Entre em um mundo oculto de magia, mistério, perigo e romance nesta fantasia YA da autora best-seller da Amazon, Rachel Morgan ... Proteger os seres humanos de perigosas criaturas mágicas é normal em um dia de trabalho para uma faerie treinando para ser uma guardiã. Com dezessete anos de idade, Violet Fairdale sabe disso melhor do que ninguém, ela está prestes a se tornar a melhor guardiã que a Guilda já viu nos últimos anos. Isto é, até um bonito menino humano que pode de alguma forma ver através de seu glamour das faeries a seguir para o reino Fae. Agora, ela está quebrando a Lei da Guilda, um crime que podia acarretar sua expulsão. A última coisa que Vi quer fazer é gastar mais tempo com o menino que a colocou nesta confusão, mas a Guilda exige que ela leve Nate a sua casa e o faça esquecer tudo o que ele descobriu do reino Fae. Fácil, certo? Não quando você tem parentes Fae com más intenções, membros da família há muito perdidos e sentimentos inconvenientes do tipo romântico. Vi está prestes a acabar em uma trama perigosa que necessitará de todo seu treinamento para mantê-la viva.
Regra da Guilda Nยบ 2: Nunca se revele a um ser humano.
Regra da Guilda Nยบ 1: Nunca traga um humano para o reino das Fae.
PARTE I
Capítulo 1 Minha missão hoje à noite é mais bonita do que a maioria. Ele está dormindo em sua mesa, sua bochecha colada à página aberta de um livro. Fios de cabelo branqueados do sol caíam em sua testa, e seus lábios ‒ os quais eu posso ou não ter estado admirando pela última meia hora ‒ estavam abertos. Eu deslizo para fora do assento na janela e rastejo por todo o quarto. Ele é maior do que eu pensava, e com sofás e uma televisão arranjados para formar uma área de estar separada, é mais como uma suíte de hotel do que um quarto comum. Ótimo. Mais lugares para as coisas se esconderem. Eu me encolhi em um canto sombreado e esperei. Pelo que, exatamente, eu não estou certa ‒ os Videntes nunca Viam mais do que um vislumbre do que podia acontecer. A respiração estável do garoto enche o quarto. Uma brisa levanta a cortina, e eu pego o brilho de um poste de luz na Avenida Draven. Inspira. Expira. Inspira. Expi... Lá estava ela! Com um silvo, os traços da mulher serpente atravessam todo o quarto, a luz da lâmpada refletindo a pele escamosa. Eu estico meus braços em posição e sinto o calor espinhoso do arco e flecha quando eles se materializam em
minhas mãos. Eu puxo para trás e solto. A flecha voa através do quarto em uma chuva de faíscas laranja-ouro, encontrando seu alvo no ombro da reptiliana. Ela grita, tropeça, e se vira em minha direção. Seus olhos pretos perfuram os meus. — Já está acontecendo, — ela sussurra. Ela rasga a flecha de seu ombro ‒ um movimento que deve ter realmente doído ‒ e investe para o garoto. Eu lanço meu arco de lado e mergulho para ele também, derrubando sua figura dormindo para o chão. Ele está acordado agora, o que não é o ideal, mas pelo menos ele não consegue nos ver. Eu o lanço para fora do caminho e salto sobre meus pés, apenas a tempo para a reptiliana se atirar em mim. Estamos no chão. Ela enterra suas presas em meu braço, mas eu mal registro a dor pungente. Eu ouço a voz de Tora em minha cabeça: Dobre os joelhos, arqueie suas costas, empurre o seu adversário logo depois. Arremesso meu corpo para ela e prendo a reptiliana para baixo pela sua garganta, minha mão livre já alcançando outra flecha. Eu a trago para baixo rapidamente, em linha reta em direção ao coração dela. Mas ela se foi. Felizmente. Eu odeio quando tenho que matá-los. Com uma respiração pesada, eu desmorono contra a parede mais próxima, ainda segurando a flecha. O cordão que segurava meu cabelo para trás se desfez, e emaranhados de roxo e preto caíram no meu rosto. Eu os afastei, e comecei a sentir a dor formigando da mordida da reptiliana. — O que... diabos... foi isso? Eu levanto meus olhos. O garoto está olhando para mim. Para mim! Meu coração vacila. Eu mentalmente sinto meu glamour, a magia que devia estar me tornando invisível agora. Ainda está no lugar, eu tenho certeza de que está. Então como ele pode realmente me ver? Isso é ruim. Isso é muito ruim.
A poucos passos de mim, o garoto se empurra para cima sobre seus joelhos. — O que acabou de acontecer? — Hum... — Merda, eu vou perder tantos pontos por isso. — E o que diabos é isso? Eu sigo seu olhar para a flecha em minha mão. Ela brilha com sua própria luz, como se feita de centenas de minúsculas estrelas brancas e quentes. Eu posso ver como isso pareceria estranho a um ser humano. Eu soltei a flecha. Ela desaparece, fazendo com que os olhos do garoto abrissem ainda mais abertos. — Bem, eu realmente deveria ir. Levanto, esperando que minha stylus ainda esteja em minha bota. — Espere. — Ele se coloca em pé. — Quem é você? O que você está fazendo aqui? O que era aquela... coisa? — Aquela coisa? — Eu casualmente chego para trás na parede. — Oh, você sabe, apenas um produto do seu subconsciente. E todo aquele sorvete que você comeu antes. Indigestão pode criar alguns sonhos interessantes. — Eu tremo internamente. Sonhos? Que idiota acreditaria nessa explicação? Suas sobrancelhas se unem. — Eu acho que poderia fazer sentido. Você é muito mais atraente do que qualquer garota da vida real que conseguiu encontrar seu caminho para o meu quarto. Isso não está acontecendo. Eu deslizo minha mão em cima da minha bota e recupero minha stylus. — Você precisa acordar e continuar a estudar, — eu digo ao garoto. Então, eu me viro para a parede e rabisco algumas palavras nela. A escrita brilha e desaparece, e uma porção da parede derrete como uma faixa perto demais de uma chama. — Adeus, — eu falo sobre meu ombro. Eu entro na escuridão, mantendo duas palavras em minha mente: Creepy Hollow.
***
— Ow! — Ele agarra meu braço ‒ o braço que está apenas começando a curar da mordida da reptiliana ‒ e eu tropeço no caminho invisível. Minha mente perde a posse do meu destino e eu caio fora da escuridão no chão da floresta. Eu não costumo sair dos caminhos de forma tão desajeitada, mas eu geralmente não tenho um humano em cima de mim. A realidade disso acaba de me dar um tapa na cara. Um ser humano. No reino fae. E eu o trouxe para cá. Não. Não. Não. NÃO. Eu dou um bom pontapé no garoto e ele aterrissa no chão ao meu lado com um gemido. — Por que você fez isso? — Eu grito, saltando para os meus pés. — Você não pode me seguir! Não é assim que funciona. Ele senta e olha para o redor ‒ as árvores descontroladamente emaranhadas; a névoa rastejante; a fumaça mudando as cores nas folhas das plantas europeias ‒ com uma mistura de horror e espanto no rosto. — Isso... foi... — Provavelmente, a coisa mais idiota que você já fez, — eu disse. Eu duvido que ele esteja me ouvindo, embora. — Acho que você estava certa sobre a coisa do sonho, — ele disse. — De jeito nenhum isso poderia ser real. Eu estou drogado? — Ugh. — Eu cerro os punhos com tanta força que posso sentir minhas unhas cravando na minha pele. — Isso é magia, seu idiota. Ele olha para mim e franze a testa. — Não existe magia.
— Bem, você provavelmente acha que não existe faeries também, e ainda assim aqui estou. — E aqui está ele. Em minha floresta. Minha casa. Eu chuto uma enxurrada de folhas para o ar. Suas cores mudando rapidamente em protesto, fazendo um ciclo através de uma palheta infinita: lavanda, magenta, bordô, marrom-avermelhado. Eu enterro meu rosto em minhas mãos. Eu falhei muito nessa missão. — De jeito nenhum, — ele diz, farfalhando as folhas enquanto se levanta. — Você não pode ser uma faerie. Você é muito grande. Eu abaixo minhas mãos. — Como é? — Eu já fui chamada de muitas coisas em meus dezessete anos, mas “grande” nunca foi uma delas. Muito pelo contrário, na verdade. — Faeries não deveriam ser, tipo, realmente minúsculas? Com asas e uma varinha e pó das faeries? — Eu não sou a Tinker Bell! Ele dá um passo para trás. — Ok, ok. Já que isso é um sonho, eu acho que você poder ser o que você quiser ser. — Pareceu como um sonho quando eu chutei você bem agora? — Na verdade, aquilo meio que doeu. — Ele esfrega a perna. Eu balanço a minha cabeça. — Isso é um erro enorme. Você não deveria estar aqui. Ele cruza os braços. — Então você não tem asas? — Ele pergunta, ignorando completamente o que eu acabei de dizer. — Claro que sim, elas estão no meu bolso. — Sério? — Não! — Eu estou tentando pensar na melhor forma de corrigir isso, e gostaria que ele apenas ficasse quieto. — Oh, espere, você tem uma varinha. Eu vi você usar na minha parede.
— Não é uma varinha, ela é chamada de stylus. Apenas um pedaço de pau, na verdade. — Mas ela... — Sabe, se não fosse o meu único objetivo na vida proteger os humanos como você de faes mágicos loucos, eu deixaria você encontrar seu próprio caminho de casa. — Era o que você estava fazendo em meu quarto? — Ele pergunta depois de um momento. Eu suspiro. Por que eu estou dizendo a ele qualquer coisa sobre isso? — Sim. Eu estava em missão. — Eu era sua missão? Uau, você pega rápido. — Sim. Ele hesita um momento, então sorri. — Isso é meio que sexy. — Ok, escute. Avenida Draven, — eu disse antes que ele pudesse fazer qualquer outro comentário inapropriado. — Eu vou abrir outro portal e levar você de volta — Eu parei quando alguma coisa sacudiu em minha memória. — Espere um segundo. Por que você não está morto? — Hum... — Caminhos das faeries são para faeries. Você não deveria sobreviver a jornada. Ele olha de volta para mim, e é então que eu ouço os passos. Culpa corre através de mim como se eu tivesse sido pega fazendo algo terrível, como cravar iniciais em uma árvore. Eu tenho a súbita vontade de abrir uma porta e empurrar o garoto nela, mas eu me preocupo que foi por algum estranho acaso que ele sobreviveu na primeira viagem. E se uma segunda matá-lo? Uma figura aparece entre as árvores e meu coração afunda quando eu vejo quem é. Eu definitivamente não vou me safar dessa.
— Ryn, — eu digo, tentando manter minha voz precisa. — De volta tão cedo? Isso é diferente de você. Ouvi dizer que você chegou em penúltimo lugar na missão anterior. Ryn para e se inclina contra uma árvore, jogando uma bola de luz da lua para frente e para trás. Seu brilho dança através de seu rosto e faz com que o azul escuro do seu cabelo brilhe. — Você não quer dizer segundo, Pixie Sticks1? Eu teria pensado que você prestaria mais atenção ao seu concorrente mais próximo. — Eu prestaria… se você fosse um concorrente digno de atenção. Os olhos de Ryn se estreitam. Ele abre a boca para falar, então congela, seus olhos movendo-se para o garoto ao meu lado. Ele se afasta da árvore e se aproxima. — Você tem um amigo, Pixie Sticks? — Ele diz. — Você realmente conseguiu encontrar alguém disposto a... — Ele para e olha para o garoto por vários minutos. Seus olhos deslizam de volta para os meus, e um sorriso se espalha em todo o seu rosto. Ele sabe. — Veja, veja, veja. Veja quem quebrou a regra número um. — Ele gira a bola de luz da lua na ponta do dedo antes de esmagá-la entre as palmas da mão. — Diga-me, Pixie Sticks, como é a sensação de falhar em uma missão? Minha chamada mental é automática, e quase um segundo passa antes do meu arco e flecha estarem ardendo entre meus dedos. Eu aponto a flecha diretamente para Ryn. Ele estala rapidamente seu pulso, quase tão rápido para acompanhar. Um chicote com tanto brilho de fogo como a minha própria arma aparece em sua mão com um estalo. — Quer jogar? — Ele diz, sua voz baixa e perigosa. — Dê o fora daqui, Ryn. — Eu digo, sem baixar o arco. Ryn ri e enrola o chicote em torno de seu braço. Ele hesita, como se me provocando, e depois lança o chicote para o ar, onde ele desaparece. Ele saca sua
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Um apelido de deboche por ela ser muito magra – “Vara de Faerie”
stylus e abre uma entrada no ar na frente dele. Exibido. É a única coisa que ele pode fazer melhor do que eu. Eu tenho que usar uma superfície sólida para abrir um portal. — Vou me certificar que Tora saiba disso, — diz ele enquanto pisa na entrada. — Sabe, no caso de você esquecer de mencionar a ela. — O ar se fecha atrás dele. Ótimo, ótimo, ótimo. Eu gostaria de ainda estar na idade em que ter uma birra seria aceitável. Eu nunca soube de ninguém que estragou uma missão assim, e tenho certeza que é nem minha culpa. — Pixie Sticks? — Diz o garoto ao meu lado. Eu balanço minha flecha em direção a ele. — Não me chame assim. Ele levanta as mãos em sinal de rendição. — Desculpe. Eu pensei que era o seu nome. Eu arremesso minha arma para a escuridão. — Esse, definitivamente, não é o meu nome. — Oh. — Ele olha para mim com grandes olhos caramelos, esperando, como se eu devesse dizer alguma coisa agora. Mas eu não serei aquela a deixar essa situação menos estranha. — Então... — ele diz eventualmente. — Qual o seu nome? Bem, eu praticamente disse a ele todo o resto. Por que não o meu nome? — Meu nome é Violet. Violet Fairdale. Ele começa a rir. — Certo, e meu nome é... — Ele avista minha expressão e o sorriso desaparece de seu rosto. — Oh. Você está falando sério. Eu pensei... por causa do... — Ele acena com a mão na direção da minha cabeça. Ele está tentando dizer que eu sou louca? Eu cruzo os braços e viro de costas para ele, tentando fingir que ele não está aqui. Ryn definitivamente contará a Tora sobre a minha missão desastrosa, e saber que ele vai fazer isso soa tão ruim quanto possível. Precisa ser eu a contar a ela, mas eu prefiro explicar em pessoa do que em uma mensagem. Eu olho para o
céu; é tarde, mas eu sei que Tora vai estar no trabalho ainda. Quão rápido nós podemos chegar lá? — Então você tem o cabelo roxo e as lentes de contato para combinar com seu nome? — O garoto pergunta. Ele está de pé na minha frente novamente. Eu pisco para ele. Do que ele está falando? — Você sabe, lentes de contato? — Ele aponta em seus olhos, e depois de alguns segundos, eu faço a conexão entre as palavras “lente de contato” e a memória que eu tenho de uma garota cravando formas curvas e em gel nos seus olhos. Foi uma missão onde eu me livrei do lagarto cuspidor de fogo que entrou pelo encanamento do banheiro. Eu estreito meus olhos para o garoto. — Você está sugerindo que algo sobre a minha aparência é falsa? — Bem, sim. Olhos roxos e mechas roxas não são naturais. — Eles são de onde eu venho. Um formigamento no meu bolso me chama a atenção. Com um crescente sentimento de medo, eu pego o retângulo de âmbar e deslizo para fora. Com certeza, a escrita graciosa de Tora queima em toda a superfície lisa do âmbar. Venha me ver. AGORA.
Capítulo 2 — Droga, Ryn, — eu murmuro. Com um toque de minha mão, eu limpo as palavras do âmbar e o coloco de volta no meu bolso. — O que foi isso? — Pergunta o garoto. — Você recebeu uma mensagem naquela coisa? Do que é feito... — Nós estamos indo, — eu retruco. — Tente acompanhar. — Espere, — diz ele. Eu me viro de volta, pronta para xingá-lo, mas o olhar em seu rosto me faz parar. Ele parecia mais jovem de repente, quase perdido. — Isso... isso tudo é real? — Ele pergunta. — Eu não estou, na verdade, dormindo na minha cama, tendo algum sonho louco? Por um momento, a minha frustração enfraquece, e eu vejo um garoto confuso de pé em um mundo que ele nunca teve a intenção de conhecer. Eu deveria pelo menos tentar ser civilizada, não deveria? Mas então penso no que estou prestes a perder por causa dele. Eu poderia ser expulsa, ou, pelo menos, suspensa. Todo o meu treinamento poderia ser para nada. Todo o sangue, os machucados, a dor. Os pesadelos que surgem depois de ter matado alguém. Eu passei por isso para nada ‒ tudo porque esse garoto não podia simplesmente ficar no seu maldito quarto. — Sim, — eu digo, fazendo meu melhor para manter minha voz livre de emoção. — Isso é real. E você não faz ideia do que vai me custar por você estar
aqui. — Eu me afasto dele e subo mais, torcendo raízes enquanto ando em direção a Guilda. — Ei, o que você quer dizer? — Ele pergunta quando me alcança. — O que eu vou custar a você? Meus dedos enrolam automaticamente em punhos, e eu forço as minhas palavras para fora entre meus dentes. — Eu estou há dois meses da graduação, Sr. Avenida Draven. Dois meses. Isso é quão perto eu estou de ser a melhor guardiã que a Guilda já viu em anos, e você pode ter arruinado isso para mim. Eu não ouço nada além do som dos nossos passos, e então ele diz, — Meu nome, na verdade, é Nate. Bem, claramente, Nate não entende porque eu estou tão irritada. E por que ele deveria? Ele não faz ideia de por que o primeiro lugar é tão importante para mim, e eu com certeza não falarei para ele. Eu piso ao redor da borda de uma clareira onde os cogumelos gigantes estão inchados enquanto absorvem o brilho prateado da lua. — Não pise nos cogumelos, — digo a ele. — Eles não gostam disso. — E a última coisa que eu preciso agora é ele aparecer na Guilda coberto de gosma venenosa. Um uivo lúgubre vibra através do ar, farfalhando as folhas acima de nós e fazendo um bando de pequenos cavalos alados tomar voo e desaparecer na noite. Eu acelero o meu ritmo. Eu posso lidar com praticamente qualquer criatura que cruzarmos, mas ter Nate comigo, sem dúvida, complicaria as coisas. Eu olho sobre meu ombro para ele, apenas para descobrir que ele está parado olhando os cavalos alados voarem para longe. — Vamos, — eu chamo. Ele balança a cabeça e corre até mim. — Isso é incrível, — ele diz. — Eu sei que eu deveria estar assustado ou algo assim, mas... uau. Eu não digo nada. — Ei, já que você é mágica e tudo mais, você também é, sabe, imortal? Eu não sei se ele está deliberadamente ignorando as vibrações de raiva que eu estou enviando para ele, ou se elas estão simplesmente passando por cima de
sua cabeça. De qualquer forma, está ficando cansativo. Com um suspiro, eu digo, — Faeries não são imortais. A velhice alcança depois de várias centenas de anos. — Várias centenas... uau. Então você é realmente velha embora pareça ter minha idade? Eu dou a ele um olhar em branco. — Eu tenho dezessete. — Certo. Legal. A floresta se dilui à medida que nos aproximamos da Guilda. Nos movemos mais rápido, mas cada vez que passamos por algo vagamente fora do comum ‒ um grupo de duendes escalando nos ombros uns dos outros para alcançar um galho alto; um fauno solitário parecendo um pouco embriagado ‒ eu sinto a relutância de Nate em ter que se manter em movimento. Eu sei que ele quer parar e olhar, mas não vou manter Tora esperando mais do que o necessário. Eu observo a entrada. Nunca está exatamente no mesmo lugar, e seria fácil perder se eu não soubesse exatamente o que procurar. — Lá, — eu digo, quebrando o silêncio e apontando para um tufo de flores vara-de-ouro crescendo na base de uma árvore. Elas brilham fracamente na escuridão. Eu caminho direto para a árvore e descanso uma mão contra a casca lisa. Com a outra, eu alcanço minha stylus. — Vocês moram em árvores? — Nate pergunta. Eu não me incomodo em responder. Eu coloco minha stylus contra o tronco da árvore e entalho algumas palavras ‒ em uma língua que eu sei que Nate não pode compreender, apesar do fato de ele estar tentando ler sobre o meu ombro. Uma luz dourada brilhante enche as letras e, em seguida, desaparece, levando as palavras com ela. A forma da árvore começa a alterar. As folhas são sugadas em ramos. Ramos curvam-se para baixo e se mesclam com o tronco, que se alarga e muda de cor e textura. Um conjunto de portas de vidro duplo brilham em vista. Escadas
empurram seu caminho para fora das raízes. Em questão de segundos nós estamos na frente da entrada da Guilda dos Guardiões. — Um... — disse Nate. — Talvez você poderia me bater agora, porque eu tenho certeza de que estou sonhando. Eu reviro meus olhos, agarro a manga de sua camiseta e o puxo até as escadas. — Não me tente, — eu digo. — E você não quis dizer, beliscar pessoas que acham que estão sonhando? As portas de vidro deslizaram abertas para revelar o guarda da noite, Tank, bloqueando o caminho a seguir. — Noite, Vi, — diz ele. — Um pouco tarde, não é? Eu gesticulo para Nate. — Eu estou com problemas. Os olhos de Tank perfuram o garoto humano ao meu lado. — Sim, percebi. — Ele levanta sua stylus. Meus dedos vão para o meu pescoço e puxo para fora a corrente debaixo da minha camiseta. Eu seguro o meu pingente de aprendiz, e Tank o verifica com sua stylus. Ele pisa para o lado e acena com a cabeça em direção as escadas do outro lado do hall de entrada. — Obrigada, Tank. — Eu puxo Nate através do espaço aberto. Ele inclina sua cabeça para trás para olhar para o teto abobadado alto acima de nós. Nuvens de roxo, cinza e azul escuro rodopiam dentro da cúpula. — Encantamentos de proteção, — eu digo a ele. Subimos as escadas para o segundo andar, Nate arrastando a mão sobre as videiras frondosas que torcem ao redor dos corrimões. A esta hora da noite não há muito pessoas aqui ‒ a maioria dos aprendizes com missões noturnas se reportam aos seus mentores na manhã seguinte ‒ e a única pessoa que nós passamos é Amon, o chefe bibliotecário da Guilda. — São... anões? — Nate torce para olhar por cima do ombro enquanto passamos duas figuras baixas discutindo em um canto. Eu não posso pensar sobre responder a ele, porque em cerca de cinco passos, nós vamos chegar na porta do escritório de Tora. Ansiedade borbulha em meu interior.
Nós paramos. Puxo uma mecha de cabelo sobre meu ombro e enrolo ao redor do meu dedo. — Não fale nada, — digo a ele, e então eu bato. Depois de um segundo de silêncio que dura quase metade de uma eternidade, eu ouço a voz de Tora: — É melhor que seja você, Vi. Eu mordo meu lábio e empurro para abrir a porta. Tora está sentada atrás de sua mesa, rolos de papel empilhado ordenadamente ao seu redor. Ela cruza os braços e se inclina para trás em sua cadeira, me observando. Luzes deslocam através de seu rosto jovem enquanto o vagalume gigante no teto se contorce e se acalma. — Chama-se regra número um por uma razão, Vi, — ela diz, acenando sua cabeça em direção a duas cadeiras em frente da sua mesa. Eu me movo para a da direita. Depois de um momento de hesitação, Nate senta ao meu lado. Tora não o reconhece, estendendo a mão ao invés de pedir minha faixa rastreadora. Eu solto a tira de couro do meu pulso e a empurro através da mesa. Tora a alisa debaixo de seus dedos indicadores e sussurra algo sob a respiração. Minúsculas manchas pretas aparecem no couro. Marcas que lhe dizem tudo o que ela precisa saber sobre a missão que eu acabei de concluir. — Bem, — ela diz, inclinando-se para trás, — você se livrou da reptiliana em tempo excelente, mas isso não significa nada, considerando que você não apenas se revelou a um humano, mas também o trouxe de volta para o nosso reino. E — Seus olhos escorregam do meu rosto para baixo, para o meu braço — apenas para completar tudo isso, você foi mordida. — O que? Uma única mordida dificilmente custa quaisquer pontos. — Eu olho para as duas formas crescentes de pele curando. Elas estão no estágio rosa pálido, cerca de uma hora de estarem perfeitamente curadas. — No entanto. Você ainda quebrou duas das regras mais importantes da Guilda. Isso é sério, Violet. — Ela nunca me chama assim. — Você sabe porque temos que fazer cumprir essas leis.
— Sim, — eu digo, respirando fundo e me preparando para começar a recitar. — Alguns seres humanos são gananciosos, e o que eles querem acima de tudo é poder. Se humanos souberem que mágica existe, eles poderiam convencer algumas faeries com fome de poder a se voltar contra sua própria espécie, assim como o Lorde Grundheim-alguma-coisa-ou-outra fez há séculos atrás. Faeries vão morrer; humanos vão morrer; vida como nós conhecemos deixará de existir. — Exatamente, — diz Tora, ignorando a minha sarcástica e excessivamente dramática releitura da história que todos nós aprendíamos desde que tínhamos idade suficiente para usar nossa própria magia. — Então, eu não entendo por que você iria... — Eu não fiz! — Por favor, Vi, não vamos... — Eu não o trouxe de volta comigo. Ele agarrou meu braço enquanto eu estava no portal. E eu não deixei meu glamour cair. — Eu olho para Nate. — Ele apenas parece ser capaz de ver através dele. Tora olha para ele pela primeira vez. Depois de quase um minuto de silêncio, ela franze seus lábios. — Ryn não mencionou isso. — Bem, é claro que ele não contou, ele não estava lá quando aconteceu. Tora franze a testa para mim. — Você diz que retornou pelo portal? — Sim, essa é a outra coisa. Ele não deveria estar morto agora? — Um pequeno som escapa dos lábios do garoto na palavra “morto”. Tora passa a mão pelo seu cabelo elegante verde loiro, inclinando-se tão longe em sua cadeira que as pernas da frente saiam do chão. — Interessante. Eu ouvi que há alguns humanos que podem ver através do glamour das faeries. Talvez essa capacidade seja o que lhe permitiu passar com segurança através do portal. — As pernas da frente da cadeira encontram o chão com um baque, e ela puxa um pergaminho da sua gaveta de cima. — Certo. Bem, você obviamente precisa levá-lo de volta para casa, Vi, — ela diz enquanto prende os cantos do Relatório de Missão
com várias pedras e começa a preencher os espaços em branco. — E eu não acho que você deva usar o portal; ele pode não estar protegido uma segunda vez. — Mas vai nos levar dias para retornar a casa dele a pé. Eu vou perder pelo menos uma missão. — Verdade, — diz Tora, continuando a rabiscar a página. — E você provavelmente vai ficar para trás nos rankings. Mas você é uma guardiã, Vi. — Ela assina no final da página com um floreio, enrola, e coloca-o em uma caixa à sua esquerda. — Esta vida é sobre ajudar pessoas, não marcar pontos em missões. Eu caio para baixo em minha cadeira, sabendo que ela está certa. Ela se vira para Nate. — Eu gostaria que você esperasse lá fora por um minuto, Sr... — Oh, meu nome é Nate, — ele diz. — Nate. Por favor, espere lá fora. Nate empurra sua cadeira para trás e se levanta. — Então... então é isso? Eu descubro que esse mundo mágico existe, e eu apenas tenho que ir para casa e esquecer sobre isso? Os olhos esmeralda de Tora se estreitam. — Eu acredito que eu pedi a você para esperar lá fora. Os músculos ao longo da mandíbula de Nate tencionam, mas ele consegue deixar a sala sem abrir sua boca novamente. O rosto de Tora suaviza, e ela atravessa sua mesa até minha mão. Seus dedos estão quentes. — Em quase cinco anos de treinamento, você nunca fez nada como isso, Vi, é por isso que eu acredito em você quando diz que o que aconteceu esta noite foi um acidente. O Conselho, no entanto... — Ela aperta os lábios em uma linha fina. — Bem, haverá uma audiência quando você voltar ‒ que é protocolo ‒ e podem haver algumas consequências graves. — Como expulsão? — Eu pergunto, exprimindo meu medo.
— Eu duvido que a Guilda iria tão longe. Eles seriam estúpidos em expulsar você. Eu olho para baixo, para meu colo. — Mas quaisquer que sejam as consequências, eu vou perder meu lugar no topo. — Você provavelmente perderia de qualquer forma, apenas por falhar nessa missão e perder a próxima. — Eu tento puxar minha mão fora da dela, mas ela não solta. — Vi, — ela diz, e me espera levantar o olhar. — Você precisa parar de colocar tanta importância nos rankings. Todo mundo sabe que você é a melhor aprendiz aqui, mesmo se seu nome não acabar naquela placa no Hall da Honra. — Eu forço um sorriso em meus lábios, sabendo que isso é o que Tora quer ver. — De qualquer forma, — ela continua, — Eu vou falar com os outros mentores e os membros do Conselho, e vou tentar explicar que você não quebrou as regras de propósito. Concordo com a cabeça e aperto a mão dela, apesar do fato de que eu não acho que ela vai ter muito sucesso. Ser a mentora menos experiente na Guilda e ainda acabar com melhor aluna da classe não ajudou Tora a ganhar o favor de muitos dos mentores mais velhos. Tora libera minha mão, gira em seu assento, e abre o armário atrás de sua mesa. Ela remove um pequeno frasco de vidro e o coloca sobre a mesa na minha frente. — Logo que você devolver o garoto para sua casa, você vai precisar lhe dar isso. É uma poção que irá apagar qualquer memória que ele tem da magia e do nosso mundo. — Sério? É assim tão fácil? — Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. — Então por que diabos a Guilda faz um negócio tão grande sobre nos revelar aos humanos? — Porque a poção nem sempre funciona. — Diz Tora, cruzando suas mãos no colo. — E os ingredientes são raros. Eu pego o frasco e aperto os olhos para o rótulo minúsculo. Diz Esquecer. Uau. Original. Eu empurro o frasco cuidadosamente no bolso, deslizo minha faixa rastreadora de volta através da mesa, e levanto.
— E Vi? — Diz Tora quando chego na porta. — Seja inteligente sobre o assunto. Algo me diz que ele não tomará essa poção facilmente.
Capítulo 3 Eu fecho a porta de Tora para encontrar Nate sentado no chão com uma fada da árvore em sua mão. Aos sons dos meus passos, a fada cutuca sua bochecha com seu pequeno dedo e esvoaça para longe, rindo. Nate, parecendo um pouco desorientado, se levanta. — Ela fez alguma coisa comigo? — Ele pergunta, piscando seus olhos várias vezes. — Ela provavelmente deu a você uma dose de sono, — eu digo. — Vai desaparecer em cerca de dez segundos, considerando que você é, pelo menos, uma centena de vezes maior do que a presa normal dela. — Nate boceja e estica os braços acima de sua cabeça, revelando uma faixa de pele bronzeada logo acima de seus jeans. Eu sou surpreendida com o choque no meu estômago. Controle-se, Vi. Eu vejo pele nua o tempo todo no treinamento, e nunca teve qualquer efeito sobre mim. Eu olho para longe, a tempo de ver Ryn sair do escritório de seu mentor algumas portas depois, pelo corredor. Ele caminha em minha direção, com os olhos brilhando como cacos de vidro azul. Cruzo os braços sobre meu peito, minha raiva retornando com toda força. — Eu teria dito a ela, sabe. — Mas não teria nenhuma diversão para mim, Pixie Sticks, — ele disse.
Se eu olhasse para ele mais um pouco, eu poderia fazer alguma coisa irracional, como estraçalhar seus dentes perfeitos. Eu olho para Nate em vez disso. Ele levanta uma sobrancelha. — Pixie Sticks? — Ele pergunta. Eu imagino uma espessa parede se formando entre Ryn e eu. Ele não está aqui, ele não está aqui, ele não está aqui. — É a forma muito madura de Ryn me insultar, — Eu digo a Nate. — Pixies são pequenas e irritantes criaturas... — Muito parecido como a Vi aqui. — Estrondo, lá se vai a parede imaginária. — E as pernas dela — Ryn olha para baixo — elas parecem como pequenas varas, não é? Nate olha para baixo também. — Na verdade, eu acho que elas são muito atrativas. Não. Ia. Acontecer. Eu agarro o braço de Nate e o puxo pelo corredor, longe de Ryn, antes que ambos tratem de me embaraçar ainda mais. — Boa noite, Oryn — Eu solto sem olhar para trás. — Divirta-se com o humano, Violet. — Ele faz uma série de barulhos de beijos. Eu caminho mais rápido. Não muito antes de sentir os olhos de Nate em mim. — Vocês saíam, não é? Eu tropeço sobre a videira dispersa que sempre consegue encontrar o seu caminho por este corredor, não importa quantas vezes alguém a envia de volta para a escada principal. — Você está louco? Nem mesmo se a continuação da nossa espécie dependesse disso, eu seria tentada a fazer algo tão horrível. Nós chegamos à entrada principal, e Tank abre a entrada para nós. Eu salto para baixo nas escadas para a escura noite da floresta. Nate segue. — Ok, — eu digo quando começo a andar. — Nós podemos passar o resto da noite na minha casa e sair assim que o sol nascer. Geralmente é mais seguro viajar aqui durante o dia. — E eu preciso alimentar Filigree e avisá-lo que não estarei por aqui por alguns dias.
— Claro. Onde exatamente é “aqui”, em todo o caso? — Hum... — Que mal faria contar para ele? — Nós estamos em uma floresta inacessível para humanos. É chamada de Creepy Hollow. — Creepy Hollow? — Ele bufa. — Como Sleepy Hollow2? — Não, como Creepy Hollow. Não tem nada a ver com adormecido3. — Sim, eu entendo. — Eu poderia estar enganada, mas acho que ele acabou de revirar seus olhos para mim. — O que quero dizer é, soa como a lenda. — E o que quero dizer é, eu não faço ideia do que você está falando. — Como ele se atreve a revirar os olhos para mim? — Não importa, — ele diz com um suspiro. — Ok, então por que você iria querer viver em um lugar cheio de coisas arrepiantes4? — Eu estou treinando para ser uma guardiã. Se não existissem criaturas arrepiantes ao redor, eu não teria trabalho. — Certo. — Parece como se Nate estivesse tentando descobrir se isso faz sentido. — Então o que constitui arrepiante além da mulher seminua com pele escamosa? — Oh, praticamente qualquer tipo de fae. Bicho-papão, goblins, spriggans5, kelpies6, halflings7... — De jeito nenhum! Hobbits são reais? — Os olhos de Nate acenderam. — Hobbits? — Sim, hobbits. Halflings. Pequenos... pés peludos... vivem no Condado...
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Referência lenda Sleepy Hollow (cavaleiro sem cabeça), que nossa personagem principal não faz nem ideia que existe. 3 Do original – Sleeping (como ela não entendeu a referência à lenda) 4 Arrepiante = Creepy (referência ao nome da floresta) 5 Spriggans são uma classe de faeries do folclore. Descritos como tendo uma aparência grotesca, possuindo corpos formados por galhos e folhas de árvores. 6 Espíritos aquáticos que normalmente assume a forma de um cavalo. 7 Aqui ela quis dizer halfling como mestiços (mistura de espécies), só que o Nate entende como Halfling usado nos livros de Tolkin, como sendo Hobbit.
De onde ele tira essas coisas? — Não. Desculpe. — Eu afasto um vagalume do meu ombro. — Um halfling é um mestiço. Tipo um meio-goblin, meio-pixie. Ou um meio-faerie, meio-humano. — Oh. Isso não é muito emocionante. — É quando eles tentam destruir o mundo. — Nate arqueia uma sobrancelha descrente. — Sim, — eu digo com um aceno. — Halflings são imprevisíveis desse jeito. — Imprevisíveis... Oh. Meus pais. Eles vão se preocupar quando descobrirem que estou fora. — Tora vai enviar alguém para cuidar disso, — eu digo. — Seus pais vão achar que você está ficando com amigos ou alguma coisa assim. E cuidado com a teia. — Puxo-o de lado antes que ele possa andar direto para uma teia quase invisível amarrada entre duas árvores. — Obrigado. — Ele desvia dos fios venenosos. — Então, hum, será que seus pais se importam de eu ficar mais? — Ele pergunta. — Eu não tenho pais. Ele franze a testa. — Espere um minuto. Então, isso é realmente como Peter Pan? Um bebê ri e uma faerie nasce? Eu reviro meus olhos. Ele vai aceitar tudo o que eu digo literalmente? — Eu tive pais, eles só não estão mais aqui. Eles eram guardiões, e ambos foram mortos em missão. Minha mãe morreu quando eu tinha três, e meu pai quando eu tinha quatorze. — Oh. — Nate passou uma mão através de seu cabelo. — Eu sinto muito. Eu dou de ombros. — Todos os filhos de guardiões crescem sabendo que a morte é uma possibilidade muito real. — Mas isso não impede de doer como o inferno quando acontece. — Então, por que você iria querer fazer isso? — Pergunta Nate.
— Fazer o que? Ser uma guardiã? — Ele acena. Humm. Essa é minha chance de dizer algo nobre, como o quanto eu quero salvar a vida das pessoas. E isso é parte disso, mas se vou ser completamente honesta... — Eu amo a vida. Eu amo a emoção, o risco, a energia. Eu amo quão viva eu me sinto quando estou lutando, ou apenas treinando. Não importa o que seja ‒ prática de armas, luta corpo a corpo, corrida, balançando ao redor das barras, praticando saltos e cambalhotas ‒ eu amo isso tudo. Nate para de caminhar e olha para mim. — O quê? — Eu pergunto. — Você pode fazer tudo isso? — Bem, não é como se eu tivesse apenas inventado tudo isso. E, como eu te disse antes, quero ser a melhor. Aparentemente, Nate não pode pensar nada para dizer a isso, então depois de alguns segundos nos encarando, nós continuamos a caminhar. Nós devíamos estar nos movendo mais rápido ‒ não é bom permanecer fora à noite ‒ mas acho que não estou com tanta pressa como pensei que estava. Na verdade, acho que estou quase desfrutando de conversar com Nate. Chegamos a um riacho que serpenteia entre as árvores. Nós poderíamos pular para o outro lado se precisássemos, mas a floresta tinha criado um caminho para atravessar: Raízes como dedos retorcidos alcançavam de ambos os lados do rio, torcendo e enrolando umas nas outras, entrelaçando-se para formar uma ponte irregular. Cautelosa do que poderia estar à espreita na água escura, eu agarro a mão de Nate e o puxo rapidamente para atravessar, soltando sua mão no momento em que chegamos do outro lado. Nós continuamos nossa jornada entre as árvores, e eu espero que Nate preencha o silêncio entre nós. Não demora muito. — Eu também estou me formando na escola, em breve, — diz ele, — e esperando fazer bem. Então, eu meio que compreendo a pressão que pode existir até o final.
— Sim, adormecer sobre um livro de álgebra deve ser realmente duro para você, — eu digo, lamentando as palavras tão logo deixaram minha boca. Nate para e vira de frente para mim. — Olha, eu sei que é minha culpa que você está com problemas, então, talvez, você poderia apenas me deixar me desculpar e nós podemos — Ele olha sobre o meu ombro, suas sobrancelhas se unindo. — O que é...
***
Cabeça caída... Pálpebras pesadas... Não consigo acordar....
***
Há uma superfície dura debaixo da minha bochecha. O cheiro da floresta desaparecido. Eu tento abrir os olhos, mas é como se alguém tivesse colocado pesos sobre eles. Meus pensamentos se arrastam como pés de chumbo através da lama, mas lentamente, muito lentamente, as rodas em meu cérebro começam a girar. Eu reconheço esse sentimento. Foi como eu me senti depois que Ryn me bateu nas costas com um feitiço de atordoar durante o treinamento no último ano. Eu fiquei inconsciente por várias horas, o que foi mais do que um pouco embaraçoso. Valeu a pena, no entanto, quando Ryn foi suspenso por alguns dias. Eu forço minhas pálpebras abertas e mordo meu lábio, esperando que a dor me acorde. Não funciona tão bem como eu esperava. Vejo Nate no chão ao meu lado. Como se em câmera lenta, eu assisto sua perna voar e chutar alguém de pé entre nós. Há um grunhido, pessoas lutando, e isso é tudo o que eu preciso para me sacudir acordada. Eu salto para os meus pés, meu arco e flecha aparecem em minhas mãos, apontando diretamente para a testa do nosso atacante. Ele puxa Nate na frente dele e pressiona suas unhas de garras contra a garganta de Nate.
Todos nós congelamos. O jovem é um faerie ‒ provavelmente o responsável pelo feitiço de atordoar. Mesmo que eu não consiga sentir a magia emanando dele, há as mechas carmesim em seu cabelo e coloração como sangue fresco em seus olhos. Definitivamente não uma característica humana. Sem abaixar minha arma, tomo nota do meu entorno. Nós estávamos em... uma cabine? Um galpão? Tábuas rangem debaixo dos nossos pés. Uma esfera de vidro cheia de vapores brancos brilhantes oscila do teto, fazendo sombras surgirem através das paredes. Uma janela empoeirada acima da cabeça do faerie revela a escuridão lá fora. Aguardo o faerie fazer uma jogada, mas ele simplesmente fica lá me observando, como se estivéssemos em um estranho concurso de encarar. Eventualmente, eu canso de esperar. — Podemos nos apressar e chegar a parte onde você tenta nos matar? Eu gostaria de chegar em casa em breve. Ele inclina a cabeça para o lado. — Por que eu iria querer matar o garoto? Nós acabamos de encontrá-lo. Você por outro lado... — Não haverá matança ainda, Zell, — diz um homem atrás de mim. Antes que eu possa me mover, ele passa um pedaço de metal contra o meu braço. O metal se envolve em torno do meu pulso, sobre a minha faixa rastreadora. Meu arco e flecha desaparecem com um chiado. Aperto meu pulso ardendo no meu peito. — É isso mesmo, — diz o homem, movendo-se para ficar visível. Ele não tem poder ‒ definitivamente humano ‒ mas seu tamanho é suficiente para encher a sala. — Tente usar mágica com essa coisa. — Ele puxa Nate do aperto de Zell e o empurra em uma cadeira. — Você não quer que eu me livre dessa aqui, Drake? — Eu sinto o braço de Zell cercar meu pescoço. — Não, ela é uma guardiã, não é? — Uma guardiã aprendiz, — diz Zell. Ele obviamente notou a falta de marcas de guardião nos meus pulsos.
— Que seja. Talvez ela saiba sobre o outro. — Certo. O guardião com talentos especiais. — Zell agarra meu pulso, me empurra para o chão, e amarra meus braços a um cano que corre ao longo da parede em cima de mim. Talentos especiais? De quem eles estão falando? Eu penso em minha própria habilidade especial e congelo por dentro. Espero que eles não saibam o que eu posso fazer. — Agora, — Drake diz, parando em frente de Nate, pernas abertas e mãos no quadril. — Nós precisamos ter uma pequena conversa com sua mãe, mas ela continua se recusando a nos ver. Nate olha para ele de cima a baixo. — Eu não posso imaginar o porquê. Esse comentário ganha um tapa na cara dele. — Acha que você é esperto? — Drake rosna. Nate se recupera com um balançar de cabeça. — Não, realmente. Eu mal estou passando em química. Estou impressionada. Acaba que este garoto tem mais coragem do que eu dei crédito a ele. Drake agarra Nate em torno do pescoço e fala direto na sua cara. — Onde. Está. A. Sua. Mãe? Nate vira a cabeça para o lado. — Olha, minha mãe e meu pai são realmente felizes juntos, então eu acho que você precisa recuar e encontrar outra... — Não sua madrasta idiota, — Drake ruge. — Sua verdadeira mãe. — Ele empurra Nate para longe e atravessa para o outro lado da sala. — Se você está falando sobre a mulher que deu à luz a mim, ela desapareceu quando eu tinha cinco meses. Eu só tenho uma verdadeira mãe, e ela está, provavelmente, em casa, na cama agora. — Isso é muito doce, — Drake diz, sua voz perigosamente baixa, — mas não é a resposta que eu estou procurando. — Ele acena para Zell. — Nós vamos em frente com o plano original. — Ele corre para fora da sala, batendo a porta atrás dele.
— Qual é o plano original? — Nate pergunta a Zell. — Você passa a ser a isca, — Zell diz, depositando Nate no chão e amarrando seus pulsos e tornozelos. — Nós ameaçamos matar você, e mamãe vem correndo. — Ele olha para Nate, então desce em um joelho. — Tão normal, — ele diz, passando um dedo pelo rosto de Nate. — Que pena. — Ele se levanta e vai até a porta. — Não pense em rastejar por aí, Nathaniel. Eu vou estar lá fora. Eu respiro um pouco mais fácil uma vez que estamos sozinhos na sala. A primeira coisa que eu faço é tentar liberar um pouco de magia. Nada. Nem mesmo uma faísca. Eu tento não entrar em pânico. — Isso tudo é muito estranho, — eu sussurro para Nate. — Nem me fale, — ele diz. — Eu estou começando a ter aquela sensação mais uma vez de que isso é um sonho. Faço um barulho irritado no fim da minha garganta. — Não, Nate, isto não é um sonho. E é estranho por sua causa. — Minha? O que eu fiz agora? — Eu estive em um monte de missões, — eu digo, — e quando um fae acaba atacando humanos não é, geralmente, porque eles pretendem. Claro, você tem os estranhos
fae
brincalhões
que
estão
intencionalmente
tentando
causar
travessuras, como goblins ou pixies, mas geralmente é alguma criatura que acabou no lugar errado na hora do jantar, ou acidentalmente acabou em uma casa humana, levou um susto, e sentiu na necessidade de se proteger. — Levou um susto? — Sim. Criaturas de Creepy tem medo também. De qualquer forma, os fae realmente maus, geralmente não vão atrás de seres humanos ‒ seus problemas são tipicamente com outros fae, e isso é um trabalho para guardiões totalmente qualificados. Mas aquela reptiliana definitivamente chegou em seu quarto hoje à noite com a intenção de matar você, murmurando algum lixo sobre algo que “já está acontecendo”. E agora, apenas algumas horas depois, alguém está atrás de você.
Nate dá de ombros. — O que eu posso dizer? Todo mundo quer um pedaço de mim. — Isso não é uma piada, Nate. Você realmente vai estar em pedaços se não levarmos isso a sério. — Oh, vamos lá. Esses caras não querem me matar. Eles querem me usar como isca para atrair minha mãe abandonadora de filho para fora de seu esconderijo. Eu suspiro. Claramente o único jeito de sairmos daqui é se eu fizer alguma coisa sobre isso. — O que você acha que esses estranhos querem com ela, de qualquer forma? — Pergunta Nate. — Como eu saberia? Poderia ser qualquer coisa. — Acho que sim. Bem, o que for, eu não estou interessado. Minha mãe escolheu nos deixar, e não me importo no que ela está envolvida. Ah, certo. Eu não vou comprar essa depois do questionamento incessante de antes. Mas eu tenho coisas mais importantes com que me preocupar agora. Eu levanto minha perna para cima para ver se minha bota está perto o suficiente das minhas mãos. Nada bom. Minhas mãos estão altas demais. Eu não sou tão flexível assim. — Isso é meio engraçado, — diz Nate, me observando do chão. — Cale a boca, — eu sibilo para ele, então me sinto culpada. — Eu sinto muito. — Eu abaixo a minha voz ainda mais. — Eu preciso da sua ajuda. — A Grande Guardiã Violet precisa da minha... — Nate. — Desculpa. O que você precisa que eu faça? Eu falo tão baixo quanto eu posso. — Há um compartimento na sola da minha bota direita. Dentro tem uma faca.
Nate começa a se mexer no chão em minha direção. — Silenciosamente, — eu o lembro. — Não os deixe ouvi-lo. Ele para quando está perto o suficiente para alcançar o meu pé com as mãos. — Ok, como eu pego isso... oh, esqueça, abriu. — A faca cai fora no chão. — Quieto! — Desculpe, — sussurra Nate. Ele senta e olha para os itens na sua mão. — Uh, por que você tem um par de brincos em sua bota? Há o menor puxão no meu coração quando eu olho para o brinco em forma de flecha na palma da mão de Nate. — Oh, eles foram um presente de um amigo. — E você os mantém em sua bota no caso de uma emergência de moda aparecer enquanto está em uma missão? — Eu os mantenho na minha bota porque foram o último presente que ele me deu antes de morrer. — Oh. — Há luz suficiente na cabine para que eu visse a cor que preenche a bochecha de Nate. — Uh, desculpe. Eu suspiro. — Nós ainda éramos pequenos — Reed tinha onze anos e eu tinha nove, mas tínhamos grandes sonhos sobre ser guardiões um dia, lutando contra o mal juntos e fazendo do mundo um lugar mais seguro. — Eu posso ver Reed me ensinando como usar um arco e flecha pela primeira vez. Eu posso quase cheirar a frescura da terra naquela manhã de primavera. — Ele mal começou a treinar, — Eu digo baixinho. — Eu sei que é bobagem, mas mantenho os brincos comigo porque meio que parece como se Reed estivesse por perto. — Ok. — Nate balança a cabeça como se entendesse. — Então por que você não apenas os usa? Tenho certeza de que eles pareceriam mais bonitos em suas orelhas do que na sola de seu sapato. Agora, isso eu não sinto à vontade de explicar. — Você pode colocá-los de volta, por favor?
Nate se deita e alcança para devolver os brincos. Eu o sinto fechar o compartimento. — Perdoe-me por dizer isso, — ele diz, — mas como um membro de uma raça quase-imortal, parece que você conhece um monte de pessoas que morreram jovens. — Em nenhum lugar perto de imortal, — eu o lembro, — e isso é um tipo de risco ocupacional em nossa linha de trabalho. A morte de Reed nunca deveria ter acontecido; foi apenas um terrível acidente. Nate agarra a faca entre as suas palmas. — Então, o que você quer que eu faça com isso? Eu realmente tenho que soletrar para ele? — Não me importa onde você comece, Nate ‒ seus pulsos, seus tornozelos, meus tornozelos ‒ mas o objetivo é nos tirar daqui. — Ok, ok, eu entendo. — Ele se senta, segura a faca na mão, e começa a movê-la desajeitadamente para frente e para trás através da corda que une seus pulsos. E então ele a derruba. A faca faz barulho no chão de madeira. Um segundo depois, a porta se abre. Zell olha para nós e se curva para pegar a faca. Ele balança a cabeça enquanto deixa o quarto, murmurando, — Patético. Eu considero gritar algo como por que você teve que derrubar a maldita faca? Mas eu decido que não vale a pena. Eu afundo contra a parede. Estou cansada e com dor e começando a perder a sensação em meus dedos. E estou preocupada sobre como Filigree vai cuidar de si mesmo se eu não chegar em casa; seu estoque de nixle torrado não vai durar mais do que alguns dias. — Sinto muito, — sussurra Nate eventualmente. — Pelo que exatamente? — Pergunto. Parece-me que ele tem um monte de coisas para se desculpar esta noite. — Por deixar você em problemas com a sua Guilda. Por ter você sequestrada. Por estragar seu plano de fuga.
— Não era um bom plano, — eu admito. Ele se deita. Eu gostaria de poder fazer o mesmo. — E só para você saber, — ele adiciona, — eu estou realmente levando tudo isso a sério. É só que... eu costumo lidar com o estresse fazendo pouco caso. Portanto, não é que eu acho que isso tudo é uma grande piada, eu estou apenas... — Lidando com isso, — eu completei por ele. — Yeah, — ele guarda silêncio, então pergunta. — Quanto tempo antes que alguém descubra que você está ausente? Eu movo minhas pernas debaixo de mim, tentando encontrar uma posição mais confortável. — Depende de quanto tempo passe antes de Tora tentar me contatar. — E vocês têm, tipo, uma polícia faerie ou alguém que vá te procurar? — Sim. Eles são chamados guardiões. — Ok. Então, guardiões são como a polícia. — Eu imagino minúsculas engrenagens girando no cérebro de Nate. — Então a Guilda é como o governo? — Bem, não exatamente. Há a Corte Seelie, a qual tem uma rainha. Então a Rainha Seelie e o Conselho da Guilda trabalham juntos para determinar a Lei. — Corte Seelie, — murmura Nate. — Soa familiar. Estava em um jogo de computador? — Eu pareço como alguém que joga jogos de computador? Um sorriso se estende no rosto de Nate. — Você parece com alguém que poderia estar em um jogo de computador. Nunca tendo prestado muita atenção a computadores, eu não tenho certeza se é para estar ofendida ou não. Decido ignorar o comentário. — A Corte Seelie são os mocinhos, — eu explico. — A Corte Unseelie são os vilões. Nate acena. — Certo. Entendi. — Eu me pergunto o que vai acontecer no cérebro dele quando eu lhe dar a poção. Será que esse conhecimento vai ser magicamente encoberto? Ou será que vai ser completamente apagado, como limpar uma mensagem do meu âmbar? — Vi, — ele diz depois de alguns momentos de silêncio. — Você ainda vai se formar? Quer dizer, se sairmos daqui vivos. — Sim, eu acho. Eu só não serei a melhor da minha turma.
— Então... É realmente importante ser a melhor? Eu dou de ombros ‒ um movimento que é um pouco estranho com os meus braços amarrados sobre minha cabeça. — Isso é tudo o que eu tenho. É toda a minha vida. — O que é verdade, apesar do fato de que não é toda a verdade. Não há uma única pessoa ‒ nem mesmo Tora ‒ que sabe por que eu quero tanto aquela posição no topo, e eu preferia manter isso assim. Nate se contorce um pouco no chão, tentando ficar confortável, e em seguida, salta quando Zell bate na porta e grita para ele parar de se mover. Com um estalo, a luz acima de nós desaparece. Coisa de Zell, sem dúvida. Eu começo a cochilar. Provavelmente efeitos posteriores do feitiço de atordoar. — Obrigado, por sinal, — Nate diz, sua voz rompendo minha neblina sonolenta. — por me salvar daquela coisa no meu quarto. Um sentimento estranho toma conta de mim, e eu percebo que nunca fui agradecida antes. É claro que nunca fui. Antes de Nate, ninguém nem soube que eu estava ajudando. — Como você sabia daquela mulher reptiliana assustadora, afinal? — Ele pergunta. — As Videntes, — digo a ele. — Elas trabalham com a Guilda. Elas nos dizem o que veem do futuro ‒ que é apenas uma fração de todas as coisas que podem vir a acontecer ‒ e guardiões saem e param as coisas ruins antes que elas aconteçam. Ele boceja. — Eu acho que elas perderam a parte onde nós fomos sequestrados. — Sim. Não é um sistema perfeito.
Capítulo 4 Eu acordo para encontrar uma luz fraca tentando forçar seu caminho através da janela empoeirada. Meu estômago dói. Meus braços estão dormentes. Nate estica suas pernas amarradas e grunhe. Ele se senta, afastando o cabelo caído de seus olhos. — Por que eu estou com tanta fome? — Eu pergunto. — Mal é manhã. De um canto sombreado, Zell ri. — A manhã veio e se foi, querida. — O quê? Ele vem em minha direção. — Perdão, tive que acertar você com outro feitiço de atordoar. — Ele começa a desamarrar meus braços dormentes. — O plano demorou um pouco mais do que o esperado para ser posto em prática. Calor formiga pelos meus braços quando sangue corre em direção à ponta dos meus dedos. Eu cerro e abro minhas mãos, e o formigamento se intensifica. Zell me puxa em pé. — Hora de iniciar o show. — Ele segura minhas mãos juntas e amarra novamente meus pulsos na minha frente. — Eu não sei nem por que estou me preocupando com isso; eu sei que você é inútil sem sua magia e armas. Não é verdade. — Nós vamos pegar um portal? — Eu pergunto, pensando que talvez Nate e eu possamos nos soltar com Zell e acabar em outro lugar. — Não seja idiota. Drake é humano. — E eu também, — acrescenta Nate. Zell apenas ri e sacode sua cabeça. Como ele sabe que Nate sobreviveu a uma viagem através de um portal faerie? — Além disso, nós não temos que viajar para nenhum lugar, — diz Zell. — Nós estamos bem onde precisamos estar. Ele corta a corda em torno dos tornozelos de Nate e o puxa do chão tão logo Drake entra na sala.
