilizantes estão entre os segmentos em destaque. A Agrimar também promove palestras técnicas e eventos como o Dia de Campo (Agrimar Field Day) e o Dia de Negócio, além de dispor de uma oficina mecânica para implementos agrícolas e elaborar projetos de irrigação. Para firmar o compromisso de
melhorar a vida da sociedade e a preservação do meio ambiente, a Agrimar tornou-se a única empresa da região reconhecida como posto autorizado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para o recolhimento de embalagens de produtos agrícolas vazias. Nesses 45 anos de história, a Agrimar, uma das integrantes do Grupo Rizzi, que reúne também as empresas Sotrima, Unyterra, Hidro Jet, Microinox e Transportes Rodo Mega, mantém a mais alta qualidade e tecnologia para o agronegócio.
MELHORES SOLUÇÕES PARA A PRODUÇÃO Para semear e cultivar a terra, ferramentas, conhecimento e técnicas são necessários e a Agrimar oferece todas essas soluções. A empresa dispõe de uma ampla gama de soluções técnicas especializadas para auxiliar os produtores a obterem os melhores resultados nas lavouras, orientada por sua equipe de agrônomes e técnicos agrícolas. Entre os serviços oferecidos estão: análise de solo, que verifica a composição química e orgânica do terreno; aná-
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lise de folhas, que examina o estado nutricional da planta; análise fitopatológica, que identifica as patologias em laboratório; além do desenvolvimento de projetos de irrigação, com o uso de gotejamento, aspersão e microaspersão, e recomendação de tratamentos e adubação, com a elaboração de receitas agronômicas com orientações técnicas. As amostras do material são encaminhadas para o Instituto Brasileiro de Análises (IBRA) e para laboratórios da região. A partir destes resultados, a equipe da Agrimar elabora os tratamentos adequados para cada situação. Os projetos de irrigação são desenvolvidos a partir de um estudo da área feito com GPS. Após esse levantamento, um projetista da empresa elabora o sistema, por aspersão, microaspersão ou gotejamento,
“O NOSSO TRABALHO É CULTIVAR O SEU AMOR PELA TERRA.” Equipe Agrimar indicando os melhores recursos a serem utilizados, como bombas, regulação, etc.
NOVIDADES
bricantes mundiais de quadriciclos e UTVs. Os modelos da Polaris podem ser utilizados para trabalho ou para lazer. A Agrimar oferece opções de quadriciclos e UTVs, além de equipamentos de proteção e roupas para a prática de off-road, como capacetes, botas, coletes, óculos, luvas, calças, camisas e outros acessórios. Além da venda dos produtos, há ainda uma oficina especializada e um setor de autopeças para a garantia e assistência técnica, conforme os padrões da fábrica. A Polaris é uma empresa sediada nos Estados Unidos que está presente em mais de 130 países, com mais de 800 revendedores.
Compras pela internet A Agrimar está lançando a modalidade de vendas por meio de e-commerce. As compras poderão ser feitas no site www.agrimar.com. br. A modalidade e-commerce é direcionada para clientes de todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. “ Vamos expandir os nossos mercados e garantir mais conforto e comodidade aos client e s. T r a b a l h a m o s com marcas conhecidas mundialmente e esses produtos serão oferecidos agora com as facilidades da internet”, explica o gerente comercial da empresa, Volmir Fachada Agrimar no início do negócio Demori.
Concessionária autorizada Polaris A concessionária Agrimar Polaris é resultado da parceria da empresa caxiense com uma das maiores fa-
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CONTRIBUIÇÃO EFETIVA PARA O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA GAÚCHO Começar um novo negócio é sempre uma tarefa repleta de desafios e incertezas. Mas o conhecimento e a dedicação às atividades agrícolas sedimentaram a estrada de sucesso da Agrimar. O respeito ao homem do campo e o atendimento às suas necessidades reais são as marcas do trabalho desenvolvido. Acompanhe a entrevista com os fundadores da Agrimar, Nadir Pedro Rizzi e Nelson Belenzier. Como e quando a Agrimar foi criada? Qual era a missão inicial da empresa? Nadir: A empresa começou em 1970 com o nome de “Agrícola Nordeste”. Eu já estava encaminhado ao ramo agrícola, pois trabalhava na Associação Rural de Caxias do Sul, que comercializava insumos agrícolas, produtos veterinários e ferramentas. Após seis meses de atividade, o Nelson se juntou ao negócio. Naquela época, a missão era vencer na vida e buscar uma atividade que contribuísse com as pessoas envolvidas no meio rural. Como começou a parceria entre Nadir Pedro Rizzi e Nelson Belenzier? Nelson: Trabalhávamos juntos na Associação Rural. Eu fazia vendas no balcão e o Nadir trabalhava no escritório. E o nosso pensamento comum era o de facilitar o trabalho e o acesso dos agricultores aos produtos, para desenvolverem suas culturas. Quais foram as dificuldades encontradas no início? Como foram superadas? Nadir: Tínhamos poucos recursos, poucas referências de negócios deste tipo e conhecimento limitado do mercado. A comunicação também era um desafio; no começo não
Sr. Nadir Rizzi.
