RESSIGNIFICAÇÃO DO VAZIO Patricia Putz Sampaio
SÃO PAULO
2016
Instituto Presbiteriano Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Patricia Putz Sampaio
RESSIGNIFICAÇÃO DO VAZIO
São Paulo 2016
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Dedico essa monografia à todas as arquitetas e arquitetos do amanhã, que esse trabalho realmente agregue ao futuro da nossa profissão.
A G R A D E C I M E N T O S
Sou grata por toda a minha família, que sempre entendeu minha correria com a faculdade – mesmo nos almoços e jantares em família, quando eu ficava com minha prancheta portátil ou meu laptop. Aos meus pais, especificamente, por sempre me incentivarem a ser meu melhor, por apoiarem minhas escolhas e me darem liberdade para eu seguir o rumo que eu quisesse. À minha irmã Tati, que me ajudou muito mais do que ela pode imaginar, às minhas amigas, sempre presentes e ao meu namorado, Vinícius, por ser sempre tão incrível com os gestos e palavras e, com isso, fazer com que eu acredite em mim tanto quanto ele acredita.
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Estudar e qualificar um vazio na cidade através da ressignificação de seu uso é o tema principal do presente trabalho. Essa monografia foi escrita a partir de pesquisa bibliográfica de autores-arquitetos renomados e estudo de projetos de referência pertinentes. É apresentada uma proposta projetual prática que resulta da aplicação direta dos conceitos aprendidos, com o objetivo de ressignificar uma antiga área industrial, hoje pouco adensada, para um espaço fluido, dinâmico e socioculturalmente diverso. Conclui-se que a melhor solução para um vazio não precisa se dar com uma construção arquitetônica e sim pode acontecer por meio de mantê-lo um vazio, agora público e equipado para suprir as necessidades do local onde se encontra.
Palavras-chave: 1. 4. Projeto praça 5.
Ressignificação Integração 6.
2. Respiro 3. Diversidade sociocultural
Utopia 7. Uso
verossímil democrático
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To study and qualify an unoccupied space in the city through its resignification is the main theme of the present work. This thesis was written based on bibliographic research of renamed architectauthors and the case study of pertinent architectural projects. It is presented a practical architectural proposal that results in the direct use of the learned concept, with the goal of re signifying an old industrial area, which today has low residential density, into a fluid, dynamic and socioculturally diversified space. The work concludes that the best solution for an unoccupied space does not need to be with an architectural construction and that the solution just might be keeping it an empty urban land, now made public and equipped to provide for the necessities of the site it is implanted.
Key words: 1. 4. Urban project
Resignification 2. 5. Integration 6.
Sustainable Sociocultural
use 3. Verisimilar utopia diversity 7. Democratic use
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Estudiar y cualificar un vacío en la ciudad a través de la re significación de su uso es el tema principal de lo presente trabajo. Esa monografía fue escrita a partir de pesquisa bibliográfica de renombrados autores-arquitectos y del estudio de proyectos de referencia pertinentes. Es presentada una propuesta proyectual práctica que resulta de la aplicación directa de los conceptos aprendidos, con lo objetivo de resignificar una antigua área industrial, hoy poco adensada, para un espacio fluido, dinámico y socioculturalmente diverso. Se concluye que la mejor solución para un vacío no necesariamente es con una construcción arquitectónica y sí que se puede ocurrir por mantenerlo un vacío, ahora público y equipado para suplir las necesidades del local dónde se encuentra.
Palabras llave: 1. 4. Proyecto plaza 5.
Re significación 2. Respiro 3. Utopía verosímil Integración 6. Diversidad sociocultural 7. Uso democrático
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1. Introdução....................................................................................................................9 2. Ressignificação..........................................................................................................11 2.1 A cidade e a escala humana – “ground floor”..........................................12 2.2 Cidade para pessoas...................................................................................16 2.3 Espaços subutilizados em espaços públicos..........................................20 2.4 A importância da boa arquitetura de espaços para se viver bem......26 3. Bairro do Brás..........................................................................................................31 3.1 Histórico.......................................................................................................32 3.2 Lotes vagos no Brás..................................................................................42 3.3 Área de interesse......................................................................................44 4. Projetos de referência...........................................................................................46 4.1 Charlotte Ammundsens Plads………………………….…..…...............................47 4.2 Lemvig Skatepark......................................................................................50 4.3 Paley Pocket Park.....................................................................................53 5. Proposta projetual.................................................................................................57 6. Conclusão................................................................................................................81 Referências.................................................................................................................83
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1.
INTRODUÇÃO
Ao estudar arquitetura, é imprescindível estudar as pessoas; logo, a pesquisa é capaz de beneficiar tanto arquitetos e urbanistas quanto quaisquer outros profissionais – por se tratar de uma questão apenas de escala aplicada. Essa monografia pode ser lida para cidades, bairros, prédios ou para quem usufrui de tudo isso: pessoas. Discute-se o tema da urbanidade com um olhar diferente. Estuda-se a cidade para pessoas, mas com foco principal em alterar o padrão de tratamento para os lotes desocupados/abandonados. Existem vazios decorrentes da ocupação como ela se deu e o problema é a maneira como eles são vistos. Ao invés do que se costuma fazer, com o adensamento construtivo, a pesquisa apresenta diferentes ideias que contribuem para a cidade de tal maneira que isso possa servir de referência em assuntos da mesma natureza. A relevância do presente estudo reside na busca por entender o vazio e trazer a ele um novo significado, especialmente dada à escassez de pesquisas sobre o tema no Brasil – onde sempre se leva em consideração que a construção e ocupação de um lote vago é a melhor solução. No entanto, com a pesquisa, o tema é abordado de outra maneira e resulta em diferentes soluções. Atualmente em São Paulo, desde o novo Plano Diretor Estratégico (PDE) 2014, alguns bairros centrais de pouca densidade habitacional encontram-se em fase de adensamento. Há, então, uma certa urgência na discussão imposta, visto que os lotes vazios são tidos como oportunidades de construção pelo mercado mobiliário. Desta forma, o estudo traz uma alternativa de ocupação pelo poder público e/ou a iniciativa privada.
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1.
INTRODUÇÃO
Ao considerar que o novo PDE (2014) prevê áreas de estruturação viária e um novo zoneamento estratégico a partir desses eixos de transporte, muitos bairros que hoje estão subutilizados serão locais de grandes transformações. As tipologias, fisionomias e características dos bairros vão mudar enormemente e isso encaminha o pensamento para questões sobre como os espaços vazios serão utilizados, além de dirigir perguntas para os espaços públicos de tais bairros, como o bairro estudado, o Brás. O objetivo do presente trabalho é ressignificar um vazio de uso na cidade a partir de sua requalificação enquanto espaço público e a ocupação de seu entorno, enquanto melhoria urbana e de qualidade de vida Essa monografia foi desenvolvida através de pesquisa bibliográfica, de estudos de caso de projetos que requalifiquem vazios em espaços abertos de uso público, análises sobre a possível implantação dos projetos discutidos no bairro do Brás e, decorrente de tudo isso, proposta projetual.
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2.
R E S S I G N I F I C A Ç Ã O
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A
CIDADE
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ESCALA
HUMANA
-
“GROUND
FLOOR”
Não é segredo que, quando estudamos História, na escola, aprendemos que as cidades antigas eram feitas de acordo com a escala que se possuía na época: a humana. Seja por falta de conhecimentos técnicos construtivos para construções grandes, seja pela ainda não existente frota de veículos nas ruas, as cidades eram para pessoas (GEHL, 2015). Com o tempo e os avanços tecnológicos, a orientação arquitetônica passou do foco aos espaços comuns urbanos para os espaços individuais, nos altos edifícios, isolados e autossuficientes (GEHL, 2015). Para melhor entender, Koolhaas (1995) explica: A Cidade Genérica
está a passar da horizontalidade para a verticalidade .
ser a tipologia final e definitiva .
Engoliu
todo o resto .
ou no centro da cidade , já não há nenhuma diferença . modo a que não interajam .
A
Pode
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arranha - céus parece
existir em qualquer lugar : num arrozal
As
torres já não estão juntas ; separam - se de
densidade isolada é o ideal
(Koolhaas; Mau; Sigler, 1995, p. 1344).
