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Trabalho Final de Graduação Campinas | Dezembro | 2016 Paula Pereira Orientado por: Antonio Fabiano Junior Vera Santana Luz Banca examinadora Maria Elisa de Castro Pita Camille Bianchi Pontifícia Universidade Católica de Campinas Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 2
ONDE QUEREMOS NASCER?
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Dedico este trabalho a todas as mulheres, e a todas as pessoas que acreditam que arte pode mudar o mundo. 5
Paula, mais uma maria. Que outra coisa uma Maria poderia expressar senão seu encontro com o mundo? Nascemos para esse encontro quando lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos. Marias. Seres únicos, sem forma, sem donos, livres. Mundo. Lugar habitado não vinculado à acepção do espaço genérico, sem forma, sem dono, lutando para ser livre para elas. Ambos lugares da unidade na diversidade, abrigo da humanidade, casa como símbolo da proteção formada a partir dos desejos de um mundo melhor expressados por todas as marias. Donas dos ventres maternos, casulos de barro, água. Somos feitos dela, nascemos nela e morremos pela falta dela. Maria nasce quando dá a luz. Um ponto de luz ligando o chão ao céu. Buraco onde a casa da história sonha em ser mundo. Mundo da natureza de todas as marias. Todas. Sem negação, sem abandono, sem esquecimento. Porque cada Maria tem nela a vontade poética de desenhar, pensar e entender a física, o físico e o mítico. Porque cada Maria é livre como os joãos de barro moldando seu pequeno mundo. São elas fazendo um acerto de contas com o lugar. Porque cada Maria é o mundo de todo mundo. Antonio Fabiano Junior 6
Vida que nasce. Vida que vira mundo. Mundo, que vida menina. Menina que ama. Menina que vira mulher. Mulher, que mundo. Mulher que floresce. Mulher que vira vida. Vida que nasce. Vida, que vira mundo. Paula Pereira 7
Agradeço Ao meu orientador Antonio Fabiano, por me mostrar um mundo melhor, onde tudo é possível desde que se sonhe e acredite que o mundo é feito de amor. Obrigado por me apoiar sempre, por ser uma das melhores pessoas que eu já conheci e por fazer parte da minha vida. A minha co-orientadora Vera Luz, por ser uma mulher inspiradora, que me fez entender (com muito choro) que arquitetura é uma arte, feita de pedras. A Maria Elisa de Castro Pita e Camille Bianchi por participarem desta banca, contribuírem para este trabalho e para um momento tão importante na minha formação. A toda a comunidade do Fundão do Jardim Ângela, que tornou o desenvolvimento deste trabalho incrível e prazeroso, em especial a Antonio Norberto Martins, Mariana Martins, Shirlei do Carmo, e todas as crianças e funcionários da EMEI. Chácara Sonho Azul. A equipe de TFG que tornou este trabalho possível. Aos meus companheiros do dia-dia que fizeram as perguntas que eu deveria saber responder, em especial: Marina Franco, Camila Pereira, André Furcolin, Bianca Pastore, Thaissa Ferreira e Felipe Neres. A todos os amigos, colegas, professores e funcionários da Fau-Puccamp que de alguma fizeram parte desta trajetória e consequentemente do resultado desde trabalho. A Equipe da Pixelmais por todo o aprendizado e apoio. A Otavio Candido por todo o amor, companheirismo e contribuição na vida acadêmica e pessoal. A minha família por todo o apoio e compreensão durante o percurso. Aos meus pais, pelo apoio e amor incondicionais, Obrigado pai, por todo o esforço de colocar tijolo por tijolo na construção da minha vida, e por me ensinar aquilo que eu nunca aprenderia na Universidade. Obrigado Mãe, por me trazer ao mundo e se dedicar integralmente para me fazer amar estar aqui com vocês. 8
Marina Franco CIntra Camila Pereira João Gabriel Minosso Barbara Titoto Daiane Fontes Diego Pereira Flávia Carneiro Gabriela Cardim Helena Amaral Mariana Amparo Gabriel Rios Maria Rubio Michelle Wakatsuki Branca Bacci-Brunelli André Furcolin Bianca Pastore Thaissa ferreira Felipe Neres Bruno Zanetti Lucas Bernardo Daiane Hernandes Elisa Barroso Ferndanda Fideles João Paulo Caçador Gabriela Leme Guilherme Francisco Camila Ramos Carolina Teixeira Rayla Tostes Mariana Trovó Merilei Pereira Ginaldo Pereira Otavio Candido Eliane Candida Wagner Barcello Olivia Barcello Luccas Pereira Luana Marchi Fábio Faria Mariana gadelha Davi Cotta
Índice 11 Resumo 13 A Mulher 15 A Luz 17 O Espaço 19 O Fundão 30 Os três atos iniciais 32 Marcação do território 34 Implantação 41 O Lar - Abrigo temporário 42 A casa de parto 45 A Cápsula do Nascer 46 Materialidade e constructo. 48 Paineis padronizados 51 Infraestrutura 57 Considerações Finais 58 Referências projetuais 62 Bibliografia 9
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Resumo Trabalhar a cidade como espaço educador, respeitando e aprendendo com seu território e com as pessoas, sem perder de vista seus momentos e circunstâncias são princípios das Cidades Educadoras* e eixos norteadores deste ensaio projetual cujo desejo é o respeito à mulher e à vida. A gravidez, o parto e o nascimento, são acontecimentos da vida afetiva, sexual e social de todas as pessoas e da natureza do corpo feminino. Diante disso qual a importância de mudar o modo de nascer e olhar para a mulher no Brasil? E como fazer isso através de um novo jeito de ver a cidade, capaz de enxergar a arquitetura como um potencial articulador para desencadear tais mudanças? O projeto tem como bases o valor da cultura como forma agregadora de um novo nascimento e a experiência cultural da transformação como um ato. Busca ensinar ao usuário como e porque devemos respeitar a mulher em todas as suas esferas sociais, e ancora dois programas de urgência: uma Casa de parto e um Lar temporário onde mulheres possam transformar momentos frágeis em especiais e oportunos de mudança, convivendo, compartilhando ideias, aprendendo, e tornando-se mais empoderadas a cada nova mãe, nova vida, novo dia, a cada flor que se abre, a cada nova liberdade e a cada mulher que se transforma. O Projeto Marias é em primeira instância um espaço público no Fundão do Jardim Ângela, periferia da Zona Sul de São Paulo, que busca transmitir uma gradativa mudança de consciência. Seu raciocínio arquitetônico expansivo tem início de dentro para fora, assim como o começo da vida, e trabalha o primeiro ato descobridor do mundo como estopim para mudanças significativas na vida de todos.