Drake esfrega suas grandes mãos juntas e expõe seus dentes em um sorriso feio. — Vamos começar a festa. Ele afasta Nate de Zell e o empurra para fora da porta, em seguida, pega meu braço e me força a sair atrás dele. Eu tropeço em um degrau, recupero meu equilíbrio, e olho ao redor. Meu coração bate um ritmo mais rápido. Eu reconheço a nossa localização, embora só tenha estado aqui uma vez antes. Nós estávamos na margem da floresta Creepy Hollow. As árvores chegam ao fim a alguns passos de distância, e além disso, estava uma área plana coberta de grama. E, mais além ‒ uma queda enorme que termina tão abaixo que é impossível até mesmo distinguir o fim. Eu queria que eu não soubesse disso no momento. Zell e Drake nos orientam para fora das árvores. No outro lado da ravina, eu posso ver o sol desaparecendo em uma explosão de laranja e rosa. Mas alguma coisa deste lado chama a minha atenção. Algum tipo de artefato, construído bem na margem. Uma viga de madeira corre paralela ao chão e se projeta sobre a ravina. Parece quase como um daqueles esquemas de jogo da forca que eu vi as crianças desenhando em seus cadernos quando eu estive em uma missão na escola. Oh não. Não não não não não. — Vocês não podem fazer isso, — Eu grito, cavando meus calcanhares no chão. — Você nem sabe o que planejamos, — Zell diz, me forçando a continuar me movendo. — Você vai pendurar Nate naquela coisa e balançá-lo sobre o desfiladeiro! — Q-Quê? — Gagueja Nate. — Você esqueceu a parte onde deixamos a corda cair um pouco mais a cada minuto, apenas para ouvi-lo gritar, — diz Zell. Nós chegamos na engenhoca e Zell me empurra para baixo na grama. Drake puxa uma alavanca e as vigas de madeira balançam ao redor, de modo que está acima de nós. Anéis de metal ao longo da parte superior da viga conduzem uma corda que termina em um gancho. — Então, hum, vocês não vão realmente me deixar morrer, não é? — Diz Nate, sua voz oscilando ligeiramente. — Eu quero dizer, vocês acreditam que minha
mãe se preocupa comigo e vocês estão apenas tentando assustá-la para ela aparecer. Certo? — Bem, se ela não aparecer, então nós não temos qualquer outro uso para você, — diz Drake. — Então acho que nós vamos deixá-lo cair. Eu chuto as pernas de Zell tão forte quanto eu posso. Ele cai com um grito, e eu luto para me levantar. Eu corro para Drake, salto em suas costas, e enlaço meus braços sobre a cabeça dele. Eu aperto minhas cordas tão firmemente quanto eu posso contra sua garganta. — Corre! — Eu grito para Nate. — Corre, seu id... argh! — Uma dor aguda queima em meu ombro esquerdo, e eu solto Drake. O rosto de Zell está, de repente, sobre o meu. Ele agarra a frente da minha camiseta, suas mãos ainda faiscando com a magia que ele acabou de jogar em mim, e puxa meu rosto ainda mais perto. — Eu deveria atordoar você, garota estúpida, mas como punição para esse pequeno ato de rebelião, eu acho que você deveria estar acordada para ouvir seu amigo gritar. — Jogue-a do penhasco, — Drake ofega, com a mão em seu pescoço machucado. — Para que diabos nós precisamos dela? Zell me solta no chão de volta. Meu ombro grita. — Para encontrar o outro guardião, lembra? Se isso não funcionar. — Tudo bem, — grunhe Drake. Ele segura o gancho e puxa a corda em direção a Nate. Nate olha para mim. — Por que você não correu? — Eu sussurro ferozmente. Confusão se mistura com o medo em seus olhos. — Você realmente acha que eu deixaria você aqui? Um estranho calor floresce dentro do meu peito. É estranha, essa sensação, e eu quero analisá-la mais de perto ‒ mas o gancho está agora ligado à corda em volta dos pulsos de Nate. As mãos de Drake se movem para a alavanca do lado da engenhoca. Ele começa a girar. A corda no topo da viga fica esticada, puxando Nate fora do chão. Seu rosto torce em dor. Com um movimento da alavanca, ele está pendurado sobre a ravina. — Uou! — Nate olha para baixo, pisca e, em seguida, levanta o olhar para o céu estrelado. — Não é legal. Definitivamente não é legal.
— Isso é loucura! — Eu grito com Drake. — Como é que essa mulher deveria saber que você está pendurando seu filho sobre algum precipício qualquer? Drake me dá um pequeno sorriso. — Ela vai saber. Eu mordo meus nódulos para me impedir de gritar obscenidades para Drake. Faça alguma coisa! Eu silenciosamente grito para mim em vez disso. Salveo, caramba, é para o que você é treinada a fazer! Uma forquilha de relâmpago divide o céu. Eu olho para cima para ver uma nuvem escura que eu tenho certeza que não estava lá momentos atrás. Zell vira seu olhar para cima. Eu não posso dizer se ele está causando a tempestade, mas ele parece ser o tipo de cara perverso que manipularia o clima só para adicionar drama à situação toda. — Pronto para um pouco de diversão? — Drake grita acima das rajadas de vento através da ravina. Ele libera a alavanca da engenhoca, e com um grito de susto, Nate cai como uma pedra. — Pare! — Eu grito com tal força que parece como se tudo dentro de mim doesse. Drake agarra a alça girando, e Nate sacode até parar, gritando de dor. Nas pontas dos meus dedos, que estão esticadas desesperadamente em direção à Nate, eu vejo a menor faísca desvanecendo. Eu abaixo minhas mãos e verifico se a banda de metal ainda está anexada ao meu braço. Está. Mas talvez ela, na verdade, não bloqueie a magia. Talvez ela só torne a magia realmente difícil de usar. Ok. Eu tenho a sensação de que isso vai doer. Muito. Nate grita de novo antes que eu possa decidir que magia tentar e forçar a sair de mim. Eu olho para cima, mas Drake não tinha derrubado Nate novamente. Nós temos um novo problema: as mãos de Nate estão deslizando para fora da corda. E então, eu noto algo mais: uma figura solitária parada no outro lado da ravina. Mas não há tempo para andar por aí e descobrir se é realmente a mãe de Nate. — Violet! — As mãos de Nate deslizam um pouco mais através da corda. Eu cerro os dentes e cavo meus dedos na terra, tirando força dela. Meu pulso queima. E queima. E queima. Eu quase posso sentir o cheiro de carne escaldante sob o metal no meu pulso. Com um rugido de dor e raiva, eu lanço tudo que eu posso reunir em Zell. A bola de faíscas roxas acerta ele no estômago, e ele
voa para trás, para Drake. Drake perde a posse da alça, mas isso não importa, porque Nate já está caindo. A magia rasgou através das cordas em meus pulsos ‒ um bônus adicional que eu não tinha previsto. Eu me lanço em meus pés, corro para a borda do precipício, e salto para os braços descontrolados de Nate. Agora nós estávamos ambos caindo através do ar, e Nate está gritando no meu ouvido, e eu estou tentando desesperadamente tirar minha stylus da minha bota. O que diabos eu estava pensando? Eu não consigo sequer abrir um portal no ar quando estou parada. Como é que eu espero fazer isso quando o ar está passando por mim em um milhão de milhas por hora? Mas não há nada como a ideia da morte iminente para me motivar. Eu manobro nossos corpos caindo de modo que estou debaixo de Nate. Se um portal vai abrir, nós precisamos cair nele, não passar por ele. Eu escrevo as palavras no ar correndo pelas minhas costas. Nada. Vamos lá. Foco. — Nós vamos morrer! — Nate berra. — Cale a boca! — Eu grito, mas o vento arrebata as palavras para longe no momento em que saem da minha boca. Eu mal posso sentir meus dedos, agonia passando para o meu pulso, mas eu tenho que fazer isso. Eu tento de novo. E de novo. Eu fecho meus olhos e imagino as palavras quando as escrevo. E de repente, nós estamos rodeados por um vazio escuro. Nenhum movimento. Nada. Sim! Eu fiz isso! E nós conseguimos escapar de Drake e Zell. Nós começamos a cair para fora da escuridão. Não, espere, esse não era o meu destino. Não! Drake e Zell não são o meu destino. Mas é exatamente onde os caminhos nos depositam ‒ na grama ao lado da engenhoca de madeira. — Que diabos? — Nate arfa. Eu salto para cima, pego sua mão ‒ avermelhada e arranhada da corda ‒ e corro para a pequena cabana. Eu ouço Zell gritando atrás de nós. Merda! Será que ele já se recuperou? Eu rabisco palavras na porta da cabana e mergulho na escuridão com Nate.
Há uma risada atrás de mim, e eu sei que Zell passou antes do portal fechar. Eu paro minha mente antes que vá a qualquer lugar. Não pense. Não escolha um destino. Zell está tão perto; se eu sair agora, será que ele vai ser capaz de nos seguir? Eu não sei. Eu achava que você tinha que ter contato com alguém para viajar juntos através dos portais, mas o fato de que eu ainda posso ouvi-lo... Eu aperto minha mão não lesionada sobre a boca de Nate. Talvez, se ficarmos quietos o suficiente, Zell vai pensar que saímos e ele nos perdeu. A respiração de Nate está quente contra a minha mão, e seus lábios são tão suaves como eu os imaginava ser do assento da janela de seu quarto. Aquele estranho calor retorna para o meu peito. Isso irradia para o meu estômago e ao longo de meus braços, como a luz do sol da primavera despertando uma terra congelada. Isso é estranho. Eu removo minha mão da boca de Nate, certa de que ele entendeu a mensagem agora. — Eu sei que você está aí, — Zell chama suavemente. — Que tal jogarmos um pequeno jogo? — Eu mordo meu lábio. Eu não serei enganada por nada. — A mãe de Nathaniel desapareceu, e eu tenho a sensação de que ela não vai voltar. Então acho que é hora de ir para o plano B. — Sua voz se desloca ao nosso redor enquanto ele fala. Ele está se movendo? Ou isso é alguma estranha qualidade dos portais? — Então, o jogo é assim, Violet, — Zell continua, e eu tremo com a forma como ele sussurra meu nome. — Você concorda em me dizer onde eu posso encontrar um certo guardião faerie, e eu concordo com não matar o jovem Nathaniel. Se você decidir não me dizer, então você vai assisti-lo morrer. Ótimo jogo. — Agora. O guardião que eu procuro tem um talento especial. Um talento para encontrar pessoas. Qualquer um. Qualquer lugar. Você ouviu falar deste guardião? Eu aperto o braço de Nate tão forte que eu provavelmente interrompi o fornecimento de sangue para os seus dedos. — Você sabe de quem eu estou falando, — diz Zell, sua voz soando mais perto e então se afastando. — E quando eu colocar minhas mãos em você, eu vou arrancar a resposta da sua mente.
Bem, você vai ter que me pegar primeiro. Eu escolho meu destino. Nós caímos fora da escuridão para o shopping, bem em frente ao elevador, assim como eu planejei. Está aberto ‒ obrigada, obrigada, obrigada ‒ e vazio. É claro que está vazio, é noite. Corro para dentro do elevador, nunca deixando a mão de Nate, e aperto o primeiro botão que eu vejo. Zell aparece. — Fecha, merda, fecha! — Eu grito para as portas mecânicas. Através da fenda, lentamente estreitando, vejo Zell levantar a mão. As portas se encontram e o elevador inteiro estremece sob o poder do feitiço de Zell. Eu levanto minha stylus para o espelho ao meu lado, cerro os dentes para não chorar em agonia, e rabisco uma vez mais. Corremos para dentro da escuridão aberta. — Avenida Draven, — Eu deixo escapar desesperadamente.
Capítulo 5 Nós caímos sobre a grama nos fundos do jardim do Nate. Eu me endireito imediatamente, com medo que Zell nos siga de alguma forma. Mas a única coisa que quebra o silêncio nessa rua quieta é o som da nossa respiração forçada e o chilro ocasional de um grilo. Eu caio de lado ‒ o lado que não foi atingido pela magia de Zell. Minha stylus rola da palma da minha mão aberta para a grama ao meu lado. Eu tento alcançála para colocá-la de volta na minha bota, mas minha mão dói tanto que nem consigo mexer meus dedos. Nate toma ar profundamente algumas vezes antes de se apoiar em um cotovelo. Ele me olha e diz, — De todos os lugares do mundo em que poderíamos ter desembarcado depois de cair daquele penhasco, você escolheu nos trazer de volta justamente para as mesmas pessoas que tentaram nos matar? Eu me sento em descrença, piscando para me livrar das manchas escuras que ameaçam engolir minha visão. — Você não deveria estar me agradecendo? — Vi, — ele diz, um sorriso virando seus lábios para cima, — Eu só estou... — Você era o único que estava convicto de que eles realmente não iriam nos prejudicar. Você arruinou a nossa chance de escapar na noite passada. Você sequer tentou fugir quando eu ataquei o Drake no penhasco! Eu venho tentando salvar sua pele desde o momento em que a reptiliana apareceu no seu quarto – um trabalho que você não tem tornado exatamente fácil para mim – e agora que estamos finalmente fora de perigo, você nem tenta... Ele se inclina sobre mim, interrompendo minhas palavras pressionando seus lábios nos meus. Ele está me beijando. Ele está me beijando! Eu congelo por um segundo. Então o empurro para longe de mim antes de perceber que eu
realmente meio que gostei disso. — Me... me desculpe. Foi apenas... instinto. Você, hum, me pegou de surpresa. Eu quero que ele me beije de novo? É uma boa ideia? Não. Sim. Eu não sei! — Sem problema, — diz Nate, evitando olhar para mim. — Só estava tentando fazer você parar de gritar comigo. Eu não consigo dizer nada. — Veja como funcionou, — ele acrescenta. — E eu não estava tentando fazer você ficar com raiva com esse comentário. Eu só estava... fazendo uma leve observação. E obrigado. Por me salvar. De novo. Ele não estava tentando me beijar de novo. Provavelmente é o melhor. Não, definitivamente é o melhor. Eu não deveria ser beijada por garotos humanos. Estou certa de que isso está em alguma lista de regras da Guilda. — Oh, uau, você já viu atrás do seu ombro? — Nate pergunta, se inclinando para um lado e tendo uma visão melhor das minhas costas. Eu olho fixamente para ele. — Desculpe. Pergunta idiota. É claro que você não pode ver. Isso, hum, parece bem doloroso. — Não tão doloroso quanto isso. — Eu estendo meu pulso queimado. Está doendo tanto que eu acho que posso vomitar. — Fala sério? — Nate sussurra, tocando meu cotovelo para trazer meu braço mais perto de seu rosto. A pele em torno da pulseira de metal está com bolhas e ferida. — Isso aconteceu porque você usou magia? — Sim. Eu acho que essa pulseira é destinada a fazer o uso da magia ser tão doloroso que o usuário basicamente fica impotente. Mas, sabe, nós tínhamos que ir embora. — Você tem que cuidar disso. — Os olhos de Nate estão arregalados e preocupados. — Suponho que sim. — As manchas escuras estão nadando em frente aos meus olhos de novo. Normalmente, eu teria me curado de algo desse tipo muito rapidamente, mas – “Não desmaie, não desmaie” – hum, eu acho que essa coisa de pulseira está evitando isso.
Nate olha em direção à sua casa. — Vamos entrar. Eu posso te arranjar uns analgésicos, pelo menos. Meus pais gostam de ir para a cama cedo, então enquanto estivermos quietos, não iremos... — Violet! — Minha cabeça se ergue rapidamente para procurar pela fonte da voz. — Você está bem. — Um homem salta do telhado e aterrissa ao nosso lado. Eu entro em pânico quando percebo que o reconheço. É Flint, o irmão mais velho de Tora. Ele está envolvido com a segurança da Guilda, então eu não estou inteiramente certa do que ele está fazendo, saindo do telhado do Nate. Oh, droga, será que ele viu a gente se beijando? — Tora vai ficar louca, — diz Flint. — Ela vai ficar tão aliviada quando souber que você está bem. — Mas... — eu estou confusa agora. — Como ela soube que havia algo de errado? — Raven viu o que aconteceu. — Flint senta-se na grama e cruza as pernas. — Ela estava nas árvores, pondo armadilhas para aqueles nixles que estão procriando fora de controle, e algumas faeries – um carmim, eu acho que ela disse isso – surgiram não sei de onde, surpreenderam vocês dois, e desapareceram com você. Eu concordo. — Imagino que foi isso que aconteceu. — Nós não tínhamos ideia de onde procurar por você, é claro; você é a única que tem essa habilidade. — Flint dá uma piscadela para mim. Nate me lança um olhar estranho. — Então Tora tem reclamado com os caras sobre a Faerie Desaparecida o dia todo – você sabe como eles são lentos – e eu tenho checado aqui regularmente, esperando que você aparecesse. Oh, quase esqueci. — Flint pega uma pequena bolsa atrás dele e retira um kit de primeiros socorros. Ele abre a tampa, ergue dois mini cupcakes e nos dá um para cada. — Raven modificou o seu levemente, — ele diz ao Nate. — É seguro para humanos. Nate olha fixamente para o cupcake em sua mão por alguns segundos, então olha para Flint — É sério? O braço da Vi foi magicamente chamuscado e você acha que ela precisa de um cupcake? — O quê? Deixe-me ver. — Eu estendo meu braço, e Flint se aproxima. Ele examina o metal que está preso à minha pele. Eu observo sua expressão se tornar obscura.
— Você sabe o que é isso, — eu digo. Ele concorda. — Eu não vejo um desse há muito tempo, mas sei o que é e sei como removê-lo. — Oh, ainda bem. Apesar disso, Flint não parecia feliz. — Vai doer, Vi. Seriamente. Muito seriamente. Você definitivamente deveria comer o cupcake primeiro. E vamos sair do campo de visão da casa. Eu estou invisível, mas vocês dois estão bastante notáveis. Nós nos amontoamos entre arbustos de rosas, e Nate põe o cupcake em sua boca em uma mordida. Eu faço o mesmo, e dentro de segundos, eu sinto uma espécie de cura forte se espalhando através de mim. Ao mesmo tempo, a dor em meu pulso aumenta. Meu corpo luta para se curar, mas essa terrível pulseira de metal não quer deixar. — Esse não era um cupcake normal, era? — Disse Nate, logo que terminou de degluti-lo. — É claro que não, — diz Flint. Ele tira uma stylus especial de seu kit de emergência. Em vez de estreitar até um ponto, ela tem uma ponta quadrada e plana. O tipo de ponta que você poderia inserir por baixo das coisas. — Ok, vamos tirar essa coisa de você. Eu engulo, então me sobressalto levemente quando sinto a mão de Nate segurando meu braço ileso. — Aperte o mais forte que você precisar, — ele diz. — Mas só para você saber, se houver algum sangue envolvido, eu provavelmente desmaiarei. Flint firma meu braço acima do pulso e sussurra palavras que não reconheço. Então, muito gentilmente, ele empurra a ponta da varinha por baixo da pulseira de metal. O lampejo de dor parece estar em toda parte no primeiro momento – peito, cabeça, dedos, pés, olhos – me cegando com sua intensidade. Eu salto para trás, respiro fundo e vejo as manchas negras se reunirem com toda força ante meus olhos. Vozes murmurando me despertam. A dor se foi, apesar de um profundo cansaço atingir bem no meu âmago. Eu pisco algumas vezes, e meus olhos focam no rosto preocupado de Nate. Eu consigo sentir a grama sob minha cabeça. — Eu acho que fui a única que desmaiou, hum?
— Compreensível, — diz Flint, sua cabeça aparecendo atrás de Nate. — Eu provavelmente deveria ter posto você para dormir antes. Desculpe por isso. Encolho os ombros. — Eu só fiquei consciente por cerca de três segundos de dor antes que tudo ficasse preto. — Eu levantei o meu braço para dar uma olhada. Uma faixa de pele vermelha e irritada circundava meu pulso. Mas a intensa agonia desvaneceu para um mero sussurro de dor. Eu me sento e percebo que Nate ainda está segurando minha outra mão. Eu não a puxo de volta. — Isso deixará uma cicatriz, — Flint me diz. — Estranho, eu sei, já que não devemos ter cicatrizes, mas isso deve ser alguma propriedade mágica da pulseira. — Ele se levanta. — Eu pus alguns encantamentos de proteção em volta da casa para o caso de faeries virem atrás do garoto. Eu tiro minha mão de Nate – relutantemente – e me levanto. — Obrigada, apesar disso provavelmente não ser necessário. Eu não acho que ele saiba onde Nate mora, ou tenho certeza de que ele teria vindo aqui primeiro e pegaria Nate quando ninguém mais estivesse por perto. Mas, como Zell soube que Nate estava na floresta de Creepy Hollow comigo? — Bem, eu preciso ir, — diz Flint. — Eu já informei à Tora que você está bem. Ela te visitará pela manhã. Oh, e os pais do garoto acham que ele esteve fora em uma viagem de estudo da escola. — Obrigada, Flint. — Eu me inclino para frente para abraçá-lo. — Você pode cuidar das coisas daqui em diante? — Ele sussurra no meu ouvido. Eu sei o que ele quer dizer, e por uma fração de segundo, eu me pergunto se ainda tenho aquele frasco de Esquecimento. Mas então, eu bato de leve no meu bolso e encontro uma forma minúscula e cilíndrica. Eu concordo com Flint. É claro que eu vou cuidar disso. Eu vou. Nate definitivamente precisa esquecer tudo o que aconteceu. Flint se ajoelha na grama e escreve um portal no chão. Ele pula para dentro do vazio e desaparece. Ok. Agora você só precisa fazer Nate beber o que está nesse frasco. Então você pode ir para casa e tudo isso estará acabado. Dou meia volta e me junto a Nate no chão. Ele está brincando com a minha stylus. — Por que isso não funciona comigo? A magia acabou ou algo assim?
Eu rio. — A magia não está na stylus, seu bobo, está em mim. Está na natureza. — Eu junto as palmas das minhas mãos uma na outra, desenho com meu próprio poder, e observo minhas mãos em concha se encherem com um líquido como prata fundida. Nate se inclina mais para perto e a toca. Seus dedos voltam secos. Eu jogo o líquido no ar e observo as gotas se transformarem em cintilantes borboletas prateadas que voam para longe rapidamente. — A stylus ajuda apenas a canalizar a magia, — eu explico, — como quando mandamos mensagens em âmbar uns aos outros, ou abrimos portais. — Mas e quando você conjura armas brilhantes do nada, tudo o que você precisa são suas mãos? — Ele pergunta. — Oh, as armas são diferentes, — eu digo. — Quando começamos o nosso treinamento, a cada um de nós é atribuído um conjunto de armas. Arco e flecha, espada, chicote, adaga e um monte de outras coisas. Essas armas são encantadas, então nós não temos que levá-las conosco. Mas não é como se elas fossem invisíveis, é mais como... se elas existissem em outra dimensão. — Outra dimensão? — Nate sorri. — Nós mudamos da magia para a ficção científica agora? — Bem, eu realmente não sei mais como explicar isso. — Eu torço um pedaço de grama no meu dedo. — É como se elas estivessem sempre lá, só que fora de alcance. Então, assim que eu preciso de uma, minha mente chama por ela, e no momento seguinte, está em minhas mãos. Quando eu não preciso mais, elas desaparecem. — Incrível, — diz Nate com um sorriso. Ele se inclina para trás sobre suas mãos. — Isso soa estranho, mas eu estou agradecido pela reptiliana ter me atacado. De outra forma, eu nunca teria conhecido o seu mundo. Ou você. Você está prestes a esquecer tudo isso. Você está prestes a me esquecer. Mas eu não quero que ele esqueça. Eu quero que ele me beije de novo. Ele deve ter notado na minha expressão, porque ele se debruçou sobre mim. — Eu não vou contar a ninguém o que eu sei, — ele diz. — Eu juro. Pode confiar em mim. Eu concordo. Acredito nele. Mas não é dessa forma que funciona. Nate baixa o olhar para o seu colo. — Vi, — ele diz, e eu sei que é estupidez, mas eu gosto da forma como ele fala o meu nome. — Aquele faerie carmim estava procurando por um guardião que
tivesse alguma habilidade especial de localizar pessoas. E esse outro faerie que estava aqui disse que você saberia onde procurar se alguém estivesse desaparecido. Ah, não só um rosto extraordinariamente bonito afinal de contas. — Sim, — eu digo lentamente. — Essa seria eu. Ele se aproxima um pouco mais. — Então você poderia encontrar minha mãe? Eu estreito meus olhos. — Achei que você não queria ter nada a ver com ela. — Oh, qual é. Você sabia que eu estava falando besteira quando disse aquilo. Você até revirou os olhos. — Eu não sei, Nate... Ele apanhou minha mão. — Por favor, quero dizer, não é como se eu a quisesse em minha vida ou algo do tipo. Eu só quero saber o que é isso tudo. Como ela se envolveu com um faerie? Por quê que ele precisa tanto encontrá-la. Eu tenho que admitir que eu também gostaria de saber as respostas dessas perguntas. Possivelmente, uma vez que eu tenha feito Nate esquecer de tudo, eu posso descobrir sozinha. Só há um problema... — Você tem algo que pertença a ela? — Hum, acho que não. Por quê? — Bem, eu tenho que me conectar a ela de alguma forma. Seria mais fácil se eu a conhecesse. Mas já que eu não a conheço, vou precisar de algum item que pertença a ela. — Oh. — Nate parece desapontado, mas então seu rosto se ilumina. — Meu pai deve ter pego alguma coisa dela. Estou certo de que podemos achar algo. Estou certa de que eu posso achar algo. — Então, você vai me ajudar? — Nate pega a minha outra mão agora. — Hum, sim, ok. — Eu odeio mentir para ele. Me sinto horrível. Mas eu tenho que fazê-lo esquecer de mim e do meu mundo. Se eu não o fizer, e a Guilda descobrir, eu serei expulsa. — Nate, por que você não tem uma namorada? — Ok, o quê? Eu não me lembro de ter pensado sobre isso antes de dizer. Eu tentei tirar minhas mãos das dele, mas ele não deixou. — Quero dizer, estou assumindo que você não tenha, porque, sabe, você me beijou. Mas você parece ser um cara legal, então eu só estou
perguntando por que você não... namora. — Eu estou hesitando. Eu gostaria que a terra se abrisse e me engolisse por inteira. Pensando bem, se eu conseguisse alcançar minha stylus, eu poderia fazer isso acontecer. Nate baixa os olhos para o seu colo. — Eu estava saindo com alguém ano passado, mas... bem, não deu certo. — Ele enlaça seus dedos entre os meus, e um arrepio desce pelas minhas costas. — Esse ano, eu pensei que deveria me focar mais na escola. Eu não estou indo mal em química, a propósito. Atualmente, é a minha matéria favorita. — E você não acha que perseguir sua mãe vai interferir nos seus estudos? — Não se usarmos aquelas coisas de portal mágico das faeries. Nós podemos ir a qualquer lugar em pouco tempo. Poderíamos ter um encontro em Paris e voltar na mesma noite. Um encontro. Isso não está acontecendo, Violet. Dê logo a maldita poção a ele e vá embora. Ele se inclina para frente e diminui a distância entre nós. Seus lábios tocam os meus, hesitando por um momento só para o caso de eu querer me afastar – eu não quero. – Seus lábios estão mais frios que os meus, algo que eu estava assustada demais para notar da primeira vez. Meu coração bate tão ferozmente que dói. Eu abro minha boca e sua língua pressiona contra a minha. Ele tem o gosto do cupcake que comi antes de desmaiar. Eu quero chegar mais perto dele. Eu quero pôr os meus braços em volta dele e sentir o ritmo do seu coração, mas é impossível pela maneira que estamos sentados, de pernas cruzadas, encarando um ao outro, sem separar meus lábios dos dele. Eu descruzo as pernas e me apoio sobre os joelhos. Rastejo mais para perto, minhas mãos se movendo para... E então um horrível som de gorgolejar nos faz saltar de susto. Eu olho para cima e vejo uma luz acesa na casa do Nate. Nate balança a cabeça e começa a rir. Ele me puxa para perto e sussurra em meu ouvido, — eu aposto que você nunca pensou que uma privada a assustaria. Uma privada. É claro. Eu não sei se fico com raiva ou se agradeço. — Você quer beber alguma coisa? — Nate pergunta, correndo seus dedos por dentro do meu braço. — Estou morrendo de sede.
Tentando ignorar os arrepios que sobem por toda a minha pele, eu digo, — Ah, sim, obrigada. — Eu deixo ele me conduzir pela porta dos fundos. Que oportunidade perfeita; eu posso esvaziar a poção em seu copo quando ele não estiver olhando. O pensamento faz meu peito doer. Nós entramos em sua cozinha na ponta dos pés, e Nate nos serve algo para beber. Eu deslizo minha mão para dentro do bolso e retiro o frasco, cerrando-o em meu punho. Nate põe os dois copos sobre o balcão no centro da cozinha e o jarro de volta à geladeira. É só derramar no copo, é só derramar no copo. Eu hesito, perco minha oportunidade. Sem problema. Eu vou esperar até ele estar distraído. Nate se debruça no balcão e se estica através dele para pegar minha mão de novo, como se o contato físico fosse uma linha da vida para ele. Eu estou com medo de olhá-lo, mas meus olhos são atraídos para os dele como que por magia. Eu não consigo desviar o olhar. Seus olhos são piscinas escuras que eu imagino a mim mesma caindo dentro. E lá está aquele calor no meu peito de novo que simplesmente parece não ir embora. Esse calor que acelera meu coração e rouba meu fôlego. Mas no fundo é uma dor. Um desejo profundo e desesperado de não estar mais sozinha. Com Nate, eu não sentiria essa dor nunca mais. Eu deslizo o frasco de volta para o meu bolso. — Então, — eu digo, — onde vamos achar sua mãe?
PARTE II
Capítulo 6 Chego no fim do corredor vazio da Guilda pela milionésima vez. Eu viro automaticamente e continuo andando. Se alguém perguntar, estou tentando desgastar o piso de madeira usando somente o poder de um par de saltos altos. A verdade, entretanto, é bem menos glamorosa. Eu sou uma faerie desonrada prestes a ser destroçada pelo Conselho da Guilda por ter infringido a Lei. Meu tornozelo esquerdo vira para o lado quando dou um passo vacilante para frente. Saltos idiotas. Eu gostaria de encontrar os idiotas que decidiram camuflar um objeto de tortura como um item humano da moda. Eu mostraria a eles que há coisas bem melhores a fazer com saltos pontudos. Eu sento no banco do lado oposto a única porta nesse corredor e torço minhas mãos juntas no meu colo. O Conselho deveria ter me chamado há pelo menos dez minutos; acho que seis deles estão garantindo que estarei completamente aterrorizada antes de me interrogarem sobre meus supostos crimes. Como eu poderia convencê-los de que não é minha culpa que Nate me seguiu para Creepy Hollow se nem consigo impedir meus próprios dedos de tremer? Escuto passos vindo pelo corredor. Coloco a cabeça entre minhas mãos, garantindo que meus dedos cubram meu rosto. Continue andando, continue andando, eu incito os passos. Mas eles param. Eu abro um pouco meus dedos e vejo um par de botas pretas como um padrão intricado de espinhos gravados nas fivelas de metal pesado. Meu coração afunda. Fantástico. Por que meu dia não piora ainda mais? Levanto a cabeça e me deparo com os olhos azuis de Ryn. Ele senta no banco à minha frente. Isso não é uma coincidência. Ele não tem nenhum motivo para estar aqui, a não ser para me atormentar. — Ouvi dizer que você se divertiu
bastante voltando da casa do humano... — ele diz. Seus olhos viajam para a cicatriz no bracelete em meu pulso. — E que você teve uma sessão de amassos com ele no gramado da frente. — No gramado de trás, na verdade. — Eu tento manter minha voz tranquila, mas tenho subitamente a vontade de socar a parede. Vou matar o Flint. Eu não sabia que ele tinha visto aquele beijo. — Pena que seu humano não lembra de mais nada agora. Aposto que o beijo foi incrível. — Ryn coloca a língua para fora e finge se babar todo. Encantador. — Quantos anos você tem mesmo? — pergunto. Eu gostaria de enfiar a língua dele garganta abaixo, mas fico aliviada que ele pense que Nate não lembre de nada. Eu passei os últimos dias morrendo de medo que alguém descobrisse o que fiz. Ou mais precisamente, o que não fiz. Ryn abre a boca para responder, então congela. Seus olhos deslizam de mim e param em... minha orelha? Eu aperto meu lóbulo e sinto o pequeno brinco afiado em forma de flecha. Eu aceitei a ideia do Nate e decidi usar a porcaria invés de carregar por aí na sola da minha bota. Agora eu lembro porque parei de usá-los em primeiro lugar: Eu nunca gostei quando Ryn me olha e parece querer me matar. A porta ao lado de Ryn abre e o membro mais jovem do Conselho coloca sua cabeça azul e loira para fora. — Nós a veremos agora, senhorita Fairdale. Eu levanto e ando em direção a porta. O olhar de Ryn nunca me deixa. — Quebre uma perna. — Ele diz, sua voz como gelo fino. Eu não acho que tem o mesmo significado dos humanos. A primeira coisa que faço quando chego em casa é tirar o sapato. Eu queria jogar os malditos saltos fora, mas já que eles pertencem a Tora, provavelmente não seria bom. Eu jogo o sapato no sofá, acordando Filigree, que se transforma num porco-espinho no susto. Quando ele vê que sou apenas eu, ele volta para versão mansa de si mesmo, senta ereto, e balança a cabeça para o lado.
***
— Você não quer saber. — Digo a ele e vou em direção as escadas. — Digamos que eu estou feliz que acabou. — Subo direto para o meu quarto, tirando o vestido da Raven no caminho — Tora se recusou a me deixar encarar o Conselho com minha roupa chutadora-de-bundas do dia-a-dia. O vestido pousou na minha cama. Eu puxei a gaveta e puxei a primeira calça e blusa que vi. Não tem sentindo em procurar na pilha. Tudo que possuo é basicamente o mesmo: preto, justo e fácil de se movimentar. Essa blusa em particular tem tiras de couro o perpassando, caso eu sinta a necessidade de prender algumas armas em meu corpo. Felizmente, agora, não preciso.
***
Desço pulando os degraus, dois de cada vez, e deslizo para dentro da cozinha. Pego uma maça da tigela de fruta e mastigo enquanto Filigree serve a si mesmo com algumas nixles torradas de um pote no balcão. — Voltarei mais tarde. — Digo, acariciando sua cabeça com uma mão e a outra alcançando minha stylus com a outra. Ele estreita os olhos negros para mim. — Eu sei, eu sei, estou quebrando mais regras. Não precisa me lembrar. Ignorando, a agora familiar, pontada de culpa, abro uma porta na parede curva da minha cozinha, atravesso, e mentalizo uma imagem do quarto do Nate. Talvez se eu me concentrasse o suficiente, poderia pousar exatamente... no.... Saio da escuridão do caminho das faeries, atinjo a beira da cama, e caio no chão. Oops. Tanto para um pouso perfeito. Levanto num instante, meu rosto ardendo de vergonha, mas parece não ter ninguém aqui. Bem, eu não me importo de ficar esperando Nate voltar de onde quer que tenha ido. Não é como se eu tivesse mais alguma coisa para fazer, agora que estou banida de entrar na Guilda por uma semana. Eu perambulo pelo quarto de Nate. Suas prateleiras são uma bagunça de livros infantis antigos, DVDs, pequenos carrinhos acumulando poeira, e diferentes jogos de xadrez. Papéis e cadernos cobrem a mesa dele, e o computador emite um zumbido baixo. Um livro de química está no meio da cama, com um marcador sobressaindo entre as páginas. Eu me estico na cama e abro o livro onde o
marcador aponta. Cartas, números e flechas estão rabiscados nas margens. Eu torço um fio de cabelo roxo entre os dedos enquanto tento interpretar as anotações. — Vi, oi! — Fecho o livro correndo e levanto o olhar para ver Nate parado na porta. Ele puxa e fecha a porta e anda em direção a cama. — Sabe, pessoas normais usariam a porta da frente. — Ele diz. — Pessoas normais não seriam capazes de ver que estou aqui. — Digo a ele, me sentando. Ele coloca o livro de lado e senta na ponta da cama ao meu lado. — Acho que nenhum de nós é normal então. Inclino minha cabeça para baixo e olho para ele sob os cílios, com o que espero ser uma forma sedutora. Tenho experiência zero nessa área, então é possível que eu pareça uma completa idiota. Mas devo ter feito algo certo, porque Nate chega mais perto e levanta a mão e acaricia minha bochecha com os nós do dedo. Seu olhar desliza para a minha boca, e ele se inclina para frente. Finalmente, penso. Finalmente, finalmente. Ele não me beija desde aquela noite na grama. E eu só pude visitá-lo uma vez desde então. Os pais dele estavam discutindo bem alto no quarto ao lado ‒ um ótimo quebra clima ‒ e depois, os amigos dele ligaram para falar sobre dever de casa, e então Tora me mandou uma mensagem querendo saber porque eu não a tinha ouvido bater na porta da minha casa. Estou quase fechando os olhos quando Nate para. — Oh, o interrogatório. — Ele se afasta de mim. — Como foi? Deixei escapar um longo suspiro e me arrastei pela cama para encostar no pé da cama. — Após um longo debate, o Conselho decidiu que talvez não tenha sido minha culpa eu ter te levado para Creepy Hollow. — Isso é ótimo! — ...mas como é uma regra tão importante, eu preciso ser feita de exemplo e blá blá blá, eu falhei na minha atribuição. — O rosto de Nate se fecha. — E, — acrescento com uma careta, — o Conselho decidiu me suspender por uma semana, isso significa que não posso entrar e treinar, e vou perder qualquer atribuição que eles distribuírem. A mão de Nate acaricia meu pé. — Mas você terá muito tempo para sair comigo. — ele sorri, e algo flutua na região do meu estômago. A voz imaginária de
Tora me lembra quantos problemas poderia arrumar se alguém soubesse que estive aqui. Eu falo para voz ir embora. — Então você encontrou mais alguma coisa da sua mãe? — pergunto a Nate enquanto sento e cruzo as pernas. Sem qualquer atribuição da Guilda para ocupar meu tempo, eu provavelmente vou entrar em algum tipo de retiro. Eu preciso de um ‘projeto’ para me manter ocupada, e tentar fazer Nate me beijar de novo não conta. — Não. Eu terminei verificar o escritório do meu pai quando cheguei hoje à tarde, mas não consegui encontrar nada que seja remotamente ligado à minha mãe biológica. — Ele hesita, e um sorriso torto se forma em seu rosto. — Eu cheguei a mencionar quão estranho é quando você simplesmente surge no meu quarto? Voz imaginária da Tora: SAIA DO QUARTO DELE. — Estranho numa forma boa, claro. — Nate se apressa em completar quando não respondo. Ele tira uma mecha de cabelo castanho dos olhos. — Eu gostaria que você fizesse isso mais vezes. Sorrio timidamente. — Eu meio que estava esperando que você viesse e visitasse minha cama ‒ casa, quis dizer casa ‒ qualquer dia. — MERDA! Não sei quem está corando mais agora. Um momento de silêncio constrangedor passa e depois Nate diz, — Quer dizer que você tem uma casa então? Não é uma árvore mágica igual sua Guilda chique? Jogo algumas faíscas roxas na direção dele, ciente de que ele está se divertindo comigo. — O que há de errado com árvores mágicas? As faíscas se transformam em besouros que zumbem em volta da cabeça de Nate. Ele os espanta rindo. — Então você mora numa árvore? — Para falar a verdade, moro. Todos nós moramos. Parece uma árvore normal olhando de fora, mas uma vez que você entra... — ...é realmente um castelo das faeries com uma fonte de sereia no átrio e unicórnios montando guarda na porta? Cruzo meus braços. — Não Nate. É como uma casa normal, só que redonda em vez de quadrada. — Oh, isso é sem graça.
Eu acho que seria para alguém que mora nesse bairro. — Olha, Nate, nós podemos não ser tão ricos quanto... — Estou brincando, Vi! — ele se inclina para frente e pega minha mão. — Parece, bem, impossível colocar uma casa normal dentro de uma árvore. Mas isso é mágica, certo? — Bem, não é como se a casa ficasse dentro da árvore. — expliquei. — É uma mágica poderosa e glamorosa que esconde a casa, de forma que se você olhar para ela, só verá uma árvore. — O que quer que seja, eu adoraria visitar você e conhecer seus amigos e aprender mais sobre seu mundo. Certo. Eu ainda não mencionei a Nate que não é permitido que ele conheça ninguém que eu conheça. E não é como se eu tivesse algum amigo para apresentar a ele, de qualquer forma. Horas extras de treinamento e atribuições extras não deixaram muito tempo para amizade. Eu também tenho uma suspeita que Ryn espalha rumores sobre mim pelas costas. — Isso é bonito. — Nate diz. Percebo que ele está olhando o anel em meu dedo. — Oh, obrigada. Como agora não tenho permissão de lutar pelos próximos dias, pensei em usar as poucas joias que possuo. — De quem é isso? — Nate levanta minha mão e examina a pedra roxa com suas incomuns manchas douradas. — É um tokehari do meu pai. — Toke-ah-oque? — Nate abaixa minha mão, mas não a solta. Seu polegar se move em padrões aleatórios pela minha mão. Faz cócegas, mas da melhor maneira possível. — É uma tradição antiga. — Explico, tentando arduamente controlar os arrepios que sobem pelo meu braço. Guardiões são sempre conscientes de que cada atribuição pode ser a última, então todo guardião com filhos separa um item especial para cada um dos filhos. Claro, os filhos podem herdar muitas coisas se os pais morrerem, mas o tokehari é especial. — Especial como em... magicamente especial?
— Possivelmente, mas eles não têm que ser itens mágicos. Esse é só um anel que meu avô deu à minha avó. Meu pai herdou, e quando nasci, ele obviamente decidiu dá-lo a mim. — Legal. — Nate diz. — Sua mãe te deixou alguma coisa? — Uh, sim. Um colar. De qualquer forma, você já procurou no quarto do seu pai? — Hmm? — Nate fica confuso com a mudança repentina de assunto. — Oh. Não, mas podemos fazer isso agora. — Ele pula para fora da cama. — Hoje é o dia de folga da Lucinda, então não tem ninguém aqui além de nós. — Encontro seu olhar enquanto levanto, e algo me diz que tem outro significado por trás dessas palavras. Voz imaginária da Tora: NÃO VOLTE PARA AQUELA CAMA COM ELE. Suspiro mentalmente. Se não são os pais de Nate para quebrar o clima, é minha consciência pesada. Eu afasto meu olhar de Nate. — Okay, mostre o caminho então. Nós cruzamos o superdimensionado quarto e andamos pelo corredor que liga o resto da casa. A primeira porta que passamos está fechada, a segunda foi deixada entreaberta. Nate empurra a porta e me puxa para dentro. Meus pés afundam no carpete grosso. Nate abre os braços. — Por onde quer começar? Meus olhos varrem a cama, a penteadeira, a arte em tons de sépia nas paredes. — Bem, se eu quisesse guardar alguma coisa num lugar que ninguém acharia, guardaria... no closet? — Nate anda através do quarto e abre a porta para entrar no closet. É maior que meu banheiro. — As coisas do meu pai estão a direita. — Nate diz, suas mãos vagueando pelas blusas e casacos. Os cabides chiam quando são arrastados para frente e para trás no trilho. O cheiro de perfume permanece. — Seu pai provavelmente não gostaria que eu usasse as prateleiras como escada, né? — Provavelmente não. Mas ele também não gostaria que mexesse nas coisas dele, e nós não estamos pedindo a permissão dele para fazer isso, então suba. Eu levanto meu pé para a primeira prateleira e Nate começa a procurar pela gaveta de meias, gravatas e cueca. Eu continuo subindo até minha cabeça estar
nivelada com um espaço aberto que ocupa toda a parte de cima do closet. — Tem várias caixas aqui. — digo, meu dedos segurando a madeira compensada coberta de poeira. — E arquivos, álbum de fotos e livros. Vou descer as caixas. — Pulo para o carpete. — Por que você não passa as caixas para... — Nate para de falar e esquece de fechar a boca enquanto as caixas flutuam, uma por uma, até o chão. — Faerie, lembra? — digo, me ajeitando no chão e cruzando as pernas embaixo de mim. — Não sei se algum dia vou me acostumar com isso. — Ele senta em frente a mim e começa a paginar os arquivos enquanto eu tiro a tampa de uma das caixas de sapatos. Está cheia de cartões de aniversário antigos e muitas fotografias soltas. — Esse é ela? — pergunto. Nate alcança a foto. — Não, essa é a minha mãe. Madrasta, quero dizer. — Ele vira a foto e olha a data escrita no verso. — De antes de ela casar com meu pai. — Ele coloca a foto na caixa de novo, e eu coloco a caixa de lado e pego outra. — Okay, nada útil ali. — Digo, depois de examinar desenhos de giz de cera e fotografias de criança. — Só um monte de fotos de você parecendo mais fofo do que é agora. — Nate tosse e olha para mim. Merda, eu disse isso alto? Olho para o meu pé, desejando que eu pudesse esconder minha vergonha com glamour. — Hum, qual o nome dela? Sua mãe biológica. Nate vira o arquivo que está em seu colo. — Angelica. Eu não lembro o sobrenome. — Você sabe por que ela foi embora? Ele balança a cabeça. — Meu pai sempre diz que ela nunca curtiu vida familiar. Mesmo quando descobriu que estava grávida de mim, ela não queria se casar com ele. Ele gosta de me dizer que ela me amou muito, mas tenho quase certeza que ele só diz isso para eu me sentir melhor. — Nate fecha o arquivo e coloca outro no colo. — Quero dizer, se ela me amou, então por que ela foi embora? Meus dedos traçam o título em relevo de um antigo livro de capa dura. — Talvez algo tenha acontecido, e ela não tivesse outra escolha a não ser ir embora. — Bem, tanto faz. — Nate passa mais algumas folhas plásticas. — Acabou sendo para o melhor. Minha madrasta é bem legal, no que compete a mães.
Deslizo meus dedos sob a capa do livro e empurro-o para trás, ouvindo o rangido da lombada antiga. E ali, na escrita exageradamente nítida de uma criança, está o nome dela.
Capítulo 7 — Angelica! — Eu solto. — O quê? — A cabeça de Nate se ergue. — Está aqui. O nome dela. Este era um livro dela. — Eu passei para ele, e um marcador cai de entre as páginas. Recuperando-o da caixa de fotos em que caiu, eu vejo que não é um marcador, afinal, mas um disco de metal fino, manchado com a idade. Um símbolo de um grifo com uma serpente com uma cauda está gravado na superfície. Algo mexe na minha memória. — O que é isso? — pergunta Nate. Eu balanço a cabeça, virando o disco. O reverso do mesmo padrão está do outro lado. — Eu não sei, mas é estranho. Eu sinto que já vi esse símbolo antes. Nate pega o disco. — Não tem muitas pessoas? Quero dizer, é um grifo, não é? — Sim, mas os grifos não costumam ter rabos de serpente. Eles têm um corpo de leão, o que significa que também têm uma cauda de leão. Mas este tem uma serpente real onde a cauda deveria estar. E está vendo a maneira como a serpente se enrola, fazendo um círculo ao redor do grifo? — Nate acena com a cabeça. — Tenho certeza de que já vi essa imagem exata antes. Em um livro talvez. Tipo na lombada. — Seus livros didáticos parecem muito mais interessantes do que os meus. Pego o disco de metal dele e giro-o repetidamente em minhas mãos. Se este disco pertencia a Angelica, então eu posso usá-lo para encontrá-la. Nate está preocupado, examinando as frágeis páginas do livro, então fecho meus olhos sem dizer nada a ele. Eu corro meus dedos sobre o teste padrão e emito minha mente para fora, procurando, sondando, sentindo a pessoa unida a este artigo.
De repente, sinto uma sensação impetuosa. Algo puxando minha mente, puxando irresistivelmente. Sinto-me presa. Os rostos e as cores rodam e piscam, me cegando, me levando. Não consigo sair. Vi! Violet! Meus olhos se abrem. Eu vejo roupas penduradas acima de mim, e a expressão ansiosa de Nate. — Você caiu de repente — diz ele. — Você está bem? — Hum, eu não sei. Isso foi estranho. — Eu me empurro para cima em uma posição sentada. O fundo de um casaco escova meu ombro. — Bem, esta coisa de disco definitivamente não pertence a sua mãe. — Espere, você estava tentando encontrá-la? E você não me contou? Eu encolho os ombros. — Você estava ocupado olhando o livro. — Vi! — Ele tenta ficar com raiva, mas a curiosidade claramente leva a melhor dele. — Ok, então, a quem pertence? — Muitas pessoas. Nate franziu o cenho. — O que você quer dizer? — Bem, eu vi muitos e muitos rostos, por isso estou assumindo que o disco tem pertencido a muitas pessoas diferentes ao longo dos anos. Nate olha para mim um momento antes de dizer: — Essa sua habilidade não funciona muito bem, não é? Quero dizer, e se alguém tivesse este livro antes da minha mãe? — Bem, esperemos que ela tenha tido tempo suficiente para torná-lo verdadeiramente dela. — É assim que funciona sua habilidade? Quanto tempo ela teria... — Shh! — Eu alcanço através das caixas e aperto minha mão sobre sua boca. — Eu ouvi algo, — eu sussurro. Abaixo a mão, ouvindo atentamente. Do quarto abaixo de nós vem um golpe. Meu primeiro pensamento é que Drake e Zell vieram para Nate, mas depois eu me lembro que Flint colocou feitiços protetores ao redor da casa. Nate se levanta e vai até a porta do armário. Acabei de alcançar o ar e puxar uma faca quando uma voz chama, — Nate? Eu peguei o seu favorito para o jantar. Nate corre para a pilha que deixamos no chão. — Cara, o que ela está fazendo em casa? — Ele pega o livro de Angelica, enfia-o debaixo do braço e começa a empilhar as caixas uma em cima da outra. Eu descarto minha faca no ar e
apressadamente envio as caixas e arquivos de volta para o topo do armário. Eu guardo o disco de grifo no meu bolso e saio do quarto depois de Nate. — Obrigado, mãe, — ele grita descendo as escadas. — Olhando para a frente. — Então ele me empurra de volta para seu quarto e fecha a porta. — Você provavelmente deveria ir, — ele diz para mim. — O quê, você não quer que eu conheça sua mãe? — Eu provoco. — Bem, uh, talvez não parecendo assim. — Ele deixa o livro de Angelica em um de seus sofás. Eu coloquei minhas mãos em meus quadris. — O que há de errado com a minha aparência? — Vamos, Vi, — ele diz, mantendo a voz baixa. — Você só precisa adicionar suas botas e é como a versão florestal de Lara Croft. — Com licença? Lara quem? — Quero dizer, é realmente sexy e tudo mais. — Ele me puxa para mais perto e desliza seus braços ao redor de minha cintura. — Mas não é exatamente como eu gostaria que você conhecesse minha mãe. — Eu posso me glamourizar em algo bonito, — eu sugiro. Só estou brincando. Estou aterrorizada com o pensamento de encontrar seus pais; Estaria levando minha traição da Guilda ainda mais longe ao me revelar a outros dois humanos. — Que tal você se glamourizar em algo bonito só para mim? — Sussurra Nate, seus lábios no meu pescoço. Um arrepio corre para cima e para baixo em meus braços. Eu não me incomodo de lembrar que ele não pode ver glamour. Uma batida na porta faz com que ele salte para longe de mim. — Uh, espere, — ele diz para a porta. — Só estou me trocando. — Ele se vira de volta para mim. — Vá, já, — ele gesticula. Eu não posso deixar de rir de como ele está tenso. — Você sabe que ela não pode me ver, certo? — Sim, mas eu posso, — ele sussurra. — Tudo bem, — eu digo, fingindo fazer beicinho. Eu pego minha stylus da cama de Nate exatamente quando meu bolso formiga contra minha pele. Eu aperto minha mão passando pelo disco de metal para alcançar meu âmbar. É uma mensagem da Tora.
Espero que você não esteja zangada. Venha para jantar esta noite. — Eu tenho que ir de qualquer maneira, — eu digo a Nate, erguendo a mensagem âmbar como prova. Eu giro e escrevo em sua parede com minha stylus. Um portal para os caminhos das faeries se materializa, mas antes que eu possa atravessar, Nate agarra meu braço. Ele me gira e pressiona sua boca na minha. Eu derreto contra ele, meus olhos se fecham. O mundo desaparece, e somos apenas nós dois, minhas mãos subindo para acariciar seu rosto, seus dedos deslizando até o meio das minhas costas, me pressionando mais perto dele. Minha cabeça gira, os sons desaparecem, e eu me sinto presa. Nate se afasta de mim. — Agora você pode ir, — ele diz com uma piscadela, me empurrando suavemente para trás através da porta. Surpreendentemente, eu consigo dirigir o portal de volta para a minha cozinha sem me perder em minha própria vertigem. Minhas pernas ainda se sentem um pouco como líquido, e eu tenho que agarrar na mesa quando passo para a cozinha. Filigree se digna a levantar a cabeça do sofá antes de decidir me ignorar. Eu estou bem com isso. Gostaria de saborear esse sentimento flutuante sem que alguém me lembrasse de me sentir culpada. Eu estou indo para o andar de cima e caio em minha cama quando eu me lembro do disco de grifo no meu bolso. Curiosidade e flutuação batalham em minha cabeça por alguns momentos antes da curiosidade finalmente ganhar. Atravesso a sala de estar e entro na de estudo que uma vez pertenceu aos meus pais. Seus livros ainda alinhados em muitas das prateleiras, mas há uma pequena seção que pertence a mim. Na minha memória, o símbolo do grifo está associado ao estudo, e as únicas coisas que eu já estudei são os manuais prescritos pela Guilda. Sento-me no chão em frente à estante de livros que me pertencem. Eu procuro as lombadas. Nada. Puxo todos os livros da prateleira e folheio as fotos. Nada ainda. No momento em que eu tenho que sair para a casa de Tora, não estou mais perto de localizar um grifo com uma cauda de serpente. Com um suspiro e um movimento da minha mão, mando os livros de volta pelo ar. Eles batem na estante, empurrando-se para encontrar um espaço na fila. Ops. Acho que extrapolei a magia um pouco.
***
Os caminhos das faeries me depositam diretamente fora da árvore de Tora. Dou um passo mais perto, me inclino para a frente e sopro suavemente contra a casca. A poeira dourada sobe, revelando uma aldrava. Eu deslizo minha mão ao redor dela e bato três vezes. Depois de apenas um momento, uma porção da árvore ondula e desaparece. Flint está na entrada. — Você foi convocado como parte do comitê de boas-vindas? — Eu pergunto. A cabeça loira e verde de Tora aparece sobre o ombro do irmão. — Eu pensei que precisaria de ajuda extra puxando-a das profundezas do desespero. — Ela me olha para cima e para baixo. — Mas, surpreendentemente, você parece bem. Eu encolho os ombros enquanto passo por eles na casa. — Estou lidando com isso. — E eu estou. Escapando para visitar o garoto humano que me deixou suspensa em primeiro lugar. Raven, a esposa de Flint, atravessa a sala de estar com uma bandeja de flores de flores equilibrada em uma mão. — Oh, oops, eu esqueci seu vestido, — eu digo para Raven enquanto ela me abraça com um braço. Seus fios de cabelo magenta misturando-se com marrom escuro, cheirando como rosas. Por cima do ombro, vejo Tora correndo de volta para a cozinha para lidar com algo que começou a emitir fumaça. — Sem problema, — diz Raven. Ela coloca a bandeja de flores cor-de-rosa em uma mesa baixa. — Você deve mantê-lo. Vai aumentar sua coleção de vestidos para um total de um. — Obrigada, Raven, mas você sabe que eu não uso vestidos. Você pode me imaginar tentando lutar em um? — Tenho total fé em suas habilidades, Vi, — diz Raven. Flint a puxa para baixo no sofá ao lado dele, em seguida, pega um punhado de flores da bandeja. — Você provavelmente poderia se envolver em uma cortina e ainda derrubar uma horda de duendes. — Ela tira uma flor da mão de Flint e acrescenta: — Você está no topo do seu ano, não é?