A rua, espaço antes de comércio e encontros, descaracterizou-se. Agora, ela apenas canaliza o fluxo peatonal em calçadas, que viraram espaços de transição, e não permanência. As estradas são para os carros e as pessoas que não os utilizam, são sujeitas à inúmeras situações desagradáveis e, muitas vezes, até graves – desde intempéries até obstáculos no percurso e calçadas estreitas demais para passagem segura. Tudo isso porque não se pensa mais em pessoas e sim em arranha-céus genéricos e carros (KOOLHAAS, 1995). Especialmente no Brasil, país onde o modernismo ainda parece não ter tido fim, o urbanismo moderno
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2.1
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CIDADE
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ESCALA
HUMANA
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“GROUND
FLOOR”
pode ser visto e usado para exemplificar as cidades que existem hoje. Em Brasília, é possível observar a consequência da lógica de separar os usos da cidade e inflar os edifícios individuais autônomos, além de priorizar por completo o transporte automotivo individual: o fim ao espaço urbano (GEHL, 2015). Os espaços, no urbanismo moderno, são projetados a partir do papel e de forma monumental. Novamente no caso de Brasília, pode-se identificar o formato de um avião em planta, mas isso só acontece quando a cidade é vista de cima, na visão de um pássaro, avião ou skyline. É uma cidade genérica, que entra na descrição geral de Carlos Leite e Juliana Awad (2012, p. 57) para o espaço urbano: [...] uma imensa paisagem homogênea e dispersa, onde a locomoção se dá através do uso intensivo do veículo particular , o lazer ocorre em parques temáticos disneyficados e os raros encontros sociais são em malls .
Isso resulta em uma cidade de proporções extra-humanas e esvaziada de pessoas, onde, como se já não fosse o suficiente essa implantação invasiva e excessiva, pode-se dizer que as pessoas também ficam cada vez menos civilizadas. Uma cidade segregada resulta em pessoas segregadas (LEITE; AWAD, 2012). Para os não arquitetos e urbanistas, ao vivenciar uma cidade, muitas vezes não fica claro o que nela é agradável ou o porquê de um espaço ser mais convidativo que outro. Jan Gehl (2015), arquiteto e urbanista dinamarquês, facilita essa compreensão. Gehl deixa claro que o térreo é a escala humana da cidade, o nível da rua, e é nele que surgem as interações mais significativas de um lugar. A arquitetura, como curso universitário, não pode ser definida como “humanas ou exatas”, porque ela é mais do que isso: têm um quê de arte. A boa arquitetura é aquela projetada para pessoas, visto que
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molda suas vidas. Quando projetada apenas para o skyline, a arquitetura molda os edifícios e, aí, perde sua escala de referência e grande parte de seu valor (GEHL, 2015). Os partidos arquitetônicos individuais engolem uns aos outros no meio urbano, sem procedente ou consideração com o que já está ou esteve ali. O resultado disso, no espaço ocupado, são crostas e níveis de urbanidade – atividades programáticas e usos do solo – sem conversa com o entorno e sobrepostos de maneira que geram vazios urbanos em seus intervalos, em suas lacunas (LEITE; AWAD, 2012). É importante frisar que a arquitetura de arranha-céus faz parte do cotidiano contemporâneo e não deve – nem pode – ser abolida. Essa arquitetura pode ser de qualidade, mesmo que não feita inteiramente em escala humana, porque há de se lembrar que os edifícios ocupam apenas uma parte das cidades. Entre eles, no entanto, há espaço para estruturas públicas de importância, que completem a arquitetura dos arranha-céus em uma escala amigável (GEHL, 2011). Existe um conceito muito simples, mas que ajuda no entendimento de uma boa cidade: melhores condições para a vida urbana resultam em mais vida na cidade. Há uma linha tênue interligando o uso do espaço público pelas pessoas com a qualidade desse espaço e também com a preocupação de mantê-lo em uma escala agradável a seus usuários (GEHL, 2015). As cidades têm uma função muito mais importante do que dormitório-trabalho-lazer. Elas são berço de conexões entre pessoas, de incitação à debates e sustentabilidade social, de tal modo a criar uma sociedade democrática pensante. Dessa maneira, cidades têm também uma função social (GEHL, 2015).
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HUMANA
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FLOOR”
É de escopo político que os cidadãos queiram usufruir da cidade, que é deles. Para que isso aconteça, como diz Gehl (2015, p.7): “um bom espaço público e um bom sistema público de transporte são, simplesmente, dois lados de uma mesma moeda”. O caminhar e o pedalar reforçam a vida de uma cidade e costumam levar à vontade de permanecer em seus espaços, bem como fazem com que outras pessoas se sintam convidadas a fazer o mesmo (GEHL, 2015). Além de tornar-se mais convidativa, a cidade com mais pessoas circulando a pé por ela também é sinônimo de cidade mais segura. Quanto mais pessoas percorrem por suas ruas e utilizam-se de seus espaços, mais segura uma cidade é (GEHL, 2015). Mas, para que isso aconteça, a cidade precisa ser convidativa para o caminhar e, consequentemente, precisa de espaços públicos agradáveis, percursos interessantes e variedade em seu tecido urbano. Esse conceito, de que há mais segurança dessa maneira, se baseia no fato de que, quanto mais pessoas estejam nas ruas, mais olhos estão acompanhando as atividades que nela acontecem. Não obstante, quanto mais interessante forem os acontecimentos a nível dos olhos e mais atrativa parecer a cidade, mais pessoas dos edifícios do entorno prestarão atenção a esse meio, mesmo que alguns andares acima de distância (GEHL, 2015). Dessa maneira, conclui-se que cidades para pessoas são, nas palavras de Gehl (2015, p. 6), “cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis”. Trazendo, de tal modo, benefícios a quem elas devem trazer: às pessoas.
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2.2
CIDADE
PARA
PESSOAS
Por mais que uma cidade tenha sido projetada e pensada em escala humana, não há melhor exemplo do que Veneza para explicar como tudo isso funciona e beneficia a todos. Ao abordar a cidade italiana, percebe-se de início que é uma cidade para pessoas. Suas ruas estreitas impedem a passagem de carros enquanto que seu gabarito de altura dos edifícios mantém-se baixo e, assim, as pessoas conseguem conectar-se umas às outras, mesmo quando do alto de edifícios de 4 ou 5 pavimentos (GEHL, 2015). Por sempre haver existido uma preocupação com seus espaços para as pessoas, o térreo de Veneza é extremamente rico e foi aprimorado cada vez mais com o passar dos anos. Feitos para a proporção humana, os objetos arquitetônicos contam com uma enorme profusão de detalhes que atraem o olhar e, por consequência, facilitam o caminhar ao torná-lo menos tedioso (GEHL, 2015). Tudo isso fez com que a Veneza para pessoas seja uma consequência e o resultado são: promenades interessantes, com boa qualidade arquitetônica, fachadas ativas e de usos mistos, curtos percursos entre um serviço e outro que, por sua vez agora, acabam por provocar grande fruição pública e gerar uma qualidade urbana ímpar (GEHL, 2015). O doutor em arquitetura, Sun Alex (2008) acrescenta, sobre uma das características das cidades históricas europeias que faz com que elas sejam tão bem trabalhadas para pessoas: A
plaza pretende ser um foco de atividades no coração de alguma área
Tipicamente,
“intensamente”
urbana .
ela será pavimentada e definida por edificações de alta densidade e circundada
por ruas ou em contato com elas .
Ela
contém elementos que atraem grupos de pessoas e
facilitam encontros : fontes , bancos , abrigos e coisas parecidas
(ALEX, 2008, p. 23).