Afinal, onde nós queremos nascer? * Carta das Cidades Educadoras, 1990.
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A Mulher
Como a mulher é vista perante a sociedade brasileira, qual seu papel? mulher Substantivo feminino. 1. O ser humano do sexo feminino. 2. Esse mesmo ser humano considerado como parcela da humanidade: os direitos da mulher. 3. A mulher na idade adulta. 4. Restr. Adolescente do sexo feminino que atingiu a puberdade; moça. 5. Mulher dotada das chamadas qualidades e sentimentos femininos (carinho, compreensão, dedicação ao lar e à família, intuição): Como mulher, sabe apoiá-lo na justa medida. 6. A mulher considerada como parceira sexual do homem. 7. Cônjuge do sexo feminino; a mulher em relação ao marido; esposa. 8. Amante, companheira, concubina. 9. Mulher que apresenta os requisitos necessários para um determinado empreendimento, para um determinado encargo. 10. Uma mulher qualquer; dona
Ser mulher está muito além da definição de graça e beleza. É enfrentar desafios, transpor sentimentos, desempenhar múltiplos papéis, lutar por espaço diáriamente e ainda assim ser uma maninfestação plena de amor. O papel social da mulher evoluiu ao longo da história, que por muito tempo teve seu lugar restrito a cumprir suas obrigações de esposa e mãe. Desde o ínicio da civilização as mulheres são tratadas com inferioridade. Esse fato se desenvolveu junto com a humanidade e hoje vemos o resultado dentro da nossa sociedade patriarcal capitalista que nos lembra a cada dia o quão desrespeitadas somos, e é com tristeza que eu afirmo que quase ninguém, nem se quer as próprias vítimas, percebem tamanho absurdo. Por outro lado, há tempos, mulheres vem lutando por igualdade dentro do Movimento Feminista e suas diversas vertentes, representam uma maioria que nem as conhece. O feminismo vem sendo difundido hoje com a ajuda da comunicação livre, chegando em pessoas que jamais seriam alcançadas sem a internet; a informação sobre o movimento sempre escassa em livros escolares de história também não é encontrada nos grandes veículos de mídia, mas vem sendo resgatada com grande força. Nas favelas brasileiras, além da falta de saneamento, falta também informação, apesar de existirem muitos grupos e ONG’s direcionados a luta feminista*, ainda são escassos e grande parte das mulheres vive dentro da cultura machista, com jornada dupla de trabalho, cuidando da casa, dos filhos, do marido e de si mesma quando sobra tempo. E grande parte ainda acredita que a felicidade plena só virá com o casamento feliz. E é ai que muitas mulheres se perdem, casam-se para atender a demanda da sociedade, e tempos depois ficam vulneráveis diante de suas fragilidades e muitas vezes sofrem violência física, verbal, social e sexual. Caladas. * Consultar MAMU – mapa de coletivos de mulheres
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A Luz
O momento em que nasce uma mãe, e que nasce uma vida.
Fernando Savater em seu texto “ O valor de Educar” enfatiza a nossa condição humana de nascermos cedo demais, denominada pela Antropologia de neotenia. Somos a espécie cujos seres vêm ao mundo da maneira mais desprotegida do que todas as outras. Por isso temos uma infância prolongada que exige cuidados e ensinamentos até podermos ganhar a condição de autonomia para a nossa sobrevivência, muito embora essa autonomia seja limitada e condicionada pelo o que a sociedade nos coloca como conteúdo de vida. Sendo assim, somos fadados a sermos aprendizes, a aprendermos pelos outros e com os outros, nossos semelhantes. (Savater, 2005. , apud Inforsato, 2011)
Já que vamos falar de escalas, por que não começar da escala existencial, tratando da subjetividade humana a partir das sensações mais primitivas do indivíduo? Está tudo bem. No universo de um ventre, dentro de uma mãe, momento em que não se sabe ao certo onde termina a mãe, e onde começa o bebê; o que faz parte de mim, e o que faz parte do mundo.* E então a vida que nasce, nasceu. E é forçada a descobrir a própria existência, o próprio corpo, e experimentar o espaço desde seu primeiro ato. Espaço este que carrega consigo a responsabilidade de representar o mundo diante de um novo ser. Será a arquitetura capaz de compartilhar a responsabilidade de apresentar esse novo universo? Será o ambiente do nascer capaz de dividir com a institução materna tamanho peso? Dentro desse contexto do nascimento, o parto normal deve ser exaltado, o valor de participar ativamente do próprio nascimento é inquestionável, porém cada vez mais o parto natural vem sendo deixado de lado, e tratado como loucura muitas vezes. As parteiras por sua vez foram esquecidas no tempo com seu ofício, e o parto foi atribuído a medicina como primeira e muitas vezes única opção (principalmente onde falta informação). E então o nascimento foi institucionalizado, e consequentemente o corpo feminino foi históricamente dominado, e hoje muitas cesáreas necessarias salvam vidas, porém as desnecessárias podem tira-las. E é por isso que essa escolha deve ser exclusivamente da mulher, de cada mãe. LUZ 12 dar à luz: parir, publicar. 14 vir à luz: nascer; aparecer. * Consultar TFG — As raízes da casa e o desejo de sair, de Estevão Sabatier.
