Brasil e Japão: O encontro de pessoas e a interação no canal do YouTube Japão Nosso De Cada Dia

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Brasil e Japão: O encontro de pessoas e a interação no canal do YouTube Japão Nosso De Cada Dia Paula Cabral Gomes1

Resumo Os canais do YouTube, uma das redes sociais mais utilizadas na internet, também podem ser ambientes virtuais em que pessoas com interesses em comum se encontram para trocar experiências, fazer perguntas, compartilhar informações e apresentar comentários sobre diferentes assuntos. Esses assuntos são parte de um tema maior e aglutinador, fator que proporciona o agrupamento de vários internautas. As redes sociais, com a tecnologia e o desenvolvimento de novas ferramentas, modificam processos sociais e informacionais no ciberespaço. Dessa forma, elas oferecem um meio de interagir com pessoas, empresas e projetos, e participar de grupos. Assim a comunicação pode ser feita de “todos para todos”, sem o intermédio de uma grande mídia ou de empresas que possam censurar e modificar conteúdos. Por meio de perfis digitais, as pessoas interagem e constroem suas identidades e, juntos, criam enciclopédias virtuais, disponíveis para quem quiser saber mais sobre determinados assuntos. As maneiras de se comunicar, mediadas por computadores e outros acessórios (como smartphones e tablets), surgem e se modificam de acordo com as necessidades apresentadas pelos usuários. Entre diversos projetos e perfis existentes em ambientes virtuais, como as redes sociais, alguns deles destacam-se por seu conteúdo disponibilizado em diferentes formatos (texto, vídeo, imagem) e se transformam em locais de encontro de internautas, pontos de referência e comunidades virtuais. A internet fornece a seus usuários a possibilidade de aparecer de variadas maneiras para outras pessoas virtualmente (não excluindo a possibilidade de aparecer também fisicamente) e, caso agrade, atrai cada vez mais interessados em seu perfil e nos mesmos assuntos (bandas, séries, filmes etc.). A consolidação de perfis e projetos na internet passa por processos de aceitação, aprovação e manutenção, pois o meio exige acompanhamento e modificações constantes. Este trabalho tem como proposta e meta analisar a interação entre diferentes atores presentes na rede, verificar as culturas presentes no contexto do objeto de pesquisa (cultura japonesa, cultura da internet, cultura da convergência, cultura participativa) e analisar como as ferramentas disponíveis na rede permitem a comunicação entre pessoas, que criam ou escolhem um grupo e um local para o compartilhamento de informações. O objeto de pesquisa escolhido é o canal do YouTube Japão Nosso De Cada Dia, criado por um casal de brasileiros que mora no Japão há mais de 10 anos e decidiu compartilhar suas experiências em um país estrangeiro e apresentar diferenças culturais entre os dois países. Para isso, analisamos o canal, o conteúdo dos vídeos publicados, as intenções dos criadores e alguns comentários feitos nos vídeos. Palavras-chave: Comunicação. Internet. Cultura. Identidade. Interação. YouTube.

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Mestranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), com bolsa de pósgraduação integral Capes, orientanda de José Salvador Faro, com os temas Cultura, Tecnologia e Comunicação. Especialista em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL). Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail: paula.cabral.gomes@gmail.com