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CIDADE PARA PESSOAS 2.2 A maioria dos espaços hoje, na contemporaneidade, já está dividido e estruturado e, na verdade, eles é que são mais interessantes para se trabalhar. Tais espaços possuem a dinâmica de seus habitantes e, muitas vezes, essa dinâmica pode ser melhorada de maneiras que os moradores nem ao menos imaginam. Nesse sentido, um espaço que funcione tanto em escala urbana quanto em escala humana só trará benefícios, porque um está intimamente ligado ao outro. Quanto mais atrativo for um lugar, mais pessoas – incluindo jovens graduados – gostarão de morar lá (SPECK, 2013). Para que o espaço seja atraente, ele deve ter elementos estruturados em escala humana: calçadas largas, ciclovias, transporte público de qualidade e em quantidade adequada, mobiliário urbano, térreo ativo e usos mistos (GEHL, 2015). Sobre os benefícios, pode-se pensar assim: conforme a população (de pessoas graduadas) aumenta, há um resultado quase que direto em, também, um aumento – uma melhora – na economia. Antigamente, pensava-se que era o contrário: uma boa economia traria pessoas e empregos. No entanto, hoje já se sabe que as pessoas são atraídas por boa qualidade de vida e que, assim, os empregos e a economia vêm também (SPECK, 2013). Ainda a respeito dos benefícios de uma cidade para pessoas, pode-se atribuir o fato de que “longas permanências significam cidades vivas” (GEHL, 2015, p. 72) e, por cidades vivas, entende-se cidades mais seguras e sustentáveis. No longo plano, uma cidade ativa traz benefícios por ser um lugar que atrai pessoas (GEHL, 2015). Em alguns países – especialmente nos Estados Unidos – onde diversas cidades contam com áreas obso letas, criou-se o “Shrinking Cities Movement”, que nada mais é do que planejar o encolhimento dessas
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2.2
CIDADE
PARA
PESSOAS
cidades. Esse encolhimento serve para o propósito de parar com o espraiamento periférico e também aproveitar o que já existe: a ideia é usar de áreas que hoje são pouco densas, mas que, por terem sido densas um dia, já contam com infraestrutura (LEITE; AWAD, 2012). Dessa maneira “gerando territórios mais compactos e implementando verdes em áreas obsoletas” (LEITE; AWAD, 2012, p.26). Apesar do país precursor de tal movimento ter sido os Estados Unidos, o episódio de encolhimento não é singular de lá. Diversos fatores, como um espaço projetado para industrias que hoje se vê em decadência ou o fato da diminuição da natalidade – em detrimento, muitas vezes, dadas crises financeiras –, podem ser utilizados para ajudar a encontrar espaços assim ao redor do mundo (LEITE; AWAD, 2012). É importante frisar que o movimento de encolhimento pode ser algo menos drástico também. Qualquer área pouco densa que, ao receber uma melhoria transforma-se e valoriza-se, encaixa-se no movimento. Dito isso, no livro “Cidade para pessoas”, Gehl (2015) cita diversos exemplos de como melhorias no espaço público resultaram em grandes benefícios para as cidades. Dentre elas, está a descanalização de um grande rio em Aarhus, cidade dinamarquesa. Antes, canalizado para dar espaço à uma rua importante e de grande tráfego de veículos, ao transfigurar a paisagem urbana com o rio agora visível, o tráfego não só melhorou como o lugar todo transformouse em um dos mais importantes espaços públicos da cidade. Ao torná-lo aproveitável, a área onde o rio corre – antes desvalorizada e quase que em desuso –, acabou por valorizar o ambiente como um todo e isso faz com que mais pessoas queiram morar e conviver por lá (GEHL, 2015). Independente da nacionalidade ou procedência dos autores lidos, todos convergem sobre o tópico do
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2.2
CIDADE
PARA
PESSOAS
espaço público. Gehl (2015), Leite e Awad (2012), Speck (2013) e Alex (2008) concordam que espaços na cidade, com qualidade e destinados ao uso pelas pessoas, favorecem a vida delas e a dinâmica urbanística também. [...]
as praças , urbanas por definição , são lugares públicos de encontro e convívio de grupos
sociais diferentes , isto é , de construção da cidadania e da democracia .
Os
estudos mostraram que
os espaços acessíveis e adaptáveis nas praças são frequentemente usados , e esse uso não apenas satisfaz aspirações individuais , como descanso ou esporte , mas também promove o contato entre estranhos , estimula atividades variadas no entorno e , especialmente , consolida a presença e a permanência do lugar .
Em
contrapartida , projetos deficientes , manutenção precária e negligência
da gestão pública da praça e do espaço da cidade contribuem para perda de referenciais comuns , a exemplo do significado público e da legibilidade da paisagem urbana .
Essa
deterioração em nada
favorece a solução de conflitos sociais ou a preservação do patrimônio público (ALEX 2008, p .279).
É como um jogo de dominó: as peças estão enfileiradas e, ao dar início à uma delas, uma empurra a outra. Abranger o uso do solo misto e concentrado, disponibilizar espaços públicos em áreas abandonadas e cruciais para o funcionamento do local e incentivar o compartilhamento de equipamentos – de saúde, educação e transporte –, juntos à uma grande diversidade tipológica de habitação (para que pessoas de todas as rendas possam morar em tal sítio), são fatores que favorecem uma boa dinâmica urbana. Ao atribuir cada um desses fatores às peças de dominó e começar a derrubar uma, elas vão acabar por empurrar também o resultado, que é a integração social e diversidade socioterritorial ao promover um uso democrático e sustentável do espaço (LEITE; AWAD, 2012).
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2.3
ESPAÇOS
SUBUTILIZADOS
EM
ESPAÇOS
PÚBLICOS
Com o rápido e exorbitante crescimento das cidades – que acontece desde a industrialização –, o aumento de automóveis cresce de maneira que ocupa grande parte do térreo nas cidades – desde as ruas, para quando estão em movimento quanto estacionamentos, para quando estão estacionados (GEHL, 2015). Segundo Gehl (2015, p.13) “A conclusão é inequívoca: se as pessoas, e não os carros, são convidadas para a cidade, o tráfego de pedestres e a vida urbana aumentam na mesma proporção”. Em cidades europeias como Copenhague e Oslo, o urbanismo vem sido pensado de maneira a considerar cada vez mais as pessoas. Ruas, antes para carros, foram transformadas em caminhos peatonais e atraem pedestres e vida pública à cidade. Dessa maneira, os estacionamentos adjacentes à essas ruas tornaram-se obsoletos e, ao invés de construir nesses vazios existentes, eles também foram convertidos em espaços para pessoas. Estacionamentos viraram praças para acomodar o dinamismo urbano na escala humana (GEHL, 2015). Praças são, concomitantemente, uma construção e um vazio. Ao mesmo tempo que são espaços abertos, elas ocupam um espaço no tecido urbano e, tão importante quanto elas, são os edifícios em seu entorno – edifícios, tais, que influenciam em sua importância. As praças são qualificadas a partir do momento em que são um vazio por entre cheios – se só existem vazios, as praças passam a não ter sentido de existência. Por serem sítios passíveis de incitar o convívio entre pessoas – tanto no quesito cívico quanto no social – elas têm participação ativa na vida da cidade (ALEX, 2008). Leite e Awad (2012) estudam o movimento de encolhimento das cidades e veem, nesse estreitamento, uma oportunidade chamada smart decline. As cidades estão espraiando-se para suas bordas e deixam
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2.3
ESPAÇOS
SUBUTILIZADOS
EM
ESPAÇOS
PÚBLICOS
seus centros cada vez mais obsoletos e vazios Esse fato torna a ocasião favorável para traçar o que se fazer com esses espaços em declínio. (...) promover o planejamento verde em áreas deterioradas como oportunidade de inovar e reinventar tais cidades”, sugerem Leite e Awad (2012, p.26) sobre o assunto e, indagam “Não seria mais interessante, em termos de desenvolvimento sustentável, repovoá-las?” – Falando sobre as áreas em desuso das cidades (LEITE; AWAD, 2012). A cidade de Melbourne, na Austrália, serve como estudo de caso para exemplificar o smart decline. Tendo sofrido um processo de renovação urbana, a diretriz principal do projeto foi de que ele deveria ser para pessoas e, assim, estimulá-las a usar a vida pública a qual elas têm direito. Ao invés de criar ruas peatonais, como em Copenhague e Oslo, Melbourne aumentou suas calçadas, implantou mobiliário urbano de qualidade e criou uma estratégia verde, que incluiu o plantio de várias árvores a fim de manter a memória paisagística local e prover abrigo e sombra às calçadas. Os convites às movimentações e permanências não pararam por aí: novas praças foram criadas e, tudo isso aliado a um sistema iluminação noturna e programas de arte espalhados pela cidade. Dessa maneira, conseguiu-se traçar um perfil de espaços públicos que fosse confortável e atrativo às pessoas (GEHL, 2015). O espaço público faz parte das funções vitais da cidade. Sua importância vem do fato de ser um local propenso a muitos tipos de acontecimentos, desde um sítio para pontos de encontro à um espaço de conexão (GEHL, 2015). O que pode ser difícil na criação de um espaço público é impulsionar as pessoas a
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2.3
ESPAÇOS
SUBUTILIZADOS
EM
ESPAÇOS
PÚBLICOS
usá-lo, quando for projetado em locais de baixa densidade e fluxo de pessoas. Porém, o arquiteto e urbanista doutor, Sun Alex (2008, p.27), determina pontos focais para superar o problema. Em suas palavras: Atividades comerciais podem estimular o uso do espaço público e aumentar a percepção do caráter aberto dos lugares . cidade .
Ambulantes
que tumultuavam várias ruas do
Centro
também animam praças da
Atualmente, em São Paulo, frequentar feiras de design, artesanato e antiguidades, comidas
regionais e étnicas realizadas nos espaços públicos tornou - se uma atividade de lazer no final de semana .