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O Espaço
Qual o papel do espaço público na busca por respeito e igualdade? O espaço que é de todos, e que não é de ninguém. Já que temos o privilégio de desenha-los, como dimensionar o tamanho de nossa responsabilidade diante do potencial de um espaço público na vida cotidiana? Queremos um espaço educador, que aproveita os grandes fluxos para mostrar de forma singela ao usuário que existe outro alguém, ou seja, o espaço público de passagem pode ser aquele que abre os olhos do usuário para questões externas ao seu mundo, as quais ele talvez nem imagina que existam. Penso que qualquer que seja o programa, existe sempre a possibiliade de se projetar olhando para dentro ou para fora, fazendo com que o mundo olhe para o projeto, ou que o projeto seja parte do mundo. Nessa lógica enquadro este trabalho no conceito de Cidades Educadoras e acredito que todo projeto de arquitetura, tem algo a acrescentar para o mundo, principalmente para a sociedade local. Educando, cada um dentro da sua temática, não seria lindo? Um espaço educador visa uma mudança gradativa de consciência em seus usuários, e consequente na comunidade que o envolve, pois acredita-se que não só aquele que é diretamente beneficiado por ir e vir por um espaço educador é que receberá seus ensinamentos, mas sim carregará o vírus da mudança e o espalhará dentro de seu meio social, seja em meses, anos ou até gerações. Portanto um projeto que segue esses pressupostos, deve abraçar a comunidade e trabalhar um programa expansivo, que se abre para um espaço público agregador para todos, jamais restristo ao seu uso, e sim o lugar das possibilidades, dos acontecimentos, para sempre refletir aquilo que esperamos da vida.
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O Fundão
O Projeto Urbano Fundão do Jd. Ângela, onde estamos? “Ei, irmão, nunca se esqueça Na guarda, guerreiro, levanta a cabeça, truta Onde estiver, seja lá como for Tenha fé, porque até no lixão nasce flor.” (Racionais MC’s) “E ai o jardim angela ainda é violento? é, é violento pra caralho, é por causa desse tipo de violência ai.. não é por causa do cano na mão, tem nego passando fome nessa porra, busão lotado, não consegue se locomove, não tem saneamento básico, ta ligado? num tem educação.. essa ai que é a grande violência.” (Alan Shark - A banca) “Ta errado, ta tudo errado. Ta tudo baguncado e esquisito... ...do céu só vai cai água, eles num vai vim faze nada, nada, nada, nada, nada” (Cleber Antonio - Morador)
Primeiramente agradeço por ter te conhecido, “fundão”. Um lugar esquecido por muitos, falta água, esgoto, falta luz, alimento, falta material de construção, falta muito; mas nunca faltará amor, vida, e dignidade. O fundão nos fez acreditar que todos os moradores que ali estão, devem permanecer apesar de toda a irregularidade fundiária, pois morar é urgente. Mas isso não basta, o objetivo do Projeto Urbano Fundão* é fazer com que os moradores queiram ficar lá, e tenham orgulho do seu lugar. Acreditamos que um desenho urbano de qualidade vinculado a atitudes simples são capazes de gerar essa inversão de valores. Notamos que a favela brasileira se configura como um tipo, mas cada uma com suas peculiaridades, o que é íncrivel do ponto de vista de que temos muito trabalho por aqui, pois cada projeto deve respeitar o que aquele espaço foi um dia, e o que ele é hoje. No caso do “fundão” o fato que caminha com o trabalho é que estamos em uma Área de Preservação de Manaciais, ou seja, tem água e tem natureza antes de ter favela e agora tem favela e tem gente, antes de ter projeto. Portanto é impresindível que um arquiteto e urbanista respeite o espaço e aprenda com ele antes de o invadir com seu íncrivel conhecimento acadêmico, que só vai ser útil se compartilhado, e aberto a trocas com a comunidade local.
* Consultar o memorial do Projeto Urbano Fundão.
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Passageiro do Brasil,
São Paulo,
Agonia que sobrevivem, Em meia zorra e covardias, Periferias,vielas,cortiços, Você deve tá pensando, O que você tem a ver com isso? Racionais MC’s
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GRUPO VIP GARAGEM DE ÔNIBUS COMUNIDADE DOS BOMBEIROS JARDIM CAPELA COMUNIDADE CHÁCARA BANANAL UM DOS POUCOS RESQUíCIOS DE MATA NATIVA 22
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COMUNIDADE CHÁCARA BANANAL
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A área escolhida para a implantação do Projeto foi onde é hoje uma garagem do ônibus da empresa GRUPO VIP, que controla a frota dos veículos da região. Esse terreno foi escolhido por diversos motivos: o primeiro deles é a falta de coerência com o projeto urbano em relação a existência de uma garagem de ônibus na avenida principal, pois foi proposto um novo sistema de transporte. Portanto prevêse que a saída da garagem de ônibus dessa localização seria inevitável. O segundo motivo é seu fácil acesso e, consequentemente, fácil evacuação caso necessário pela Avenida M’boi mirim, que vai direto para o Hospital M’boi Mirim (15 minutos). No sentido centro-”fundão” pela avenida, esse terreno é o primeiro “vazio” de uma série de outros três, que conformam um grande complexo de novos projetos e espaços públicos. O terceiro motivo é que pela prerrogativa do projeto urbano de que as pessoas que ali moram poderiam ficar, por conta da urgência de moradia, e que o restante seria uma grande tentativa de recuperação da mata nativa. Não vemos sentido em manter um espaço que não atende nenhuma das duas questões citadas, portando uma área de 29 mil m² de asfalto não se enquadra no novo “fundão”. Toda a região que envolve o terreno é muito prejudicada por conta da falta de continuidade no espaço que os muros da garagem criam, dessa forma os moradores que querem descer o morro até Avenida M’boi precisam contornar a garagem por meio de vielas extremamente íngrimes e perigosas. A empresa que implantou a garagem não se preocupou minimamente com os moradores da região, colocando muros em frente as suas casas, desmatando a área verde existente e tirando um dos mais importantes elementos das comunidades: o campo de futebol local.
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Os três atos iniciais
Conexão O primeiro ato projetual consiste na conexão entre a parte de cima do morro (Jardim Capela) com a Avenida M’boi Mirim. A conexão é exclusivamente para pedestres e veículos não motorizados na parte menos íngrime, na parte mais íngrime a conexão se dá por meio de funiculares (herdado do projeto urbano). Hoje essa conexão é feita dando a volta nos muros da garagem, como podemos ver nas fotos anteriores.
Recuperação da mata O segundo ato projetual também é em respeito aos PACTOS estabelicidos no Projeto Urbano Fundão, onde previmos a recuperação parcial da mata nativa onde fosse possível, seja uma área grande (como a que estamos falando) ou pequena como a de outros projetos. Portanto o Projeto Marias propõe no primeiro momento a recuperação da mata nativa em quase metade da extensão do seu terreno.
