PUNK
Punk ele co entre Miguel Francisco Cadete Editorial
k: ontinua e nós.
Nao tenho tempo nem espaço, ou sequer sabedoria para discorrer sobre o punk de maneira a acrescentar seja o que for à entrevista de Jon Savage - provavelmente o melhor historiador da coisa - publicada nestas páginas. Nunca terei a verve de John Lydon, que também pode ser confirmada mais adiante. Não vale a pena acrescentar seja o que for à controvérsia sobre a origem do punk (britânica ou americana?). E, na verdade, não sei se existiu um movimento punk em Portugal ou se, como sucedeu lá fora, rebentaram uma multidão de estilhaços que por conforto decidiram adoptar o mesmo nome. Sei que este número da BLITZ vai longe na tentativa de responder a muitas dessas questões, ainda que me fique mal sublinhar isso mesmo. Aquela moral muito própria de Kurt Cobain - que não deixava ninguém levar-lhe a guitarra para um concerto, pois deveria ser ele próprio a fazê-lo. E essa ética tanto poderia conduzir a tipos obcecados com o poder como ao mais puro artesanato, como se de uma viagem à préhistória se tratasse. E é essa “característica” que hoje se cruza connosco todos os dias: quando pensamos que o capitalismo está falido e sonhamos com o regresso ao campo, quando nos lembramos que deveríamos montar o nosso negócio a fazer
Esta edição faz sentido 35 anos depois de 1977 porque o punk resiste nas mais singelas coisas. Falo, por exemplo, da ética “Do-It-Yourself ”, que em português devemos traduzir para “Faça-Você-Mesmo”. No fundo trata-se daquela ideia de que cada um de nós pode fazer seja o que for, mesmo que a habilidade para tal seja inversa à dos mestres do Renascimento. aquilo em que “realmente somos bons”, ou quando, em assombro metafísico, procuramos encontrar sentido para a nossa passagem pelo o mundo. Nos sinais de dissolução da atual sociedade encontramos pontos de contacto com a ética pino, e não estou a pensar exactamente em confrontos com a força policial durante as manifestações. O que talvez não nos ocorra tão amiúde é que depois da sua explosão, a ideologia punk (que por sua vez é enformada por ideologias que a antecederam) presidiu a todas as grandes transformações que tiveram lugar na música popular. Passo a citar: o surgimento das editoras independentes, a revolução da música de dança comDJ no papel de produtor de cultura, e até o grunhe de Seattle que só não foi puro heavymetal por causa do punk. Mas o seu legado mais permanente é, sem dúvida, o caos instalado na indústria da música ( e todas as outras culturas e da comunicação em geral) com a generalização do download ilegal e a incapacidade dos departamentos de markting para distinguirem uns artistas dos outros, pois já não têm dinheiro para o fazer. O último sarcasmo de Malcolm McLaren foi esse: todos são iguais e todos têm direito a uma voz, no MySpace, YouTube, ou num site qualquer. Não importa o seu virtuosismo tanto quanto a sua própria (in)capacidade de provocar. Estou certo de que se continua a divertir.
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Miscelanea
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Blur de volta a Portugal. Banda inglesa é primeira confirmação do Optimus Primavera Sound no próximo ano. Até lá, há concertos e festivais de outono/inverno. Os Blur são o primeiro nome confirmado no cartaz do Optimus Primavera Sound 2013. Pela segunda vez no nosso país, o festival criado em Espanha realiza-se no Parque da Cidade do Porto entre 30 de maio e 2 de junho; os Blur atuam a 31 de maio. Os passas gerais custam €110,00. Já em novembro, Guimarães recebe a versão outonal do Optimus Primavera Sound, o Optimus Primavera Club. Sharon Van ETTEN, Ariel Pink’s Haunted Graffiti e Destroyer (30 de novembro), Swans e Tinariwen (1 de dezembro) e The Vaccines e Cats on Fire (2 de dezembro) são alguns dos nomes avançados. Os concertos acontecem no Centro Cultural de Vila Flor, na Plataforma das Artes e da Criatividade e em São Mamede. Passes para três dias a €35,00 e bilhetes diários a €25,00. Também em várias salas, mas em Lisboa, acontece o Vodafone Mexefest, com Alt-J, Django Django, Light Asylum, Noiserv e Soaked Lamb, entre outros. O festival passará por várias salas no eixo da Avenida da Liberdade, a 7 e 8 de dezembro. Bilhetes a €40,00. No Porto, e já em outubro, o Amplifest leva ao Hard Club e ao Passos Manuel bandas como Godspeed You! Black Emperor (de regresso com novo disco), Six Organs of Admittance, Black Bombaim ou Bohren & Der Club of Gore. O passe custa €60,00. De volta a Lisboa, mas com algumas ramificações no Porto, em novembro o Misty Fest acolher concertos de Peter Hook & The Light; Filho da Mãe, Frankie Chavez e Tó Trips (mais sobre o espectáculo Novas Guitarras Portuguesas nesta edição); B Fachada ou Cowboy Junkies. Saiba mais na agenda (página 104). Fora festivais, a 1 de dezembro, Ariel Pink toca também no Lux, em Lisboa (€15,00), Steve Vai passa pelo Hard Club a 11 de dezembro (€30,00) e pela Aula Magna (de €30,00 a €35,00) e, em janeiro de 2013, os Cult of Luna atuam no Hard Club (a 28 de janeiro) e no Paradise Garage, em Lisboa (bilhetes a €20,00).
Dj Ride. É um dos mais reputados Djs e produtores portugueses, ao serviço da musica dita urbana, e campeão do mundo de scratch com o projeto Beatbombers, que divide com Stereossauro. Entre o hip-hop e o dubstep, o musico vai correndo mundo mostrando os seus dotes atrás dos pratos, das pequenas salas aos grandes festivais. Acaba de editar o álbum Life in Loops, registo que conta com colaborações não só de stereossauro como de Legendary Tigerman, PAUS e Groove 4Tet. Respondendo ao desafio da Blitz, Ride diz que viaja melhor a ouvir Koreless ou Noisa, que Flying Lotus e Herbie Hancock são bons despertadores e que fica sempre bem-disposto quando ouve “Let’s Ride” de Q-Tip.
Koreless “Lost in Tokyo”
A$AP Rocky “Goldie”
LOL Boys “Changes (Shlohmo Remix)
Q-Tip “Let´s Ride”
Noisia “Friendly Intentions”
Art Ensemble of Chicago “Theme de Yoyo”
Flying Lotus “MmmHmm”
Jaylib “Champion Sound”
Herbie Hancock “Main Title from Blow Up”
Beastie Boys “Get Together”
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Escândalo na BBC: Jhon Peel e Jimmy Savile abusaran de menores. A BBC, emissora pública de rádio e televisão britânica, viu-se obrigada a abrir inquéritos internos depois de o radialista John Peel e o apresentador do Top of the Pops Jimmy Savile, ambos já falecidos, terem sido acusados de abuso sexual de menores. O escândalo tomou grandes proporções quando várias testemunhas asseguraram que administradores da emissora sabiam dos crimes e nada fizeram. Savile terá abusado sexualmente de mais de 20 menores nas décadas de 60 e 70. A polémica veio a lume num documentário exibido pelo canal ITV, no início do mês de outubro, em que cinco mulheres afirmam ter sido agredidas sexualmente pelo apresentador. Também o rocker britânico Gary Glitter - já antes condenado por pedofilia - é envolvido no caso, sendo que a polícia suspeita que a lista de estrelas envolvidas seja maior. O caso que envolve John Peel, falecido em 2004, foi tornado público, após a exibiçao do documentário, por uma cidadã inglesa, Jane Nevin, hoje com 59 anos, que revela ter tido um caso com o radialista quando tinha apenas 15 anos e ele 30. A mulher, que conheceu Peel nos bastidores de um concerto dos Black Sabbath, diz mesmo ter engravidado e abortado durante os três meses em que esteve envolvida com o divulgador musical. O caso entre os dois - os encontros sexuais aconteciam nos bastidores de concertos e no estúdio da BBC - terá chegado ao fim quando a mãe da adolescente percebeu o que se passava. [Peel] devia saber queeu ainda andava na escola, mas não perguntou e eu também nao disse, explica Nevin. Adorava poder andar com ele. Era novinha e ele era famoso. Só queria fazer inveja aos meus colegas de escola. Suponho que o tenha usado para obter fama e ele usou-me para o sexo. A inglesa conclui: agora vejo que aquilo era terrivelmente errado e se calhar fui manipulada. Mas era uma época diferente.
Stones voltam aos palcos.
Rage against The Machine, a celebraçao.
Depois de muita especulação, os Rolling Stones anunciaram mesmo quatro concertos, a acontecer ainda este ano, nos meses de novembro e dezembro.
Depois de muita especulação, os Rolling Stones anunciaram mesmo quatro concertos, a acontecer ainda este ano, nos meses de novembro e dezembro.
A jurásica banda, que este ano celebra as suas bodas de ouro, vai tocar por duas vezes no O2 Arena, em Londres (a 25 e 29 de novembro), e também no Prodential Center de Newark, perto de Nova Iorque (a 13 e 15 de dezembro). Resta agora saber se, em 2013, este espectáculo será ampliado para uma nova digressão, com datas em mais países que não os dois típicos centro da indústria do entretenimento. Reino Unido e Estados Unidos. Em comunicado, os Rolling Stones deram conta da existência de um novo palco, a estrear nestes concertos, que facilitará a interacção com o público, fazendo destas actuações um deleite para olhos e ouvidos. Esta será a primeira vez que os britânicos se reúnem para atuar ao vivo desde o final da digressão A Bigger Bang, em 2007.
A jurásica banda, que este ano celebra as suas bodas de ouro, vai tocar por duas vezes no O2 Arena, em Londres (a 25 e 29 de novembro), e também no Prodential Center de Newark, perto de Nova Iorque (a 13 e 15 de dezembro). Resta agora saber se, em 2013, este espectáculo será ampliado para uma nova digressão, com datas em mais países que não os dois típicos centro da indústria do entretenimento. Reino Unido e Estados Unidos. Em comunicado, os Rolling Stones deram conta da existência de um novo palco, a estrear nestes concertos, que facilitará a interacção com o público, fazendo destas actuações um deleite para olhos e ouvidos. Esta será a primeira vez que os britânicos se reúnem para atuar ao vivo desde o final da digressão A Bigger Bang, em 2007.
Entretanto, já em novembro chega ás lojas GRRR!, a nova compilação de êxitos dos Rolling Stones. «One Last Shot» e «Doom and Gloom», gravados em agosto deste ano, são os dois inéditos desta coletânia, que não existe em versão económica: a edição “normal” (que custa cerca de 19 euros, em pré-venda on-line) tem nada mais nada menos que 50 faixas, distribuídas por três CDs. A versão de luxo aumenta a contagem para quatro CDs, acrescentado-lhe ainda demos da banda em 1963 e um viril com uma sessão na BBC em 1964.
Entretanto, já em novembro chega ás lojas GRRR!, a nova compilação de êxitos dos Rolling Stones. «One Last Shot» e «Doom and Gloom», gravados em agosto deste ano, são os dois inéditos desta coletânia, que não existe em versão económica: a edição “normal” (que custa cerca de 19 euros, em pré-venda on-line) tem nada mais nada menos que 50 faixas, distribuídas por três CDs. A versão de luxo aumenta a contagem para quatro CDs, acrescentado-lhe ainda demos da banda em 1963 e um viril com uma sessão na BBC em 1964.
Na capa de GRRR! está um gorila pouco amistoso, numa ilustração do artista Walton Ford, que se dedica a retratar a natureza. GRRR! está disponível a partir de 12 de novembro.
Na capa de GRRR! está um gorila pouco amistoso, numa ilustração do artista Walton Ford, que se dedica a retratar a natureza. GRRR! está disponível a partir de 12 de novembro.
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EMI Portugal vai ser vendida pela Universal. A Universal adquiriu a EMI mas, para assegurar concorrência, catálogos como o português - que inclui Caminho - têm que mu- dar de mãos. A EMI MUSIC Portugal, que tem no catálogo artistas como Rui Veloso, Mariza, Carminho ou Camané, vai voltar a mudar de mãos. Apesar de a EMI ter sido comprada pela Universal, a Comissão Europeia obrigou grupo Universala vender algumas unidades operacionais europeias da EMI para assegurar concorrência: além de Portugal, a empresa terá de vender o escritório espanhol, francês, belga, polaco, dinamarquês, norueguês, sueco e checo. Acrescem os catálogos das etiquetas Parlophone, Mute, Chrysalis, nas mãos da EMI britânica, o que significa, na prática, que a Universal ficará sem artistas como Coldplay, Blur, David Guetta, Kulie Minogue ou Depeche Mode. Apesar de manter os Beatles,a Universal terá também de abdicar de gigantes como Pink Floyd, David Bowie ou Tina Turner, além do catálogo da Universal Grécia e da metade que a EMI detém nas compilações Now. Da EMI para a Universal, passam artistas como Norah Jones, Foo Fighter, Katy Perry ou Beach Boys. Segundo a Billboard, há vários interessados na compra, incluindo o empresário britânico Simon Fuller, produtor do American Idol. O prazo para a venda é de seis meses e a Universal está impedida de readquirir nos próximos dez anos o que vender agora. Fonte do escritório português da Universal garantiu à BLITZ que “ainda não se sabe de nada, não temos mais nenhuma informação”. João Teixeira, director-geral da EMI Portugal, explicou, em declaraçôes à BLITZ, que a empresa compradora terá de responder a algumas condições: “em de ter capacidades financeiras provadas para levar o negócio não só no início, para evitar coisas que aconteceram à EMI no passado [a sucessão de proprietários], e experiência de media”. Segundo Teixeira, a situação dos artistas portugueses do catálogo da EMI vai manter-se igual, após a venda. “Os artistas fazem contratos com uma companhia. Muitos dos que cá estão já passaram por vários donos”. “Estamos a falar de titularidade do capital. Esta companhia passou da bolsa para a Terra Firma, depois para o Citigroup e agora para a Universal. Da Universal passará para alguém. Ao nível das operações do dia-a-dia, os artistas não têm sentido absolutamente nada com isso”.