Para Gehl (2015), é considerável ressaltar que, manter o foco do urbanismo em edifícios exorbitantemente altos para superar o adensamento habitacional de baixa densidade é, em sua visão, um erro. Ao fazer isso, acaba-se por ignorar as questões do espaço entre os edifícios – o espaço público em escala humana (GEHL 2015). “Praças, ruas, jardins e parques constituem o cerne do sistema de espaços abertos na cidade”, ajuda Alex (2008, p.61), a descrever quais são os espaços onde a vida acontece entre as construções. Quando projetados em escala humana, articulam a arquitetura à vida pública e refletem qualidade de vida urbana. Ao propor um urbanismo de qualidade, a base é a mesma, independente de onde o projeto será implantado. Diz-se, do bom urbanismo, que é feito para pessoas – afinal, segundo o arquiteto e urbanista sueco Ralph Erskine (1994-2005): “Para ser um bom arquiteto você tem de ter amor pelas pessoas, porque a arquitetura é uma arte aplicada e lida com a moldura da vida das pessoas” (GEHL, p.229). Portanto, ao saber que as pessoas possuem os mesmos padrões básicos de comportamento e as mesmas funções
22
2.3
ESPAÇOS
SUBUTILIZADOS
EM
ESPAÇOS
PÚBLICOS
locomotoras e sensoriais, pode-se estipular algumas diretrizes em comum em todo planejamento urbano de vocação humana (GEHL, 2015). Em cidades densas, ocupadas por construções de todos os cernes, é de se pensar no quão interessante seria manter os poucos espaços vazios, estacionamentos, por exemplo, como tais. Ao invés de adensálos com mais edifícios, enxergar as vantagens em transformá-los em espaços públicos – visto que os benefícios de tais espaços são inúmeros no cotidiano urbano dos habitantes (GEHL, 2015). Buffalo, Cleveland Os
e
Detroit
perderam metade de suas populações nos últimos
50
anos .
ambientes construídos e desocupados dessas cidades , como edifícios , ruas , etc ., estão
começando a ser transformados em áreas verdes : green demolition .
Binghamton,
no
Estado
de
ser melhor descritas como
Nova York, “adições
Richard Bucci,
prefeito de
defende que estas demolições de áreas desocupadas podem
através de subtração ”: adicionar qualidade aos bairros ao
subtrair as antiquadas e dilapidadas estruturas que os cercam ”
(LEITE; AWAD, 2012, p.28)
Fica claro que nem sempre precisa-se atribuir uma função à edifícios em desuso e que um bom planejamento urbano é capaz de identificar o que tem potencial para ficar e o que pode ir. Esse planejamento é capaz de categorizar as áreas para a transformação de antigas carcaças estruturais em edifícios residenciais/ corporativos funcionais e também para discernir quando eles podem sair de cena para dar espaço à, nada menos que, o espaço em si. É a reciclagem do espaço urbano (LEITE; AWAD, 2012). Mas há de se considerar, porém, a sustentabilidade que há no “não-construir”,
23
2.3 ESPAÇOS SUBUTILIZADOS EM ESPAÇOS PÚBLICOS especialmente analisando as vantagens que o “manter o espaço já vazio” têm em relação ao “demolir o existente para abrir espaço” (para o vazio público). Essas considerações devem ser feitas no caso do entulho gerado e do material já existente que será desperdiçado versus o nada, que só tem a somar. Sobre as cidades em encolhimento, para o redesenvolvimento urbano sustentável, é desejável que haja um reaproveitamento sustentado de seus vazios urbanos. A melhor maneira de se ter êxito em um projeto do tipo, segundo o economista Edward Glaeser (2008), é: [...]
a economia está se transformando e a criatividade é para o século
para puxar arado foi no século
18 [...] As
21
o que a habilidade
cidades que desejarem sucesso precisam
trabalhar para atrair pessoas criativas , a onda do futuro
[...] Se
eu tivesse que escolher
um fator essencial para o sucesso econômico de uma cidade no século capacidade de atrair talentos , de se reinventar e inovar ”.
21,
seria este : a
(LEITE; AWAD, 2012, p. 129)
Ou seja, é preciso projetar espaços criativos, para pessoas e que voltem a trazer vitalidade ao tecido urbano. A estratégia é que, com vazios urbanos agindo como parques e espaços públicos, o humano seja a escala escolhida e isso por si só é o atrativo do projeto. Com programas de ocupação com comércio e lazer no térreo das bordas de tais vazios, os edifícios reciclados (ou projetados) serão de uso misto e trarão a capacidade para alto adensamento habitacional (LEITE; AWAD, 2012). É ideal que isso seja implantado em locais cuja infraestrutura urbana já exista – como antigas áreas industriais – e que hoje estejam em qualidade favorável para recebimento de tal projeto. As atividades econômicas do local deverão ser associadas à tendência e propensão do território – de maneira a preservar memória local – e, ao juntar todo o planejamento, espera-se que se tenha uma redução do
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2.3
ESPAÇOS
SUBUTILIZADOS
EM
ESPAÇOS
PÚBLICOS
esvaziamento produtivo de tais áreas – e também, o contrário: que se tenha um acréscimo na produtividade a partir da reutilização dos espaços vagos (LEITE; AWAD, 2012). O reaproveitamento de vazios existentes como espaços conectores – de respiro, transição e permanência –, a preocupação com a memória e história do local, o uso de uma área já provida de infraestrutura básica e de transporte público e a sustentabilidade em repovoar um espaço com essas características são elementos programáticos adequados à dinâmica da metrópole contemporânea. Com isso, espera-se que se facilite o desejável encolhimento e compactação do território, por meio do adensamento de áreas em desuso, e que se potencialize o uso de infraestruturas existentes e, dessa maneira, favoreça uma maior sustentabilidade urbana (LEITE; AWAD, 2012).
25
2.4
A
IMPORTÂNCIA
DA
BOA
ARQUITETURA
PARA
SE
VIVER
BEM
Copenhague, 1962, rua Strøget. A cidade que se tornou focada em seus cidadãos iniciou seu processo de transformação ao converter, gradualmente, ruas para carros, em zonas peatonais. “Quanto mais espaço é ofertado, mais vida tem a cidade” é o que conclui Jan Gehl (2015, p.12) em suas análises que dizem respeito à ocupação pública e dinamismo dos espaços para pessoas em Copenhague (GEHL, 2015). Ao reformar o território de tal maneira e torna-lo mais amplo e agradável, Copenhague conseguiu aumentar em quatro vezes seu índice de atividades de permanência. Em Strøget, a mais tradicional rua da cidade, por exemplo, somente no primeiro ano de sua conversão em grande calçadão – 1962 –, o número de pedestres já havia aumentado 35% (GEHL, 2015). Próxima à Dinamarca, a Holanda – especialmente sua capital – não ficou para trás no quesito “escala humana”. Jakoba Helena Mulder (1900-1988), foi arquiteta chefe do Departamento de Planejamento Urbano de Amsterdam, em 1947. Durante seu tempo de trabalho para a prefeitura, Mulder observou que havia uma equação a ser feita: crianças necessitam de espaços para brincar [A] + existem espaços residuais na cidade [B] = essas áreas se tornam possíveis parquinhos/espaços públicos [C] (MONTANER; MUXÍ, 2014). A + B = C
26
2.4
A
IMPORTÂNCIA
DA
BOA
ARQUITETURA
PARA
SE
VIVER
BEM
Dessa maneira, a arquiteta propôs um sistema que chamou de “bottom up” (“de baixo para cima”), onde atribuiu grande parte da formação das pessoas às suas infâncias. A partir de tal constatação, Mulder focou seus esforços na criação de espaços públicos para crianças, onde fosse possível explorar várias formas de entretenimento e brincadeiras e que fossem economicamente viáveis de se construir (MONTANER; MUXÍ, 2014). Estabeleceu-se um sistema onde, observada a necessidade do espaço público infantil e uma possível área para sua implementação – casas abandonadas, terrenos baldios, grandes calçadas/esquinas e outros –, cidadãos contatavam a prefeitura para que analisassem a proposta e dessem uma resposta. Aldo van Eyck, arquiteto holandês, ofereceu seus serviços como projetista de tais parquinhos e, alinhado à força da prefeitura, Jakoba Mulder e van Eyck conseguiram criar por volta de 700 parques diferentes e criativos, num período de 30 anos (1948-1978). Van Eyck hoje é referência por seus projetos sempre originais e que permitem o desenvolvimento da criatividade por suas formas, texturas e gama de possibilidades (MONTANER; MUXÍ, 2014). Ainda sobre como é possível melhorar a qualidade de vida com a arquitetura, Speck (2013) cita Portland como estudo de caso de uma cidade americana que investiu seus recursos em melhorias urbanas ao invés de rodovias – e tornou-se muito bem sucedida como cidade. O incentivo americano capitalista fordista é o de se criar avenidas e ruas de trânsito rápido para, nada menos que: carros. Portland fugiu disso quando decidiu que a “walkability” (“habilidade de andar”) era mais importante para a vida na cidade do que os espaços para os carros. Dessa maneira, a cidade