Remodelação do rio O terceiro ato, é baseado em doi fatores: A recuperação da memória dos rios de São Paulo, retificados ou escondidos, como acontesse nesta área, o Projeto propõe a recanalização do rio com um formato que nos remete ao traçado orginal do mesmo e de seus similares. O desafogamento visual da Avenida M’boi Mirim, diante da possibilidade da mudança da calha do rio, optou-se por dar um recuo da Avenida, contribuindo para uma nova paisagem. 30
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Marcação do território A orientação solar foi extremamente importante nas decisões iniciais de implantação e marcação do território. Foi levado em conta sua simbologia perante as questões mundanas de Passado - Futuro e Nascer – Morrer, dessa forma, considerando a necessidade de garantir a qualidade da conexão criada, a mesma foi implantada exatamente no eixo Leste - Oeste, onte o sol nasce e morre todos os dias, dessa forma a jornada de trabalho de um dia pode ser marcada pelo morador através da linguagem do sol, quando ele está indo, o sol está nascendo, e quando está voltando pode acompanhar o por-do-dol. *considerando o horário comercial oficial
“Os Guarani dizem que tudo o que existe no Céu existe também na Terra. Porque a Terra nada mais é do que um reflexo do Céu.” “Pelos estudos índigenas podemos perceber a riqueza de sociedades antigas através de uma perspectiva única. Com isso, percebemos também a pluralidade cultural e a necessidade de respeitar essas diferenças. Quando as pessoas olham para o céu, elas não enxergam apenas agrupamentos de estrelas, mas sim histórias, imagens e símbolos que estão presentes em seu cotidiano. Essa exteriorização de sua cultura, estampada no firmamento celeste, em artefatos e desenhos, não só ajuda na conclusão de tarefas do dia a dia, mas também eterniza suas crenças, seus valores e costumes.” (Professor Germano Bruno Afonso) 32
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Implantação
A implantação foi desenvolvida em cima de questões que fossem pertinentes no sentido simbólico e funcional do espaço. O projeto é em primeira instância um espaço público, que carrega consigo em seus atos iniciais um eixo de grande fluxo da comunidade local, portanto como pensar uma implantação que atenda a questão principal que motiva este trabalho:
O espaço público pode contribuir para questões sociais educando seus usuários através da arquitetura e urbanismo, dentro da temática de seus programas-âncoras? Abrigo temporário para mulheres em qualquer fase de dificuldades, fragilidades, fuga, entre outros.
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Programa criado pelo Ministério da Saúde em 1999 e definido como “unidade de saúde que presta atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao parto normal sem distócias”
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Buscando responder a esta questão e outras que surgiram ao longo do processo, o desenho do espaço foi tomando forma e se desenvolvendo a partir de suas soluções e problemáticas. A conexão se expandiu para um piso contínio que pudesse envolver as edificações as abraçando e fazendo com que o usuário pudesse percorrer esse espaço (não mais apenas um caminho) com possibilidades de acontecimentos, encontros, trocas e aprendizados. A casa de parto foi implantada perpendicularmente ao caminho principal por dois motivos: o primeiro deles foi a decisão projetual de que o usuário deveria passar por um espaço in between* , onde ele não sabe ao certo se está dentro ou fora da edificação, não sabe qual espaço pertence a ele, ao público ou aos usuários específicos da Casa. Acredito que ações como essa possam refletir na consiência do cidadão, mesmo que a longo prazo, mas que, ao percorrer o caminho, ele perceberá algo a sua volta além de si mesmo. O lar foi implantado mais próximo do fundo do terreno também por dois motivos principais: a necessidade de que a Casa de parto ficasse mais próxima da Avenida por motivos de evacuação rápida, e foi pensado que por estar mais ao fundo, as mulheres pudessem ter um espaço mais reservado (em relação ao grande fluxo da avenida) e mais integrado com a comunidade (que está ao fundo e ao lado). O restante do terreno que se configura entre o rio, o abrigo e o caminho foi considerado um possível quintal urbano e recebeu um desenho composto por camadas, onde a primeira camada é o próprio caminho, e a última o rio. * SABATIER, Estevão. 36
Entre elas está a camada da água, a camada da grama (que configura um grande vazio), e a camada do pomar. Em meio a uma nova paisagem, construída mas que busca a memória da natureza, o projeto “acontece” em meio a ela. Temos duas grandes áreas intensamente arborizadas, a mata e o pomar, e o projeto tem visivelmente uma “entrada” e uma “saída” (ou vice-versa), dessa forma temos dois pontos nas extremidades e um espaço interno onde as coisas acontecem separadamente e ao mesmo tempo interligadas, reverenciando a gestação humana, e na esperança de que esse espaço contribua no nascimento de uma sociedade mais justa e respeitosa.
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O Lar - Abrigo temporário
Todos nós passamos ou vamos passar por momentos difíceis na vida, momentos de fragilidade e de dúvidas. Esses momentos são bastante complicados quando estamos falando de mulheres, que vivem na periferia de São Paulo em condições preocupantes. Quando nos aprofundamos mais no assunto, descobrimos que essas mulheres, em muitos casos, são vítimas de racismo, machismo, sofrem abusos verbais, mentais e físicos. Em sua maioria tais abusos ocorrem dentro de sua própria casa, onde o companheiro que você eventualmente escolheu para ser o pai dos seus filhos se sente no direito de te machucar, seja por qualquer motivo. Eu não tenho propriedade para falar sobre isso, pois nunca estive em situação similar, mas acredito que meu papel enquanto estudante de arquitetura diante dessa situação foi o de me posicionar e buscar trazer a tona um assunto tão escondido, e me fiz as seguintes perguntas:
Para onde as mulheres vão quando não se sentem seguras em casa? E quando não tem família? E quando tem filhos para levar juntos? Para onde as meninas vão quando tem filhos jovens e são abadonadas pelos seus amantes e pela família?
Para onde vão as mulheres que precisam de um abraço?