Se encontrasse uma mala com um milhão de euros… E se não tivesse dono, comprava uma casa fixe para os meus pais, pagava os cursos que a minha irmã quisesse, comprava instrumentos que não tenho, e ajudava os meus amigos e a minha família. A primeira coisa que faço de manhã… É desligar o despertador e dormir mais dez minutos. De entre as coisas que me causam medo contam-se… O medo de deixar de poder fazer música ou de tocar ao vivo. Ao sábado à noite, é provável que me encontrem… No barco a voltar de um ensaio, ou na zona ribeirinha da Moita. E agora apetecia-me dizer isto: Se ainda não ouviram o meu EP podem fazer uma encomenda no site da FlorCaveira. Apoiem a música nacional.
Alex D´Alva Teixeira A voz de “3 Tempos”, e uma das apostas da FlorCaveira, gosta de ficar na cama depois de o despertador tocar. Acredito que um dia… Vou poder gravar um disco diretamente para o vinil, como se fazia antigamente. A melhor coisa que podem dizer de mim é… Que sou um miúdo simpático e sou “bué da paz”. E a pior? Que ignorei alguém. Eu sou mesmo muito tímido e ás vezes tenho vergonha de falar com as pessoas, especialmente se admirar o trabalho delas.
A última sms que enviei foi… A desejar um bom dia à minha irmã.
Diana Bouça Nova A ex-apresentadora do curto circuito não se importava de trocar de pele com Frank Sinatra. Qual foi o ultimo disco que a deixou assombrada? O mais recente de Lykke Li [Wounded Rhymes]. Com que músico não desdenharia trocar de pele? Talvez Frank Sinatra. Que concerto se arrepende mais de não ter visto? Claro que não tive oportunidade, mas gostaria
muito de ter visto os Beatles ao vivo. Que músicos já a desiludiram forte e feio? Gostei imenso do primeiro disco dos XX. O segundo não tem grande novidade, mas já esperava. Já gostou de uma música de alguém que não podia ver pintado? Gosto de algumas músicas do Marilyn Manson e não o suporto. Que música não consegue ouvir nem que lhe pagem? Consigo ouvir quase tudo. Gosto cada vez mais de música clássica. Mas também gosto de música pimba se estiver em ambiente arraial com amigos… Que disco não consegue apagar do seu leitor de MP3? Ui. Todos. não apago nada. Nunca nada é reciclado. Até tem graça, de vez em quando ouvir uma coisa que ouvíamos há dez anos. Tem facebook? Ei-lo: facebook.com/dianabnova
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Biffy Clyro Três anos e pouco depois de Only Revolutions, o álbum que os confirmou definitivamente com uma das forças motrizes do rock britânico do novo milénio, os escoceses Biffy Clyro regressam com um duplo álbum. Opposites está dividido em duas partes: a primeira chama-se The Stand at the Core of Our Bones e a segunda intitula-se The Land at the end of our toes. Com produção de GGGarth Richardson - que já tinha deixado a sua marca em álbuns anteriores da banda e colaborou com nomes como L7, Mudvayne ou Rage Against the Machine - Opposites é, segundo Simon Neil, o vocalista, algo que a banda dificilmente achava que ia conseguir fazer. “Nunca pensei que tivéssemos oportunidade de fazer um duplo álbum de grande orçamento”, explica o músico à Mojo antes de prometer novidades, “portanto mais vale atirarmo-nos a isso e experimentar coisas diferentes”. Segundo as explicações da banda, a primeira parte do disco é baseada em «pensamentos negativos» e a segunda, amis optimista, segue o mote «agarrar o futuro pelos cornos». Entre as novidades, promete-se um tema com uma banda mariachi e outro com um coro gospel.
Titúlo: Opposites Data: 28/01/2013 Biffy Clyro
Happy Mondays
Título: a anunciar Data: a anunciar Happy Mondays
Os britânicos Happy Mondays estão a preparar um novo álbum, o primeiro a contar com a formação original da banda desde 1992. Rowetta, cantora que assegura as segundas vozes, explicou ao NME que há vários nomes provisórios neste momento (Designer Vagina, Lollipop Man e Mumbo Jumbo) e que a coleção de canções é «brilhante». “As letras do Shaun [Ryder] são óptimas e toda a gente está a tocar melhor que nunca porque as cabeças estão mais limpas”, disse a artista, “estamos todos a trazer novas ideias, todos a escrever. É fantástico”.
Ke$ha O segundo álbum da cantora norte-americana Ke$ha conta com uma lista quase infindável de colaborações: Iggy Pop, Will.i.am (Black Eyed Peas), Patrick Carney (Black Keys), Weyne Coyne (Flaming Lips) e Nate Ruess (Fun), são alguns do nomes inscritos na página de créditos de Warrior. “Tenho vindo a trabalhar neste novo álbum ao longo do último ano e colaborado com alguns dos meus maiores ídolos”, disse a artista de «TiK ToK». “Espero que com Warrior os meus fâns me fiquem a conhecer de forma mais crua e vulnerável”. «Die Young» é o primeiro single.
Título: Warrior Data: 3/12/2012 Ke$ha
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Adele vale ouro. Segundo álbum da inglesa valeu à sua editora um lucro de mais de 50 milhões de euros. Um dos maiores êxitos dos últimos anos, no que a musica diz respeito, o segundo disco de Adele, 21, valeu à editora que o lançou ganhos na ordem dos 50 milhões de euros. O lucro reporta-se a 2011, ano de lançamento do álbum de “Rolling in the Deep” e “Someone Like You”. Só no Reino Unido, o sucessor de 19 vendeu 10 milhões de exemplares (o correspondente ao total da população portuguesa), ao passo que, nos Estados Unidos, território tipicamente “complicado” para os artistas britânicos, o disco bateu recordes e foi mesmo apresentado como salvador do ano discográfico (sem 21, no ano passado a venda de musica do outro lado do Atlântico teria caído quase 3 e meio por cento). As vendas de Adele significaram um crescimento inesperado para os cofres da editora XL, que confessa ter visto o seo saldo bancário passar de menos quatro milhões de euros para os quase 40 milhões de euros, no espaço de um ano. Tanto Richard Russell, patrão da XL, como Martin Mills, seu congénere na Beggars Banquet, receberam 10 milhões de libras cada. Atualmente grávida do primeiro filho, Adele já terá começado a escrever canções para o terceiro disco, ainda sem data de saída. Elogiada recentemente por músicos como Slash – o ex-guitarristados Guns’n’Roses aprecia a autenticidade de Adele e o facto de a cantora escrever as próprias canções – a londrina deu voz, este Outono, à canção “Skyfall”, do filme de James Bond do mesmo nome. Acompanhada por uma orquestra de 77 músicos nas gravações do tema, co-escrito por Paul Epworth, com quem já havia trabalhado em 21, Adele descreve a proeza “Bondiana” como um dos maiores orgulhos do seu percurso, iniciado apenas há quatro anos. Mas Adele não é um sucesso apenas nos álbuns: no Reino Unido, “Someone Like You”, segundo single de 21, foi o primeiro single no espaço de uma década a ultrapassar o milhão de cópias vendidas. Ao mesmo tempo, a canção lidera a lista de músicas mais tocadas em funerais, naquele pais, à frente de músicas de Robbie Williams (“Angels”), Celine Dion (“My Heart Will Go On”) ou Monty Python (“Always Look on the Side of Life”).
Posto Emissor. Mark Eitzel » “We All Have To Find Our Way Out...” » Don’t be a Stanger. The National » “You’ve Done it Again, Virginia” » The Virginia EP. Plan B » “Deepest Shame” » Ill Manors.
The Irrepressibles » “Two Man in Love” » Nude. Bat For Lashes » “All Your Gold” » The Haunted Man. Cat Power » “Manhattan” » Sun. Censurados » “Animais” » Censurados.
The Saints » “Know Your Product” » Eternally Yours. Ednardo » “Beira Mar” » Ingazeiras Velvet Underground » ”Stephanie Says” » VU.
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Zambujo No Coliseu. O sucesso de
Quinto, o álbum número cinco para António Zambujo, vai ser coroado com um concerto no Coliseu de Lisboa, a 7 de dezembro. Os bilhetes para ver o cantor que tem conquistado Portugal (e Brasil) com a sua música brasileira, jazz, música africana e cante alentejano, custam entre €15,00 e €40,00. À boleia de êxitos como “Flagrante”, Quinto já é Disco de Ouro.
“As pessoas chamam-me louca. Sempre fui assim” Cat Power
Guns n’ Roses têm «toneladas» de novas cançones.Os
Guns N’ Roses querem gravar um novo álbum de originais ainda este ano, disse o guitarrista DJ Ashba. Em declarações à Rolling Stone, o músico avançou: «o Axl [Rose] tem toneladas de coisas feitas e gravadas», explicando depois de há muitas canções finalizadas e prontas para entrar naquele que será o sucesor de ChineseDemocracy. Ashba disse ainda que os concertos de celebração dos 25 anos de Appetite For Destruction, que acontecem em Las Vegas em novembro, podem ajudar a que os trabalhos no novo regito avancem rapidamente até ao final do ano.
“Forme é terror e fome, num mundo donde hça muita furtura e um crime” Tom Morello
Ex-Táxi apresentam os Porto. João Grande
e Rui Taborda, dois elementos dos extintos Taxi- respetivamente vocalista e baixista- , regressam ao ativo este ano com o projeto Os Porto. Com “uma formação diferente” e “ uma sonoridade” distinta das do grupo anterior, a banda estreou--se recentemente nos álbuns com Persicula Cingulata, registo que inclui canções como: “Fim do mundo”, “De mão em mão” ou “Onda do meu mar”. “Para sempre”, o primeiro single, foi masterizado por Toborda e Stephen Marcussen ( em cujo currículo constam trabalhos com Stevie Wonder, Paul McCartney, Beck ou Smashing Pumpkins) nos Estados Unidos.
Rec y Singles “A pop mainstream anda mais introspectiva. parece que as pessoas gostam mais da tristeza” Romy Madley - Croft
“O Curt Cobain era grande fâ dos Mettalica” Kirk Hammett
Circo Michael Jackson chega à cidade.
A digressão mundial Michael Jackson The Immortal assenta arraiais em Lisboa entre 11 e 14 de Abril do próximo ano. Inspirado nas músicas e letras das canções do falecido artista, o espetáculo, com a assinatura do Cirque du Soleil, conta com 50 dançarinos, músicos e acrobatas e é dirigido por Jamie King, que participou com o Rei da Pop na Dangerous Tour e posteriormente coreografou e dirigiu concertos de Madonna, Britney Spears e Jennifer Lopez. Os Bilhetes estão à venda nos locais habituais e custam entre €40,00 e €89,00.
Deep Purple nomads para o Rock and Roll Hall of Fame.Os Deep Purple
e Donna Summer, falecida este ano, são, junto com Kraftwerk, Rush; Public Enemy, ou Joan Jett and the Blackhearts, alguns dos nomeados o Rock and Roll Hall of Fame. A votação, que sempre esteve nas mãos do músicos, historiadores e pessoas ligadas à indústria musical, está, pela primeira vez, aberta ao público - os fãns são convidados a votar no site da Rolling Stone até 5 de Dezembro. Os nomes dos artistas que verão o seu nome no Hall of Fame serão conhecidos em meados de Dezembro e a cerimónia realiza-se em Los Anjeles a 18 de Abril de 2013.
“Não podemos mudar o presente ou futuro. Só podemos mudar o passado e fazemo-lo a toda a hora” Bob Dylan
Alt-J.
Aparentemente simples - um disco de pop britânica com influências folk bem assumidas - An Awesome Wave tem em temas como «Matilda», «Something Good» ou «Tessellate» argumentos suficientes para ser considerado uma das estreias mais promis- soras de 2012.
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Antes de decidir utilizar o nome Alt-J, o quarteto atuou enquanto Daljit Dhaliwal e Films, tendo decidido deixar cair o segundo nome para não ser confundido com a banda norte-americana The Films. O pai do vocalista é cantor e for uma grande influência no início: «imitava a voz dele porque era a única coisa que me fazia continuar» www.altjband.com
Joe Newman, o vocalista, diz que a sua primeira grande paixao musical foram as Spice girls. «Nao me fartava» confesa à revista Interview, «sempre que íamos de férias para Cornualha entre os meus oito e dez anos, a cassete das Spice girls era ouvida vezes sem contada».
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“Triangles are my favourite shape”, cantam os Alt-J no single “Tessellate”. A paixão pelos triângulos está bem explícita no nome deste quarteto britânico: premindo as teclas «alt» e «j» num teclado da Apple - versão britânica - o resultado é símbolo . No entanto, a banda atribiu um significado mais profundo ao Alt-J que lhes dá nome: “em equações matemáticas é utilizado para mostrar uma mudança”, explica o guitarrista e baixista Gwil Sainsbury. Nada mais adequado, já que a ideia surgiu, em 2007, num ponto decisivo da vida dos quartro elementos, que se conheceram e decidiram formar uma banda enquanto frequentavam a Universidade de Leeds. O primeiro EP do projeto britânico chegaria a público em 2011 e incluía «Matilda», «Tessellate e «Breezeblocks», alguns dos temas mais celebrados do álbum de estreia, An Awesome Wava, editado este ano. Sem grande vontade de se definir musi- calmente - um dia chamaram-lhe «trip-folk» -, os Alt-J rapidamente se tornaram um fenómeno nos círculos mais alternativos, camparados aos Hot Chip, Wild Beasts ou mesmo Radiohead. “A nossa missão não é criar um novo género musical”, confessou o vocalista Joe Newman à reviste Interview, “não estamos interessados em definir. Não gostamos que as pessoas tentem perce- ber a que é que a nossa música soa nem sentimos que tenhamos de fazer isso por elas.
