Conto da Baleia

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conto da baleia



conto da baleia Bruno J. Y. Kim Ilustraçþes: Paula Ayumi


Tinha um tempo em que a noite n達o tinha lua. N達o tinha lua nem estrelas. Os bichos do mar eram cegos na escurid達o.



E tinha uma baleia. Uma baleia linda. Nas suas costas tinha noite E na barriga tinha dia.



Uma noite, ela se perdeu das outras.



Nadou, nadou, mas s贸 via escuro.



Gritou socorro, mas n達o ouviu nenhuma resposta.



E quanto mais nadava, menos ouvia.



Era uma baleia nadando no escuro. Nadou tanto que foi parar no escuro eterno.



Foi parar nesse lugar que hoje a gente chama de

ESPAÇO.



Espaรงo porque antes nรฃo tinha nada.

Sรณ espaรงo.



Gulosa que era, comeu tudo que existia. Comeu o Espaรงo.




E assim foi inchando, sua barriga foi crescendo, foi ficando gorda como uma bola. E até hoje está perdida... Cega, vagando pelo Espaço.



Mas hoje ninguĂŠm mais se perde no escuro porque na barriga da baleia tem dia no meio de tanta noite.


Ă€s vezes a baleia gira, mostrando um pouco a noite das costas junto com o dia da sua barriga.





O universo saiu do Big Bang, Saci é folclore e é durante a noite que temos que dormir. Algumas coisas são tidas como óbvias, mas ninguém nunca conseguiu provar sua verdade. E se não forem? O “Conto da baleia” faz parte de uma série de contos que são um exercício de repensar as coisas que temos como certas mas que nunca paramos para questionar. Afinal, até dizer que a terra é redonda já foi coisa de louco.


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