A proposta projetual veio a partir do momento em que se entendeu que essas mulheres provavelmente gostariam de ser acolhidas umas pelas outras, se ajudando, trocando suas experiências para, juntas, se tornarem mais fortes. Dessa forma o partido do projeto se deu com o seguinte raciocínio: Juntas na sua individualidade e Juntas na sua coletividade Assim foi projetada uma casa onde os quartos são individuais e de tamanhos diversos para abrigar os diversos tipos de mulheres, uma lavanderia e uma cozinha coletivas, além de salas nos intervalos dos quartos, de forma que estes espaços possam propiciar momentos de convivência enriquecedora. Pressupõe-se que cada mulher ficará no abrigo por um período diferente das outras, algumas ficarão pouco, algumas muito e outras vão embora mas sempre voltarão para ajudar e, por isso, foi pensando um espaço de produção. Produção de conhecimento, de arte, de comida, e de qualquer outra coisa que eu, enquanto projetista não posso dizer agora. Mas para que essa possibilidade exista, em conjunto ao lar foi projetado um braço de edificação onde temos algumas salas de oficinas, aulas e uma lanchonete, onde tudo pode ser produzido para vender, reciclar, aprender e sair do abrigo muito mais empoderadas do que quando entraram. Mais do que um abrigo, temos um espaço fértil de possibilidades. 41
A casa de parto
Um dos questionamentos que fui me fazer depois de 22 anos de vida, ao longo do TFG, foi o de pensar onde nascemos, como nascemos, e no que isso pode influênciar em nossas vidas. Hoje em dia a porcentagem de cesáreas desnecessárias no Brasil e no mundo nos assusta, e a seguinte pergunta norteia este assunto nos meus pensamentos: como temos certeza do momento em que um bebê está pronto para nascer? Quando se marca uma cesárea para um dia e uma hora entre a mãe e o médico, alguém se pergunta se o bebê não deveria participar dessa decisão? Que tal se ele pudesse manifestar o seu desejo de vir ao mundo? Diante disso acredito que esse tema deve ser pulverizado na sociedade e que isso pode vir em forma de arquitetura. O programa de uma Casa de Parto por ser relativamente novo e pouco conhecido no Brasil gera algumas desconfianças para leigos em relação ao seu funcionamento, o que me incentivou ainda mais no seu desenvolvimento. Uma Casa de Parto, é legalmente definida como: “unidade de saúde que presta atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao parto normal sem distócias” somente para gestantes de baixo risco *.
Esse espaço deve ser muito parecido com uma casa em relação a sua ambiência, o lugar mais familiar possível para que uma mãe possa dar a luz * Consultar legislação - Anexo 1 - página 62 42
confortavelmente, esperando quantas horas for preciso, fazendo os exercícios que quiser, tudo dentro de um ambiente agradável, onde possa contar com o apoio de seus queridos. Não só o momento do parto, mas também todo o pré-natal e atendimento até 1 ano de idade são realizados na Casa, asim como cursos, palestras e oficinas acontecem de maneira simultânea, ou seja, aquele lugar onde a gestante e seus familiares recebem apoio, recomendações, respostas, e tem suporte para dar a luz e passar esse momento tão especial como se estivesse em casa, da forma mais natural possível, sem intervenções desnecessárias e com todo apoio técnico que precisa. O programa da Casa de parto foi distribuído da seguinte maneira dentro do Projeto Marias: Paralelamente, ao longo do eixo de passagem foram implantados os blocos ambulatorial (a leste), que tem acesso direto da Avenida M’boi Mirim e administrativo (a oeste), perpendicularmente se encontra o saguão principal (que é cruzado pelo eixo de passagem) e inserido nele estão as salas multiuso, uma aberta e uma fechada, a recepção, e a espera. Ainda no eixo perpendicular foram implantadas ao norte as Cápsulas do Nascer, onde os novos pequenos seres nascerão e passarão seus primeiros dias de vida no centro do mundo, onde se encontra o berçário.
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A Cápsula do Nascer
Está descrito no programa como “salas de parto” ou “quarto ppp”, estudando esse item começamos a pensar sobre como o momento do parto poderia ser refletido na arquitetura. Esse pensamento resultou na seguinte conclusão: quando se entende que o parto é um momento único na vida da mãe e do filho, e que os dois se “autoestruturam”, dizendo ao mundo que só precisam de si mesmos para que a natureza possa cumprir seu papel, como poderia a arquitetura agir de outra forma? Portanto pensa-se em um espaço que se auto-estruture também, que não dependa de mais nada além de si mesmo para existir, e que pode até ajudar a estruturar seu envoltório, mas que nunca dependerá dele. Foi assim que surgiu a Cápsula do Nascer, dispostas soltas da edificação formal, em meio a mata, cada uma em seu momento, cada uma em seu espaço-tempo, cada uma com a carga dos seres que já fizeram suas transições de mundo ali. O desenho das Cápsulas busca a fusão de questões funcionas com todos os significados que o espaço pode e deve ter, portando a primeira decisão tomada foi a de que esse espaço deveria ser uma lembrança do útero, respeitando o momento do bebê e não sendo um grande choque para ele, por mais que não tenhamos certeza do tamanho de sua percepção, julgamos de extrema importância respeita-lo. Desde então o projeto se desenvolveu
na busca da forma que atendesse as necessidades do programa. A forma final se deu a partir da alusão a Proporção Áurea ou Fibonacci, que deu origem ao desenho, o qual foi se adequando dentro das modificações possíveis na matemática da forma. Fórmula original: 1,1,2,3,5,8... Fórmula atribuída: 1,1,2,3,3,3,5... Sendo que para que as dimensões do espaço fossem confortáveis para abrigar seus equipamento adotou-se 1=1,25m. Dentro da Cápsula encontra-se um pequeno banheiro, uma cama, uma banheira e uma bancada, além de outros equipamentos móveis como a bola de exercícios. A banheira foi colocada bem no centro do espaço como elemento organizador, e em sua direção no eixo Z está a abertura zenital por onde a cápsula é iluminada e ventilada, e por onde se pode olhar o céu. No momento do parto, a primeira coisa que a mãe olha é a luz. A luz de uma vida nova para ambas. A Cápsula de desenvolveu em duas variações de forma, uma mais baixa e outra mais alta, a sua variação se dá apenas na altura, tendo em vista que as duas tem como ponto zero o começo da linha que as configura pelo lado de dentro, ou seja, independente de sua altura, o único ponto comum em planta será sempre o mesmo. A Cápsula do Nascer é, portanto, a resposta da arquitetura para o espaço físico por onde o ser humano vem ao mundo. 45
Materialidade e constructo.