27
2.4
A
IMPORTÂNCIA
DA
BOA
ARQUITETURA
PARA
SE
VIVER
BEM
incentivou o uso de bicicletas – ao projetar ciclovias – e de atividades peatonais e, com o dinheiro remanescente – rodovias são extremamente custosas –, conseguiu investir em outras áreas (SPECK, 2013). O resultado foi um só bem consolidado: Portland conseguiu gerar um retorno financeiro ao usar seus recursos de outro modo. Assim melhorou a saúde física e mental de seus cidadãos ao incentivar o deslocamento por meio de atividades físicas e, consequentemente também, reduziu o stress do tempo gasto no trânsito. Com essas melhorias, acabou por tornar-se a cidade que mais cresceu em relação à população jovem e graduada, por ser um lugar onde as pessoas almejam morar (SPECK, 2013). Além disso, Gehl (2015, p.16) completa: “[...] análises da vida normal na cidade documentaram que melhorar as condições para os pedestres e para a cidade leva essencialmente a novos padrões de uso e mais vitalidade no espaço urbano”. Não é difícil perceber que a “walkability” de uma cidade gera, por decorrência, uma riqueza no espaço urbano ao aproximar as pessoas. Gehl (2015), dinamarquês, Speck (2013), americano e Leite e Awad (2012), brasileiros, todos concordam que, ao analisar determinado espaço, seu uso o torna valioso – porque, como diz Speck (2013, p. 32) “cities exist, after all, because people benefit from coming together” (“cidades existem, afinal, porque as pessoas se beneficiam da proximidade umas com as outras [tradução da autora]”). Ainda em seu livro, Walkable City, Speck (2013, p.33) apoia suas palavras nas de dois físicos teóricos – Geoffrey West e Luis Bettencourt
28
2.4
A
IMPORTÂNCIA
DA
BOA
ARQUITETURA
PARA
SE
VIVER
BEM
“‘What the data clearly shows,’ West notes, ‘is that when people come together they become much more productive’” (“O que os dados mostram claramente”, diz West, “é que quando as pessoas se aproximam, elas tornam-se muito mais produtivas” [tradução da autora]). Há de se pensar, no entanto, se o contrário também acontece. Será que a improdutividade tem alguma relação direta com a falta de proximidade das pessoas? Nos Estados Unidos, realizou-se um estudo onde foram analisadas cidades com crescimento rápido nos últimos 40 anos. O que se notou foi que as cidades cujo modelo urbano de espaços públicos e escala humana foi substituído pelas casas nas periferias– para proporcionar o “american dream” –, também foram as cidades menos produtivas. Tais cidades tiveram os salários per capita menores que as que mantiveram seus espaços públicos e seus índices de inovação, medidos de acordo com a criação de patentes, também foram os mais baixos (SPECK, 2013). Tais descobertas potencializam-se com outro estudo americano, feito pela “Environmental Protection Agency” (“agência de proteção ambiental”) onde estudou-se a relação entre a distância percorrida por carro e a produtividade. As descobertas foram óbvias, porém importantes: quanto mais se dirige, pior é a economia do Estado estudado. Logo, estima-se que o tempo que se passa no trânsito é tempo, literalmente, perdido e improdutivo (SPECK, 2013). Reduzido
aos seus princípios mais básicos , o urbanismo sustentável é aquele com um bom
sistema de transporte público e com as possibilidades de deslocamento a pé integrado com edificações e infraestrutura de alto desempenho .
A
compacidade ( densidade ) e a biofilia ( acesso
humano à natureza ) são valores centrais do urbanismo sustentável
(FARR, 2013, p. 28).
29
2.4
A
IMPORTÂNCIA
DA
BOA
ARQUITETURA
PARA
SE
VIVER
BEM
A arquitetura molda a vida das pessoas, por ela ser responsável por tudo o que as cerca. Portanto, a boa arquitetura de espaços – o bom urbanismo –, considera as necessidades urbanas básicas das pessoas e as nutre. Isso acaba por resultar em núcleos urbanos compactos e acessíveis, bem estruturados e, por consequência, têm-se um ambiente mais seguro e acolhedor, possibilitador de trocas sociais. Isso resulta em pessoas felizes, menos estressadas e com maior qualidade de vida (LEITE; AWAD, 2012).
30
3.
BAIRRO
DO
BRÁS
3.1
HISTÓRICO
Os primeiros registros do bairro do Brás se iniciam a partir do começo do século XVIII, com a construção de uma capela que foi ordenada em homenagem ao Senhor Bom Jesus do Matosinho. A construção se deu em uma chácara, de José Braz, e tal chácara ficava a margem de uma estrada, que hoje leva o nome de Avenida Rangel Pestana (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014). No ano da proclamação da República – 1889 –, a capital contava com 65 mil habitantes. Até então, o desenvolvimento do bairro fora lento, mas a partir do momento em que viera a cultura do cafeeira à cidade, junto a ela vieram muitos imigrantes – em sua maioria, italianos. Assim que os imigrantes desembarcavam em Santos eram encaminhados – de trem – até o Brás, de onde deveriam partir para as lavouras de café no interior do Estado. No entanto, muitos imigrantes preferiram fixar-se na capital – cidade que estava em desenvolvimento –, e tentar o êxito com a criação do próprio ofício. A partir daí as pequenas fábricas e comércio novo no bairro juntaram-se ao café e proporcionaram um grande desenvolvimento a região do Brás (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014). Em 1886 o Brás tinha 6 mil habitantes e, em sete anos, esse número aumentou cinco vezes. Como a grande maioria era de imigrantes italianos, o bairro era como uma pequena Itália, mas contava também com a mistura de brasilidade de raças e origens (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014). De tantos imigrantes que chegavam no bairro, existia na época a “Hospedaria de Imigrantes do Brás”. Estima-se que entre o período de quase uma década, do final do século XIX ao final do XX, a hospedaria recebeu mais de dois milhões de pessoas (PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO, 2014).
32
HISTÓRICO 3.1 A partir da década de 40, devido a uma grande seca que atingiu diversos estados do Nordeste, ocorreu no bairro uma constante e progressiva entrada de nordestinos, na mesma medida em que diminuía a presença dos italianos. Com o tempo, o Brás foi diminuindo o foco nas características italianas e passou a dar lugar ao comércio nordestino: de alimentos, temperos, tecidos e roupas (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014). O Brás fica localizado muito próximo ao centro de São Paulo e, como o centro, foi um bairro que cresceu a partir da economia que se tinha. A princípio, quando estruturado sob as rédeas da lavoura de café, tímido e simples; posteriormente, com a evolução da economia agrícola à industrial, vivo, dinâmico e urbano (MEYER; GROSTEIN, 2010). No entanto, como consequência de sua estruturação urbana resultante da economia, quando essa deslocou suas atividades à outras regiões da cidade (figura 1), a área central e bairros em seu entorno, deixaram de ser centro econômico para “espaço residual” e de comércio informal – o não significa esgotamento das possibilidades, mas uma mudança de características. A população local começou a se dispersar pela cidade. O Brás, de bairro culturalmente rico e vívido, passou a ser um ambiente de trabalho, com funcionamento de segunda-sexta, das 9am-7pm – figura 2 (MEYER; GROSTEIN, 2010). É sabido que a especulação imobiliária não apenas prevê potencialidades como também costuma determinar os locais de adensamento. Observa-se, na figura 3, onde foram as apostas das construtoras e incorporadoras no período de 1985-2008. Raríssimos são os edifícios construídos na zona Leste, o que também contribuiu para que o êxodo bairrista não fosse suprido por nova população e, assim, o bairro ficou desabitado de moradores.
33
3.1
HISTÓRICO
Figura 1: Mapa Deslocamento das atividades do terciário na metrópole
Fonte: Meyer; Grostein, 2010. Figura 2: Quadro Evolução da população nos distritos do Brás e da Mooca
Fonte: Meyer; Grostein, 2010.
34
3.1
HISTร RICO
Figura 3: Mapa Lanรงamentos residenciais entre 1985 e 2008
Fonte: Meyer; Grostein, 2010.
35
3.1
HISTÓRICO
A
questão de fundo diante das características da nova dinâmica urbana é , sem dúvida , como evitar
que o permanente processo de transformação do
Centro e, agora, da Área Central, assuma a forma
de esvaziamento . E stimular ou mesmo tolerar o abandono ou o uso indevido do potencial funcional de uma área da cidade é um grave e condenável princípio de política urbana (MEYER; GROSTEIN, 2010).