Introdução

A internet permitiu a criação de ferramentas que, em poder dos usuários, se transformam e se moldam de acordo com as necessidades de cada um. Nas redes sociais, por exemplo, as pessoas criam seus perfis digitais utilizando como base os produtos culturais que acreditam representar e compor sua identidade. Devido à existência de interesses em comum entre as pessoas, elas se encontram na internet – e pessoalmente também, se possível – e se unem em comunidades, blogs, vlogs, fóruns etc. Com o acesso facilitado à rede e a aparelhos conectados, usuários da internet compartilham conteúdos criados por eles ou materiais dos quais gostaram e desejam que amigos, parentes e colegas também tenham contato. Dessa forma, além de consumidores de informações, as pessoas puderam reforçar seu poder de produção e compartilhamento de conteúdos. Outra ação também ganhou novas possibilidades, a interação. Utilizando as ferramentas disponíveis, os usuários, além de consumirem, produzirem e compartilharem informações, interagem com conteúdos e, principalmente, com outros usuários. Dessa forma, coletivos foram se formando, crescendo e se tornaram responsáveis pela construção de conhecimento e conteúdo em grupo. E, dessa interação, surgem produtos que chamam a atenção daqueles que têm interesse pelos mesmos assuntos e os coletivos crescem a cada dia, sofrendo transformações e se aprimorando. No objeto de pesquisa escolhido, o coletivo fez o Japão Nosso De Cada Dia, canal do YouTube, crescer, porque os admiradores do canal estimulam os criadores, que, a cada vídeo, buscam temas que acreditam ser de interesse comum dos fãs e que os próprios seguidores do canal sugerem e pedem por meio de comentários e interações. O casal Priscila Kuriyama Lohmann, a Prit, e Tales Jonathan Lohmann, o Lohgann, criadores do canal do YouTube Japão Nosso De Cada Dia, moram no Japão há mais de 10 anos e decidiram gravar vídeos para mostrar um pouco do dia a dia deles no Japão, país com costumes e cultura diferentes do Brasil. A ideia é transmitir informações para familiares, amigos e pessoas que gostam da cultura japonesa. Este artigo busca analisar a interação que ocorre entre criadores e seguidores do Japão Nosso De Cada Dia no YouTube e em outras redes sociais, a importância da internet na produção e no compartilhamento de conteúdo e o papel dos coletivos na construção e no crescimento de projetos.


Internet, interação e construção coletiva

O ser humano tem como uma de suas principais ações de sobrevivência a comunicação. Por meio dela, aprende, convive, descobre e interage. Com o surgimento e o desenvolvimento da internet, as maneiras de se comunicar sofreram mudanças, assim como a sociedade e as culturas. No entanto, não é apenas a internet que causa transformações nas ações do ser humano, ele também modifica a internet e as maneiras de utilizar as ferramentas disponíveis na rede. A internet se mantém em transformação continua, assim como suas utilidades.

(...) Como nossa prática é baseada na comunicação, e a Internet transforma o modo como nos comunicamos, nossas vidas são profundamente afetadas por essa nova tecnologia da comunicação. Por outro lado, ao usá-la de muitas maneiras, nós transformamos a própria Internet. Um novo padrão sociotécnico emerge dessa interação. (CASTELLS, 2003, p. 10)

A tecnologia age ativamente em nossas vidas e, a cada dia mais, não conseguimos nos desvencilharmos de sua influencia sobre cada atividade desenvolvida. Ela nos incentiva a desenvolvermos projetos e os publicarmos, pois, facilita o processo de aproximação entre as pessoas. Nas redes sociais, os usuários se apresentam por meio de um perfil digital, formado de acordo com o que as pessoas desejam tornar público e com aquilo que acreditam representar suas características, formando, assim, sua identidade.

As redes sociais alteraram não apenas o modo como nos comunicamos, mas também nossa forma de contemplar a realidade. A Internet criou “um ambiente que ignora definitivamente a noção de tempo e espaço como barreiras” (GROTH; FERRABOLI, 2009, p.06) e ampliou as capacidades de ação, criação e interação dos seus usuários. Não é raro ouvir que tornamos-nos (sic) mais informados, mas também mais curiosos; mais exibicionistas e mais voyeuristas; mais pró-ativos tanto na disseminação de mensagens quanto na exposição dos nossos pontos de vista. (PRÖGLHÖF JR.; GOULART, 2011, p.142-143)

As redes sociais ampliaram as possibilidades de exposição de opiniões e compartilhamento em diferentes formatos, como texto, vídeo, imagem, gráfico etc. Da mesma forma que a publicação de informações foi facilitada, a interação também foi, o que permite o contato entre pessoas de variados lugares do mundo, quebrando as barreiras de tempo e espaço.