Buscou-se no desenvolvimento do projeto optar sempre pelo materiais mais simples, em diversos sentidos, os mais baratos para que a obra possa ser condizente com seu entorno e a situação que o mesmo se encontra, os mais bonitos, para a população local possa ver que é possível fazer um bom projeto, barato, porém estéticamente aceito, e os mais fáceis de carregar, para que a comunidade possa participar ativamente da construção. Contando com os moradores para a obra temos consciência de que teremos a responsabilidade de lhes passar por meio de um projeto o que tivemos o provilégio de aprender na universidade. Portanto o projeto conta alvenaria de tijolos em sua maioria, o tijolinho, tão comum em toda a parte poderá mostrar aqui suas diversas aplicabilidades, como por exemplo: alvenaria tradicional, laje plana de tijolinho, e nas Cápsulas em sua forma curva e estrutural. Para as coberturas, optou-se por madeira, portando os pilares que a sustentam são de madeira, assim como as vigas e todo o madeiramento necessário para apoio das telhas. Onde não há telhado, por exemplo na cobertura dos blocos da casa de parto e no braço das oficinas do abrigo optamos por telhados verdes, onde se propõe o plantil de alimentos e ervas medicinais alternativas. Para os fechamentos, buscou-se usar sempre um padrão, que no caso foi dividido em três materiais, são eles: a veneziana de madeira, o material transparente (que pode ser policarbonato alveolar, telha translúlica, entre outros, aquele que estiver mais barato no decorrer da obra) e o bambuzinho, para alguns fechamentos específicos. Para a racionalização do projeto foram desenvolcidos três tipos de paineis que funcionam como portas, ou como paredes que se abrem, os paineis tem sempre a lagura total de 1,25m e se dobram em duas partes de 0,62m (exeto o painel fixo) e contam com partes fixas e partes que se abrem cumprindo a função de janelas.
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Paineis padronizados Os painéis foram utilizados sempre que fosse necessário o fechamento/abertura de espaços, como por exemplo: onde é feita a divisão efetiva entre o dentro e o fora da Casa de Parto, no fechamento da Sala Multiuso fechada (que pode estar eventualmente aberta, tendo em vista que os painéis de abrem), no fechamento entre as Cápsulas (com um fechamento adicional para se adequar as formas curvas). A ideia da padronização é trazer uma unidade para o conjunto e racionalizar a fabricação das peças, as quais tem sempre a mesma estrutura de madeira e só se direrenciam em seu tipo e material de fechamento. Existem também paredes inteiras fechadas com painéis, mas são painéis exatamente iguais aos outros, porém são travados para que fiquem sempre fechados, os quais eu estou chamando de painéis fixos. Estes, por sua vez tem sempre venezianas de madeira que se abrem, e então o painel funciona como um janela, que se abre na vertical (veneziana) e em cima, uma janela pivotante.
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telha translĂşcida
madeiramento
vigas de madeira
cabos de aço
forro de bambuzinho
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Infraestrutura O lixo orgânico é todo levado para o grande pomar urbano projeto, onde encontrase composteiras que recebem esse lixo e tem o devido tratamento, o lixo reciclável ganhou um depósito na lateral do abrigo, onde as pessoas qe passam disriamente podem deixar todo o material reciclável, que será levado para as salas de oficina, e prevemó que sairá com outros inúmeros usos. O lixo hospitalar tem um depósito próprio no fim do bloco ambulatorial, saindo direto para a Avenida M’boi Mirim. O esgoto gerado é todo tratado com o sistema de tanques de evapotranspitação, onde se alimenta plantas, as quais transpiram em forma de água limpa para o meio ambiente. As águas cinzas são tratadas na wetland ou jardins filtrantes que se encontram ao longo do percurso proposto no projeto, mostrando a todos a existência e eficácia dessa possibilidade, desaguando a água limpa no rio.
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painéis padronizados
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forro de bambuzinho
berçário
capsulas do nascer
recepção
eixo de passagem
sala multiuso
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Considerações Finais O que posso dizer depois de 10 intensos meses de trabalho é que o maior ganho de tudo isso é saber que estou me formando com consiência do que significa ser arquiteta e urbanista, ainda tenho muito a aprender, e espero aprender para sempre, mas hoje espero receber um diploma cheio de honra, com muito amor envolvido e com muito aprendizado dentro dele, e a maior parte devo a este Trabalho Final. O Projeto Fundão e o Projeto Marias me fizeram olhar 1, apenas 1cm para o lado e ver que o mundo é muito maior do que aquilo que vemos, tem gente passando fome, frio, bebendo água contaminada, tem gente apanhando, morrendo, matando, tem gente se amando, se querendo, se abraçando, tem gente ajudando, tem gente tentando, tem gente de todo tipo e fazendo de tudo um pouco. E tem gente como eu, que ainda se choca a cada notícia ruim, que se choca com a realidade, por que acredita num mundo melhor e que por isso dá o melhor de si todos os dias. “Fazendo o teu melhor, na condição que você tem, enquanto não tem condições melhores, para fazer melhor ainda!” * Espero que as pessoas que moram no Fundão e em qualquer outra comunidade, assim como todas as mulheres que tiverem a oportunidade de ver este trabalho se sintam respeitados como seres humanos, como bem colocou Shirlei do Carmo em uma de nossas apresentações, pois ao desenvolver estes projetos nunca deixamos de pensar neles ou vocês ou nós (ainda não sei bem essa diferença). O usuário sempre esteve e sempre deve estar em primeiro plano quando falamos de arquitetura, por isso peço desculpas se ainda não chegamos lá, mas ainda estamos evoluindo! Portanto, a maior lição que levo desse trabalho é que quanto maior são nossos privilégios, maior devem ser nossas responsabilidades, e é com esse pensamento que eu gostaria de encerrar, selando aqui o meu compromisso de cumprir com as minhas responsábilidades como arquiteta e urbanista, título que espero ter o privilégio de conquistar. Obrigado. * (Mário Sergio Cortella)
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referências projetuais Keré Architecture
Peter Rich Architects
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Casa Ângela
Keré Architecture
Keré Architecture
Pavilhão “The TrueTalker”
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Residencia dos Padres Claretianos
Residencia dos Padres Claretianos 60
Sharon Davis Design
KerĂŠ Architecture
Kikuma Watanabe
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Residencia dos Padres Claretianos Affonso Risi e JosĂŠ Mario Nogueira
Bibliografia MEIRELLES, Renato & ATHAYDE, Celso. Um país chamado favela: a maior pesquisa já feita sobre favela brasileira. São Paulo: Edita Gente, 2014. LATORRACA, Giancarlo (Org.). Cidadela da liberdade. São Paulo, Edições Sesc, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 1999. PISANI, Daniele. Paulo Mendes da Rocha-Obra Completa. São Paulo, Editora Gustavo Gili Brasil, 2013. KAHN, Louis. “Louis I. Kahn Conversa com estudantes.” Barcelona, Editora Gustavo Gili , (2002). GIRALDI, Alice e ZORZETTO, Ricardo. “Antes da hora: Cesarianas desnecessárias contribuem para o nascimento de bebês imaturos.” São Paulo, revista Fapesp nº228, Fev. de 2015 TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993. BITENCOURT, Fábio, and C. Barroso-Krause. “Centros de Parto Normal: componentes arquitetônicos de conforto e desconforto.” Anais do I Congresso Nacional da ABDEH–IV Seminário de Engenharia Clínica. 2004. SABATIER, Estevão. “As raízes da casa e o desejo de sair.” TFG, FAUUSP, 2016. VIEIRA, Evelin Caroline de Souza. “Casa da maternidade Livre: Equipamento público para a cultura do parto natural.” TFG, FAUUSP, 2014/2015.