Contudo, a partir do trabalho de Meyer e Grostein (2010), já se identifica uma alteração nesse cenário. Mesmo sendo um bairro que se manteve fora da mira dos empreendimentos imobiliários e com um uso do solo praticamente constituído por galpões, o Brás, na segunda década do século XXI, começa a parecer mais interessante. Os fatores são: têm-se terrenos baratos e de uso simples e ótima infraestrutura de transporte público – trem, metrô e corredores de ônibus (figura 4 e 5). Esse combo torna a região bastante atrativa para investidores e faz com que tenha potencial de crescimento, logo, começa a se construir no bairro (VASQUES, 2012). Para se ter uma ideia, a Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio) realizou um levantamento e concluiu que, entre 2008 e 2011 houveram 5 lançamentos no Brás – contra apenas um lançamento entre 2000-2007. A pesquisa também informa que 97% das unidades já foram vendidas, o que mostra um claro interesse da população para com o Brás (VASQUES, 2012). Seguindo a conclusão econômica sobre o Brás passar a ganhar vida, com o novo PDE (2014) também é possível observar que o Brás tem tudo para voltar a ser uma potência. Há muitas áreas abandonadas ou malcuidadas, com pouco uso (galpões) e isso capacita uma infinidade de possibilidades construtivas, na escala urbanística de bairro e também humana. Nesse sentido, o bairro pode passar por projetos de
36
3.1
HISTÓRICO
revitalização e, consequentemente, ser bastante valorizado. Com zoneamento diversificado (figura 6 e 7), áreas mistas e de adensamento (por estarem próximas à eixos viários estruturais), é um bairro muito bem servido de transporte e passível de abrigar diversas classes sociais – uma vez que culturais, ele já abriga. O bairro do Brás continua sendo polo atrativo de imigrantes, sejam eles legais ou refugiados. Lá, encontram-se desde haitianos, colombianos, alguns nordestinos e italianos, até empresários paulistas. E essa mistura de riquezas de sons, cheiros e sabores, faz com que o Brás, mesmo um tanto esquecido pela maioria da população, seja refúgio e casa para muita gente – e com potencial para ser reconhecido por sua história, presente e futuro (SÁ, 2014).
37
3.1
HISTÓRICO
Figura 4: Mapa Ações prioritárias no sistema de transporte público coletivo
Fonte: Gestão Urbana, 2015.
38
3.1
HISTÓRICO
Figura 5: Mapa Ações prioritárias no sistema de transporte público coletivo – Zoom no Brás (em roxo)
Fonte: Gestão Urbana, 2015.
39
3.1
HISTÓRICO
Figura 6: Mapa Subprefeitura da Mooca – uso do solo
QGIS é o bicho! QGIS é o bicho!
QGIS é o bicho!
QGIS é o bicho!
Maio de 2015
Fonte: Gestão Urbana, 2015.
40
3.1
HISTÓRICO
Figura 7: Mapa Subprefeitura da Mooca – uso do solo
Fonte: Gestão Urbana, 2015.
41
3.2
LOTES
VAGOS
NO
BRร S
Figura 8: Mapa Lanรงamentos residenciais e รกrea dos terrenos vagos por quadra em 1991
Fonte: Meyer; Grostein, 2010.
42
3.2
LOTES
VAGOS
NO
BRร S
Figura 9: Mapa Lanรงamentos residenciais e รกrea dos terrenos vagos por quadra em 2004
Fonte: Meyer; Grostein, 2010.
43
3.3
ÁREA
DE
INTERESSE
Figura 10: Ocupação da atual Av. Rangel Pestana, 1881
Fonte: Riotto, 2010. Figura 11: Desenho da quadra de intervenção em 1895
Fonte: Riotto, 2010.
44
3.3
ÁREA
DE
INTERESSE
Figura 12: Quadra de intervenção, 1958
Fonte: Geoportal, 2016. Figura 13: Quadra de intervenção, 2016
Fonte: Geoportal, 2016.
45
4.
PROJETOS
DE
REFERÊNCIA
4.1
CHARLOTTE
AMMUNDSENS
PLADS
Projeto: Charlotte Ammundsens plads Arquitetos: 1:1 Landskab e Mogens Morgen arkitekter Área: 1700m² Localização: Copenhagen, Dinamarca Ano: 2008
Muitos dos lugares de encontro na cidade são reservados para um certo tipo de pessoas. São lugares onde as pessoas vão para encontrar outros parecidos com elas mesmas. A ideia principal era criar um espaço de encontro democrático, um lugar onde pessoas de todas as idades e classes sociais pudessem se encontrar e encontrar pessoas que elas não veriam em outros lugares (LANDEZINE, 2011). Para atrair todos os tipos de gente, o foco foi implantar diversas atividades, como o basquete, pista de skate, parede de escalada, etc. Além de criar espaços designados à ideia de que atividades livres pudessem ocorrer livremente neles (LANDEZINE, 2011). A ideia era criar uma praça na quadra, que pudesse ser atrativa enquanto vazia, que falasse por si só. Muitos espaços, se designados à “atividades”, parecem um pouco abandonados quando estão sem uso, mas o objetivo com isso foi o de mostrar que é possível criar algo lindo, mesmo nos dias mais frios e desérticos (LANDEZINE, 2011). O projeto estudado inspira a partir do seu surgimento: um beco, abandonado, sem uso e sem perspectivas, transforma-se em um grande atrativo de pessoas. É a cidade para pessoas, na sua mais pura essência. É pegar um espaço público sem uso e, ao invés de adensar esse vazio, mantê-lo assim e configurar a ele a capacidade de agregar mais como vazio do que como cheio.
47
4.1
CHARLOTTE
AMMUNDSENS
PLADS
Figura 14: Perspectiva do projeto
Fonte: Landezine, 2011. Figura 15: Vista da quadra
Fonte: Landezine, 2011.
48
4.1
CHARLOTTE
AMMUNDSENS
PLADS
Figura 16: Planta do projeto
Fonte: Landezine, 2011. Figura 17: Corte longitudinal
Fonte: Landezine, 2011.
49
4.2
LEMVIG
SKATEPARK
Projeto: Lemvig Skatepark Arquitetos: EFFEKT Área: 2200m² Localização: Lemvig, Dinamarca Ano: 2013
Na primavera de 2013, o município de Lemvig, na Dinamarca, viu-se abrigando um grupo de cidadãos ansiosos por mudanças. Eles queriam transformar um espaço vazio abandonado, de antigo uso industrial e localizado em frente ao porto da cidade, em uma área de lazer e recreação. Afim de atender às demandas da população, o escritório de arquitetura trabalhou de perto com diversas pessoas de grupos distintos, para que todos os tipos de pessoas pudessem frequentar e aproveitar o espaço e criar, assim, um novo conceito de espaço urbano (LANDEZINE, 2014). O resultado dessa colaboração foi um parque de skate integrado com um parque urbano, que oferece diversas opções programáticas e oportunidades recreativas. Localizado em uma área chave na cidade, o parque atrai skatistas e famílias de toda a região (LANDEZINE, 2014). Como objeto de projeto criado a partir de um vazio e, mais importante, para um vazio, o Lemvig Skatepark cria um espaço público sem necessidade de adensar com construções e faz isso de maneira a integrar vários dos possíveis usos da população local. Essa é a ideia central desta proposta projetual – atribuir novas perspectivas à espaços vazios; perspectivas essas que não sejam de adensamento construtivo.
50
4.2
LEMVIG
SKATEPARK
Figura 18: Perspectiva aérea do espaço
Figura 19: Intenção de integração dos espaços
Fonte: Landezine, 2014.
Fonte: Landezine, 2014.
Figura 20: Planta perspectivada do projeto
Fonte: Landezine, 2014.
51
4.2
LEMVIG
SKATEPARK
Figura 21: Esquema explicativo de desenvolvimento
Fonte: Landezine, 2014. Figura 22: Esquema das funções programáticas do projeto
Fonte: Landezine, 2014.
52
4.3
PALEY
PARK
Projeto: Paley Pocket Park Arquitetos: Robert Zion e Harold Breen Área: 390m² Localização: Nova Iorque, Estados Unidos da América Ano: 1963
Espaços públicos são a resposta para múltiplos desejos e necessidades e são o coração de todas as cidades. Mas nem todos os espaços públicos são parecidos: os bons melhoram a qualidade de vida, tanto pública quanto privada; os não tão bons, pioram essa qualidade (PPS, 2012). Dentre várias opções, há os pocket parks, em áreas densas das cidades - espaços públicos abertos em uma escala muito pequena, que atendem uma variedade de necessidades. Eles são a solução perfeita para um “break” durante o dia, tanto para os que trabalham, quanto para turistas e a população local (PPS, 2012). A cidade de Nova York aderiu à ideia de pocket parks no fim de 1964, quando a “The Park Association of New York City” se organizou para apoiar a formação de espaços públicos verdes em lotes pequenos e vazios na cidade (PPS, 2012). Um pequeno “parque de bolso” no meio de Manhattan, Nova Iorque. Ele começa por ser localizado em um terreno que se acessa diretamente pela rua, para que as pessoas, caminhando, tenham curiosidade quanto ao que acontece lá e assim, sintam-se atraídas para entrar (PPS, 2012).