Sr. Nelson Belenzier
tínhamos linha telefônica. Como éramos inexperientes, fomos desbravando fato a fato e buscando solução, conforme surgiam as dificuldades. Nós buscávamos o mercado, nunca ficamos esperando o mercado vir até nós. Nelson: Lembro de um fato curioso quando inauguramos a primeira filial, em Nova Petrópolis (RS). Como estávamos acostumados com a cultura italiana de Caxias do Sul, tivemos muita dificuldade em atender os clientes que vinham até o balcão falando alemão. Quais linhas de produtos e máquinas agrícolas, a Agrimar comercializa-
va quando chegou ao mercado? Nadir: Comprávamos os produtos em atacados de Porto Alegre e revendíamos em Caxias do Sul. Começamos com machado, foice, gadanho, plantadeira manual, sementes, alguns pulverizadores, pequenas máquinas, sulfato e adubo. Era uma camionete DKV que ia e vinha. Depois fomos incrementando com pulverizadores maiores e motores a gasolina. O marco mais importante foi em 1973, quando conquistamos as revendas de micro tratores Tobata e dos pulverizadores Hatsuta, que agregou equipamentos e alavancou a ampresa. Qual sua estratégia para se transformar numa grande empresa com dez filiais? Nelson: Além de muito trabalho e dedicação, foi o pioneirismo que nos fez crescer. Sempre fomos os primeiros a trazer as novidades para a região, em produtos e em serviços. Por exemplo, os sistemas de irrigação, fomos os primeiros a divulgar e promover. Outro fator importante foi a exclusividade, certos produtos e fornecedores só são encontrados na Agrimar. Nadir: O objetivo das filiais é um atendimento mais próximo do cliente e entregas mais rápidas. Assim também conseguimos trabalhar em cima das características de cada região, adequando os produtos com as necessidades locais. A abertura da filial de Nova Petrópolis foi provocada por um cliente de lá que vinha comprar em Caxias e pediu para ter uma loja mais
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Sr. Nelson e Sr. Nadir e as esposas Ilete Francescatto Bellenzier e Lourdes Milesi Rizzi.
próxima. Ele próprio alugou a parte da frente da sua casa e abrimos um ponto de venda. Quando os srs. perceberam que poderiam construir uma grande empresa? Nadir: Pela grande aceitação da Agrimar pelo mercado agrícola. Na verdade, nunca pensamos que um dia fossemos alcançar tantas conquistas. Como foi o processo de expansão da Agrimar? A empresa acompanhou a expansão agrícola no país? Nadir: O processo de expansão teve contribuição muito importante dos fornecedores, pois, a cada proposta de expansão de loja ou de linha de produtos, aceitavam o desafio e trabalhavam junto para o sucesso do negócio. Como avaliam o desempenho da agricultura e seu crescimento expressivo? O que uma empresa precisa para se dar bem nessa área? Nelson: Temos uma participação
importante no crescimento da produção de hortifruti na região e podemos falar isso sem modéstia. A Agrimar traz as inovações tecnológicas aos produtores e pessoas qualificadas para criar o conceito de venda com mais qualidade e produtividade. A grande transformação do mercado veio na década de 1990 com a agilidade de informação, a globalização, o intercâmbio de informações com o corpo técnico dos fornecedores e a apresentação aos produtores de outras culturas e novidades. Nadir: O desenvolvimento das máquinas, especialmente dos tratores traçados, promoveram uma evolução muito forte. As escolas técnicas qualificaram o pessoal para trabalhar na área e, mais recentemente, as faculdades de Agronomia em Caxias e Vacaria continuam contribuindo para o desenvolvimento do setor.
Quais são as principais conquistas e desafios do agro? Nadir: A implantação das novas tecnologias, de produtos, da genética e a variedade de sementes ainda hoje são importantes para a continuidade do crescimento. O grande desafio é a mudança de cultura acentuada nos últimos anos. Hoje as novas gerações aceitam as inovações, diferente do que era percebido há pouco mais de uma década. Qual foi o principal projeto que a empresa já realizou até agora? Nadir: A consolidação do negócio, com um bom conceito perante os clientes e na sociedade e a credibilidade dos fornecedores, sempre respeitando os processos dentro das legislações vigentes. Quais os diferenciais da Agrimar em relação a outras empresas do setor? Nadir: Diversidade de produtos e serviços, c orpo técnico especializado e pontos de comercialização próximos do cliente. Os próprios 45 anos de tradição de um trabalho ininterrupto são um grande diferencial. Quais os principais desafios das vendas pelo e-commerce? Qual a importância desse passo? Nadir: Para nós, ainda é uma expectativa e um desafio de fazer todos os processos, que são feitos há 45 anos “olho no olho”, com o uso de uma ferramenta atual. A linha da Agrimar Polaris também pode ser utilizada para o lazer. Como foi a entrada neste mercado – até então novo para a empresa? Nadir: Como os quadriciclos Polaris são utilizados normalmente no interior, seja pra lazer ou serviço, acompanham o alinhamento da Agrimar.
Eles seguem o objetivo de facilitar o trabalho do produtor e como isso agrega ao nosso negócio, está sendo uma boa experiência. Nestes dois anos de atuação, já estamos classificados entre as principais revendas Polaris do Brasil. O que recomendam para quem quer começar um negócio como o da Agrimar? Nadir: Tranquilidade para lidar com um mercado sazonal, identificação próxima com o produtor, dedicação, empenho, escolha de bons parceiros e prestar assistência técnica com eficiência. Nelson: Incentivar o desenvolvimento da agroindústria.