Eu me afundo na cadeira mais mole do quarto. — Provavelmente não mais. — O pensamento faz algo dentro de mim doer. Meu sonho de toda a vida escorregou do meu alcance. — Tora não tem permissão de me dizer o ranking agora que estamos tão perto da graduação. É para ser uma surpresa na cerimônia. — Eu removo uma flor da bandeja, mordida no fim, e sugo para fora o doce néctar. É como mel, mas com um sabor cítrico. — Deveria te dizer de qualquer maneira, — diz Flint, deixando suas flores vazias na bandeja. — Meu mentor me disse quando eu terminei de treinar, e você e Tora são praticamente familiares. Deve ser um crime para ela manter informações como essa de você. — É verdade. — Somos como família. Eu morei com Tora por quase um ano depois que meu pai morreu. Eu não tinha outros parentes em Creepy Hollow, e Tora não queria que eu ficasse sozinha. Foi estranho no início, vivendo com meu mentor, mas estamos tão perto de ter a mesma idade que ela acabou se sentindo mais como uma irmã mais velha mandona. De repente, eu me lembro onde vi o símbolo do grifo: na biblioteca de Tora. A biblioteca em que passei horas estudando enquanto vivia aqui. — Na verdade, Flint, é um crime compartilhar informações como essa, — diz Tora da porta da cozinha. — Algo do qual seu desprezível mentor tinha conhecimento. Flint parece que está prestes a protestar contra a palavra “desprezível”, mas eu interrompo. — Eu só vou usar o banheiro. Eles mal percebem quando eu deixo a sala. Eu me apresso para a biblioteca e fecho a porta atrás de mim. As paredes são cobertas com livros do chão ao teto, mas o que eu estou procurando deve estar perto da mesa. Uma prateleira que eu poderia ter facilmente olhado quando deveria estar estudando. Eu olho as lombadas dos livros - e lá está ele! O grifo com a cauda da serpente que se enrola e forma um círculo ao redor da criatura lendária. Eu puxoo da prateleira, soprando uma teia de arco-íris de cor do topo. A a Z de Halflings ao longo da História. Parece quase como um livro infantil. Sentando na mesa, abro o livro. O símbolo deve ser mencionado no interior, se for suficientemente importante para estar na capa. Viro a página de conteúdo. Sim! Agradeço em silêncio ao gênio que lançou este livro. A página de conteúdo tem uma lista de
nomes, em ordem alfabética, e ao lado de cada nome uma imagem. Procuro o grifo e o encontro ao lado do nome Tharros Mizreth. Eu conheço esse nome. Todo mundo conhece. Mas meus dedos desajeitados voltam-se para a página relevante de qualquer maneira. Possivelmente o mais perigoso de todos os halflings na história de fae, Tharros Mizreth possuía um poder inigualável para qualquer um antes e desde seu tempo. Enquanto muitos halflings são incapazes de controlar sua magia, Tharros tinha o comando completo de suas habilidades em uma idade adiantada. Seu maior desejo era que o reino das faeries não estivesse mais escondido, e suas tentativas de controlar partes dos mundos humano e fae resultaram na morte de muitos. Ele escolheu para si a imagem de um grifo, tradicionalmente um símbolo de poder e majestade, acrescentando-lhe uma serpente no lugar da cauda do grifo. Enquanto as opiniões de especialistas diferem quanto ao significado da serpente, a interpretação mais popular envolve a cobra que Tharros conjurou para matar seu pai humano. Tharros nasceu e cresceu no reino fae em...
Capítulo 8 — Eu fecho o livro e me inclino para trás na cadeira. Eu conheço a maior parte da história de vida de Tharros de lições de história que eu tive que sentar e ouvir quando era mais jovem, mas nunca ouvi sobre o símbolo de grifo ou a cobra que matou o pai de Tharros. Eu puxo o disco do meu bolso e traço meus dedos através do padrão. Este é um símbolo do mestiço mais perigoso que nosso mundo já conheceu. Como é que Angelica acabou com isso? Ela poderia estar ligada a ele? Metade de sua árvore genealógica seria humana, afinal. Me levanto e devolvo o livro à sua prateleira. Passo as duas mãos pelo meu cabelo, depois me inclino sobre a mesa. Talvez seja uma má ideia ir procurar Angelica. Se algum faerie do Subterrâneo – eu não estou cem por cento certa, mas mas Zell parece como o tipo do Subterrâneo - está atrás dela, ela provavelmente está envolvida em algo perigoso. — Vi? — Eu olho para cima para ver Raven de pé na porta. Eu sequer ouvi a porta abrir. — Vi, querida, — ela diz cautelosamente, como se estivesse conversando com um animal perigoso. — O que você está fazendo aqui? Estávamos ficando preocupados com você. — Hum, eu só... — Merda. Eu só o quê? — Eu... Eu comecei a ficar chateada. Sobre a suspensão. E eu precisava de alguns momentos para me recompor. — Recompor? Quem diz isso? — Ok, bem, você está suficientemente recomposta? Porque o jantar está pronto. — Sim. — Coloco o disco de volta no meu bolso. Aponto um dedo para a bola de vidro suspensa do teto, mas em vez de simplesmente extinguir a chama dentro dela, eu consigo explodir a coisa toda.
— Um... Oops? — Eu digo. — Ok, não vamos contar a Tora sobre isso, — diz Raven, me puxando para fora da sala antes que eu possa causar mais danos. — Vou consertar mais tarde. Eu a sigo até a mesa onde Tora e Flint estão esperando. Sento e olho para o meu prato. Há muitas coisas em que Tora é boa; Infelizmente, preparar alimentos não é um deles. Felizmente, eu estou preocupada demais com o que eu acabei de descobrir sobre o disco para realmente notar o sabor queimado do alimento. Eu como tudo até a sobremesa - o que, felizmente, é um monte de frutos reconhecíveis - antes de Tora me arrastar para uma conversa. — Então, Vi. Flint compartilhou uma informação interessante comigo antes. — Eu a olho fixamente. — Uma interessante peça de informação envolvendo um certo menino humano, — acrescenta. Minha conversa apenas civil com Ryn inunda minha mente. — Você não é a única com quem Flint compartilhou essa informação, — resmungo. Flint olha para cima e encontra meu olhar. — Desde quando você fofoca com Ryn? — Pergunto. Flint mastiga e engole. — Ryn? Aquele garoto com quem você está sempre brigando? — Não é uma rivalidade, Flint. É uma aversão mútua. — Eu separo os segmentos vermelhos do sangue de um citrullamyn. — Uma aversão mútua muito intensa. Raven se vira para o marido. — E você disse a este garoto que Vi beijou sua tarefa? — Ela exige. — Claro que não, — diz Flint. Raven cruza os braços e ele acrescenta: — Juro! — Ryn deve ter ouvido, — diz Tora. — Eu me lembro dele saindo do escritório de Bran enquanto você e eu estávamos conversando. — Ótimo. Muito obrigado, rapazes. — Eu esfaqueio um segmento com minha faca. — Ryn nunca vai me deixar viver com isso. — Eu acho que é doce, na verdade, — diz Raven. — O beijo, não a fofoca. Foi o seu primeiro, Vi? — Eu não acho que conta quando você tem seis anos, então sim.
Raven suspira e coloca uma mão em seu peito. — Que trágico você ter que fazê-lo esquecer. — Flint não contou a parte onde eu o empurrei meio caminho através do jardim? — Eu pergunto, tentando forçar para baixo a culpa que se levanta como bile na minha garganta. — Honestamente, Vi, não há um único osso romântico no seu corpo? — Pergunta Raven. — Eu acho que não, — eu minto, estalando um pedaço da citrullamyn vermelha pingando na minha boca. Por favor, pare de falar sobre isso. — Bem, se tivesse sido eu, — continua Raven, — poderia ter sido tentada a jogar aquela poção de esquecimento para longe e me jogar naquele rapaz. Quero dizer, um primeiro beijo é algo especial. Flint inclina um cotovelo sobre a mesa e olha para sua esposa. — Desde quando você tem fantasias de se jogar em garotos humanos? — Eles não são fantasias, querido. Só estou dizendo que se... — Vi nunca faria isso — diz Tora, interrompendo ambos. — Ela está muito comprometida com seu treinamento. Ela não arriscaria tudo o que trabalhou tão duro por um simples garoto. — E eu me pergunto de quem ela aprendeu isso, — diz Flint. — Poderia ser seu mentor obcecado pelo trabalho que não deu a nenhuma faerie do sexo oposto um segundo olhar desde que terminou seu próprio treinamento? Tora protesta alto, mas eu parei de ouvir. Ela está certa. O que estou fazendo com o Nate? Sério. O que. Estou. Fazendo? Ele realmente vale o risco que estou correndo? Por que eu gosto mesmo dele? Claro, ele é bonito, mas Ryn também é, e não há nada nesta terra que poderia me fazer querer sair com ele. Nate tem um senso de humor; ele me faz rir; Ele está interessado na minha vida. Mas eu provavelmente poderia dizer a mesma coisa sobre centenas de rapazes humanos. Se Nate não tivesse me beijado, se ele tivesse dito adeus com facilidade, eu teria sentido falta dele? Eu olho por cima da mesa com as linhas pretas onduladas tatuadas nos dois pulsos de Tora. As marcas que a identificam como guardiã. Estou tão perto de receber
marcações
minhas,
mas
se
a
Guilda
descobrir
que
eu
estou
consistentemente desobedecendo-os, tenho certeza que posso dar um beijo de
adeus para essas marcações. O que eu serei se não puder ser uma guardiã? Vou ficar com Nate, mas por quanto tempo? Quando lambo meus dedos para limpá-los, eu tomo uma decisão. Eu vou para Nate esta noite, antes que eu tenha a chance de mudar de ideia, e direi a ele que não posso mais vê-lo. Eu não vou lhe dar a poção - parece errado de alguma forma tirar as memórias dele - mas depois de hoje à noite, não vou voltar para vêlo novamente. E eu não vou tentar encontrar Angelica. Uma pequena dor se instala em meu peito. Isso é uma merda, mas eu posso fazer isso. Eu sobrevivi com coisas muito piores. — Violet? Eu olho para cima, sem saber quanto tempo Raven tem tentado chamar minha atenção. — Sim? — O que você pretende fazer com sua semana de folga? — Uh, sentar em casa e me arrepender dos meus maus caminhos? — Sim, certo, — diz Flint, rindo. — Você provavelmente tem um centro de treinamento particular criado em sua casa. Duvido que você descanse um segundo. Eu atiro um mirtilo para ele. — Talvez eu vá descansar, Flint. Não fiz isso desde que comecei a treinar há cinco anos. As bocas de Flint e Raven se abrem. — Ok, você definitivamente precisa de uma pausa, querida, — diz Raven. ***
Eu ando de um lado do meu quarto para o outro, tentando criar coragem de ir para casa de Nate. Enxugo minhas mãos suadas contra minha calça. Isto é ridículo. Sempre soube que me envolver com meninos era uma má ideia. Eu pego meu cabelo com uma mão e meu pescoço suado com a outra. Apenas acabe logo com isso. Se você não fizer isso logo, ele estará dormindo. Filigree soltou gritinhos da minha cama, e eu olho para encontrá-lo segurando uma fita de prata em sua pata de esquilo. Ele segura para mim. — Obrigado, Fili. — Eu amarro a fita ao redor do meu cabelo para mantê-lo fora do meu pescoço. — OK. Vou fazer isso. — Eu pego minha stylus e seguro-a contra a
parede com os dedos trêmulos. Dedos tremendo? Desde quando meus dedos tremem? Eu definitivamente preciso acabar com isso. Passo pelo portal do caminho das faeries para o quarto de Nate. A lâmpada ao lado de sua cama está acesa, e as imagens piscam silenciosamente através da TV em sua área de estar. Uma faixa de luz é visível do banheiro, a porta entreaberta por um tênis de corrida. Eu posso ouvir uma escova de dentes elétrica zumbindo como um inseto gigante. Eu permaneço na ponta do sofá e espero Nate. O zumbido para, a água corre, a porta do banheiro se abre e Nate sai. Ele está secando seu cabelo úmido e vestindo nada além de uma boxer. Merda. Eu devia ter deixado isso para uma hora do dia que ele estaria mais apropriadamente vestido. Eu paraliso. Meus olhos estão colados em seu peito nu, o que é absurdo considerando o grande número de peitos nus que eu vi durante o treinamento. Faeries machos parecem gostar de lutar sem suas camisas. Mas isso é diferente. Faeries tem pele pálida, enquanto Nate é dourado, como se ele gastasse seu tempo livre no sol. Meus olhos roçam as pontas de seu estômago, o entalhe em forma de V que corre de seus quadris para baixo... Para para para! Não deixe sua mente ir lá! — Vi! — Nate joga a toalha em sua cama e caminha em minha direção. — Isso é uma surpresa. — Hum, sim. — Eu aperto minhas mãos contra minhas bochechas ardentes e forço meus olhos para o chão. Limpo minha garganta e dou um passo para trás. — Sim. Nós precisamos conversar. — Uh, ok. Eu engulo desconfortavelmente quando encontro seu olhar. — Olhe, Nate, isso não vai... — Espere. — Ele levanta uma mão. — Eu sei o que você vai dizer. — Duvido — murmuro. — Eu não sou estúpido, Vi, — diz ele. — Eu estava lá quando seu mentor falou sobre as leis que você quebrou. Eu me lembro dela dizendo como era sério. Ela lhe disse para me trazer de volta para casa, mas eu não acho que continuar a me visitar foi parte do negócio. E você não disse uma palavra ontem quando
mencionei o encontro com seus amigos. — Ele se aproxima. — Eu sei que você está quebrando as regras ao vir me ver, Vi. E está obviamente aterrorizada que alguém vá descobrir e você estará em um problema ainda pior desta vez. Foi o que você veio dizer, certo? Que você não pode me ver mais porque não é permitido? Olho para os meus pés, aperto os lábios e aceno com a cabeça. Parece que eu não tenho que me preocupar com o que vou dizer; Nate disse tudo para mim. — Por favor, não faça isso, Vi. — Ele aperta meus ombros. — Por favor. Eu sei que é um risco para você, mas para quem vou contar? Contanto que você não mencione a ninguém, e você seja cuidadosa em vir me visitar, como alguém vai descobrir? Olho nos olhos dele. Quente, suplicante, lindo. Eu sinto que minha determinação começa a escorregar. — Mas... Ser um guardião é tudo que tenho, Nate. Eu não posso perder isso. Não terei mais nada. — Isso não é mais verdade, — ele sussurra, inclinando-se para frente para tocar sua testa com a minha. — Você tem a mim agora. Minha garganta dói. — Por quanto tempo, Nate? Minha vida é medida em séculos. A sua... A sua terminará assim que eu começar a viver a minha. O aperto de Nate em meus ombros aumenta. — Ainda temos muitos anos para nos preocuparmos com isso. Fácil para ele dizer. Eu perdi minha mãe, meu pai, e os três melhores amigos que eu tinha quando era mais jovem. Eu não quero passar por esse tipo de dor novamente. Vejo minhas mãos subirem para descansar contra seu peito. Eu fecho meus olhos. Seu coração pulsa sob meus dedos, e eu não posso deixar de sentir que quero ficar assim para sempre. Puxo minhas mãos e saio de seu abraço. Aponto para o armário dele. — Não vou falar mais nada até você vestir uma camisa. Um sorriso rasteja sobre o rosto de Nate, mas ele pega uma camiseta de uma gaveta e puxa-a sobre sua cabeça. Ele volta para a área de estar e pega minhas duas mãos. — Não pense em algo que vai acontecer no futuro, — diz ele. — O que você quer agora? Se você quer ser uma guardiã e ter a mim, então por que você deveria escolher?
Eu mordo meu lábio. É difícil dizer não a Nate, mesmo quando ele está vestindo uma camiseta. Eu deveria tê-lo feito cobrir seu rosto também. — Não sei, Nate. Sua expressão muda então, tornando-se mais cautelosa. — A menos, é claro, que isso seja realmente sobre mim, — ele diz, — não sobre as regras. Quer dizer, eu entendo se, sabe, você não sente o mesmo por mim… — Não, — insisto, antes que eu possa decidir se isso é verdade ou não. — Eu... Eu não quero me machucar, — eu admito em uma voz baixa. Nate me puxa para mais perto, seus braços me cercando. — Eu juro que nunca vou te machucar, — ele diz, e pressiona um beijo na minha testa. — Além disso, você tem super ginástica, como habilidades de ataque. Eu seria um idiota para tentar te machucar. — Você sabe que não é o tipo de dor que eu estou falando, — eu digo. — Mas sim. Eu poderia te derrubar fácil. — Aha, um sorriso! — Diz Nate em triunfo. — Isso significa que eu a convenci? — Eu olho para os meus pés. — Ok, vamos nos comprometer, — ele diz antes que eu possa responder. — Que tal se tentarmos encontrar minha mãe primeiro e depois decidir sobre nós? Depois de tomar uma respiração profunda e deixá-la sair lentamente, eu cedo. Qual poderia ser o dano em deixar um pouco mais? Não é como se eu o amasse ainda. — OK. — Sim! Podemos ir agora? — Agora? Năo acha que é um pouco tarde, Nate? Onde quer que sua mãe esteja, ela provavelmente está dormindo. Nate se inclina para frente e beija meu pescoço. — Por favor, — ele sussurra em meu ouvido. Seus braços caem para longe de mim, e ele se afasta. — Eu vou tirar a minha camiseta de novo, — ele brinca. Com um movimento da minha mão, envio uma almofada pelo ar para o lado da cabeça dele. — Ei, sem atacar com magia! — Ele protesta, tentando bater na almofada. — Tudo bem, — eu digo, rindo enquanto deixo a almofada cair no chão. — Podemos ir agora. — Impressionante, este livro. — Ele aponta para a escrivaninha, então cruza para seu armário e pega um jeans. Eu levanto a capa do livro e passo meu dedo
através da letra limpa de Angelica. Eu ainda estou ciente da possibilidade de que ela pode estar envolvida em algo perigoso, mas se as coisas ficarem complicadas, eu posso abrir um portal e nos levar para casa. Nate calça um par de tênis, amarra os cadarços e empurra os braços nas mangas de um casaco. — OK. Vamos fazer isso.
Capítulo 9 Sento no chão do quarto de Nate, segurando levemente o livro de Angelica com as duas mãos. — Então, como isso funciona? — pergunta Nate, sentando-se na minha frente. — As coordenadas brotam na sua cabeça? — Não sei o que isso significa, mas não. — Deslizo meus dedos pela capa do livro. — Por ter pertencido à Angelica, posso usar este livro para me conectar a ela. Assim que tiver a conexão, posso meio que... ver tudo que ela vê. Como se eu estivesse dentro da cabeça dela. E com essa conexão, vem uma vaga sensação de sua localização. — Como assim, vaga? — Bom, quando saímos dos caminhos das faeries, não podemos ficar mais que meio metro de onde ela estiver. Nate franze a testa. — Meio metro é uma boa distância. — E aí posso me conectar novamente a ela para ficar mais perto, — explico. — Olhe, se a Angelica estivesse na mesma reta que a nossa, eu poderia sinalizar a sua localização exata. Mas, quanto mais longe ela estiver, mais difícil é encontrála. — Certo, certo, — diz Nate. — Acho que não é uma ciência exata, né? — Não. — Fecho meus olhos e pego o livro. — Não tem a ver com ciência. Respiro profundamente e amplio minha mente, procurando pela dona do livro. Imagino a mim mesma vagando em uma grande distância com meus pensamentos pulando de um lado para o outro, como borboletas pousando de flor em flor. Quando encontro quem estou procurando, me sinto sugada. Abro meus olhos e vejo pelos dela. Uma câmara grande, vastamente decorada com adornos de
parede, com as bordas foscas, pois nunca consigo ver direito pelos olhos dos outros. Ela olha para a folha abaixo dela, a dobra e desliza os dedos nos vincos. Volto para mim. — Certo, vamos lá, — digo, enfiando o livro nas mãos de Nate e pulando no mesmo lugar — Rápido, antes que eu esqueça... — Onde ela está? — Nate pergunta, se pendurando em mim. — Não sei, mas sei como o lugar se parece. — Abro um portal na parede atrás da mesa dele e, então, pego sua mão e o puxo para junto de mim. Foco a minha mente na imagem que vi, e a sensação que veio junto. Velho, protegido, provavelmente no subterrâneo. Caminhamos em direção a um túnel escuro. Olho para cima, meus olhos se atraem aos pequenos pontos de luz que brilham no teto acima de nós. O teto em si é irregular e desigual, se curvando em contato com as paredes de ambos os lados. Me abaixo e passo os dedos na superfície debaixo dos meus pés. Fria e dura, como pedra. — Algo não me parece certo aqui, Nate, — eu sussurro. Por algum motivo, tenho medo de falar alto. — Como assim? Estamos no lugar errado? — Não, não é isso. — Pauso por um segundo, acompanhando o silêncio mortal. — Não sei. Estou com uma sensação ruim. Quase como… — Minha respiração entala na garganta. — Vi? — Nate pega minha mão. — Acho que estamos no subterrâneo, Nate. — Ah, sim. — Posso perceber pela voz dele que ele acha que estou sendo lerda. — Tenho certeza que estamos no subterrâneo, Vi. — Não um subterrâneo qualquer, Nate. O Subterrâneo. Está claro o suficiente para que veja a expressão confusa de Nate. — O Subterrâneo... tipo a estação de metrô da Inglaterra? Fecho meus olhos. Por que eu ainda tento? — Não, Nate. — Digo com o máximo de paciência possível. — A linha de túneis de Creepy Hollow que os faes mais perigosos chamam de lar. — Ah. — Seus dedos apertam minha mão. — Então é algo ruim?
— Sim, Nate. Muito ruim. Não sei o que a sua mãe está fazendo aqui embaixo, mas não ficaremos para descobrir. Sem largar a mão dele, apoio minha stylus na parede e transcrevo as palavras para abrir um portal. Nada acontece. Meu estômago se revira enquanto tento novamente. Continua nada. — Mas o quê… O que está acontecendo? — Dou um passo para trás e largo a mão de Nate. — Onde está minha mágica? — Coloco as duas mãos no ar, na minha frente, sem pensar no que quero criar. Espero apenas que consiga liberar algum poder. Uma bola de luz se torna real. Nate coloca seu braço na frente dos olhos. — Ow, dá para diminuir um pouquinho? Está me cegando aqui. Diminuo a intensidade da mágica, deixando a bola brilhar no ar atrás de mim enquanto tento novamente abrir um portal na parede de pedras. Nada. — O que houve? — pergunta Nate. — Não sei. Não sou eu. Minha magia está normal. — Inclino a minha cabeça em direção à bola de luz. — Deve haver algum tipo de poder nessas paredes que está me privando de abrir um portal. — Está dizendo que estamos presos aqui embaixo? Balanço a cabeça de forma concisa. — Droga, Nate. Não deveríamos ter vindo para cá. — Ei, você estava tão disposta a encontrar a minha mãe quanto eu. — Na verdade, até uns dez minutos atrás, eu estava planejando nunca ter mais nada a ver com você ou a sua família. Nate se desvia de leve do meu tapa verbal. Ele não diz nada. A culpa se corrói junto ao embrulho que já está no meu estômago. — Desculpa, — digo, tentando alcançar seu braço. — É claro que eu não queria tanto assim, já que você conseguiu me fazer mudar de ideia. Um gemido quebra o silêncio a nossa volta, ecoando túnel adentro. Consigo sentir os pelos dos meus braços se arrepiando. Logo depois, um zunido agudo chega a nós, me fazendo apertar meus dedos contra minhas orelhas. Quando o barulho para, puxo a mão de Nate e empurro a bola de luz para frente. — Vamos encontrar a saída daqui.
— Espera. — Nate me puxa ao parar. — Os caminhos das faeries são os únicos em que você pode viajar? Você não tem, sei lá, feitiços de desaparecimento? — Não que eu saiba. — Ah, é só que… Bem, lembra de quando aquela reptiliana me atacou? Você estava prestes a acertá-la com a flecha e ela simplesmente desapareceu do nada. — Ah, sim. Alguns tipos de fae não podem usar os caminhos das faeries, então eles têm suas próprias formas de viajar. Mas, para faeries, somente os caminhos ou a boa e velha caminhada. — Certo. — Nate olha para os dois lados do túnel. — Então, qual lado acha que leva até a saída? Balanço a cabeça. — Não faço ideia. — Bem, talvez se encontrarmos a minha mãe, ela possa nos ajudar. Não sei se gosto do plano, mas é melhor do que ficar andando sem rumo até nos depararmos com alguma criatura horrível do Subterrâneo. Pego o livro do Nate, tento relaxar ao máximo e entro em minha mente. Encontro-a facilmente, subindo uma escada em espiral, com a câmara desaparecendo por trás dela. — Por aqui. — Digo para Nate, sentindo-me ser puxada para frente. Andamos em silêncio. Passamos por outros túneis com aberturas para direita e para esquerda. Às vezes, nos deparamos com dois ou três caminhos a seguir, ou uma saída em T, onde temos que escolher ir para esquerda ou para direita. A fenda de sempre está entalhada na parede, como uma parada de ônibus para qualquer que seja o tráfego mágico que acontece nos túneis. Podia ser extremamente confuso, mas eu continuava segurando o livro de Angelica, mandando a minha mente para longe de tempos em tempos, só por um segundo, para descobrir a direção para onde ir. Continuo no canto, alerta por um mísero som ou movimento, com minha mente pronta para pedir por qualquer arma que fosse necessária. Mas, quando o som finalmente chega, me aterroriza aos poucos. Um sussurro de longe, fraco demais para ser reconhecido. Posso ouvir que está ficando mais forte, gradualmente ficando mais alto. — Que isso? — sussurra Nate. Não sei dizer. Parece uma floresta de folhas sendo atacada por uma tempestade. Um som apressado, como… — Água? — digo. Mando a luz para trás
de nós, deixando-a mais em cima e aumentando sua intensidade. O barulho de apressado fica cada vez mais alto. E mais alto. E, então, posso ver! Uma parede de água saltando em nossa direção com uma velocidade assustadora. — Corra! — Grito, puxando Nate. Mas não tem como sairmos dessa. Seremos tomados imersos em questão de segundos, afogados como ratos no bueiro. Deslizo rapidamente até uma fenda, levando o braço de Nate comigo antes que ele possa se adiantar. Empurro-o na pequena abertura, espremo meu corpo contra o dele e lanço um escudo invisível. Minha mente vagueia pelos cantos, para me certificar que está tudo vedado. Um pouco depois, a parede de água passa por nós. Consigo sentir a pressão contra a barreira, mas sou forte o suficiente para segurá-la. Nate desliza pelo chão e puxa os joelhos para perto do corpo. Deixo minhas mãos escorregarem. Consigo segurar a barreira com minha mente contanto que não perca a concentração. Com meus joelhos apertados contra meu peito, consigo me encaixar naquele minúsculo espaço no chão. Meu cabelo começa a soltar em meus ombros, assim, coloco as madeixas para trás das orelhas. O laço que Filigree me deu deve ter caído. — Bom trabalho, — diz Nate, com a mão em meu joelho. — Essa barreira aí vai conseguir aguentar? — Sim. Bem, a não ser que a correnteza dure por horas e horas. Nesse caso, a minha força vai acabar uma hora. — Acho que já está diminuindo, — diz Nate. Depois de observar a água por alguns minutos, fica claro que ele está certo. A agitação e as bolhas dão lugar a uma água calma, continuamente quieta e o nível de água parece estar diminuindo aos poucos. — Bem, assim está confortável — diz Nate, que pisca para mim. — Não invente moda, Sr. Avenida Draven. Fazer me perder a concentração agora não seria uma boa ideia. Ele olha para a parede de água e depois para mim. — Mas você é uma garota. Não dá para ser multitarefas? Deito minha cabeça na parede de pedra. — Me recuso a me deixar levar e dar uns pegas num túnel nojento e subterrâneo. Eu tenho padrões, sabia?
Nate ri. — Mesmo se eu ler uns poemas de amor? Você ainda recusaria um beijo? Levanto a cabeça e o encaro. — Poemas de amor? — Esse livro, — ele diz, tirando o livro de Angelica que estava segurando com o braço. — É uma antologia de poemas. Só que eu não conheço nenhum desses nomes. — Ele abre numa página qualquer. — Vista meu amor de noite. Coloque estrelas em seus cabelos, sombras em seus braços, a luz da lua em seus lábios. Deixe que o vento seja sua carruagem, as montanhas apoio para seus pés. — Ambrose Nightlace, — digo imediatamente. — Ele foi um poeta faerie, por isso você não o conhece. Nate me encara. — Então, agora você conhece poesia? Dou de ombros. — Minha mãe gostava. Ainda tenho todos os livros dela. Nate balança a cabeça. — Se alguém tivesse me contado antes que faeries existiam, você, Violet, não seria o que eu teria imaginado. — Ah, sério? E o que exatamente você teria imaginado, Nathaniel? — Bem, para começar, você seria uma miniatura, com asas e uma roupa cheia de brilho ou de outro mundo. Você usaria bastante sua varinha para lá e para cá, e teria sua própria língua. Ou talvez falaria inglês à moda antiga. Essa última me deixa perplexa. — Mas os humanos não falam mais inglês à moda antiga. Por que nós falaríamos? Além do mais, passo grande parte do tempo com humanos enquanto espero que coisas ruins aconteçam com eles. Claro que vou acabar falando como… Minhas palavras são cortadas por um grunhido, um gemido, como lascas de pedras se movendo umas pelas outras. O túnel estremece e, através da barreira, consigo ver fragmentos de pedra caindo na água. Aumento a barreira a fim de cobrir a superfície completa da parede da fenda, esperando que isso aguente. Mas o terremoto, se é que podemos chamar assim, passa tão rápido quanto apareceu. — Estranho, — diz Nate, enquanto eu retiro a barreira com cuidado até que bloqueie somente a água. Arrumo-me rapidamente no espaço minúsculo e sinto algo se mexendo do lado direito da minha bunda. Apalpo o local e tiro um disco de metal do meu bolso. — Ah, ei! Descobri o que esse símbolo significa. — Coloco o objeto redondo no meu joelho. — Lembra de quando te falei de halflings?
— Sim. Achei que estava se referindo à hobbits, mas você não tinha ideia do que eu estava falando. — Sim. E ainda não tenho. Enfim, lembra de quando eu disse que halflings possuem magias imprevisíveis e alguns fazem loucuras como tentar dominar o planeta? — Nate arqueja e em seguida faz um esforço enorme para ficar com a cara normal. — Desculpa. Sim, eu lembro. Suspiro. — E aí? — Nada. — Mas ele parece incapaz de conter o sorrisinho do rosto. — Você soou como personagem de um desenho antigo que sempre quis dominar o mundo. Mas, bem, isso obviamente não é importante agora. Desculpa, pode continuar. Espero um pouco, para ter certeza de que ele está prestando atenção, e continuo. — Então, existia esse meio-humano, meio-faerie chamado Tharros Mizreth… — Caramba, tenta dizer esse nome cinco vezes de uma vez sem se embaralhar toda! — diz Nate, me cortando. Eu o encaro e ele sinaliza que vai calar a boca. — Enfim, nem todos os halflings possuem magia, mas desde o início ficou bem claro que Tharros tinha um enorme poder. Muito maior do que qualquer faerie ou mestiço comum. Basicamente, resumindo a história toda, ele tentou controlar um grande número de cidades humanas e no processo, manipulou e matou vários faes e humanos. Esse… — Toco no disco metálico em meu joelho. — ... era o símbolo que Tharros usava para representar a si mesmo. Nate franze a testa. — Como foi que a minha mãe ficou com um símbolo de um halfling? — E como que ela arranjou um livro de poesia de faeries? — Nate não respondeu, só virou o rosto para observar a água que passava por nós. — Estava pensando que talvez ela seja descendente da família humana de Tharros. — Digo. — E que o disco foi herdado por ela. — Hum. — Diz Nate. Ele olha para mim. — E, então? O que aconteceu com esse tal Tharros? — Várias Guildas do mundo todo juntaram seus melhores guardiões e o tiraram da jogada. Foi há alguns séculos atrás. Nate me olha um pouco surpreso. — Sua Guilda não é a única?
— Não. Existem algumas. — Pelo canto do olho consigo ver que a água foi quase toda. — As Guildas ficam todas próximas dos locais onde um fae perigoso costuma ficar. Como o que nós, em Creepy Hollow, nos referimos como Subterrâneo. — Que é onde estamos nesse momento, — diz Nate. — Acho que sim. — Você desce no Subterrâneo para fazer tarefas? — Nem pensar. É muito perigoso. Equipes com vários guardiões treinados descem aqui vez ou outra para cuidar de certas coisas, mas os que ainda estão treinando nunca vão. Não é que sejamos proibidos de descer ao Subterrâneo, mas tenho a impressão de que ficaríamos encrencados se fôssemos e a Guilda descobrisse. O último fio de água se vai, deixando uma camada fina de lama molhada no chão de pedra. Largo mão da barreira e ela quebra, depois desaparece num instante. Levanto-me. É um alívio poder esticar minhas pernas. Conjuro uma nova bola de luz e continuamos a seguir o túnel. Chegamos numa bifurcação e seguimos no caminho da esquerda após eu ter checado novamente a localização de Angelica. Alguns minutos se passam e o túnel começa a feder como se algo tivesse morrido lá. Estava começando a ficar nervosa sobre o tipo de defunto que poderíamos encontrar no caminho, quando contornamos e eu quase chuto as costas de um troll. O troll é enorme e está jogado, grande demais para o túnel. Ele está segurando um tronco de madeira com seu punho enorme. Dou um passo bem grande para trás quando ele se vira para nos encarar. Procuro por uma espada, lembrando de experiências passadas que minhas flechas mal passam pela pele de trolls. — O que quer que eu faça? — sussura Nate, com os punhos fechados se preparando a lutar com o troll. Antes que possa responder, ou rir, o troll levanta o tronco e o balança em nossa direção. Pulo longe e atinjo seu braço. A lâmina toca nele, mas ele não parece perceber. Ele avança sobre nós, balançando o tronco para frente e para trás, nos mandando de volta por onde viemos. Droga. Eu preciso despistar esse cara ou nunca iremos deixá-lo para trás.
— Mantenha-o ocupado, — digo ao Nate antes de largar minha espada e correr de volta ao túnel. — Quê? — grita Nate. — Você vai me deixar? — Preciso de tempo! — grito de volta por cima dos ombros. Paro em algum canto com uma rachadura escura. Certo, foco. Respiro devagar, puxando poder do fundo de mim mesma. Quanto mais poder eu conseguir, mais rápido irei completar. Um brilho roxo aparece em minhas mãos, pulando e rodeando uma bola de magia que fica cada vez maior. Vamos lá, vamos lá. Preciso de muita para levantar o troll. Muito mais do que eu provavelmente deveria estar usando agora. — Violet! — Eu esperava que o troll estivesse na esquina nesse exato momento, mas seja o que for que Nate está fazendo para distraí-lo, está funcionando. — Quanto mais tempo você precisa? Vamos, vamos. — VAMOS, — grito bem alto. O troll se vira e, por um momento, acho que Nate desapareceu. Mas, aí, o vejo, balançando-se em um dos ombros do troll, com suas mãos enroladas no cabelo oleoso do troll. O troll urra e balança seus braços, como se estivesse pronto para voar, mas Nate se esquiva com facilidade. Com o máximo de força que consigo manter, jogo a magia no troll. A luz roxa o atinge diretamente no meio do estômago na mesma hora que Nate pula do ombro ao chão. O troll lança um grunhido alto. Com seus olhos negros vidrados, ele cambaleia rapidamente antes de cair no chão. O impacto gera uma nuvem de fumaça no túnel de pedra. Nate, respirando com dificuldade, volta a me olhar. — Você poderia ter me deixado com uma arma, pelo menos, quando fugiu. — Desculpa. As armas de guardiões só funcionam com guardiões. — Passo a mão sobre meu cabelo enquanto caminho em direção a ele. — Além do mais, você parece ter cuidado muito bem da situação sem uma arma. Como conseguiu subir no ombro dele? Nate analisa o troll caído. — Bem, hum, quando ele abaixou o braço para me bater, eu pulei nele e o puxei para perto. Sinceramente, pensei que ele me lançaria longe, mas acho que funcionou.
Fico na ponta dos pés e dou um beijo na bochecha de Nate. — Bom trabalho, — digo com um sorriso. — E desculpa por ter fugido. É só que eu preciso de certo tempo para ter poder suficiente para atingir alguém, especialmente alguém do tamanho de um troll, e não daria para fazer isso enquanto me defendia dele. — Subo na perna gigante do troll e começo a escalar nele. — Esse é o motivo de não jogarmos magia enquanto lutamos, — explico. — Não há tempo suficiente para parar e juntar o poder todo. — Pulamos juntos para o outro lado. — Nojento, — digo, colocando a minha mão virada no meu nariz. — Ele tem cheiro de sapo morto Nate limpa as mãos no jeans. — E ele realmente precisa lavar esse cabelo. Depois disso, tive que manter minhas facas brilhantes de guardiã em mãos, pronta para dispará-las caso algo se movesse. Mas não encontramos nenhuma outra criatura, pois a próxima esquina dava fim da linha do túnel. Uma luz clara emana de um vão. Uma grande câmara aparece nesse vão. E, sentada à uma mesa dentro da câmara, se encontra uma mulher.
Capítulo 10 Ornamentos pendurados decoram as paredes da câmara, com o chão de um mosaico feito de tiras de pedras enormes. Cores e formas formam espirais arrastadas nas tiras, algumas perturbadoramente parecendo-se com rostos. Plantas que devem ser mantidas vivas com magia se enfileiravam nas paredes e uma caixa de pássaros tagarelas se encontra em um canto. No centro da câmara, atrás da mesa em que a mulher estava sentada, uma escada se contorce do chão ao teto. A mulher não percebe nossa presença estática em sua porta. Em vez disso, ela encara um livro bem aberto em sua mesa. Ela está vestida de branco, com longas mangas que chegam até quase as pontas de seus dedos. Joias elaboradas de prata envolvem seu pescoço. Seu cabelo preto manchado com mechas cinzas, o que me parece estranho porque, de onde estou, não consigo ver uma mísera ruga em seu rosto impecável. Largo minha faca. Seu desaparecimento flamejante no ar chama a atenção dela. Sua cabeça se vira e quando vejo seus olhos, sei que algo está errado. — Nathaniel, — ela fala ofegante enquanto se levanta da cadeira em um movimento fluído. — Como eu esperava que você fosse me encontrar um dia. Seus olhos são cinza claro e percebo que seu cabelo não é cinza. É também, claro, prateado. E isso só poderia significar uma coisa. — Nate. — Pego sua mão para aproximá-lo. — Essa não é a sua mãe. O olhar dela se vira imediatamente para mim. — E por que diz isso? Porque sou uma faerie? — Uh, sim. — Obviamente você não é uma muito inteligente. — Caso não tenha percebido, o menino ao meu lado é humano.
— Certo. Um humano que pode ver lampejos e viajar em segurança nos caminhos das faeries. Caso você não tenha percebido, pequena fadinha, o menino ao seu lado é um halfling. Um halfling. Não, é maluquice. Maluquice. Mas, aí… isso até que fez bastante sentido. Droga. Odeio estar errada. Olho para o Nate. Ele está boquiaberto, mas parece não ser capaz de fazer barulho algum. — Um Halfling sem magia, claro, — acrescenta Angelica. — Eu teria sentido quando ele era mais novo, se ele tivesse algum poder. — Teria? — rebato. — Pelo o que sei, você só ficou por alguns meses. — Você o viu demonstrar algum poder? — ela imediatamente pergunta. — Se viu, gostaria de ouvir sobre isso. E, novamente, parece que ela está certa. Droga. Não gosto dessa mulher. E não é só porque ela mostrou que estou errada e me chamou de ‘fadinha’. Tem algo no poder que posso sentir vindo dela. É frio, como uma brisa de ar glacial. — Espera, — diz Nate, conseguindo enfim falar. — Eu... Eu sou... — Um meio-faerie, meio-humano, — diz Angelica, com uma expressão confortante, enquanto olha para seu filho. Ela vira a mão e a mesa se dissolve em uma espuma de fumaça, revelando pés descalços ao fim de suas calças brancas. Ela dá um passo em nossa direção e para quando Nate levanta as mãos. — Por que você foi embora? — ele pergunta. — Eu não fui. Não por escolha própria. Fui levada. Estou presa aqui desde então. Mentirosa. — Eu lhe vi do outro lado do penhasco, — conto a ela. — Quando Drake e Zell estavam fazendo aquela loucura. — Sim, era eu, — ela admite. — Mas era só uma projeção de mim. Não posso fisicamente deixar essa câmara. — Então por que nunca se projetou na minha casa? — pergunta Nate. — Só posso me projetar no reino das faes. Que conveniente. — E quanto a Drake e Zell? — Nate pergunta, cruzando os braços em frente ao peito. — Por que eles queriam lhe ver tanto assim?
Os olhos de Angelica se guiam ao chão e ela faz uma pausa antes de responder. Provavelmente ocupada criando alguma história fantasiosa. — Gostaria de se sentar? — ela pergunta. Ela alonga o braço para o lado e três cadeiras aparecem. São cadeiras traçadas com ramos finos e flexíveis, possuindo um formato de ovos ocos cortados ao meio. Um cabo de corda é o que pendura cada uma ao teto. — Posso explicar tudo para você, — ela diz. Eu não quero sentar em algo conjurado por essa mulher, mas Nate parece estar disposto a ouvi-la. Ele se acomoda cuidadosamente em um dos ovos partidos e eu encolho no canto de outro. Minhas mãos e minha mente estão prontas para pegar uma arma ao menor sinal de perigo. — Eu nunca lidei com Drake e Zell até eles me contatarem por projeção, — diz Angelica. — De alguma forma, eles descobriram sobre um objeto mágico de muito poder, um item que eu tenho, e queriam comprá-lo de mim. Eu disse a eles que não estava à venda e me recusei a encontrar novamente com eles. Porém, eles estavam determinados e, como você infelizmente pode notar, Nathaniel, eles decidiram usar você para forçar um acordo. Joguei um encantamento neles que não os deixaria encontrar você, mas Zell deve ter contornado. Por sorte, sua amiga aqui... — ela sinaliza para mim — ... conseguiu te salvar. Não tenho notícias de Zell desde então. Nate diz nada por um tempo, então balbucia — Ninguém me chama de Nathaniel. Bom, claramente está na minha hora de perguntar o que importa. — Quem te trancou aqui para início de conversa, — pergunto, — e por quê? Angelica consegue desviar o olhar de Nate, levantando o queixo levemente enquanto me olha. — Um faerie da corte Unseelie. Ele aumentou parte do Subterrâneo para construir esse labirinto. Encheu-o de criaturas horríveis e magias destrutivas, junto com paredes encantadas para deixar tudo do lado de dentro. — Certo orgulho se mostra na voz de Angelica, como se admirasse o faerie lunática que a trancou aqui. Sinto arrepios na espinha. — No centro desse labirinto, — ela continua, — nessa câmara mesmo, ele trancou aqueles que se recusaram a agir conforme suas ordens. O motivo pelo qual vim parar aqui foi porque eu não quis dar a ele o item poderoso que possuo. Ele foi morto antes que eu pudesse negociar minha liberdade.
A voz dela nunca vacila e ela nem gagueja também, mas me encontro não querendo acreditar nela. Afinal, ela poderia falar qualquer coisa e nós nunca saberíamos se estaria mentindo. — E o que exatamente é esse item poderoso? — Já ouviu sobre o halfling Tharros? Nate concentra seu olhar, mas eu falo antes que ele possa comentar algo. — Sim, claro. Ele está em todos os livros de história. — Quando estava vivo, ele transferiu parte de seu poder para vários objetos inanimados, como armas, joias, entre outros, para que ele tivesse outras fontes de poder a recorrer caso se esgotasse de sua magia. Depois que ele morreu, alguns objetos ainda possuíam poder em si. O que eu tenho é um disco de metal com um grifo. Seguro a mão de Nate com força, tentando sinalizar para ele manter a boca fechada e continuo. — Onde você conseguiu esse disco? — Isso, minha querida, não é da sua conta. — Ela se vira a Nate, levando sua mão em direção a ele. Sua manga desliza, revelando linhas pretas ao redor de seu pulso. — Você é uma guardiã? — deixo escapar. Ela olha para as marcas. — Eu era. — Ela diz, sem quaisquer outras explicações. — Nathaniel, — ela diz gentilmente. — Preciso de sua ajuda. — Nate não responde e ela continua. — Esse item poderoso, o pedaço de metal com um grifo, pode me ajudar a sair daqui. Deixei isso na nossa casa. Você precisa perguntar a seu pai onde está. Então, pode trazer para mim e eu ficarei livre. Nate se senta na cadeira e seus olhos se encontram com os de sua mãe. — Esse é o único motivo pelo qual você queria que eu lhe encontrasse? — Ele pergunta. — Não tinha nada a ver com o fato de que sou seu filho e, sei lá, talvez você tenha sentido saudades? Nathaniel, claro que eu senti saudades. Eu amo... — Não tenho certeza se acredito em você, — ele diz. Bom, somos dois nesse caso. Eles se encaram e nenhum pisca. Os olhos prateados de Angelica endurecem. — Talvez devêssemos ir, Nate, — digo calmamente. Angelica me perfura com seu olhar prateado. — E quem, exatamente, é você? — questionou. — Não me lembro de você ter se apresentado.
— Foi porque eu não me apresentei. Parabéns por se lembrar. Nate suspira. — O nome dela é Violet. Os olhos de Angelica se apertam. Seu olhar vai até os meus pés e depois volta. É mais do que só um pouco assustador. — Ora, ora, ora, — ela sussurra. — Violetzinha. Diga-me, como exatamente você conheceu meu filho? — Não é Violetzinha, — eu digo. — É só Violet. Ou, se você quer mesmo me irritar, poderia me chamar de Pixie Sticks. Ela parece não estar mais prestando atenção em mim. Está observando o nada, com o olhar inebriado, como se estivesse vendo uma cena invisível. — Perfeito, — sussurra. Ela volta ao momento presente em uma piscada e levanta devagarzinho de seu assento. — Acho que uma mudança nos planos está de bom tamanho, — diz. Ela sacode a mão para o lado e os ramos a minha volta desmancham-se por completo. Fico assustada por um segundo, mas me recupero quase imediatamente. Giro no momento em que atinjo o chão, rolo de joelhos e me levanto com rapidez. Uma faca se ilumina no meu pulso cerrado. Angelica se adianta por um segundo e o conjunto de ramos em que ela estava sentada momentos atrás se vira contra mim. Desvio do caminho e jogo a faca nela. Ela se desvia de sua trajetória com um brilho prateado e pula para o lado enquanto o assento balança em sua direção. — Parem! — Nate grita. Angelica corre até mim, mais rápido do que eu poderia pensar. Jogo-me no chão no último segundo e a empurro por cima do meu ombro. Mas ela consegue dar a volta no ar, girando e me chutando nas costas. Bom, isso é vergonhoso. Não me vi numa posição dessas faz anos. — Que diabos você está fazendo? — grita Nate. — O que estive esperando há anos para fazer. — Angelica murmura enquanto luta em meus braços. Ela se abaixa e sussurra apenas uma palavra em meu ouvido: — Vingança. — O que não faz o menor sentido já que eu nunca havia feito nada a essa mulher. — Você quer aquele tal disco? — pergunta Nate, parecendo desesperado. — Certo. Pode ficar com ele. Está…
— Nate! — grito com ele. — Para de falar! — Talvez Nate não veja da mesma forma, mas acho que não é uma boa ideia entregar para a mulher que acabou de me atacar o objeto mágico que irá fortalecê-la. — Escute-me, Nathaniel. — A voz de Angelica fica surpreendentemente doce. — Irei mandar você de volta para Creppy Hollow para ir atrás dos pais da Violet. Diga a eles que estou com ela e os traga de volta para cá. Eles saberão exatamente o que eu quero. O quê? Paro de me debater. Como ela sabe… Não. Parei de pensar antes que fosse longe demais. Agora não é o momento de pensar em como essa louca sabe sobre os meus pais. — Desculpa arruinar seu plano, Angie, — digo com os dentes cerrados, — mas meus pais estão mortos. — Angelica pausa. Ela obviamente não estava esperando por aquilo. — Sim, desculpa. — Continuo. — Você claramente pegou a Violet errada. Angelica torce meus braços por trás de mim até que eu solte um grunhido de dor. — Seus pais estão mortos, é? — ela diz. — Bem, parece que todos ganham o que merecem no final. É isso. Qualquer que seja a linha, ela acabou de ultrapassar. Livro meus braços dela, empurro com força contra o chão e a jogo para trás. Pulo no assento côncavo que ainda balança do teto, me puxo para cima dele e ergo minha mão por trás de mim. Segurando na corda com a outra mão, libero magia na forma de uma rajada no ar, fazendo o assento voar pela câmara. — Oh, muito inteligente, — zomba Angelica. — É isso que ensinam a vocês ultimamente na guilda? A fazer voar como macacos? Mexo a minha mão, direcionando o assento para as escadas em espiral. Salto para a estrutura no mesmo momento em que uma lança de gelo voa para romper a corda, fazendo o assento quebrar no chão. Prendo meu pé em um dos corrimões inferiores e arremesso um bando de pássaros barulhentos para cima de Angelica. Ela move a mão para o lado, transformando os pássaros em uma chuva de pingos inofensivos, enquanto isso, posiciono meus braços para segurar meu arco e flecha. Eles aparecem momentos depois em chamas de calor ardente. A ideia de poder ser acertada por uma flecha na testa não parece incomodar Angelica. — Desça aqui e lute como uma guardiã de verdade, — ela diz em tom de deboche.
— Não! — grita Nate. Ele está parado a poucos passos da Angelica, e, apesar de aparentar desesperadamente querer fazer algo, ele não sabe o que fazer. — Parem de brigar! Ignoro Nate. — Guardiões de verdade não caem em armadilhas como essa, — repreendo Angelica. — Não temos problemas em mirar de longe se isso for nos livrar mais rapidamente de um inimigo. — Inimigo? — A voz de Nate está mais alta do que o normal. — Quem disse que nós temos que ser inimigos? — Volte para o túnel, Nate, — falo. — Não! — Angelica pega o braço de seu filho. Ela não precisava ter se incomodado. Tenho certeza de que Nate não ia me ouvir. Sinto algo gelado em meu braço e vejo um minúsculo floco de neve descongelando em minha pele quando olho para baixo. Vários outros flocos pousam na minha mão, enquanto outros desaparecem num chiado ao caírem perto demais das flechas brilhantes. — Sério? — diz Angelica. — Neve? Minha opinião a respeito dos treinadores atuais da guilda está piorando a cada minuto. — Duvido que tenha alguém na guilda que leve a sua opinião em consideração, — digo. E a neve deve ser alguma nova invenção estranha do labirinto, porque eu não tive nada a ver com isso. — Desça aqui, menina atrevida! — Angelica choraminga, batendo os pés no chão como uma criança exigindo um brinquedo novo. Quando não respondo, ela larga Nate e, com toda sua fúria, joga uma bola branca brilhante de magia em mim. Eu pulo. O tempo parece ficar mais lento enquanto eu dou cambalhotas no ar, o chão fica mais próximo, a escada virada ao avesso e os flocos brancos de neve voam de maneira estranha. E então eu pouso... De pé. Claro. Porque eu sou do tipo de pessoa que pratica um movimento até saber como fazer perfeitamente toda vez. Mas não tenho chances de levantar meu punho no ar como normalmente faria após conseguir uma aterrissagem perfeita num treinamento, porque cipós rastejam como cobras pelo chão da câmara em minha direção. Pego uma espada, cortando de um canto a outro em movimento de oito. Pedaços de cipó caem para ambos os lados,
queimando em chamas verdes antes de tornarem-se um nada. Mas não importam quantos eu corte, mais continuavam a deslizar pelo chão de pedra. Um deles esgueira-se até meu tornozelo. Antes que eu possa arrancá-lo, ele me puxa em direção ao chão e me arrasta pela câmara até onde Angelica está. — Pare! — Nate se lança em direção à mãe, colocando seus braços ao redor de seu pescoço e cintura, empurrando-a para trás. Meus dedos tentam alcançar a alça do meu chicote. Miro-o para frente e a ponta dourada flamejante se enrola no tornozelo de Angelica. Você não é a única que sabe jogar esse jogo, penso eu, puxando com força. Jogo-a esperneando no chão ao passo que suas mãos livres incendeiam chamas em branco-gelo. Ela leva as mãos até minha perna e a dor toma conta da minha pele. Com minha perna livre, chuto-a o mais forte que consigo e ela larga com um grunhido. Cambaleio em direção a Nate e o empurro para debaixo da passagem de volta ao túnel, arrastando-me atrás dele o mais rápido possível. Mas algo sólido se prende no meu pé e me puxa para trás. — Nate! — grito, tentando alcançá-lo. Uma explosão de emoções brota no rosto de Nate, mas ele pega minha mão e puxa. Com minha mão livre, direciono um golpe de magia para a corrente de metal que está apertando o meu pé. A corrente só aperta ainda mais. Então miro meu poder em Angelica, que está segurando firmemente do outro lado da corrente. Ela tenta desviar, mas uma chama roxa passa queimando seu ombro. Ela larga a corrente com um grito de dor. O cabo de guerra termina e Nate cambaleia de volta para o túnel, me puxando em direção à passagem. Angelica se joga de encontro a nós, mas acaba batendo na barreira invisível. — Espera, Nathaniel! — ela chora, batendo os punhos contra a maldição que a tranca dentro da câmara. — ESPERA, POR FAVOR! — Nate se vira, com o rosto torturado. — Por favor, Nathaniel, por favor. Não era para ser assim. Sim, concordo. Duvido que fosse assim a forma como Nate planejava apresentar a namorada dele para a mãe. Seguro-o pela jaqueta, só para caso de ele decidir correr em direção a ela. — Desculpa, desculpa, por favor, não me deixe aqui sozinha! — Ela implora. Começa a nevar densamente ao redor dela, caindo em seu cabelo preto prateado e
pousando em seus braços. Nate balança a cabeça, com suas mãos nos cabelos, os dedos movimentando-se desesperadamente, as articulações esbranquiçadas. — Vamos, Nate. — Consigo sentir um tremor no chão como um trovão distante. — Nós precisamos sair daqui. — NÃO! — O rosto de Angelica está ensopado de lágrimas. Reais ou inventadas, não sei. — Não, não me deixe aqui! Aperto o braço de Nate. Ele vacila alguns passos para trás antes de dar as costas para a mãe. Puxo-o, forçando-o a correr. A luz que eu havia conjurado antes ilumina o caminho. — Você voltará, Nathaniel — ecoa o grito de Angelica pelo túnel. — Quando estiver totalmente sozinho e perceber que não pertence ao mundo humano, você voltará rastejando para a sua mãe! Nate aperta as mãos contra seus ouvidos e corre rápido. Escolho os túneis aleatoriamente, sem quaisquer pensamentos de direções que devêssemos seguir. Só quero sair de perto da Angelica o mais rápido possível. O túnel se estreita e faz zigue-zagues bruscos para direita e para esquerda. Percebo que Nate está enrolando atrás de mim. Espero até que o túnel termine novamente antes de diminuir o passo e parar. Me inclino para pegar ar. Silêncio. Rodopio ao meu redor, meu coração está acelerado. Sem passos. Sem outra respiração além da minha. Nate sumiu.