53
4.3
PALEY
PARK
Nele há comida de boa qualidade e preço justo, assim como mesas e cadeiras soltas, para que as pessoas possam se sentir à vontade e em controle de onde sentar. Uma cachoeira no fundo do terreno promove um ponto focal dramático e é mais um atrativo para que entrem no parque; o som da água caindo bloqueia os barulhos da cidade e cria um senso de aquietação e privacidade. No verão, há a sombra fresca das árvores, que mesmo assim permitem a passagem de luz para o parque (PPS, 2012). Esse projeto, apesar de pequeno, é grande referência quanto ao partido de se habitar mais as cidades por todos. Ele teve surgimento a partir da necessidade de um lugar de respiro em meio à densa vida urbana nas cidades. Por isso e por seu bom funcionamento, ele é referência importante nos conceitos e preceitos projetuais utilizados. Figura 23: Vista do fundo do lote
Fonte: Project for Public Spaces, 2012.
54
4.3
PALEY
PARK
Figura 24: Planta do projeto
Fonte: Project for Public Spaces, 2012. Figura 25: Corte do projeto
Fonte: Project for Public Spaces, 2012.
55
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
O difícil da história: qual é o começo? O projeto de TFG começa a partir de um terreno, escolhido livremente. Porém, um terreno nunca é só seu sítio e sim seu entorno todo, que acaba por definir um partido de projeto vindo das necessidades e/ou potencialidades da área. Intensa, grande e abrangente, a quadra de 40 mil m² no bairro do Brás, localizada entre as ruas Rangel Pestana, Piratininga e Martim Burchard, é a área escolhida. Situada em grande proximidade à estação Brás CPTM, ao metrô Brás e à importantes linhas de ônibus, além de muito bem servida em termos de transporte público, a quadra conta ainda com um coringa: um antigo projeto de Rino Levi, o cinema Piratininga. Figura 26: Vista aérea da quadra e os eixos de transporte público próximos
Fonte: Google Maps, 2016.
57
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
Figura 27: Vista aérea da quadra atualmente
Fonte: Google Maps, 2016.
58
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
O projeto de Levi interessa por sua qualidade arquitetônica, onde remanesce ainda a arquibancada, balcões laterais, palco de exibição e os pilares que estruturam esses elementos. Figura 28: Foto da arquibancada existente olhando o que sobrou do palco de exibições
Fonte: Riotto, 2010.
59
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
Figura 29: Foto da arquibancada existente olhando o que sobrou do palco de exibições
Figuras 30, 31 e 32: Arquibancada e balcão lateral remanescente
Fonte: Riotto, 2010.
60
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
Não há mais a antiga cobertura de madeira ou a plateia inferior e, infelizmente abandonado, hoje o espaço térreo passa a ser usado como estacionamento. Figura 33: Fachada Av. Rangel Pestana, 2015
Figura 34: Fachada Av. Rangel Pestana, 2015 - zoom na entrada do estacionamento
Fonte: Google Maps, 2016.
61
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
Apesar de sua trágica condição de uso atual, esse estado também possibilita uma visão contemporânea sobre o espaço: criou-se um vazio. Figura 35: Vista de um dos apartamentos do prédio conjunto ao projeto do cinema, evidenciando o que restou de sua estrutura
Fonte: Riotto, 2010,
62
PROPOSTA PROJETUAL 5. Agora, por que um vazio assim seria interessante? Em um bairro denso em construções e pobre em áreas verdes, como o Brás é, esse espaço é uma oportunidade. Sem adensá-lo, sem precisar construir algo material lá: esse vazio urbano é o espaço de descanso, de respiro para as pessoas; em uma cidade cheia de “cheios”, manter o vazio é um bem necessário. A ideia, portanto, é juntar esse fascínio pelo vazio à reativação do patrimônio existente (GEHL, 2015). O projeto tem como objetivo restaurar o dinamismo social, econômico e histórico da quadra, ao modificar seus espaços subutilizados e em desuso e transformar o território em uma área de alta qualidade urbana. Dessa maneira, pretende-se fazer com que a cidade volte a crescer para dentro, visando que há áreas com infraestrutura suficiente para abrigar seu crescimento, porém sem a devida atenção e bons projetos para tal (LEITE; AWAD, 2012). Na quadra do projeto, foi introduzido um modelo urbano contemporâneo, onde a intenção é de que seu partido seja passível de utilização em áreas semelhantes – antigos territórios ferroviários ou áreas centrais de baixa densidade habitacional. Esse modelo urbano deriva-se da noção de que os seres humanos são complexos e não se pode isolar suas funções em espaços pré determinados – como o caso do urbanismo em Brasília e a cidade para carros ali criada. Pelo contrário, acredita-se na coexistência de atividades sociais, econômicas e de serviço; é a coexistência dos espaços produtivos com espaços residenciais, que favorece a essencial vitalidade do espaço urbano, o dia inteiro (LEITE; AWAD, 2012). O projeto pode ser descrito como vários projetos individuais que juntos se unificam em um só. Quando analisados individualmente, são vários edifícios, de usos variados, mas, quando se aumenta a abrangência da visão, percebe-se que eles compõem um território só (uma quadra unificada).
63
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
Esses edifícios individuais nada mais são do que uma utopia urbana contemporânea, cujos princípios foram os seguintes: 1. Térreo livre (uso livre/aluguel do espaço para lojas): Mescla do Conjunto nacional + iluminação zenital; 2. Comércio no térreo: pessoas circulando = movimento = segurança; 3. Sentido de pertencimento: sentimento de bem estar, independente de quem se é; 4. Livre circulação: cidade para pedestres; 5. Escala humana x escala monumental: equilíbrio entre os dois = conforto x desconforto; sentir-se à vontade, mas não se acomodar (sensação de surpresa também); 6. Resultado: pessoas cuidando do espaço coletivo como costumam cuidar do privado, porque sabem que é delas o espaço; 7. Ruas como as “calçadas” para carros, porque os térreos das quadras são livres para que as pessoas transitem (ciclovias passando pelas quadras também); 8. Espaços públicos como consequência do planejamento dos vazios: praças cívicas, locais de incitação à debates e discussões, lazer, etc.; 9. Cidadãos conscientes: educação libertária, de qualidade e acessível a todos - formação de pessoas pensantes e críticas ao invés de (só) com conhecimentos gerais como em uma escola convencional = pessoas bem resolvidas são mais proativas, elas vão atrás de suas metas; Elas têm metas;
64
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
Tendo como partido de projeto a construção de cheios a partir dos vazios e a valorização desses vazios como tais, começa-se a montar o programa de projeto: - Uso misto: escritórios/residências em edifícios com comércio/térreo livre no térreo - especialmente próximos à eixos estruturados de transporte - e estruturar mais eixos!; - Eixos estruturados de transporte: conectar a cidade. Cidade permeável e transitável; - Parques/praças em centros estruturados (com estações de metrô/trem e residências + escritórios): sistema de parques interligados de Frederick Law Olmsted; - Residências com alto grau de variação tipológica: diferentes classes sociais, pessoas, estilos de vida e idades, morando em um mesmo edifício = diversidade, em todos os sentidos. Pessoas mais conscientes, esclarecidas, preocupadas; menos egoístas e mais receptivas; O programa alia as necessidades programáticas locais com as características utópicas - são utópicas, mas são possíveis de serem realizadas - e, a partir daí, dá-se início ao projeto. A proposta é uma estratégia de intervenção urbana afim de lançar diretrizes factíveis para a reurbanização de territórios disponíveis – leia-se, com infraestrutura já existente.
65
PESTANA
5.
AVENIDA
RANGEL
PESTANA
PROPOSTA
PESTANA
AVENIDA
RANGEL
PROJETUAL
PESTANA
MR
MR MR
RUA PIRATININ GA
GR RO UP MÃ O E O SC PU O IG LA GA R RI
MR
MR
GA
RUA PIRATININ
GOV. DO EST. DE SÃO PAULO PODER JUDICIÁRIO
PLANTA TÉRREO
MR
ANTIGA FÁBRICA COPAG - (GALPÃO CORPORATIVO) COWORKING
PIRATININGA
PIRATININGA
PLANTA PAVIMENTO TIPO
USO INSTITUCIONAL USO COMERCIAL
NAHAS
USO HABITACIONAL USO CORPORATIVO
IMPLANTAÇÃO sem escala
66
GO PO
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
CORTES URBANOS
67
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
1. Vazio articulador Onde há o espaço do antigo cinema de Rino Levi, serão promovidas exibições de arte ao ar livre, usarse-á da própria estrutura para transmissão de filmes, apresentações de música, dança e teatro, além de outros programas públicos. Desta maneira, a ocupação das bordas é colocada em evidência, visto que o vazio é a parte principal do projeto e que ele interliga os edifícios construídos em seu entorno.