O que acha necessário para o produtor brasileiro continuar sendo referência no mundo? Nadir e Nelson: Continuar acreditando que o Brasil tem vocação para a agricultura e muito potencial em função do clima, da extensão da área e das inovações constantes. Aponte um sonho que gostaria de ver realizado na Agrimar e outro que gostaria de ver na agricultura brasileira. Nadir: Para a Agrimar, gostaria da perpetuação e continuidade do negócio. E também sermos lembrados como coadjuvantes no setor. Nelson: Para a agricultura brasileira, a base de sustentação ideal para a produção seria políticas públicas
para o campo, infraestrutura adequadas para escoar a produção e equilíbrio de recursos assegurados. Quais são as perspectivas para o futuro da Agrimar? Nadir: Dar continuidade ao processo de inovação em horticultura na região nordeste do Rio Grande do Sul e expandir para desenvolver e avançar no mercado de cereais (arroz, soja, trigo, milho). Nelson: Repetiríamos tudo o que passamos com a convicção que nossa missão acompanha o processo de produção do hortifrúti, bem como temos certeza que os próximos passos são no sentido de contribuir para o desenvolvimento da região.
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TECNOLOGIA
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Do laboratório para as roças MUDAS CLONADAS DE MAMÃO, ALGO INÉDITO NO PAÍS, SERÃO LANÇADAS NO MERCADO BRASILEIRO AINDA ESTE ANO
A Larissa Straci
Bioclone, empresa especializada em micropropagação de plantas (bioclonagem) para produção comercial de mudas clonadas em larga escala, surgiu em 2008 para suprir a demanda de mudas do mercado brasileiro. “A tecnologia de clonagem já existe há muitos anos, mas são pouquíssimas as biofábricas que existem no Brasil. Temos transferido a tecnologia de clonagem para variedades como banana, abacaxi e cana-de-açúcar”, relata Roberto Caracas, engenheiro agrônomo e sócio-diretor da Bioclone. A previsão é que em 2016 a biofábrica, que hoje tem cerca de 50 funcionários, consiga ocupar toda a sua capacidade máxima, que são cinco milhões de mudas por ano e ainda crescer em metro quadrado, por produtividade. Para este ano, uma novidade: a Bioclone, em parceria com a Top Plant, lançará mudas clonadas de mamoeiro Formosa e se tornará a primeira biofábrica brasileira a lançar esse produto. A tecnologia desenvolvida pela
A clonagem de mudas de banana ficou tão importante que a técnica é exigida para financiamentos
Bioclone minimiza problemas de produtividade, pragas e doenças gerados pelas mudas convencionais, proporcionando ao produtor rural a multiplicação rápida em períodos de tempo e espaço reduzidos, mantendo a identidade genética do material propagado e melhorando a qualidade fitossanitária. A empresa nasceu através de uma oportunidade de incubação para a transferência de tecnologia de clonagem de mudas, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta), coordenado pela Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza (CE), a fim de aproximar empreendedores da instituição. As incubadoras de empresas são
instituições (no caso, a Embrapa) que possuem estrutura física e administrativa para abrigar empresas e ajudá-las a se desenvolver, oferecendo diversos serviços e contribuindo para a criação de negócios inovadores. É o caminho mais rápido para que o conhecimento gerado por pesquisadores chegue ao mercado, sem ter que passar pelo processo burocrático de uma empresa pública. Confira a entrevista completa com Roberto Caracas e saiba mais sobre as vantagens das mudas clonadas: O que são as mudas clonadas? A muda clonada é uma técnica já muito antiga. Imagine que nossos avós pegavam um pedacinho de um galho de um arrozeiro, por exemplo, traziam para casa e plantavam.
Clonagem de mudas gera uniformidade na plantação
Aquilo já era uma clonagem. Só que, em nosso caso a gente faz uma micro propagação in vitro. Por exemplo, no caso da banana que é nosso carro chefe, nós pegamos os rizomos -- que é a parte mais interessante para se produzir a muda -- e dentro do rizomo existe uma região chamada ápice caulinar. Extraímos esse ápice caulinar e começamos a micropropagá-lo in vitro, o que também é chamado de bioclonagem. Gostaria de esclarecer que a clonagem que trabalhamos não tem nada a ver com transgênicos. Quais são as vantagens das mudas clonadas em relação a uma plantação convencional? Muitas. A primeira é que o produtor recebe uma muda onde tem ciência da sanidade daquele material. A muda convencional, se não houver certificação, não há como garantir que é livre de pragas ou doenças. No caso de banana, o produtor tem como sincronizar a colheita, portanto, ele já sabe a data certa de colher e, antes mesmo de plantar, já tem uma ideia de quanto vai produzir ou até mesmo já vendeu a fruta. Com a muda clonada, pode-se também produzir muitas mudas em um pequeno espaço de tempo. Posso produzir cinco milhões de mudas em nove meses. Com a muda convencional, não; quanto mais mudas, mais tempo vai precisar. O produtor tem uma garantia genética do material. Por exemplo, ao comprar uma muda clonada de banana maçã, ele sabe que das cem mil mudas, todas
são de banana maçã. Geralmente com a muda convencional, não há como garantir 100% a genética do material. Então, é uma técnica que, com que um pedaço da planta, pode-se produzir vários exemplares daquela planta. Além disso, possui vantagens como sanidade, produtividade e precocidade. A muda convencional de banana demora doze meses para produzir a fruta, o cacho. A muda clonada de banana, com nove meses já está produzindo, ela é mais precoce. As mudas clonadas são mais resistentes às adversidades climáticas? Por que? Não que ela seja mais resistente, mas se pegarmos um material resistente ela vai ser a cópia daquele -- 100% das plantas que eu produzir serão iguais à primeira planta. Se ela for resistente a uma doença, por exemplo, o material que pegar vai ser igual. A questão da produtividade, se eu pegar um material, ele vai ser idêntico. Além disso, a técnica faz com que a genética da planta fique mais apurada. Existem estudos que mostram um aumento de 30% de produtividade da banana com a muda clonada quando comparada a uma muda convencional. Inclusive, a utilização de mudas clonadas é uma exigência de algumas instituições, como o Banco do Nordeste e o Banco do Brasil, quando estes fazem um financiamento agrícola para o produtor. No caso de banana, eles só aprovam o projeto, se o produtor garantir que o plantio dele será feito com mudas clonadas.