O advento da Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Entre essas mudanças, temos algumas fundamentais. A mais significativa, para este trabalho, é a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediada pelo computador (CMC). Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e a visualização de suas redes sociais. É o surgimento dessa possibilidade de estudo das interações e conversações através dos rastros deixados na Internet que dá novo fôlego à perspectiva de estudo de redes sociais, a partir do início da década de 90. É neste âmbito que a rede como metáfora estrutural para a compreensão dos grupos expressos na Internet é utilizada através da perspectiva de rede social. (RECUERO, 2011, p. 24)

Com a internet, a comunicação mediada pelo computador ampliou-se e ganha novas ferramentas a cada dia. O poder de criação e interação dos atores também cresce com o desenvolvimento de tecnologias e vai apresentando novas possibilidades de estudos, pois transforma diariamente a sociedade. Para a autora Raquel Recuero, em seu livro Redes Sociais na Internet, uma rede social é definida como o conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais). “Os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais.” (RECUERO, 2011, p. 25) É por meio das interações que os atores expressam opiniões, compartilham coisas de que gostam, falam sobre assuntos que os atraem e, assim, formam sua personalidade e compõem sua identidade.

(...) há um processo permanente de construção e expressão de identidade por parte dos atores no ciberespaço. Um processo que perpassa não apenas as páginas pessoais, como fotologs e weblogs, nicknames em chats e a apropriação de espaços como os perfis em softwares como o Orkut e o MySpace. Essas apropriações funcionam como uma presença do “eu” no ciberespaço, um espaço privado e, ao mesmo tempo, público. Essa individualização dessa expressão, de alguém “que fala” através desse espaço, é que permite que as redes sociais sejam expressas na Internet. (RECUERO, 2011, p. 26-27)

As ferramentas disponíveis na internet são inúmeras e permitem que a interação não cesse mesmo quando o usuário vai dormir, por exemplo. Já não se pode mais falar que as pessoas ficam completamente desconectadas, pois, por meio de gadgets mantêm-se conectadas 24 horas.


Estar em rede é poder criar laços sociais com pessoas que estão em outros países, trocar informações, conversar e, assim, encurtar as distâncias, fazer novas amizades, descobrir coisas e construir uma rede de amigos conhecidos pela internet.

Outra diferença importante gerada pela Internet é o advento dos laços sociais mantidos à distância. O desenvolvimento tecnológico proporcionou uma certa flexibilidade na manutenção e criação de laços sociais, uma vez que permitiu que eles fossem dispersos espacialmente. Isso quer dizer que a comunicação mediada por computador apresentou às pessoas formas de manter laços sociais fortes mesmo separadas a grandes distâncias, graças a ferramentas como o Skype, os messengers, e-mails e chats. Essa desterritorialização dos laços é consequência direta da criação de novos espaços de interação. (RECUERO, 2011, p. 44)

Comunicar-se faz parte de nossa essência e realizamos essa atividade diariamente de diferentes formas. A internet possibilitou a criação de outras maneiras de se comunicar, além de permitir o surgimento e a transformação de ferramentas que nos auxiliam nessa atividade.

Se a conversação é o gênero mais básico e mais primário da interação humana, é importante olharmos para ela como um gênero basilar o qual é afetado por seu contexto imediato e pelas tecnologias que sustentam, registram e atualizam as reelaborações pelas quais passam esse gênero. (...) (RECUERO, 2012, p.9-10)

Importante frisar que não são as ferramentas que determinam como as conversações ocorrem e como interagir com outras pessoas, mas sim, aqueles que utilizam as ferramentas que vão as adaptando de acordo com o que querem fazer com elas.

YouTube e outras redes sociais

O YouTube surgiu em 2005 e oferecia, de forma gratuita, ferramentas para publicar vídeos na internet. Já existiam outras redes que ofereciam o mesmo serviço, porém os criadores queriam estar de acordo com o que tínhamos de tecnologia na época, facilitando o trabalho do usuário.

