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#00 : : Abril 2012 : : 5 euros
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editorial
VO AGER Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura. Os pratos e as taças pousadas de perfil mesa deveriam ser elipses.
A Voyager, é uma associação internacional fundada por Carlo Petrini em 1986, com o objetivo de promover uma maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o meio ambiente. A filosofia da Slow Food defende a necessidade de informação do consumidor, protege identidades culturais ligadas a tradições alimentares e gastronômicas, protege produtos alimentares e comidas, processos e técnicas de cultivo e processamento herdados por tradição, e defende espécies vegetais e animais, domésticas e selvagens. Reunindo mais de 100 mil associados ao redor do mundo, a rede de membros do Slow Food é organizada em grupos locais, que sob a coordenação de líderes, organizam periodicamente uma série de atividades como oficinas de educação alimentar para crianças, palestras, degustações, cursos, jantares e turismo enológico e gastronômi-
co, assim como apóiam campanhas lançadas pela associação internacional. A Voyager organiza eventos nacionais e internacionais como o Salone Del Gusto, a maior feira de comida e vinhos de qualidade do mundo, organizada bienalmente no Centro de Exposições Lingotto em Turim na Itália, a Cheese, uma feira bienal organizada na região de Piemonte, e a Slowfish, uma exibição anual em Genova dedicada. Também em Turim, organiza a cada dois anos o evento Terra Madre, que reúne mais de 5 mil pequenos produtores agrícolas, chefs de gastronomia e pesquisadores de todo o mundo. 1.480 c.
Dois dias de férias ...porque sim!
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cinema de viagem
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eat pray love Texto fictício Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza. A naItalianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, em tureza para os clássicos exigia particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a circunscrição pelos contornos, concepção da pintura. Os pratos e as taças composição e distribuição das luzes. A isso Cézanne responpousadas de perfil sobre uma mesa deveriam de: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de ser elipses, mas os extremos da elipse. natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a acompanha”. Sobre a natureza:Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, que dariam a forma e a profundidade. Na percepção primordial, estas distinções entre o tacto e a visão são desconhecidas. Cézanne dizia mesmo: “o odor dos objectos”. Se o pintor quer exprimir o mundo, é preciso que a ordenação das cores traga consigo este todo indivisível; de outra forma a sua pintura sera uma alusão às coisas e não lhes dará a unidade imperiosa, na presença, na plenitude inultrapassável que é para nós todos a definição do real. em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza. Italianos,Tintoretto, Delacroix, Courbet, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza. A natureza para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos, composição e distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a acompanha”. Sobre a natureza: “É preciso que nos curvemos face a esta obra perfeita. Tudo nos vem dela, por ela existimos, esqueçamos tudo o resto”. 2110 c.
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viajar por estrada
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luxoambulante Texto fictício Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza. A natureza para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos, composição e distribuição das luzes. A Italianos, Tintoretto, Delacroix, isso Cézanne resCourbet, em particular, Pissarro, ponde: “Eles faziam quem Cézanne deve a concepção um quadro e nós procuramos um peda pintura. Os pratos e as taças pousadas que sobre uma de mesa daço de natureza”. E sobre os mestres: deveriam, extremos da elipse. “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a acompanha”. Sobre a natureza:Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, que dariam a forma e a profundidade. Na presença, na plenitude inultrapassável que é para nós todos a definição do real. em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza plenitude inultrapassável que é para nós todos aomo um trabalho de definição da trabalho sobre pintura do real.
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sumário
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28 SHORT BREAK
SUIÇA Curta pausa num país pintado de branco
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JAPÃO tradição e contemporaneidade no Oriente longínquo
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BRASIL Comandatuba e Sauipe Dois lugares rurais de autenticidade
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estadias de luxo
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Entrada fictícia precisava de cem sessões de trabalho para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões de pose para um retrato. Aquilo a que chamamos a sua obra era para ele apenas o ensaio e a aproximação à sua pintura. Escreve aos anos: Vivo num tal estado de perturbações cerebrais, numa perturbação tão grande que temo a todo o momento, que a minha frágil razão não aguente. 380 c.
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E distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração.
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E distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração.