Qual o grande diferencial das mudas clonadas de mamoeiro Formosa? Sobre o mamoeiro, na verdade, este trabalho ainda está num estágio de pesquisa. Não existe nenhuma biofábrica no Brasil que produza mudas de mamoeiros clonadas e nós estamos desenvolvendo essa pesquisa. O trabalho será desenvolver, assim como fazemos com a banana, cana e abacaxi, mudas clonadas de mamoeiro. Vamos começar com o mamoeiro Formosa que é o mamão mais plantado no Brasil e possui maior mercado do que outros grupos (dentro do grupo Formosa temos algumas variedades). A ideia é que em meados do mês de novembro já tenhamos materiais para oferecer ao mercado. Nós temos alguns resultados bastante promissores. Já conseguimos a muda. O que precisamos ainda é validar alguns estudos para liberar essa muda para o mercado. Os únicos lugares em que essa tecnologia está disponível no mercado é em Taiwan, na China e no Hawai, então é algo muito inédito a ser realizado. Porque o uso de mudas clonadas é importante para a fruticultura? Se o produtor está começando um novo projeto em fruticultura, ele já começa com o pé direito porque a muda é uma garantia e ele já começa com todos esses valores agregados no produto e, assim, sai na frente. Ele aumenta a produtividade por hectare e, se for uma área nova, o produtor evita a introdução de novas doenças e pragas. Custos com controle ele sempre terá, sendo mudas clonadas ou convencionais, mas pelo menos não está correndo o risco de estar disseminando, espalhando doenças de uma hora para a outra.
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PALAVRA DA CIÊNCIA
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Polpa de mangaba
Viabilidade industrial da Mangaba
A
Danielle Godinho de Araújo Perfeito (IFGoiano – Campus Urutaí), Natália Carvalho (FEA – Unicamp), Flávio Luís Schmidt. (FEA – Unicamp)
mangaba também é conhecida como mangabiba, mangaíba, fruta-de-doente. A palavra mangaba é de origem tupi guarani e significa “coisa boa de comer”. De acordo com Lederman et al. (2000), a mangabeira é uma árvore frutífera nativa de várias regiões do Brasil estendendo-se pela Costa Atlântica desde o Amapá e o Pará, nos tabuleiros costeiros e nas baixadas litorâneas do Nordeste, até o Espírito Santo, por toda a região de Cerrado do Brasil Central até o Pantanal, ocorrendo também em países vizinhos como Paraguai, Bolívia, Peru e Venezuela. Ocorrem em regiões de vegetação aberta, como cerrados, tabuleiros arenosos, chapadas e caatingas (Vieira Neto, 2001). A ocorrência natural da planta
em solos pobres, acidentados, não utilizáveis para a agricultura é favorável para a preservação e valorização dessas áreas. A mangabeira é um arbusto com 2 a 6 metros de altura por 4 a 6 metros de diâmetro de copa irregular (Avidos e Ferreira, 2010). O tronco é tortuoso, bastante ramificado e áspero. Toda a planta exsuda látex, o qual é empregado na região como medicamento caseiro para tratamento de tuberculose e úlceras. No Nordeste do Brasil, a mangabeira apresenta duas floradas por ano, com colheitas de julho a setembro e de janeiro a março (Aguiar Filho; Bosco; Araújo, 1998). Na região do Cerrado, ocorre apenas uma safra de frutos por ano, no período de outubro a dezembro (Silva et al., 2001).
Aproveitamento total, mas com base no extrativismo O maior aproveitamento da mangaba ocorre na forma do produto beneficiado, como polpa, sucos, doces, geléias, licores e sorvetes. De acordo com Pereira et al. (2006) o melhor aproveitamento do fruto é na produção de sorvetes, porque contém alto teor de goma que estende as propriedades funcionais de ligação, retenção de sabor e aroma e inibição da formação de cristal. O consumo do fruto foi difundido no Cerrado Goiano na forma de sorvete. Praticamente toda produção de mangaba é proveniente do extrativismo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os Estados de maior produção são: Sergipe 55,5%, Bahia 19,7%,
Paraíba com 13,7% seguido do Rio Grande do Norte com 6% e Alagoas com 4 % do total de mangaba produzido no Brasil. Na região do Cerrado, também prevalece a atividade extrativista, com registros de apenas um plantio comercial com 800 plantas adultas, até o momento. A produção das mangabeiras nativas do Cerrado é variável: até 188 frutos/ planta (REZENDE et al., 2002 apud PEREIRA et al., 2006). Inicialmente a comercialização dos frutos da mangabeira restringia-se às feiras livres e à margem das rodovias. Atualmente, os extrativistas do Cerrado estão se organizando na forma de cooperativas.