Documentos Ageência Nacional de Vigilância Sanitária. resolução - RDC nº50, de 21 de fevereiro de 2002 Ministério da Saúde. Portaria nº985/GM, de 05 de agosto de 1999 Organização Mundial da Saúde: “Assistencia as Parto Normal: Um Guia Prático”, 1996. Cenpec, Cenpec. “Carta das Cidades Educadoras.” Cadernos Cenpec| Nova série 1.1 (2006). 62
Filmografia ODENT, Michel. “O renascimento do parto.” Florianópolis: Saint Germain (2002).
Céditos das imagens ADALGIZA Heliana (AITCH) - Album BEAUTIFUL US - Capa - Imagem: womb, 2014 | Pag.10 - Imagem: foot-hand, 2014 | Pag.12 - Imagem: blood, 2014 | Pag.14 - Imagem: heart, 2014 | Pag.16 - Imagem: human 2014 | Pag.18 - Imagem: skull 2014
Sites
(consultados entre junho/2016 e novembro/2016) http://www.casaangela.org.br http://www.cidadesseguras.org.br/ http://comadre.co/br http://etinerancias.com.br/ http://www.sosmulherefamilia.org.br/ http://lowconstrutores.com.br/ http://www.hypeness.com.br/ http://www.cidadeseducadorasbrasil.net.br/ http://livrematernagem.com.br/ https://www.facebook.com/emeichacarasonhoazul https://www.facebook.com/MBoiMirim http://anovademocracia.com.br/no-18/835-a-impressionante-astronomia-dosindios-brasileiros http://aguapeengenharia.com.br/servicos-prestados
Referência musical Dois Rios - Skank O céu está no chão O céu não cai do alto É o claro, é a escuridão O céu que toca o chão E o céu que vai no alto Dois lados deram as mãos [...]
[...]E o meu lugar é esse Ao lado seu, no corpo inteiro Dou o meu lugar pois o seu lugar É o meu amor primeiro O dia e a noite as quatro estações
Que os braços sentem E os olhos vêem Que os lábios sejam Dois rios inteiros Sem direção. 63
Anexo 1 - Legislação Casas de Parto (Centros de Parto Normal - CPN) Portaria nº 985/GM
Em, 05 de agosto de 1999
O Ministro de Estado da Saúde, no uso de suas atribuições legais, considerando: a necessidade de garantir o acesso à assistência ao parto nos Serviços de Saúde do Sistema Único de Saúde-SUS, em sua plena universalidade; que a assistência à gestante deve priorizar ações que visem à redução da mortalidade materna e perinatal; a necessidade de humanização da assistência à gravidez, ao parto e ao puerpério no âmbito do SUS, e a necessidade da melhoria de qualidade da assistência pré-natal e do parto, objetivando a diminuição dos óbitos por causas evitáveis, resolve: Art. 1º Criar o Centro de Parto Normal-CPN, no âmbito do Sistema Único de Saúde/SUS, para o atendimento à mulher no período gravídico-puerperal § 1º Entende-se como Centro de Parto Normal a unidade de saúde que presta atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao parto normal sem distócias. § 2º O Centro de Parto Normal deverá estar inserido no sistema de saúde local, atuando de maneira complementar às unidades de saúde existentes e organizado no sentido de promover a ampliação do acesso, do vínculo e do atendimento, humanizando a atenção ao parto e ao puerpério § 3º O Centro de Parto Normal poderá atuar física e funcionalmente integrado a um estabelecimento assistencial de saúde – unidade intra-hospitalar ou como estabelecimento autônomo –unidade isolada, desde que disponha de recursos materiais e humanos compatíveis para prestar assistência, conforme disposto nesta Portaria. Art. 2º Estabelecer as seguintes normas e critérios de inclusão do Centro de Parto Normal, no SUS: I- estar vinculado às Unidades Básicas de Saúde da sua área de abrangência, especialmente às Unidades de Saúde da Família; II- funcionar em parceria com o nível de referência secundário, que garantirá o atendimento dos casos identificados e encaminhados pelas unidades básicas às quais está vinculado; III- manter informados os Comitês de Mortalidade Materna e Neonatal da Secretaria Municipal e/ou Estadual de Saúde a que estiver vinculado. Art. 3º Definir que ao Centro de Parto Normal- CPN, cabe as seguintes atribuições: I. desenvolver atividades educativas e de humanização, visando à preparação das gestantes para o plano de parto nos CPN e da amamentação do recém-nascido/RN; II. acolher as gestantes e avaliar as condições de saúde materna; III. permitir a presença de acompanhante; IV. avaliar a vitalidade fetal pela realização de partograma e de exames complementares; V. garantir a assistência ao parto normal sem distócias, respeitando a individualidade da parturiente; VI. garantir a assistência ao RN normal; VII. garantir a assistência imediata ao RN em situações eventuais de risco, devendo para tal, dispor de profissionais capacitados para prestar manobras básicas de ressuscitação, segundo protocolos clínicos estabelecidos pela Associação Brasileira de Pediatria; VIII. garantir a remoção da gestante, nos casos eventuais de risco ou intercorrências do parto, em unidades de transporte adequadas, no prazo máximo de 01 (uma) hora; IX. garantir a remoção dos RN de risco para serviços de referência, em unidades de transporte adequadas, no prazo máximo de 01 (uma) hora; X. acompanhar e monitorar o puerpério, por um período mínimo de 10 dias (puerpério mediato), e XI. desenvolver ações conjuntas com as Unidades de Saúde de referência e com os programas de Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde. 64