Somos simplesmente felizes a compor música e agora temos a sorte de poder fazer isso profissionalmente”. Para encerrarem grande o ano em que passaram de desconhecidos a heróis das alternativas britânicas, nada melhor que bater a concorrência de Plan B, Maccabees ou dos também novatos Django Django ou Michael Kiwanuka e levar para casa o Mercury Prize. Reagindo ao facto de An Awesome Wave ser um dos finalistas do reputado prémio, o baterista Thom Green disse: “É surreal. Sempre quis estar nesta posição”, ao que Gwil Sainsbury acrescentou: “pode parecer foleiro mais é como um sonho tornado realidade. Nunca pensei que alguma vez seria nomeado”. A 1 de novembro saber-seá se o sonho vai ainda mais alto. Mário Rui Bieira
De praticamente desconhecidos a favoritos para o reputado Mercury Prize. Chegaram os Novos Radiohead.
Minta and the Brook Trout.
Olympia . Algumas das melhores canções do ano - «Falcon» , «From The Ground» , «Future Me» habitam aqui. Laura Veirs e Elliott Smith são referências de uma escrita de canções amenas, intimistas e onde os arranjos delicados assentam que nem ginjas sobre as letras bem gizadas.
Antes dos Brook Tout, nome inspirado no disco Michigan de Sufjan Stevens, Francisca integrou os Casino, banda que formou ao lado de Filipe Pacheco, com apenas 15 anos. Hoje descreve a passagem pela EMI como “um passo maior que a perna” e olha para a “pop alternativa” de então como “uma fotografia de quando tínhamos 15 anos: distância ainda não é completamente pacífica”.
Uma das canções do primeiro álbum de Minta, “Large Amounts”, deu origem a “Mútuo Consentimento”, tema-título do último disco de Sérgio Godinho. José Feitor é o autor das capas dos dois álbuns de Minta, com ilustrações de gansos e um urso, respetivamente. Carnide, o disco ao vivo, tem uma baleia na capa. Site: minta.me
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Canções indie-folk onde nenhum pormenor, da melodia ao texto, é deixado ao acaso.
Embora sempre tenha servido de ponto cardeal a Francisca Cortesão, na encarnação Minta, houve uma altura em que a América do Norte se tornou ainda mais presente nas canções da portuense, há muito a viver em Lisboa. Em 2011, a cantadora fez uma digressão pela Costa Oeste dos Estados Unidos, tocando em bares e conhecendo as paragens das quais saiu muito da música (incide, folk) que gosta de ouvir. Uma das cidades que mais a marcaram, não tanto pelo concerto (“O barram tinha uma pala no olho”) como pela beleza do estado de Washington, foi Olympia. Meses mais tarde, Mariana Ricardo, ex-Pinhead Society e membro da banda de Minta, os Brook Trout, sugeriu batizar assim o disco agora lançado pela Optimus Discos. “É um nome bonito, uma cidade de que gostei, num estado lindo de onde vem muita da música de que eu gosto”, justifica. Autora ads canções de Olympia, Francisca conta com “a paciência” da sua banda (Mariana Ricardo nos coros, baixo e ukulele, Manuel Dordio nas guitarras e Nuno Pessoa na bateria) para encontrar as melhores vestimentas para as melodias que lhe ocorrem. O riff de «Falcon», primeiro e pegadiço single de Olympia, por exemplo, estava guardado “num telefone” até ao dia em que Francisca o foi repescar e fez a música inteira” numa assentada. “Até pensei: foi fácil demais,
De Lisboa, com escala na Costa Oeste dos EEUU.
se calhar não é bom.” Perante a aprovação de Mariana (“claro que é bom, estás tola?”), a banda trabalhou junta, e rapidamente, na versão que se ouve no disco. “O arranjo saiu quase logo à primeira para todos. Aí pensámos: está bom, não mexe!”. Outro caso de persistência é «Blood and Bones» : “Estava quase a desistir da música quando o Manel pegou na guitarra e cortou completamente o ritmo, para uma coisa mais country. É muito fixe quando um deles me dá um espelho daquilo que fiz, e este é melhor do que a maneira como eu tinha pensado a canção”, diz a cantora, que criou a primeira banda na escola primária. Na origem das melodias quentes e letras cuidadas de Francisca Cortesão está a observação de quem a rodeia e uma boa dose de imaginação - afinal, ela deixa-se inspirar por “pessoas próximas, pessoas distantes, pessoas imaginárias. Ou então amálgamas entre o que leio, o que vejo e o que imagino em pessoas próximas”. Lis Pereira.
Sky Ferreira.
Terry Richardson, fotógrafo de moda (Beyoncé, Lady Gaga ou Katy Perry posaram para ele), rodou o teledisco de «Red Lips» , onde Sky surge com o corpo coberto de tinta vermelha… e uma tarântula na cara. A avó de Sky trabalhou para Michael Jackson. “Para mim, ele era apenas o Michael”.O rei da pop, diz Sky, terá aconselhado a mãe da cantora a pôr a filha num coro de gospel e, depois, a tentar ópera. Site: www.skyferreira.com
Ghost capitol/EMI «Red Lips», rock condensado, tem Garbage escrito de ínicio ao fim (Shirley Manson deu uma ajuda); «Everything is Embarrassing» , 1988 dos sete costados, é uma enxuta canção de desilusão; «Lost In My Bedroom» investe no electro. Um Triunfo em forma de EP.
«Red Lips», single edit ado este ano, foi co-escrito por Shirley Manson, vocalista dos Garbage. “Adoro-a- É uma Lolita moderna com uma voz fumarenta, cativante sem ser assustadora. Tem palavra “estrela” escrita na sua cara bonita”, disse a voz de «Stupid Girl» no Facebook.
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O Eo Apelimundo do nao indie engaperna deu- há se de sangue amores portupor guês.
ela.
O caso curioso de Sky Ferreira. Nascida em julho de 1992, semanas antes das Olimpíadas que consagraram um hoje esquecido dueto entre Sarah Brightman e José Carreras (se não se recorda de «Amigos Para Sempre» não está a perder nada), esta nativa de Los Anjeles com sangue português (mas também brasileiro) chegou ao radar da Blitz num já longínquo setembro de 2010. Nunca notícia ilustrada com a foto de Sky, adolescente festiva, sinalizávamos a cantora como uma das apostas maiores para a “galáxia pop” do ano de 2011: “é nela que recaem todas as apostas neste momento. Tem apenas 18 anos, cresceu em Los Anjeles, mas o apelido não engana, Sky é adolescente. Começou por cantar ópera e gospel e fez a sua primeira maqueta aos 15 anos. Depois de muitas rejeições, encontrou os “padrinhos” perfeitos na dupla sueca Bloodshy & Avant (Britney Spears, Madonna), neste momento a ajudá-la com o debute”. Discretamente, o “debute” de Ferreira foi sucessivamente adiado, os singles sucediam-se mas sem a expressão, a Capitol (EMI) desesperava mas foi tendo a paciência - cada vez mais rara - para começar do zero outra vez. Observadores foram registando o “repackaging” com desconfiança. Primeiro enviesadamente rocker, depois configurada em registo trasky, próximo de Ke$ha (veja-se o single «Sex Rules» ), Ferreira conseguiria
o “furo” desejado este verão, com a edição do EP Ghost, mais deslocado do mainstream dance-pop e a colher os favores da “catedral” do indie, a Pitchfork. A “culpa” é de «Everything is Embarrassing» , reminiscente de alguma placidez da pop dos anos 80. E, evidentemente, de um visual apelativo, uma sensualidade “assustadora” que encaixa no enviesamento “corky”, não ostensivamente sexy, que tanto serve a música como a moda. O “indie-cred” de Sky, que mantém carreira paralela como modelo(Calvin Klein, Adidas…), poderá representar o ponto de virage. Ainda sem data prevista, I’m Not Alright, o primeiro álbum, será a “prova de fogo”. “As pessoas pensavam que eu ia ser como a Britney Spears”, disse recentemente à Complex. Abram alas. Luís Guerra.
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Scissor Sisters. Circo de feras. Nasceram em 2001 mas só três anos depois do mundo teve conhecimento da sua existência. Os nova-iorquinos marcaram a diferença pelo colorido que trouxeram a uma pop menos alinhada com «Take Your Mama» ou a versão festiva de «Comfortably Numb», dos Pink Floyd. O Disco seguinte manteve a mesma toada - «I Don’t Feel Like Dancing» tornou-se um hino nas pistas de dança - mas com Night Work, de 2010, mostraram o seu lado mais negro. Este ano, deixaram entrar sangue novo - Calvin Harris e Azealia Banks são alguns dos novos aliados - num Magic Hour que o vocalista Jake Shears acredita ter um espírito mais livre.
“E muito caro ter uma banda na estrada. Nao acredito que vamos fazer isto para sempre” Jake Shears. Entre um concerto regado a chuva em Paredes de Coura e uma atuação pouco concorrida no Cascais Festival em julho passado, os Scissor Sisters guardam boas recordações de Portugal. «Lembro-me sempre daquele festival que fizemos onde o vento era tão forte que tinha lama a voar para dentro da boca», rembra Jake Shears sobre a atuação em Coura. Mas as melhores recordações vêm da passagem pelo Coliseu de Lisboa, que segundo o vocalista «foi particularmente divertida» e um outro espetáculo «para a MTV, onde também atuou a Peaches».
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Qual é exatamente a Magic Hour de que falam neste álbum? Jake Shears: a Pode ser qualquer hora, na verdade, mas quanto a mim o nome deste álbum surgiu daquele momento exatamente antes de o sol nascer, quando começa a ficar claro na rua mas o sol ainda não apareceu.
No passado, disseram-nos que se levam muito a sério e que não fazem nada apenas pela diversão. Quando estão em palco, no entanto, parecem divertir-se à grande... Jake Shears: Divirto-me muito em palco
mas continuo a sentir-me deprimido frequentemente. Todos nós, na banda, somos muito diferentes. Quando o Badydaddy diz que não faz nada pela diversão está a falar por ele próprio.... Eu discordaria dele, porque acho que fazemos muitas coisas apenas por serem divertidas. Todo este álbum, por exemplo, nasceu desse estado de espírito. É um álbum muito brincalhão. A temática de Night Work era mais pesada, este disco tem um espírito livre.
Neste disco colaboram com outros músicos. Sentiram necessidade de refrescar a sonoridade ou aconteceu naturalmente? Jake Shears: Um pouco de ambas. À
medida que o tempo passa, vou ficando cada vez menos interessado na produção da nossa música. Somos coprodutores de tudo, mas o meu coração já não está aí. O Badydaddy ainda gosta muito do processo de produção, eu só quero escrever canções. Foi importante trazer outras pessoas para bordo, como o Boys Noize. Ele e o Badydaddy trabalharam muito bem juntos. Quando o Stuart Price produziu o terceiro álbum foi como que uma revelação. Subitamente, quando alguém estava cansado podia ir embora por uma noite que os outros dois substituíam-no. Gosto muito de colaborações na produção, porque as pessoas podem trazer coisas para a mesa que nós não temos. Quanto à escrita de canções, houve colaborações que não resultaram bem e não ficaram no disco.
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Andaram em digressão com Lady Gaga. Tiveram tempo para desconstruir a personagem ou continua a ser um mistério? Jake Shears: Não passo muito tempo a pensar nisso.
Del Marquis: Ela é metado Kiss metado
rapariga da pop. Tem a ambição de ser uma grande estrela pop mas não deixa de ter uma perna no mundo rock. É daí que vem o cabedal e as rendas.
Há dois anos, foram obrigados a cancelar concertos na Europa por questões financeiras. Foi muito difícil para vocês? Del Marquis: É muito mais fácil ser DJ ou uma cantora que canta com base num tema gravado. Nós somos quatro na banda e mais out- ras quartro pessoas em palco e temos uma equipa connosco.
Jake Shears: Foi horrível. E também foi muito mau porque muitos desses concertos que tivemos de cancelar estavam esgotados. Portanto, muitos fãs ficaram confusos quando às razões por trás dis cancelamentos. Devem ter achado que não fazia muito sentido, mas nada naquela altura parecia fazer muito sentido. É muito caro ter uma banda na estrada. Os custos são astronómicos. Não acredito que vamos fazer isto para sempre. Duvido muito que isso vá acontecer. Fico muito agradecido por poder fazê-lo e esoe- ro que possamos continuar duranto muitos anos. Mario Rui Vieira.
O mercado norte-americano foi difícil para vocês, apesar de serem nova-iorquinos. Os espetáculos com ela ajudaram à conquis- ta de mais fãs em casa? Jake Shears: Não sei, mas a verdade é que
temos muitos novos fãs. E sinto que houve muitos miúdos a ver-nos que agora sabem quem so- mos e gostam da nossa música. Esta última digressão foi muito divertida e acho que agora temos tantos fãs na Europa como nos Estados Unidos. Vendemos tantos exemplares deste disco na América como no Reino Unido. Tanto podemos tocar para duas mil pessoas em Austin, no Texas, como aqui em Portugal.
Magic Hour.
Depois da aventura negra de «Night Work», os Scissor Sisters voltam à festa com um disco com cançoes irresistivelmente dançáveis. «Let´s Have a Kiki», «Keep Your Shoes» e «Shady Lady» sao diversao pura.
Quanto tempo vamos ainda esperar por um dueto com Kylie Minogue? Jake Shears: Quando acontecer acontece.