Capítulo 1 Eu me lanço de volta pelo túnel, gritando o nome de Nate. Eu envio minha mente, procurando desesperadamente. Eu não preciso de um dos pertences de Nate para encontrá-lo. Eu o conheço; A conexão já está lá. Mas pela primeira vez, minha mente não encontra nada. Nada. Isso me aterroriza. Estou bem e verdadeiramente perdida agora. Diante de mim, o túnel dividese em dois caminhos. Um espelho pendurado na parede entre eles. Sem olhar para o espelho, eu sigo o caminho à direita. Ele se curva ligeiramente, depois gira bruscamente para a esquerda. Continua direto por um tempo, inclina-se para cima, depois para baixo, depois para uma curva acentuada para a direita - e estou de pé na frente da bifurcação com o espelho novamente. Espera. Isso não faz sentido. Como eu andei em um círculo? Eu escolho o caminho da esquerda desta vez. Eu ando em linha reta pelo o que parece ser anos antes do caminho desaparecer em torno de uma esquina - e acabar na bifurcação com o espelho. Eu vou para a esquerda novamente, correndo agora, e o caminho é completamente diferente, e em poucos minutos estou de volta onde eu comecei. — Pare! — Eu grito alto. — Pare, pare, pare com isso! — Eu me viro e corro para trás do jeito que eu vim. Eu continuo. Indo e indo e indo, e não há mais espelho, apenas uma luz que fica a alguns metros na minha frente e uma voz cantando em algum lugar longe. A voz é profunda e rica, como veludo para meus ouvidos. Eu sigo, esperando que na fonte da voz seja alguém que saiba o que aconteceu com Nate. A bola de luz à minha frente nunca escurece, o que é estranho. Eu gastei uma quantidade considerável de energia segurando a água mais cedo, e usei magia para lutar contra
Angelica. E, é claro, foi preciso um poder imenso para atordoar uma criatura tão grande quanto aquele troll. Eu deveria estar exausta agora, minha força diminuindo, meu poder diminuindo. Chego a uma parada completa à medida que algo se registra na minha mente. O disco grifo. Angelica deve ter contado a verdade sobre ele conter poder. De que outra forma eu ainda teria força? Eu continuo em frente uma vez mais, minha mente passando os eventos desta noite. Penso nos livros que enviei colidindo na minha prateleira e na bola de vidro que explodi na biblioteca de Tora, e a luz que quase cegou Nate quando chegamos a este túnel. Tudo porque eu não percebi que eu tinha um propulsor empacotado de magia no meu bolso. Meus pés param na borda de uma caverna nua. Encontrei a fonte da voz: um centauro. A parte inferior do seu corpo é coberta por cabelos lustrosos e cor de cobre. Combina com o cabelo na sua cabeça, que está bem amarrado na sua nuca. Ele está parado no centro do espaço vazio, de frente para uma pedra grande que se inclina contra o outro lado da caverna. Um escudo está pendurado em suas costas. — Com licença, — eu digo, alto o suficiente para ser ouvida acima de seu canto. O silêncio abrupto ressoa em meus ouvidos. O centauro se vira para mim, e vejo que ele está carregando uma espada na mão. — Ah, você respondeu ao meu chamado, — diz ele. — Eu tenho procurado você desde que você chegou aqui. — O quê? — Eu fico distraída, mas só por um momento. — Não, eu preciso da sua ajuda. É urgente. Você viu... — Você virá comigo agora. — Ele caminha em minha direção, os sons de seus cascos ecoando na caverna. — Pare. — Levanto minhas mãos e coloco uma parede invisível mágica entre nós. — Se você estava me procurando, então você também estava procurando o menino com quem eu estava. Onde ele está? — Você virá comigo para ver a Lady Silver, — o centauro diz. — Ela exige ver todos que entram em seu labirinto. — Eu não tenho tempo para isso! — Eu gritei, a urgência fervendo dentro de mim. Não me lembro da última vez que chorei, mas agora me sinto ridiculamente
perto de chorar. — Se você sabe onde ele está, então me diga. Se não sabe, eu apreciaria se você saísse do meu caminho. Ele levanta a espada e aponta diretamente para mim. Um raio de luz branca dispara da ponta. Ele atinge minha barreira mágica, fazendo com que brilhe em protesto. Ele dispara novamente. E novamente, e novamente. Posso sentir o debilitamento da barreira. Eu faço o que fiz com o troll, reunindo o máximo de poder possível enquanto a barreira ainda me protege. Não demora tanto tempo; O centauro é grande, mas não tão grande quanto o troll. Com uma explosão de energia, empurro a barreira para o centauro antes de deixá-la desaparecer. Ele tropeça para trás. Eu mantenho a bola de magia em uma mão, puxo meu braço para trás e a jogo com todas as minhas forças. O centauro voa para trás, atinge a parede e cai no chão. É horrível ver uma criatura tão majestosa e bela se encontrar inutilizada, quase morta. Mas ele estava bloqueando o meu caminho, e eu tenho que encontrar Nate. Eu corro para o outro lado da caverna. Segurando minhas mãos a poucos centímetros de distância da pedra que se inclina contra a parede, eu me forço a mover. Com um rugido, a pedra começa a rolar para um lado, revelando uma abertura na parede atrás dela. Eu considero criar outra bola de luz, mas o sempre presente brilho no teto é o suficiente para eu ver. E o que posso ver é que não há nada do outro lado desta abertura, apenas outro túnel. Deve haver uma razão pela qual ele estava escondido, então eu entro e me apresso para seguir em frente. Depois de apenas alguns minutos, tomo consciência de um som ecoando. Fraco, mas contínuo, posso senti-lo vibrando através das solas das minhas botas. O túnel cresce, ampliando-se gradualmente até alcançar um tamanho que pode facilmente acomodar o troll que atordoei anteriormente. Um por um, os pontos de luz no teto piscam para serem substituídos por um brilho amarelo suave que parece estar emanando das paredes. Eu continuo avançando, e o golpe é acompanhado por um ruído que me esforço para distinguir. Música. Tranquila no começo, mas ficando rapidamente mais alta enquanto eu avançava pelo túnel. Eu começo a correr, a música alimentando minha necessidade de encontrar Nate. Posso ver o fim do túnel à
frente. Eu corro mais rápido, me empurrando, apenas abrandando quando eu posso ver exatamente o que está no final do túnel. Uma porta. Paro bem na frente da porta, respirando pesadamente. Levanto minhas mãos e descanso minhas palmas contra ela; A madeira estremece sob a batida da música. Sabendo que não tenho que me preocupar com o esgotamento da minha magia, eu demoro alguns minutos para tirar poder o suficiente para atordoar um homem grande. Afinal, quem sabe o que pode estar logo atrás dessa porta? Enrolo meus dedos livres ao redor da maçaneta da porta. Surpreendentemente, vira facilmente. Abro a porta - e encontro uma massa de corpos se contorcendo. Um fae corpulento que está de pé na porta se vira para mim em surpresa. Ele tem cabelo verde ácido e um olho combinando; O outro olho é um buraco vazio. — O que... Eu jogo minha mão para frente e o atordoo antes mesmo de ele parar para pensar. Ele caí contra o batente da porta e desliza para o chão. Felizmente, ninguém parece notar. Eu permaneço na ponta dos pés - o que aumenta o meu alcance - e examino o caleidoscópio de dançarinos. Os flashs de luzes de várias cores revelam quase todos os tipos de faeries que posso pensar. Saltando, dançando, balançando, gritando, rindo. Esse é claramente onde o povo do Subterrâneo de Creepy Hollow vem para curtir. Estou prestes a voltar para a porta de entrada - afinal, as chances de Nate estar aqui são ridiculamente escassas - quando um raio de luz atinge o batente da porta de madeira logo acima da minha mão, fazendo com que ele se estilhasse e fumegue. Giro para ver o centauro galopando pelo túnel em minha direção. O que? Como diabos ele acordou tão rápido? Tropeço de volta ao clube Subterrâneo e puxo a porta para trás. Ao mesmo tempo, percebo algo: já não estou no labirinto, e isso significa que eu devo poder abrir uma saída daqui. Agora, se eu pudesse encontrar Nate - que provavelmente está de volta ao labirinto em algum lugar - e me impedir de ser morta por um centauro e um clube cheio de gente do Subterrâneo. Eu empurro a multidão, agradecida de que todos aqui estejam muito preocupados em se divertir para perceber que um guardião em treinamento está no meio deles. Suor, as escamas e as penas esfregam contra mim, e um
estremecimento de repulsa percorre através do meu corpo. Alguém pisa no meu pé; outra pessoa agarra minha mão e me gira em um círculo vertiginoso antes de me deixar ir. Perdi toda sensação de direção agora, mas vejo uma parede próxima e me empurro contra corpos até que eu chego a ela. Pressiono minhas costas contra a parede, tentando descobrir o meu próximo passo. O centauro está dentro do clube agora. Ele é mais alto que a maioria das criaturas aqui, e os flashs de luzes revelam sua passagem pela multidão como uma série quebrada de imagens coloridas diferentes. Tudo bem. Então, eu preciso voltar para o labirinto sem o centauro me ver, de alguma forma encontrar Nate, retornar a este clube e abrir um portal para casa. Eu consigo fazer isso. Eu consigo. Estou tentando decidir se vou para a esquerda ou para a direita ao redor da sala, quando o centauro congela. Próximo do flash de luz laranja eu vejo seu rosto girado em minha direção. Azul, verde, magenta, e então ele começa a forçar um caminho pela multidão em minha direção. Oh merda, oh merda. Eu me agacho. Mantendo meu lado direito contra a parede, corro. Passo apertado por um grupo de pixies, um casal de fae emaranhados nos braços um do outro, uma mulher com asas de morcego, um garoto confuso que parece... Nate? Eu volto e agarro seus ombros. — Nate? O que você está... como você... — Violet! Eu... Eu... — Ele engole, pisca, envolve seus dedos firmemente em torno de meus braços. — Eu não sei... Não havia tempo para isso. Seguro sua mão com força na minha, deslizo minha stylus para fora da bota e escrevo na parede. Por favor, abra, por favor abra, por favor abra. E abre. — Pare! — O grito é alto o suficiente para ser ouvido sobre a música. Giro e me encontro cara a cara com a espada do centauro. Lentamente, odiando o fato de que eu tenho que fazer isso, levanto minhas mãos. — Você não vai sair, — o centauro comanda. Deslizo um pé para trás através da entrada para evitar que feche. Estou prestes a perguntar ao centauro o que ele planeja fazer para nos impedir quando sinto meus olhos sendo atraídos por cima de seu ombro. Um garoto com cabelo
preto e azul e um olhar de desprezo em seu rosto olhando para mim. — Oh, você tem que estar brincando comigo, — eu digo. O que diabos Ryn está fazendo em um clube subterrâneo? — Não, — diz o centauro. — Sem brincadeiras. Se você entra no labirinto, você não pode sair sem ver a Lady Silver. Meus olhos ainda estão fixos em Ryn. Seu olhar desliza de mim para Nate e de volta. Ele balança a cabeça, uma decepção fingida aparece em seu rosto. Droga! Eu realmente tenho que enfrentar a pessoa que eu mais detesto no mundo agora? — Venha, — diz o centauro, e a ponta da espada começa a brilhar branco. — Desculpe, — digo, sentindo um punhal se materializar em cada uma das minhas mãos, — mas não vou a lugar algum com você. O centauro empurra sua espada para frente, assim que Nate mergulha na minha frente. A força do relâmpago o joga de volta contra mim, e nós atravessamos o portal. — Não! — Eu grito e arremesso ambos os punhais através do espaço que diminui rapidamente, quando as bordas da entrada se derretem umas contra as outras. ***
Eu caio através da escuridão, Nate em cima de mim, e pouso em algo macio e peludo. Nós caímos no chão do meu quarto ao lado de um enorme urso marrom - Filigree. Eu me sento, pego o ombro de Nate e o rolo sobre suas costas. Logo abaixo do centro de sua caixa torácica, um buraco queimou sua camiseta. Sua pele está enegrecida e sangrando. Seus olhos estão fechados. — Não, não, não, não. Filigree. — Eu bato no ombro de Filigree para acordálo. Ele ergue a cabeça. — Ajude-me a levá-lo para a cama. Agora! — Filigree muda para a forma de gorila, ergue-se e levanta Nate do chão. Ele o deixa cair na cama, depois muda para um rato e corre para o braço de Natee sobre o ombro dele. Eu estendo a mão para debaixo da cama para pegar minha bolsa de treinamento e retiro meu kit de emergência. Eu procuro através dos frascos, pó e ataduras até encontrar o que eu estava procurando. É uma poção clara com
pequenas manchas verdes nela, excelente para acelerar a cicatrização de queimaduras. Nate é apenas metade faerie, e não tenho ideia se vai funcionar com ele. Derramo algumas gotas na ferida aberta. A poção chia conforme ela encontra a pele de Nate, soltando um cheiro de folhas esmagadas. Pego as bordas de sua camiseta e rasgo um buraco maior, depois coloco minhas mãos em ambos os lados da ferida. Apesar da situação de vida ou morte, não me escapa de perceber que meus dedos estão espalhados pelo peito nu de Nate. Filigree solta um guincho. Olho para ele. Um olho aumenta um pouco mais do que o outro, como se estivesse tentando arquear sua sobrancelha inexistente. — O quê? — Eu pergunto, sentindo minhas bochechas corarem. — Eu não estou fazendo isso para tocar em seu peito, ok. Estou tentando curá-lo. Além disso, ele realmente é um halfling, não um humano, então você pode parar de me julgar. Volto minha atenção para Nate. A magia corre das pontas dos meus dedos e para o seu corpo como chuva mergulhando na terra. E ainda não me sinto drenada. Não posso deixar de me surpreender com isso. É como se meu fornecimento de energia fosse infinito, nunca precisando ser reabastecido com descanso ou comida. Mas depois de alguns instantes, retiro minhas mãos da pele de Nate. Não tenho ideia do que este poder fará ao seu corpo halfling normalmente livre de magia, e certamente não quero exagerar. — Por favor, funcione, por favor, funcione, — eu murmuro, olhando a ferida. Nada parece estar acontecendo, mas talvez seja só que a cura esteja muito lenta. Estendo a mão e gentilmente escovo o cabelo de Nate da testa. Meu coração se contrai dolorosamente por um minuto. Eu desço da cama, ando até o banheiro, e me abaixo para a água para esfregar minhas mãos. Estou agora completamente confusa com meus sentimentos por Nate. Eu pensei que estava pronta para me despedir dele mais cedo, mas quando ele desapareceu no labirinto, fiquei aterrorizada de nunca mais vê-lo. Isso deve significar algo, certo? Eu me obrigo a tomar o meu tempo lavando as minhas mãos, esperando que quando eu voltasse para Nate, a ferida tenha começado a se curar. E tinha. Está curando do lado de fora, as bordas ficaram de uma cor rosa claro enquanto a poção faz sua mágica. Isso acontece lentamente, muito devagar
para que eu veja, a menos que desvie o olhar por um período considerável de tempo. Eu solto a respiração que nem sabia que estava segurando e colapso na cama ao lado de Nate. O disco grifo está me cutucando novamente. Eu tiro do meu bolso, me inclino e o coloco na gaveta ao lado da minha cama. Eu queria poder contar a Tora sobre isso. Ela ficaria impressionada com a quantidade de poder que usei esta noite. Qualquer um ficaria. Eu segurei um dilúvio de água, lutei com outra faerie e usei a magia do atordoamento três vezes. Cara, eu ganharia tantos pontos se fosse uma tarefa. Começo a relaxar e minha mente retorna à câmara subterrânea. Nate teve suas perguntas respondidas esta noite, mas agora eu tenho um monte. É possível que Angelica conheça meus pais? E que ela poderia querer se vingar? Talvez ela tenha cometido um erro. Talvez o que eu disse a ela fosse verdade, e ela simplesmente pegou a Violet errada. De alguma forma, eu duvido que seja esse o caso. Eu me obrigo a pensar em outras coisas. Eu me pergunto o que devo fazer com o disco grifo. Pergunto-me quanto poder ainda resta nele. Eu me pergunto se Nate irá querer ver a mãe novamente, e se seu pai sabia o que Angelica era. Eu me pergunto o que Ryn estava fazendo no Subterrâneo. Eu me pergunto muitas coisas, até que finalmente eu derivo em direção aos sonhos.
***
Eu acordo quando sinto um movimento ao meu lado. Eu me sento rapidamente. Nate geme e esfrega os olhos. Suas mãos caem aos seus lados e ele pisca para mim. — Estamos em casa? — Ele pergunta. — Sim. Bem, minha casa, não a sua. — Eu olho para o peito dele. Nada restou de seu encontro com o centauro, exceto uma cicatriz rosa claro. Nate segue meu olhar até a cicatriz no peito. — Ah, — ele diz conforme senta. — Eu não... — Ele olha para mim. — Algo me atingiu.
Eu concordo. — A magia do centauro. Você pulou na minha frente. Obrigado, por sinal. Ele sorri. — Você salvou minha vida mais de uma vez, lembra? Era o mínimo que eu poderia fazer. — Ele olha para baixo novamente. — E eu gosto do que você fez com a minha camiseta. Eu dou uma risada. — Obrigada. Embora o crédito realmente deva ir ao centauro. Ele fez a maior parte do dano. Os cantos do sorriso de Nate diminuem ligeiramente. — Eu não acho que vou voltar para agradecer. Eu vou para frente e cubro uma de suas mãos com a minha. — Então, o que aconteceu, Nate? Onde você foi? Um segundo você estava atrás de mim e no próximo, você foi embora. Eu estava quase enlouquecendo tentando encontrá-lo. Nate esfrega uma mão sobre os olhos e balança a cabeça. — Eu não sei, Vi. Lembro de correr atrás de você... E então, me lembro de estar no clube. — É isso? — Eu busco seus olhos. — Você tem certeza de que não se lembra de nada que aconteceu entre isso? Ele olha para as cobertas da cama por um momento, como se estivesse tentando ver algo que não estava lá. — Eu tenho certeza, — ele diz eventualmente. — Não há nada. — Talvez seja apenas um truque do labirinto, — eu sugiro. — Talvez, — ele diz, mas há uma dúvida em sua voz. Peguei as suas duas mãos na minha e enfiei os meus dedos entre eles. — Então, — eu digo. — Você é um halfling. — E é possível que sua mãe tenha um grande ressentimento contra meus falecidos pais. — Uh, sim. Eu acho que sou. — Ele tira as mãos da minha e sai da cama. — Então, esta é a sua casa, hein? — Ok. Claramente ele ainda não está pronto para falar sobre a coisa de halfling. Bem, posso esperar. — Sim, — eu digo, torcendo as mãos enquanto olho para ele examinando o meu quarto. Por algum motivo, me faz sentir tão vulnerável como se estivesse nua na frente dele. Ele gira em um círculo lento. — É redonda. Arqueou uma sobrancelha. — Vejo que suas habilidades de observação ainda estão intactas.
— Por que há um espelho deitado sobre sua mesa? — Ele pergunta. — Você faz algum tipo de magia nisso? — Sim, na verdade. Eu uso para conversar com outras pessoas. Eu os vejo no meu espelho, e eles me veem no deles. Ele olha para mim. — Tipo a versão Skype para faeries? — Hum... Com certeza. — É possível que eu tenha ouvido a palavra antes, mas não tenho ideia do que seja. Ele pega dois objetos, cada um aproximadamente do tamanho e da forma de uma moeda de prata. Abro minha boca para explicar o que são, mas ele diz, — Espere, deixe-me adivinhar. Eles... Magicamente se expandem em halteres? Eu sorrio e balanço a minha cabeça. — Errado. Eles são gotas sonoras. Você coloca uma em cada têmpora, envia um pouco de magia e eles tocam música em seus ouvidos. — Sem chance. — Sim, é, — asseguro-lhe. — Eu gosto de treinar com música. Isso bloqueia todas as fofocas que acontecem ao meu redor. Nate deixa as gotas de som na minha mesa. Ele percorre a prateleira de velhos livros de poesia que pertenciam à minha mãe e cruza para o outro lado do meu quarto. Eu pulo da cama e me junto a ele na entrada do banheiro. Ele vê o que parece um pedaço da natureza. A grama cresce naturalmente, e uma piscina preenche o centro da sala. Dispersos entre as folhas de grama estão centenas de pequenas flores azuis e amarelas. Árvores com ramos emaranhados escondem as paredes, e a água cai por uma pilha de pedras para o outro lado da piscina. — Você está brincando comigo, — diz Nate. — Você tem uma piscina no seu banheiro? — A ideia de um banheiro nunca pegou realmente, — digo. — Piscinas autolimpantes existem durante séculos. E a mini cachoeira proporciona um excelente banho. — Nate simplesmente olha fixamente, a boca aberta. — Se você quiser, — acrescento, — você pode usá-lo em algum momento. Ele fecha a boca e olha para mim. Vários segundos de silêncio passam entre nós antes de ele dizer, — Então você decidiu não me deixar? Eu olho para a pele descoberta pelo buraco em sua camiseta. — Não tenho mais motivos para isso, — digo calmamente. — Você é um halfling, Nate, não um
humano, o que significa que eu não estou quebrando nenhuma lei ao estar com você. — Ele endurece a palavra halfling. Eu toco seu braço. — Eu sei que é muito para lidar, tudo o que aconteceu hoje à noite, mas estarei aqui quando você estiver pronto para falar sobre isso. Eu não vou a lugar nenhum. Eu olho para cima e o encontro olhando para mim. Seu olhar me faz sentir quente por toda parte. Levanto minha mão e passo o dedo sobre a cicatriz quase invisível no seu peito. Ele estremece ao meu toque. Gentilmente, ele estende a mão e toma meu rosto em sua mão, escovando o polegar sobre minha maça do rosto. Inclino-me para frente para encontrar seu beijo. Minhas mãos deslizam sobre sua jaqueta e deslizam sob a bainha de sua camiseta. Sua pele é quente, suave. Eu corro os meus dedos em suas costas, sentindo os nervos da coluna vertebral e um padrão elevado de pele quente? Abro os olhos e dou um passo para trás. — Nate, — eu digo. — Suas costas. — O quê? — Ele está tão sem fôlego quanto eu. Giro-o e levanto a parte de baixo de sua camiseta. Meu próximo suspiro prende na minha garganta e aperto uma mão sobre minha boca. Tatuado no lado esquerdo da parte inferior das costas de Nate, a pele ao redor ainda vermelha, está o esboço preto de um olho.
PARTE III
Capítulo 12 Estou certa de que a semana passada foi a mais longa da história da criação: sete dias inteiros sem treinamento e tarefas. Torturante. Eu tenho permissão de voltar para a Guilda amanhã, mas Tora me deu uma tarefa essa noite depois que eu a convenci de que minha suspensão tecnicamente teria acabado quando o Sol se pusesse. Foi assim que eu acabei perseguindo um jovem casal em um parque abandonado. Não parece ser o melhor lugar para um primeiro encontro, mas levando em conta que eu nunca estive em um encontro de verdade, o que eu saberia a respeito? O garoto e a garota escolhem seu caminho pela grama alta. O garoto para, se inclina sobre uma viga enferrujada, e pega a mão da garota. Ela o deixa puxá-la para perto. Ele sussurra algo em seu ouvido e ela ri suavemente. Muito doce, exceto pelo fato de que algo está prestes a atacá-los. Eu examinei a área ao redor. Que criatura mágica seria estúpida o bastante para tentar atacar esses humanos hoje à noite? Eu imagino meu arco e flechas, invisível, mas pronto para aparecer no momento que eu chamar por ele. Meus dedos se contraem antecipadamente. Um movimento na beira do parque chama minha atenção. Uma pequena cabeça verde pálida com orelhas pontudas é visível logo acima do mato. Grandes olhos luminosos brilham através da escuridão. Um duende. Vários duendes, na verdade. Eles formam uma linha que serpenteia pelo mato em direção aos brinquedos quebrados no parquinho. Essa não pode ser a ameaça pela qual estou esperando. Duendes são irritantes, mas não são perigosos. Eles têm muito mais interesse nas posses dos humanos do que nos humanos em si. Mas, de qualquer forma, eu permito que meu arco e flecha brilhante tome forma entre meus dedos. Não faz mal ser precavida.
Eu observo a cabeça dos duendes subir e descer enquanto pulam em direção ao escorregador. Chegando lá, eles sobem um após o outro, entusiasmados para chegar ao topo. Com um guincho de felicidade, o primeiro duende lança-se de estômago escorregador a baixo, evitando habilmente o buraco a meio caminho. Eu não posso evitar sorrir. Duendes não são tão maus, eu acho. Eles são, na verdade, um pouco fofos, quando não estão enfiando os dedos no seu ouvido durante a noite, ou tentando roubar suas coisas. O segundo duende salta do topo do escorregador, empurrando seus pequenos punhos no ar enquanto desce em direção ao chão. Ele voa para fora do escorregador justamente para as garras de um horrível goblin. Um goblin? Minha atenção volta instantaneamente para a tarefa em mãos. Isso deve ser o porquê de eu estar aqui. Eu levanto meu arco e flecha, puxo para trás contra a tensão da corda, e solto. A flecha zune através do parque e acerta um dos braços peludos do goblin. Eu solto outra, e outra, cada flecha aparecendo no momento que a anterior é gasta. O goblin estapeia as flechas, arremessando o pequeno duende para dentro de um arbusto próximo na ocasião. O goblin solta um grunhido, então examina o parque com seus redondos olhos laranja. Ele me encontra – e se lança em minha direção. Hora do jogo. Tão largo quanto um homem crescido, o tamanho do goblin o retarda. Eu facilmente pulo para fora de seu caminho bem na hora que ele derrapa justamente na árvore ao meu lado. Sua cabeça gira, procurando por mim novamente. Ele estala seus dedos e uma pedra aparece em cada mão. Eu mando outra flecha em sua direção, mas bate no cinto pesado em torno de sua cintura. Altas orelhas pontudas estremecem enquanto arremessa as pedras em mim. Eu o engano e me esquivo da primeira, mas a segunda acerta minha coxa. Giro, isso dói! Eu me encontro no chão – um péssimo lugar para se estar quando um imenso e horrível monstro está vindo atrás de você. Rangendo os dentes contra a dor, eu rolo para trás e obtenho uma adaga com a minha mente. Ela aparece em minha mão um segundo depois, e a arremesso no goblin que avança. A lâmina afunda em seu peito, bem acima do coração. Ele se livra da lâmina enquanto eu me levanto rápido e atrapalhadamente. Ignorando a dor em minha perna, sabendo que não vai demorar muito para o meu
corpo começar a se curar sozinho, eu dobro meus joelhos e pulo. Me agarro a um galho em algum lugar acima de mim, manejando para tirar minhas pernas do caminho antes que o goblin possa pegá-las. Eu me levanto sobre o galho, agarro outro para me apoiar e aceno minha mão pelo ar. Uma pilha de areia e seixo chove sobre o goblin, enterrando-o em um monte de sujeira. No momento que ele se ajeita para pôr a cabeça para fora do monte, eu estou com uma flecha apontada para sua testa. — Você realmente vai me matar, guardiãzinha? — Ele rosna. — Eu nem farejei na direção dos humanos. — Sim, mas você estava prestes a fazer uma refeição com aquele duende, e meu trabalho é proteger qualquer um, seja humano ou criatura mágica. — Então, você vai me matar porque eu precisei fazer um lanchinho? Eu suspiro. — Você sabe como funciona, goblin. Se você desaparecer, eu não serei capaz de segui-lo. Se você ficar por perto para lutar novamente, você tem que aceitar as consequências. — Morte, — ele silva. — Bom, sim, se isso acontecer. — Por favor, não deixe isso acontecer. — Ou eu te derrubo, te amarro e te entrego para a Guilda. Sua escolha. — Morte soa mais divertido, — ele sussurra. Ok, ele é realmente tão estúpido quanto parece. — Você tem certeza? Essa opção é muito mais complicada para mim. — Morte para você, não para mim! — Ele grita enquanto explode do monte de lixo. Suas mãos peludas agarram o galho em que estou me equilibrando, fazendo ele se quebrar e ranger sobre seu peso. Dou um mortal para trás, meu arco e flecha desaparecem assim que os deixo ir. Eu aterrisso de pé, a dor abalando minha coxa ferida, a tempo de ver o goblin se balançando sobre mim. Seus pés com garras me acertam no peito, batendo em minhas costas. Eu me levanto, ofegando para respirar. Ele se solta do galho e corre para mim. Espada, espada, ESPADA! Ela aparece em meu punho e o goblin corre diretamente para ela. Ela perfura todo o caminho através de sua carne. Ele cai por cima de mim, me pressionando de novo contra o chão. A única coisa entre nós é o punho da espada, que eu tento impedir de afundar em meu peito.
— Você... nos mata, — ele arqueja, o fedor de sua respiração fazendo eu me sentir doente. Eu tento empurrá-lo de cima de mim. Ele luta por um pequeno momento, então fica imóvel. Seus olhos olham fixamente através de mim, sem piscar. Ele está morto. Há um cadáver em cima de mim. Eu empurro com toda a minha força, usando um pouco de magia para me ajudar. Ele rola sobre a grama, descansando ao seu lado porque o caminho que a espada perfurou, saiu pelas suas costas. Ela ainda brilha fracamente. Não vai desaparecer enquanto alguém não removê-la de seu corpo. Então ela retornará brilhante e limpa para o meu arsenal invisível de armas. Eu me levanto, respiro profundamente, e corro a mão pelo meu cabelo. Eu odeio essa parte. A matança. Por que esse goblin idiota não poderia ter simplesmente desaparecido como a maioria das outras criaturas faz? Ou pelo menos ter a decência de me deixar amarrá-lo e levá-lo para a Guilda. Como aquele canttilee que tentou incendiar a sala de aula da escola, ou aquele cara metamorfo de cabelos e olhos laranja. Eu olho para o casal de humanos do outro lado do parque. Eles ainda estão de pé ao lado do balanço quebrado, conversando suavemente, desatentos a tudo que aconteceu. Eles não fazem a menor ideia do que eu acabei de fazer para mantêlos a salvo. Eu busco por minha stylus dentro da bota, então puxo meu âmbar para fora do bolso. Eu envio magia para a ponta da stylus e escrevo uma mensagem para Tora. Precisei matá-lo. Enviar removedor. Obrigada. As palavras brilham por vários segundos antes de desaparecerem, deixando o retângulo âmbar suave e em branco. Eu me sento, me recosto em uma árvore, e espero. Não é meu trabalho cuidar de corpos. A resposta de Tora chega um minuto depois. Desculpe. Sei que você odeia isso. Vejo você depois do treino amanhã para apresentar relatório e aconselhamento. Enviei Thorton. Eu inclino minha cabeça para trás e solto um gemido. Aconselhamento. Essa coisa onde eu tenho que discutir meus sentimentos sobre matar alguém. Ótimo. A lista de coisas em que não sou boa é bem curta, mas discutir sentimentos provavelmente está no topo.
Felizmente minha cota de mortes é baixa, então eu não tive que fazer a coisa do aconselhamento muitas vezes. Eu havia acabado de guardar o âmbar no bolso quando o ar em volta ondula e um portal aparece. Thorton, um faerie alto de cabelo preto e roxo muito similar ao meu, sai. — Ei, — ele diz. — Noite difícil? — Já tive melhores. — Eu me levanto e removo um pouco das folhas da minha calça. — Obrigada por chegar aqui tão rápido. Ele balança a cabeça. — Então onde está esse goblin? — Eu aponto para trás dele. Ele se vira para olhar o enorme corpo peludo com a espada brilhante saindo de seu peito. — Ok. Bom, eu vou ter que cuidar disso daqui. — Ele me olha de volta. — Você pode ir embora e, uh, se limpar. Eu olho para mim mesma. Minha blusa preta está molhada com sangue de goblin. Ótimo. Uma hora depois, eu saio do ar e paro no peitoril da janela de Nate. Eu fui para casa, me limpei e pensei em tentar dormir, mas eu pegava o goblin morto me olhando toda vez que fechava os olhos, pondo um fim nesse plano. Uma distração é o que eu preciso. A televisão está baixa e Nate está sentado em um de seus sofás. Ele tem um notebook em seu colo e um livro didático em cima da almofada ao seu lado. Ele não parece estar olhando para nenhum deles, entretanto. Ele olha diretamente para frente, mas não realmente para a TV. Mais como através dela. Quase da mesma forma como os olhos do goblin olharam através de mim depois que tomou sua última respiração. Um arrepio levanta os pelos dos meus braços. Eu levanto minha mão e bato na moldura de madeira da janela do Nate. Ele pisca e se vira na direção do som. — Ei, — ele diz. Um sorriso se alongando quase até seus olhos. — Eu pensei que você estivesse ocupada essa noite. Eu hesito. Quando saí daqui ontem, nós tivemos outra discussão sobre esse estúpido formato de olho em suas costas. Ele ainda não está interessado em descobrir como isso foi parar lá, apesar do fato de que magia maligna poderia estar envolvida. Eu me pergunto agora se deveria tocar no assunto. Eu deveria pedir desculpas por gritar com ele? Pergunto se a tatuagem miraculosamente já desapareceu?
Não. Uma briga é o suficiente por essa noite. — Tudo feito, — eu digo, caminhando para o sofá. Eu me sento sobre minhas pernas cruzadas. Por um momento, eu considerei contar ao Nate que havia matado alguém essa noite, mas prefiro esquecer isso. — Era um goblin. Eu tive que me livrar dele. Nate sorri e põe um braço em volta dos meus ombros, me aproximando mais. — É claro que teve. Você o nocauteou como fez com o troll no labirinto? — Não, nós não atordoamos mais enquanto estamos lutando, lembra? Leva muito tempo para extrair todo esse poder. — Eu tenho pensado sobre isso, na verdade, — diz Nate se inclinando para frente para pegar o controle da TV. Ele clica em um botão e o murmúrio baixo de vozes silencia. — Se você costuma chegar antes de qualquer criatura, então por que você não usa esse tempo para reunir poder suficiente para atordoar a criatura no momento que ela aparece? — Porque eu posso perder. Então eu teria que exaurir muito do meu poder e ainda teria que lutar contra a criatura. — Você? Perder um alvo? — pergunta Nate, e por um momento o brilho está de volta em seus olhos. — Nunca. — Eu sei disso porque já aconteceu, — eu admito. — Em ocasiões muito raras. — Eu puxo o caderno de seu colo para que eu possa me aconchegar mais perto dele sem ser cutucada no lado. Nate fica em silêncio por um bom tempo então eu começo a me sentir incomodada. Então ele diz, — Você não contou ao seu mentor o que eu sou, contou? Que eu sou... um mestiço. Eu escorreguei meus dedos entre os dele e balancei minha cabeça. — Isso seria um meio de admitir que eu menti para ela e continuei quebrando as regras da Guilda por estar vendo você. Quero dizer, tecnicamente eu não quebrei as Regras, mas eu não sabia disso até o momento. — Nate não diz nada. Eu recuo, examinando seu rosto, tentando entender se ele está chateado por eu não ter contado a ninguém sobre ele. — E isso à parte, — eu acrescento, sentindo a necessidade de explicar mais, — não está realmente em seus maiores interesses para a Guilda saber o que você é. Eles são cautelosos com mestiços, então iriam te monitorar de perto se soubessem que você é um.
Nate olha para nossas mãos entrelaçadas. — Apesar disso, eu não tenho magia? Eu concordo. — Não. — Eu espero ele dizer algo, mas ele continua olhando fixamente para nossas mãos. Bom, isso é fantástico. O que aconteceu com o cara despreocupado e falante que eu conheci apenas há duas semanas? Agora estou presa sendo a pessoa que tenta manter uma conversa rolando, o que é provavelmente o número dois na lista de coisas que eu não sou boa em fazer. Eu me agarro à única outra coisa em que consigo pensar. — Então... a tatuagem de olho... — Ainda está aqui, — diz Nate. Seu tom indicando que a estranha marca ainda não estava em discussão. — Ok. — Eu lembro a mim mesma que não quero outra briga. — Então você não se lembrou de nada de quando você desapareceu? Ele solta minha mão e olha em direção à janela. — Não. Nada. Mas há algo estranho na maneira como ele fala. — Nate? — Eu me aproximo e viro seu rosto em minha direção. — O que você não está me contando? — Nada, — ele diz rapidamente. — É só... — Ele traça um padrão de zigzag até os cadarços da minha bota. — Eu tenho tido pesadelos. É estupidez. Embaraçoso. Eu nem consigo me lembrar do que acontece realmente. Só um monte de corrida, eu acho. — Bem, você é bom correndo. — Eu aceno com a cabeça para os sapatos perto da porta. Nate tenta sorrir para a minha patética tentativa de introduzir humor na conversa. Eu sei que ele está fingindo. Uh, eu sou tão ruim nisso. — Ok. Olha. Eu sinto como se devesse me desculpar por concordar em encontrar sua mãe para você. Quero dizer, eu sei que você realmente queria encontrá-la, mas eu deveria ter dito não. Então nós não teríamos tido que ir através daquele horrível labirinto, você nunca teria desaparecido, o negócio da tatuagem nunca teria acontecido, e não haveria nenhuma dessas estranhezas entre... — Eu paro. Nate está sacudindo sua mão, seus olhos arregalados. — O que? Nate, qual o problema? — Você não precisa dizer nada, Vi, você só... — ele fecha seus olhos, suspira e levanta a cabeça. — Você não precisa se desculpar, — ele sussurra.
— Ei, você está bem? — Ele parece estranhamente chateado considerando que tudo o que eu fiz foi me desculpar. — Sim, eu estou bem. — Ele me puxa para um abraço e beija o topo da minha cabeça. — Vamos apenas esquecer tudo o que aconteceu e seguir em frente, ok? — Mas... — E Vi, — ele se afasta de modo que ele possa me olhar no olho, — você sabe que eu faria qualquer coisa por você, certo? — Hum, sim. — Eu estou começando a ter um pequeno ataque agora. — Quero dizer, não importa o que aconteça, você nunca vai esquecer que eu realmente am... que eu realmente me importo com você? Uau, calma aí. CALMA AÍ. Ele acabou mesmo de quase usar a palavra com A? — Hum...eu... o que você quer dizer com ‘não importa o que aconteça’? — Eu tentei distrair a mim mesma do susto, a palavra quase falada que agora está suspensa no ar entre nós dois. Meu coração bate num ritmo nervoso. — Do que você está falando? — Eu não sei. — Nate afasta o cabelo da testa. — Como... e se minha mãe achou um jeito de sair do labirinto e vier atrás de nós? — Ela parecia bem presa para mim. — E o que isso tem a ver com você pensar que me ama? Nate envolve seus braços em mim mais uma vez. — Sim, você provavelmente está certa. — Sempre estou... — eu paro, sentindo algo inesperado. Uma onda de poder que não é meu. Eu me livro do abraço de Nate e salto na ponta dos pés. — Vi, o que... — Quem está aí? — Eu exijo. Minha cabeça chicoteando enquanto eu examino a sala. Nada se move além das figuras silenciosas na tela da televisão. Eu caminho até o banheiro e empurro a porta. Nada, lá tampouco. — Você ouviu alguma coisa? — Nate pergunta. — Não. Eu senti alguma coisa. Um poder de alguma espécie. — Eu me ajoelho e olho debaixo da cama. Está surpreendentemente limpo, mas não há ninguém ali.
Nate se levanta. — A casa está protegida, não está? Flint não pôs feitiços em torno dela? Vagarosamente, eu caminho de volta para lado de Nate. — Talvez seja... — Eu olho para onde eu sei que a tatuagem de olho está escondida sob a camiseta de Nate. Bem, se essa é a fonte do poder, ele certamente não vai querer saber disso. — Você consegue sentir de onde está vindo? — ele pergunta. Eu balanço minha cabeça. — Se foi. Estava lá de repente... e agora não está. — Isso é estranho. — Ele corre as duas mãos pelo cabelo, evitando o meu olhar. Possivelmente, ele sabe o que eu estou pensando. — Sim. Bem, hum, eu deveria ir. Estou realmente cansada. — E se a gente voltar a esse sofá, ele poderia começar a soltar a palavra com A de novo, que, nesse caso, parece mais assustador para mim do que uma presença misteriosa no quarto de Nate.
Capítulo 13 Eu puxo minhas pernas para mais perto do corpo, tirando os pés do caminho de dois anões descendo o corredor às pressas. Eu não sei o que os pegou com tanta pressa tão cedo pela manhã – os anões por aqui geralmente gostam de levar seu tempo – mas isso obviamente é importante. Eu estico as pernas para fora de novo, uma vez que eles já passaram, e viro minha cabeça para trás contra a porta do escritório de Tora. Tanta coisa por um aconselhamento e um relatório. Eu estou esperando aqui há pelo menos vinte minutos e Tora ainda não apareceu. Levanto e puxo minha bolsa para o ombro. Também posso descer para o Centro de Treinamento em vez de perder tempo num chão frio e duro. Eu salto sobre a videira distante, ocupada esgueirando seu caminho em direção ao outro final do corredor e de cabeça para baixo. Como sempre, eu olho para cima, para o teto abobadado enquanto atravesso o hall de entrada. A nuvem rodopiante de encantamentos de proteção ainda é púrpura-cinza-azul. Desde que Flint me disse que eles mudariam a cor se a Guilda estivesse sob ataque, eu tenho sentido a necessidade de checá-la, por precaução. Eu havia acabado de alcançar o outro lado do hall de entrada quando ouvi uma voz muito familiar choramingando por perto. — Mas você me conhece. Você me vê todos os dias. — Eu desacelero e olho para a entrada. Ryn está discutindo com Basil, o guarda do dia. — Você conhece as regras, — diz Basil. Ele cruza os braços e olha para baixo, na direção de Ryn. Como uma das poucas pessoas mais altas que o meu desagradável colega de classe, Basil administra isso muito efetivamente. — Encontre o seu pingente de aprendiz. Então eu o deixarei entrar. Dou meia volta e continuo o meu caminho forçando para suprimir um sorriso enquanto Ryn geme de frustração.
Eu passo pela sala de jantar – que cheira tão bem que quero parar e tomar outro café da manhã – e várias salas de aula vazias antes de eu alcançar meu lugar favorito na Guilda: o Centro de Treinamento. É um salão maciço com várias áreas configuradas para diferentes tipos de treinamento. Tiro ao alvo inclui tiro de flechas, arremesso de facas e arremesso de explosões de magia. Árvores, cordas, redes, um muro de pedra e um muro de tijolos estão agrupados juntos na seção de prática de escalada. Barras de diferentes níveis são configuradas em outra área, e largas esteiras para qualquer coisa, desde alongamento até luta de espada, são espalhados por esse lugar. Eu caminho até o quadro de notícias dos aprendizes para checar meu cronograma do dia. Acho a lista do quinto ano. Eu examino até embaixo até que acho meu nome. Quem quer que tenha organizado os cronogramas, dividiu minha manhã dentro da Corrida. Aquário (Oponente: Honey), Alvo, e Escalada. Eu olho para cima para o relógio encantado pintado sobre o teto. Dez minutos mais cedo, mas eu acho melhor começar. Eu vou em direção aos retângulos de corrida, passando dois companheiros do quinto ano sentados em uma esteira. Eles se esticam para tocar os dedos dos pés. Eu acelero o passo. Aria e Jasmine têm aperfeiçoado a arte combinada de se alongar e fofocar, e eu preferia não ouvir nada do que elas têm a dizer. Especialmente se for sobre mim. Eu despejo minha bolsa ao lado do triângulo de corrida mais próximo, me sento, e troco meus sapatos. Eu já estou vestindo roupas adequadas para o treinamento. Removo minhas gotas de som – formas circulares pequenas como uma moeda – de um lado do bolso e enfio um em cada têmpora. Com uma onda da minha mão, música explode pelos meus ouvidos, afogando todos os outros sons. Eu passo para o retângulo escurecido no chão, mal me concentrando enquanto sussurro o feitiço em minha cabeça. O chão desliza sob meus pés. Eu desperto em uma confortável corrida, combinando meu ritmo com a batida da música. Meus pensamentos se voltam imediatamente para Nate. Eu ainda não sei o que pensar dele quase dizendo a grande palavra com ‘A’ na noite passada. Como ele já pode pensar que me ama? Ele acabou de me conhecer há algumas semanas. Eu tento examinar meus próprios sentimentos em questão. Eu sei que me importo com Nate, mas eu tenho certeza que não o amo. Não ainda. Eu amo? Talvez sim.
Talvez estar apavorada por tê-lo perdido no labirinto signifique que eu o ame. Eu faria absolutamente qualquer coisa por ele assim como ele disse que faria por mim? Eu... não sei, morreria por ele? Agh, sentimentos são um saco! Eu fico parada, arregaço minhas mangas longas, e alongo um pouco as pernas. Eu me recuso a me preocupar mais com Nate. Começo a correr novamente, aumentando a velocidade com um estalido da minha mão. Mais rápido. Mais rápido. Mais rápido ainda. Eu me empurro até que minhas pernas queimem e minha respiração seque minha garganta, até o ponto que uma pequena voz por trás da minha mente me lembre quão monumentalmente estúpida eu pareceria se tropeçasse agora mesmo. Bem pensado. Diminuo o passo. Olho de relance sobre o meu ombro para ver o que está acontecendo ao meu redor. Aria e Jasmine agora estão atirando flechas no que parece uma versão empalhada de seu mentor menos favorito. Rush e Asami estão correndo cada um nos retângulos de corrida ao meu lado; o restante da minha classe está espalhada fazendo várias manobras de treinamento em torno do salão. Eu estou prestes a virar minha cabeça para trás quando ouço Ryn caminhando em direção à esteira mais próxima para se juntar ao seu amigo Dale. Tentando parecer sutil, eu aceno minha mão passando a música, desligando o som a tempo de ouvir Dale dizer, — Cara, você está atrasado. Nós devíamos estar batendo um no outro com bastões ou algo assim. Ryn pôs sua bolsa ao lado da bolsa de seu amigo, — Que seja. Meu pai me segurou. Hmm, não foi isso que eu vi no hall de entrada. Eu diminuo o passo um pouco mais para poder ouvir acima da batida dos meus pés. Normalmente, eu não ouço as conversas de Ryn, mas quero saber se ele vai contar a seus amigos que me viu com Nate. Eu sei que ele não contou à Tora; ela teria me interrogado imediatamente. — Então, você arranjou um pretexto para mim? — Pergunta Ryn. — Nan, Rowan é o mentor encarregado de hoje. Você sabe como ele é tranquilo; eu duvido que ele sequer saiba que você estava atrasado. — Qual é o problema, então?
Pelo canto do olho, eu vejo Dale dar de ombros. — Nada. Eu só não gosto de ficar sozinho nessa esteira parecendo um idiota esperando o meu primeiro parceiro de treino aparecer. Ryn balança a cabeça. — Cara, você precisa parar de ser tão menina. — Ei, eu só... — Bom dia, meninos. — A voz musical de Aria interrompe Dale enquanto ela e Jasmine passam. Jasmine já soltou seu arco e flecha, mas Aria espera enquanto ela está de pé ao lado de Ryn e Dale, antes esticando graciosamente seu braço para fora assistindo sua arma desaparecer com um lampejo. Talvez os garotos acham isso atraente. Eu não sei. Ela parece bem estúpida para mim. Ignorando os dois, Ryn se senta na esteira e tira seus sapatos. — Então galera, vocês perderam a festa na minha casa no sábado. — Diz Jasmine com um beicinho fingido. — Foi épico. Meus pais estavam fora em uma missão. Eu foco minha atenção no muro à minha frente e considero ligar minha música de novo. Eu corro o risco de cair no sono ouvindo a conversa fútil deles. — Alguns de nós teve coisas melhores a fazer, — murmura Ryn. — Ora, ora, — diz Aria, antes que Jasmine possa responder à provocação de Ryn. — Olha quem está de volta da terra do desonrado. — Os músculos do meu pescoço endurecem. Eu sei sem nenhuma dúvida que ela está falando de mim. Eu me concentro em manter minha cabeça para frente e meu ritmo constante. Eu não vou deixá-los saber que posso ouvi-los. Ryn bufa enquanto se levanta. — Certo. Está mais para terra Poisyn. Silêncio segue à declaração de Ryn. Eu olho rapidamente para o lado. Seus amigos estão boquiabertos. Eventualmente Dale fala, — ela estava no Poisyn? — Você estava no Poisyn? — Pergunta Aria. — O que você estava fazendo no Subterrâneo, Ryn? Você poderia ter sido morto se alguém descesse lá e descobrisse que você está com a Guilda. — E como exatamente eles teriam descoberto, Aria? — Eu não sei. Esses Subterrâneos têm seus maus caminhos. E pare de evitar a pergunta. O que você estava fazendo lá embaixo?
Ryn se aproxima dela, inclinando-se para seu ouvido como se fosse compartilhar um segredo. Gentilmente, ele põe uma mão em sua bochecha e diz, — É divertido como você pensa que eu realmente te contaria sobre os meus negócios. Ela afasta sua mão com um tapa. — Você é tão babaca, Ryn. É uma maravilha que ainda haja alguém que goste de você. — Oh, eu não acho que haja alguém que ainda goste de mim, — diz Ryn. — Mas ser um babaca parece estranhamente suficiente para atrair pessoas. Veja você, por exemplo. Eu tenho sido um babaca para você por anos, e você ainda está aqui. Ainda rodeando. Aria joga seu cabelo por cima dos ombros e marcha de volta até a área de tiro ao alvo. Após um momento de hesitação, Jasmine a segue. — Eu não acredito em você, — diz Dale. Ele olha de relance para mim e eu rapidamente aponto meu olhar para frente mais uma vez. — A Senhorita Perfeitinha nunca teria ido ao Subterrâneo, especialmente para um lugar como Poisyn. Ryn ri enquanto chuta sua bolsa e sapatos para fora da esteira. — Há muitas coisas que você não sabe sobre a Senhorita Pixie Sticks Perfeita, Dale. Como o tipo de companhia que ela mantém, para começar. E seu completo desprezo pela Lei. Raiva queima dentro de mim. — Vamos, vamos lutar, — diz Ryn, antes que Dale possa fazer mais perguntas. — Essa sessão já acabou. Eu me impulsiono furiosamente outra vez por quinze minutos antes de fazer o retângulo de corrida parar. Me sento, tiro uma toalha da bolsa e limpo meu rosto e pescoço. Pessoas como Aria e Jasmine usam magia para limpar a si mesmas; eu não vejo porquê desperdiçar energia. — Vi, você voltou! — Eu ergo os olhos para ver Honey mancando pelo salão em minha direção. Honey e eu realmente poderíamos ser chamadas de amigas se não fosse o fato de que eu estou sempre tão ocupada com missões extras e ela está sempre tão ocupada com seu namorado Vidente em treinamento. — Sim, meu retorno não poderia vir mais rápido. — Eu removo minha música e gesticulo na direção de sua perna. — O que aconteceu com você?
Ela deixa sua bolsa escorregar de seu ombro e para o chão. — Agh, eu tropecei no Nigel. — Nigel? — É, você sabe, a videira que sempre se esgueira pelo segundo andar do corredor? Eu ergo meus dois olhos castanhos. — Você deu nome à videira? — Eu não. Foi aquele cara que visitou semana passada, do Conselho da Guilda de Londres. Ela se senta, joga seus cabelos lisos, loiros e azuis para trás dos olhos e tira o sapato do seu pé machucado. — Enfim, esse nome parece ter peso. — Ótimo, — eu murmuro enquanto procuro dentro da minha bolsa por uma garrafa de água. — Eu não só perdi uma semana de missões importantes, mas também perdi a visita de uma pessoa importante do Conselho. — Ele era chato, — diz Honey. — E qual é o problema de perder missões importantes? Você provavelmente ainda está quilômetros à frente de qualquer um nos rankings. — Não de Ryn. — Você não pode ter certeza. — Uma geada aparece em seus dedos, e ela embrulha suas mãos geladas cuidadosamente em torno de seu tornozelo. — Os rankings são secretos de agora até a graduação. — E nós ainda temos mais algumas missões – além da grande final – antes disso. Eu estou certa de que você ainda chegará ao topo. — Obrigada, Honey. — Parece estranho para mim que ela realmente não se importe em que posição está no ranking. Mas Honey sempre foi assim. Nunca se incomodou por pontos. Eu baixo os olhos para as suas mãos; a camada de gelo está grossa agora. — Como está seu tornozelo? Ela o gira. — Eu posso sentir que está curando, mas isso vai levar mais meia hora. — Ela hesita. — Então, ah, eu falei com Rowan quando cheguei. Ele me pediu para trocar com Dale na segunda sessão. — Ela faz uma cara. — Desculpe por isso. Ótimo. Um mano a mano no Aquário com o cara mais alto da nossa classe. Mas tudo o que eu digo é, — Sem problemas. Eu consigo pegá-lo.
Capítulo 14 O Aquário é um enorme globo que brilha no canto mais distante do Centro de Treinamento. Teve outro nome uma vez, mas é chamado de Aquário há tanto tempo que nem mesmo os mentores podem se lembrar do nome original. Vários estagiários já se reuniram nas bordas do globo opaco, esperando para ficar com a cabeça dentro para assistir minha sessão com Dale. Eles devem fazer seu próprio treinamento, é claro, mas os mentores sempre parecem fechar os olhos quando se chega aos cinquenta anos. Em cada lado do globo está uma torre que se estende quase até o teto. Eu vou para a torre da direita. Duas figuras sentam-se no topo, as pernas penduradas sobre os lados. Eu os reconheço pela cor do cabelo: azul e loiro é Hank, um dos designers do Centro de Treinamento; Rosa e marrom é Tina, uma mentora. — Então você é um dos designers de cenário de hoje? — Eu grito para Hank. Ele se inclina e olha para baixo. — Claro que sim. — Ele pisca. — Espero que goste. — Gostar? — Eu cruzo meus braços. — O último ajuste que você projetou me deu um braço quebrado. Mesmo daqui de baixo, posso ver a maldade em seus olhos. — Não foi minha culpa que você caiu de um trapézio balançando. O trapézio balançando. Aquilo foi divertido. — Você está quase pronta? — Pergunta Tina. Eu aceno e entro na placa de partida. Tina levanta e atravessa a viga que junta as duas torres, presumivelmente para verificar se Dale está esperando do outro lado. Eu olho em volta. Poderia ser minha imaginação, mas todo aprendiz com o qual eu faço contato visual parece me dar um sorriso satisfatório. Aposto que todos eles adoram o fato de que eu, a aprendiz supostamente perfeita, fui suspensa por uma semana.