Características atrativas para ag roindústria Um estudo de doutorado da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp avaliou mangabas da safra de 2010 adquiridas na região Sudeste de Goiás junto a Estação Experimental da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Ipameri e revelou que essa fruta tem características muito atrativas para o setor agroindustrial. Primeiro porque apresentou alto rendimento em polpa (77%) e segundo pela boa estabilidade física, principalmente quando o assunto é o néctar, a bebida não tem a separação de fases, o que é comum nos néctares de outras frutas,
os quais até informam o consumidor na embalagem com o termo “agite antes de beber”, sendo então uma boa opção para aumentar o período em que a fruta permanece adequada para consumo. O cenário da indústria de sucos no Brasil mudou bastante a partir de 1997 com o aumento do consumo de sucos e néctares prontos para beber. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a alimentação saudável e o suco de fruta pode ser um grande aliado para uma dieta saudável. O estudo envolvendo o processamento de frutos nativos, como a mangaba, na forma de néctares amplia a oferta de sabores aos
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consumidores, difunde o consumo do fruto, favorece o crescimento da indústria regional além de proporcionar a preservação das áreas nativas de cultivo da mangaba.
Viabilidade econômica e geração de renda Baseado nesse contexto, foi realizado um estudo sobre a viabilidade econômica de uma unidade produtora de néctares de frutos do Cerrado. Considerando o processamento de 300 kg/h de fruto in natura com regime de trabalho de 8 h por dia em 22 dias por mês durante 12 meses, o investimento fixo estimado foi em torno R$ 438.166,00. Considerado investimento fixo todo o investimento em equipamentos, utilidades, controle e automação, laboratório, construção civil, instalações elétricas, hidráulicas e supondo a doação do terreno por parte do Governo. Um fluxograma genérico do processo de produção de néctar a partir das frutas é apresentado na Figura 3.
Pela análise de fluxo de caixa a unidade processadora de néctares apresentou viabilidade econômica com taxa interna de retorno (TIR) de 39,54% para o projeto sem financiamento e 83,02% para o projeto com financiamento. Em ambos os estudos, os valores da taxa interna de retorno foram superiores às taxas de juros vigentes para implantação de
Frutos da mangabeira
Fluxograma genérico do processo de produção de néctar de frutas
projetos agroindustriais, nesse estudo a taxa de juros foi 7,9%, relativa ao programa BNDS automático, linha MDME investimento para micro, pequenas, médias e média-grandes empresas. Na avaliação do tempo decorrido entre o investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido acumulado se iguala ao valor desse investimento (o payback), no projeto com financiamento o payback foi de dois anos e quatro meses. A instalação da Unidade Produtora de Néctar é promissora e pode fortalecer a economia local, gerar empregos diretos e indiretos, e aumentar a arrecadação e a sustentabilidade ambiental.
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POMICULTURA
Fotos: Embrapa Uva e Vinho
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A
Maçã fora do Sul VARIEDADES QUE EXIGEM MENOS HORAS DE FRIO DURANTE O ANO PERMITEM ABERTURA DE MERCADO PARA PRODUTORES DO SUDESTE E NORDESTE Larissa Straci
região Sul do Brasil é a maior produtora de maçãs do país. Por precisar de frio para se desenvolver, a fruta é cultivada tradicionalmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que levaram o país a se tornar o 9º maior produtor mundial, com 1,063 milhão de toneladas
produzidas em 2013, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM). No entanto, pesquisas adaptaram a fruta de clima frio e algumas variedades mais resistentes surgiram, levando as macieiras para outros estados. O objetivo é produzir na época em
que a oferta de frutas vindas do Sul diminui e abastecer o mercado. É o caso da variedade Eva, produzida em Paranapanema, interior de São Paulo. “Ela se adaptou melhor ao nosso clima, é a variedade mais propícia para a produção. Para frutificar, ela não precisa de
tanto frio como as variedades Gala e Fuji, altamente cultivadas no Sul”, explica Edivaldo Benevenutto, gerente comercial da Cooperativa Agroindustrial Holambra. A baixa exigência de período de frio da Eva, cerca de 350 horas por ano, possibilita o plantio em microrregiões do Sudeste e do Nordeste do país. O pomicultor Henrique Kievitsbosch planta a variedade Eva há dez anos em Paranapanema, atingindo produtividade de 30 a 40 toneladas por hectare, nos dez hectares cultivados. “O grande diferencial da Eva é que, em razão de ser uma variedade precoce, colhida nos meses de novembro e dezembro, é uma fruta fresca, mas que concorre com a fruta estocada no Sul”, garante o produtor. Na produção de Kievitsbosch, a maçã entra como um complemento. “O pêssego acaba em novembro, em dezembro eu colho a maçã e em janeiro, produzo abacaxi. Então, ela me ajuda na continuidade das frutas”, comenta. Com seis produtores, sendo quatro cooperados, a Cooperativa Holambra comercializou em 2014 cerca de 900 toneladas de maçã, e em 2015 a perspectiva é de que essa produção
continue estável. “A entressafra do Sul se tornou um excelente negócio para os produtores da região, no entanto é necessário não perder o ponto entre a oferta e a demanda da fruta. Quando a safra do Sul começa a ser comercializada, os preços caem rapidamente”, comenta Benevenutto.
Produção de maçã no Nordeste Maçãs estão sendo desenvolvidas de modo experimental na Unidade de Obser vação de Viticultura e Frutíferas Temperadas – criada em 2010, por meio de convênios entre a Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia (Seagri) e a Associação de Criadores e Produtores da Região de Morro do Chapéu (BA), em parceria com a Prefeitura Municipal. A primeira colheita de maçãs ocorreu no último mês de fevereiro, com a presença de técnicos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), vinculada à Seagri, e pesquisadores da Embrapa. Plantadas há um ano e quatro meses, mudas de quatro variedades de maçãs serão avaliadas na Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), com a finalidade de observar sua viabilidade econômica.