Nunca nos sentámos a pensar nisso e nunca apareceu a canção certa para o fazermos, mais por ela do que nos nós. Mas certamente vai acontecer quando a canção certa aparecer.
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Ana Moura. Quando o fado mora ao lado É um dos nomes mais respeitados do fado do novo milénio, dentro e fora de portas. Nas vésperas de levar Desfado, o novo álbum, numa digressão pelo mundo, a fadista falou a Mário Rui Vieira sobre a aventura de gravar em Los Angeles e sobre a amizade que a une a Prince.
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Emmenos de dez anos, o timbre pouco comum e a alma que carrega na voz transformaram Ana Moura numa verdadeira sensação do fado. O sucesso dos três primeiros álbuns, particularmente de Para Além da Saudade, editado em 2009, levou-a a saltar fronteiras e é hoje uma das artistas portuguesas com mais alto perfil no estrangeiro. Admirada pelos Rolling Stones, com quem já partilho o palco. e amiga de Prince, a fadista de Coruche prepara-se para levar o nome de compositores portugueses , fora de esfera do fado, numa viagem pelo mundo. Apesar de ter alguns fados tradicionais, Desfado, o novo álbum, inclui temas compostos e escritos por Pedro Abrunhosa, Márcia, Virgem Suta, Luísa Sobral, Pedro da Silva Martins (Deolinda), Manel Cruz (Ornatos Violeta), Miguel Araújo Jorge ou António Zambujo. À BLITZ, a fadista falou sobre a experiência de gravar com Larry Klein - produtor de álbuns de Joni Mitchell e Herbie Hancock, que também no disco - nos míticos Henson Studios, em Los Angeles, e sobre a inesperada amizade com Prince.
anteriores, deixou de fazer sentido ?
É mais uma questão de achar que este álbum tinha de ser diferente. O Jorge, realmente, nem na composição está presente. Convidei-o mas ele estava a gravar o disco dele e acredito que compor não seja uma coisa que se faça do pé para a mão. Estava completamente entregue ao projecto dele e neste disco não o tenho, mas não é, de todo, uma porta fechada. Admiro imenso o Jorge Fernando como produtor, como músico. É uma pessoa com imenso talento.
Desfado... Está a tentar trocar as voltas ao destino?
Se calhar o meu destino era este mesmo, não é? Não sou pessoa de programar ou querer atingir aquele objectivo específico e na minha carreira acontecem as coisas mais inesperadas, como conhecer músicos de áreas completamente diferentes ou participar em concertos ou festivais onde o fado não é esperado. Se calhar, a minha carreira é mesmo por aqui, por estas aventuras. A ideia inicial deste disco era precisamente partilhar com o público aquilo que a minha carreira tem sido ao longo destes últimos anos. Espelhar isso mesmo com parcerias e estas descobertas. Porque isto tem sido uma descoberta para mim. E se calhar era mesmo este o meu destino.
O seu sucesso é obra desse destino ou de grande trabalho e investimento?
É um misto de tudo. Eu trabalho imenso, tenho imensa dificuldade em dizer que não ao trabalho. Por vezes, as pessoas pensam que é só viajar e que isto é tudo muito bonito, mas é um trabalho mesmo árduo. É preciso tomar-se opções e eu tomei a de trabalhar . E tenho trabalhado muito. Também se deve obviamente ao estar no sítio certo à hora certa...Acredito nessas coincidências do acaso absoluto. Há pessoas, mais atentas àquilo que se passa na música, que, de repente, conhecem o meu trabalho e contactam-me . E isso tem também a ver com o género de música que canto. Por aquilo que as pessoas que me abordam dizem, também está relacionado com a estranheza do meu timbre.
Quando convidou Larry klein para produzir o álbum já sabia que ele era fã da sua voz ?
Não, não sabia. Foi mesmo uma coicidência. Queria ter um produtor diferente. Tinha feito uma parceria com a FrankFurt Jazz Bigband e gostava que fosse alguém do jazz para explorar esse lado entre o jazz e o fado, que ainda não foi muito explorado. Fizemos uma listinha de nomes de produtores e, á cabeça, estava o Larry Kleig, pelo trabalho com a Joni Mitchell mas também com outras cantoras, como a Madeleine Peyroux, de quem gosto imenso, e com o Herbie Hancock. Contactámo-lo, ele reagiu logo positivamente e disse que já tinha pensado em trabalhar comigo. Ficámos surpreendidos. Era sinal de que as coisas tinham de acontecer.
A sua ligação musical com Jorge Fernando, que produziu os álbuns
Este álbum vai apanhar muita gente desprevenida: canções escritas por pessoas da esfera pop, temas cantadas em inglês… Atirou-se para um desafio sem pensar no que os outros pudessem pensar?
Exatamente. Sem pensar. A minha carreira tem sido sempre construída por um conjunto de pessoas – pelo Jorge Fernando, que foi sempre o produtor dos discos, e por alguns compositores e letristas – e desta vez queria fazer uma coisa diferente. Era um desejo meu, muito mais musical que outra coisa. Há imensa gente em Portugal com muito talento, na composição, como letristas, como cantores, e achei interresante desafiar algumas pessoas da minha geração, que abordam a atualidade de forma fresca e muito portuguesa ao mesmo tempo. O Pedro da Silva Martins, ou mesmo o Miguel Araújo Jorge, por exemplo, têm uma escrita muito portuguesa, mas não deixam de estar fora do contexto em que me insiro, o fado.
Não poderá estar a desvirtuar o fado?
Neste momento, para ser sincera, isso não me interresa. Sou fadista, mas tenha a minha carreira e este disco éum reflexo das coisas que me têm acontecido. Tenho imenso respeito pelo fado e este disco tem quatro fados tradicionais, mas também tem outras coisas. Não quero chamar a este disco um disco de fado nem estou preocupada com isso. Pronto. E esta despreocupação é também uma forma de demonstrar o meu respetio. O fado é muito especial e não tenho o objectivo de o transformar nem penso «eu é vou fazer evoluir o fado» Isso é completamente despropositado.
Como selecionou os compositores e escritores de canções que trabalham consigo neste Desfado ?
De alguns deles sou amiga e, portanto, convideios logo. Outros ficaram de parte, como o Samuel Úria ou mesmo o Paulo Furtado, que normalmente compõe em inglês, porque não podiam entrar todos. Fui fazendo uma listinha de pessoas de quem gostava muito… Descobri a Mãrcia, não a conhecia pessoalmente, e adorei. Pedia o contacto dela, enviei-lhe um email e ela mostrou-se feliz com o convite. É um disco que está a unir muitas pessoas. Acaba por ser uma coisa de partilha de talentos… Eles têm vivido comigo esta aventura. Muitos numa tinham ouvido composições suas numa outra voz e noutro contexto, portanto todo este processo despertou-lhes imensa curiosidade para todos.
Canta «A Case of You» de Joni Mitchell, neste album. Foi ideia sua ou do Larry Klein? Foi do Larry. Sempre fui fã da Joni Mitchell e ele sabia disso. Fiquei muito feliz e honrada com a sugestão, porque ele gravou e produziu esse disco com ela, precisamente, e é capaz de ser a música de que mais gosto da Joni Mitchell.
E ouviu a versão de James Blake? É lindíssima. Adoro, adoro, adoro.
«O fado é muito es- enao tenho pecial o objetivo 64
de o transformar nem Em penso “eu é que Los vou fazer evoluir Angeles, o fado”. Isso é gravou ao completamente lado de artistas desproposicomo Bon Jovi e Chatado» ka Khan, mas muitas vezes segue caminhos de partilha com outros músicos a convite de Prince, de quem se tornou amiga. Ana Moura confessa uma timidez que, apesar de a ter atrapalhado nos primeiros anos de palco, nunca a impediu de comunicar com músicos como Caetano Veloso, que a escolheu para participar no disco de celebração dos seus 70 anos.
Está sempre atenta ao que aparece de novo, mesmo que diametralmente oposto ao que faz ?
Gosto de estar atenta e faço por isso. Assim recentemente, ando a ouvir uma artista portuguesa, Minta & The Brook Trout.
«A Fadista», canção de Manuela de Freitas, suscitou-nos uma questão: uma fadista é alvo de muitos preconceitos?
É um bocado dificil ser-se fadista e viver das casas de fado, com eu vivi há uns anos, porque é viver a noite. Não é qualquer parceiro que lida bem com isto. Mesmo na nossa geração é dificil. Quando trabalhava nas casas de fado chegava tardissimo a casa. Ainda vivia com os meus pais. Acabávamos as duas da manha, mas depois comíamos, ficávamos ali a confraternizar e acabava por chegar a casa as quatro da manhã. Era o meu ritmo habitual. Recordo-me de um senhor ter dito ao meu pai «esta vida da sua filha, coitada». Algumas pessoas ainda tem o preconceito. Mas sempre me fascinou esse lado da noite. Gosto de todos os promenores: conduzir á noite, o percurso para a casa do fado, conviver com poetas, com músicos… À noite há menos coisas a distrair-nos, estamos muito mais focados. Os meus primeiros anos enquanto fadista foram muito bonitos.
Em «A Minha Estrela», por exemplo, há referências a Deus. É religiosa?
Tive uma educação católica, mas não sei se me posso considerar religiosa. Tenho amigos muitos proximos com religioes totalmente diferentes e alguns que não acreditam em nada… Eu acredito no bem, nas pessoas, na justiça e no perdão. E há certas religioes que julgam demasiado. Durante o meu percurso evolutivo enquanto ser humano fui deixando cada vez mais de parte o processo de julgar, faz-me cada
vez mais confusão. Aquilo que mais me distancia das religiões é precisamente esse julguamanento. Acredito que as pessoas merecem sempre uma opurtunidade. Portanto, com tudo isto, não sei se me posso considerar religiosa.
Como foi atirar-se a escrever “ Dream of Fire” ?
Já. Tinha feito uma música no disco anterior. Em inglês é a primeira vez, mas confesso que não fui eu quem fez a letra. Foi um amigo meu. Fiz a música e enviei logo a esse meu amigo, porque partilho muitas coisas com ele. Ele disse que adorava e que ia fazer a letra. Ficou em inglês; esta música era a minha música e, de repente, tinha letra em inglês; e, depois de tudo isto, o Larry mostrou-me o “ Thank you”, uma música de um compositor amigo dele, o David Poe. Como a adorei, pensei “Ok, se já tenho duas em inglês agora fico com a terceira”.
Como foi o período que passou com Larry em Los Angeles?
Esta experiência foi muito especial por várias razões, começando logo pelo estúdio onde o disco foi gravado, porque tem uma história enorme. Toda a gente gravou lá e isso sente-se… Ao andar por aqueles corredores, de repente, via uma fotografia daquele grupo de artistas que gravou “ We Are the World”, ou do Cocas, o Sapo. Fazem-se filmes ali, não é só música. É um ambiente tão bonito. E isso não é muito comum. São estúdios enormes e os artistas podem encontrar-se. As pessoas gravam de manhã e à tarde juntam-se à hora de almoço no pátio. Essa partilha é inspiradora.
Cruzou-se com alguém conhecido?
Estavam lá os Bon Jovi, a Chaka Khan… Quando gravamos o “ A case of you”, o Larry Klein estava tão excitado que foi buscar a Chaka Khan e disse-lhe “ tens de ouvir isto”. Ela, que também
adora a Joni Mitchell, sentou-se e ficou a ouvir. Apesar de muito nervosismo, gravar em Los Angeles foi um processo muito bonito. Quando gravamos em Portugal, regressamos sempre ás nossas casas e há outras distracções. Lá, estávamos focadíssimos, era aquilo e ponto final. Isso também foi muito interessante.
Como começou a sua amizade com Prince? O que vos une?
Ele entrou em contacto comigo porque alguém lhe ofereceu um disco meu. Conta que uma vez estava com uma amiga e queria ouvir uma música diferente para marcar o facto ed ter comprado uma casa nova - ele gosta de relacionar qualquer situação da via com um momento música. Foi á pilha de CDs e escolheu o meu. Diz que gostou muito. Depois foi á internet procurar informações sobre mim, contactou os meus agentes, na altura holandeses, para lhes perguntar onde eu ia estar em digressão e escolheu Paris para me ir ouvir ao vivo. A partir daí ficamos amigos. Ele, porque tem um grupo de músicos amigos com quem gosta de estar, volta e meia liga-me para me convidar a partcipar em jams que faz. São sempre aventuras completamente inesperadas.
No início, há de ter sido uma situação um pouco surreal. Deve ter crescido a ouvi-lo…
Neste momento já passei essa fase. Se bem que há momentos, quando o ouço a tocar piano ou a fazer um solo de guitarra, em que penso de mim para mim “. Um ano antes de ele me contactar, lembro-em de ter lido que o Prince tinha convidado a Amy Winehouse, de quem eu gostava imenso, para passar o Natal com ele porque a queria ajudar. Pensei para mim mesma que, se calhar, aquilo me poderia ter acontecido a mim se tivesse nascido noutro sítio que não Portugal (risos). Um ano depois ele contactou-me.
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«Há momentos, quando ouço o Prince a tocar piano ou a fazer um solo de guitarra, em que penso de mim para mim,
O disco de homenagem a Caetano Veloso foi um desafio impossível de recusar?
É um dos meus artistas brasileiros favoritos… É um excelente compositor. Tanto que a escolha da música foi muito difícil para mim. A que me veio imediatamente á cabeça foi “ Os Argonautas”, porque ele compô-la a pensar no fado, mas depois achei que seria demasiado óbvio. E era mais desafiador pegar numa música completamente diferente e transformá-la. Convidei o José Mario Branco para produzir e ele sugeriu a “ Janelas Abertas “. Ouvi, também pela (Maria) Bethânia, e adorei o poema e a música.