Art. 4º Definir que são características físicas do Centro de Parto Normal: I- apresentar planta física adequada ao acesso da gestante; II- estar dotado de: sala de exame e admissão de parturientes; quarto para pré-parto/ parto/ pós- parto – PPP área para lavagem das mãos; área de prescrição; sala de estar para parturientes em trabalho de parto e para acompanhantes; área para assistência ao RN. III- possuir os seguintes ambientes de apoio: banheiro para parturientes com lavatório, bacia sanitária e chuveiro com água quente; copa/cozinha; sala de utilidades; sanitário para funcionários e acompanhantes; depósito de material de limpeza; depósito de equipamentos e materiais de consumo; sala administrativa; rouparia / armário. IV- atender aos requisitos quanto à estrutura física previstos nesta Portaria, além das exigências estabelecidas em códigos, leis ou normas pertinentes, em especial às normas do Ministério da Saúde, específicas para projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde; V- como unidade intra-hospitalar pode compartilhar os ambientes de apoio com outros setores do hospital, desde que estejam situados em local próximo, de fácil acesso e possuam dimensões compatíveis com a demanda de serviços a serem atendidos; VI- como unidade isolada não poderá adotar a solução de box individualizado; VII- com referência às instalações prediais deve atender às exigências técnicas das normas de funcionamento de estabelecimentos assistenciais de saúde do Ministério da Saúde e dos códigos de obras locais; VIII- adotar as exigências técnicas das normas para a segregação, descarte, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos de serviços de saúde. Art. 5º O Centro de Parto Normal deve possuir os seguintes equipamentos mínimos: mesa para exame ginecológico berço comum mesa auxiliar cama de PPP cadeira para acompanhante mesa de cabeceira fita métrica escadinha de dois lances duas cadeiras estetoscópio de Pinard estetoscópio clínico esfignomanômetro material de exames amnioscópio sonar cardiotocógrafo aspirador de secreções berço aquecido fonte de oxigênio balão auto-inflável com reservatório de oxigênio e válvula de segurança máscaras para neonatos laringoscópio 02 (duas) lâminas de laringoscópio retas (nºs 0 e 1) cânulas orotraqueais extensões de borracha oxímetro de pulso sonda de aspiração traqueal incubadora de transporte fonte de oxigênio na viatura ambulância Art. 6º Definir os Recursos Humanos necessários ao funcionamento do CPN: I - equipe mínima constituída por 01 (um) enfermeiro, com especialidade em obstetrícia, 01 (um) auxiliar de enfermagem, 01 (um) auxiliar de serviços gerais e 01 (um) motorista de ambulância. II- o CPN poderá contar com equipe complementar, composta por 01 (um) médico pediatra ou neo natologista, e 01 (um) médico obstetra. III - a parteira tradicional poderá atuar no Centro de Parto Normal no qual as especificidades regionais e culturais sejam determinantes no acesso aos serviços de saúde. 65
Art. 7º Estabelecer que para fins de remuneração das atividades desenvolvidas pelo Centro de Parto Normal, ficam incluídos na Tabela do Sistema de Informações Hospitalares-SIH/SUS os seguintes Grupos de Procedimentos e procedimentos: 35.100.10-9 Cirurgia Obstétrica X 35.086.01-7 Assistência ao período premonitório e ao parto normal sem distócia em Centro de Parto Normal
35.100-11-7 Cirurgia Obstétrica XI 35.087.01-3 Assistência ao período premonitório e ao parto normal sem distócia em Centro de Parto Normal com atenção ao RN na sala de parto realizado por pediatra ou neonatologista
Art. 8º Determinar que nenhum Centro de Parto Normal pode funcionar sem estar devidamente licenciado pela autoridade sanitária competente do estado ou município, atendendo aos requisitos constantes desta Portaria e legislação pertinente. Art. 9º Definir que a construção, reforma ou ampliação na estrutura física do Centro de Parto Normal devem ser precedidas de aprovação do projeto junto à autoridade sanitária local. Art. 10 Definir que as unidades que preencherem os requisitos constantes desta portaria passarão a dispor das condições necessárias para se integrar ao Sistema Único de Saúde, como Centro de Parto Normal, e receber a remuneração referente aos procedimentos de que trata artigo 7º da mesma. Art. 11 Estabelecer que as Secretarias Estaduais e Municipais deverão encaminhar ao Ministério da Saúde propostas de implantação de Centros de Parto Normal inseridos nos sistemas locais de saúde e de acordo com as prioridades de organização da assistência à gestação e ao parto, no âmbito dos sistemas de saúde estaduais. Art.12 Determinar que cabe ao gestor estadual e/ou municipal do SUS realizar as vistorias e adotar as providências necessárias ao cadastramento dos Centros de Parto Normal. Art.13 Definir que as Secretarias Estaduais e Municipais, com apoio técnico do Ministério da Saúde, deverão estabelecer rotinas de acompanhamento, supervisão e controle que garantam o cumprimento dos objetivos dos Centros de Parto Normal em promover a humanização e a qualidade do atendimento à mulher na assistência ao parto. Art. 14 Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. JOSÉ SERRA
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Com muito amor, por Paula Pereira. Fonte: Roboto Condensed 12pt Roboto Bold Condended 67