Fundado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ex-funcionários do site de comércio on-line PayPal, o site YouTube foi lançado oficialmente sem muito alarde em junho de 2005. A inovação original era de ordem tecnológica (mas não exclusiva): o YouTube era um entre os vários serviços concorrentes que tentavam eliminar as barreiras técnicas para maior compartilhamento de vídeos na internet. Esse site disponibilizava uma interface bastante simples e integrada, dentro da qual o usuário podia fazer o upload, publicar e assistir vídeos em streaming sem necessidade de altos níveis de conhecimento técnico e dentro das restrições


tecnológicas dos programas de navegação padrão e da relativamente modesta largura de banda. O YouTube não estabeleceu limites para o número de vídeos que cada usuário poderia colocar on-line via upload, ofereceu funções básicas de comunidade, tais como a possibilidade de se conectar a outros usuários como amigos, e gerava URLs e códigos HTML que permitiam que os vídeos pudessem ser facilmente incorporados em outros sites, um diferencial que se aproveitava da recente introdução de tecnologias de blogging acessíveis ao grande público. Exceto pelo limite de duração dos vídeos que podiam ser transferidos para o servidor, o que o YouTube oferecia era similar a outras iniciativas de vídeos on-line da época. (BURGESS, GREEN, 2009, p. 17-18)

Ou seja, o YouTube ofereceu diversos elementos que agradaram os usuários e, aos poucos, foi chamando mais a atenção, até que, em 2006, foi comprado pelo Google. A empresa pagou 1,65 milhão de dólares por ele. No final de 2007, o YouTube era o site de entretenimento mais popular do Reino Unido. Em 2008, hospedava cerca de 85 milhões de vídeos.

Como empresa de mídia, o YouTube é uma plataforma e um agregador de conteúdo, embora não seja uma produtora do conteúdo em si. (...) Dessa mesma maneira, o YouTube desempenha uma função para os produtores de vídeo, atraindo a atenção para o conteúdo ao mesmo tempo em que oferece uma participação em dinheiro nas vendas de anúncios no site. (BURGESS, GREEN, 2009, p. 21)

Atualmente, os chamados youtubers, pessoas que escolheram o YouTube como instrumento principal para divulgar suas opiniões sobre diferentes assuntos, tornaram-se celebridades e eventos reúnem youtubers e fãs para que possam interagir pessoalmente. Para o YouTube, a cultura participativa é o elemento mais importante, é o que o mantém e o faz crescer a cada dia. É por ele que milhões de pessoas interagem, encontram tutoriais para realizar diferentes tarefas, assistem vídeos de seus artistas favoritos e conhecem novas pessoas que possuem opiniões semelhantes (ou diferentes).

Cultura participativa é um termo geralmente usado para descrever a aparente ligação entre tecnologias digitais mais acessíveis, conteúdo gerado por usuários e algum tipo de alteração nas relações de poder entre os segmentos de mercado da mídia e seus consumidores (ver principalmente Jenkins, 2006a). De fato, a definição de “cultura participativa” de Jenkins estabelece que “os fãs e outros consumidores são convidados a participar ativamente da criação e circulação do novo conteúdo” (Jenkins, 2006a, p. 290). (...) (BURGESS, GREEN, 2009, p. 28)

O YouTube, para alguns internautas, substitui a televisão e os programas favoritos podem ser assistidos no horário e quantas vezes quiserem. Ou seja, o usuário tem mais controle sobre o momento de consumo do conteúdo e sobre o compartilhamento desse


material. Além disso, ele também pode criar seu próprio canal e produzir seu próprio conteúdo.

Esse trabalho é importante porque nos impele a pensar sobre os usos do YouTube como parte do cotidiano das pessoas reais e como parte dos variados meios de comunicação que todos experimentamos em nossas vidas, e não como sendo um depósito de conteúdo intangível. Assim como milhões de outras pessoas, nós mesmos usamos o YouTube desse modo – assistimos vídeos depois que os encontramos por acaso em blogs ou clicamos nos links enviados por amigos para nossos e-mails, passando-os adiante para outros. Temos nossos próprios canais no YouTube e até mesmo gravamos e/ou fazemos upload de um vídeo para contribuir com o arquivo em crescimento do material disponível ali. (BURGESS, GREEN, 2009, p. 26)

E foi dessa maneira que conhecemos o Japão Nosso De Cada Dia, por indicação de amigos e por ser relacionado a outros canais que já acompanhávamos. Assim, as redes são formadas e temos acesso a mais conteúdo sobre os temas preferidos. Até a possibilidade de criar um canal no YouTube já foi levantada, inclusive.