Bem, vou mostrar que ainda planejo ser a número um. Fecho meus olhos e esfrego minhas mãos juntas. Eu posso fazer isso. Respire. Posso derrubar um cara com o dobro do meu tamanho. Respire. — Oponentes prontos? — Minhas pálpebras saltam ao som do grito de Tina. Ela fica no centro da viga, as pernas ligeiramente separadas. Ela ergue a stylus acima de sua cabeça. Eu fico tensa. As faíscas explodem da ponta e... — Vão! Eu corro para a parede cintilante do globo. Ela cede, gavinhas brancas fantasmagóricas me envolvem ao atravessar - e então estou dentro. Paro e olho em volta, observando tudo o mais rápido possível. Um armazém abandonado. Andaimes para escalar. Barras para balançar. Pranchas para equilibrar. Um rugido do outro lado do armazém atrai minha atenção. É Dale, vindo diretamente para mim sem se preocupar em dar uma olhada ao redor. É notável o quanto ele me faz lembrar do goblin contra o qual lutei ontem à noite. Fico quieta, esperando que ele se aproxime. E mais perto. No último segundo, eu pulo para o lado e agarro uma corrente de metal. Eu me arrasto para cima. Dale puxa a corrente para o lado, e eu quase perco o meu aperto enquanto ele balança de forma selvagem. Eu continuo escalando. Assim que estou nivelada com uma plataforma de madeira, eu pulo nela. Tudo se estremece quando Dale lança seu peso nela. Eu perco o equilíbrio. Eu caio, mas consigo pegar uma barra de metal. Eu me balanço, solto e pouso nos ombros de Dale. Ele toca no chão, me leva com ele. Sua respiração escapa com um grunhido quando ele bate no chão. Minha cabeça estala contra o concreto, e por um segundo, me sinto atordoada. A parte superior transparente do Aquário nada diante dos meus olhos. Eu pisco e me sento. Eu torço a cabeça de Dale bruscamente para o lado com meus joelhos, mas ele é forte demais para eu fazer qualquer dano real. Eu chuto o rosto dele conforme ele me bate com um tubo quebrado. As partes afiadas em todo o meu braço. Eu sinto cheiro de sangue. Sangue e pó. Eu me afasto dele e me levanto. Ele também. Ele joga um soco, seguido de perto por um chute. Eu esquivo ambos, e enquanto o equilíbrio dele está precário, varro minha perna por de trás dele que se conecta com a parte de trás dos seus joelhos, forçando-o ao chão. Eu pulo em suas costas, pego o fim da corrente e enrolo em seu pescoço. Ele agarra as ligações
metálicas, depois muda de tática. Trazendo o cotovelo, ele me derruba de costas. Ele se vira, agarra seu pulso em volta do meu pescoço e me derruba no chão de concreto. Meu crânio grita em protesto. Meus pulmões procuram o ar que ele tirou do meu peito. — Pronta para se render? — Ele rosna, inclinando-se sobre mim. Com os dentes descobertos e a corrente ainda enrolada em seu pescoço, ele parece um cão de guarda raivoso. Trago meu joelho para cima, com dificuldade. Seu rosto se contorce de dor. Seu aperto afrouxa, e eu o chuto para longe de mim. Eu pulo e coloco um pé sobre o seu peito, depois pego a corrente e a puxo com mais força. Ele luta, mas sua agitação se torna mais fraca e mais fraca, até que eventualmente seus olhos começam a fechar. Uma buzina alta indica o fim da luta. Imediatamente, desenrolo a corrente do pescoço de Dale e me afasto dele. Inclino-me, tentando recuperar a respiração. Dale rola em seus joelhos, apertando as marcas vermelhas em seu pescoço e murmura algo que soa muito como vadia. O sangue corre de um corte acima de sua sobrancelha. É quase tão ruim quanto a barra no meu braço esquerdo. Se Dale e eu fossemos amigos, nos sentaríamos em uma esteira juntos agora e ajudaríamos a reparar as feridas um do outro. Isso não vai acontecer aqui. Depois de um olhar final de mato-você-na-próxima, ele espreita pelo caminho em que veio. Eu giro e saio do globo na direção oposta. Ignorando os aprendizes tagarelas ainda encostados ao redor do Aquário, pego minha bolsa e vou para uma esteira vazia. Eu me deito, tiro uma garrafa da minha bolsa e esguicho um pouco de água na minha garganta. Espero que a minha respiração volte ao normal antes de me sentar, cruzar as pernas e localizar o meu kit de emergência. Eu procuro através dele e localizo uma atadura. Meu braço não demorará muito para se curar, é claro, mas é melhor mantê-lo coberto enquanto ainda há uma ferida aberta. Eu esfreguei a maior parte do sangue antes de enrolar lentamente a atadura ao redor do meu braço. A área Aquário está calma agora; Os aprendizes retornaram às suas atividades. Perto, um mentor está ensinando um grupo do primeiro ano como tirar suas armas especiais da guarda do nada. Lembro da primeira vez que tivemos essa lição. Ryn disse a todos que ele seria o primeiro a fazer suas armas aparecerem. Ele não foi, é claro.
— Seu pai não ensinou que é rude escutar atrás da porta? Eu congelo por um segundo, e depois continuo a enrolar o curativo ao redor do meu braço. — Sua mãe não ensinou que é rude não usar roupas em público? — O que você quer dizer isso? — Ryn aponta para o seu peito nu. — Posso te contar que há pelo menos dez mulheres neste salão que acham minha falta de roupas muito atraente. — Bem, felizmente para nós dois, eu não sou uma delas. — Eu coloco a ponta final do curativo sob as dobras e me levanto. Eu não gosto que Ryn se imponha sobre mim. — O que você quer? Ryn olha para mim com o olhar de uma serpente prestes a atacar. — Eu quero saber por que você estava ouvindo minha conversa de antes. — Droga, como ele sabe disso? — Poderia ser por causa desse pequeno segredo de quebrar regras que eu ainda tenho sobre você? O suspense deve estar te matando. — A única coisa que está me matando agora é o cheiro da sua hipocrisia. — Hipocrisia? Por que eu também estava no Subterrâneo? — Ele ri. — Eu odeio estragar isso para você, Pixie Sticks, mas ir ao Subterrâneo não está no mesmo nível que desobedecer descaradamente a uma das Maiores Leis da Guilda. Tenho certeza de que o Conselho verá isso do mesmo jeito. Eu dou um passo para mais perto dele, certificando-me de invadir seu espaço pessoal. — Você pode dizer o que você quiser, Ryn. Eu serei a única a rir quando você perceber que a piada é você. — Eu imagino o constrangimento de Ryn depois de ir ao Conselho para denunciar minha ‘quebra de lei’ apenas para descobrir que Nate não é humano, afinal. Isso me dá uma grande sensação de satisfação. Ryn se inclina para frente, da mesma maneira que ele fez ao dizer a Aria para cuidar da própria vida. — Seja qual for o jogo que você está jogando, você vai perder, — ele sussurra. — E eu estarei bem aqui para esfregar no seu nariz quando isso acontecer. — Ótimo. Bem, pelo menos tenho algo a aguardar. — Eu cruzo meus braços. — Agora, por que você não desfila sua falta de dignidade em outro lugar? Ryn olha para mim como se estivesse tentando descobrir algo, depois se vira bruscamente e se afasta. Minhas mãos estão em punhos sob meus braços, e o súbito lampejo de raiva que eu sinto deixa um gosto metálico na minha boca. Eu
percebo que mordi minha língua. Eu forço meus braços a relaxarem nos meus lados. A próxima sessão começou. Guardo meu kit de emergência e vou para a área de alvo. Facas. Isso é o que eu gostaria de estar atirando agora. Eu também não me importo se meu alvo parece um certo colega de olhos azuis, cabelo preto e azul. — O que você estava falando com ela? Jasmine. Eu suprimo um gemido. Se eu não colocar minhas gotas de som novamente, serei forçada a ouvi-la interrogando Ryn sobre mim. Olho em volta enquanto permito que uma faca se materialize na minha mão direita. Os dois estão encostados em uma árvore próxima da área de escalada. Eles não têm um horário de treinamento para manter? — Jasmine, querida, não preocupe sua linda cabeça com Violet. Ela não vale a pena. Pressiono meus lábios juntos e tento me concentrar no alvo na minha frente. — Bem, você está obviamente preocupado com ela. É porque ela ainda está passando você nos rankings? — Nós não sabemos mais quais são os rankings, Jas. — Aria. Aparentemente, ela também não tem treinamento para fazer. — Mas Violet perdeu uma semana de tarefas. Ela não pode ser mais classificada. Ryn suspira. — Quão decepcionante será se ela não conseguir continuar o legado de sua mãe. Mas então, talvez a Sra. Pixie Sticks também seja uma trapaceira. — Aperto o punho da faca mais forte. — Talvez a querida mãe morta esteja olhando para baixo de sua nuvem podre, orgulhosa de sua pequena Senhorita Perfeita por romper as Leis da Guilda e se esgueirar com um fraco... Em um movimento rápido, eu giro e jogo a faca em Ryn. Ela gira no ar, mais e mais e mais. Com um baque satisfatório, ela se incorpora na árvore a poucos centímetros de sua cabeça. O silêncio enche o salão. O olhar de Ryn - chocado, furioso - me perfura. Eu não olho para longe. Eu nem pisco. — Ops, — eu digo, sem um pingo de remorso. — Acho que errei. — Violet! — Meus olhos se deslocam até a entrada. É Tora, os braços cruzados sobre o peito, sobrancelhas juntas. — Eu preciso falar com você. Agora. *
Sigo Tora até o segundo andar em silêncio. Ela não fala. Ela não olha para mim. Está com raiva? Ela provavelmente não gostou do fato de eu quase empalar Ryn. Ou talvez... Ela poderia saber sobre Nate? Poderia Ryn ter dito antes de o treinamento começar esta manhã? Eventualmente, não aguento mais o silêncio. Quando alcançamos o topo da escada, pego seu braço e puxo-a para parar. — Olha, eu sei que não deveria ter jogado uma faca contra ele, mas se você tivesse ouvido o que ele falou sobre minha mãe... — Não estou interessada, — ela diz, levantando uma mão. — Embora eu não possa dizer que fiquei satisfeita com o que vi. — Eu olho para os meus sapatos, me preparando para o discurso eu estou desapontada com você. Mas não veio. — Eu tirei você do treinamento porque preciso falar com você sobre... — ela olha em volta e depois baixa a voz — outra coisa. Um favor. Ah. Eu sei o que significa ‘um favor’. Felizmente, não tem nada a ver com Nate. — Como posso ajudar? — Bem, é um caso muito trágico, realmente. Há um... — Baixo, Nigel! — Ela bate na videira que lentamente começou a se envolver ao redor do tornozelo. Diminui. — Honestamente. Juro que a planta tem uma mente própria. — Ela se vira e se dirige ao corredor. — Vamos conversar no meu escritório. Pelo menos eu sei que não podemos ser ouvidas lá. — Eu sigo-a para dentro e tranco a porta. A luz em seu escritório está uma tonalidade pálida e insalubre. Olho para o vagalume no teto. Seguindo meu olhar, Tora diz, — Oh, acho que ele pode estar doente. Ele já está piscando e desligando desde ontem. Preciso que alguém dê uma olhada nele. Eu caio em uma cadeira na frente de sua mesa. — Então, o que é esse ‘caso trágico’? Tora suspira. — Na semana passada, a irmã de um dos nossos videntes foi encontrada morta. A família mal começou a lidar com essa perda, e agora descobriram que a filha da irmã está desaparecida. — Desde quando? — Noite passada. Ela tem apenas seis anos de idade. Seu pai está em seu terceiro século, eu acho, mas esta é sua primeira e única criança. Ele fará qualquer coisa para encontrá-la. — Tora abre o armário atrás de sua mesa e remove uma
pequena meia. É branca com listras cor de rosa. — Meu contato com Faeries Desaparecidas retirou isso da sala de evidências para mim. Você se importaria de colocar sua mente em seu objeto? — Claro que não. — Eu pego a meia. Segurando-a em ambas as mãos, fecho meus olhos e foco. Eu envio minha mente, deixando passar por um vasto oceano de consciência. Quando a encontro, é como se eu visse através de seus olhos. Ela está sentada em um colchão em uma pequena sala nua. Seus joelhos estão apertados contra seu corpo. Ela está observando a porta, e eu sei sem dúvida que está trancada. Abro os olhos, pego um pergaminho em branco da mesa de Tora e rabisco, onde eu acredito que a garota esteja. — Ela está em uma casa. Uma casa humana, penso eu. Ela está presa, e as pessoas estão discutindo na sala ao lado. — Obrigado. — Tora pega o pergaminho. — Por favor, me dê licença enquanto organizo uma mensagem anônima para o cara que dirige essa investigação. — Ela atravessa a sala e abre a porta. — E nem pense em ir a lugar algum. Ainda temos aconselhamento para fazer. Eu quase não tive tempo de considerar uma tentativa de fuga do escritório de Tora quando ela retornou. Ela coloca uma mão no meu ombro. — Obrigada novamente, Vi. Eu entendo seu desejo de manter sua capacidade para você por hora, mas aplaudo o fato de que você faz bom uso dela, mesmo em segredo. — Hum, claro. Claro. — Agora. De volta aos negócios. — Tora se senta atrás de sua mesa mais uma vez. — Desculpe, eu não estava por perto esta manhã; O Conselho está me enviando para a Guilda de Londres por alguns dias, então eu tive que organizar algumas coisas. — Ela estende sua mão. — Rastreador, por favor. — Eu solto a tira de couro do meu pulso e entrego para ela. Eu me inclino para trás na minha cadeira enquanto Tora verifica os detalhes da atribuição da noite passada e preenche o formulário obrigatório do Relatório de Atribuição. Eu passo os eventos na minha cabeça enquanto ela os escreve. Como eu poderia ter feito as coisas de forma diferente? Certamente, eu poderia ter evitado matar o goblin. Se eu tivesse tido mais poder, teria ficado confiante para tentar impressioná-lo quando ele apareceu pela primeira vez, como sugeriu Nate. Se eu tivesse o disco grifo comigo, eu poderia ter feito isso. Eu pensei em levá-lo, mas imediatamente descartei a ideia quando percebi que Tora veria todo esse poder ao
verificar meu rastreador de pulso. Ela certamente gostaria de saber de onde consegui. Talvez eu devesse apenas dizer a ela. Quero dizer, vou ter que contar a ela sobre Nate, eventualmente, não vou? Não posso mantê-lo em segredo para sempre. — Tora, — eu digo com cuidado. — É possível armazenar magia em um objeto inanimado? Ela olha para cima da página. — Você está tentando evitar a parte de aconselhamento desta reunião? — Bem, sim, — eu admito, — mas é uma pergunta real. Tora assina na parte inferior do relatório de atribuição e o enrola. — Se for possível, não ouvi falar disso. Por que você pergunta? — Eu só... Pensei que seria uma boa ideia para os guardiões terem uma fonte extra de poder enquanto lutam. Eles não teriam que se preocupar com sua magia sendo esgotada. — Isso soa uma boa ideia, o que me faz pensar que, se fosse possível, alguém já teria descoberto uma maneira de fazer. — Verdade. — Por que isso não me ocorreu? — Mas... E se essa pessoa estivesse escondendo como fazer isso? Tora inclina a cabeça para o lado. — Por que fariam isso? — Hum... Eu não sei. — Eu desisto de contar todo o resto. — Deixa para lá. Eu estava apenas pensando em voz alta. — Eu deslizo um pouco mais baixo na minha cadeira, então fico de pé novamente quando algo mais ocorre para mim. — Espere, eu tenho uma mais pergunta. Por quanto tempo vivem os halflings? Tora suspira. — Eu não sei, Vi. Depende do tipo de halfling de que falamos e de quanto magia ele ou ela tem. Eu acho que o consenso geral é que quanto mais magia, mais longa a vida. — Ela faz uma pausa. — É alguma tarefa escrita que você está fazendo? — Hum, não. Apenas pensando. — Ok. — Tora me dá um olhar estranho, então senta de volta em sua cadeira. — Então acho que seria melhor chegar à parte que você já esperava: como você se sente por ter matado o goblin na noite passada? Chego ao final da sessão de aconselhamento tendo dito apenas o suficiente para satisfazer Tora de que estou lidando com ter matado alguém. E eu estou. Eu
simplesmente não costumo lidar com a morte falando sobre isso. Eu prefiro empurrar isso em uma pequena caixa com a etiqueta Coisas Nas Quais Não Quero Pensar. — Tudo bem, eu mantive você tempo suficiente, — diz Tora. — Você precisa voltar ao Centro de Treinamento. Aqui está uma nota para quem estiver de plantão. — Ela escreve algumas palavras explicando minha ausência no canto de um pergaminho, rasga e me entrega. Eu vou para a porta. — E Vi? — Ela acrescenta. Paro e olho para trás, minha mão descansando na maçaneta da porta. — Por favor, tente abster-se de jogar objetos mortais em seus colegas de classe.
Capítulo 15 Não volto para o Centro de Treinamento. Em vez disso, subo até o quarto andar e me apresso em direção à biblioteca. Eu olho para dentro, procurando por Amon, o bibliotecário chefe. Ele é legal, mas não vai aprovar minha fuga do treinamento. E, além disso, não quero que ele faça perguntas sobre as duas coisas que estou prestes a procurar. A biblioteca parece estar vazia. Eu vou na ponta dos pés, seguindo direto para os registros de graduação. Sento entre as prateleiras, respirando o cheiro de papel de velho. Eu retiro o volume que inclui o ano em que meus pais se formaram. Eu vou para a página relevante, depois observo a lista até encontrar os nomes deles: Kale Fairdale e Rose Hawthorne. O nome da minha mãe está escrito em dourado, indicando que ela estava no topo de sua turma. Durante anos, eu espero que meu próprio nome seja impresso em dourado em um desses livros. Continuo observando a lista, mas, no final, eu ainda não me deparei com uma Angelica. Talvez a mãe de Nate não estivesse no mesmo ano que meus pais. Volto algumas páginas e procuro por mais listas, depois vou para frente para procurar por mais. Nenhuma Angelica. Eu me inclino contra uma prateleira, o livro descansando no meu colo. Então Angelica me confundiu com outra pessoa quando nos encontramos no labirinto, ou ela estava mentindo. Ociosamente, eu volto para a página dos meus pais - e sento ereta. Aí está. Angelica Ashwood, bem no topo da lista. Como perdi isso? Um tremor percorre na parte de trás do meu pescoço. Então ela estava falando a verdade. Há uma chance, é claro, de que esta poderia ser outra Angelica. Mas duvido disso. A mãe de Nate parecia bastante certa de que conhecia meus pais. E os odiava. Talvez ela e minha mãe tivessem um relacionamento semelhante com o que Ryn e eu compartilhamos.
Talvez elas estivessem em competição uma com a outra durante todo o treinamento, e Angelica nunca perdoou a minha mãe por ser a primeira da classe. Eu fecho o livro, o devolvo ao seu lugar na prateleira e fico de pé. Pensarei na Angelica mais tarde. Agora eu tenho outra coisa para procurar. Coloco minhas mãos nos meus quadris e olho para as prateleiras ao meu redor. Onde eu começo a procurar um feitiço que envolva uma tatuagem em forma de olho? Eu ando pela biblioteca, lendo os rótulos nas prateleiras, esperando que algo apareça para mim. — Tem alguém aí atrás? Oh, droga. Acho que Amon voltou da pausa para o chá ou tanto faz para onde ele foi. Eu deslizo para trás da extremidade de uma estante de livros e me abaixo. Ouço seus passos enquanto ele atravessa as prateleiras, verificando cada fila. Ele para. Aguardo vários segundos antes de arriscar um olhar ao redor da borda da prateleira. Ele está arrumando uma fileira de livros, empurrando-os para trás, de modo que as lombadas se alinham perfeitamente umas com as outras. Quando está satisfeito, ele se afasta. Eu ouço a porta de seu escritório fechar. Eu solto um suspiro com força suficiente para levantar um fio de cabelo da minha testa. Como eu deveria descobrir o que esse olho nas costas de Nate significa? Se eu tivesse a habilidade de localizar coisas em vez de pessoas, eu poderia encontrar facilmente qualquer livro que contenha esse símbolo. Dando um passo à frente, paro quando penso em algo: eu posso encontrar pessoas. Então se eu não conseguir encontrar o feitiço que envolve uma tatuagem em forma de olho, então eu deveria estar procurando a pessoa que o lançou.
***
A lua está perdida por detrás de nuvens pesadas, mas o quarto de Nate está brilhantemente iluminado esta noite. A luz no teto, a televisão, o abajur na cabeceira, a lâmpada na mesa - quase me cega após a absoluta escuridão nos caminhos das faeries. Entro nas pontas dos pés através do chão do quarto de Nate para onde ele está trabalhando em sua mesa. A chuva batendo contra a janela
ajuda a esconder o som dos meus passos. Paro diretamente atrás de sua cadeira e rapidamente cubro seus olhos com as minhas mãos. — Que... — Ele pula de susto, deixando uma linha de stylus em sua página. Ele estende a mão para tocar minhas mãos. — Jesus, Vi, você está tentando me dar um ataque cardíaco? — Vamos para algum lugar, — eu sussurro na sua orelha sem tirar minhas mãos de seus olhos. — Uh, claro, por que não? Eu esperava um pouco mais de entusiasmo, mas ‘porque não’ terá que servir. Eu pego a mão de Nate, abro rapidamente um portal na parede ao lado de sua mesa e o puxo para dentro atrás de mim. Ele envolve seus braços ao redor de mim por trás e beija o meu pescoço. Por um segundo, eu esqueço para onde estamos indo. Foco! Certo. Sim. O destino. Eu me movo para o lado dele, sem soltar sua mão. — Não enlouqueça quando chegarmos lá, — eu digo a ele. — Eu odiaria que você caísse para sua morte. — O quê? — Ele aperta minha mão mais forte. — O que você, Uau! — A floresta aparece à nossa volta. Ele segura um tronco de árvore do seu lado e olha para baixo. Para baixo, para baixo, até o chão da floresta. — Na noite em que nos conhecemos, você me perguntou por que eu escolheria viver em um lugar como esse, e eu disse que sem criaturas assustadoras, eu não teria nenhum trabalho. — Nate acena com a cabeça, incapaz de olhar para qualquer lugar, exceto para baixo. — Bem, também vivo aqui porque acho incrivelmente lindo. — Certo. Lindo. E é um caminho muito longo para o chão. — Então não olhe para baixo, Nate. — Levanto sua mão aos meus lábios e a beijo. — Olhe ao redor. — Eu tomo o meu próprio conselho e me permito absorver a maravilha deste mundo coberto pela floresta. As cores mudam como fumaça dentro do galho abaixo de nossos pés. Faeries pulam de folha em folha, deixando pitadas de poeira brilhante no ar atrás delas. Gotas de água estão presas como um colar de pérolas nos fios de prata de uma teia de aranha. Vaga-lumes furam para sair de folhas e ramos, iluminando a noite com seus corpos azul e verde. E acima
de nós, as nuvens cobrem como faixas coloridas através do céu. Ametista, azul celeste e jade. — Você teve algumas experiências ruins no meu reino, — digo suavemente, pensando em Drake e Zell nos abduzindo, e a noite que passamos presos no labirinto. — Eu pensei que seria bom compartilhar algo bonito com você em vez disso. — Ele aperta minha mão em resposta. — Siga-me, — eu sussurro. Muitos dos galhos são largos o suficiente para caminhar, enquanto os mais finos são bons para se segurar. Cruzamos de uma árvore para a outra, subindo gradualmente mais alto, até chegar ao ponto que estou procurando. Perto do topo de uma antiga árvore gargan, dois ramos colossais se encontram e formam um buraco
grande
o
suficiente
para
que
várias
pessoas
se
acomodem
confortavelmente. Nate relaxa quando escalamos para o buraco e nos deitamos, deitados de forma segura nos braços do gargan. As nuvens se separam como cortinas em um timing perfeito; Eu não poderia ter planejado melhor eu mesma - revelando galáxias acima de galáxias de estrelas brilhantes. — Incrível, — Nate solta. — Eu sei. — Eu viro minha cabeça para olhar para ele - e meu estômago enche-se de gelo. — Nate, seu rosto! — Eu me sento, uma mão sobre minha boca. Não posso acreditar que não vi antes, mas eu estava de pé do outro lado quando chegamos aqui. — O que aconteceu? Ele senta, levantando seus dedos para a pele ferida e inchada ao redor de seu olho. — Não é nada, Vi, sério. Apenas briguei na escola e... — Uma briga na escola? Mas você não parece o tipo de cara que... — Eu não sou, — ele diz, as palavras deixando sua boca com pressa, como se ele estivesse preocupado que eu poderia ter uma impressão errada sobre ele. — Eu apenas... Estava em um clima estranho desde que entramos naquele labirinto. E hoje, alguém disse a coisa errada, empurrou o meu limite. Mas estou bem agora, eu juro. — Ele pega minhas duas mãos nas dele. — Então eu não sou realmente humano. Grande coisa. — Ele encolhe os ombros. — Não é como se eu pudesse fazer magia, então nada mudou. Eu só quero seguir em frente e esquecer que já fomos lá, ok? — Eu hesito. Eu estava esperando contar a ele sobre o meu plano de encontrar a pessoa que colocou os olhos em suas costas, mas acho que isso não iria muito bem agora. — Tudo bem? — Ele pressiona.
É o desespero em seus olhos que me convence. — Tudo bem, — digo, adicionando meu plano à lista de coisas sobre as quais pensarei mais tarde. Nós nos deitamos de novo, e eu me aconchego contra ele. — Quando você veio pela primeira vez aqui? — Ele pergunta. — Meus amigos e eu subimos aqui anos atrás e decidimos que este era um bom local para passear. Nós costumávamos vir aqui à noite quando nossos pais estavam ausentes fazendo missões. Nós trazíamos lanches e ficávamos acordados até tarde desenhando imagens de estrela no céu. — Lembro de fazer isso, — diz Nate. — A coisa da imagem. Ou, pelo menos, imaginei desenhos nas nuvens. — É melhor quando você é um faerie, porque você pode usar uma stylus para desenhar imagens reais no ar. Nate virou a cabeça para olhar para mim. — Trapaceira, — ele provoca, seus lábios se curvando de um lado. — Você deve imaginar as imagens na sua cabeça. — Seus dedos deslizam entre os meus. Olhando de volta para o céu, ele diz, — Deve ser incrível poder viajar absolutamente para qualquer lugar em apenas alguns segundos. Eu ficaria de férias o tempo todo se fosse comigo. — Bem, não podemos viajar para qualquer lugar. Quero dizer, podemos viajar para qualquer lugar do reino humano, o que provavelmente é o que você está pensando, mas no reino dos fae, a maioria dos lugares privados tem proteção. Não podemos simplesmente abrir portais para as casas dos outros como faço com a sua. Somente a pessoa que possui o lugar, e aqueles que receberam permissão podem entrar pelos caminhos das faeries. — Então a privacidade humana não é tão importante quanto a privacidade das faeries, é o que você está dizendo? — Eu posso ouvir o sorriso por trás de suas palavras. — Praticamente. — Eu aperto sua mão e sorrio. — A maioria dos fae não gostaria de entrar em uma casa humana. Somos apenas nós, guardiões, que vamos onde quisermos. — Claro. E os faeries que gostam de comer humanos. — Sim. — Ele ri comigo dessa vez. Parece fácil, natural. Fico feliz que ele tenha voltado ao normal, mesmo que tenha precisado um soco na cara para fazêlo voltar. — Oh, eu descobri algo interessante na biblioteca hoje. — As palavras
estão fora antes que eu possa considerar se trazer esta informação é uma boa ideia ou não. Bem, não dá para voltar agora. — Eu procurei a lista de graduados da guarda no ano dos meus pais. O nome da sua mãe estava lá. Nate fica em silêncio por um momento antes de dizer, — Uau. Isso é estranho, não é? Que eles se conheciam quando eram jovens, e anos depois você e eu acabamos juntos. — Sim, isso é um pouco estranho. Mas coisas estranhas acontecem na vida, certo? Nate concorda. Nós ficamos em um silêncio confortável por um tempo, seu polegar movendo-se para cima e para baixo contra o meu. Ele respira fundo. — Vi? Eu me preparo para algo importante, como uma declaração de amor. — Sim? — Eu gostaria de te levar em um encontro. — Oh. — Alívio. — Legal. Eu nunca estive em um encontro. — Amanhã à noite? Em um lugar surpresa. Vou dar alguma desculpa para meus pais. Dizer a eles que vou fazer trabalho na casa de um amigo ou algo assim. — Bem, eu suponho que vou ter que verificar minha agenda, mas tenho certeza de que posso espremê-lo em algum lugar. — É melhor mesmo. — Ele beija minha têmpora. — Vai ser bom. Inclino-me sobre ele e coloco meu braço sobre seu peito. Seus lábios se movem para baixo, escovando na minha bochecha. Eu levanto minha cabeça, e ele encaixa sua boca na minha. Meus lábios abrem automaticamente. Eu sinto suas mãos se movendo ao longo do meu braço, elevando arrepios conforme elas passam. Ele me aproxima até eu estar deitada em seu peito. Sinto o golpe de seu coração e a pressão de suas mãos contra meus ombros. O beijo fica mais urgente. Seus dedos puxam meu cabelo, e minhas mãos encontram o caminho para baixo de sua camiseta. Todo o som está perdido na corrida vertiginosa do sangue através das minhas veias. Um barulho esmagador soa de algum lugar acima de nós, e Nate nos tira do caminho quando um pequeno galho caí no vazio. — O que... — Eu tento recuperar o fôlego. Eu estranhamente não tenho controle de mim mesma. — Foi isso... eu?
Nate sorri. — Eu não sei. Você geralmente quebra galhos quando fica com caras? Ignorando ele, eu me sento e olho em volta. Não consigo ver mais ninguém aqui. Eu também não sinto ninguém. Nate passa as mãos para cima e para baixo em meus braços. — Você está realmente quente, — diz ele. — Você está se sentindo bem? Eu me dou mentalmente uma olhadela. — Eu me sinto... Como se estivesse irradiando magia de cada poro. O sorriso de Nate se estende ainda mais. — Impressionante. Vamos ver quantos galhos mais podemos derrubar? — Uh, não. Podemos acabar caindo da árvore. — E eu não estou inteiramente à vontade com o sentimento fora de controle. Voltamos para a casa de Nate. Você tem dever de casa para terminar? — Pergunto. — Sim. Tão banal como isso soa. — Ele beija minha testa. — Você tem alguma tarefa emocionante para cuidar agora? Ou você está indo para casa? — Casa, — eu murmuro. Eu odeio mentir para ele. ***
Amontoando-se entre os arbustos de rosas no jardim de Nate, eu decido botar meu plano em prática. Ele ficaria bravo se soubesse, mas tenho que tentar. O olho ainda está tatuado nas suas costas, e preciso saber o que isso significa. Aguardo até que a luz desapareça da janela. Depois de mais dez ou quinze minutos, abro uma porta e espio seu quarto. Ele está dormindo. Eu ando devagar do tapete até a sua cama. Ele está deitado de lado, graças a Deus. Com cuidado, com medo de acordá-lo, agarro a borda de sua camiseta. Com o meu coração batendo tão alto que eu tenho certeza que seus pais podem ouvi-lo do próximo quarto, eu levanto a camiseta dele. Tão leve quanto eu posso ser, coloco minha palma contra a tatuagem em forma de olho. Não acorde, não acorde.
Eu estendo os meus pensamentos, procurando e me sentindo na pessoa que possui essa marca. Com pressa, sinto-me sugada para dentro da pessoa que estou procurando. Uma garota. Luvas pretas e uma longa saia preta. Videiras longas e frondosas cobrem o teto da sala em que ela está. Ela caminha entre as videiras e entra em outra sala, pequena e escura. Ela passa sua mão na página de um livro e começa a cantar. O grunhido de Nate me põe de volta ao presente. Eu arranco minha mão. Ele se vira. Eu caio no chão, chicoteio minha stylus para fora da minha bota e escrevo as palavras para um portal no tapete. Silenciosamente, o chão desaparece, e eu caio na escuridão.
Capítulo 16 Estou no Subterrâneo. Tenho certeza disso. Sinto a mesma sensação de desconforto que eu tive quando Nate e eu nos encontramos no labirinto. Há também o fato de eu estar de pé em um túnel. Não gosto de túneis. Eu escrevo um portal na parede. Funciona. Bom, pelo menos eu posso sair daqui depois de descobrir algo útil. Escovo minha mão contra a superfície arenosa da parede e dou alguns passos hesitantes para frente. As tochas estão colocadas na parede em intervalos regulares, suas chamas verdes cintilantes lançando sombras misteriosas em todo o túnel. Tudo está seco, mas cheira estranhamente como terra molhada depois de uma chuva de verão. É um cheiro que eu acho reconfortante; mais um motivo para não confiar nisso. Um grito penetrante. Asas batendo. Eu me abaixo, cobrindo minha cabeça com um escudo invisível. Eu começo a atrair o poder, me preparando para me defender, mas a criatura se foi. Silêncio. Eu levanto e continuo em frente, mais rápido agora. Preciso encontrar aquela garota. Acho a sala primeiro. A entrada é estreita, bloqueada por um portão ornamentado e enferrujado. Não parece estar trancado. Eu olho para dentro, na esperança de ver algo além de centenas de videiras. Ouço o chilrear ocasional e o silvo de sons de animais, mas nada mais. Eu tento me conectar à garota para ver se ela ainda está aqui, mas sem a tatuagem para tocá-la, não funciona. Com cuidado, deslizo o trinco do portão. Mal faz barulho. Empurro o portão, engolindo enquanto espero o gemido do metal enferrujado. Não vem. Eu entro na sala. O cheiro de terra úmida é mais forte aqui. O chão sob meus pés é macio e
coberto de musgo. Eu me viro para fechar o portão atrás de mim, mas abruptamente, como se fosse arrancado de minhas mãos, ele se fecha com um golpe ressoante. Merda. Isso não pode ser bom. — Quem está aí? Eu congelo. As videiras se agitam quando alguém se move em direção ao portão. Esconda-se. Agora. Deslizo silenciosamente entre as videiras. Olhando para trás, posso vê-la agora. Ela é jovem, mais nova do que eu talvez, e bonita. O tipo de beleza pela qual homens dariam suas vidas. Seu cabelo é de uma cor que diz que ela não é faerie - mas eu sinto o poder que emana dela. Ela se afasta do portão e olha em volta, suas sobrancelhas juntando-se. Ela se move lentamente através das videiras, empurrando-as para trás, procurando. Nós duas pulamos quando o portão ressoa novamente. A menina gira ao redor. — Oh, é só você, querido. — Ela ri. O som é cativante. — Aqui estava eu, ansiosa por nada. — Alguém se dirige para ela. Masculino. Alto. Não consigo distinguir muito mais entre as videiras. Ela enrola seus braços com luva ao redor de seu pescoço e puxa sua cabeça em direção a dela. É quando eu vejo seu rosto. Ryn. Um sopro de ar escapa de meus pulmões como se alguém acabasse de me dar um soco no estômago. O que? O QUE? Depois de apertar seus lábios no dele, ela se afasta dele. — Como foi na Guilda? — Nada bom, — diz ele. — Eles não me deixaram entrar. — Eles? Havia apenas um, não era? — Você sabe que isso não é verdade. Eles têm guardas escondidos por todo o lugar. — Bem, não importa. — Ela acena uma mão com desdém. — Meu chefe tem a resposta agora, então eu não preciso mais que você fique bisbilhotando. Bisbilhotando? — Ele tem sua resposta? Já? Ela assente com a cabeça, parecendo presunçosa. — Parece que meu feitiço foi útil afinal de contas. — Ela solta um suspiro contente e inclina a cabeça para o lado. — Que rosto bonito você tem. — Ela corre um dedo lentamente pela sua
bochecha. — Olhos bonitos e lábios implorando para serem beijados. — Ela está na ponta dos pés e percebo botas altas sob as muitas camadas de sua saia preta. Ela agarra divertidamente o lábio inferior de Ryn entre os dentes e depois o beija novamente. Ela pressiona todo seu corpo contra ele, passando os dedos pelos cabelos dele. Ele abriu as mãos sobre suas costas e a aproximou ainda mais. Eu acho que vou vomitar. O beijo termina, e Ryan retira as mãos da menina do seu cabelo. — Então você tem uma atração por alto, moreno e o bonito? Ela abaixa a cabeça e olha para ele entre seus cílios. — Talvez eu tenha. E, felizmente, eu tenho alguém alto, moreno e bonito parado na minha frente. Suas pálpebras se fecham quando ela escova seus lábios ao longo de seu maxilar. — Eu serei o que você quiser que eu seja, — ele sussurra. Oh, eca. Não foi para isso que eu vim aqui. Quem se importa? Eu quero gritar. O que diabos você está fazendo aqui? Forço minha frustração para baixo, e me movo mais para trás na sala. Sinto uma parede contra minhas costas e me movo ao longo dela até chegar em uma cortina. Puxando-a para o lado, vejo o que parece um assento para janela, mas sem janela. Estranho, mas vou aceitar o que eu conseguir. Eu subo no assento e coloco meus joelhos contra o meu corpo. Eu ainda não consigo assimilar o fato de que Ryn está envolvido nisso. Por quê? Por quê? O que ele tem contra a Guilda que o faria bisbilhotar e espioná-los? Ou essa menina o tem sob algum tipo de feitiço? Foco. Estou aqui para descobrir o que significa o símbolo do olho nas costas de Nate. Poderia ser o feitiço que a menina mencionou a Ryn? A única maneira de descobrir é falando com ela. Provavelmente posso amarrá-la em algumas dessas vinhas e questioná-la, mas vou esperar até Ryn partir. Inclino-me em direção a cortina e escuto. Nada. Provavelmente ainda estão se agarrando. Algo se move em meu pé, e eu puxo, sufocando um grito. Uma serpente de duas cabeças com olhos de rubi brilhantes ergue as suas cabeças e assobia para mim. A cabeça da direita bate, golpeando o seu nariz contra o meu escudo precipitado. Parecendo um pouco atordoada, a serpente desliza do assento da janela e vai para baixo da cortina.
Eu me pergunto que outras criaturas estão escondidas nesta selva subterrânea. Permito que meu escudo desapareça com um pequeno barulho, então considero se não seria mais seguro mantê-lo. Sem aviso, a cortina é puxada para abrir. — Olá, — diz Ryn. Ele me golpeia na cabeça. ***
Não parece que muito tempo passou quando eu acordo com uma dor de cabeça latejante. Estou sentada em uma cadeira, videiras envoltas em torno de meus tornozelos e pulsos. Mas isso não é tudo. Sinto magia me segurando, quase me sufocando. Eu olho para encontrar Ryn e a menina me observando. — Não sou estúpida, — diz ela. — Dois sons significam duas pessoas. Você realmente pensou que eu não a procuraria? — Honestamente? Sim. Você parecia um pouco ocupada perdendo sua língua na garganta de outra pessoa. Ela cruza os braços e olha para Ryn. — Você gostaria da honra de dar uma tapa nela? Ou devo eu? Ryn anda em minha direção. — Não me toque, traidor nojento, — eu falo para ele. — Por que você está espionando a Guilda? Ryn para, parecendo satisfeito. — Então você se lembra de mim? — Lembrar de você? Eu conheço você a minha vida toda, idiota. Ele franziu a testa. — O que faz você... Oh. Desculpa. Às vezes, eu esqueço a forma em que eu entro. Muitas vezes confunde as pessoas. — E então, diante dos meus olhos, ele começa a mudar. Sua forma derrete e se remodela para um menino menor. Um menino com cabelos e olhos laranja. — Isso ajuda? — Ele pergunta. Alivio - Ryn na verdade não traiu a Guilda. Horror - eu conheço esse menino. É o cabelo laranja que reconheço primeiro, mas a memória não demora muito a aparecer. Missão solo. Há vários meses. Eu o impedi de esfaquear um bibliotecário humano antes de convencê-lo a voltar para a Guilda comigo. Eles o colocaram em um de seus programas de reabilitação, que é onde ele deveria estar agora.
— O que você está fazendo? — Exijo. — Você deveria estar trabalhando para a Guilda. Ele coloca uma mão em cada um dos braços da cadeira e se inclina sobre mim. — Você se lembra de prometer me visitar, Violet? — Eu não respondo. —Você até mesmo sabe qual é o meu nome? — Sem ideia, mas, novamente, provavelmente é melhor ficar em silêncio. — Eu não devo nada à Guilda. Eu não devo nada a você. Eu pensei que você estava tentando me ajudar, mas eu era apenas outra missão para você. — O tapa bate minha cabeça para o lado. O calor queima minha bochecha. — Obrigado, Scarlett, — diz o metamorfo. — Eu não tenho ideia do que ela está fazendo aqui embaixo, mas gostei muito de ter a honra de dar uma tapa. Na verdade, eu gostaria de... — Tudo bem, tudo bem. Talvez você deva nos deixar agora, querido. — Scarlett pega o seu pulso e o puxa para o portão. — Toda a conversa de meninas vai aborrecê-lo, tenho certeza. — Mas... — Aviso quando você puder visitar novamente. — Eu ouço a tranca do portão. — Agora. — Scarlett desaparece entre as videiras e retorna arrastando um banco alto atrás dela. Ela sobe sobre ele e cruza uma perna sobre a outra. — Por que você não me diz o que está fazendo na minha casa? Me irrita com quão calma ela está. — Você colocou algum tipo de feitiço no meu namorado. — Eu coloquei feitiços em muitos namorados. — Seu sorriso é malicioso. — Você vai ter que ser um pouco mais específica. — Uma tatuagem em forma de olho. Nas costas dele. — Oh, esse feitiço. — Ela balança as pernas. — Por que você não disse logo? Esse foi um feitiço bastante fácil, realmente. Depois daquele onde eu tive que convocá-lo de onde quer que ele estivesse, demorou um pouco para acertar. Eu estava realmente orgulhosa de mim mesma quando aquilo finalmente funcionou. — O. que. Aquilo. Faz? — Ooh, ficando um pouco impaciente, não é? Não digo nada, me imaginando puxando seus cabelos.
Ela faz beicinho. — Você não é engraçada. Tudo bem. — Ela começa a balançar as pernas novamente. — É um feitiço de observação. Enquanto ele tiver o olho nele, ele pode ser observado. — Observado? — Meu estômago revira. — Você é doente. Você se diverte o observando? Nos observando? — Eu? — Ela ri. — Não sou eu quem o observou. — Então quem... Ela ergue a mão e sacode a cabeça. — Não tenho a liberdade de divulgar essas informações. Mas você pode parar de segurar sua calcinha com tal reviravolta. Meu chefe tem as informações de que precisa e parou de observar... Nathaniel, não é? — Então tire o olho dele! Ela parece confusa. — Eu tirei. Meia hora atrás. — O que? — Sim, se você tivesse um pouco de paciência, jovem guardiã, você não estaria nesta bagunça. Jovem guardiã? Quem diabos ela acha que ela é, falando comigo assim? Não há como ela ser mais velha que eu. Eu luto contra meus laços e a magia que me prende. Ela observa, divertida. Eventualmente, eu desisto. Não consigo forçar minha própria magia enquanto a dela está dominando. — O que você é, afinal? — Pergunto. — Você não é uma faerie. — Muito observadora. — Ela suaviza a sua saia. — Eu sou uma halfling, assim como seu namorado. Metade-faerie, metade-ninfa. — Ela pausa. — Você sabe o que é uma ninfa, não é? — Claro que sei o que é uma ninfa. — Então você sabe que posso fazer com que seu namorado me acompanhe num piscar de olhos. — Você é apenas uma meia ninfa. Não há como suas habilidades serem tão boas. Os lábios dela mostram um sorriso que gela meu sangue. — Evidentemente, seu namorado não falou sobre o tempo que passamos juntos recentemente. — Ela se inclina para frente. — Mas suponho que ele não gostaria de te deixar com ciúmes.
Eu tiro toda a minha raiva para tirar sua magia de mim e finalmente me liberto. Minha explosão de poder a derruba de seu tamborete. O fogo brilha nas minhas palmas, comendo as videiras nos meus pulsos. Uma faca da guarda aparece na minha mão. Eu corto as videiras ao redor dos meus tornozelos. Scarlett está de pé agora, arrancando as luvas das mãos. — Você vai pagar por isso, — diz ela. Ela se atira sobre mim. Eu pulo para fora do caminho, pego a cadeira e balanço sobre ela. Ela agarra a cadeira enquanto cai, me puxando com ela. Rodando para cima de mim, ela aperta as mãos de cada lado do meu rosto. Algo está errado. Não posso me mover. Eu sinto como se minha magia, meu poder, minha vida, estivessem sendo sugados para fora de mim. Estou tonta. A sala começa a ficar difusa nas bordas. — Bem, eu diria que isso foi divertido, mas estaria mentindo, — diz Scarlett, respirando pesadamente. Você é bastante chata, Violet. Não consigo pensar o que Nathaniel vê em você. E agora, graças a mim, ele não terá que te ver nunca mais. Ela agarra meu rosto com mais força. Minhas pernas ficam entorpecidas, meus braços, meu corpo inteiro. Meu coração bate um pouco mais lento. As cores desaparecem em branco. O branco escurece. Cinza. Preto. Nada. ***
—... Tem certeza que... Como... Eu deveria saber disso? Você não me deu detalhes. — Eu pisco. A sala com as videiras volta ao foco. Scarlett está andando pelo chão, falando para um espelho em sua mão. — Sim, eu absolutamente estava prestes a matá-la. Isso é o que acontece quando você me deixa fora do circuito. — A pessoa com quem ela fala diz algo, mas não consigo entender as palavras. — Sim, eu sei com quem estou falando, mas também sei que você não poderia ter feito isso sem mim, então essa coisa de respeito que você está falando deve ser de ambos os lados. Tento mexer os braços e as pernas. Eles parecem estar funcionando, estão apenas muito fracos. Eu sinto minha magia. Apenas uma faísca. Não estou surpresa; Eu não acho que eu já senti esse vazio. Lentamente, para não atrair a
atenção dela, coloco meus joelhos mais perto do meu peito. Então eu espero. Ela ainda está discutindo com a pessoa no espelho, passeando entre as videiras e os pedaços de cadeira quebrados. Ela está quase perto o suficiente. Quase... Quase... Eu chuto o mais forte possível. Ela grita quando caí. Eu ouço um barulho quando sua cabeça atinge a borda do banquinho. O espelho quebra. Eu me levanto e corro tão rápido quanto os meus membros esgotados permitirão. Eu mal ouço o portão quando ele se fecha atrás de mim. Saia daqui, saia daqui, saia daqui. Deslizo minha mão tremendo na minha bota, mas antes que eu possa desenhar com minha stylus, ouço um grito atrás de mim. Eu viro para encarar a voz. Maldito metarmorfo. O que ele ainda está fazendo aqui? — Você machucou minha Scarlett? — Ele exige, vindo em minha direção. — Ela tentou me matar! — Estou tão fraca, tão cansada, mas vejo que ele vai lutar contra mim. Eu alcanço o ar e agarro uma faca da guarda em cada mão. É tudo o que posso gerir. Não há grandes exibições de magia de mim por pelo menos mais algumas horas. Eu corto um X desajeitado pelo ar e ele retrocede. Ele muda, e de repente ele é Nate. Minhas mãos tremem com mais força. — Isso não é justo. — Oh, mas as armas da guarda são justas? — Ele puxa uma pequena adaga de sua bota. Ele avança para frente, bate com violência, e retrocede. O sangue floresce em meu antebraço. Eu tropeço para trás, tentando me lembrar que não é Nate quem está me atacando. — Você não parece muito boa, Violet, — ele se burla. — Scarlett lhe deu uma amostra de sua magia especial? Bem mais do que uma amostra. Eu atiro uma das facas para ele. Ele esquiva. A faca voa sobre sua cabeça e desaparece. Ele se abaixa e golpeia minhas pernas, errando por apenas uma polegada. Eu chuto, e minha bota se conecta com sua testa. Ele balança, coloca uma mão contra a parede para obter apoio e agarra uma das tochas. Ele mantém iluminando o corte na cabeça. — Por que você está me machucando, Violet? — Ele pergunta. — Por quê? Você não sabe que eu amo você? Não é Nate, eu digo a mim mesma. Não é Nate.
Ele me joga a tocha. Eu tento esquivar, mas agora estou muito lenta. O calor arde no meu braço antes da tocha cair no chão. Ele me empurra para o chão. — Como você se sente sobre a morte, Violet? — Ele pergunta. — Você faz suas missões sofrerem. Agora é a sua vez. — Ele senta no meu peito, espremendo todo o ar dos meus pulmões. Ele torce meu pulso e eu solto a faca. Que desaparece. Seus dedos se envolvem em torno do meu pescoço. Inutilmente, tento sugar o ar para os meus pulmões. Pontos brilhantes de luz acendem na frente dos meus olhos. Meus dedos agarram o ar vazio e fecham na minha pequena faca. A que eu derrubei. Ele arqueia de dor quando a faca entra em seu ombro. Buscando ar, eu o empurro de cima de mim. Sinto o ar na minha adaga. Enrolo as duas mãos ao redor, fecho os olhos e o esfaqueio no peito. Eu estou tão fraca, que só vai até no meio caminho. Mas faz o trabalho. Ele parece chocado, da maneira que eu imagino que o verdadeiro Nate pareceria se eu mergulhasse uma faca em seu peito. Mude de volta, eu vou fazê-lo voltar, apertando minhas mãos tremulas em punhos. Mude de volta, mude de volta. Mas ele não muda. Ele fica ali. Morto. Parecendo Nate.
Capitulo 17 Vomito na pia da cozinha quando chego em casa. Então deito no chão e considero nunca mais me levantar. Filigree não parece muito impressionado. Ele se transforma em gorila, me carrega escada acima, e me coloca de roupa e tudo, na piscina de banho. Um minuto depois, ele se apressa pela porta como um esquilo e derruba uma mão cheia de nozes ao lado da piscina. Quero agradecê-lo, mas estou cansada demais para fazer as palavras saírem. Tiro minhas roupas bem devagar embaixo d’água. A dor envolta do meu pescoço abranda, mas ainda me sinto instável. Acho que é o que acontece quando sua vida é quase drenada de você. Espero até me secar, vestir e deitar de novo em minha cama antes de me permitir pensar. Eu matei alguém. De novo. São dois alguéns em duas noites. Respiro profundamente e digo a mim mesma para superar. Eu faço isso o tempo todo. É meu trabalho. Eu luto contra pessoas ruins. As vezes tenho que matá-las. Mas eu nunca matei ninguém que parecesse exatamente com uma pessoa com quem eu me importo. Esse é o grande problema: Eu não consigo tirar a imagem do Nate morto da minha cabeça. Sento. Mesmo fraca como estou agora, eu tenho que saber que ele está bem. Desenho uma passagem na minha parede e dou alguns passos pelo caminho das faeries até o quarto de Nate. Ele está lá. Respirando. Vivo. Ajoelho ao lado da cama e levanto a ponto da camiseta dele sem acordá-lo. O olho sumiu. ***
Eu coloco o transformo morto na caixinha de Coisas Que Eu Não Penso a Respeito, o que significa que fui capaz de dormir à noite. E toda a manhã. Acordo e encontro duas mensagens âmbar da Honey, e uma grande quantidade de comida, provavelmente levada até meu quarto durante a noite por Filigree. A primeira mensagem de Honey pergunta se eu gostei tanto da minha suspensão que decidi continuar por mais alguns dias. A segunda diz que ela deu alguma desculpa para mim durante o treinamento. Eu passo a tarde praticando o bloqueio da imagem de Nate morto da minha cabeça e tentando descobrir se eu deveria dizer algo a Nate sobre ontem à noite. Eventualmente, decido que provavelmente deveria. Mentir é ruim, né? Omitir também. Mas eu não tenho que dizer isso hoje à noite. Seria egoísmo estragar o encontro romântico que ele planejou. Na próxima semana parece bom. Na próxima semana eu trago Nate e Tora para cá, e vou esclarecer tudo para os dois. Agora, no entanto, tenho que fazer meu melhor para ficar entusiasmada com esse encontro. ***
Apesar do clima em Creepy Hollow estar perfeito essa noite, está chovendo no bairro de Nate. Paro à janela e observo as gotas baterem contra o vidro antes de escorrerem. Atrás de mim, a porta do quarto se abre. Me viro rapidamente, checando que meu glamour está no lugar, no caso de ser um dos pais dele. — Ei, — ele diz, então para. — Uau. Acho que sempre te vi usando só preto. — Ele chega perto. — Você fica ainda mais bonita de rosa. Acontece que o vestido que estou usando é preto na verdade. É o mesmo que usei para a audiência do Conselho e esqueci de devolver para Raven. O que foi sorte, já que eu não poderia ir a um encontro com minhas roupas normais. Decidi, no entanto, que algo tão importante como o primeiro encontro garantia uma mudança de cor. Nunca tendo usado mágica para mudar minhas roupas de cor, me levou horas de desastre antes que eu mandasse uma mensagem âmbar para Raven e perguntasse como fazer aquilo.
— Na verdade é cereja, — informo a ele, como se eu fosse uma expert agora. — Mas obrigada. — Vejo que não se livrou das botas. — Seus lábios se contraem tentando esconder um sorriso. — Bem, onde mais eu poderia guardar minha stylus? — Uh, numa bolsa? Reviro os olhos. — Você consegue me ver usando uma bolsa? Além disso, eu prefiro a combinação de vestido e botas. Nate beija minha bochecha. Por um momento, a imagem do Nate morto cruza meus olhos. Forço para longe, mas em seu lugar vem outras memórias da noite anterior. Alguém observa você, penso. Alguém quer informação de você. E conseguiram. Droga, eu gostaria de saber que informação era essa. — Vamos? — pergunta Nate. Pisco, e dessa vez quando afasto as memórias, funciona. Estou indo em um encontro. Meu primeiríssimo encontro. Eu não pensei que conseguiria reunir muito entusiasmo depois de ontem à noite, então fiquei surpresa com o frio na barriga. Nate pega uma mochila do sofá e pendura no ombro. — Quero tentar uma coisa, — ele diz. — Você acha que se você abrir um portal pelo caminho das faeries, eu poderia direcionar? — Bem... — parecia duvidoso. — Eu sei que você disse que eu não tenho nenhuma mágica, mas deve ter algo em mim que me ajuda a sobreviver o caminho das faeries. Então pensei... talvez... eu também pudesse direcioná-lo. — Acho que não faz mal tentar. — Eu abro uma passagem na parede próxima a janela. Fecho os olhos enquanto entramos, e mantenho minha mente limpa para que Nate possa nos direcionar. Seus dedos se enrolam nos meus. Espero. Meus ouvidos se enchem com o som de rugido, e uma brisa fria percorre minha pele. Abro meus olhos e fico com o mesmo choque que Nate deve ter sentido quando o levei na floresta ontem à noite. Nós estamos de pé, próximos a um afloramento de rochas ao lado de uma montanha. O chão cai bruscamente a minha esquerda, e quando olho para baixo, vejo uma cachoeira brotando de um buraco em algum lugar abaixo de mim. Eu posso sentir as gotículas no meu rosto. Nuvens
cinzentas pairam baixas e pesadas ao nosso redor, iluminadas pelo relâmpago ocasional. O efeito é dramático. — Você conseguiu! — Grito acima do trovão da água. Ele acena, rindo. — Venha para dentro antes que comece a chover. — Ele me puxa na direção das rochas. — Dentro? — Nós pisamos com cuidado ao lado de uma das rochas. Atrás há um vão, como uma lágrima no lado da montanha. Nate vira a mochila e pega uma tocha. Ele a acende, segura minha mão de novo e entra na caverna. Está frio aqui dentro, mas estranhamente bonito. Onde quer que a luz da tocha atinge a caverna, pequenas faíscas de ouro refletem de volta para nós. — O que é isso? — pergunto. — Algum tipo de mineral, eu acho, — responde Nate, — enterrado na rocha. Me faz pensar em mágica. — Como você sabe sobre esse lugar, Nate? Ele me puxa ainda mais para dentro da caverna. — Te digo num segundo. Nós precisamos ir direto lá para trás, onde é mais quente. O som de água escorrendo enche meus ouvidos, e Nate vira a tocha em volta até achar a fonte. É um córrego, borbulhando até a ponta da caverna e então desaparecendo pela rocha novamente, provavelmente se juntando a enorme cachoeira do lado de fora. — Você poderia cair fora daqui bem rápido se pulasse lá embaixo, — Nate diz. — Obrigada, mas eu já tive bastante adrenalina ultimamente. — Eu o sigo de perto, abaixando a cabeça onde o teto da caverna mergulha. Sobe de novo, mas agora as paredes estão mais próximas uma da outra, se afunilando num túnel que me lembra demais do labirinto. — Estamos quase chegando? — pergunto. — Seja paciente, — Nate fala. Ele solta minha mão e começa a andar mais rápido. Me apresso atrás dele, mas desacelero quando percebo que ele provavelmente quer um minuto ou dois para ajeitar as coisas... qualquer que sejam as coisas necessárias para um encontro numa caverna. Passo meus dedos pela parede. Não é suave como as paredes de rocha do labirinto, ou arenoso como o túnel onde estive ontem à noite, mas áspero com bordas irregulares. A luz de Nate começa a esmaecer até eu estar andando em completa escuridão. Considero conjurar minha própria luz, mas decido que a
escuridão deixa tudo ainda mais excitante. Estico meus braços em cada direção, e toco as pareces para evitar que eu bata nelas. Eventualmente, a escuridão começa a desvanecer. — Nate? — chamo. Seu grito vem do túnel: — Continue vindo. O túnel termina numa nova caverna. Um feixe de luz cinzenta sai de um buraco no teto, partículas de poeira dançam no caminho. No lado mais distante da caverna, vejo a sombra do corpo de Nate. — É aqui? — pergunto. — Esse é o lugar surpresa? — Oh, com certeza é uma surpresa, — diz uma voz atrás de mim. Eu me viro. — Muito bem, Nathaniel, — Zell diz. — Muito bem mesmo.