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POMICULTURA
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boa. A temperatura máxima e mínima que ocorre durante o dia tem uma variação muito grande. Isso é muito importante para a coloração da fruta. Ela fica mais vermelha, que é a coloração que o mercado quer”, acrescenta o pesquisador.
Colheita em qualquer época, uma possibilidade
Acima, Pomar de Paranapanema (SP). Ao lado, Maçãs
maçãs em
paulistas são colhidas
Foto: Sigma
no final do ano
“Vamos fazer a pesagem desses frutos, para ver qual foi a produção por planta e fazer a avaliação do calibre, ou seja, do tamanho, para saber qual o percentual que está apto a ser comercializado. Depois vamos realizar uma análise química de brix [açúcar], acidez, e sólidos solúveis totais, e manter os frutos refrigerados, para identificar qual o tempo pós-colheita que cada uma dessas variedades vai
ter”, explica o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, Paulo Roberto Coelho Lopes. O observatório de frutas é pioneiro na região. As condições do solo, a altitude de mais de mil metros e o clima de Morro do Chapéu são fatores que contribuem para o plantio. “A condição climática para produção de maçã aqui é excelente, porque temos uma amplitude térmica muito
Em parceria com agricultores, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) está colhendo safras de maçã no Nordeste. A viabilidade destes cultivos no Semiárido vem sendo avaliada pela Embrapa em áreas irrigadas dos estados de Pernambuco, Ceará e Sergipe. Os resultados são promissores, com boa produtividade, qualidade dos frutos e – o que é o grande diferencial da região – possibilidade de colheita em qualquer época do ano. O objetivo do trabalho é possibilitar a produção dessas culturas em épocas diferenciadas das tradicionais regiões produtoras, o que vai possibilitar aos agricultores a conquista de melhores preços e mercados. “Os frutos que chegam ao mercado nesse período já passaram por vários meses resfriados, com perda de qualidade”, explica Paulo Roberto Coelho Lopes, pesquisador da Embrapa Semiárido, que coordena o projeto de desenvolvimento do cultivo da maçã na região. Entre as variedades cultivadas na região de testes da Embrapa estão: Patrícia e Eva (criadas no Instituto Agronômico do Paraná), Julieta (criada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural – Epagri - de Santa Catarina).
DIFICULDADES NA PRODUÇÃO ‘FORA DO CLIMA’ Atualmente, a produção de maçã em Paranapanema é de cerca de 30 hectares. “De 2005 a 2011, foram implantados cerca de 60 hectares na região. Assim em 10 anos, metade do que foi implantado já não existe mais”, comenta Fernando Mascaro, engenheiro agrônomo da Sigma Amgroambiental, responsável por introduzir a variedade Eva naquela região paulista. Entre as dificuldades iniciais da implantação, o agrônomo destacou a falta de conhecimento técnico
dos tratos e manejos culturais da cultivar, o calor excessivo e altas precipitações no verão, o que aumentou as doenças e causou perdas em excesso. “Entre as dificuldades atuais estão: concorrência de serviços com as frutas de caroço, já que a formação dos pomares de maçã exige muita mão de obra. A Eva concorre com serviços nos pomares de frutas de caroço precoces, como o raleio e a colheita, assim alguns pomares não foram conduzidos de forma adequada e com isso tiveram sua capacidade produtiva comprometida. Na comercialização, a
rentabilidade também fica abaixo do esperado, mesmo sendo colhida em uma época de baixo estoque de maçã nacional (dezembro e janeiro), mas, por não ter volume expressivo de venda, os preços obtidos são insatisfatórios”, aponta ele. Segundo Mascaro, a cultivar precisa de melhoramento em algumas questões, como a coloração e o aumento da vida útil – hoje em torno de um mês. Além disso, “é muito sensível a algumas doenças de verão (Glomerella), e necessita de constantes pulverizações em pré e pós-colheita.
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Laranja na rede
Alessandra Sodré encontrou na comercialização pela internet a saída para maior rentabilidade da fazenda
A
queda do consumo da laranja no mercado internacional em 2012 causou impactos na produção brasileira. Os preços, muito abaixo dos custos de produção, impostos pela indústria, transformaram a realidade de algumas regiões tradicionais do cultivo da fruta no Estado de São Paulo. Para tentar driblar a crise e reduzir a dependência exclusiva da indústria, pai e filha resolveram investir em uma solução criativa. Alessandra Sodré e o pai, o produtor rural Pedro Conde, tomam conta de uma propriedade de 580 hectares, em Sorocaba (SP). A Fazenda São Pedro possui mais de 150 mil pés de laranja e a maior parte, cerca de 180 mil caixas ao ano, vai para a indústria. Apesar de a propriedade ser grande, a crise da laranja também atingiu a
Foto: Divulgação/ Laranjas Online
VENDA DE LARANJAS VIA INTERNET ESTÁ AGRADANDO CONSUMIDORES DA CAPITAL PAULISTA. CRISE DA FRUTA, EM 2012, FEZ PRODUTORES BUSCAREM NOVA ALTERNATIVA PARA AS VENDAS
família e por isso, Alessandra criou um site de vendas de laranjas online, o www.laranjasonline.com. A venda de laranjas pela internet ainda é uma novidade, mas já está conquistando o público de São Paulo (SP), especialmente por conta do sistema de entregas. No início do negócio, a própria Alessandra ia até a fazenda, buscava as laranjas e entregava-as na porta de cada cliente. Hoje, a empresa comercializa mil caixas de laranja por mês, somente pela internet. A fazenda produz cinco variedades de laranja - Hamlin, Pêra-Rio, Rubi, Valência e Natal - tanto pelo método convencional quanto pelo orgânico. Conheça um pouco mais da história do site, na entrevista com Alessandra Sodré:
Como surgiu a ideia do Laranjas Online? No ano de 2012 iniciou-se a crise da laranja e, em um final de semana enquanto caminhava pela fazenda vi uma grande quantidade de laranjas que haviam sido dispensadas pela indústria, caindo dos pés, perdidas. Laranjas que não poderiam ser doadas, não havia o que fazer. Logo pensei que não poderia deixar isso acontecer novamente, pois precisava ajudar a fazenda a resolver este grande problema, que era a dependência exclusiva da indústria. Você encontrou alguma dificuldade no início do negócio? Teve que se adaptar ao mercado? Acredito que tivemos a grande sorte de entrar em um nicho de mercado onde não temos competição. Além disso, lidamos com um produto que todo brasileiro tem o hábito de ter em sua casa. O mais difícil, acredito eu, é explicar para o cliente as diferentes variedades de laranja, além das variações climáticas e seu impacto direto em nosso produto. Como foi o crescimento das vendas e do site? O nosso crescimento foi bem lento. Comecei com aproximadamente 50 clientes. Eu entregava pessoalmente as laranjas na casa de cada cliente. Aos poucos fui crescendo, comecei com uma propaganda em um site de vendas, evolui para vendas pelo Facebook até que finalmente criei a minha página, o Laranjas Online. Como a empresa funciona? Os pedidos são feitos pela internet, en-
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tram em nosso sistema e as entregas são separadas por regiões. As laranjas são colhidas diretamente de nossa fazenda em Sorocaba (SP) e seguem duas vezes por semana para São Paulo. As frutas são entregues até três dias após a colheita, ou seja, se são colhidas na segunda-feira, são entregues até quinta-feira na casa do cliente ou no supermercado. Quais são os benefícios deste formato de compras para o consumidor? No caso da laranja, acredito que o grande benefício é a facilidade de não ter de carregar os pesados e inconvenientes sacos com a fruta. Nós os entregamos na porta da casa do cliente, sem custo adicional. Quais são os principais desafios das vendas online? O principal desafio é o cliente conhecer a qualidade do produto. Além disso, a logística é outro grande desafio que enfrentamos, pois o trânsito de São Paulo mais atrapalha do que ajuda. A venda de alimentos pela internet é uma tendência para o futuro? Acho que facilitará bastante a vida das pessoas. Até porque está ficando cada vez mais difícil as pessoas se locomoverem por São Paulo, além de terem menos tempo de frequentar supermercados e feiras. Quais são os planos para o futuro do Laranjas Online? Pretendo primeiramente criar um sistema de cobranças online, que ainda não temos e nos faz muita falta. Com isso, poderemos expandir nossa área de entregas e atender um maior número de clientes. Também estamos iniciando agora a venda de laranjas para pequenos comerciantes. Pessoas que não compram em larga escala, como a indústria, mas que buscam frutos de boa qualidade para revender.
LANÇADA PRIMEIRA VARIEDADE BRASILEIRA DE PÊSSEGO ACHATADO
A
cultivar BRS Mandinho, lançada pela Embrapa Clima Temperado (Pelotas/RS), é o primeiro pêssego tipo platicarpa (chato ou bolachinha) produzido no Brasil. Importada da Europa e dos Estados Unidos para os supermercados nacionais, a variedade agora é uma opção para os produtores brasileiros, com registro de produtividade de 14 toneladas/ha, em pomares adultos. A produção da nova variedade é viável em campos brasileiros em razão de sua adaptação para cultivo em regiões com menos de 150 horas de frio no inverno, maturação na segunda quinzena de novembro e com produtividade atrativa. A BRS Mandinho possui frutos doces, de polpa firme e cor amarela, com leve acidez. O fruto mede cinco centímetros de diâmetro contra os cerca de sete das frutas importadas, e apresenta caroços de dimensões proporcionais. A Embrapa realiza pesquisas com a fruta platicarpa há 20 anos, metade dos quais foram dedicados especificamente à nova cultivar de pêssego achatado apropriado às condições locais de cultivo, conforme explica a pesquisadora Maria do Carmo Raseira, responsável pelo desenvolvimento do novo pêssego. A variedade foi testada em algumas regiões dos estados de Santa Catarina (Urussanga e Pedras Grandes), Paraná (Araucária), São Paulo (Jarinu e Paranapanema), Minas Gerais (Barbacena) e Espírito Santo (Domingos Martins). As mudas da BRS Mandinho estarão disponíveis julho de 2015, para viveiristas cadastrados no site www.snt.embrapa.br. Em outubro de 2017, os primeiros frutos disponíveis chegarão aos supermercados nacionais. *Com informações da Embrapa Clima Temperado
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OPINIÃO
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Fruticultura sob ameaça
Marcelo Lopes da Silva, pesquisador da unidade de Entomologia, Laboratório de Quarentena Vegetal, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen)