Japão Nosso De Cada Dia

O Brasil é o país com o maior número de japoneses e descendentes fora do Japão. São mais de 1,5 milhão de japoneses que escolheram o Brasil para recomeçarem a vida. Da mesma forma, assim como há muitos japoneses no Brasil, também existem muitos brasileiros no Japão. São mais de 300 mil brasileiros, os quais formam “o maior grupo étnico „nãoasiático‟ dentro do Japão”2. Em 1908, imigrantes japoneses começaram a chegar ao Brasil e boa parte da imigração ocorreu entre 1868-1912. No entanto, no período pós-Segunda Guerra Mundial, os japoneses saíram em busca de outros países e mais pessoas vieram para o Brasil.

Os primeiros imigrantes do pós-guerra foram ao Brasil em 1952, para o Paraguai em 1954, para a Argentina em 1955, para a República Dominicana em 1956 e para a Bolívia em 1957. Na década de 60, a recuperação econômica do Japão interrompeu a emigração. Ironicamente, desde a década de 80, muitos nikkeis de segunda e de terceira geração têm migrado dos países latino-americanos para o Japão, onde poderiam ter salários melhores do que em seus países imersos em problemas econômicos.3

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Informações encontradas no site Mundo-Nipo, sujo endereço está disponível nas referências. Informações encontradas no site da Aliança Cultural Brasil-Japão, cujo endereço está disponível nas referências. 3


Priscila Kuriyama Lohmann (Prit) e Tales Jonathan Lohmann (Lohgann) são descendentes de japoneses e, há mais de 10 anos, decidiram ir trabalhar, morar e estudar no Japão. Ambos trabalharam bastante até conseguirem dinheiro suficiente para se dedicaram aos estudos em tempo integral. Prit e Lohgann publicam vídeos novos às terças-feiras, às sextas-feiras e aos domingos, às 12 horas, horário de Brasília. Às terças, são publicados os vlogs, em que o casal responde perguntas feitas pelos espectadores do canal. Às sextas, é a vez dos vídeos com curiosidades e sobre a cultura japonesa. Aos domingos, é publicado o quadro Será que isso funciona?, em que o casal testa produtos diferentes, como forminhas para moldar ovos cozidos no formato de peixinho ou carrinho, por exemplo. O canal tem parceria com a loja virtual E-Anime – que vende objetos relacionados a games, filmes, animes, mangás, livros etc. – e os vídeos das sextas-feiras são patrocinados pela Sankyo – empreiteira que terceiriza produção, levando brasileiros para trabalharem em diferentes tipos de fábricas no Japão. O patrocínio da empresa começou a partir do vídeo publicado no dia 18 de julho de 2014. Os fãs do Japão Nosso De Cada Dia, além de acompanharem o casal pelo canal do YouTube, também podem ver, diariamente, fotos com curiosidades do Japão pelo Facebook. Na Fanpage do Japão Nosso De Cada Dia, divulgam, além das fotos, os vídeos publicados no canal do YouTube, conteúdos enviados por fãs (como desenhos e vídeos com crianças imitando falas e trejeitos do casal), imprevistos que podem ocorrer com relação à publicação dos vídeos no YouTube e, por mais surpreendente e imprevisível que possa ser, o endereço da caixa postal que criaram. Sim, eles mantêm contato com os fãs por cartas também e, assim como fazem com as perguntas enviadas pelas redes sociais, tiram as dúvidas e matam a curiosidade dos fãs. O Japão Nosso De Cada Dia também tem blog e perfil no Google+4 e o casal está presente no Instagram5 e no Twitter6, onde divulgam fotos e interagem com os seus seguidores. A Prit também possui o seu próprio canal, o Meu Dia Comum, no qual publica vídeos mais espontâneos, com menos roteiro e com edição diferente da presente no Japão Nosso De Cada Dia.