PARTE IV
Capítulo 18 Não tem muitas coisas na vida que podem me surpreender. Fui treinada para permanecer alerta, para estar constantemente ciente do meu redor. Tirando ser nocauteada no meio da floresta de Creepy Hollow e ser atingida na cabeça enquanto me escondia no quarto do Subterrâneo da Scarlett, não consigo pensar em nenhuma outra ocasião que eu tenha sido pega de guarda baixa. Mas nada poderia me preparar para o choque de encontrar Zell ali, nessa escura e silenciosa caverna enterrada dentro da montanha, onde Nate e eu deveríamos estar perfeitamente sozinhos. Meu cérebro Se Parte. — Ótimo trabalho, Nathaniel, — Zell diz. — Obrigado por trazê-la tão rápido. Trazê-la tão rápido. Sinto como se alguém tivesse apertando minha cabeça. Eu pisco. Posso ver o fraco feixe de luz no buraco do teto acima de nós. Nate é um contorno do outro lado. Não consigo ver seu rosto. — Você gosta do que ele fez com o clima? — Zell continua. — Ele ainda não consegue
controlar
muito
bem,
mas
suas
tempestades
são
certamente
impressionantes, não acha? Suas tempestades. O clima. — Devo dizer, estou agradavelmente surpreso em quão pouco tempo levou para convencê-lo a se juntar... Meu cérebro acorda, e eu faço a primeira coisa sensata que poderia pensar. Eu chuto Zell.
Pelo menos tento chutá-lo. Ele deve estar com o escudo ativado, porque eu sou lançada ao chão. — Ai, ai, — ele fala. — Não há motivo para violência. — Eu espero que ele venha até mim, mas ele não vem. Ele continua na frente da entrada da caverna. Bloqueando meu caminho para sair dali. Sem me levantar, jogo uma bola de fogo na direção dele. Então duas das minhas adagas de guardiã, um punhado de pedras, fragmentos de gelo, qualquer coisa que eu consiga pensar. Seu escudo repele todos os ataques. E ele não se move, e não tem outra saída e eu vou morrer dentro dessa montanha sombria com aquele odioso sorriso no rosto dele e meu ex-namorado traidor assistindo de... Pare de entrar em pânico! Existe uma saída. Eu me levanto, ignorando a picada dolorosa do meu vestido em minhas costas. Eu não sei se tenho poder suficiente para isso, mas eu certamente não tenho tempo para juntar mais. Eu me agacho, tenciono e pulo. A gravidade deveria me puxar para baixo, mas mágica é mais forte que gravidade. Me propulsiono para cima, em direção da abertura no teto da rocha. — Não! — Zell grita. O escuto correr. Luz brilhante passa raspando em mim, queimando meu braço. Algo duro me atinge na lateral. Estou caindo, desmoronando. Eu me desacelero, mas ainda assim o impacto quando atinjo o chão arranca o ar de meus pulmões. Vejo a entrada da caverna, desbloqueada. Levanto e corro. Zell está gritando. Eu estou ofegante. Explosões de mágica são atiradas pelo túnel, iluminando o caminho para mim. Eu fico ziguezagueando tanto quanto o túnel permite, fazendo meu melhor para me desviar da mágica. Faíscas queimam meus ombros. Queima, mas não paro de correr. Memórias passam pelos meus olhos abertos: A tempestade que apareceu quando Zell pendurou Nate no abismo; a neve no quarto da Angelica; a chuva batendo contra o vidro da janela de Nate. Minha cabeça bate na parte baixa do teto da caverna, e eu caio de costas no chão. Minha visão embaça horrivelmente. A dor ameaça me nocautear. De alguma forma, no entanto, eu continuo consciente, rolo, fico de quatro e me levanto, me escorando na parede para não cair.
Latejar. Latejar. Latejar. A boca na frente da caverna estranhamente aparece na minha linha visão. Posso ouvir o murmúrio do córrego que borbulha nessa caverna antes de desaparecer na montanha abaixo de mim. O brilho de trovão ilumina o talho do lado da montanha e me guia para liberdade. Eu tropeço para a frente. Tão perto. Com um brilho, uma passagem aparece no ar vários metros à frente. Zell sai dela. Sem hesitação, ele impulsiona os pulsos para frente no ar, mandando uma bola de poder em minha direção. Me atinge bem no meio do estômago. Dor! Eu choro e me dobro. Meus braços estão molhados. E eu estou caindo novamente. Mas eu cambaleio para o lado, em direção a água, e quando meu corpo atinge algo, não é o chão. É o córrego. Com um suspiro agonizante, desapareço na montanha. Tem água na minha boca, e bolhas a minha volta, e membros agitados e pedra lisa e um declive que gira. Eu tusso, engasgo e tento manter minha cabeça acima da água enquanto puxo minha stylus da minha bota e a seguro desesperadamente. Mas de jeito nenhum eu vou conseguir abrir um portal enquanto estiver caindo por essa água. Meu corpo é jogado de um lado para outro, e eu não consigo focar em nada do que simplesmente tentar respirar. O declive se estica e, sem nenhum aviso — mas que tipo de aviso eu estava esperando, não faço ideia — eu disparo para o céu tempestuoso e acima da cachoeira. Caindo, caindo, caindo. Abro uma passagem. Vamos lá. Você vai morrer se não abrir a droga de um portal agora! Eu caio num vácuo negro, pensando na minha casa, na Guilda e em Tora, tudo isso num segundo, e quando eu caio na terra e bato a cabeça contra algo duro, eu não faço ideia de onde estou. Árvores giram acima de mim, e chuva cai no meu rosto. Um relâmpago corta o céu. É possível que seja a mesma tempestade que eu acabei de sair? As árvores continuam a girar. A dor começa a se transformar em uma estranha dormência. Eu levo uma mão trêmula ao rosto e sinto algo viscoso escorrendo por minha bochecha. Se eu conseguisse tocar minha nuca, eu provavelmente encontraria sangue também. Estou assustada demais para colocar a mão em qualquer lugar próximo a minha barriga; sei que o estrago é grande. Já é ruim o suficiente meu corpo não poder se curar antes... de apagar?
Lembro agora que Tora está fora; ela está visitando alguma Guilda estrangeira. Tenho que tentar achar Flint então. Minha stylus deve ter caído em algum lugar próximo, mas o pensamento de virar minha cabeça para procurar me deixa enjoada. Talvez alguém me ache. Talvez eu só deva deitar aqui e esperar um pouquinho. O tempo passa. Não penso em nada, principalmente não nele. O que me levou até ali, o que me entregou de bandeja. Eu vejo os vagalumes começarem a ficar visíveis conforme a noite chega. Faeries sacodem água de suas asas delicadas. A chuva está mais forte agora, e eu começo a tremer. Eu consigo virar um pouco a cabeça para o lado para que a chuva não me sufoque. Escuridão se aproxima. Talvez eu esteja caindo no sono. Acima do som da chuva e do trovão, imagino ouvir o som de passos próximo. É possível? Passos são altos o suficiente para serem ouvidos acima da chuva pesada? Por favor me veja, eu penso. Por favor, me veja e me ajude. Quando um par de botas aparecem na minha nebulosa linha de visão, não consigo imaginar se é real ou minha imaginação. Mas quando eu percebo que reconheço as botas — espinhos gravados em fivelas metálicas — eu quero gritar. Por quê? Eu exijo silenciosamente. Por que ele? Eu teria implorado a qualquer um que viesse me ajudar. Qualquer um — exceto Ryn. Ele é a única pessoa que eu conheço que poderia pensar e me deixar morrer em vez de ajudar. O mundo se inclina. Chuva cai em todas as direções, e eu não consigo distinguir o céu do chão. O que ele está fazendo? Será que vai me pendurar de cabeça para baixo e assistir minha morte? Ver o sangue sendo drenado do meu corpo? Que pensamento doentio. É o último pensamento que tenho antes do mundo dar sua última sacudida e me empurrar para o esquecimento. ***
Meus sonhos se desvanecem um no outro. Sonhos sobre afogamentos e gritos. Sonhos sobre bolhas e luzes. Sonhos sobre um garoto com pele bronzeada e olhos risonhos. O travesseiro sob minha cabeça Ê macio. Eu abro meus olhos o suficiente para ver um turbilhão de azul e verde familiar no tecido ao lado da minha bochecha. Como eu cheguei em casa?
Capítulo 19 Não sei quanto tempo se passou antes de eu finalmente sentir o puxão do mundo. Esfrego meus olhos e pisco várias vezes, tentando me orientar nesse quarto que é ao mesmo tempo familiar e não familiar. Por que tem uma lareira? Penso em sentar, mas a memória do que aconteceu dentro da montanha vem batendo de volta, o suficiente para me fincar de volta a cama. Imagino Nate parado na sombra da caverna, e sinto como se tivesse algo pressionando meu peito. Não consigo respirar adequadamente. Não pense nele. Não pense, não pense, não... O rosto de Ryn aparece na minha frente. Me afasto. — O que... o que você está fazendo aqui? — Minha voz é áspera. Ele levanta uma sobrancelha. — Eu moro aqui. Minha boca forma um confuso “o”, mas então eu percebo porque tudo parece tão familiar-mas-não-familiar. Essa não é minha casa; é a de Ryn. E a cama que eu pensei estar dormindo não é uma cama de verdade; é o sofá que eu passei tantas noites, anos atrás, no que parece ser outra vida. Está feita como se fosse uma cama, com os mesmos lençóis e colchas que eu lembro da minha infância. Eu deveria me sentar agora, me sinto vulnerável só de ficar deitada aqui, mas meu corpo está rígido e dolorido. Pisco mais algumas vezes e olho em volta. Do que eu consigo ver da sala, parece basicamente a mesma coisa da última vez que estive aqui. Ryn ajoelha no chão, apoia o cotovelo na ponta do sofá, e cruza os dedos. Ele descansa o queixo em cima dos dedos e, com o rosto perto demais, fica em encarando com seu olhar azul brilhante. — Agora seria uma boa hora para dizer ‘eu te avisei’? — ele pergunta. Eu viro de costas para não ter que olhar para ele. — Depende. Alguma vez você me avisou que meu namorado halfling me trairia por um faerie do mal?
Um dos cotovelos do Ryn escorregam do sofá. — Aquele cara é um halfling? Espera, você tem um namorado? Suspiro. — Como se essa fosse a parte mais importante das noticia agora? — Eu diria que certamente merece alguma atenção. — Ryn reassume sua posição na ponta do sofá. — Quem diria que você conseguiria achar algum interessado em manter sua companhia? Valeu. Se fosse qualquer outra pessoa, eu me sentiria ofendida. Mas é só o Ryn, e tive anos para me acostumar com seus insultos. Encontro seu olhar. — Por que você não me deixou lá para morrer, Ryn? Nós dois estaríamos nos divertindo muito mais se você tivesse. — Se você estivesse morta, Pixie Stick, não teria mais ninguém para atormentar. — Você quer me dizer que eu sou a única a quem você concede seus insultos maravilhosos? — Eu coloco uma mão no peito. — Estou emocionada. — E agora é definitivamente a hora de ir. Eu sento e passo os dedos pelo meu cabelo. Está limpo. O lençol se afasta de mim e aparentemente estou usando roupas limpas também. Devem ser da Zynnia. — Amei o vestido que estava usando, — Ryn diz sem se afastar. — Mostrava as vantagens de suas pernas de vareta. — Se eu tivesse mais energia, eu bateria nele. — Vejo que você também passou a usar um item fashion em suas orelhas. — Há um vazio em sua voz enquanto as pontas dos seus dedos roçam o lóbulo da minha orelha. Eu afasto sua mão. — Eu não os uso para te irritar, sabe. — Imagino o formato de flecha do pequeno brinco e fasto a memória do Nate encontrando-os na minha bota. — É um bônus, claro, mas a verdadeira razão de eu usá-los é que me lembram do Reed. Os olhos de Ryn se abalam. — E quando você os usa, também pensa em mim? Esqueceu que foi um presente para nós dois? Meus olhos se afastam dos dele. Eu tinha esquecido disso. — Violet, você está acordada. — Olho para cima para ver a mãe de Ryn no pé da escada. Ela está toda de preto, com uma série de pequenas facas protegidas ao redor de seus quadris. Ela deve estar a caminho de uma atribuição.
Giro minhas pernas e levanto. — Zin...Senhora Larkenwood, — digo, me sentindo um pouquinho tonta. — Obrigada por tomar conta de mim, e pelas roupas. — Vi, você tem certeza que deveria estar de pé? — Ela se apressa pelo cômodo. — Você estava muito machucada. Você pode precisar de mais descanso. — Oh, acho que estou bem. — Eu tiro a preocupação dela, apesar da tontura rodopiante na minha cabeça. — Eu devo ir para casa agora. Só quero que saiba o quanto estou grata. Você deve ter usado bastante mágica curativa. Seus olhos vão para Ryn por um segundo e depois retornam a mim. — Eu devia ter feito muito mais, — ela diz suavemente. Não tenho tanta certeza do que ela quer dizer. Tenho a impressão de que ela quer dizer mais alguma coisa, mas invés disso, ela avança e me abraça. Seus cabelos pretos e curtos pinicam minha bochecha. Tem azul neles, como o de Ryn. — Se cuide, Vi. — Ela se afasta e se vira para Ryn. — Posso falar com você? Ele suspira. — Se você precisa. — Ele a segue para fora do cômodo. Não pense em Nate. Não pense em Nate. Eu procuro as minhas coisas. Não consigo ver o vestido da Raven, provavelmente foi para o lixo, mas eu acho minhas botas apoiadas na parede ao lado da lareira, e minha stylus na lareira. Sento na mesa mais baixa em frente ao sofá e coloco minhas botas. Eu balanço minha mão na frente delas e vejo os laços se amarrando sozinhos até meus joelhos. — Então, — Ryn diz, perambulando de volta pela sala. — A equipe da minha mãe vai para a Itália por alguns dias. — Ele se joga numa cadeira de armar. — A vida glamorosa de um guardião. — Itália? — Viro minhas costas a ele e começo a tirar a as coisas de cama do sofá. — Eles não têm sua própria Guilda? — Aparentemente os italianos precisam da experiência da minha mãe. Eu dobro as coisas e as deixo no sofá. Com sorte Ryn vai lidar com isso antes de sua mãe voltar. — Bem, obrigada por salvar minha vida. — Me viro para ir embora. Ryn pula e me segue para a parte da parede que costumo usar para ir embora. — Você se lembra quando não nos odiávamos? — Sua voz leve como se estivéssemos falando sobre o tempo.
Cruzo meus braços. — Minha memória não vai tão longe assim. — Sério? Sua memória é assim tão ruim? — Ele coloca as mãos no colo e se inclina contra a parede. — Não parece coisa sua; você é tão boa em guardar rancor. — Vários rancores, se vamos ser técnicos. — Eu realmente fiz todas essas coisas horríveis a você, Pixie Sticks? — Você colocou uma placa nas minhas costas que dizia ‘Me chute’ no nosso primeiro dia de treinamento. — Você tem que admitir que foi bastante divertido. — No terceiro ano você disse para todo mundo que eu tinha algum tipo de doença contagiosa. — Bem, você realmente tinha uma marca suspeita no seu... — E no quarto, eu aparentemente estava tendo um caso com o nosso mentor de cinco mil anos. — Deveria ter escolhido um mais jovem para você... — Você jogou fora o tokehari da minha mãe! — eu grito para ele. Um segundo de silêncio. Então, — Oh? Minha memória está um pouco confusa sobre isso. Você terá que me lembrar dos detalhes. — Corrente de ouro. Chave de ouro. Você jogou fora no poço que vai para o Subterrâneo. — Uma chave? Oh minha queria, você ficou trancada fora de algum lugar desde então? — Não Ryn, mas esse não é o ponto, droga! — Lágrimas queimam meus olhos. — Nunca foi feito para abrir algo, era para lembrar a minha mãe. — Bem, uma chave que não abre nada soa como uma chave inútil, e mesmo se você estivesse com ela, duvido que você seria capaz de se lembrar da sua mãe. Você tinha apenas três anos quando ela... — PARE! — Todo meu corpo está tremendo. — Não me importo o quão idiota você decidiu se tornar, você nunca teve o direito de fazer ou falar qualquer uma dessas coisas. Ele se afasta da parede. — Eu não decidi me tornar um idiota, tá bom. Coisas aconteceram, e...
— Coisas aconteceram? Coisas? — É possível que oito anos se passaram e essa é a primeira vez que falamos sobre Reed? — Ele era meu amigo também, Ryn. Mas eu não vi a morte dele como uma razão para afastar qualquer pessoa que se importava comigo. — Bom, cada um tem um jeito lidar. — Suas mãos estão fora dos bolsos agora, cerradas em punhos ao seu lado. O olhar em seu rosto me avisa para me afastar. Eu ignoro. — Isso é um método de lidar? Claramente não está funcionando para você. — Ele era meu irmão! — Ryn grita, toda a pretensão de compostura se quebra. — Como você espera que eu lide com aquilo? Eu me aproximo dele. Tão perto que nossos rostos estão quase se encostando. — Você quer um jeito para lidar? Aqui vai um que você obviamente não tentou ainda: SUPERE. ISSO. — Agarrando minha stylus tão forte que corro o perigo de quebrá-la em duas, e abro um portal na parede. Sem olhá-lo de novo, eu entro na escuridão.
Capítulo 20 Corro. Meus membros parecem fracos, e meu coração bate anormalmente rápido, mas mesmo assim eu corro. Eu tenho que correr. Eu preciso. Como ele pôde fazer isso comigo? Corro mais rápido, a floresta escura passando por mim, o ar queimando minha garganta. Não quero pensar nele. Nunca mais. Mas cada passo que atinge o chão mostra o nome dele na minha cabeça. Nate, Nate, Nate, Nate, Nate ‒ Ugh! Como ele pôde fazer isso? Eu deslizo até parar, me desequilibro e tropeço em uma duende que não estava lá há um segundo. Ele se afasta enquanto caio nas minha mãos e joelhos. Eu aperto um punhado de folhas e galhos e deixo escapar um grito sem palavras. A sensação é boa. Eu rastejo em direção as raízes da árvore mais próxima e desabo contra elas. Minha respiração está pesada. Acho que Zinnia estava certa sobre eu precisar de mais descanso. Fecho meus olhos e vejo o sorriso de Nate contra meus olhos fechados. Algo gira dolorosamente em meu peito. Ele disse que se importava comigo. Ele quase disse que me amava! Como ele conseguiu me enganar a cair na armadilha de Zell? Zell deve ter alguma coisa contra ele, certo? Meu coração desesperado começa a procurar por desculpas, mas eu as afasto. Não existe desculpa boa o suficiente para o que Nate fez. Eu nunca o trairia dessa forma, não importa com o que tenham me ameaçado. Pressiono a palma da minha mão contra os olhos. Eu quero ficar irritada. Eu tento de verdade, mas sinto a raiva indo embora, deixando uma dor oca atrás. Meu peito dá um nó e um soluço escapo dos meus lábios. Então outro. A floresta mergulha diante de meus olhos enquanto as lágrimas escorrem por minhas bochechas. Acho minha stylus e abro um portal na raiz da árvore atrás de mim. Rastejo para dentro dela.
No outro lado, na minha sala de estar, não me incomodo em levantar. Me arrasto até o sofá, me inclino, e junto os joelhos no peito. As lágrimas continuam rolando. Não tento pará-las. Sinto como se eu tivesse chorando com todo meu corpo. Grandes suspiros que me deixam ainda mais desesperada por ar. Algo suave me acotovela. Filigree, em sua forma de gato, desliza para dentro do espaço entre minha perna e meu peito. Seu calor e forma peluda são reconfortantes, o que me faz chorar ainda mais. Limpo meu rosto. Estúpida, estúpida, ESTÚPIDA. Eu não deveria estar chorando por um garoto. Eu nem o amava. — NÃO AMAVA! — grito, vendo algumas faíscas voando da minha língua. Não sei quem eu estou tentando convencer. Filigree chega ainda mais perto, suas garras me cutucando através da minha roupa. Não. Eu não amava Nate. Eu só fui estúpida o suficiente para me importar com ele, isso foi tudo. E agora estou sozinha novamente. Não existe mais ninguém para eu sonhar acordada. Ninguém para visitar a noite. Ninguém para eu compartilhar meu mundo. Somos só Filigree e eu sozinhos nessa casa de novo. Como era antes. Exceto que agora é muito pior, porque agora eu sei o que estou perdendo. Dou um longo suspiro e me levanto. — Não tem que ser desse jeito, Fili. — Eu fungo e esfrego meus olhos. — Nós podemos voltar do jeito que era antes. — Com Filigree enrolado em volta do meu pescoço, eu corro escadas acima para minha cama. Puxo meu kit de emergência da minha bolsa de treinamento e jogo o conteúdo na minha cama. — Onde está, onde está...Ali. — Cubro o pequeno frasco com minha mão, e então coloco no meu bolso. Tiro Filigree do meu pescoço e o coloco na cama, onde ele prontamente se transforma numa coruja. Ele me encara com seus olhos que não piscam. — Não se preocupe, eu não vou tomar. Não ainda, de qualquer forma. — Eu afago sua cabeça de penas. — Volto em breve.
***
Entro na Guilda pela entrada de aprendizes, não a entrada principal onde levei Nate na primeira noite que o conheci. O caminho das faeries me deixa num pequeno cômodo da entrada principal, onde tenho que deixar Tank verificar meu pingente com sua stylus antes de me deixar entrar. Me apresso ao passar por ele, mal o cumprimentando. Sigo em direção as escadas do terceiro andar do subsolo. Há portas fechadas onde nunca tive permissão para entrar, mas um lugar que já visitei é o laboratório de poções. Afinal de contas, um dos caras que trabalha aqui foi minha atribuição ano passado. Eu sinto como se tivesse o direito de visitá-lo ocasionalmente e ver como ele está. E pedir favores. Puxo a porta pesada e tusso pela fumaça pesada que me cumprimenta. É quase meia noite, mas eu sabia que ele estaria aqui; ele é altamente dedicado ao trabalho. Balanço minha mão no ar, clareando o caminho através da névoa de fumaça azul. — Violet! — Salto quando Urick entra por uma porta do outro lado do laboratório. Como sempre, sua entrada me surpreende. Não importa quantas vezes eu o veja, não consigo me acostumar com sua cabeça careca, deformada e seu corpo magricela. Sempre demora um segundo ou dois para eu me lembrar que não preciso temê-lo. Apesar do fato de que ele se machucou na minha lista de atribuições, ele nunca machucaria ninguém intencionalmente; o coitado só queria um amigo. Infelizmente, ele quase matou de susto uma garota humana em sua busca por amizade. — Que surpresa agradável! — ele diz. Ele coloca cuidadosamente um cilindro de líquido amarelo em um banco de laboratório e, em seguida, inclina a cabeça para o lado. — Você encolheu, querida? — O quê? — Olho em direção as minhas roupas largas. — Oh. Não, essas roupas não são minhas. De qualquer forma, isso não é importante. Preciso da sua ajuda, Uri. — Uri não é seu verdadeiro nome, claro. É alo ridiculamente impronunciável. Uri de Urick parece bem mais fácil de pronunciar. Ele está tranquilo com isso. — Claro, claro. — Ele sobe no banco do outro lado da bancada. — O que posso fazer por você? Precisa que as sobrancelhas de alguém fiquem laranjas? — Gostaria de poder sorrir com a lembrança das sobrancelhas laranjas de Ryn e Dale. Eles tentaram todos os feitiços que conseguiram pensar para se livrar da cor, mas
o encantamento especial de Uri se recusou a sair por uma semana inteira. Minha boca parece ter se esquecido de como é sorrir. Tentar forçar meus lábios a se separarem parece impossível agora. — Preciso esquecer uma pessoa, — digo. — Bem, mas especificamente, eu preciso esquecer que amei uma pessoa. Quero dizer, me importei com uma pessoa. Eu não o amei. Amor leva tempo para se desenvolver, certo? Eu mal o conhecia. Só há algumas semanas, na verdade. Isso não é amor. Talvez poderia ter sido, mas ele garantiu que isso não aconteceu. — Pare de enrolar, droga! Respiro fundo. — Esquecer alguém. Hmm. — Uri esfrega as mãos. — Bem, os ingredientes para uma poção como essa são... — Raros e caros. Eu soube. Mas tenho isso. — Puxo o frasco de Esquecer do meu bolso e coloco na bancada entre nós. — Talvez você possa usá-lo? — Uri encara o frasco com uma sobrancelha erguida. Ele estaria se perguntando como eu consegui a posse dessa poção em particular. Da perspectiva dele só existem duas opções: Ou eu a roubei, ou eu deveria tê-la usado em um humano e não o fiz. — E, por favor...não diga a ninguém sobre isso. — Bem... — ele senta novamente, girando o pequeno frasco para frente e para trás com seu dedão e indicador. — Posso tentar isolar os ingredientes dessa poção, mas eu nunca precisei fazer isso antes, e não tenho certeza de que vou conseguir. E, claro, preciso de algo que pertença a esse garoto que você está tentando esquecer. — Aqui. — Entrego a camiseta rasgada e suja de sangue de Nate, que por algum motivo, eu nunca consegui jogar fora após o incidente do labirinto. Uri pega a camiseta, então começa a bater o dedo numa jarra de vidro vazia. — Você tem certeza que quer esquecê-lo? O que quer que tenha ferido seus sentimentos agora não vai durar para sempre, e certamente é melhor manter todas as suas lembranças intactas. Suspiro. Uri provavelmente está certo, mas isso não significa que devo escutá-lo. — Eu não quero esquecê-lo completamente. Está permanentemente registrado que ele me seguiu até o reino das faeries, então criaria complicações se eu esquecesse completamente sua existência. Mas eu gostaria de esquecer que eu fui estupida o suficiente para me importar com ele. — Me inclino para frente. — E sim, tenho certeza absoluta sobre isso.
***
Lágrimas queimam meus olhos no momento que piso em casa. Eu quero me curvar num canto e esperar até Uri conseguir fazer a poção para mim. Eu não me importo quanto tempo leve. Sei que estou sendo completamente patética, mas eu não quero encarar o mundo ago... Bang! — Que diabos? — Filigree aparece na cozinha e aponta sua pata de esquilo em direção a porta da frente. Bem, a área da minha parede que poderia ser chamada da porta da frente se uma casa de faeries tivesse porta da frente, na verdade. Ouço o som novamente e reconheço como o som da aldrava de porta que está conectada do lado de fora da minha árvore. Uma voz abafada diz: — Vamos lá, Violet, apenas abra. — É Ryn. Eu avanço pela sala, cruzo meus braços, e encaro a parede. Quem ele pensa que é vindo até aqui e exigindo entrar? O que ele quer? Outra briga? Ele bate a aldrava de novo e de novo. — Droga Violet, por favor. Eu realmente preciso falar com você. Bem, você é a última pessoa com quem eu quero falar. — Eu juro, se você não abrir agora, eu vou dar meu próprio jeito de... Eu deslizo minha mão pela parede, abrindo uma passagem. — O que é? — Eu exijo. — Voltou para o segundo round? Ele congela, sua mão ainda no ar, então suspira. — Olha. Eu preciso da sua ajuda. Eu ouço as palavras, mas elas não fazem sentido nenhum. — Me desculpe, o quê? — Eu preciso da sua ajuda, — ele repete bem devagar entre dentes. E de repente, tudo faz sentido. Ele só me salvou porque precisava de alguma coisa. E pela expressão em seu rosto, eu sou a última pessoa que ele queria pedir. O que por mim, está bem, pois tenho certeza que eu não tenho vontade de ajudalo. Cruzo meus braços e o encaro. — Você vai me fazer implorar? — ele pergunta.
— Duvido que ajudaria, mas eu adoraria ver você tentar. Ele desvia o olhar e expira fortemente, balançando a cabeça. Então fecha os olhos, respira fundo e, bem devagar fica de joelhos. — Por favor, — ele diz, se recusando a me encarar. — Por favor. Você é a única que pode me ajudar. Meu queixo cai. Talvez seja um sonho. Talvez eu não tenha ido a um encontro com Nate ainda, e ele ainda não tenha me traído, e eu não tive que fugir de Zell, e Ryn não está realmente de joelhos implorando por minha ajuda. Eu pressiono minhas unhas no meu braço. Dói. — Agora que eu já me humilhei completamente, você vai me deixar entrar? Eu deixo meus braços caírem ao meu lado, quase incapaz de acreditar que Ryn se ajoelhou na minha frente. Filigree muda para sua forma de leopardo da neve e mostra os dentes enquanto Ryn levanta e entra. A passagem se fecha atrás dele. Eu cruzo o cômodo e me acomodo em um dos sofás. Com sorte, nós podemos acabar com isso logo. — Com o que você precisa de ajuda? Ryn olha em direção a Filigree, então me segue. Após remover a bolsa de seu ombro, ele escolhe um acento na direção aposta e se senta. — É minha irmã. Ela está desaparecida. Eu estreito meus olhos. — Você não tem uma irmã. — Meia irmã, — ele corrige. — Meu pai foi embora, lembra? Rompeu a união com a minha mãe? — Eu me lembro disso. Aconteceu logo depois do Reed morrer. — De qualquer forma, ele conheceu outra pessoa, e agora, de repente, eu tenho uma irmãzinha. Eu imagino uma versão miniatura do Ryn. Uma miniatura feminina. Uau, eu tenho pena das meninas que tem que ir para escola com ela algum dia. — E agora ela sumiu e você precisa que eu o ajude a encontrá-la. — Sim. Eles descobriram que ela desapareceu terça de manhã, e eu sei que você consegue encontrar pessoas mais rápido do que qualquer um na Guilda, então eu fui procurar por você. Agora é quinta à noite e eles ainda não encontraram nenhum rastro dela, e eu estou realmente... — É quinta à noite? — Eu não esperava por isso. — Sim, você ficou desacordada pelos últimos dois dias, e eu ia te pedir ajuda no momento que você acordou, mas...
— Você estragou tudo quando decidiu me insultar. — Ele passa a mão pelo cabelo, e isso me lembra tanto de Nate que eu tenho que olhar para o outro lado rápido para que ele não veja as lágrimas que estou tentando me livrar. — Olha, eu sei que não gostamos um do outro, Violet, e eu não espeço que você dê alguma importância para minha irmã, mas eu tenho que encontrá-la. Tudo que você precisa fazer é me dizer onde ela está e eu deixo você em paz. — Ele abre a bolsa e a revira de cabeça para baixo para que o conteúdo caia no sofá ao lado dele. Um kit de emergência de guardião junto com bonecas, roupas, um cobertor e um livro. — Você sabe que eu só preciso de uma coisa, certo? Ele encolhe os ombros. — Eu queria garantir que você pudesse encontrá-la de forma definitiva. Eu o encaro. Ele parece o mesmo cara que vem me atormentando por anos, mas esse é um lado dele que eu não reconheço. O Ryn que conheço parou de se importar com as pessoas anos atrás, mas está claro que ele faria qualquer coisa por essa irmãzinha dele. E embora ela provavelmente seja uma pirralha como ele, ela não merece ser sequestrada. E ele salvou minha vida. — Tudo bem. — Me inclino para frente. — Me dê o cobertor. — Ele o passa para mim pela mesa de centro entre os sofás. É pequeno e gasto; acho que ela o tem desde bebê. Antes de fechar meus olhos, olho novamente para Ryn. — Você disse a alguém que eu sou capaz de te ajudar? Ele balançou a cabeça. — Não. Eu lembro do seu pai dizendo a Reed e eu para manter seu pequeno truque em segredo. Meu pequeno truque. Bom, essa é uma forma de dizer. — Tudo bem, vamos acabar logo com isso.
Capítulo 21 — Ela ainda está viva? — Ryn pergunta assim que abro os olhos. — Sim. Ela está sozinha num quarto. Pude sentir que a casa é bem grande, e eu acho que é uma casa humana. Não consegui sentir nenhum glamour protegendo. — Deixo de lado a parte da sensação congelante de magia negra que invadiu meus sentidos enquanto via pelos olhos da menina. Ele se inclina um pouco para frente. — E onde fica? — Eu... não sei exatamente. Acho que terei que te mostrar. Só vou trocar de roupa. — Levanto e Ryn encosta novamente no sofá soltando um suspiro de frustração. Coloco as mãos na cintura. — O quê? Você sabe que não é sempre tão simples quanto saber o endereço exato. — Eu sei, eu sei. Só se apresse, tudo bem? — Rolo os olhos e sigo em direção as escadas. É obviamente esperar demais por um ‘obrigado’. Alguns minutos depois, me sentindo bem mais confortável com minhas próprias roupas, eu desço para sala e seguro o cobertor mais uma vez. Envio minha mente novamente, só para me certificar que eu consigo sentir onde ela está. Abro um portal na parede enquanto Ryn enfia o cobertor na bolsa dele. — Qual é o nome dela? — pergunto, enfiando um pé no portal para mantê-lo aberto. — Calla. Ela tem seis anos e deve estar apavorada. — Ele desliza a mochila por cima do ombro e segura com a mão. — Vamos. Relutantemente, eu envolvo meus dedos nos dele. Eu não consigo evitar o pensamento de que a última mão que segurei foi a da Nate. A dor maçante em meio peito intensifica, e eu tenho que morder meu lábio na luta para mandar o pensamento para longe. Não pense, não pense, não pense.
Ryn aperta minha mão. — Vamos lá, o que você está esperando? — A vontade de bater nele supera a dor no meu peito. Afundo minhas unhas na pele dele quando o puxo no portal atrás de mim. Pode ser que eu esteja distraída pela minha raiva, mas quando emergimos do portal, não há nenhuma casa à vista. Estamos numa floresta, mas nada como Creepy Hollow. Parece morta de alguma forma. Tediosa. Sem mágica. Ryn olha em volta. — Uma grande casa humana que não é oculta, huh? Tem certeza de que seu talento ainda funciona direito? — Calado. — atiro. — Eu ficarei perfeitamente feliz se você quiser achar a casa sozinho se você decidir que não precisa mais da minha ajuda. Ele levanta as mãos para o alto indicando que se rende. — Você precisa do cobertor de novo? — Uh... me dá algo menor que eu possa segurar. Ele procura na bolsa e expõe uma simples pulseira prateada. — Ela usa isso com bastante frequência. A luz do luar cintila na pulseira quando ele a coloca em minha mão. Fecho os olhos, e só leva um momento para eu sentir a direção em que ela está. Aponto por entre as árvores. — Por ali. — E ela ainda está bem? Não tem ninguém com ela? — Acho que ela dormiu. Não consegui ver nada pelos olhos dela. — Coloco a pulseira em meu bolso. — Vou embora assim que eu achar a casa. Ryn me deixa liderar o caminho. Tenho certeza de que meu ritmo não é rápido o suficiente para ele, mas, milagrosamente, ele não diz nada. — Você sabe o motivo de alguém querer raptar sua irmã? — Penso na menininha que Tora me pediu para achar no início da semana e se aquele incidente está relacionado a este. — Não, — Ryn diz. — Não faço ideia. Ela é uma criança normal. — Tudo bem. E... como você me encontrou? Terça à noite, quero dizer. Nem eu sabia onde estava. — Bem, você não estava na sua casa, e você não estava na Guilda, e os Videntes me disseram que você não estava em uma missão. Então fui ver na casa de Tora. Depois lembrei que ela está fora, então comecei a perambular, tentando descobrir onde você estaria. Achei você logo depois disso, bem perto da casa da Tora.
— Oh. — Me pergunto se eu teria sobrevivido se ele não tivesse me encontrado. Acho que as chances seriam baixas. — Sim, um, eu meio que cai da lateral da montanha e não estava pensando tão claramente quando entrei no caminho das faeries. — Ah, sim. O mestiço traiu você. Ele a levou lá em cima só para empurrála? Parece um pouco exagerado para mim. Tenho certeza de que existem jeitos mais fáceis de se livrar de você. — Tenho certeza que sim, mas eu prefiro não falar sobre isso. — Oh, espera, você mencionou outra faerie. O mestiço traiu você com outra, certo? — Ryn. — Então nós sabemos que pelo menos uma pessoa quer você, por qualquer que seja o motivo. Oh, é aqui? — Nós diminuímos a velocidade quando chegamos perto de uma parede alta de tijolos. Timing excelente, pois eu já estava começando a sentir uma vontade urgente de machucar Ryn. Paro de andar. Olho para esquerda e direita, vejo que o muro se estende até onde a visão alcança em ambas as direções. — Acho que pode ser aqui. — Enrolo minha mão no galho mais baixo da árvore ao meu lado. — Temos que subir para descobrir. — Me puxo para cima, então continuo subindo de galho em galho. Escuto Ryn me seguindo, ele nunca confiaria em mim para dizer a ele o que eu veria. Quando escalei o mais alto que a árvore permitiu, parei e me apoiei no tronco. A floresta continuava do outro lado do muro, mas no fim dela consigo enxergar o contorno de uma casa enorme. Uma mansão, como os humanos a chamariam. — Sim, é aqui. Ryn sobe num tronco ao lado do meu e assobia. — Uau, é uma casa impressionante. — Verdade. — Independente do motivo de quererem Calla, certamente não era dinheiro de resgate. Me asseguro de ter o caminho livre para o chão e pulo. Pouso facilmente, me agachando para absorver o impacto. Levanto e colo as mãos nos quadris e olho para o muro. — Não acho que você vai passar por isso. Ele cai ao meu lado. — Sou uma faerie, posso passar por qualquer coisa.
Reviro os olhos. — Não por causa da altura, seu idiota. Porque é protegido por mágica. Não consegue sentir? — Sou um guardião; luto contra magia o tempo todo. Um único muro não vai me segurar. — Ele se aproxima do muro e o atinge com a ponta da bota. Muito maduro. Provavelmente nem ocorreu a ele se perguntar porque uma casa humana estaria protegida por mágica. — Tudo bem. Tudo que estou tentando dizer é que você não deveria cometer nenhum
erro
estúpido
nem
potencialmente
mortal,
só
porque
está
desesperadamente tentando encontrar sua irmã. — Tanto faz. — Ele dá um passo para trás e olha para cima, seus olhos examinando as árvores. — Eu não esperaria que entendesse. — Claro que não. O que eu poderia saber sobre salvar familiares? Ele me olha por sobre o ombro. — Vá embora logo antes que você me faça perder outro irmão. — Me desculpe? — Eu disse VAI! Não preciso mais da sua ajuda. Às vezes, me pergunto se eu imaginava a intensidade do ódio de Ryn por mim. Eu me dizia que ele começou a desgostar de todo mundo igualmente depois que seu irmão morreu. Que não havia nada especial sobre mim. Mas não. O veneno em seu olhar contava outra história. É um milagre eu não estar envenenada só de encontrar seu olhar. Eu deveria ir. Ele não precisa mais da minha ajuda agora que encontramos a casa, e eu não quero ficar nem mais um minuto perto dele do que eu já passei. Eu quero ir para casa. Eu tenho coisas mais importantes para sofrer do que uma amizade que desapareceu anos atrás. Mas eu estou cansada de não entender. Eu cruzo fortemente os braços no meu peito. — Fala. — Falar o quê? — Ele cospe, se virando para me encarar. — Porque você me odeia. A expressão em seu rosto é de incredulidade. — Você está falando sério? — O quê? Eu deveria saber sem você me dizer? — Violet, apensa vá embora. Não consigo evitar. Minha mão se conecta com o ombro dele, dando um empurrão. — O que eu fiz para você Ryn? O QUÊ?
Ele reage instantaneamente, me empurrando tão forte que eu caio pesadamente no chão. — VOCÊ O TIROU DE MIM! Eu me levanto, furiosa e ainda lutando para não pegar uma arma. — Do que você está falando? — A única razão ‒ a única razão ‒ para Reed estar em Tip-Top Path aquele dia era para visitar você. Ele tinha que te dar uma caixa idiota que aparentemente era mais importante do que receber nosso pai em casa após dois meses de missão secreta. Ele falou que você precisava urgentemente e que vocês dois voltariam assim que ele entregasse a você. Que você viria junto pelo Tip-Top Path porque era mais rápido que ir andando. Mas você não voltou com ele, voltou Violet? Oh não. — Ryn apontou para mim. — Você o deixou sozinho para ir por aquele caminho perigoso. Aquele caminho que nós sabíamos que não deveríamos viajar sozinhos. Então, enquanto eu estava prometendo ao meu pai que seu outro filho chegaria em casa em breve, Reed estava escorregando sem ninguém para ajudá-lo, e caindo para sua morte! E é por isso que eu odeio você ‒ porque se não fosse você, ele ainda estaria aqui. Se não fosse você, ele ainda estaria aqui. O rosto de Ryn tremula na minha frente. Raiva e confusão me engasgam e fica difícil falar. — Que caixa? Eu não... ele nunca me visitou. — O quê? — Ryn diz chocado. — Claro que ele foi. Ele deve ter ido. Balanço minha cabeça. Esse é realmente o motivo de Ryn me odiar por tanto tempo? Por algo que nem aconteceu? — Não. Não tenho ideia do que você está falando. — Mas quando encontraram o corpo dele, a caixa não estava junto. Supus que ele a tinha dado a você. — Bem... — E mesmo que ele tivesse me visitado, não teria sido minha culpa ele morrer. Foi um acidente, Ryn! Ele escorregou e caiu e isso não teve nada a ver comigo. — Vi... — Não acredito que é por isso que me odeia. Você esqueceu que não era o único que se importava com ele? Que eu o conhecia a quase tanto tempo quanto você? Que meu coração se partiu tanto quanto o...
— Cala a boca! Você não o amava como... — Todo mundo o amava, Ryn, você sabe disso. Havia algo nele, algo que magnetizava as pessoas. E eu entendo que ele era seu irmão, e que vocês tinham uma ligação especial, mas vamos lá. São oito anos. Não acha que é hora de você... — Para! — A mão dele varre no ar entre nós, invocando uma rajada de vento que me força a recuar alguns passos. — Oh, você quer lutar? — E avanço sobre ele, empurrando as duas mãos no ar tão forte que a mágica o joga contra a parede. — Pode vir, Ryn, PODE VIR! Estou esperando anos por essa briga. Com um rosnado animal, ele avança em mim. Eu finto e viro meu pulso, dando um soco em seu estômago. Mas ele já está se torcendo para fora do caminho, agarrando meus ombros, forçando minhas costas contra a parede. Ele envolve o punho em volta da minha garganta, enquanto eu levanto minha perna e chuto seu peito. Um ofego pesado escapa dele enquanto recua aos tropeços. Chuto de novo, mais forte, e ele vai ao chão. Me jogo em cima dele, mas antes que eu possa mirar o soco, ele me vira, me segurando embaixo do peso de seu corpo. Eu bato com a palma da mão em seu queixo. Sua cabeça se lança para trás e eu o afasto de mim. E então estamos os dois em pé de novo, circulando um ao outro, atacando com nossas mãos e pés. Chutando, batendo, ajoelhando, arranhando. Uma regra não dita entra nós: Sem magia. Sem armas. Igualzinho o Aquário. Ryn arremete contra mim. Eu desvio do caminho, sempre mais rápida que ele. Eu giro e chuto, mas ele segura minha perna, me desequilibrando. Atinjo o chão com um grito. Antes que ele possa me prender no chão de novo, eu giro minha perna para fora em direção ao tornozelo dele e o faço tropeçar. Ele cai pesadamente e rola em minha direção. Mas eu já estou fora de alcance. Hora de fazer você correr. Disparo por entre as árvores. Cada vez mais rápido. Ele faz um bom trabalho em acompanhar, mas ele nunca vai me pegar. Eu miro na árvore que está bem na minha frente. Meu pé atinge o tronco, e por um segundo eu estou correndo na vertical. Então eu dou uma cambalhota para trás e caio atrás dele. Ele joga os braços para frente para evitar trombar contra a árvore, se vira, e me segura. Me pega de surpresa, eu não tenho tempo de desviar. Ele me levanta acima de sua cabeça, como se eu não pesasse mais do que pó de pixie, e me joga.
Como assim? Quem joga o oponente? Alguma coisa bate no meu estomago, forçando o ar para fora dos meus pulmões. Percebo que meu corpo caiu em cima de um galho. Caio no chão e tento respirar algumas vezes. Posso ouvi-lo se aproximando por trás de mim, nem se incomodando em ser discreto. No momento em que ele joga os braços em volta de mim, eu golpeio seu estomago com uma cotovelada. Ele geme. Dou um pisão em seu pé, e um coice em sua perna. Assim que ele cambaleia, eu giro e vou para cima dele de novo. Estamos no chão. Estou montada no peito de Ryn, meus dedos torcendo seu cabelo, puxando a cabeça para trás para expor o pescoço. E de alguma forma, aparece uma faca reluzente na minha outra mão, a lâmina bem próxima do pescoço dele. Eu quebrei as regras, mas estou bem longe de me importar com isso. Me inclino na sobre ele, meu rosto a centímetros de distância. — Eu poderia te matar. — Digo entre dentes. Uma risada sem humor escapa de seus lábios. — Não se eu matar você primeiro. — Ele diz entre respiração pesada e outra. Tomo ciência de uma ponta afiada pressionando a lateral do meu corpo. Acho que ele quebrou as regras também. — Então me mate, — digo. — Isso não trará Reed de volta. E não te deixará feliz. Você sempre soube que não era minha culpa, você só precisava culpar alguém. Eu esperava que ele enfiasse a lâmina em mim, mas ele não se mexe. Nem eu. Uma criatura noturna gorjeia próxima a nós, e as folhas acima sussurram em protesto quando uma brisa as perturba. Percebo que consigo sentir sangue em minha boca, e possivelmente areia. Apesar disso, eu não desvio olhar, nem ele. — Você está uma bagunça, — ele diz eventualmente. — Você também. — Seu lábio inferior está cortado, e há arranhões em um lado de seu rosto. Galhos e folhas desarrumam seu cabelo. Tem lama manchando a parte de cima de sua sobrancelha. Mas antes que eu possa apontar tudo isso, sua lâmina desaparece e Ryn começa a rir. Rir. Porque essa é realmente a reação mais apropriada. — Tem alguma coisa engraçada? — exijo. — Foi uma boa luta, — ele diz. — Nós deveríamos ter feito isso anos atrás.
— Bem, — eu digo, deixando minha faca desaparecer e saindo de cima dele, — fico feliz que um de nós gostou da experiência. — Apesar de que, se eu for completamente honesta comigo mesma, eu também gostei. Foi certamente uma mudança prazerosa ter um oponente que eu não consegui derrubar em dois minutos de luta. Eu me levanto e passo os dedos pelo meu cabelo, removendo folhas e outros detritos da floresta. Ryn levanta e vai em direção a bolsa dele. Ele senta, e ele franze as sobrancelhas. — Por que nunca nos colocaram no Aquário juntos? — Provavelmente porque alguém tenha pensado que você poderia me matar. Ele olha para cima e levanta uma sobrancelha. — Talvez que você poderia me matar. — Ei, foi você quem começou todo esse lance de rivalidade para ficar em primeiro lugar. — Tento encará-lo por mais alguns minutos, então cruzo meus braços e suspiro. — Okay, talvez eu tenha dito a Tora uma vez que eu pensei que você me odiava tanto que você queria me matar. Ela disse que eu estava exagerando, claro, mas acho que ela tem manipulado o cronograma desde então. — Entendo. — Ryn desenrosca uma pequena garrafa e derruba um pouquinho em seu lábio cortado. — Então isso explica por que nunca fomos colocados em par nas missões. — Sim. — O que teria sido desastroso. — De fato. Ryn procura seu kit de emergência por mais alguma coisa, o que me lembra que eu tenho que chegar em casa para as minhas próprias poções de cura. Adrenalina está diminuindo, me deixando ciente dos cortes doloridos em meu rosto e braços. Ryn olha para cima e me pega olhando para sua bolsa. — Você não está esperando que eu vá dividir, está? Wow, que cavalheiro. — Claro que não. Eu ficaria esperando um bom tempo por isso. — Levantei uma mão e me recostei na árvore mais próxima. — Não, eu estou esperando para ver como você planeja passar do muro reforçado com mágica. — Não consigo evitar, estou curiosa.
— Bem, que tal eu surpreender você com minha generosidade... — ele joga a garrafa que ele acabou de usar em minha direção — e então deslumbrar você com minhas habilidades de conquistador de muros. Eu pego a garrafa e a jogo de volta. — Obrigada, mas tenho minhas próprias poções. Ryn encolhe os ombros. — Tanto faz. — Ele guarda tudo e levanta. — Obrigada pela luta, V. Sinta-se à vontade para ir embora agora. Obrigada pela luta, V. Ao som de meu antigo apelido, algo se aperta dolorosamente no fundo do meu ser. Eu costumava ouvir o tempo todo, mas então Reed morreu, e Ryn parou de falar comigo, o que significa que a última pessoa que me chamou de V foi... meu pai. Ryn franze a testa e abre a boca, mas então hesita, como se pensasse duas vezes sobre o que ele ia dizer. — Um... eu só vou abrir um portal pelo caminho das faeries e sair em algum lugar do outro lado desse muro. Não vejo porque não funcionaria. Aceno, não confiando em mim mesma para falar com o despertar de lembranças inesperadas do meu pai. Ryn vira o rosto para a parede e pega sua stylus de um bolso na lateral de sua bolsa. — Ryn? — Chamo antes que ele abra o portal. Eu espero ele olhar para mim. Mesmo com a fraca luz da lua, eu consigo ver a intensidade do azul em seus olhos. — Você ainda me culpa? — Seus olhos se desviam dos meus e coçam em algum lugar longe. Ele não responde, o que é resposta suficiente. Claro que ele ainda me culpa. Uma luta mais uma conversa quase civilizada não são iguais a mudança de pensamento. — Foi um acidente, Ryn. — Por que ele não consegue superar isso? — Um acidente que não aconteceria se não fosse você, — ele fala baixinho. — Você era a pessoa que ele estava indo visitar. — Essa é uma lógica ridícula. Meu pai morreu quando estava em uma missão, então eu devo culpar a Guilda por sua morte? — De novo, Ryn não responde. — Ou talvez deva culpar seu melhor amigo e parceiro que deixou a Guilda e não estava lá para protegê-lo. Os olhos de Ryn se estreitam. — Você não pode culpar meu pai pela morte do seu.
— E você não pode me culpar pela morte do seu irmão. — Tento sustentar seu olhar, mas eu chego em um ponto que já estou muito cansada. Balanço minha cabeça, quebrando o contato. — Vai. Ache a sua irmã. Talvez eu veja você no Aquário antes de nos formarmos.
Capítulo 22 Três segundos depois de Ryn fechar a porta atrás dele, um alarme dispara. É um guincho horrível que lamenta alto o suficiente para causar uma dor física nos meus ouvidos. Aumenta e diminuí como uma sirene, e toda vez que diminui, eu posso ouvir gritos e sons de uma luta. Eu fecho meus olhos. Fantástico. Agora eu tenho que resgatar Ryn. Eu rabisco no tronco da árvore ao meu lado e entro no espaço se abrindo, tentando imaginar o outro lado da parede. A escuridão se dissolve e saio no meio das árvores, procurando imediatamente a fonte da sirene. Não muito longe, vejo Ryn e três homens uniformizados. Dois estão o segurando, enquanto o terceiro levanta as mãos e libera um pulso de magia. Ryn se dobra com um grito de dor à medida que a força o atinge. Levanto meus braços e mando uma chamada mental para o meu arco e flecha. Eu aponto e solto. Um, dois, três. Os homens estão caem antes de qualquer um ter tempo para perceber o que está acontecendo. Afasto o arco e corro para Ryn, que agora está ajoelhado junto aos três guardas caídos. Pego seu braço assim que um dos guardas se empurra e se lança sobre mim. Eu o chuto no peito, então aponto para outro guarda que está alcançando meu tornozelo. Libero um fluxo de fogo. Com um grito de dor, o guarda se afasta de mim. Eu me agacho, escrevo um portal no chão e puxo Ryn depois de mim. Momentos depois, nós pousamos na minha sala de estar. Meus ouvidos ressoam no silêncio que nos cumprimenta. — Bem, isso foi incrivelmente fácil. — Eu deslizo minha stylus de volta para minha bota. — O dono desse lugar precisa encontrar melhores guardas.
Ryn fica no chão por um tempo, respirando profundamente conforme ele se recupera do pulso de magia. — Por que você... me trouxe de volta? — Ele pergunta. — Eu poderia ter... Lidado com eles. — Certo. — Eu nem vou me preocupar em responder a isso. — Então você descobriu onde eles estão mantendo sua irmã, descobriu uma maneira de entrar na propriedade, e estou muito cansada e gostaria de ir para a cama. — Você está cansada? — Ryn levanta. — Você esteve dormindo nos últimos dois dias. — Sim. E agora é uma hora ridiculamente cedo da manhã, e eu sinto que eu gostaria de dormir um pouco mais. Ryn balança a cabeça. — E você se chama de guardiã. — Na verdade, não. Ainda estou em treinamento. — Bem, graças a você, pequena aprendiz, agora tenho que encontrar outro caminho nessa parede. Espero que você durma bem esta noite. — E com isso ele se vira e se afasta de onde estamos de pé. Eu olho para o pedaço de parede nua por um tempo depois de fechar. Sozinha novamente. Ninguém para me distrair. Eu dou alguns passos para trás e me sento na mesa baixa. Coloco minha cabeça em minhas mãos. As lágrimas vêm fáceis, como se a barreira que as segurava fosse frágil. Nate. Nate. Nate. Nate. O que ele está fazendo agora? Onde ele está? Ele está pensando em mim? Ou ele está dormindo pacificamente, sem sentir um pingo de culpa por ter me traído? Lentamente, mal conseguindo ver minhas lágrimas, eu vou para o andar de cima para o meu quarto. Minhas botas se desamarram e eu as retiro. Eu subo na cama sem me preocupar em trocar as minhas roupas e durmo pensando em Nate. ***
No meu sonho, eu estou subindo uma árvore. Eu sei que estou realmente alto e sei que não estou sozinha. Busco os galhos acima de mim e, através do crepúsculo, vejo um garoto. Dez ou onze anos de idade, cabelo preto e azul, e olhos brilhantes como o oceano no verão. Eu tento manter o ritmo com ele, mas há uma bolsa nas minhas costas que me leva para baixo. — Espere, Reed, não consigo escalar tão rápido. Ele para e olha para mim. — Você quer passar a sua bolsa? Não me importo de levar as duas. — Não, só estou dizendo para ir mais devagar, só isso. — Apenas dê a bolsa, boba, — Ryn diz de algum lugar abaixo de mim. — Você está nos atrasando. — Eu sinto um puxão, e então o peso da bolsa desaparece. Um momento depois, navega no ar ao longo da minha cabeça e Reed a pega. Com uma piscadinha, ele volta para o galho acima dele. Quando chegamos ao buraco criado pelos galhos mais altos da antiga gargan, Reed coloca um cobertor. — Você trouxe os lanches, certo? — Ele diz a Ryn. — Claro. Você acha que eu vou escalar todo o caminho até aqui e não ter nada para comer no final? — Uh, eu tenho certeza de que é o que aconteceu na última vez, — eu digo, depois grito quando ele revida me fazendo cócegas. — Ei, vamos lá, você está esmagando a comida, — diz Reed. Ele tira a bolsa das costas de Ryn. — Será legal quando tivermos idade suficiente para usar os caminhos das faeries. Vai demorar muito menos tempo para chegar aqui. — Você ainda vai querer vir aqui quando tiver idade suficiente para usar os caminhos? — Pergunto. — Sim, tenho certeza que vou. — Ele sorri e o sorriso que eu retorno é imediato. Estou sempre sorrindo perto de Reed. Há apenas algo nele. — Eu acho que sei como usar os caminhos das faeries, — diz Ryn, deitado e colocando uma mão atrás de sua cabeça. — Eu tenho prestado atenção quando mamãe e papai nos fazem passar. Aposto que se pegarmos uma stylus, poderíamos conseguir. — Sim, mas sua mãe nos mataria se descobrisse. — Eu desembrulho um pirulito de arco-íris e coloco na minha boca.