Está a retirar da música aquilo que sempre quis retirar?
Quando entrei no mercado, apercebi-me de imensa coisa que não fazia ideia que acontecia. E muita gente com quem trabalhava, na altura, queria que eu me adaptasse ao meio de forma um bocadinho forçada. Sempre, mas sempre, lutei contra isso. Sou uma pessoa tímida e isto é um traço e carácter, não é insegurança. No início da minha carreira, isto só para exemplificar, era raríssimo falar com o público durante os concertos. E queria que isso fosse um processo natural, que fizesse parte da minha evolução enquanto cantora, intérprete ou performer. Portanto, de certa forma, acho que consegui retirar da música tudo o que sempre quis. Saber lidar com este traço de carácter, aceitá-lo e perceber, tem muito a ver com a forma como me manifesto através da música. As pessoas que me procuram e se identificam com a minha música, identificaram-se também com esse traço. Curiosamente, quando cantava para menos pessoas ficava mais nervosa. Era a proximidade. Passamos pelos processos todos, no início, para nos protegermos… Por exemplo, a dada altura via-se mesmo que a Amy Winehouse ia para um sítio qualquer e ficava ali… Por isso é que também sempre me identifiquei muito com ela e com alguns traços da personalidade dela.
“que privilégio, que honra isto ter-me acontecido a mim”» Ana Moura defende que cantar um tema escrito por um homem é bem diferente de cantar um escrito por uma mulher. «Tanto a Márcia como a Luísa Sobral têm cunhos muito particulares e descolarme completamente era um processo difícial», confessa a fadista depois de explicar que é mais simples, «por uma questão de identificação», cantar temas escritos por artistas da sua geração.
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Twin Shadow. Profissão de Fé. Quando, em 2010, se apresentou ao mundo com Forget, o zunzum foi tal que se viu atirado para uma gaveta em que nunca se encaixou verdadeiramente. Com o chillwave já bem longe, Twin Shadow regressa, dois anos depois, entregue a si próprio e com um disco que deve mais ao universo pop que à marca que Chirs Taylos, dos Grizzly Bear, deixou na produção do registo de estreia. O músico norte-americano confessa-nos a admiração por Timbaland, fala da relação afetuosa que criou, em pouco tempo, com Portugal, e deixa no ar uma possível incursão pelo rap.
“Ontem á noite sonhei que estava a rappar em palco. Vamos ver o que acontece” Os telediscos dos dois primeiros singles de Confess, «Five Seconds» e «Patient» , colocam a nu a obsessão de Twin Shadow pelas motorizadas - amor esse que explorou num longo artigo para a ‘Sup Magazine - e influências visuais de filmes como Os Marginais ou A Caminho de Idaho. “Vi ambos quando era muito novo e tiveram um grande impacto em mim”, confessa o músico, “quando saíram eu era muito novo para os perceber, mas significaram muito para mim nessa altura”.
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A primeira canção de Confess está numerada com 12. Isso significa que este disco é uma continuação do anterior, que tinha 11, e que a sua carreira é mais virada para as canções do que para os álbuns? É um pouco assim que vejo as coisas, sim. É a continuação das canções que escrevo. A primeira canção deste álbum é oficialmente a décima segunda que trago ao mundo. É engraçado, porque foi a primeira pessoa a reparar nisso.
É um álbum tão íntimo quanto o título sugere?
Não sei, as pessoas é que têm de decidir isso. A palavra «íntimo» é muito estranha e subjetiva. Poderia dizer que é um disco mais pessoal, talvez, mas penso que é mais direto. Sou mais eu. tinuar duranto muitos anos. Mario Rui Vieira.
Há algum artista novo que o entusiasme o suficiente para o puxar novamente para o r&b e hip hop?
De sue forma o livro The Night Of The SIlver Sun, escrito pro si, está ligado a Confess?
Adoro o Frank Ocean. A voz dele é fabulosa. Aposto que vai fazer coisas fantásticas e adoraria trabalhar com ele. Para dizer a verdade, não voltei a sentir-me arrebatado por nada da forma como me senti quando ouvi Aaliyah, mas há muitas coisas fixes a acontecer… Como o primeiro disco do Weekend, que é muito bom e que toda a gente vai recordar durante muito tempo. Sempre me senti frustrado por as pessoas terem necessidade de separar a pop, o rock e o r&b. Para mim são muito parecidos. Sinto-me a ir na direção das coisas que gostava antigamente e apetece-me , cada vez mais, fazer r&b. Ontem à noite sonhei que estava a rappar em palco. Vamos ver o que acontece.
Só estão ligados pela minha própria mente. Não quis fazer um livro para acompanhar o disco ou algo do género. Estou apenas a divertir-me com ele, é uma espécie de hobby, que cai com com a música. Já está completamente escrito mas não vai ser publicado tão cedo. Estou a tentar encontrar a melhor forma de o pôr cá fora.
Há batidas nestas novas canções que fazem lembra produções de Timbaland para Missy Eliott ou Bjõrk. É uma influência?
Cresci a ouvir aquilo que era grande nas rádios e as batidas de Timbaland e da Missy estavam por todo o lado. Portanto, tenho a certeza que foram uma influência para mim. Há muita gente por aí, como os AlunaGeorge, por exemplo, que me parecem ser inspirados pelo Timbaland. Ele é incrível, é um fazedor de batidas únicas, muito amigas das rádios, que ficam facilmente na cabeça. É uma influência para toda agente.
Forget, o primeiro álbum, foi produzido pelo Chris Taylor, dos Grizzly Bear. Por que razão quis produzir este álbum sozinho? Na verdade não tive muito tempo para encontrar alguém com quem trabalhar. O Chirs estava ocupado e acabei por decidir que ia fazer as coisas sozinho só para poder dizer que fui capaz. Foi mais ou menos isso que aconteceu.
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Quando falámos, no ano passado, disse-nos que a música lhe dava oportunidade de viajar, uma das suas paixões. Agora que andou a fazê-lo em trabalho, as viagens sabem-lhe a presente envenenado? É duro andar em viagem à volta do mundo como eu faço e como muitas pessoas fazem na minha profissão. Ainda é divertido, mas começas a sentir muitas saudades de casa e de ter uma vida normal, como toda a gente… Queres ir ao bar ao fundo da rua, beber com os teus amigos, ou ir a casamentos de pessoas que conheces. Perdes essas coisas todas e torna-se um pouco triste. Adoro tocar ao vivo, é a minha coisa favorita - isso e gravar discos - mas se pudesse tirar a parte das viagens e teletransportar-me para os concertos, seria fantástico.
Em pouco tempo criou uma relação especial com Portugal…
Adoramos Portugal e Portugal adora-nos. É mesmo isso. É uma relação linda. Tenho imensas recordações boas de Portugal. Divertimo-nos sempre muito aí, mas quase nunca me recordo de nada, tal é a diversão. Lembro-me de dançar, da comida óptima, das mulheres, que são lindas… (risos). Adoraria ficar aí durante um tempo. Especialmente no Porto, que é uma cidade tão bonita.
Confess.
Ao segundo álbum, George Lewis Jr. assina canções menos densas, ora carregadas de uma vulnerabilidade inesperada ora despudoradamente sexuais. Ouça-se «Five Seconds», «I Don’t Care» ou «The One» para conferir.
60 A BANDA QUE MATO OS ANOS
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The Velvet Underground. O “Summer of Love”podia estar a poucos meses de distancia, mas quem for à procura de um prenuncio do mesmo no album de estreia dos Velvet Underground vai ao engano. Droga, prostituição, sexualidade desviante e vicios sortidos eram tematicas que inaugoravam uns novos anos 60, ligados à vanguarda artistica, exploratorios sem deixar o rock primevo. Na primavera de 1967 poucos lhe deram crédito. Hoje, revisitado em edição de colecionador, é considerado um dos discos mais importantes de sempre. Rui Miguel Abreu explica porquê. “O nosso tempo”, escrevia Marshall McLuhan em 1967, “é um tempo para atravessar barreiras, para apagar velhas categorias – para explorar”. É bastante provável que The Medium is The Massage e The Velvet Underground & Nico tenham partilhado espaço nas mesmas lojas, uma vez que ambos viram a luz do dia em Março de 1967. O best seller do filosofo canadiano e a estreia dos nova-iorquinos Velvet Underground tem muito mais em comum. The Medium Is The Massage era um exercício experimental que adotava tecnicas de colagem, sobrepossição de imagens e texto, páginas impressas do avesso, outras em branco, com muitas fotos, desenhos, grafismos de natureza concreta e abstrata. Um caos aparente, enfim, com assinatura do visionário designer grafico Quentin Fiore. O paralelismo com The Velvet Underground & Nico é evidente: uma coleção de canções onde vozes monocórdicas, feedback, dissonância e melodias se conjugam de forma perfeita, com o todo a ser embalado por um artista cuja visão alteraria para sempre o curso das artes plásticas da segunda metade do seculo XX – Andy Warhol. Há ainda mais em comum: do livro de Mcluhan saiu um disco que utilizava igualmente técnicas experimentais, nomeadamente loops, tal como um disco lançado como parte da revista Aspen uns meses antes – numero editado por Andy Warhol – e para o qual John Cale e os Velvet Underground contribuiram com uma composição que levava, precisamente, o titulo “Loop”. Os Velvet Underground surgem, enfim, numa foto de pagina dupla incluída em The Medium Is The Massage, logo seguida de uma pagina com um “Bang” à Roy Lichtenstein e outra onde Mcluhan escreve que “o ouvido não favorece “pontos de vista” particulares. Somos envolvidos pelo som. O som forma uma teia perfeita à nossa volta. (...) Os sons chegam de “cima”, de “baixo”, da “frente” e de “tras”, da nossa “direita” e da nossa “esquerda”. Não podemos cancelar o som automaticamente. Não fomos equipados com pálpebras nas orelhas”. McLuhan, como a foto e o texto provam, esteve presente no Exploding Plastic Inevitable (EPI), o espectáculo multimédia imaginado por Andy Warhol que foi apresentado em 1966 e 1967.
Chicotes, Seringas e crucifixos, Em Superstars – Andy Warhol e os Velvet Underground (Assírio Alvim, 1992), em que o critico João Lisboa traduziu e atualizou um numero especial da Les Inrockuptibles estruturado como um dicionário dedicado ao universo dos Velvet, cita-se Ronnie Cutrone, um dos dançarinos da Factory, na entrada sobre o EPI: “A melhor coisa acerca do EPI é que não deixava qualquer espaço para a imaginação. Estávamos em palco com chicotes, projetores gigantes, seringas, enormes cruzes de madeira. Antes disso, quando se ouvia musica, divagava-se e associava-se à musica aquilo que se quisesse pensar. Mas, connosco, havia uma imagem muito clara do que queríamos dizer. E chocava sentir como, por vezes, a imaginação não era suficiente forte para pensar em gente a chutar-se em palco, a ser crucificada ou a lamber botas”. McLuhan, ecoando esta realidade multimédia, escrevia: “o “tempo” parou, o “espaço” desapareceu. Vivemos agora numa aldeia global...um “happening” simultâneo. Regressamos ao espaço acústico. Começamos de novo a estruturar o sentimento primordial, as emoções tribais de que alguns séculos de literacia nos tinham divorciado”. O EPI era, de facto, um exercício pagão, o oposto da imagem consagrada pelos anos 60. Em 1981, um artigo de Marry Harron no NME, a partir de uma entrevista com Sterling Morrison, guitarrista dos Velvet Underground, argumentava que o grupo era “o extremo oposto do psicadelismo” e sugeria que a banda forneceu uma rampa para a geração seguinte, “que rejeitou tudo o que o psicadelismo representava”. A mesma ideia já tinha sido avançada nas paginas da revista Rock por David Dalton e Lanny Kaye, o músico de Patti Smith que ajudou a compilar o seminal Nuggets: “os Velvet Underground no Cafe Bizarre devem ter sido uma visão incrível. Enquanto outros grupos da zona de MacDougal Street andavam ás voltas com variações harmónicas das doze cordas dos Byrds e a pensarem em como era tão bom que os Lovin’Spoonful tivessem mesmo conseguido sucesso, os Velvet mostravam uma nova ferida de consciência pútrida. O estilo deles foi imposto pelas drogas e pelo caos urbano” . Não pelas flores, pelo sol e pela harmonia com o cosmos. Os Velvet Underground foram o negativo dos anos 60. “Nunca foram estrelas” escreveu ainda Mary Harron, “raramente foram entrevistados, estavam completamente desligados da cultura rocie que dominava o psicadelismo da costa Oeste. E eram cínicos enquanto essa cultura olhava para a ingenuidade como uma virtude; [eram] individualistas, ao passo que a sua geração queria derreter-se harmoniosamente no colectivo, realistas enquanto os hippies pensavam que a realidade era uma cortina e que se sentassem todos no chão e dessem as mãos seriam capazes de fazer a terra mexer-se.”
«[Nico] tinha o ar de quem veio para Nova Iorque na proa de um navio Viking. [E a voz] de um computador da IBM com sotaque à Greta Garbo» Andy Warhol, Popism (1980) Confess.