68
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
CORTES DO VAZIO DO CINEMA
69
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
PERSPECTIVAS DE DENTRO DO VAZIO DO CINEMA
70
5.
PROPOSTA
PROJETUAL
2. Elemento estruturador O projeto supera a baixa densidade atual que há na área – comum em antigas regiões industriais. Ao propor um espaço denso e complexo baseado na diversidade, acaba-se tendo uma variedade de usos. Usos, esses, que vão desde serviços – coisa que o bairro precisa tanto quanto, senão mais, que adensamento habitacional – até comércio, residências e edifícios institucionais. Dessa maneira, cria-se um espaço favorável para a interação entre os diversos agentes urbanos e, assim, espera-se estimular a boa convivência e qualidade de vida. Dentro do panorama de diversos usos, mais especificamente falando, há o projeto de uma midiateca. Circundando o vazio central do lote (o cinema), existem espaços adjacentes que abrigam a função de midiateca. Próximas à área existem uma escola de ensino fundamental e um Senai, condicionadores da implementação desse projeto. Desde salas multiuso e ateliers até lounges de mídia e cyberspace, o programa é bastante extenso e completo. Não há como categorizar a midiateca em apenas um edifício, porém seu principal prédio é composto nos andares superiores por unidades habitacionais, que variam entre 30 – 120 m² e, no térreo e mezanino, aparecem as funções de midiateca e jardim de esculturas.
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PROPOSTA
PROJETUAL
PERSPECTIVA AÉREA DO PROJETO
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PROPOSTA
PROJETUAL
3. Eixo verde Ao longo de toda a quadra, junto ao vazio do cinema, espraia-se um eixo verde conector de espaços. Tal eixo interliga todo o térreo por meio de calçadas, gramados e ciclovias e faz seu papel ecológicosustentável como agente retardador de enchentes urbanas, além de estar acompanhado de um lago urbano projetado, aumentando ainda mais a captação e contenção do fluxo de águas fluviais.
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5.
PROPOSTA
PROJETUAL
4. Núcleo de adensamento: Os edifícios habitacionais contam com grande diversidade tipológica, conceito implantado afim de gerar uma diversidade de pessoas convivendo e habitando o espaço. Os edifícios têm, essencialmente, seu gabarito restringido a uma altura de até 28m – de acordo com o PDE (2014). Apesar de não serem as modernas lâminas, altas e esguias, como edifícios contemporâneos, eles acrescentam moradias qualificadas, boa arquitetura entre cheios e vazios, terraço jardins, jardins verticais e coberturas verdes. As conexões urbanas acontecem a todo o tempo, no nível térreo, ocupado por varejo e serviço, a troca é com os pátios centrais que proporcionam espaços verdes íntimos. E no nível superior, a troca é com a cidade e com o vazio, visto que os edifícios habitacionais estão direcionados a ele.
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PROPOSTA
PROJETUAL
PLANTAS DE LAYOUT
AVENIDA
AVENIDA
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PESTANA
PESTANA
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AVENIDA
AVENIDA
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GR RO UP MÃ O E O SC PU O IG LA GA R RI
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RUA PIRATININ
GOV. DO EST. DE SÃO PAULO PODER JUDICIÁRIO
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GOV. DO EST. DE SP PODER JUDICIÁRIO
GOV. DO EST. DE SP PODER JUDICIÁRIO
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ANTIGA FÁBRICA COPAG - (GALPÃO CORPORATIVO) COWORKING ANTIGA FÁBRICA COPAG - (GALPÃO CORPORATIVO) COWORKING
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ANTIGA FÁBRICA COPAG - (GALPÃO CORPORATIVO) COWORKING
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ANTIGA FÁBRICA COPAG - (GALPÃO CORPORATIVO) COWORKING
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PLANTA TÉRREO
GR RO UP MÃ O E O SC PU O IG LA GA R RI MR
GOV. DO EST. DE SP PODER JUDICIÁRIO
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GOV. DO EST. DE SÃO PAULO PODER JUDICIÁRIO
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GOV. DO EST. DE SÃO PAULO PODER JUDICIÁRIO
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GR RO UP MÃ O E O SC PU O IG LA GA R RI
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GA GOV. DO EST. DE SÃO PAULO PODER JUDICIÁRIO
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GR RO UP MÃ O E O SC PU O IG LA GA R RI
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GR RO UP MÃ O E O SC PU O IG LA GA R RI
PESTANA
PESTANA
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PESTANA
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MR
PESTANA
PLANTA PAVIMENTO TIPO
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PROPOSTA
PROJETUAL
5. Permeabilidade urbana Acessos Por se tratar de uma quadra aberta, os acessos acontecem a todo momento. Principalmente nas esquinas, quando existem edifícios ocupando-as, há espaços convidativos livres no térreo, para que se permeie a quadra toda. Com relação ao uso de automóveis, por haver grande gama de transporte público e estacionamentos adjacentes à área, não foram criados novos espaços destinados aos carros. Ao invés disso, aproveitouse da proximidade do lençol freático com a superfície do solo, para criar lagos urbanos – elementos estéticos, que aproximam o contato das pessoas com a natureza em meio ao caos da cidade e também retardadores de enchentes. Fluxos Há uma grande coexistência de espaços no projeto, portanto seus fluxos são feitos de modo que levem ao grande vazio central e espera-se que isso aconteça de maneira fluida e continua, sem que haja espaços com maior ou menor fluxos.
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PROJETUAL MR
PROPOSTA
MR
GR RO UP MÃ O E MIDIATECA O SC PU O IG LA GA R RI
MR
MR
ÃO PAULO ÁRIO
PLANTA TÉRREO LAYOUT
PLANTA MEZANINO LAYOUT
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PROPOSTA
PROJETUAL
CORTE CC
CORTE DD
ELEVAÇÃO R. MARTIM BURCHARD
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PROPOSTA
PROJETUAL
PERSPECTIVA EXTERNA
PERSPECTIVA INTERNA
PERSPECTIVA EXTERNA
PERSPECTIVA INTERNA
PERSPECTIVA EXTERNA
PERSPECTIVA INTERNA
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6.
CONCLUSÃO
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CONCLUSÃO
A cidade é o que molda as pessoas. Sabe-se que as pessoas constroem, destroem e mudam a cidade, mas a reflexão pode ser feita de maneira inversa também. A cidade e tudo o que ela representa é o meio ambiente em que o homem vive. Ela é tudo o que ele vê, sente, faz e deixa de fazer. Esse entorno acaba por fazer parte do indivíduo e, se esse fato fosse percebido com mais clareza, seria mais valorizado, o que resultaria em uma valorização da própria cidade. Afinal, o indivíduo valoriza tudo o que acha que faz parte de seu bem estar, mas então, porque não valorizar a cidade? Quando se pensa em vida urbana, costuma-se associar as ideias de “cinza”, “concreto” e “prédios” e muitas vezes – na arquitetura – se esquece da importância de desenhar o nível onde as conexões entre as pessoas acontece: o térreo. Pessoas são tanto mais sociáveis quanto mais tiverem locais específicos – em público – para se reunirem. Os seres humanos são muito preocupados com suas próprias vidas e emoções e isso, alinhado ao fato de que muitas vezes o espaço público é praticamente inexistente, subutilizado e/ou inadequado para uso, é um dos porquês que as pessoas acabam por procurar lugares íntimos – leia-se: particulares – para se socializar. Isso acaba por resultar em um isolamento do indivíduo frente a cidade e uma perda da noção de que ela é feita para ele. Ao invés de enxergar a cidade como ambiente hostil, quando há espaços para o uso público e o convívio, a cidade e a vida pública são melhor resolvidas. As ruas devem passar a ser vistas como extensão da casa e não como um vazio; um espaço de deslocamento, o lugar de transição rápida e sem valor. Há, então, que qualificar esse espaço térreo por meio de equipamentos e mobiliários urbanos, fachadas ativas que proporcionem fruição de pedestres
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6.
CONCLUSÃO
por entre as construções, usos interessantes e condizentes com seus locais de implantação, respiros da natureza – praças e parques – e afins. Por fim, conclui-se que os espaços públicos não precisam ser cuidados exclusivamente por órgãos governamentais. A partir do momento em que as pessoas se sentem incluídas na esfera pública elas vão se incluir também no cuidar dessa esfera – seja cuidar do outro como também do próprio espaço público da qual elas agora saberiam que tem direitos sobre. A proposta desse trabalho atinge o objetivo de ressignificar uma antiga área industrial, hoje pouco adensada, para um espaço fluido, dinâmico e socioculturalmente diverso. Ao alcançar todos esses marcos, espera-se que a monografia sirva como uma base para a boa arquitetura, para o bom urbanismo e, também, para favorecer as pessoas.
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