— Ela também nos mataria se soubesse que estamos subindo esta árvore à noite. — Ou a qualquer hora do dia, — acrescenta Reed. Eu percebi que ele está batendo os dedos contra a madeira na borda do cobertor. Eu espero meu pirulito passar um arco-íris cheio de sabores antes de removê-lo da minha boca. — Por que você está fazendo isso? — Pergunto a Reed. — Estou testando para ver se está vazio. O que você acha, V? — Ele bate mais alto. Abro os olhos. Eu rolo, tentando segurar os fragmentos que se dispersam rapidamente do sonho. Eu estava feliz lá, e embora eu não consiga me lembrar do porquê, eu sei que não estou feliz aqui. O que aconteceu? Tinha algo a ver com... Nate. Eu gemo e puxo a coberta sobre minha cabeça, mas a batida não para. — Tudo bem, — eu grito. Eu jogo a coberta para trás e olho para a claraboia encantada no teto acima da minha cabeça. Há muita luz passando. E ainda não é o fim de semana, o que significa... Caramba, estou atrasada para treinar. E ainda há um idiota batendo na minha porta. Eu vou para o andar de baixo, sem me preocupar com minha aparência. Passo a mão pela parede e fico na porta com as mãos nos meus quadris. — Finalmente, — diz Ryn. Ele me empurra antes de poder dizer uma palavra. — Oh, claro, — eu murmuro. — Sinta-se livre para entrar. — Deixei a porta selar e vou para a cozinha. — O que você quer agora? Outra verificação da localização da sua irmã? — Sim, entre outras coisas. — Ele senta-se na mesa da cozinha enquanto encontro alguns pedaços de frutas, as jogo em um copo e digo-lhes para se misturem. — Eu fiz alguma investigação depois que eu saí daqui. Acontece que a mansão pertence - espero - ao filho mais novo da Rainha Unseelie. Sentei em frente a ele. — Uau. Eu não teria adivinhado isso. Por que ele tem uma casa humana? E como exatamente você descobriu isso? Ryn dá de ombros. — Eu tenho amigos em lugares ruins.
— Eu tenho certeza que tem. — Paro o mini redemoinho que está acontecendo no meu copo e tomo um gole da vitamina. — Então você não dormiu desde que saiu daqui? — Não. De qualquer forma, descobri outra coisa. Algo perfeito. Há uma grande festa acontecendo lá neste fim de semana - é o aniversário de primeiro século dele ou algo assim - e começa esta noite com um baile de máscaras. — Certo. E isso é perfeito porque exatamente? Ryn se inclina para frente. — Quão fácil seria sequestrar um dos convidados e tomar seu lugar? E é um baile de máscaras, o que significa máscaras. Eu poderia manter meu rosto escondido o tempo todo. — Ótimo plano. Mas eu ainda não vejo por que você está sentado na minha cozinha me contando sobre isso. — Uh, sim. — Ele olha para o colo dele. — Assim... Parece que esse é o tipo de coisa que você tem que ter um parceiro. Eu seria altamente visível se eu chegasse sozinho. Fecho meus olhos e solto um longo suspiro, porque eu posso ver exatamente onde isso está indo. — Você quer que eu vá com você. — Sim. Alguns dos convidados são humanos, por isso deve ser fácil encantá-los para dormir ou algo assim antes de chegarem. Então podemos pegar seu convite e suas máscaras, e seu motorista pode nos levar diretamente para a porta da frente. Espero que quem verifique os convites não saiba como todos parecem, mas podemos colocar as máscaras apenas no caso. Então, uma vez que estivermos dentro, só precisamos encontrar Calla e pegá-la. — Ele faz uma pausa. — Você parece terrível, a propósito. Espero que você possa corrigir isso antes da noite. Eu cruzo meus braços. — Que encantador você. Posso ver por que todas as garotas gostam de ficar à sua volta. — Na verdade, eu preferiria que não o fizessem. — E por que exatamente? — A vida é mais fácil dessa maneira. Então você vai me ajudar ou não? Eu balanço a minha cabeça com descrença. — Você certamente sabe como apresentar uma oferta da maneira menos atrativa possível.
Ele franze os lábios, considerando por um momento. Então ele diz, —Eu salvei sua vida, lembra? — Certo, tudo bem. Eu o ajudarei a salvar sua irmã. E então estamos quites, certo? — Certo. Eu me empurro para longe da mesa e me levanto. — Então essa coisa é apenas a noite, o que significa que eu ainda posso conseguir fazer algum treinamento hoje. — Não, significa que você tem o resto do dia para fazer um vestido de baile. Um vestido de baile. Fan-tás-ti-co. ***
Não posso fazer isso. Não consigo fazer um vestido de baile. Foi difícil mudar a cor do meu vestido e roupas íntimas para o meu encontro com Nate, mas agora eu deveria pegar um pedaço de tecido e transformá-lo em um vestido inteiro? Não ia acontecer. Então, enquanto Ryn passa o dia em casa recuperando o sono, eu passo o meu alternando entre o lutar com o estúpido pedaço de tecido e deitada na minha cama, folheando os antigos livros de poesia da minha mãe. Espero que as palavras dos antigos poetas me distraiam dos meus três maiores Problemas da Vida: Um, eu fazer alguma coisa. Dois, meu ex-namorado recentemente quebrou meu coração. Três, estarei arriscando minha vida mais tarde para ajudar a pessoa que mais desgosto no mundo inteiro. Eu lido muito bem com os números um e três, mas, considerando que muitos dos poemas são sobre amor, não consigo me livrar do número dois. Quando os raios do sol finalmente desaparecem da minha claraboia e eu escuto uma batina no andar de baixo, estou na minha quinta ou sexta tentativa de modelar roupas. Meu ‘vestido de baile’ atualmente se assemelha a um roupão de banho estrangulado que teve uma briga com um par de tesouras e, em seguida, tornou-se amigável com um avestruz. Pelo menos acho que são penas. Não tenho certeza, pois certamente não planejei que estivessem lá.
Fico de pé na escada e abro para Ryn, então corro de volta ao meu quarto e coloco o vestido debaixo da minha cama. Eu torço um pedaço de cabelo ao redor do meu dedo. Então isso é o que os em treinamento sentem quando não completam a tarefa de casa a tempo. Oh, inferno. Ryn vai me matar. Por que não pedi ajuda a Raven? Tenho certeza de que poderia ter inventado uma razão convincente para o porquê eu preciso de um vestido de baile. A porta do meu quarto se abre e lá está Ryn, irritantemente bonito em um terno. — Você ainda não está pronta. — Você não bate? Eu poderia estar nua. — Você teria gritado ou algo assim. Agora, apresse-se, já estamos atrasados. Hora de confessar. — Eu não posso ir a lugar nenhum até ter algo para vestir. — O quê? Você ainda não fez o vestido? O que você tem feito o dia todo? Eu atiro minhas mãos para cima. — Eu não sou uma expert em roupas, tudo bem. Tenho zero habilidades nessa área. — Bem, tanto quanto eu gostaria de regozijar que finalmente encontrei algo que a grande Violet Fairdale não pode fazer, eu realmente não tenho tempo agora. E você poderia ter me falado sobre esse problema mais cedo. — O que exatamente você teria feito sobre isso, Ryn? Fazer o vestido sozinho? — Apenas fique pronta, droga! — Ele grita. — Eu não posso se você estiver no meu quarto! — Grito de volta antes de fechar a porta na sua cara. Eu vou me preparar, tudo bem. E eu vou andar por aí vestindo minha toalha de banho multi-fenda e de pena se eu tiver. Eu paro na frente do meu espelho e conjuro alguns grampos de cabelo. Eu separo meu cabelo em várias seções e o torço e os coloco na minha cabeça. Nada espetacular, mas terá que servir. Como uma reflexão tardia, adiciono uma pequena flor ao final de cada grampo. Maquiagem. Hmm. Minha mãe nunca estava por perto para me ensinar quaisquer feitiços, mas eu vi Raven tocar o seu rosto com bastante frequência para saber o básico. Testei o feitiço para o pó e assisto enquanto uma camada fina cobre meus dedos. Ótimo, pelo menos eu posso entender isso. Eu toco minhas mãos sobre o meu rosto, troco a cor para um rosa para as minhas bochechas e aplico
batom no final do meu dedo. Estou realmente começando a me divertir pintando meu rosto quando ouço uma batida na minha porta. Eu abro para encontrar Ryn segurando um vestido preto e prateado que parece melhor do que o que está escondendo sob minha cama. — De onde veio isso? Da sua caixa de vestimenta particular? Ryn empurra o vestido para os meus braços. — Digamos que eu emprestei. — E você não pensou em emprestar um vestido para mim esta manhã? — Eu pensei que você não aprovaria o empréstimo. — Se emprestar significa roubar, então não, eu não aprovo. — Então eu vou devolver quando você terminar com isso. Agora basta colocá-lo. Eu fecho a porta – com menos força desta vez - e coloco o vestido na cama. Na verdade, são duas peças. O corpete é preto com finos detalhes prata e a saia é feita de algum tecido coberto de padrões de preto e prata. Eu me inclino para pegar algo que caiu no chão e encontro um par de luvas pretas que vão até o cotovelo. Antes de entrar no vestido, recupero meu kit de emergência da minha bolsa de treinamento. Talvez eu não saiba como fazer roupas, mas me ensinaram a redimensionar as coisas para serem facilmente carregadas durante uma tarefa. Em menos de dez segundos, meu kit de emergência é do tamanho de uma uva. Pego minha bota direita e clico em abrir o compartimento escondido na sola. E coloco meu kit de emergência. Então eu transformo os meus saltos lisos em algo mais alto. Não é o mais elegante dos sapatos, mas não planejo ninguém olhando debaixo da minha saia. Cinco minutos depois, abro a porta. Ryn limpa a garganta. — Uau. Quem teria pensado que você poderia parecer uma dama? — Eu me permito um sorriso malicioso. O que ele não sabe é que debaixo disto estou usando shorts, botas e uma faca amarrada em cada perna. Dama, minha bunda. Ryn franziu o cenho. — Você precisa de mais decote. — Não preciso de mais decote. — Só um pouco. — Ryn. — Olha, só estou dizendo que seria mais fácil passar pelo cara na porta, se você tivesse um pouco mais de peito para piscar para ele.
— E se for uma menina que está na porta? Ele me dá um sorriso arrogante. — Bem, nós temos essa parte garantida, não temos? — Eu cruzo meus braços e o olho para ele. — Aí, perfeito! — Ele diz, apontando para o meu peito. — Agora mantenha os braços cruzados. Eu gemo enquanto forço meus braços para os meus lados. — Podemos ir agora? Oh, espere. Apenas mais uma coisa. — Eu me apresso de volta ao meu quarto para a pequena mesa ao lado da minha cama. Não usei o disco grifo desde que Nate e eu voltamos do labirinto, mas algo me diz que talvez eu precise dele hoje à noite. Abro a gaveta. O disco grifo sumiu.
Capítulo 23 — Ugh! — Eu chuto o chão com o meu calcanhar recém-transformado. — Esse ladrão traidor! — Nate deve ter pegado o disco na mesma noite em que voltamos do labirinto. Por quê? Para dar a Zell? Para usar ele mesmo? — Violet? Algum problema? Agora, definitivamente, não é o melhor momento para refletir sobre as motivações de Nate. — Não. Tudo está malditamente bem. Vamos. — Eu fecho a gaveta com tanta força que a mesa bate contra a parede. Conto lentamente até cinco antes de me virar. Ryn já abriu um portal no ar e está batendo o seu pé com impaciência. Pego sua mão estendida e entro no vazio com ele, fazendo o meu melhor para manter minha mente vazia. À medida que a escuridão dos caminhos das faeries se dissolve, acho que estamos de pé ao lado de uma estrada alinhada de cada lado com árvores altas. Muito acima de nós, elas atravessam a estrada para se tocar, como mãos juntandose para formar um túnel. Na base de cada árvore há uma pequena luz. — Esta é a estrada que conduz à mansão, — diz Ryn. — Tudo bem. Então agora esperamos que alguns convidados humanos passem e emboscamos eles, certo? — Feito. — Ryn passa por mim para árvores. Giro, mas não posso fazer nada até sair a poucos passos da estrada. Então vejo a borda preta elegante de um carro saindo de um mato. — Quando você fez isso? — Logo antes de chegar à sua casa esta noite. Fiquei no meio da estrada e acenei os braços como um idiota. Depois que o motorista parou, eu o atordoei e joguei uma daquelas bombas para dormir na parte de trás para colocar os dois convidados para dormir.
— Você desperdiçou energia para atordoar alguém? — Ele é humano; quase não me esforcei. Eu acho que usei mais energia movendo a limusine para as árvores. — Ryn passa por mim e abre uma das portas. — Suba, — diz ele. — E coloque sua mente nos corpos. Inclino um pouco e olho dentro do carro. O interior é longo e espaçoso, com bancos de pelúcia, várias telas de televisão e um compartimento cheio de bebidas e óculos. No chão do veículo estão dois humanos inconscientes. Eu me endireito. — Eu não me sinto bem sobre isso, Ryn. Talvez você devesse ter ido à Guilda e dizer a eles o que você sabe. Eles podem lidar com isso da maneira oficial. — A maneira oficial? Você sabe quanto tempo a maneira oficial levaria? Estamos lidando com membros da Corte Unseelie, e você sabe que existe um equilíbrio delicado entre as cortes. A Guilda teria que ser extremamente cuidadosa para não chatear esse equilíbrio, e no momento em que passarem por todos os canais certos, qualquer coisa poderia ter acontecido com Calla. — E o que você vai dizer quando a deixar em segurança em casa e todos quiserem saber como e onde a encontrou? — Eu não sei, vou descobrir uma história. No momento, tudo o que me interessa é encontrá-la. Coloco minhas mãos nos meus quadris e olho para o chão. Se eu tivesse uma irmã mais nova e ela estivesse desaparecida, eu certamente não esperaria que a Guilda a encontrasse. Então quem sou eu para dizer a Ryn que ele deveria estar fazendo algo diferente? Decisão feita, seguro minha saia e entro no carro. — Ok, aqui está o convite. — Ryn me entrega um cartão ornamentado. — Não o perca. E aqui está uma máscara para você. Estarei no compartimento da frente, certificando-me de que o motorista fará o que lhe disse. — O que você... — na verdade, não importa. Não acho que eu queira saber. — Fecho a porta e leio os nomes no convite. Anton e Julia de Rossi. Eu me pergunto como eles se envolveram no mundo dos fae. É contra a Lei, é claro, mas os membros da Corte Unseelie não parecem se preocupar muito com coisas como leis. Ouço uma exclamação de surpresa na parte da frente, seguida de uma voz baixa. Com um impulso, o carro começa a se mover para trás. Seguro na alça da porta para me impedir de deslizar pelo assento. É a minha primeira vez dentro de
um carro, e me parece um método de transporte desajeitado e demorado. Fico feliz que eu tenha caminhos das faeries para viajar. As luzes e as árvores deslizam rapidamente quando o carro passa pela estrada. Olho para a máscara no meu colo. É uma forma simples que cobre apenas os olhos. As penas salientes do topo me fazem lembrar da monstruosidade da moda que criei anteriormente. Coloco-a no meu rosto e amarro as fitas atrás da minha cabeça. Vou tentar não me imaginar como um avestruz. Em pouco tempo, nós dirigimos através de um portão. Eu me torço no meu assento para olhar para trás e ver a forma de um dragão sentado sobre os dois pilares que flanqueiam o portão. O carro diminui conforme dirigimos para uma fonte e paramos em frente à entrada principal da mansão. Um faerie masculino avança e abre minha porta, depois dá um passo para trás quando eu saio do carro. Um olhar de confusão cruza seu rosto quando vê Ryn sair da frente. Oops. Isso obviamente não é feito por aqui. — Querida, sinto muito, — diz Ryn, vindo em minha direção. — Não vamos mais brigar. — Ele coloca uma mão na minha cintura e beija levemente minha bochecha. Eu luto contra o desejo de me afastar dele, porque Ryn me beijando é simplesmente estranho. Ele engancha o meu braço através do dele enquanto subimos a escada até a entrada, e é nesse ponto que percebo exatamente o que estamos fazendo. Estamos de boa vontade nos cercando de inimigos da Guilda e da Corte Seelie. Se alguém descobrir quem somos realmente, não poderemos sair daqui. — Você, não ouse entrar em pânico, — murmura Ryn, como se estivesse sentindo meus nervos através da minha pele. — É o que você está treinando para se tornar. Isto é o que os guardiões reais fazem. Eu coloco um sorriso no meu rosto enquanto nós chegamos à porta. A faerie que está atrás do púlpito conversa com um casal vestido de preto. — E não se esqueça da regra de não mágica, Sra. Hawthorne, — diz ele. A mulher ri. — Não há como esquecer essa regra. Fiquei mais do que um pouco envergonhada na última vez quando tentei conjurar um copo de vinho e aquele alarme terrível disparou. Eu aperto o braço de Ryn e ele acena com a cabeça. Um alarme mágico. Bom, eu trouxe algumas facas reais. Avançamos quando a faerie estende a mão
para pegar o nosso convite. — Sr. e Sra. De Rossi, boa noite. — Ele faz uma marca com a stylus na página na frente dele, então sorri falsamente para nós. — Vejo que vocês pintaram seus cabelos em homenagem à ocasião. — Ele pisca conforme o braço de Ryn tenciona ligeiramente. — Vocês vão se encaixar aqui. Merda. Nossos cabelos. Nem pensei nisso. Antes que eu possa dar mais atenção ao assunto, somos conduzidos através de um saguão de entrada e para um salão de baile lotado. Meus sentidos são imediatamente assaltados. Cores, penas, brilhos. Máscaras de todas as formas e tamanhos. Vestidos feitos de chamas, fumaça, água. Uma centena de perfumes enche o ar. Os casais se agitam perfeitamente sobre a pista de dança. Um quarteto de cordas, posicionado em uma plataforma de um lado da sala, toca uma melodia tão irresistível que até eu sinto um desejo instintivo de dançar. — Foco, — diz Ryn. Ele toca a pulseira no meu pulso. — Calla ainda está no mesmo lugar? Nós vagamos casualmente pela borda da sala enquanto eu mando minha mente para encontrar a garotinha. Quando olho através dos olhos dela, vejo a mesma sala. Ela está encostada na porta. Ouvindo. Ela pode ouvir a música no andar de baixo. — Sim. E ela ainda está sozinha. Ela está sozinha toda vez que eu a procuro. Ryn assente. — Faz sentido. — O que você... — eu paro. Eu encaro fixamente. A cerca de dez pessoas longe de mim, de pé um pouco mais alto do que todos os outros, e sem máscara cobrindo o rosto, está Nate. A súbita onda de emoções que me bombardeiam se condensa em uma dor física. Meu coração, meus pulmões, meu estômago. Tudo dói. Ryn vira para mim, pressionando uma mão em seu peito. — O que aconteceu? — Eu não posso responder. Não consigo respirar. Tudo o que posso fazer é olhar por seu ombro para a pessoa que eu gostaria de bater e simultaneamente, gritar e abraçar. Ryn segue meu olhar. — Ah. Entendo. A expressão de Nate está mal-humorada. Seus braços estão cruzados sobre seu peito enquanto ele examina o salão do baile. Eu observo conforme uma menina se aproxima dele. Ela traça um dedo pelo braço dele. Quando ela sussurra no seu
ouvido, sua expressão se torna suave. Quando ela se afasta dele, um sorriso sensual em seus lábios, eu a reconheço. Scarlett. Algo ferve dentro de mim. Como ele ousa? Ele está com ela? Sem outro pensamento, parto em sua direção. Mas eu quase não dou dois passos quando Ryn agarra minha mão e me puxa para dentro de seus braços. — Não tão rápido, Pixie Sticks, — ele diz, girando graciosamente para a multidão de dançarinos. — Você não pode correr atrás do garoto mestiço. Isso estragaria o plano. Ryn está certo, é claro. O que me enfurece ainda mais. Droga. Por que Nate tem que estar aqui? Eu deveria poder esquecê-lo hoje à noite. E se ele está aqui, isso significa que Zell também está aqui? — Você o ama? — Pergunta Ryn. Meus pés quase param de dançar. — O quê? — Você o ama? Quero dizer, você não o conheceu há muito tempo, mas sua reação agora foi bastante intensa. Eu forço meus olhos sobre o ombro de Ryn e decido não responder. Talvez ele entenda a mensagem e cale a boca. — Se eu tivesse que adivinhar, eu diria que não. — Continua Ryn. — Você não é o tipo de pessoa que se apaixona aleatoriamente. Você é muito... Meus olhos disparam para o dele. — Muito o quê? — Bem, você sabe, emocionalmente fechada. — Eu vou fechar emocionalmente cada orifício no seu rosto se você não se calar sobre isso agora. Ele ri. — Isso nem tem sentido, V. Eu piso intencionalmente no pé dele. — Você não quer se concentrar em outra coisa, Oryn? — Estou me concentrando, V. Eu estou focado esse tempo inteiro. É chamado de multitarefa. Talvez você tenha ouvido falar nisso? — Eu reviro meus olhos. — Por exemplo, notei que há guardas em pé em certas portas que levam para fora desta sala. Percebi que ninguém entra ou sai dessas portas. Eu notei que alguns desses guardas ficam extremamente distraídos quando uma linda garota passa por eles. E... Atualmente percebo que alguém importante está descendo aquela grande escadaria. Deve ser o próprio aniversariante. — Ryn me gira para
que eu possa ver de quem ele está falando. Meus olhos focam nos cabelos vermelhos e meu coração para de frio. Eu tropeço nos meus próprios pés. — Zell, — eu sussurro horrorizada. Ryn diz alguma coisa, mas não ouço. A música desaparece e os dançarinas pararam. Zell começa a falar. Algo sobre celebrações e amigos especiais e um monte de blá, blá, blá sobre o qual não posso me concentrar, porque ainda estou tentando assimilar isso. Zell é um Príncipe Unseelie? Sério? Eu quase morri tentando escapar desse cara, e agora eu andei diretamente para dentro de sua casa? Olho para o chão tentando ocultar a metade inferior do meu rosto. Graças a Deus eu sou pequena. A música começa a tocar, as pessoas começam a se mover novamente, e Ryn me puxa para o limite da sala. Ele tropeça e bate em um casal dançando, enviando a garota voando. O guarda mais próximo entra em ação para pegá-la. Enquanto a atenção de todos está na garota, Ryn e eu nos deslocamos pela porta agora desprotegida. Nós nos apressamos pelo corredor e para fora de vista antes de Ryn parar e me encarar. Ele tira a máscara dele. — Você conhece esse cara? O Príncipe Unseelie? — Sim. Ele está atrás de mim. — Eu removo minha própria máscara. — Sabe, porque eu posso encontrar pessoas. Pelo menos acho que é por isso que ele me quer. — Eu olho para o chão e adiciono calmamente, — Foi para ele que Nate me entregou dentro da montanha. — Como ele sabe o que você pode fazer? — Eu não sei. Ele de alguma forma sabia que havia alguém na Guilda que poderia encontrar pessoas. Acho que Nate disse que sou eu. Ryn suspira. — Ok, vamos encontrar Calla e sair daqui. Eu giro o bracelete ao redor do meu pulso e envio minha mente. Nada. Eu engulo, respiro fundo e tente novamente. Nada ainda. Não, não, não. Vamos lá, tem que haver alguma coisa. Mas não existe. — Eu... Não estou sentindo nada. — O que você quer dizer? — Eu não posso senti-la. Não estou obtendo nada. Posso ver o pânico nos olhos de Ryn. — Então o que isso significa? Ela está dormindo?
— Não. Eu ainda sinto as pessoas quando elas estão dormindo. — Então? — Ele agarra meus ombros. — O que, Violet? Conte. — Hum... Eu acho que isso pode significar... — Não posso dizer isso. Não posso dizer a Ryn que acho que sua irmã está morta. Eu nem sei como falar as palavras. Eu não tenho que falar, porque ele descobre. — Não. — Ele balança a cabeça. — Eles não a matariam. Eles não matariam. Não faz sentido. — Ele se afasta de mim. — Tente de novo. Eu tento, mas ainda não sinto nada. Não posso senti-la. É como quando perdi Nate no labirinto. Exceto... Nate ainda estava vivo. — Talvez ela não esteja morta, — digo. — Talvez ela esteja sendo magicamente escondida ou algo assim. — Magicamente escondida? Isso é até possível? — Eu não sei. Eu... — Ela não está morta. Ela não pode estar. — Ele se vira e se dirige ao corredor. — Onde você vai? — Encontrar a sala onde você a viu. — Espere, Ryn, você nem sabe o caminho a seguir. — Eu me apresso atrás dele, tentando não tropeçar na minha saia. Ele para. — Você sabe? Você consegue encontrar a sala, mesmo que ela não esteja mais nela? — Eu... eu acho que sim. Eu procurei por Calla tantas vezes hoje que provavelmente poderia encontrar esse quarto apenas por como a memória se parece. — Ok, então, faça. Levanto a barra da minha saia e começo a andar. É uma coisa estranha, seguir o perfume de um pensamento. Uma memória. Uma sensação. É como um puxão. Como a gravidade, de certa forma. Você pode fechar os olhos e girar de cada uma das maneiras que você quiser, mas quando você parar, você ainda pode sentir o caminho que está abaixo. Viajamos por corredores, por escadas, por salas e mais corredores. Temos que nos esconder duas vezes. Primeiro atrás de uma cortina de miçanga, e depois atrás de um sofá em uma pequena biblioteca. Ryn não diz uma palavra, mas posso
dizer que ele está perto do desespero. Ele está segurando uma faca que deve ter sido escondida em seu corpo em algum lugar, e eu sei que ele não hesitará em usála em qualquer um que tentar detê-lo. — Eu acho que está aqui, — digo quando entramos em um corredor mais largo. — Um... esta. Não — Eu me movo para a porta ao lado — essa. — Você tem certeza? — Sim, é definitivamente essa. Ryn tenta a maçaneta; A porta se abre facilmente. Não é um bom sinal. Lentamente, ele empurra a porta todo o caminho para trás para revelar a sala. Não há luz além do brilho da lua através da janela, então eu sinto o cheiro antes de ver. Sangue. Uma piscina de sangue no chão de madeira, manchado por pequenas impressões de mão. E na cama, uma camisa pequena e amassada. Calla não está.
Capítulo 24 As mãos de Ryn começam a tremer. Ele faz um ruído estrangulado que parece ‘não’. Sua faca bate no chão, e suas mãos puxam seu cabelo. Meu cérebro olha a evidência e busca desesperadamente uma conclusão diferente. Talvez não seja seu sangue. Ou se for, talvez ela esteja ferida e não morta. Mas isso é muito mais sangue do que uma criança pequena pode perder, e junto com o fato de que eu não posso mais senti-la... Bem, eu estou lutando para chegar a qualquer outra conclusão além da que Ryn claramente chegou. Ele pega a camisa da cama e pressiona-a no rosto. Os ombros dele começam a tremer. Vi meu pai chorar uma vez, depois de recebermos a notícia de que Reed havia morrido. Havia algo terrível com suas lágrimas. Eu o conhecia como forte e destemido, e me assustou perceber que existiam algumas coisas que poderiam acabar com ele. Isso é como ver Ryn chorar. É errado. Ele deveria ser o cara malvado. O cara que é fácil odiar. O cara com o qual eu troco insultos casualmente porque sei que não importa o que eu digo ou faça, nada pode penetrar a armadura que ele construiu em torno de si mesmo. Testemunhar seu desgosto simplesmente não parece certo. Ele tropeça em volta do outro lado da cama e desliza para baixo com as costas contra ela. Os ombros dele continuam a tremer conforme ele enterra seu rosto nas mãos. Fecho meus olhos sobre as lágrimas que ameaçam se formar. Parte de mim quer deixar Ryn sozinho com o seu sofrimento, mas outra parte de mim sente um impulso repentino e inesperado de consertar isso. Eu quero dizer alguma coisa, mas mesmo minha vida dependendo disso não eu consigo pensar no que. O que eu poderia dizer que deixará isso melhorar?
Fecho a porta silenciosamente atrás de mim antes de caminhar em sua direção. Eu vou devagar, como se estivesse se aproximando de um animal perigoso. Eu toco em seu ombro, esperando que ele me afaste e comece a me gritar. Dizer que isto é minha culpa de alguma forma. Mas ele não se move. Sento no chão ao lado dele - uma tarefa desafiadora, dado o tamanho da minha saia - e deslizo meu braço em torno de seus ombros. — Desculpe, — eu sussurro. Para minha grande surpresa, ele se inclina para dentro de mim, enterrando o seu rosto no meu pescoço enquanto os tremores em seus ombros continuam. Eu fico tensa por um momento, depois relaxo e coloco meu outro braço em volta dele. ***
Durante algum tempo uma das minhas pernas começa a adormecer, Ryn se afasta de mim, como se de repente percebendo exatamente em quem ele está se apoiando. Ele inclina a cabeça para trás contra a cama. Espero que ele diga algo, mas ele permanece em silêncio. Ele dormiu? Não consigo saber se seus olhos estão fechados sem olhar para ele, e eu não quero olhar para ele porque me sinto estranha o suficiente sem adicionar contato visual na mistura. Então eu espero. E enquanto espero, meus pensamentos encontram seu caminho de volta para Nate. Nate, Zell e Scarlett. Nate conhece Zell, e Nate conhece Scarlett. Mas agora parece que Zell e Scarlett também se conhecem. Talvez o ‘chefe’ que Scarlett se referiu fosse Zell, e era ele observando Nate. Ou poderia ser apenas que Scarlett é o encontro que Nate trouxe para o baile esta noite. O pensamento me faz querer quebrar algo. A respiração de Ryn se ajustou a um ritmo constante, sugerindo que ele adormeceu. Eu balanço minha cabeça. Ele não pensou que talvez devêssemos sair daqui primeiro e depois tirar uma soneca? Eu torço o bracelete de Calla ao redor do meu braço e me pergunto quanto tempo eu deveria esperar antes de acordá-lo. Preciso tirá-lo daqui rapidamente para que ele não possa fazer algo insano como confrontar publicamente Zell sobre a morte de Calla. O que me leva a outro pensamento: por que Zell raptou a irmãzinha de Ryn? Era mesmo Zell? Talvez ele não saiba o que está acontecendo bem debaixo do seu...
Em um instante, eu estou vendo através dos olhos de Calla. Ela está correndo por uma passagem de pedra escura. Alguém a está perseguindo. Ela corre ao redor de um canto e corre diretamente para um homem grande. — Que diabos? — Ele a agarra. — Como ela saiu? — Ela me enganou! — Alguém grita por detrás de Calla enquanto ela se contorce e grita. — Seu idiota, eu disse para você não acreditar em nada que você veja ao redor dela. Coloque-a de volta ao calabouço, e coloque uma daquelas faixas no tornozelo dela. Calla é entregue a outra pessoa. Ele a carrega rapidamente de volta pelo caminho que ela veio, pelo corredor, através de uma porta e... Ela se foi. Eu me sento ereta, meu coração está batendo rápido. O que acabou de acontecer? — Ryn. — Eu puxo seu braço. — Ryn, acorde. — Humm? — Ela não está morta. Eu a vi. — O quê? — Ele olha para mim, confuso. — Eu estava sentada aqui brincando com a pulseira e de repente eu a vi. Ela escapou, mas alguém a pegou e a levou de volta ao calabouço. — Calabouço? — Sim, ouvi alguém dizer 'calabouço'. Ryn está de pé em um instante. — Você acha que é aqui? Debaixo deste lugar? — Sim. — A palavra mal saiu da na minha boca, e Ryn está do outro lado do quarto, abrindo a porta e correndo. Muito ruim ele correr diretamente para dois guardas. Ele retrocede quando eu alcanço a porta, então coloca o punho no rosto do guarda mais próximo. O Guarda Número Um grita e agarra o nariz quando Guarda Número Dois recebe um chute no estômago. Mas esses guardas não são tão inúteis como parecem pela primeira vez, e um momento depois, Ryn está lutando no chão. Certo. Hora de perder o vestido. Pego o tecido preto e prateado e rasgo o máximo que posso. A saia cai, revelando meus shorts, facas e botas. Além da parte superior da minha roupa, quase me sinto normal novamente.
Recordando do alarme sem magia, eu corro para o canto do quarto e pego uma luminária. — Abaixe-se, — grito a Ryn, lutando atualmente com os dois guardas no chão. Ele se abaixa quando eu balanço a lâmpada e pego o Guarda Número Um na cabeça, depois empurro a parte de baixo no peito do Guarda Número Dois, derrubando-o pela porta e entrando no corredor. Os guardas ficam imóveis no chão. Ryn olha para mim com ambas as sobrancelhas arqueadas em uma expressão que não consigo identificar. — O quê? — Pergunto. — Tanto para devolver o vestido, — diz ele. — Estava atrapalhando. Com uma faca em uma mão e puxando a localização de Calla ainda fresca em minha mente, eu conduzo para parte de baixo. Os corredores em que nos encontramos são estreitos e sinuosos; Devemos estar seguindo a rota dos criados pela casa. Quando eu sinto que devemos estar quase lá, chegamos à cozinha. Caminhamos diretamente atrás de vários cozinheiros, tentando fingir que temos todo o direito de estar aqui e continuamos correndo no momento em que as portas da cozinha se fecham atrás de nós. Passamos pelas despensas cheias de comida. Passamos por várias salas de armazenamento. E, finalmente, encontramos uma escada de pedra que leva para baixo. Eu ando nas escadas estreitas lentamente, tentando não deixar os saltos pontiagudos das minhas botas fazerem qualquer barulho na pedra. Percebendo a agitação de Ryn, dou um passo para um lado. — Eu prefiro que você não me empurre escada abaixo, — eu sussurro. — Boa decisão, — ele diz enquanto passa por mim. — Você provavelmente não acreditaria em mim se eu dissesse que foi um acidente. — Ele sobe as escadas dois degraus de cada vez e desaparece ao redor de uma esquina. Saltos estúpidos. Estúpida regra sem magia. Eu chego ao final tão rápido quanto a minha ponta do pé me permite. Eu ando ao redor da esquina - a mesma que Calla correu antes de bater em alguém e encontro Ryn batendo os punhos contra uma porta feita de uma única laje de pedra. — Droga, nós acabamos de perder a entrada. — O que você quer dizer? — Coloco minha mão contra a pedra. — Estava aberto?
— Sim, alguém entrou assim que eu cheguei nesse canto. A pedra se moveu antes que eu pudesse entrar. — Ouvi dizer que você teve algum tipo de briga com um faerie Unseelie quando tentou levar o garoto Halfling para casa. — Você ouviu corretamente. O faerie Unseelie e seu parceiro colocaram uma faixa de metal ao redor do meu pulso que deveria impedir que eu acessasse minha magia. E aquele faerie Unseelie era Zell. — Então você acha que este metal ao redor da porta é o mesmo? — Parece. E eu acho que é o que me impede de sentir Calla. Ryn assente. — Pode ser. Mas isso ainda não nos ajuda a passar por isso. Eu olho para a porta por um tempo. — Provavelmente o único jeito é esperar até que alguém entre ou saia. Ryn puxa o cabelo. — Droga, eu odeio quando você está certa. Então você planeja ficar aqui e esperar? Deslizo minha faca de volta na bainha amarrada à minha coxa. — Não, eu planejo dar uma volta no outro canto ali e sentar e depois esperar. — O que é exatamente o que eu faço. Depois de um outro golpe inútil contra a porta de pedra, Ryn se junta a mim. Nós nos sentamos em silêncio, nenhum de nós mencionando o fato de que há pouco tempo ele estava chorando no meu pescoço. Eu me pergunto se qualquer um de nós irá trazer isso à tona. Eu definitivamente poderia usar isso como chantagem se ele tentasse espalhar outro rumor embaraçoso sobre mim. Eu cruzo minhas pernas debaixo de mim e traço um dedo ao longo dos laços na minha bota. — Esse vestido que eu estava era bonito. Uma pena que tive que rasgá-lo. — Sim. Foi divertido assistir. — Assistir? — Dobro meus braços sobre meu peito. — Você não estava lutando no chão na hora? Um sorriso levanta um lado da boca de Ryn. — Eu posso fazer várias tarefas, lembra? E meninas rasgando suas roupas são algo que eu tento não perder. Eu olho para ele. — Já disse antes que você é grosseiro? — Em várias ocasiões.
Eu decido que agora é um bom momento para mudar o assunto. — Você viu aquele vestido feito de chamas? — Eu vi. E me perguntei como poderia funcionar, dada a regra de não usar magia. — Oh sim. Eu não sei. No entanto, foi impressionante. Tudo naquele salão de baile era incrível. — Inclino minha cabeça para trás e mantenho-a contra a parede. — As cores e as luzes que brilham, a música e as máscaras. As pessoas balançam de um lado para o outro com a dança encantada. — Minhas palavras param quando considero algo: estou sentada em um canto escuro e frio na casa do meu inimigo, recitando poesia. O que há de errado comigo? — A. R. Thorntree, — murmura Ryn. Pisco para ele. — Não. Esse poema é de Amos Tornweather. Ele franziu a testa. — Não, não é. — Sim, é. — Ryn honestamente espera que eu acredite que ele conhece a poesia? Ele não é do tipo. — Definitivamente não é Amos Tornweather. — É, — insisto. — Estava lendo esse poema esta tarde. — Não importa o quão recente você leu, você ainda está errada. — Bem. Lembre-me de provar isso quando sairmos daqui. — Eu certamente vou. Nós esperamos. Eu começo a sentir fome. E tédio. Eu torço o bracelete de Calla ao redor e ao redor do meu pulso, esfregando distraidamente as bolinhas de prata entre meus dedos. — Lembro de jogar o tokehari de sua mãe, — diz Ryn do nada. Minha mão congela na pulseira. — A corrente de ouro com a chave dourada. A chave era pequena, e no topo tinha pequenas asas abertas, como um pássaro. — Não consigo pensar em nada para dizer, então permaneço em silêncio. Depois de um suspiro, ele continua. — Foi exatamente um ano depois que Reed morreu. Foi também o dia em que tivemos a competição de tiro com arco na escola secundária. Você era a primeira na nossa faixa etária, e estava tão animada por isso. E tudo o que eu podia pensar era que foi Reed que nos ensinou a usar um arco e uma flecha, e você deveria ter ficado triste porque deveria ter pensado nele. Mas você não estava. E
não era justo que você estivesse tão feliz e eu estivesse com tanta dor. Eu sei que foi cruel, mas eu queria que você sentisse dor tanto quanto eu estava sentindo. Fecho meus olhos por um momento. — Você pode ser muito burro, Ryn, — eu digo calmamente. — Só porque fiquei feliz naquele dia não quer dizer que eu esqueci de Reed. Como eu poderia esquecê-lo? Ele era como um irmão para mim, assim como você - antes de me cortar. — Eu respiro fundo. — Mas eu consegui fazer algo que você parece não conseguir: eu segui em frente. O punho de Ryn aperta, mas sua voz permanece baixa. — Você não entende. Não é o mesmo para mim. — Então explique. Explique por que, depois de oito anos, você ainda não pode seguir em frente. Ele balança a cabeça, os lábios apertados com firmeza. — Bem. Talvez você tenha problemas sobre os quais você não quer me contar, mas ainda acho que você tem uma escolha. E até agora, você optou por manter sua dor em vez de deixá-la ir. — Parabéns, você me descobriu. Gostaria de uma estrela de ouro? — Não, eu gostaria que meu amigo voltasse. — Uau, de onde veio isso? Ele vira a cabeça para me olhar. — Você está falando sobre Reed ou eu? Boa pergunta. — Qualquer um, Ryn. Eu perdi vocês dois depois que Reed morreu e você se certificou de eu que nunca mais tivesse um amigo depois disso. — Bem, você não fez exatamente um esforço. — Você poderia me culpar? — Exijo, sentando mais ereta. — Reed morreu, você me abandonou e meu pai foi morto. Eu não queria me preocupar com mais ninguém caso os perdesse também. Ryn se inclina lentamente contra a parede sem tirar os olhos dos meus. — Parece que não sou o único com problemas. ***
O silêncio entre nós se expande. Além da respiração de Ryn, que está me irritando pra caramba simplesmente porque é ele quem está respirando, não há
outro som. Sem água pingando, sem criaturas de calabouço correndo, sem passos no andar de cima. E então, vem um estrondo. Nós nos levantamos imediatamente. Ryn passa por mim, quase me derrubando em sua pressa para chegar à porta de pedra. No momento em que está aberto completamente, Ryn está de pé na frente. Seu punho vai para frente e quem estava prestes a deixar o calabouço cai no chão. Eu me apresso para ajudar a arrastar a faerie inconsciente para fora do caminho. No momento em que atravessamos a soleira da porta, a porta desliza para trás. — Merda. — Pressiono minhas mãos contra a pedra em branco. — Como nós saímos daqui? — Nós podemos nos preocupar com isso na saída. Agora acho que você quer ver isso. Eu me viro e dou o meu primeiro olhar apropriado na sala. É redonda, com um teto alto e círculos concêntricos de pavimentação de pedra no chão. Um candelabro ornamentado de velas lança luz amarela sobre a sala, embora não faça nada para aumentar a temperatura. Uma mesa redonda grande o suficiente para acomodar cerca de vinte pessoas está coberta de papéis. Mas nada disso é tão interessante ou estranho quanto o que está preso às paredes. Por toda parte que eu olho, vejo nomes. Páginas deles, alguns com um x, alguns com círculos, alguns marcados, alguns escritos em cores diferentes. E diagramas, com mais nomes e linhas de conexão e detalhes escritos em um pequeno manuscrito. E mapas. E em todo o lugar, desenhado nas páginas e gravado nas paredes de pedra, está o símbolo do grifo com a cauda de serpente. Enrolo meus braços ao meu redor enquanto eu abordo a página mais próxima. — Estelle Waters, — eu leio. — Pode ouvir os pensamentos dos outros. Ebony Waters: pode forçar pensamentos nas cabeças dos outros. Gemma Waters: pode apagar pensamentos. — Violet Fairdale, — Ryn lê, suas palavras enviando um arrepio pela minha coluna. — Pode encontrar pessoas. Meu coração troveja, eu me movo para o lado dele. Meu nome está escrito em maiúsculo e foi circulado repetidamente. Até tem uma estrela desenhada ao lado. — Parece que você é importante, — diz Ryn. Eu tremo, e não só porque está
frio. — Todos esses nomes, — diz ele. — E essas habilidades especiais. O que diabos esse cara está fazendo? — Ele está coletando pessoas, — eu digo vagamente, olhando para a estrela ao lado do meu nome. — Pessoas que podem fazer coisas que outras faeries não podem. — E agora está claro por que ele está atrás de mim. — Ele quer me usar para encontrar todos eles. Ryn se vira para mim. — E o que exatamente ele pretende fazer com todas essas pessoas? — Nenhuma ideia. Mas agora tenho outra pergunta para você, Ryn. — Eu cruzo meus braços e o encaro. — O que Calla está fazendo aqui?
Capítulo 25 Sem me responder, Ryn caminha até a mesa e começa a procurar pelas páginas. — Você notou que há um esboço de uma porta na parede oposta onde entramos? Calla deve estar por lá. Precisamos descobrir como abrir. — Ela tem algum tipo de poder extra, não é? — Eu digo, ignorando sua tentativa de desviar. — Por que mais ela estaria aqui? De costas para mim, ele diz, — Eu não deveria contar a ninguém. Nós damos o nosso melhor para manter isso em segredo. — Estou arriscando minha vida para ajudar tirá-la daqui, Ryn. O mínimo que você pode fazer é me dizer por que ela foi levada. Ele passa mão ao longo da mesa e levanta os papéis. Procurando por chaves, talvez? Várias páginas flutuam no chão. Eu as pego, dobro e as coloco em uma das minhas botas. Nunca se sabe, eles podem conter informações úteis. Quando Ryn chega ao outro lado da mesa, ele se inclina e olha para mim. — Ela tem uma imaginação poderosa. Muito poderosa. Quando ela imagina coisas, ela pode fazer você vê-las. Eu me dou um momento para entender. — Então... Ela pode me fazer ver o que ela quer que eu veja? — Sim. Ela está aprendendo a controlar para que ela não tenha que compartilhar tudo o que se passa em sua cabeça, mas ela ainda escorrega às vezes, quando fica emocionada. — Uau. Essa é uma habilidade legal. — Assim como encontrar pessoas. — Ele se move em volta da mesa novamente, sentindo abaixo da borda com os dedos. Ele para. Eu ouço um clique. No lado oposto da parede, um pedaço retangular de pedra desliza para fora. — Sim. Achei. — Em alguns passos rápidos, ele está do outro lado da sala.
— Pare! — Eu me apresso para a abertura. — Você não consegue sentir? — O quê? Eu cheirei o ar novamente, reconhecendo algo que encontrei no laboratório de Uri antes. — Eu acho que é veneno. — Eu olho para cima. Incorporados na borda inferior da pedra que acabou de deslizar estão centenas de fragmentos de vidro, suas extremidades pontiagudas brilhando em azul. — Eu acho que o vidro vai cair sobre você se você passar debaixo. — Deve haver uma maneira de desativá-lo. — Os olhos de Ryn examinam as paredes, provavelmente procurando outro botão. — Ou podemos apenas ativá-lo, — sugiro. Eu pego um pedaço de papel da mesa e jogo por debaixo da porta, depois pulo para trás quando os pedaços de vidro atravessam o ar e batem no chão. Sem sequer um ‘obrigado’, Ryn pisa os estilhaços brilhantes e entra na sala ao lado. — Que... Eu sigo perto dele, e meu estômago revira no momento em que eu olho. Suspensos no teto por correntes grossas estão o que parecem gaiolas de pássaros gigantes. E dentro de cada gaiola, a maioria deles deitada, está uma pessoa. Ao redor dos tornozelos daqueles mais perto de mim, eu posso ver faixas de metal, assim como Zell e Drake colocaram no meu pulso. Abaixo das gaiolas, preenchendo o centro da vasta sala, está uma grande piscina circular de água. — Isso é uma bagunça. — Eu me viro para Ryn. — Nós temos que ir ao Conselho sobre isso. Certamente você concorda comigo agora? Não se trata apenas de sua irmã. Ele concorda, mas eu não acho que ele está realmente ouvindo. Seus olhos procuram as gaiolas. — Calla? — Ele chama. Espero que pelo menos alguns dos prisioneiros adormecidos acordem, mas talvez estejam acostumados a ouvir um ao outro gritar. — Parece que você pode abaixar as gaiolas, — digo, percebendo as correntes correndo pelo teto e pelas paredes. — Você só precisa encontrar a corrente certa. — E uma vez que a gaiola atingir a água, então, o quê? — Hum... Eu acho que você poderia nadar para a gaiola, mas provavelmente há uma criatura aterrorizante habitando essa piscina. E então há o problema de destrancar... — Paro quando sinto um leve rugido. — Você ouviu isso?
— Sim. — Nós dois olhamos para a sala com os nomes. — Caramba, alguém deve ter acabado de entrar. — Eu me viro para Ryn. — Você encontra Calla. Eu vou lidar com quem quer que seja. — OK. Apenas... Você sabe, não morra. Eu faço graça para ele com um revirar de olho. — Sim, obrigada, eu tentarei não morrer. — Com cuidado para não pisar no vidro, eu olho através da entrada. Eu o vejo no mesmo momento que ele me vê. Cabelos carmesins, olhos carmesins. É Zell. Surpresa pisca em seu rosto, mas é substituída em um instante por um tipo de prazer assustador. — Bem, olha quem é. Penetra em minha festa, eu vejo. — Ele balança a cabeça. — E aposto que você nem me trouxe um presente de aniversário. Pego uma das minhas facas e a atiro nele. Com um movimento de sua mão, ele a envia de volta para mim. Instintivamente, viro um escudo invisível. Então, lembrando a regra de não usar mágica, estou tão assustada com a falta de uma sirene alta que quase deixei o escudo escapar. — Mas... o alarme. Zell ri. — Não seja ridícula. Por que haveria um alarme aqui embaixo? Meus prisioneiros têm suas faixas de metal para evitar que eles tentem algo mágico. Faixas de metal que foram melhoradas, por sinal. Obrigado por demonstrar que os anteriores não podiam bloquear completamente a magia. — Mas... E o metal ao redor da porta? Não deveria bloquear o uso da magia aqui? — Oh, isso é para evitar que a magia de fora entre e interfira. Não para o que acontece aqui dentro. — Ele junta as pontas dos dedos e me observa, como se estivesse me esperando fazer um movimento. — Todas aquelas pessoas lá dentro. — Indico atrás de mim. — Eles têm habilidades especiais, não tem? — Claro. Você não pensou honestamente que era a única que poderia fazer algo fora do comum, não é? — Na verdade, é exatamente o que eu pensei. Olhando para trás, parece uma suposição estúpida. Há um ruído atrás de mim. Eu passo pela entrada, tentando cobrir o ruído com o som das minhas botas. — Onde está Drake? — Pergunto. Espero poder
desviar a atenção de Zell até Ryn ter conseguido encontrar e libertar Calla. — Quando eu conheci vocês dois, ele parecia ser o responsável. O sorriso de Zell é cruel. — Ele pensou que estava no comando também. Não, não. Drake nunca soube quem eu era. Ele foi útil por um tempo, mas esse tempo chegou ao fim, e eu tive que me livrar dele. — Como um ser humano sem poder pode ser útil para você? — Conhecimento, — diz Zell, seus olhos brilhando. — Eu sempre soube que havia certas faeries com habilidades adicionais. Como você pode ter conseguido descobrir, eu tenho procurado por eles há anos. O que eu não conhecia era o símbolo de grifo criado pelo halfling Tharros e como seu poder estava conectado a estas faeries especiais. Foi o que Drake descobriu em meio a todas as suas relações mistas no reino das faeries. — Zell suspira feliz. — E tudo se encaixou perfeitamente desde então. Você não pode negar que tudo isso deveria acontecer. — O que tudo deveria acontecer? — Por que, você e Nathaniel acabariam do meu lado, é claro. Quando comecei, a única pessoa que estava procurando era Angelica Ashwood. Nathaniel era apenas um meio para chegar até ela, e você simplesmente estava lá ao mesmo tempo. Mas então, descobri que Nathaniel realmente tinha magia e, além disso, controla o clima. E você, a garota que eu achava que era apenas uma aprendiz regular no lugar errado na hora errada, acabou por ser a pessoa em que o espião da Guilda tinha ouvido sobre: o guardião que pode encontrar pessoas. Espião dentro da Guilda? — E você acha que isso significa que eu deveria ficar de bom grado e ajudá-lo? — Claro. Foi o que Nathaniel decidiu fazer depois que minha querida protegida Scarlett conseguiu convocá-lo. Certamente, você vê como isso não pode ser uma coincidência. Basta olhar para como você entrou na minha casa sem que eu tenha que levantar um dedo para trazê-la aqui. — Ele franziu a testa. — O que exatamente você está fazendo no meu calabouço de qualquer maneira? Você claramente não se entregou. — Eu... Tinha uma missão. — Zell levanta uma sobrancelha. Maldição, eu deveria ter dito isso com mais convicção. — Como você sabia que Nate e eu estávamos em Creepy Hollow naquela primeira noite? — Eu me apresso. —
Angelica disse que ela colocou um encantamento em você que deveria impedir que você o encontrasse. — Ela colocou, mas como é o caso de muitos dos encantos complexos de Angelica, não funcionou bem como ela planejou. Eu tentei todos os tipos de feitiços de localização, e nada funcionou. Quando um deles finalmente me deu uma resposta, percebi que era porque Nathaniel estava no reino dos fae. Suponho que Angelica não tenha contado com isso. Eu percebi que ele estava na Guilda, então eu apenas fiz meu espião me informar quando ele saísse, e o esperei na floresta. Simples. — Na verdade, parece muito esforço apenas para conseguir um miserável disco de metal que lhe dará um pouco de poder extra. — Um miserável disco de metal? — Zell franziu a testa e inclina a cabeça para o lado. — Você não sabe o que eu realmente estou atrás, não é? — Eu saberia se você dissesse... — Basta! — Ele ergue a mão. — Eu sei o que você está tentando fazer, jovem em treinamento. Me distrair, me fazendo contar tudo o que planejo fazer, depois do qual você espera fugir e levar suas informações à Guilda. Mas isso não vai acontecer. Este é o ponto em que paramos de falar e eu prendo você em uma dessas gaiolas ao lado. — Ele faz uma pausa. — A menos que, é claro, você gostaria de tentar me parar? Um chicote e uma espada aparecem em minhas mãos. — Inferno, sim. — Ele não acha que vou desistir sem uma briga, não é? Seus lábios se contraem ligeiramente. — Bem, você pode querer saber que eu tenho algumas... Reservas de energia. — Ele alcança dentro de um bolso e tira o disco grifo. Então outro, e outro, e outro. Oh, merda, merda. Há quantas dessas coisas? Angelica omitiu essa pequena informação. O sorriso de Zell é triunfante. — Vai demorar muito, muito tempo antes de ficar sem poder. Ele atinge meu escudo com uma explosão de magia. Eu fortaleço o escudo, deixando o meu chicote e a espada irem para o nada. Nunca vou chegar perto o suficiente para usá-los. Provavelmente, sequer poderei atirar uma flecha, porque no momento em que eu soltar o meu escudo, Zell me atingirá com alguma coisa. Pense, pense, pense. A magia continua esmurrando o meu escudo e eu estou perdendo poder apenas mantendo-o intacto. Eu tomo nota do que está ao
meu redor. Mesa, papéis, candelabros, vidro quebrado. Eu posso usá-los todos se eu for rápida o suficiente. Eu lentamente me afasto da porta, esperando que Ryn não faça algo estúpido como entrar. De repente, eu caio no chão, deixo o escudo desaparecer e envio os fragmentos de vidro correndo pelo ar em direção a Zell. Ele os congela no ar em frente ao rosto. Droga. O vidro toca no chão quando eu rolo atrás da mesa. Eu envio uma rajada de ar ao redor da sala, mexendo os papéis presos na parede. A rajada torna-se um vendaval, e os papéis se destacam. Eles voam loucamente, misturando-se com o redemoinho de papéis voando da mesa. Zell solta um grito de raiva e começa a disparar magia sob a mesa. Eu me arrasto para a perna central e me sento com as minhas costas enquanto evoco uma bolha de proteção invisível em torno de mim. Uma vez que estou completamente protegida, me arrasto. No meio do tornado dos papéis, eu pulo na mesa. — Venha e me pegue, seu pequeno faerie! Ele pula um segundo depois, e um jato de chamas verdes atinge o escudo bem na minha frente. Concentrando-me em segurar o escudo no lugar e manter o vento em andamento, eu pulo. Volto para trás através dos papéis e pouso nos meus pés. Solto o escudo, paro o vento, atiro no candelabro. Meu flash de magia atinge a corrente que liga o candelabro ao teto. Zell olha para cima, assim que a massa de metal, vela e chama caem sobre ele. Ele continua embaixo dos destroços. As chamas lambendo as páginas na mesa e começando a consumi-las. Corro de volta a sala com as gaiolas. — Você a encontrou? — Eu grito, tentando descobrir onde Ryn está. Recebo uma série de gritos em resposta. Olhando para cima, percebo que muitos dos prisioneiros estão acordados. Eles falam um sobre o outro. Alguns começam a balançar suas gaiolas. — Quem é você? — Você pode nos libertar? — Ela está aqui para nos machucar, não fale com ela! Eu olho de um rosto desesperado para o próximo. Como posso salvar todas essas pessoas? — Violet, por aqui. — Eu corro na direção da voz de Ryn. Depois de passar uma série de gaiolas, eu o vejo. Uma figura pequena usando uma camisola está
embrulhada firmemente em seus braços, e uma gaiola vazia balança para frente e para trás. Calla se agarra firmemente ao irmão enquanto ele beija sua testa e então enterra seu rosto em seus cabelos. Ele sussurra algo para ela, e naquele momento, observando os dois, me sinto absolutamente sozinha. Ryn olha para cima; seus olhos se encontram com os meus. — O que aconteceu? Limpo minha garganta. — Zell está desmaiado, mas não por muito tempo. Temos que sair daqui agora. Ele acena com a cabeça. — Cal, — diz ele gentilmente. — Esta é Violet. Ela vai nos ajudar a sair daqui. A menina vira o rosto para mim, e tudo o que posso sentir é surpresa. Eu estava esperando alguém que parecesse com Ryn, mas não podia ser mais diferente. Seu cabelo é loiro escuro com listras cor mel, caramelo e ouro. Seus olhos, atualmente abertos com medo, também são na cor de ouro. Quase luminosos. Tenho a sensação de que ela pode ser a criança mais linda na existência das faeries. Enquanto corremos para a outra sala, os prisioneiros clamam pela nossa ajuda. — Me desculpe, — grito, incapaz de olhar qualquer um deles nos olhos. — Não podemos ficar mais tempo ou ficaremos presos aqui também. A Guilda enviará pessoas para resgatá-los, eu prometo. Nós nos apressamos para a outra sala e passamos pela mesa - assim que o candelabro mutilado vem voando em nossa direção. Calla grita. Eu viro e coloco um escudo, depois grito e caio de joelhos enquanto a força por trás do candelabro ameaça me superar. Zell fica de pé na mesa. — Eu não me importo se tiver que quebrar todos os ossos em seu corpo, Violet. Você não vai fugir desta vez, e não vai levar aquela garota. — Ele empurra as mãos para frente como se estivesse pressionando o ar, forçando o candelabro ainda mais forte contra meu escudo. Droga, ele é tão forte! Atrás de mim, Ryn está falando com Calla, perguntando se ela sabe como abrir a porta de pedra. — Sim, é... é aquela pedra lá. Não, a próxima. Você tem que puxá-la. — Ryn, — eu suspiro. — Eu não posso... Segurá-lo... Por muito mais tempo. — Ouço o ruído da porta de pedra se abrindo. Talvez Ryn e Calla já estejam fora,
correndo para salvar suas vidas, me deixando aqui para lutar contra Zell. Mas então sinto a mão de Ryn em meu braço, me levantando. — Você tem que levar a Calla, ok? Vou manter Zell ocupado, então você tem tempo para fugir. — Ele ergue as mãos e adiciona seu escudo ao meu. — O quê? Ryn, não podemos deixar você... — Vá! Você está exausta, Vi. Eu não estou. Eu posso fazer isso. — Ele focaliza sua atenção para frente, seus olhos se estreitaram. — Ryn, ele vai te matar. Ele quer a nós, não você. — Sem desviar o olhar de Zell, Ryn me empurra para trás. Eu tropeço nas minhas botas de salto, perdendo o escudo enquanto me atrapalho contra a parede. — Vá! — Ele grita mais uma vez. Pego a mão de Calla e corro.