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Uma veleza viking «E enquanto 1965 se transformava e 1996, o grande novo foco de interesse na Factory era um grupo de músicos ue se apelidavam The Velvet Underground», escrevia Andy Harhol em Popism, o livro que documentas suas memórias da década de 60. Quem apresentou os Velvet Underground ao mentor da Factory foi Barbara Rubin, cineasta experimental do círculo de Jonas Mekas, aquele que é visto como o padrinho do cinema de vanguarda americano, um agitador responsável por programar no espaço da Cinemathèque muitas das obras cinematográficas de Andy Harhol. Rubin funcionava como uma espécie de interface entre a Factory e o mundo da pop, tendo sido ela a responsável por apresentar Warhol a gente como Donavan ou os Byrds. Quando a cineasta pediu a Gerard Malanga, outro artista multidisciplinar do círculo da Factory, que o acompanhasse ao Cafe Bizarre para filmar os Velvet Underground, este terá sugerido a Warhol que os acompanhasse. O compromisso dos Velvet Underground com o Cafe Bizarre duraria pouco tempo e o grupo foi despedido por ser demasiado desalinhado com a época, exactamente as mesmas razões que despertaram o interesse de Warhol. E uma das primeiras ideias que a estrela da Pop Art teve foi a de juntar os Velvet com Nico, «uma incrível beleza alemã que tinha acabado de chegar a Nova Iorque vinda de Londres», lembrou Warhol em Popism. «Ela tinha o ar de quem podia ter feito a viagem até Nova Iorque na proa de um navio Viking, ela tinha esse tipo de cara e de corpo». E a voz? «Um computador da IBM com um sotaque à Greta Garbo», ainda segundo o papa da arte pop. Nico vinha de Londres onde já tinha esboçado o início de uma carreira musical. A modelo e atroz conheceu Brian Jones, guitarrista dos Rolling Stones, em 1965 e impressionou-o tanto que este convenceu o seu manager, Andrew Loog Oldham, a produzir e editar um single na sua etiqueta Immediate. «I’m Not Sayin’» marcou o arranque da sua carreira musical. Depois de Londres, a cantora foi para Paris onde conheceu Bob Dylan, que ficou igualmente impressionado e aparentemente lhe escreveu o tema «I’ll Keep It With Mine», exactamente o single que Nico tinha na sua bolsa no dia em que conheceu Andy Warhol em Nova Iorque. «Outra ideia que tivemos quando fomos ver os Velvet [ao Cafe Bizarre] foi a de que eles poderiam ser uma boa banda para tocar atrás de Nico», escreveu ainda Andy Warhol em Popism, É preciso entender que Andy Warhol «adotou» os Velvet Underground da mesma forma que abraçou as nascentes tecnologias de comunicação: o Super-8, o vídeo portátil, as fotocopiadoras e os gravadores caseiros de som. Os Velvet eram mais uma ferramenta de expressão, uma máquina que ele poderia usar para gerar as suas próprias imagens dos anos 60. O EPI foi uma experiência nesse sentido. Em 1970, nas páginas da revista Creem, Lester Bangs refletia sobre duas experiências transformadoras da face performativa da década de 60 e apontava os Acid Tests dos Grateful Dead e Ken Kesey e o EPI dos Velvet Underground e Andy Warhol como exemplos máximos do «psychedelic multimedia trend» de ambas as costas americanas. O «filme» podia estar a ser realizado por Warhol, mas a banda-sonora pertencia aos Velvet Underground. E, claro, tratando-se dos Velvet Underground, grupo de egos desmedidos, «tocar atrás» de alguém nunca foi realmente uma opção. «Houveproblemas desde o inicio» explicou Sterling Morrison em abril de 1981(citado no livro Beyond The Velvet Underground). Só havia algumas canções apropriadas para a voz de Nico, mas ela queria cantá-las todas - “Waiting For The Man”. “Heroin”, todas. E ela tentava fazer pequenas cenas de política sexual na banda. Quem quer que parecesse estar a ter uma influencia determinante nos eventos, era de quem Nico estaria mais próxima. E assim ela foi de Lou para o John, mas nenhum desses casos durou muito» .
«[Os Velvet] eram cínicos enquanto a cultura [psicadélica] olhava para a ingenuidade como virtude; [eram] individualistas ao passo que a sua geração queria derreter-se harmoniosamente no coletivo» Mary Harron, NME (1981)
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Está tudo na banana, Apesar de ser visto como um dos grandes álbuns de 1967, The Velvet Underground & Nico ficou pronto no ano anterior, um pormenor que é importante para sublinhar a sua condição vanguardista. Jim Derogatis escreve em Kaleidoscope Eyes que a estreia dos Velvet «era como Pet Sounds ou Revolver porque usava o estúdio para transportar os ouvintes para mundos que eles nunca tinham visitado». Mas, avisa o autor, o mundo da banda de Reed e Cale era muito mais sombrio que o dos Beach Boys ou dos Beatles. Esse carácter visionário da estreia dos Velvet significou que, mesmo apesar da ligação a Warhol, não foi fácil encontra quem o editasse. A Verve aceitou editar o álbum graças à influência de Tom Wilson, o real produtor do álbum apesar de tal crédito ter sido entregue a Warhol, mas antes já a Atlantic, a Columbia e a Elektra tinham recusado a maqueta gravada nos estúdios da Scepter por Norman Dolph (o nome no famoso acetato descoberto há uns anos com versões diferentes do álbum de estreia do grupo, apresentadas na reedição de 2012). Foi das sessões da Scepter que saiu a maior parte do material de The Velvet Underground & Nico, embora novas misturas fossem realizas para alguns dos temas. Mas «I’m Waiting For The Man», «Heroin» e «Venus in Furs» foram regravadas num estúdio de Hollywood a pedido da MGM e, mais tarde, já no final de 1966, Wilson também levou os Velvet para um outro estúdio de Nova Iorque de onde saiu «Sunday Morning». Apesar da sua acidentada gestação, The Velvet Underground & Nico «cont´wm as raízes de todas as futuras inovações dos Velvet Underground e o grupo igualou essa marca, mas nunca a ultrapassou», garante Derogatis, sublinhando a decisiva importância deste marco de 1967. « Em pleno hinduísmo, “hipismo”, flower power e psicadelismo, quais teriam sido as nossas hipóteses de descobrir The Velvet Underground & Nico em 67? Ínfimas, sem dúvida», asseverou Renand Monfourny na entrada dedicada à estreia discográfica da banda no dicionário de superstars. «Em 1967, era o melhor disco de rock produzido; a música, como os textos nova e nunca antes escutada. The Velvet Underground & Nico matou os “swinging sities”». Matou, de facto, mas lentamente. A estreia dos Velvet Underground não causou nenhuma revolução imediata e as vendas, tendo em conta a magnitude dos êxitos que se podiam alcançar na época, foram meramente residuais. Nada disso, no entanto, beliscou o impacto do disco. Brian Eno terá até afirmado que mesmo tento vendido poucos milhares de cópias, cada uma foi ter a alguém que depois formou a sua própria banda. Na década de 70, David Bowie foi dos primeiros a carregar a bandeira dos Velvet, mas mesmo Lou Reed procurar actualizar algumas das idiossincrasias do álbum da banana em trabalhos como Transformer, Berlim ou até Metal Machine Music. Do punk em diante, então, a influência dos Velvet Underground foi notória - «fazer versões dos Velvet Underground era uma das pedras de toque do punk», assegura Greil Marcus em Lipstick Traces - com a geração que se estendeu dos Joy Division aos My Bloody Valentine a carregar o peso de uma dívida numa saldada ao grupo de Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Maureen Tucker. As «vistas largas» de um álbum impressionante.
Uma banana ainda maior. A caiza de luxo que marca os 45 anos sobre a edição original de The Velvet Underground & Nico estende-se por 6 CD’s e inclui um livro de 88 páginas assinado por Richie Underberger, um escritor com mais de uma dezena de obras publicadas sobre bandas como os The Who ou os Beatles, sobre as cenas do psicadelismo e da folk na década de 60 e que é ainda autor de um livro que se debruça minuciosamente sobre a obra do grupo de Reed e Cale: White Light/White Heat: The Velvet Underground Day-By-Day. Nos 6 CD’s disponíveis, no entanto, estão as verdadeiras mais-valias desta edição. Além de versões mono e estéreo do álbum original, da recolha de vários singles e ainda do álbum do Chelsea Girl de Nico, gravado com os elementos dos Velvet, encontra-se um quarto CD dedicado ao mítico acetato de Norman Dolph gravado no estúdio da Scepter em 25 de abril de 1966 (comprado num mercado de rua em Nova Iorque por menos de um dólar e vendido no eBay por 25mil) a que se adicionam gravações de alguns ensaios na Factory. A colecção completa-se com dois CD’s ao vivo, gravados em novembro de 1996 no Valleydale ballroom de Columbus, no Ohio.
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Sex Pistols. O Há 35 anos no Reino Unido estava estagnado, a sua juventude alienada e enraivecida - a altura perfeita para a Rainha dar uma festa do Jubileu, só que os Sex Pistols estavam por perto para estragar tudo. Dos voos sabotados para Amestardão até lutas sanguinolentas com a FMI (e com monárquicos armados), John Lydon, nome de código Johnny Rotten, recorda a Mark Beaumont o tumulto que «God Save The Queen» foi capaz de instaurar na sociedade inglesa de então.
Caos a bordo, passados poucos dias a lendária aparição dos Sex Pistols no programa matinal da Thames Television em dezembro de 1976 - no qual a banda vomitou frases expletivas ao apresentador Bill Grundy - a EMI alegava que estava a “investigá-los”, à medida que a digressão Anarchy in the UK se desmoronava no meio de ondas de sensacionalismo dos tabloides. “Eu também andava a bisbilhotar”, diz John. “A EMI estava ligada a trbicantes de armas e todo o tipo de tretas institucionais desonestas, mas afirmava ser a voz da norma institucional e estava horrorizada connosco, pessoas desagradáveis. A AEMI era uma corporação multinacional que fabricava peças de radares, sistemas de direção nuclear e mísseis de cruzeiro”, argumenta Glen Matlock, referindo-se a acusações do livro de Brian Southall, The Rise And The Fall of EMI Records. “Segundo sei, também inventaram o scanner de ressonância magnética e só tinham um em todo o mundo. Havia pessoas do Bible Belt, na América, com milhões de dólares, que queriam comprá-lo; tudo isto aconteceu mais ou menos na altura em que aparecemos no programa do Grundy. Eles tinham uma banda anarquista e estavam a tentar vender o scanner de ressonância magnética, por isso alguma coisa tinha que ceder”. A 4 de janeiro de 1977, os Sex Pistols viajaram para Amesterdão para darem alguns concertos organizados à pressa fora do país. Em poucas horas o [jornal] Evening News, em Londres, anunciava que a banda tinha causado o caos a bordo do avião, cuspindo e vomitando. “Fomos encantadores”, atesta John. “Que o poder se ressinta contigo dá amargamente [à imprensa] carta branca para escrever o que quiser”. Na manhã seguinte, Glen foi chamado ao telefone pelo proprietário do hotel. “O tipo disse: “Olá, sou do The Sun. Vocês acabam de ser despedidos pela EMI Records, tem algo a dizer-me que possa publicar?”. E foi assim que eu soube. Disse-lhes: “Que bom, não é?””. Mesmo antes de a EMI despedir os Sex Pistols, propunham a Glen, que viam como o principal compositor, um contrato para qualquer outra banda que quisesse formar. Detetaram a animosidade entre Glen e John. “Era uma personagem espinhosa e era isso que tinha de melhor” diz Glen, “mas surgiram fações diferentes e nós estávamos num aquário”.
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“O Glen tinha uma sensibilidade rígida”, argumneta John. “[A música] tinha que ter uma estrofe e um refrão, uma parte de ter guitarra bonita no meio e, em seguida, um final feliz. Um cruzamento dos Kinks com o Cliff Richard. O Glen ainda lamenta termos praguejado, enquanto a minha opinião é que aquilo é linguagem humana, a nossa maior realização enquanto espécie.” John ainda afirma que Glen se recusou a tocar “God Save The Queen” ao vivo porque acreditava que era uma canção fascista; Matlock ainda o nega. “O Glen já não queria trabalhar comigo”, diz John. “Foi depois de alguma briga parva, em público, num pub qualquer em Kensington. Nunca chegámos à agressão física, mas os insultos foram violentos”.
Durante uma reunião da banda, Glen deixou bem claro que não podia fingir que estava tudo bem. “Pouco depois, o Malcom ligou-me”, relembra. “Disse: “Vamos meter o Sid na banda””. Depois, o Malcom disse: “Cometi um erro, quero que voltes e comeces a derrubar portas”. Eu respondi: “Deixaste passar demasiado tempo”, foi então que ele enviou o telegrama [para a NME, afirmando que Glen tinha sido “expulso ... porque passou demasiado tempo a falar sobre o Paul McCartney”]. Se algum deles me tivesse dito isso na cara, eu teria contra-argumentado, mas ninguém teve coragem de o fazer”. Enquanto Glen formava os Rich Kids com Mudge Ure, o seu substituto tinha dificuldades em dominar o seu instrumento. “Por um lado era um erro”, diz John sobre a sua ideia de trazer Sid Vicious para a banda, “por outro era hilariante porque não nos devíamos levar demasiado a sério. O medo que tinha quanto às suas capacidades empurrou-o para o mercado das drogas. Tornou-se algo sujo, começou a acreditar na imagem que tentava construir para tentar ser um Sex Pistol”. Os primeiros ensaios de Sid e a banda? “Horríveis”, ri John. “Era uma farsa total. O Lemmy disse que o ensinava. “Sid, não sabes tocar, não tens talento nenhum!”, disse. Não tinha qualquer sentido de ritmo... Nem sequer conseguia fingir”. O concerto de estreia de Sid com os Pistols no Notre Dame Hall, em Londres, foi a primeira de muitas presenças enérgicas mas “acústicas”. “Ele nem se apercebia que não estava ligado”, diz John. “Pensava que tinha um som fantástico e o baixo dele nem estava ligado”!
“[No concerto dos pistols no rio Tamisa], a polícia perguntou, qual deles é Jhonny Rotten? E e eu apontei para o Richard Brandson [ Patrao da virgin]. Eles nao sabiam quem vinham espancar, precisavan de apanhar alguém!”