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Rede social do Google em que se pode publicar conteúdo próprio ou compartilhar informações publicadas em sites e em outros lugares. 5 Rede social de compartilhamento de fotos e vídeos de até 15 segundos apenas por meio de smartphones e tablets. 6 Rede social que permite a publicação de mensagens de até 140 caracteres por vez.


De acordo com o casal, eles decidiram criar um canal no YouTube porque acabaram trocando a programação da televisão por vídeos disponíveis no YouTube e, vendo tantos temas abordados, também quiseram participar.

Além disso, queríamos mostrar para nossos amigos e familiares, e também para quem gostasse, a nossa visão sobre o Japão. Inicialmente cada um criaria e administraria seu próprio canal, o Lohgann cuidaria do canal de jogos “Eu e Ela Joga” e a Prit cuidaria do canal relacionado ao Japão, “Japão Nosso De Cada Dia”. Começamos a registrar e a desenvolver melhor nossas conversas sobre a criação de um canal por volta de 2011, mas com uma jornada de trabalho diária de 12 horas e turnos alternados, tudo não passava apenas de ideias escritas em papéis. Conseguimos gravar nosso primeiro vídeo somente em 2013, tínhamos ido ao Brasil para visitar amigos e parentes por dois meses e ao regressar ao Japão aproveitamos também o momento para por em prática nossas ideias.7

Com o aumento do número de visualizações e o crescimento da interação dos internautas com o canal, a rotina do casal foi se modificando, assim como os vídeos, que foram melhorando tecnicamente a cada gravação. Isso ocorreu devido à experiência obtida a cada vídeo e “também com horas de vídeos de tutoriais e exemplos que vimos no próprio YouTube”. A intensão do casal é “alcançar a liberdade financeira para produzir conteúdos que gostaríamos de desenvolver, mas que envolvem uma produção mais elaborada e, consequentemente, maiores gastos”. Para eles, dessa forma, conseguirão mostrar o Japão como eles o veem, apresentando “o lado bom e divertido que enxergamos em morar aqui”. O primeiro vídeo foi publicado no dia 20 de julho de 2013 e alcançou, até a data de finalização deste artigo, quase 48 mil visualizações. O canal possui 101 vídeos, 4.313.241 visualizações e 83.023 inscritos8. Em pouco mais de um ano de canal, mais de 80 mil inscritos e um grande volume de comentários, perguntas e outras interações, como, inclusive, um pequeno artigo científico sobre o Japão Nosso De Cada Dia – este trabalho. “Não imaginávamos que o formato dos nossos vídeos teria uma aceitação tão grande!” Eles escolheram o YouTube por acreditarem ser a maneira mais fácil, rápida e eficiente para transmitir informações e apostam que, com o avanço tecnológico, o processo ficará maior e melhor. No início do canal, acabavam não pensando no fato de que poderiam se tornar formadores de opinião e que pessoas tomariam suas palavras e informações como as delas também. No entanto, com o crescimento do canal, já compreenderam que isso pode ocorrer e se preocupam em passarem coisas positivas pelos vídeos. 7 8

Declarações obtidas por meio de entrevista realizada por e-mail com o casal. O artigo foi finalizado no dia 20 de outubro de 2014.


Entre as interações dos internautas com o canal que mais impressionaram o casal estão:

1- O que nos impressionou pela primeira vez foram os vídeos das crianças repetindo nossas frases “tá caro?” e “baratoné”! 2- Ficar sabendo que alguns professores usaram nossos vídeos durante suas aulas. 3- Nunca imaginaríamos que receberíamos desenhos de nós mesmos em gratidão aos nossos vídeos. 4- Ficamos impressionados com a reação de algumas pessoas quando conversamos pela primeira vez, seja em chat ou por voz. 5- A ideia das pessoas dizerem que são nossos fãs, mas nos vemos apenas como pessoas comuns fazendo conteúdo de entretenimento para a internet. Isso é algo que ainda nos impressiona! ^^b

Nos vídeos, existe a preocupação em responder questões enviadas – por e-mail, redes sociais, cartas etc. – pelas pessoas que acompanham o canal. Para o casal, interagir com o público, preocupar-se em atender às necessidades dele e responder dúvidas de quem acompanha o trabalho deles é uma maneira de agradecer.