Capítulo 26 Eu levo Calla para fora da porta da cozinha e entro nos jardins. As margens da nuvem se movem lentamente através da lua, mas as estrelas são brilhantes, e é suficientemente leve para que vejamos o nosso caminho. — Você tem uma daquelas faixas de metal no seu tornozelo? — Pergunto. Ela balança a cabeça. — Eles ainda estavam fazendo um pequeno para mim. — Ok, então você tem que ter muito cuidado para não usar magia, está tudo bem? — Eu... eu vou tentar. Nós nos arrastamos em silêncio enquanto eu tento descobrir o que fazer a seguir. Quando nos aproximamos de uma esquina e vemos uma fila de carruagens e aqueles carros pretos longos com a parte do meio esticada, me parece que a melhor maneira de sair daqui é provavelmente a mesma maneira que entramos. Abro a porta da parte de trás do carro mais próximo e Calla sobe para dentro. Eu entro atrás dela e fecho a porta tão silenciosamente quanto eu posso. A luz dentro do carro desaparece, mas não antes de notar a cicatriz escura de sangue ao longo da parte inferior da camisola de Calla. — Você está machucada, — exclamo. — Por que você não disse nada? — Eu não estou, — diz ela. — Não é o meu sangue. Eu... Eu fiz algo ruim. — Eu acabei fazendo-a chorar. Oh, cara. O que eu deveria fazer com uma criança chorando? Não tenho ideia do que dizer! Seu lábio começa a tremer. — Ryn vai morrer? — O quê? Não, claro que não. — Pego a pequena mão de Calla na minha. — Ele é um bom lutador. Ele vai sair daqui. — É bom ele sair daqui. — Mas nós o deixamos com aquele homem ruim.
— Sim, deixamos... — Algo sobre o qual me sinto intensamente culpada. Não é o que fui treinada para fazer. Guardiões lutam juntos. — Mas eu não posso deixar você sozinha, Calla. — E se eu prometer ficar aqui? Você vai voltar e pegá-lo? — Seus olhos dourados me imploram. — Tudo bem, — eu digo. Eu quase não tenho energia, mas concordo com Calla. Não podemos deixar Ryn lá embaixo. Eu saio do carro e volto para a cozinha. Eu não deveria ter esperado tanto tempo. Eu deveria ter escondido Calla lá fora e voltado para o calabouço imediatamente. Ryn poderia estar morto agora porque eu não estava lá para ajudálo. Estou quase na porta da cozinha quando uma forma se separa das sombras e cambaleia em minha direção. Eu formo um punho, puxo meu braço para trás e... — Sou eu, — Ryn diz. — Jesus, Ryn. Porque você não diz algo antes de sair das sombras como um zumbi? — Por que você não... foi embora? — Ele tropeça como uma pessoa bêbada. — O que você acha, idiota? Voltei para... Whoa. — Pego-o quando ele cai contra mim. — O que você tem? — Vidro, — diz ele. — Nas minhas... costas. Seguro seu braço e o viro. O luar ilumina os fragmentos de vidro que sobressaem de suas costas. — Sério, Ryn? Você teve que ir e conseguir veneno. — Eu estava tentando... chatear você... — Bem, parabéns. Você conseguiu. — Eu meio que o arrasto para o carro, não me deixando entrar em pânico ainda. Calla abre a porta. Eu tento colocar Ryn para dentro, mas ele colapsa antes mesmo de entrar. Eu subo sobre ele, agarro seus braços e puxo. Calla ergue suas pernas para dentro, puxando um dos sapatos no processo. Ela fecha a porta - um pouco alto demais para o meu gosto. — O que aconteceu? — Ela choraminga. — O que há de errado com ele? A luz desaparece novamente. — Droga, por que isso não fica aceso? — Coloco minhas mãos sobre a luz e vou tocando até encontrar um interruptor. Quando eu posso ver novamente, me sento, abro o compartimento no fundo do
meu sapato e tiro meu kit de emergência em miniatura. E então eu lembro que, para ampliá-lo, eu tenho que usar a magia, que irá desencadear e fazer esse alarme explodir. Pressiono meus lábios juntos para me impedir de xingar alto. Eu respiro profundamente, percebendo o cheiro de fumaça de cigarro. — Ele foi envenenado, — eu digo a Calla. — Vê o vidro nas costas dele? Está com veneno. E basicamente não posso fazer nada sem magia. Eu não posso enviar meu próprio poder para o seu corpo para ajudá-lo, e não consigo usar nada do meu kit de emergência porque atualmente é do tamanho de uma bolota. Eu acho que eu poderia envolver o tecido em torno dos meus dedos e tentar remover os pedaços de vidro, mas o veneno... A porta do carro se abre. Um homem com um chapéu estranho enfia seu rosto carnudo. — O que está acontecendo aqui? — Antes que eu possa atravessar o corpo de Ryn para derrubar o homem, Calla agarra o sapato de Ryn e acerta o homem na cabeça. Ele se empurra com um grito. Eu pulo atrás dele e o forço - com alguma dificuldade – a ir para o banco da frente. Eu chicoteio minha stylus para fora da minha bota e aponto para ele de uma maneira que é para ser ameaçadora. — Você é o motorista dessa coisa? — S... sim. — Bem, então. — Pressiono a stylus contra seu pescoço grosso. — Dirija. — Você não pode me machucar, — ele gagueja. Eu sei que você não pode usar magia aqui. Há um alarme ou algo assim. — Você acha que magia é a única coisa que posso fazer com essa vara? — Eu me inclino perto de sua orelha. — Confie em mim. As coisas vão ficar extremamente desconfortáveis para você se você não fizer exatamente o que eu digo. — Ele engole, faz algo com uma chave perto do volante e o carro ronrona ganhando vida. Seguimos o caminho pavimentado para frente da casa, ao redor do círculo e descendo a entrada. O portão está aberto, mas um dos guardas fica à sua frente. Ele levanta a mão. — Desacelere, — eu digo ao motorista. — Mais devagar... Mais devagar... — Estamos quase no portão. O guarda, parecendo aborrecido, move-se em direção à janela do motorista. — Agora, vai! — Eu deslizo de volta no assento quando o carro avança e passa abaixo dos brilhantes dragões de pedra. Nós estamos livres.
— Continue. Não desacelere a menos que você queira sentir dor. — Escrevo um portal na janela e entro nela, alcançando um segundo depois no banco de trás do carro. Calla segura o braço de Ryn em seu peito, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Sem aviso, ele senta e a puxa para um abraço. Eu respiro uma surpresa. Mas então sua forma pisca e ele está deitado no chão do carro novamente. Os olhos de Calla encontram os meus. — Eu... eu sinto muito. Era eu. — Oh. Ok. — Isso foi certamente estranho. — Hum... Você continua segurando aquele braço e eu pego esse. — Pego a mão sem vida de Ryn e depois abro uma porta no chão perto de seus pés. Eu o amplio para que nós três caibamos. — Tudo bem, venha para este lado. — Ela se move, sem soltar a mão de Ryn. — Agora vamos pular ao mesmo tempo e puxá-lo conosco. Pronta? Um, dois, três! Nós desaparecemos na escuridão. Concentro minha mente no maior sofá da minha sala de estar, e um momento depois, todos nós três saltamos sobre ele. Calla caí, e as pernas de Ryn ficam no final, o que definitivamente seria uma posição desconfortável se ele estivesse acordado para sentir isso. Empurro a mesa para fora do caminho e o arrasto para o chão, certificando-se de mantê-lo de barriga baixo para que o vidro não pressione suas costas. — Tudo bem, Calla. — Eu removo meu kit de emergência do meu sapato e o transformo de volta ao seu tamanho normal. — Você precisa parar de chorar para que possa me ajudar, ok? — Ela assente, mas parece aterrorizada. — Você vê isso? — Eu seguro uma garrafa com quadrados verdes planos não maiores do que minha unha rosa. — Você precisa colocar um na língua dele a cada poucos minutos. Eles vão acelerar o processo de cura do corpo. — Eles não vão fazer o trabalho tão bem quanto a minha própria magia, mas eu não tenho muito para dar agora, e Calla precisa de algo para se concentrar para mantê-la calma. Depois de esvaziar alguns dos quadrados na minha palma, eu passo a garrafa para ela. Eu pesco no meu kit e encontro uma pequena pinça. Enquanto Calla coloca a cabeça de Ryn em seu colo, eu me preparo para a árdua tarefa de remover os fragmentos de vidro. Depois de cada poucos pedaços, coloco um quadrado verde na minha boca e deixo que ele se dissolva na minha língua. Quando eu finalmente removi cada pedaço de vidro que eu posso ver, Calla adormeceu, e meu corpo começou a reabastecer sua loja de magia. Hora de compartilhar. Eu removo a jaqueta de Ryn com dificuldade. Quando chego em sua
camiseta, não me incomodo. Deslizo meu dedo do pescoço até o fim da sua coluna, cortando cuidadosamente a camiseta. Puxando os pedaços de tecido para o lado, vejo numerosas feridas tingidas de azul cobrindo suas costas. Coloco suavemente as mãos sobre a pele, respiro fundo e tento relaxar. Eu também tento não pensar na última vez que fiz isso - para Nate. Ele já devia ter decidido me trair nesse ponto. Afastando minha raiva e dor, eu me concentro. Eu posso sentir a magia deixando meu corpo, como trilhas de água da chuva escapando das pontas das folhas. Lentamente, o azul desaparece e as feridas começam a se curar. Eu não paro até que eu quase me esgoto completamente. Eu retiro minhas mãos. As costas de Ryn estão perfeitamente curadas, mas eu não sei o que está acontecendo dentro dele. Eu não posso fazer mais nada. Com um enorme bocejo, deito no chão ao lado dele e adormeço. ***
Há um pássaro cantando no meu ouvido. Um pássaro realmente irritante. Eu o golpeio ainda dormindo, sabendo que é apenas Filigree em uma de suas formas mais irritantes: a forma de eu-vou-chiar-até-você-acordar. Eu tento virar e me vejo deitada sobre uma superfície dura. É quando lembro o que aconteceu na noite passada. Eu me sento e passo uma mão pelo meu cabelo. Sinto que só dormi algumas horas. Olhando em volta, encontro Ryn sentado contra um dos sofás. Ele está observando Calla enquanto dorme. Ele também não está com camiseta. — Ei, este não é o Centro de Treinamento, sabe, — eu digo a ele. — Há uma certa etiqueta de roupa nesta casa, e você está violando isso. Ele pega sua jaqueta. — Eu acredito que foi você quem rasgou minha roupa em primeiro lugar, e agora você está reclamando? — Confie mim, não houve rasgos. Você terá que conseguir essa fantasia em outro lugar. Em vez de uma resposta rápida, ele olha para mim até eu começar a me sentir desconfortável. Eu então olho para Calla. — Então... Como você a tirou daquela gaiola?
— Com magia. Ouvi você e Zell tentando se explodirem e percebi que não havia alarme no calabouço. Eu desenhei a gaiola sobre a borda da água e a abri. Foi muito fácil. — Ele se levanta e coloca a jaqueta. — Bem, é melhor eu voltar para o meu pai. Você pode cuidar do Conselho? Você sabe, dizer o que vimos? — Hum, sim. Claro. Ele levanta Calla cuidadosamente em seus braços e caminha até a parede. — E V? — Eu olho para cima. Ele hesita, então, com mais sinceridade do que eu jamais teria pensado ser possível para ele, ele diz, — Obrigado. De verdade. ***
A chefe do Conselho da Guilda era uma mulher severa com olhos cinza de aço cujo - infelizmente para ela - cinza combina com os seus cabelos brancos e loiros, se inclina para trás na cadeira e cruza uma perna sobre a outra. — Então, deixe-me entender isso. — Ela ergue um pedaço de cabelo perdido para dentro de seu coque. — Você entrou na casa do Príncipe Unseelie mais novo, encontrou o caminho para o calabouço onde viu pessoas trancadas em gaiolas de pássaros gigantes, você salvou a irmã mais nova do Sr. Larkenwood e vocês três escaparam ilesos. Bem, não totalmente ilesos, mas não pensei que fosse necessário contar a ela sobre a experiência de Ryn com o vidro envenenado. — Eu sei que isso soa exagerado, Conselheira Starkweather, mas, por favor, você tem que acreditar em mim. — Oh, eu acredito em você. O Príncipe Unseelie tem sido investigado por algum tempo. Você tem alguma prova? Porque, sem provas, será muito difícil tomar medidas futuras. — Apenas isso. — Entreguei os papéis dobrados que coloquei na minha bota na noite anterior. — Eu não posso provar que eu os peguei da casa de Zell, mas talvez alguns dos nomes escritos aqui possam ajudar. Ou talvez você tenha uma amostra da caligrafia de Zell para que você possa combinar essas páginas. — Hmm. — Ela desenrola a primeira página e olha. — Bem, é melhor do que nada. Obrigada.
Empurro minha cadeira para trás e me levanto. — Mais uma coisa, Senhorita Fairdale. — Ela levanta e olha diretamente nos meus olhos. — Você não deve falar sobre isso com ninguém, entende? Nem mesmo seu mentor. Por favor, passe a mensagem para o Sr. Larkenwood, depois eu não quero que nenhum de vocês pense sobre o assunto novamente. Agora sabemos que há pelo menos um espião dentro da Guilda, e não podemos deixar que as informações caiam nas mãos erradas. Esta é uma questão que o Conselho irá tratar. — Sim, claro, entendo. — Eu me viro para sair. — E outra coisa. — Ela espera até eu olhar para ela mais uma vez. — A Guilda não aprova que aprendizes - ou guardiões totalmente treinados, não importa - conduzindo suas próprias missões particulares. Compreendo o desespero do Sr. Larkenwood para encontrar sua irmã, mas ele deveria ter vindo até a Guilda com suas informações. Diga-lhe para vir me ver durante a semana. Deixo o escritório da Conselheira Starkweather com um sorriso no meu rosto. Estou ansiosa para a conversa com Ryn, na qual eu poderei dizer ‘eu te disse’. Eu vou até o nível de treinamento onde os armários ficam. A maioria do quinto ano não usa seus armários desde que as lições terminaram há alguns meses atrás, mas meu armário é onde Uri entrega as poções extras ocasionais que eu pedi. Eu escrevo meu código na superfície metálica com a minha stylus e abro. Meu coração flutua desconfortavelmente quando vejo um pequeno envelope marrom. Eu abro e o viro de cabeça para baixo sobre a minha palma. O mesmo frasco com a palavra Esquecer rola para fora. A cor é diferente; em vez de ser claro, a poção agora tem um tom rosa. Deslizo meus dedos dentro do envelope e retiro uma nota coberta pela letra inábil e desordenada de Uri. O que você me pediu é muito complicado. Eu tentei o meu melhor para inventar uma poção que permita que você esqueça seus sentimentos por uma pessoa específica, mas nunca fiz isso antes e, obviamente, não tenho como testar a poção final. Eu sugiro fortemente que você não a tome. Por favor, considere meu conselho.
Capítulo 27 Eu encho a piscina no meu banheiro com bolhas multicoloridas. As laranjas cheiram como pêssego, as rosas como framboesa e as verdes como lima. As bolhas verdes são as minhas menos favoritas, as que eu estouro primeiro quando mergulho na água e reflito sobre a nota de Uri. Quero esquecer a dor que Nate me causou. Claro que eu quero. Mas se Uri não tem certeza do que ele criou, então provavelmente é uma má ideia tomar a poção. Eu certamente não quero acabar com algum efeito secundário desagradável, como um terceiro braço ou um coração de pedra. Mas... Ugh, eu odeio isso! Eu dou uma tapa em algumas bolhas que derivam no ar, desejando poder bater em Nate. Toda vez que penso nele, sempre que me lembro de Scarlett sussurrando em sua orelha, sinto uma dor física apertando meu interior. Era fácil esquecer enquanto lutava pela minha vida no calabouço de Zell, mas acabou. Não há nada agora além de treinamento, nossa atribuição final, graduação e tudo o que vem depois disso. Eu cruzo meus braços na beira da piscina e descanso meu queixo sobre eles. Eu olho para o pequeno frasco equilibrado na pedra a uma curta distância da minha cabeça. Eu deveria tomar a poção e lidar com quaisquer consequências. Talvez se tiver sorte, eu não vou nem acordar depois de tomá-lo. — Não, — eu digo a mim mesma em voz alta. Inclino-me para fora da água, pego o frasco e o jogo no kit de emergência encostado perto da porta aberta. — Pare de ser completamente patética. Você matou monstros. Você lutou contra faeries do mal. Você certamente pode lidar com alguns sentimentos feridos. Filigree, enrolado em forma de leopardo da neve na grama na borda da sala, ergue a cabeça e me dá um olhar interrogativo.
— Não importa, — eu murmuro quando deslizo de volta para a água. — Apenas falando comigo mesma novamente. Eu saio da piscina uma vez que eu estourei a maioria das grandes bolhas. O resto desaparece com um movimento da minha mão e algumas palavras sussurradas. Depois de colocar alguma roupa, eu me sento em uma das pedras e conjuro um pouco de ar quente. Enquanto corro meus dedos através do meu cabelo úmido, eu me pergunto se Tora está de volta e se posso convencê-la a me dar uma tarefa extra amanhã. Preciso compensar o que perdi na semana passada. Eu vagueio de volta ao meu quarto enquanto mexo no meu kit de emergência. Nada parece estar quebrado do frasco que joguei agora. Eu fecho e o deixo na minha cômoda. — Eu estava certo. Em estado de choque, eu me viro. Ryn está deitado na minha cama, uma mão atrás da cabeça, a outra segurando um dos meus livros de poesia aberto. — ‘As cores e as luzes que brilham, a música e as máscaras. As pessoas balançam de um lado para outro com a dança encantada.’ Por A. R. Thorntree. — Ele fecha o livro e solta um suspiro contente. — Eu adoro quando você está errada. — Como você entrou aqui? — Exijo. Ele flexiona os dedos e sorri. — Eu tenho habilidades. Eu cruzo meus braços. — Você tem habilidades que superam uma magia protetora a séculos? — Bem. Minhas habilidades não são tão boas. — Ele coloca as duas mãos atrás da cabeça. — Você me deu acesso, lembra? — Uh, não. Certamente não me lembro de ter dado a você, de todas as pessoas, acesso à minha casa. — Foi há muito tempo. Você ficou cansada de sempre ter que descer as escadas para me deixar entrar. E depois que você me deu acesso nunca mais falamos sobre isso, porque era, afinal, contra as regras, e seu pai teria mudado se descobrisse — Eu olho para ele. Isso soa um pequeno sino no fundo da minha mente. — Você não percebeu que você não precisou me deixar entrar ontem quando voltei com o seu vestido ‘emprestado’? Merda, como perdi isso? Sou uma guardiã, devo perceber tudo. Falando nisso... Eu percebo abruptamente o fato de que eu não estou usando nada além de
uma camiseta grande. Pego o objeto mais próximo - minha bolsa de treinamento vazia - e a mantenho na frente das minhas pernas. — Oh, relaxe, — diz Ryn. — Não é nada que eu não tenha visto antes. Eu jogo a bolsa e alongo a camiseta com um pouco de magia. — Sim, mas no caso de você não ter notado, Ryn, eu mudei um pouco desde que tínhamos cinco anos. Ryn limpa a garganta. — Na verdade, é muito mais recente do que isso, e sim, notei que você... — Desculpe-me? — Ele deveria estar fazendo algo melhor que isso. — O que exatamente você quer dizer com ‘muito mais recente’? — Bem, a maioria consideraria a semana passada muito mais recente do que há doze anos. — Na semana passada? — Ele definitivamente está inventando isso. — Sim. — Posso ver a risada em seus olhos. — Você caiu de uma montanha e acabou com uma necessidade desesperada de cura. Não me diga que você já se esqueceu disso. — Mas... eu — Meu rosto está em chamas. — Sua mãe me curou. — Oh, querida Rainha Seelie, que seja verdade. Se Ryn foi aquele que teve que colocar as mãos na minha pele para me curar, eu posso realmente ficar envergonhada. — Você assumiu que minha mãe a curou. Ela teria, se estivesse por perto. Infelizmente, ela não estava. Ok, está chegando. Vou desmaiar. Certamente uma pessoa não pode lidar com esse embaraço e permanecer de pé? — Relaxa, Pixie Sticks. Você ainda estava de calcinha. Muito atraente, por sinal. Eu teria adivinhado algo chato e preto, assim como o resto de suas roupas, então foi um tanto surpreendente ver pequenos corações cor de rosa. Oh. Meu. Deus. De todas as pessoas do mundo para me pegar de calcinha, por que tinha que ser Ryn? E, infelizmente, ele está certo sobre o chato e o preto. Eu apenas criei aquele padrão na minha calcinha porque estava testando os feitiços de cores que Raven me ensinou naquela noite. — Ajudaria se eu lhe dissesse que você é uma pessoa inconsciente meio nua atrativa?
— Não! — Pressiono minhas mãos no meu rosto superaquecido enquanto Ryn continua a olhar para mim com uma expressão inocente. Eu decido fingir que nunca aconteceu. Eu ando até a cama. — Mova-se. — Eu o empurro para o outro lado para que eu possa levantar as cobertas. — Você está com problemas, por sinal. A Conselheira Starkweather gostaria de vê-lo na semana que vem. — Ooh, outro mano a mano com Silver Starky. O que eu fiz desta vez? Eu levanto a minha voz e tento imitar o membro principal do Conselho. — Nós não podemos ter aprendizes e guardiões conduzindo suas próprias missões. — Eu considero adicionar um 'Eu te disse', mas considerando a aparência de Ryn, não teria realmente o efeito desejado. — Sem problema, — diz ele. — Vou fazer com que ela veja as coisas do meu jeito. — Ele observa como eu aliso as cobertas da cama sobre minhas pernas. — Não é sua camiseta. Eu olho para baixo para o Não há nenhum lugar como 127.0.0.1 impresso na camiseta que eu estou vestindo. — Sim, não tenho ideia do que isso significa. Minha própria camiseta ficou arruinada durante uma das minhas missões, então eu apenas peguei essa. Achei que o cara não se importaria se soubesse que eu acabara de salvá-lo de um nascryl. Ryn concorda. — Hum, eu queria te perguntar uma coisa, — eu digo enquanto me abraço. Tenho certeza de que a camiseta não é transparente, mas eu me sinto estranha nela. — Como você fugiu de Zell? Você não o matou, não é? — Não. — Ryn soca um dos meus travesseiros extras e deita sobre ele. — Aqueles discos caíram do bolso dele, e ele parecia realmente preocupado com isso. Então... Eu os peguei. Eu me sento ereta. — Você pegou os discos? Você os usou? — Os usei? Eu nem sabia o que eram. Não, eles pareciam realmente valiosos para ele, então eu os joguei naquela grande piscina sob as gaiolas. Ele estava furioso. Parecia que queria me matar. Mas acho que resgatar seus discos preciosos era mais importante do que terminar nossa luta. — Ryn parece pensativo. — Ele conseguiu incorporar um vidro venenoso nas minhas costas conforme eu corria, então ele provavelmente espera que eu não tenha conseguido.
Eu solto uma respiração. — Você teve sorte, Ryn. Eu honestamente não pensei que você iria sair dali. — Normalmente eu ficaria ofendido por um comentário como esse, mas, para ser sincero, pensei o mesmo algumas vezes. Sentamos em silêncio por alguns instantes antes de eu puxar meus joelhos para cima e enrolar meus braços ao redor deles. — Certo, fale. O que você realmente está fazendo aqui? Ele solta um longo suspiro e senta-se. Ele morde o lábio e depois aperta as mãos. — Uh... Então, sou um verdadeiro idiota, — diz ele. — Eu sei disso. E é intencional, e tenho um motivo para agir desse jeito, mas não quando se trata de você. Com você, não tenho desculpa. Nós éramos realmente bons amigos, e eu nunca deveria ter culpado você pelo que aconteceu com Reed. — Ele olhou para o colo. — Eu sempre soube no fundo que estava sendo irracional, mas é como você disse. Eu queria culpar alguém, porque se não houvesse como culpar alguém, se fosse apenas um acidente bobo, então tudo parecia tão terrivelmente inútil. Então, — ele respira profundamente e me olha nos olhos — Realmente, eu sinto muito. Dura um tempo antes de encontrar minha voz. — Uau. Estou impressionada. — Deveria estar mesmo. Eu pratiquei em voz alta pelo menos dez vezes antes de eu chegar aqui. — Ele hesita, provavelmente esperando uma resposta, mas não consigo pensar o que dizer. Parte de mim ainda está tentando descobrir se ele está sendo sincero ou se esta é uma grande piada, e estou prestes a descobrir que eu sou o alvo. — O quê? — Ele pergunta. — Você parece que não acredita completamente em mim. Eu suspiro. — Eu só... Não entendi. Dois dias atrás você ainda me odiava, e agora isso? — Eu estreito meus olhos. — Você precisa de outro favor? É disso que se trata? Ele balança a cabeça e seus ombros caem tão ligeiramente. — Eu acho que não posso culpá-la por pular para essa conclusão. — Ele olha para minha claraboia por um tempo antes de olhar para mim. — Eu estou realmente muito grato pelo que você fez pela Calla, mesmo depois de tudo o que eu disse e fiz com você ao longo dos anos. Isso meio que... Me fez olhar para você de forma diferente.
Por algum motivo, sinto um rubor subindo nas minhas bochechas. — E então você veio aqui, pegou um dos meus livros de poesia, e passou a ter grande prazer em me provar que eu estava errada. Luz brilha nos olhos. — Ah, sim. Bem, não consegui resistir a essa parte. — Aproveite o sentimento enquanto dura. — Eu cutuco com meu dedo do pé por debaixo das cobertas. — Você não vai provar que eu estou errada de novo tão cedo. Ele se inclina para frente, o sorriso enorme. — Desafio aceito. Eu o golpeio no lado da cabeça com o travesseiro mais próximo. — Que tal você sair agora para que eu possa dormir? — Uma última coisa. — Ele se senta de volta. — O que você acha, eu não sei, talvez sejamos... meio que amigos? — Ele ergue uma sobrancelha e estende uma mão em minha direção. — Meio que amigos? — Olho sua mão estendida por um momento, depois avanço e aperto. — Eu acho que poderíamos tentar.
Cenas Bônus NATE — Você vai voltar, Nathaniel! — O grito de Angelica ecoou pelo túnel. — Quando você estiver sozinho e perceber que não pertence ao mundo humano, você virá rastejando para a sua mãe! Nate pressionou as mãos sobre as orelhas conforme corre, tentando bloquear a voz de sua mãe. Ele não queria ouvir seus gritos desesperados. Ele não queria sentir pena dela. Ela atacou Violet! Ela provavelmente é psicopata, então, como poderia acreditar em algo que ela dizia? Mas aquele olhar em seu rosto quando ela implorou que ele não a deixasse... Isso rasgou seu coração. Ele podia ver Violet logo à frente dele, seu cabelo escuro passando atrás dela enquanto ela ziguezagueava pelo túnel. Ele tentou continuar, mas sentiu-se doente e tonto. Desorientado. Ele tropeçou e jogou uma mão contra a parede do túnel para evitar cair. Ele cambaleou para frente - e então havia escuridão. A escuridão tornou-se leve, e ele se aproximou, ofegando por ar. Seu peito pareceu apertado, como se seu corpo estivesse apertado através de uma estreita abertura. Os braços dobraram-se. Sua cabeça doeu. Tudo doeu, na verdade. E depois... A dor desapareceu. Algo pareceu diferente, como um tipo estranho de zumbido dentro dele. Ele sentiu isso na câmara de Angelica, e ele pode ter sentido em outras ocasiões, mas ele não conseguiu se lembrar agora. Parecia uma sensação estranhamente familiar. Respirando pesadamente, olhou em volta. Ele estava em uma sala circular, seu chão coberto de pavimentação de pedra e suas paredes escondidas por
centenas de pedaços de papel. Um luxuoso candelabro com velas brilhantes em seus suportes pendia do teto alto. — Eu consegui. Nate se encolheu ao som da voz de uma menina. Seus olhos se aproximaram e a encontraram à sua esquerda. Ela estava encostada na parede, mas agora ela batia as mãos enluvadas e pulava para cima e para baixo com prazer. Então ela parou e olhou para ele. — Ooh, ele é fofo. Podemos mantê-lo? — Eu certamente espero que sim. Nate reconheceu essa voz. Com um estremecimento involuntário, olhou para a grande mesa redonda que ocupava o centro da sala e achou Zell. O faerie que o perseguiu, seus olhos vermelhos brilhavam à luz das velas. Quando ele estava a vários metros de distância, ele parou. Ele piscou de surpresa, depois virou o olhar para a garota. — Você pode sentir? Ela olhou para Nate, e sua testa franziu. — Sim. Mas pensei que você disse que ele não tinha magia? Os olhos de Zell estavam nele novamente. — Eu realmente disse. A menina inclinou a cabeça, como se estivesse ouvindo algo. — Bem, isso é um pedaço de poder que acabou de sair do nada então. Poder? O olhar de Nate saltou de um lado para o outro entre Zell e a menina. De que poder eles estavam falando? Essa era a sensação estranha vindo das profundezas de seu ser? Os lábios de Zell viram ligeiramente. — Parece que esta reunião ficou muito mais interessante. Nate apertou seus dedos tremendo em punhos. Interessante? Interessante? Esta reunião era uma confusão! Onde diabos ele estava? Como ele chegou aqui? Ele deu um passo para trás, procurando um caminho para sair. — Por favor, não pense em fugir para qualquer lugar, Nathaniel, — disse Zell. — Não há nenhum lugar para você ir aqui. — Ele gesticulou em direção à mesa. — Por que você não se senta e escuta o que eu tenho a dizer? Você pode achar minha proposta um pouco atraente. Imaginando que ele realmente não tinha escolha, Nate caminhou lentamente em direção à mesa. Ele não podia ver cadeiras, mas, quando chegou
lá, três se materializaram. Ele sentou-se no meio, com Zell e a menina de cada lado dele. — Esta é Scarlett, — disse Zell. — Ela é uma halfling, como você, embora suas exibições de poder começaram em uma idade muito mais jovem. — Então isso explica por que seu cabelo era de uma única cor. As faeries deveriam ter cabelo multicolorido, certo? Como Zell com seu cabelo preto e vermelho. — Mas começou da mesma maneira que você, — disse Scarlett, cruzando uma perna sobre a outra e a balançando. — Alguns dias, eu sentia esse poder estranho dentro de mim, e outros dias não havia nada. Demorou um tempo antes de se estabelecer. — Ela enrolou um fio de cabelo castanho escuro ao redor do dedo e olhou para Zell. — Você sabe o que sempre dizem sobre mágica halfling. Sem tirar os olhos de Nate, Zell disse, — Imprevisível. Nate olhou para a mesa e tentou não se sentir totalmente sobrecarregado. Sua mãe era uma faerie. Ele era um Halfling. Ele tinha magia dentro dele. Ele podia sentir agora mesmo! Um movimento chamou sua atenção, e ele olhou para cima para ver uma corrente de flocos de neve flutuando debaixo do candelabro. Eles derivaram sobre a mesa e derretiam. Ele estava fazendo isso? Ele teria criado a neve dentro da câmara da Angelica? Seu coração bateu forte com o pensamento. — Claro, — Zell sussurrou. — Foi você quem criou a tempestade à beira do penhasco. Que bobo de mim não ter suspeitado de você. Devia ser óbvio que você teria algum tipo de habilidade extra; Sua mãe tem vários discos, afinal. — Vários? Pensei que existia apenas... — Não, não. — Zell levantou a mão. — Sem perguntas até que você tenha concordado com meus termos. Seus termos? Isso não pareceu bom. Zell recostou-se e juntou os dedos. — Há certas coisas que eu preciso, Nathaniel. Eu preciso dos discos grifo que sua mãe possui, e preciso do guardião que tem a capacidade de encontrar outras pessoas. A razão pela qual você está aqui é porque você está conectado a ambas as coisas. Sua mãe pode muito bem tentar entrar em contato com você, nesse ponto você vai descobrir onde ela está e me dizer. Além disso, você formou algum tipo de relacionamento com a garota faerie que salvou sua vida. Eu gostaria que você usasse essa garota para descobrir quem é o guardião especial.
Nate apertou o queixo enquanto continuava a encarar a mesa com determinação. Então Zell não sabia que era Violet quem poderia encontrar pessoas. Bem, ele certamente não ia contar. — E se eu disser não? — Ele disse, soando muito mais bravo do que ele se sentia. Zell encolheu os ombros. — Bem, eu iria ameaçar a vida de seus familiares e amigos, e ainda posso fazer isso, se necessário, mas desde a sua chegada aqui pensei em uma razão muito mais convincente para o porquê você deveria trabalhar conosco. Nate engoliu em seco. — E o que é? Zell recostou-se mais uma vez. — Nós podemos ajudá-lo, Nathaniel. Agora que esse seu poder surgiu, não vai desaparecer. Você precisa aprender a controlar e fazer uso dele. Tente enquanto você pode, você nunca vai se encaixar no mundo humano e no reino das faeries... — Ele levantou um ombro. — Bem, a maioria das faeries não gosta muito de Halflings. Scarlett aqui pode dizer-lhe isso. Não há muitos lugares em que você será bem-vindo, mas aqui, em minha casa, você sempre terá um lugar. Nate cerrou os punhos contra suas coxas. Ele não quis ouvir isso. Talvez Zell estivesse certo e a maioria dos tipos faeries o rejeitasse, mas Violet não era assim. Ela não se importaria de que ele fosse um Halfling. E certamente poderia ajudá-lo a controlar a magia que ele possuía? Enquanto ele a tivesse, poderia passar por isso. — Scarlett ficaria feliz em ensinar-lhe como usar o seu poder, — disse Zell. Pelo canto do olho, Nate viu a menina balançando a cabeça. — E eu acho que você a achará bem simpática. Scarlett riu e se aproximou de Nate. Ele tentou manter seus olhos colados à mesa, mas ela levantou a mão e tocou o seu queixo, pedindo-lhe que a observasse. E ele queria. Ele queria tanto olhar para ela. Seus olhos vagavam pelo rosto e beberam cada característica. A curva de seus lábios, o tom rosa nas suas bochechas, o marrom gentil de seus olhos. Ela era... cativante. Por que ele não percebeu o quão bela ela era quando ele a olhou pela primeira vez? Se ela fosse a única pessoa que o ajudaria a controlar seu poder, então ele faria o que Zell pediu. Ele faria tudo o que Scarlett pedisse. Ele nunca irá querer se separar dela. Ele...
Ele piscou e balançou a cabeça. O que diabos ele estava pensando? E quanto a Violet? Como ele poderia ter esses tipos de pensamentos sobre outra garota? — Então, o que você me diz, Nathaniel? — Perguntou Zell. — Ou devo chamá-lo de Nate? — Não, — disse Nate imediatamente. Era assim que sua família o chamava. Os amigos dele. E essas pessoas não eram nenhuma delas. Mas... Eles estavam oferecendo-lhe um lugar onde ele iria se encaixar. E uma garota incrivelmente linda para ensinar-lhe como usar o estranho poder que ele nunca soube que espreitava dentro dele. Sua cabeça zumbiu. Ele não conseguiu processar tudo isso. Ele não conseguiu pensar com os dois olhando para ele, amontoando-se em cima dele. De repente, ele se levantou. — Eu só... Preciso de algum tempo para pensar sobre tudo isso. — Certamente, — disse Zell, parando devagar. — Eu enviarei Scarlett para você em dois dias. E, é claro, é evidente que você não falará com ninguém sobre isso. — Sim, — disse Nate, conseguindo olhar as faeries nos olhos. — Compreendo. Zell assentiu, parecendo satisfeito consigo mesmo. — E agora, um presente de despedida antes de sair. — Nate sentiu a mão de Scarlett em suas costas, e ele se afastou. Zell riu. — Eu vejo que seria melhor se você estivesse dormindo para recebê-lo. — Ele ergueu a mão e a escuridão envolveu Nate.
RYN Ryn abriu a porta entre a cozinha e a sala de estar e levou Violet. Gentilmente, ele a colocou no sofá. — Mãe! — Ele gritou. Ele deu um passo para trás e olhou para a garota inconsciente que ele passou a metade de sua vida odiando. Ele não conseguia se lembrar de ter visto alguém tão mal assim. Um corte em sua testa gotejava sangue pelo seu rosto, e ele sentiu uma umidade quente na parte de trás da cabeça também. Havia uma ferida em seu braço e outra em seu ombro, mas estes não eram nada em comparação com a lesão em seu abdômen: uma bagunça de tecido rasgado, carne rasgada e muito sangue. Seu estômago se revirou com a vista. — Mãe! — Ele gritou novamente, indo ao pé da escada. Sua mãe tem toneladas de experiência curando seus companheiros de equipe da guarda. Se alguém podia evitar que Violet morresse, seria ela. Ele subiu as escadas dois degraus de cada vez e verificou cada quarto. Vazios. Droga, por que ela tinha que sair logo agora? Ele correu de volta ao andar de baixo e ajoelhou-se ao lado de Violet. Ele pressionou dois dedos em seu pescoço. Seu pulso era tão fraco que por um momento ele pensou que tinha parado completamente. — Droga, V! Eu finalmente cheguei ao ponto em que tenho que pedir ajuda, e então você vai e meio que se mata? Você está tentando me irritar? Ela não respondeu, é claro. Ele respirou profundamente e colocou as mãos em ambos os lados do seu rosto. Ele hesitou. Se ele arruinasse isso, ele nunca mais veria Calla novamente. Mas por que diabos ele estragaria? Ele recebeu a segunda maior nota na aula quando fizeram magia de cura no terceiro ano. Claro que ele poderia fazer isso. Ele fechou os olhos e imaginou-se se soltando, esperando que a sensação de magia enervante escapasse dele. Ele abriu os olhos quando começou, para que ele pudesse observar a pele em sua testa enquanto começava a se unir. Demorou vários minutos antes de a ferida estar completamente fechada; Deixou uma pequena cicatriz rosa acima do seu olho direito. Em seguida, ele inclinou sua cabeça para o lado, afastou o cabelo emaranhado do caminho e colocou a mão na base do seu pescoço. Ele não
conseguia ver a ferida pelos cabelos, mas provavelmente estava perto o suficiente. Ele deu alguns minutos, depois tirou a mão, agora pegajosa com o sangue dela. Ele sentou-se sobre suas pernas e se fez olhar para o estômago dela. Ele deveria ter curado essa parte dela primeiro, mas apenas a visão da bagunça mutilada fez com que ele quisesse ficar doente. Suas mãos pairavam sobre ela enquanto tentava descobrir o melhor lugar para colocá-las. Ele precisava de contato com a pele ao redor da ferida, e como seu vestido estava arruinado de qualquer maneira... Ele suspirou enquanto agarrava o material logo acima de seus joelhos. Isso certamente não era a maneira como ele imaginava sua primeira vez tirando a roupa de uma menina. Ele rasgou o vestido diretamente no meio, depois franziu o cenho com a visão de sua calcinha. Branca com pequenos corações cor de rosa? Isso certamente era inesperado. Não que ele tenha imaginado a roupa intima de Violet antes. Ele foi atingido de repente pelo fato de que ela era uma menina. Não apenas uma rival ou uma amiga antiga ou uma irritante colega de classe que sempre tem tudo. Ela era uma menina. Bela, mesmo coberta de sangue, e muito mais crescida desde a última vez que a viu meio nua. — Que merda é essa? — Ele balançou a cabeça. Ela ainda era a razão pela qual ele não tinha nenhum irmão, e se ele não continuasse com a cura dela, ele nunca mais acharia sua irmã. Ele cuidadosamente colocou as mãos em ambos os lados de sua estreita cintura e enviou mais magia para ela. Nada parecia acontecer. Ele fechou os olhos e continuou, disposto a relaxar. Deixar de lado o poder dele não era algo que chegava com facilidade a ele - não que ele admitisse isso a ninguém. Ele poderia fazer, é claro, mas sempre o fazia sentir um pouco desconfortável. Sua respiração diminuiu quando ele se concentrou em soltar magia. Quanto seria suficiente? Mais do que ele tinha, provavelmente, então ele continuou. Ele se perguntou o que Violet pensaria quando acordasse aqui. Espero que ela fique o tempo suficiente para ouvi-lo. Ele só precisava ser legal com ela. Agradável. Sim, isso seria difícil. Talvez apenas civil. Civil serviria. Sua cabeça caiu quando um cansaço esmagador se envolveu ao redor dele. Era como se ele estivesse acordado por dias sem dormir. Como se ele tivesse corrido
de uma extremidade da floresta Creepy Hollow para outra – várias vezes. Suas mãos se afastaram do corpo de Violet, e ele afundou contra o sofá e desmaiou. ***
Algum tempo depois, ele ouviu um barulho na cozinha e levantou a cabeça. No momento em que sua mãe atravessou a entrada e o viu, bateu uma mão sobre a boca e ofegou. — Oh, querida Rainha Seelie! O que aconteceu? Ryn lutou para ficar de pé, pressionando uma mão contra a dor repentina em seu peito. — Estou bem. Nada aconteceu comigo. Encontrei Vi na floresta. Alguém deve tê-la atacado. Sua mãe correu para o lado de Violet e a examinou. Uma cicatriz feia torcia através de seu estômago, mas isso desapareceria quando ela recuperasse a força. Tudo o que estava acontecendo abaixo da cicatriz era mais importante. — E você a curou? — Zinnia olhou para o filho dela. — Isso deve ter tirado muito de você. Especialmente desde... Ele sabia o que ia dizer. Especialmente considerando que você nem gosta dela. — Sim. Tanto faz. — Ryn encolheu os ombros e olhou para as mãos dele. Sangue seco preso às palmas das suas mãos. — Talvez você possa limpá-la? Ela provavelmente não apreciaria um banho de esponja vindo de mim. Zinnia voltou o olhar para a garota no sofá. — Eu duvido que ela apreciaria ter seu vestido arrancado por você, mas isso claramente não o impediu. Ryn esfregou a parte de trás da mão nos olhos dele. — Talvez ela supere seu vestido rasgado quando descobrir que eu fiz isso para salvar sua vida. Talvez ela me agradeça; não é como se ela até mesmo gostasse de vestidos. Não consigo imaginar por que ela estava usando um. — Ele deixou cair a mão quando um pensamento lhe ocorreu. Talvez ela estivesse fora com aquele humano que a deixou suspensa. Aquele com quem ela estava na Poisyn. — Bem, o motivo não importa agora. — Zinnia cobriu o corpo de Violet com as peças rasgadas de seu vestido. — Você pode levá-la para o andar de cima, por favor? Então faça o que puder sobre limpar o sangue desse sofá para que você possa tornar isso uma cama.
— Sim, senhora, — resmungou Ryn. Ele levantou Violet do sofá e se dirigiu para as escadas. Quanto tempo ele teria que esperar até ela acordar? A cada momento que passava em que Calla estava desaparecida, era outro momento de que coisas terríveis poderiam estar acontecendo com ela. Ele deixou Violet ao lado da piscina no banheiro de sua mãe, depois procurou em um armário alguns travesseiros e cobertores reservas. Ele sentiu-se fraco e cansado, até um pouco instável. Talvez ele não devesse ter dado tanto poder a Violet. Valeu a pena, no entanto, se ela pudesse dizer-lhe onde Calla estava. ***
Dois dias completos depois e Ryn estava pronto para sacudir Violet de seu sono aparentemente sem fim. Sério? Ela era uma maldita faerie! Não deveria demorar tanto tempo para que melhorasse. Enquanto isso, o Departamento de Desaparecidos dos Faeries estava sendo inútil, é claro, o que significava que eles não chegariam a lugar algum em sua investigação. Aparentemente, eles tinham muitas pessoas para procurar nestes dias. Ele sentou-se em uma cadeira do outro lado da sala de Violet, pegando um dos livros de sua mãe. Não importa quantas palavras ele memorizasse, ele não podia se distrair da realidade. Ele deixou cair o livro no chão e puxou a âmbar do bolso. Talvez ele de alguma forma tivesse perdido uma mensagem de seu pai. O âmbar estava em branco. Ele o empurrou de volta ao bolso, inclinou a cadeira para trás e pegou o espelho e a stylus na mesa. Ele se sentou com a stylus colocada acima do vidro enquanto procurava em sua memória pelo último feitiço para as redes sociais. Ele rabiscou as palavras lembradas e observou as letras brilhantes enquanto elas desapareceram. O vidro nublou, e as mensagens com pequenos símbolos junto a eles nadaram até a superfície. Ryn recostou-se na cadeira, esperando distrair-se com os detalhes inatos da vida de seus amigos. Aria aparentemente tinha acabado com Honey no Aquário, e Jasmine pensou que tinha visto uma faca pulando em seu jardim naquela manhã. Ryn bufou para o erro de ortografia, então se aproximou e entrecerrou os olhos para o
símbolo ao lado do nome de Dale. O que costumava ser um braço mostrando os músculos era agora uma mão fazendo um gesto grosseiro. — Idiota, — murmurou Ryn. Ele colocou o espelho no chão ao lado do livro e bocejou. Do outro lado da sala, Violet gemeu e esfregou os olhos. Finalmente! Ryn disparou para sofá e ajoelhou-se ao lado. Ok, seja legal, seja legal. Ela piscou e olhou em volta, depois afastou no momento em que seus olhos caíram sobre ele. Bem, ele não podia realmente culpá-la por isso. Ele poderia ter tido a mesma reação em seu lugar. — O que... O que você está fazendo aqui? — Ela perguntou. O que ele estava fazendo aqui? — Eu moro aqui, — disse ele. Suas sobrancelhas franzidas juntaram-se, então ele ficou calado até ela descobrir. Ok, então, ele deve pedir o seu grande favor agora, ou levar isso com uma pequena conversa? Talvez seja melhor começar com uma boa conversa. Algo como... — Agora seria um bom momento para dizer ‘eu te disse’? — Droga, não algo assim. Ele esperava que ela se lançasse com raiva, mas em vez disso, ela rolou sobre suas costas e olhou para o teto. — Depende. Você já me disse que meu namorado Halfling me trairia com um faerie do mal? Momentaneamente distraído, seus cotovelos escorregaram do sofá. — Aquele cara é um Halfling? Espera, você tem um namorado? — Como se essa realmente fosse a novidade mais importante agora. Provavelmente não, mas por algum motivo ele não podia deixar isso passar. — Eu diria que certamente merece atenção. — Ele colocou os cotovelos na borda do sofá mais uma vez. — Quem teria pensado que você seria capaz de encontrar alguém interessado em ter sua companhia? — Parabéns, Oryn. Ele se deu um chute mental. O que aconteceu em ser legal? Ela virou a cabeça em direção a ele, fixando-o com seu vibrante olhar roxo. — Por que você não me deixou lá para morrer, Ryn? Nós dois teríamos um momento muito mais agradável agora se você tivesse deixado. Suas palavras perfuraram algo dentro dele. Ela não pensou honestamente que ele faria algo assim, não é? A sua aversão a ela não se estendia tão longe. — Se você estivesse morta, Pixie Sticks, não haveria ninguém para me atormentar. —
E, no entanto, sua aversão se estendia o suficiente para que ele simplesmente não conseguisse dizer nada agradável a ela. — Você quer me dizer que eu sou a única que concede a você seus insultos deliciosos? Estou tocada. — Ela se levantou e passou uma mão por seus cabelos, então colocou os fios roxos e pretos atrás de suas orelhas. As flechas na cor prata em seus lóbulos se destacavam contra sua pele pálida, provocando uma súbita raiva dentro de Ryn. Por que diabos ela insistia em usar esses malditos brincos? Tudo o que ele poderia pensar quando os via era em Reed. Reed ensinou a Ryn e a Violet como atirar com arco e flecha. Ele não era muito mais velho do que os dois, mas praticava desde que tinha idade suficiente para segurar o pequeno arco que seu pai criara para ele. Também foi Reed quem escolheu os brincos quando ele e Ryn haviam procurado o presente de aniversário de Violet com a mãe deles. — Adorei o vestido que você estava usando, — disse Ryn a Violet, sua voz quase beirando ao sarcasmo. — Ele mostrava suas pernas de vareta ao máximo. E eu vejo que você também colocou um item da moda em suas orelhas. — Sua ponta dos dedos escovou o lóbulo da orelha dela e ela afastou sua mão imediatamente. — Eu não os uso para irritar você, sabe. É um bônus adicional, é claro, mas a verdadeira razão pela qual os uso, é porque eles me lembram de Reed. Ele olhou para ela, a raiva deixando um gosto amargo na boca dele. — E quando você os usa, você também pensa em mim? Ou você esqueceu que eles eram um presente de nós dois? Seu olhar se desviou. — Violet, você está acordada. — Ryn ergueu os olhos e viu sua mãe no pé da escada, vestida e pronta para outra tarefa. Tudo o que ela fazia era trabalhar. Violet levantou. — Zin... Sra. Larkenwood. — Ela balançou ligeiramente. — Obrigada por cuidar de mim, e pelas roupas. — Vi, você tem certeza de que deveria estar de pé? — Zinnia através da sala. — Você ficou muito ferida. Você pode precisar de mais descanso. — Oh, acho que estou bem. Eu deveria estar indo para casa agora. Eu só quero que você saiba o quão grata eu estou. Você deve ter usado muita magia de cura.
Os olhos de Zinnia se dirigiram para o filho dela por um momento, e ele balançou a cabeça ligeiramente. Se Violet quisesse pensar que foi a sua mãe que a curara, estava tudo bem para ele. Tudo o que ele queria saber era o paradeiro de Calla, e que merda, por que ele ainda não havia perguntado a ela? Ele apertou os punhos. — Posso falar com você? — Perguntou sua mãe. Ele piscou, percebendo que perdeu uma parte da conversa. Ele suspirou com frustração. — Se você precisa. Quando voltou para a sala de estar, Violet encontrou as botas e as colocou. — Então. A equipe da minha mãe vai para a Itália por alguns dias. — Ele caiu em uma cadeira, esperando esconder a tensão que ele sentia em cada fibra de seu ser. — A vida glamorosa de um guardião. — Itália? — Ela começou a remover a roupa de cama do sofá. — Eles não têm sua própria Guilda? Foi exatamente o que ele disse. — Aparentemente, os italianos precisam da experiência da minha mãe. Ela dobrou os cobertores, depois se virou para ele. Seu olhar não encontrou o dele quando ela disse, — Bem, obrigada por salvar minha vida. Ah, inferno, ela ainda não podia sair. Ele pulou e a seguiu até a parede, onde obviamente estava planejando deixar-se sair. — Você se lembra quando não nos odiávamos? — Perguntou ele. Ele tinha que detê-la conforme trabalhava a coragem para pedir ajuda. Ela cruzou os braços. — Minha memória não vai tão longe. — Mesmo? Sua memória é assim tão ruim? — Ele enfiou as mãos nos bolsos e se inclinou contra a parede. — Não parece coisa sua; você é tão boa em guardar rancor. — Vários rancores, se vamos ser técnicos. — Ele podia ver seus dedos apertando em torno de seus braços, e isso lhe dava um prazer retorcido em saber que ele estava a irritando. — Eu realmente fiz todas essas coisas terríveis a você, Pixie Sticks? — Você colocou uma placa nas minhas costas que dizia ‘Chute-me’ no nosso primeiro dia de treino. — Você tem que admitir que isso foi bastante divertido.
— No terceiro ano você disse a todos que eu tinha algum tipo de doença contagiosa. — Bem, você realmente tinha uma marca suspeita no seu... — E no quarto ano eu aparentemente estava tendo um caso com um mentor cinco mil anos mais velho. — Deveria ter escolhido um mais jovem para você... — Você jogou fora o tokehari de minha mãe! — Ela gritou. Merda, por que ela precisou trazer isso à tona? Quando se tratava de Violet, não havia muita coisa que ele se arrependesse de dizer ou fazer - sua intenção era geralmente machucá-la - mas jogar fora o tokehari... Bem, até mesmo ele sabia, quando fez isso, que ele tinha ido longe demais. Droga, droga, droga. — Oh? Minha memória está um pouco confusa sobre isso. Você terá que me lembrar dos detalhes. — Corrente de ouro. Chave de ouro. Você jogou no poço no caminho que leva ao Subterrâneo. E provavelmente estava na posse de alguém do Subterrâneo agora. — Uma chave? Oh, querida, você já ficou trancada fora de algum lugar desde então? — Não, Ryn, mas esse não é o ponto, droga! Nunca foi feito para abrir algo, era para lembrar a minha mãe. — Ele não podia ter certeza, mas ela parecia perto de lágrimas. De alguma forma, ele não poderia se importar. — Bem, uma chave que não abre nada soa como uma chave inútil, e mesmo que você estivesse com ela, duvido que você seria capaz de se lembrar da sua mãe. Você tinha apenas três anos quando ela... — PARE! — Seus braços estavam diretamente em seus lados agora, suas mãos tremiam. — Não me importo o quão idiota você decidiu se tornar, você nunca teve o direito de fazer ou dizer qualquer uma dessas coisas. Ryn afastou-se da parede. — Eu não decidi me tornar um idiota, ok. As coisas aconteceram e... — As coisas aconteceram? Coisas? Ele também era meu amigo, Ryn. Mas não vi a morte dele como uma razão para afastar todas as pessoas que sempre se importaram comigo. Ela não tinha ideia. Ela não tinha a mínima ideia de como isso foi para ele. O que ainda era. — Bem, todos têm métodos diferentes para lidar.
— Este é um método de lidar? Claramente, não está funcionando para você. — Ele era meu irmão! — Ryn gritou. — Como diabos você esperava que eu pudesse lidar com isso? Ela se aproximou dele. — Você quer um método para lidar com isso? Aqui está um que você obviamente ainda não tentou: SUPERE. ISSO. — Sem outra palavra, ela abriu uma entrada na parede e desapareceu na escuridão. Ela se foi. E ele ainda não sabia onde Calla estava. A raiva se dissolveu quando o pânico se apertou ao redor do seu peito. O que diabos estava errado com ele? Sua irmãzinha, a garota mais doce de todo o reino das faeries, poderia estar morta ou pior, e aqui ele estava lutando por algo tão inútil como métodos de enfrentamento? Ele pegou a stylus do chão e correu para o andar de cima para buscar os pertences de Calla. Ele tinha que ir atrás de Violet.