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Um tumulto, de palavrões cuspidos na televisão à hora do chá, um clamor nacional, uma digressão banida e rumores de estômagos esvaziados num voo para Amesterdão; esta foi a deixa para a EMI os largar como se fossem um míssel cruzeiro a ferver. Um escritório destruído, uma ameaça de morte ao melhor amigo do diretor e o desdém de Rick Wakeman; foi tudo o que a A&M precisou de ouvir para se livrar deles uma semana depois de os contratar. Com o novo baterista cheio de heroína e metade de Inglaterra a exigir o seu sangue, enquanto a outra metade se juntava em torno da sua carnificina cultural e social, os Sex Pistols entraram furiosa e loucamente no verão de 1977, em rota de colisão direta com a maior celebração nacional desde o Campeonato do Mundo de 1966. Eram os párias punk rock que vomitavam verdades sobre a geração “no future” e tentavam apagar com cuspo as chamas patrióticas do Jubileu de Prata da monarca, um festival de agitação de bandeiras que marcou o 25º ano da Rainha no trono. Numa época de greves gerais e depressão económica, era uma oportunidade para o país despertar da miséria e celebrar-se a si próprio. Face a tamanho descontentamento público inevitável e extremo, era preciso um homem com paciência de santo, a coragem de um espartano e os recursos legais do News International para aceitar os Sex Pistols. Na verdade, um homem com uma parecença incrível com o Usain Bolt com uma barbicha branca. “Eu adorava o Richard Branson por nos ter apoiado tanto”, diz John Lydon homenageando o homem que foi preso, acusado e indigitado para permirit que tudo acontecesse. “Quando abriu as maiores lojas Virgin, pôs os posters do Never Mind The Bullocks... nas janelas e depois lançouse num combate feio nos tribunais, num processo constituído contra nés por usarmos linguagem grosseira na nossa campanha promocional... Iam pôr-me na cadeia por usar uma palavra que está no Oxford English Dictionary? “Bollocks”? Que treta é esta?”. A história em torno da contratação dos Sex Pistols pela Virgin em maio de 1977 - indiscutivelmente um dos contratos discográficos mais importantes do rock moderno - é uma verdadeira lenda punk putrefacta. A separação da EMI; a confusão de uma semana com a A&M; as digressões secretas e a demonização nos meios de comunicação; a demissão de Glen Matlock e a chegada de Vicious; o motim do Dia do Jubileu e o furor de “God Save The Queen”; os esfaqueamentos, as ameaças de morte, a obscenidade, a fúria. Recuando 35 anos, John e companhia revelam uma história secreta que envolve negócios industriais duvidosos, recompensas empresariais, reuniões secretas com os ABBA e lutas de bolos imaginárias com Sua Majestade...
Rebeldia punk ou golpe publicitário? 10 de março de 1977. Um Bentley estaciona junto ao Palácio de Buckingham e lá de dentro saem quatro punks bêbedos, que praguejam aos jornalistas, assinam um contrato falso e voltam a entrar no carro, a brigar. Bem-vindos à invenção do golpe publicitário pop anti-instituição. “Hilariante”, relembra John sobre o dia em que os Sex Pistols assinaram com a A&M (a assinatura oficial do contrato tinha sido no dia anterior). “Eu estava irritado com o Sid nessa altura. Ele não parava de interromper a conferência a dizer “Foda-se!”. Estávamos todos muito bêbedos. Acho que não sabia com que editora estava a assinar, nem queria saber”. Segundo a lenda, o carro rumou aos escritórios da A&M, onde Sid destruiu a pontapé uma sanita enquanto John insultava os funcionários e Steve se enrolava com alguém na casa de banho das senhoras. “Não sei se isso foi udo no mesmo dia”, diz John. “Lembro-me dos azulejos brancos e das paredes brancas adornadas com vasos de plantas bem colocadas e estores venezianos. Não nos sentimos bem-vindos e isso despertou algo. Uma sanita foi pontapeada e partiu-se, grande coisa. A lista de nomes que estavam contra nós na editora... Não espero que pessoas como o Rick Wakeman e o Steve Harley me digam que a minha música não presta e a deles sim”. O produtor Chris Thomas disse depois que a banda chegou à última sessão de gravações de Never Mind The Bollocks totalmente embriagada. “Estávamos a misturar a “God Save The Queen” e eles aparecem numa limusina completamente bêbedos”, recorda. “O Wessex Studio ficava ao lado de uma escola, e eles meteram-se com os miúdos. Apareceu o polícia e esconderam-se nos armários”. Seis dias mais tarde, depois de uma briga numa discoteca, na qual um dos amigos de John alegadamente ameaçou um amigo de um dos chefes da A&M, a banda foi despedida, todas as cópias em disco de God Save The Queen que já tinham sido fabricadas foram destruídas e receberam uma indeminização de cinco dígitos só para irem embora. “Isso fez com que entrássemos para a lista de ‘Empresários do Ano’ de uma revista qualquer!”, ri-se John. “’Por favor aceitem, vão-se embora’! É esse tipo de impopularidade que adoro”! “O Sid pode ter aparecido numa das primeiras sessões”, diz Thomas sobre a contribuição de Sid para Never Mind The Bullocks... “Ele queria arranjar um som de baixo reggae e metê-lo na ‘God Save The Queen’. Foi levado a crer que estava na gravação, mas não está”. “Ninguém lhe disse nada”, afirma John, mas eu disse-lhe: “És uma porcaria, por amor de Deus, vai para casa! Não passei um ano a escrever estas canções para um gajo qualquer dar cabo delas”. Em maio a Vurgim tinha aparecido para os salvar e as sessoes de gravaçao realizaram-se durante o verao. Thomas, entusiasmado com fazer un gigantesco disco rock e confrontado com a existência de un baixista inadequado, experimentou usar guitarras multi-faizas e pós Steve a tocar. “ Eu entrava a correr, nao havia ensaios a sério” diz Jhon. “Consegue-se perceber que a minha voz está aguda e cor-ta-da. Assegurando-me que cada palavra é de-vida-men-te pro-nun-ci-a-da. Nao sabia como é que ia ficar e se escrevo uma cançao, quero que se perceba claramente”.
“[Eu disse ao Sid Vicious]: és uma porcaria, por amor de deus, vai para casa! Nao passei um ano a escrever estas cançoes para um gajo qualquer dar cabo delas”
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Os monarquicos contra-atacam ( com facas) Uma sessão, a 18 de junho, quase acabou com a banda de vez, quando uns idiotas monárquicos decidiram acabar com os desmancha-prazeres traiçoeiros. Durante um copo pós-gravação no pub Pegasus em Islington, John apontou a Chris um grupo de tipos que os olhavam fixamente. «Fomos para o parque de estacionamento», relembra. «Eram cerca de 11 tipos com três facas. Esfaquearam o John no pulso, e acabei com um rasgão na parte de trás da camisa, com uns 50 centímetros. Passavam as facas uns para os outros, tipo ‘Agora é a tua vez’. «Um bando de adoradores da Rainha decidiram-me cortar-me», diz John. «Um dos parvalhões tinha uma faca de mato. Eu tinha umas calças de pele vestidas, ele rasgou-as até ao joelho. A ponta da faca de mato era ligeiramente curvada e ficou presa na minha rótula. Quando faz frio no Inverno, sinto-o. Fiquei furioso com a cobardia deles, por terem sido precisas tantas pessoas armadas até aos dentes para derrubar só um pobre Mr Rotten». «Isso é mentira, não é?», goza John Lydon, referindo-se ao mito de que a Rainha decretou pessoalmente que «God Save The Queen» fosse banida do Número Um em junho de1977, em favor de «I Don’t Want To Talk About It»/«The First Cut Is The Deepest»de Rod Stewart. «Pobre gente, nascem numa gaiola de hamster e não decidem nada. Nesse assunto eu a Rainha estamos de acordo»! Deviam juntar-se para falar sobre isso. «Sim, mas sei bem o que é que eu faria. Uma luta com bolos». Enquanto preparavam as celebrações para o Jubileu da Rainha e para o longo fim de semana janota que a ocasião exigia, o lançamento de «God Save The Queen» parecia ser, para a sociedade tradicional, um verdadeiro rugido de anarquia e revolução. Imagine-se que os Enter Shikari lançavam uma canção chamada «Buckingham Slaughterhouse» na semana do Jubileu de Diamente em 2012, vezes um bilião. As fileiras cerravam-se. As grandes cadeias recusaram-se a armazenar o disco. Nenhuma estação de rádio independente passava a canção. Os operários fabris recusaram-se inicialmente a produzi-la. Mas as vendas atingiram números consideráveis, com a contracultura a unir-se e a insistir que a sua voz fosse ouvida. Apesar de ter sido John a receber as ameaças de morte enfiadas em garrafas de leite, a polícia achava que a «sociedade» é que precisava de proteção. Assim, no fim de semana do Jubileu, quando a McLaren alugou um barco para descer o Tamisa e passar pelo Parlamento enquanto os Sex Pistols tocavam «God Save The Queen». a polícia do rio apareceu em força. «Como era um Jubileu, os pubs estavam autorizados a ficar abertos 24 horas, podias fazer a festa quando quisesses», diz John. «Excepto se fossemos os Sex Pistols. Fomos escoltados por barcos da polícia de volta às docas e recebidos com murros e cassetetes. Eu escapei primeiro e a polícia disse “Qual deles é o Johnny Rotten?” e eu apontei para o Richard Branson. «Eles não conheciam quem vinham espancar, precisavam era de apanhar alguém»! Nenhuma sala de concertos anunciava abertamente um espetáculo dos Sex Pistols no outono. Só podiam tocar incógnitos, agendar concertos com o pseudónimo The SPOTS (Sex Pistols On Tour Secretly [Sex Pistols em Digressão Secreta]). «Em pubs no Norte», diz John. «Começamos tudo outra vez e tocar para plateias hostis. Para um lado e para o outro numa carrinha. Mas foi fantástico. Embora tivesse que dizer às pessoas para pararem de cuspir. “Não sei que idiota é que vos disse que gostamos disso, mas não gostamos”»! O lançamento de Never Mind The Bollocks... Here’s The Sex Pistols a 27 de outubro de 1977 cristalizou um caldeirão de magma punk e criou uma planta de música rock britânica vital. Mais importante de tudo, esteve à altura das expectativas monumentais que o rodeavam. «Havia muitas bandas punk novas que declaravam o que era o som punk», recorda John. «Parem com isso, somos os Pistols; sabemos como é o nosso som». Se, passados 35 anos, há algo que brilha mais audaciosamente na história dos Pistols de 1977 do que a música brilhante e brutal em si, é isto: que apenas por reflexo, só por ser confrontada com o seu lado mais feio, a sociedade mainstream tenha mostrado o seu verdadeiro rosto. Medo, abominação, violência, opressão, ódio, estupidez, intolerância e ignorância. Graças a Deus que quem ganhou foi a escumalha.
Pu nk Port Made in ugal
Zé Pedro - Xutos & Pontapés
A publicaçao em 1984 do livro A Arte Eléctrica de Ser Português - 25 anos de Rock’n Portugal oferece-nos a viagem no tempo possível até à época em que por cá se procuravam identificar os ecos da revolução rock que fazia tremes o chão de cidades como Londres ou Nova Iorque. Escrevia o autor: «No início de 1978, em Portugal, sabese vagamente o que se passa em Inglaterra e na América a nível do povo rock. Fala-se já em punk rock, mas pelo que se lê nos jornais sensacionalistas, nas revistas estrangeiras. Nenhuma das editoras portuguesas se abalança a editar Sex Pistols, X-Ray Spex ou The Clash. (…) É então que, de repente, na montra da Valentim de Carvalho e, logo a seguir, na de mais uma ou duas discotecas da baixa lisboeta, surge um álbum-colectânea com os dizeres Punk-Rock/New Wave ‘77». O responsável por tal edição foi António Sérgio, para sempre ligado à génese do punk em Portugal. Esse disco teve vida curta nos escaparates, apreendido que foi devido a uma acusação de pirataria. A semente estava, porém, lançada. Importa desenhar o cenário rock da época: em 1978, José Cid editou o mítico 10 Mil Anos Depois Entre Vénus e Marte e grupos como os Tantra, Petrus Castrus ou Beatnicks representavam por cá a guarda avançada eléctrica antes do boom rock que se registaria um par de anos mais tarde. Só que os tais ecos punk de Londres e Nova Iorque estavam a chegar. Ainda em 1977, Zé Pedro, à época jornalista no Diário de Lisboa, tinha testemunhado em primeira mão o poder da redução do rock aos dois ou três acordes essenciais apanhando bandas como os Clash, num festival em França, em Mont de Marsan. «Nessa altura», recordou o guitarrista à BLITZ aquando do 30º aniversário do primeiro concerto dos Xutos & Pontapés, «ainda havia pouca gente sintonizada com o fenómeno punk, mas felizmente o António Sérgio tinha começado muito cedo a tocar punk na rádio, ainda na Rádio Renascença. Vivíamos aqueles tempos pós-25 de Abril com toda a gente muito aluada e aberta às cenas de arte. Havia uma enxurrada de informação para digerir. E depois havia um grupo de pessoas – eu, o Paulo Borges [Minas e Armadilhas], o Pedro Ayres [Magalhães, Faíscas]… - que se juntava na Munique, trocava discos e tinha grandes conversas onde se comentava a música que António Sérgio passava, até se trocavam cassetes com gravações do programa dele. A informação ia rodando e havia muita curiosidade sobre o que era isto do punk, mas não sei se havia propriamente um movimento». Com movimento ou sem ele, «é então que o incansável António Sérgio», escreveu António Duarte, «decide lançar a público a primeira banda punk portuguesa, os Faíscas, produzida por ele próprio». E começa aqui a história do «punk tuga».