m 2014, a presença de outras pragas foi oficializada: a mosca drosófila-das-asas-manchadas (Drosophila suzukii) e o bicudo-da-acerola (um besouro) (Anthonomus tomentosus). A mosca foi encontrada no Rio Grande do Sul atacando morango e o bicudo, no estado de Roraima. A drosófila já era uma presença previsível, pois estava disseminando-se naturalmente pelo mundo com uma rapidez incomum. De forma diferente, o bicudo-da-acerola era praticamente desconhecido, uma surpresa. O trabalho conjunto entre a Embrapa, Ministério da Agricultura e a ajuda de especialistas foram decisivos para a identificação e a tomada de medidas para diminuir o impacto negativo destas pragas. Em 2014, também tivemos o que comemorar: o Brasil erradicou uma praga da maçã, a Cydia pomonella. Esse acontecimento coloca nosso país no rol de um seleto grupo de países que conseguiram exterminar uma praga da agricultura dentro de seus territórios. Dado o tamanho do Brasil, o feito é notável. O problema da invasão de pragas é mundial: um estudo publicado pela Universidade de Exeter (Inglaterra) demonstra que um número cada vez maior de espécies invadem novas áreas no mundo. Podemos chamar este processo de uma “bioglobalização” indesejável. O fenômeno começa a se concentrar especialmente em países com grandes áreas agrícolas nos trópicos. Mais de uma centena de pragas quarentenárias (reconhecidas de maneira oficial como ameaças à agricultura brasileira) já está nos países sul-americanos. Esta situação é preocupante para o setor de
produção de frutas. Os frutos são meios eficientes de disseminação de pragas e mesmo com as exigências de segurança fitossanitárias para importação, o risco não é zero. Entretanto, outro aspecto preocupa: é factível que um volume de frutos possa entrar no Brasil na bagagem de viajantes, um risco estatisticamente admissível. Controlar a pragas da fruticultura com o uso de produtos químicos é complexo, em razão do consumo in natura. Para a liberação de controle químico há exigências rigorosas de segurança. O quadro é agravado pelo incipiente controle biológico adotado na produção. Também, a contenção de pragas quarentenárias consome recursos financeiros e ocasiona impactos econômicos locais. Se estas práticas não forem eficientes no seu objetivo, o investimento nelas passará a ser contabilizado como prejuízo. O cenário que se descortina impõe uma priorização da defesa da nossa agricultura. Primeiramente, devemos saber quem são os nossos principais inimigos e o que eles ameaçam. Em segundo, devemos monitorá-los no nosso território e finalmente, saber o que fazer e fazer de forma rápida quando encontrá-los. Entretanto, essa ótica simplista se esfacela quando temos que enfrentar o que não estava previsto. Sabendo-se que há muitas ameaças rondando a agricultura brasileira, uma parcela de surpresas pode ser esperada. A ciência não tem bola de cristal e risco avaliado não é previsão certeira. Não há dúvida: o desafio imposto pelas pragas invasoras é grande, mas temos que enfrentá-lo, se quisermos continuar a produzir alimentos de forma segura no futuro.
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SAÚDE NO PRATO
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V
Delícia vermelha
ermelho, pequeno e saboroso. Essas características fazem do morango uma das frutas mais conhecidas em todo o mundo. O morangueiro é uma planta nativa da Europa e, hoje em dia é cultivado com sucesso em grande parte do planeta. Na era romana, era valorizado por suas propriedades terapêuticas: foi utilizado para curar diversos tipos de doenças. Os morangos começaram a ser cultivados no século XIII, contudo, os imigrantes trouxeram o morango para o Brasil somente em meados do século XIX. O cultivo começou no Rio Grande do Sul e em São Paulo a partir de 1960, graças às cultivares do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O melhoramento genético e o aumento da produção popularizaram a fruta no país. Segundo a Embrapa, no Rio Grande do Sul, o Vale do Rio Caí é o principal produtor de moran-
gos de mesa, seguido de Caxias do Sul e Farropilha, enquanto Pelotas e municípios vizinhos se destacam na produção de morango-indústria. Em Minas Gerais, o morangueiro foi introduzido no município de Cambuí, no Vale do Peixe, por volta de 1958. Hoje, ocorre na maioria dos municípios do extremo sul mineiro, com Pouso Alegre e Estiva liderando a produção, além de Barbacena e municípios vizinhos. Em São Paulo, o morango concentra-se nas regiões de Piedade, Jundiaí e Atibaia, que representa 60% da área cultivada, e em municípios próximos. A cultura é praticada por pequenos produtores rurais que utilizam a mão-de-obra familiar, durante todo o ciclo, sendo a maior parte da produção destinada ao mercado in natura. Ainda segundo a Embrapa, a produtividade média por Estado, em toneladas por hectare, é de 32,7 no Rio Grande do Sul; 21,3 no Paraná; 25,2 em Minas Gerais; 34 no Espírito Santo e São Paulo. Preços
mais elevados ao produtor ocorrem até julho, antes do pico de produção que ocorre em agosto e setembro.
Morango é saúde A cor vermelha do morango se deve a presença do licopeno, que age como antioxidante e é famoso por seu efeito preventivo contra o câncer, em especial, o da próstata. A delícia vermelha também é fonte de vitamina B5, vitamina C, ferro e fibras. O primeiro nutriente tem como função evitar problemas de pele, do aparelho digestivo e do sistema nervoso. Já a vitamina C contribui para a formação e resistência dos ossos, dos dentes e dos tecidos, age contra infecções virais e bacterianas e auxilia na cicatrização de ferimentos. O ferro faz parte da formação do sangue, sendo de grande relevância para evitar a anemia. A fibra é indispensável para o bom funcionamento do intestino, além de ser muito útil para diminuir a absorção de açúcar e de gordura no organismo, reduzindo assim, suas taxas no sangue.
COMPOTA DE MORANGO Lave duas caixas de morango, retirando os cabinhos. Depois, cozinhe as frutas em fogo baixo por dez minutos, no próprio caldo. Acrescente açúcar a gosto. Retorne ao fogo por mais três minutos. Estão prontas 250g de compota.
Revista da Fruta • Março 2015 •
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