É muito gratificante e é uma maneira de agradecermos o apoio e carinho ao nosso trabalho, e achamos interessante porque há uma quebra da distância que existe entre famosos e seus fãs, sermos criadores de conteúdo no YouTube não nos faz distante daqueles que nos assistem.

A internet facilita a construção de uma comunicação participativa e a disseminação de conteúdo entre pessoas que possuem os mesmos interesses. Prit e Lohgann são fãs que conversam com fãs de um mesmo tema, a cultura japonesa.

Conclusão

A vida cotidiana ganhou maior relevância na internet e está sendo exposta por aqueles que encontraram nas redes sociais uma maneira de compartilhar e produzir conteúdo e, dessa maneira, identificar-se, interagir e construir laços sociais. Os relacionamentos virtuais geram conhecimento, entretenimento, amizades e estudos, como é o caso da interação entre os criadores do canal do YouTube Japão Nosso De Cada Dia e seus seguidores e admiradores. A identificação entre eles faz o canal crescer e oferece novas possibilidades para todos; Prit e Lohgann podem transmitir as histórias que desejam e ganham chances de fazer o canal crescer e os fãs têm suas perguntas respondidas, seu interesse pelo Japão ampliado e, quem sabe, a vontade de também criar um canal no YouTube para compartilhar experiência alimentada.


A interação possui várias formas de ocorrer. Pode ser via comentários nas postagens nas redes sociais, e-mail, mensagem e, também, cartas. Além da interação entre os criadores do canal no YouTube e seus fãs, acontece a interação entre os criadores de canais. No caso do Japão Nosso De Cada Dia, já foram publicados vídeos e fotos com os responsáveis pelos canais Pandatômico e Crazy Japan TV! e vice-versa. Ou seja, os criadores dos canais do YouTube e os canais são citados uns nos dos outros, instituindo, dessa maneira, uma ligação entre eles, um acordo natural, algo que pertence à cultura da internet e não possui uma explicação definida. Compartilhar e contribuir são palavras-chave na vida em rede e, aos poucos, vamos analisando e buscando identificar elementos que movimentam a internet e a fazem crescer a cada dia.

Referências Bunkyo - Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social – Site. Acesso em: 15 de outubro de 2014. Disponível em: <http://www.bunkyo.org.br/pt-BR/>. BURGUESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube e a Revolução Digital: como o maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. Tradução: Ricardo Giasseti. São Paulo: Aleph, 2009. CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Revisão: Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. Crazy Japan TV! – Canal do YouTube. Acesso em: 16 de outubro de 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/mas200677>. Embaixada do Japão no Brasil – Site. Acesso em: 15 de outubro de 2014. Disponível em: <http://www.br.emb-japan.go.jp/index.html>. Eu e Ela Joga – Canal do YouTube. Acesso em: 15 de outubro de 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/eueelajoga>. Japão Nosso De Cada Dia – Blog. Acesso em: 15 de outubro de 2014. Disponível em: <http://jpnossodecadadia.blogspot.com.br/>. Japão Nosso De Cada Dia – Canal do YouTube. Acesso em: 14 de outubro de 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/japaonossodecadadia>. Japão Nosso De Cada Dia – Fanpage no Facebook. Acesso em: 14 de outubro de 2014. Disponível em: <https://www.facebook.com/japaonossodecadadia?fref=ts>. Japão Nosso De Cada Dia - Fãs – Fanpage no Facebook. Acesso em: 14 de outubro de 2014. Disponível em: <https://www.facebook.com/JapaoNDCDFas?fref=ts>. Japão Nosso De Cada Dia – Perfil no Google+. Acesso em: 15 de outubro de 2014. Disponível em: <https://plus.google.com/+japaonossodecadadia/posts?hl=pt_br>. Kenren – Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil – Site. Acessado em: 15 de outubro de 2014. Disponível em: <http://www.kenren.org.br/>.


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