“Tinhamos a atitude, a música, as letras, a imagem e a vontade de derrubar o status quo. Invadimos palcos para nos deixarem tocar, criámos situaçoes de caos, destruiçao e anarquia” Paulo Pedro Gonçalves ( Faíscas)
A primeira band terá sido, de facto, Pedra, de Eduardo contar a «nossa» h «rockabilly speedad Pedro Gonçalves, m Heróis do Mar, tem foram a primeira b na mesma altura m considerados pub tinham a atitude, a Tínhamos um “follo nos deixarem toca “violar o sistema”. explica no mesmo mais com a sonorid que talvez animass
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da punk Come sempre nestas coisas há algum debate sobre qual a primeira banda punk nacional. No documentário Meio Metro de Morais, Francisco Dias, um dos «historiadores oficiosos» que ajudam a história rock, distingue os Faíscas – mais «classe média», a tocarem um do» - dos Aqui Del’ Rock - «mesmo das ruas», «punk a sério». Paulo membro fundador dos Faíscas e mais tarde dos Corpo Diplomático e m uma visão diferente, que nos explica, a partir de Londres: «os Faíscas banda punk portuguesa. Os Aqui del Rock apareceram mais ou menos mas não eram uma banda punk. Em Inglaterra na altura teriam sido rock como os Dr. Feelgood ou o Ian Dury and The Killburns. Os Faíscas música, as letras, a imagem e a vontade de derrubar o status quo. owing” punk, uma fanzine, invadimos os palcos do rock português para ar, criávamos situações de caos, destruição e anarquia. O nosso lema era Éramos verdadeiros Situacionistas». Óscar Martins, dos Aqui Del Rock, documentário que a diferença podia passar por o seu grupo alinhar dade americana e menos com a atitude cultivada nas escolas de arte se um pouco mais a abordagem dos Faíscas.
s: «do punk apareceram os Xutos, ainda com o Zé Leonel, os Minas e ulo Borges, a Anamar, UHF e outras bandas que agora não me lembro. vamos com o nome Jô Jô Benzovac & Os Rebeldes porque não havia unk que pudesse fazer a nossa primeira parte. Nos Alunos de Apolo eias de seda na cabeça e vestidos de fatos completos dos anos 40. de rock’n’roll (Elvis, Chuck Berry, Little Richard, Jerry Lee Lewis) depois estimos uns amigos com a nossa roupa, meias de seda, vieram ao meias, agradeceram ao público e nós começamos o set dos Faíscas». As o Pedro Gonçalves são coincidentes com as de Gimba, que também de Apolo na noite de 13 de Janeiro de 1979, que marcou a estreia ao Pontapés: «na sala do baile era a maior loucura, estava lá uma banda, & Os Rebeldes, a tocar todo aquele reportório – “Rock Around The ti”… E na parede estava aquela frase do Frank Sinatra, qualquer coisa roll é uma música feita por cretinos e para cretinos” qualquer coisa um baile punk, porque o punk estava mesmo no auge. Nessa altura havia cabeça do pessoal, era a droga da moda. Lembro-me que os Faíscas até . A dança era feita de encontrões, chutos e pontapés mesmo».
uma fagulha que quando pegou fogo, ardeu intensamente», explica-nos alves. «Durou pouco, talvez um ano. Não tivemos disco, apenas uma na Rádio Comercial, mas servimos de inspiração a muita gente e fomos e intelectual dos Corpo Diplomático e Heróis do Mar».
emórias de todos parecem ser coincidentes: o 25 de Abril foi determisição do punk. «Vivíamos num país onde podias falar abertamente», Gonçalves sobre o Portugal pós-revolucionário. «Mas embora o 25 a dado liberdade de expressão, por outro lado vivíamos um pouca às anos de fascismo não se sacodem como água duma gabardina. Portugal bem uma democracia. Andava a fazer experiências com a democracia va uma identidade e uma direcção».
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Ku de Judas - Punk do 79
Deserto fértil Depois de 1980, o chamado «boom» do rock português reorientou as atenções. Fazer riffs com guitarras eléctricas enquanto se cantava de cabelo espetado já não era assim tão estranho. Francisco Dias, coleccionador, dinamizador e membro dos também punks Sibcaos, pega no fio da meada e avança pela década de 80 adentro: «o punk deveria ter tido mais impacto. A primeira vaga morre um bocado em 79 e a partir daí, tens uma segunda vaga de punk mais comprometida, extremista e mais interventiva ainda. Havia os Ku de Judas, os Grito Final, uma série de bandas. Eles tocavam ao vivo mas pouco ou nada gravaram. Aquela fase da primeira vaga, dos anos 70, os Aqui d’el Rock foram a única banda que gravou discos e tinham letras punk interventivas, que metiam o dedo na ferida. Os UHF, os Speed, os Vodka Laranja, nenhuma banda estava comprometida com aquela mensagem do punk. Era tudo muito superficial, «new wave», rock and roll. Foi estranho porque países que passaram muitos anos ditaduras, como a Espanha e o Brasil, tiveram bandas punk fortíssimas. Mas nós não. As editoras independentes estavam mais preocupadas em encontrar bandas com uma veia artística e intelectual. Não bandas de rua. Este tipo de editoras tinha a cabeça noutro sítio». O homem do leme do órgão oficioso da cultura punk em Portugal, o blog billy-news. blogspot.com, começa por apontar a abertura de uma mítica sala dos anos 80 como um balão de oxigénio para a resistência punk em Portugal: «em 82/83, com algum apoio do Rock Rendez Vouz que abriu as portas a esse tipo de bandas, pode-se dizer que houve uma força maior, um novo ânimo. Estava-se a viver o punk um pouco mais a sério». Billy prossegue: «O primeiro álbum dos Xutos & Pontapés, 78/82, foi um marco. Realmente respirava-se o punk naquela fase dentro dos Xutos e mesmo pelos próprios fãs nos concertos. A banda até fazia o seu próprio merchandising. Tinham isqueiros pretos com o X a vermelho. Depois temos as gravações do Rock Rendez Vouz com vários momentos ao vivo de várias bandas, e cassetes que nunca foram editadas dos Ku de Judas. Grito Final também é aquele nome imprescindível numa discografia de punk». Em relação à década em que o rock português registou o seu boom comercial e também em que a vertente independente se afirmou definitivamente, Francisco Dias não tem problemas em nomear um panteão: «Crise Total, Ku de Judas e Mata Ratos. A santíssima trindade dos anos 80», defende, indo até mais longe: «das coisas mais injustas na nossa história do punk foi nunca se ter gravado nada para os crise total ou para os Ku de Judas. Até os Mata Ratos levaram quase 10 anos a ter um LP… grandes falhas», lamenta o músico e coleccionador. João Ribas; que fez parte dos Ku de Judas e dos Censurados e que é hoje o rosto dos Tara perdida, concorda: «acho que o processo mais importante nos anos 80 foram as bandas que começaram a surgir e a fazer espectáculos: os Crise Total, Ku de Judas, Mata Ratos, mais para o final dos anos 80. Não havia nada. Nem maquetes. Só se começou a gravar mesmo no final dos anos 80, quando apareceram algumas maquetes. Mas foi sobretudo com o aparecimento do Rock Rendez Vouz que gravava os concertos ao vivo e – falo por mim – na altura dos Ku de Judas, a única gravação ao vivo lá. Os Crise Total também tinham uma». Apesar de serem vistos como «outra coisa» pelo próprio movimento, os Peste & Sida conseguem pelo menos uma menção de João Ribas que vê o primeiro LP da banda de João San Payo e Luís Varatojo, VenenoI, de 1987, como importante para uma discografia punk dessa década.
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A terceira via Billy faz-nos a ponte para os anos 90 e identifica uma mudança de atitude e de cenário: «o punk sempre foi um movimento “underground”. Teve foi uns picos de popularidade, mas especialmente no final dos anos 80, começou a adormecer outra vez. Nos anos 90, algumas bandas de punk mais melódico, da Califórnia, fizeram referências aos Sex Pistols e Ramones. Isso fez com que miúdos ouvissem essas bandas e levou a uma espécie de revivalismo. O punk está relacionado com a dinâmica das pessoas e dos espaços. Tudo muito “do it yourself ”». Francisco Dias também vê no arranque da última década do século XX um período de renovada vitalidade para o punk nacional: «Não podemos esquecer o início dos anos 90, até 1995 por aí, esse movimento esteve mais forte, com uma vaga de bandas da linha de Sintra: os X-Acto, Subcaos, Alcoore e depois o Corrosão Caótica. Esta foi sem dúvida a melhor fase destes últimos 20 anos». Francisco, membro dos Subcaos, prossegue: «Subcaos foi uma das bandas que mais gravou nos anos 90, daquela geração punk/hardcore. X-Acto e Subcaos foram as das bandas que em mais compilações entraram, mesmo lá fora. Contribuímos nesse sentido para o punk em Portugal. As nossas letras eram 100% intervencionistas e isso influenciou as pessoas. O punk é um pau de dois bicos, tanto tem um lado construtivo de pessoas que querem dizer algo, como, a cena do niilismo, do “tou-me a cagar”, álcool, droga e destruição». Data deste período a associação do punk ao veganismo, muito graças ao espírito interventivo dos X-Acto e à sua forte ligação a uma militante comunidade de fãs. Este grupo chegou mesmo a apresentar-se numa primeira parte dos americanos Offspring. João Morais, actualmente membro dos Gazua, traça paralelos com esse passado descrito por Francisco Dias, uma vez que fez parte dos Corrosão Caótica: «vim de uma lado mais metaleiro mas depois cruzei-me com músicos que vinham da área do punk. Era uma mistura. Ainda andava a brincar com carrinhos quando o punk começou em Portugal. Cá não chegava nada, só quem vinha de fora é que tinha informação para fazer algo desse género. Era um círculo muito pequeno. Conheço algumas pessoas dessa fase e, normalmente, estiveram fora. Foi quando chegaram a Portugal que decidiram criar bandas». João vê o punk como terreno de atitudes extremadas, «umas mais de construção, outras de desconstrução»; «umas contra tudo e outras a favor, não de tudo, mas que haja uma conciliação de ideias. Não acho que o punk português tenha características únicas. Tem muitas características e influências de Inglaterra e Estados Unidos. Nunca se conseguiu personalizar muito o noso som. Só a língua é que distingue as outras bandas lá fora, mas em termos de estilo, são guitarras baixos e baterias», afirma, simplificando o que por cá se passa. «Identifico-me talvez na atitude, na maneira de estar na vida. Identifico-me mais com as ideias do que com uma componente visual. Não tenho uma crista na cabeça. É mais uma maneira de estar na vida que se rege acima de tudo com a tentativa de fugir àquilo que o sistema tem como supostamente correcto», explica o músico, que depois traça o seu percurso: «A minha primeira banda surque quando eu tinha 16 anos. Tínhamos vontade de fazer barulho, de berrar. Não tinha uma vida má que me obrigasse a gritar, mas estudei artes e nesse meio havia muita gente ligada a esse movimento. Depois as coisas começam a fazer sentido, à medida que vais ganhando espírito crítico». Francisco dias, finalmente, deixa um recado em relação ao presente. «Neste momento fazia sentido aparecerem bandas punk. Com a situação catastrófica deste país e deste governo medonho. É muito mais credível aparecerem bandas de punk de intervenção do que há 20 anos, em que estávamos no cavaquismo. Se o punk tem os dias contados? Está morto há mais de 15 anos como costumo dizer». O veterano Paulo Pedro Gonçalves parece afinar pela mesma bitola, oferecendo a sua visão a partir de Londres, onde reside: «quando acabaram os Pistols, acabou o punk! Não porque os Pistols fossem o punk, mas porque já se tinha tornado comércio, a roupa tornou-se farda, a música era toda igual e se fosse diferente não era punk, as editoras majors tinham todas uma banda punk para vender. Apareceu a new wave, punk com açúcar para as massas. Em Kings Roads [Londes], nos anos 80, os punks não passavam de uma atração turística. Em Portugal aparecem e continuam a aparecer muitas bandas influenciadas pelo punk assim como cá em Inglaterra, na América e em todo o mundo. Muito do cinema, literatura, dança e artes plásticas continuam com o espírito independente e DIY do punk». Entretanto, entre Londres e Coimbra, os Parkinsons já levam uma década de edições, firmando os pés do lado de cá do século XXI e carregando a chama de um movimento que há 35 anos que dá dores de cabeça ao sistema, funcionando como a face visível no presente de uma tradição coimbrã de rock a abrir que se estende dos M’As Foices aos Tédio Boys, Já em pleno século XXI, os lisboetas The Vicious 5 conheceram um culto crescente, já alicerçado pela força difusora da internet, mas puseram termo - cedo demais? - a um percurso intenso iniciado com o EP Lisbon Calling. No presente, entretanto, Gazua ou Viralata continuam a carregar a bandeira punk, recusando o passar do tempo e mantendo-se fiéis à ideia avançada há mais de 30 anos pelo Aqui d’El Rock: é preciso abanar o sistema.
Alcoore - Punk dos 90
“Países com ditaduras, Espanha, Brasil, tiveram bandas punk fortíssimas. Nós não. As editoras independentes estavam mais preocupadas em encontrar bandas com uma veia intelectual. Não bandas de rua” Francisco Dias (Subcaos)
Herois do Mar - Uma de as primeiras bandas punk
Peste & Sida - Punk do finales dos 80
Ku de Judas - Punk do 79
X-acto - Punk dos 90
Corrosao Ca贸tica - Punk dos 90
Crise Total - Punk dos 80
Mata Ratos - Punk dos 80
Subcaos - Punk dos 90
Faíscas - Primeira banda punk
Aqui Del´Rock - Uma de as primeiras bandas punk Corpo Diplomático - Uma de as primeiras bandas punk
Xutos & Pontapés - Punk do 79
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