Texto fictício parece-me que agora que estou melhor e que consigo dar uma orientação mais precisa aos meus estudos. Conseguirei atingir o objectivo tão procurado e durante tanto tempo perseguido? Continuo como sempre a estudar a natureza e parece-me que faço lentos progressos” A pintura é o seu mundo e a sua maneira de existir. Trabalha sozinho, sem alunos, sem a admiração por parte da familia, sem encorajamento por parte dos júris. Já velho, interroga-se sobre se a novidade da sua pintura não decorreria de uma perturbação da sua visão, se toda sua vida não se teria baseado num acidente do seu corpo. Porquê tanta incerteza, tanto esforço, tantos falhanços e de repente, o sucesso? Jovem, aos 13 anos, inquietava os seus amigos com os seus acessos de cólera e as suas depressões. Zola, que era amigo de Cezanne desde criança, foi o primeiro a ver nele o génio e o primeiro a falar dele como um “génio abortado”. 16
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Sete anos mais tarde, aos 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que o envie para Paris. As cartas de Zola recriminam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão. Já em Paris escreve: “Mais não fiz que mudar de lugar e o aborrecimento e o tédio perseguem-me.” O fundo do seu carácter é dominado pela ansiedade. Aos 42 anos, pensa que morrerá jovem e redige o testamento. Aos 46, tem uma paixão atormentada, insuportável, da qual nunca falará. Aos 51, retira-se para Aix, para melhor encontrar a natureza, mas trata-se de um retorno ao meio da sua infância, da sua mãe, da sua irmã. A religião, que começa a praticar, surge para ele com o medo da vida e com o medo da morte. Segreda a um amigo: “É o medo, sinto que ainda me restam quatro dias na terra, mas e depois? Creio que sobreviverei e não me quero arriscar a esturricar in aeternum” Vai-se tornando cada vez mais tímido,
Já velho, interroga-se sobre se a novidade da sua pintura não decorreria de uma perturbação da sua visão, se toda sua vida não se teria baseado num acidente do seu corpo. Porquê tanta incerteza, tanto esforço, tantos falhanços e de repente, o sucesso? Jovem, aos 13 anos, inquietava os seus amigos com os seus acessos de cólera e as suas depressões. Zola, que era amigo de Cezanne desde criança, foi o primeiro a ver nele o génio e o primeiro a falar dele como um “génio abortado”.
confiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de uma pintura “sobre a natureza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. E a sua extrema atenção à natureza, à cor, e o carácter inumano da sua pintura também. “Devemos pintar uma face como se fosse um objecto”, a sua devoção ao mundo visível apenas são uma fuga ao mundo humano. É possivel que, no momento das suas fraquezas nervosas, Cézanne tenha concebido
uma forma de arte válida para todos. Entregue a si mesmo, pode olhar a natureza como só um homem sabe fazê-lo. “Como pintor torno-me mais lúcido quando confrontado com a natureza”. Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, Impressionistas, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza. A natureza para os clássicos exigia circunscrição composição.
Texto de Cátia Fernandes Fotografia gentilmente cedidas por Estoril Palace
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weekend
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Entrada fictícia precisava de cem sessões de trabalho para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões de pose para um retrato. Aquilo a que chamamos a sua obra era para ele apenas o ensaio e a aproximação à sua pintura. Escreve aos anos: Vivo num tal estado de perturbações cerebrais, numa perturbação tão grande que temo a todo o momento, que a minha frágil razão não aguente. 380 c.
Texto fictício parece-me que agora que estou melhor e que consigo dar uma orientação mais precisa aos meus estudos. Conseguirei atingir o objectivo tão procurado e durante tanto tempo perseguido? Continuo como sempre a estudar a natureza e parece-me que faço lentos progressos”. A pintura é o seu mundo e a sua maneira de existir. Trabalha sozinho, sem alunos, sem a admiração por parte da familia, sem encorajamento por parte dos júris. Já velho, interroga-se sobre se a novidade da sua pintura não decorreria de uma perturbação da sua visão, se toda sua vida não se teria baseado num acidente do seu corpo. Jovem, aos 13 anos, inquietava os seus amigos com os seus acessos de cólera e as suas depressões. Zola, que era amigo de Cezanne desde criança, foi o primeiro a ver nele o génio e o primeiro a falar dele como um “génio abortado”.
Barcelos História Gastronomia e arte popular mais valias a norte
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Texto fictício parece-me que agora que estou melhor e que consigo dar uma orientação mais precisa aos meus estudos. Conseguirei atingir o objectivo tão procurado e durante tanto tempo perseguido? Continuo como sempre a estudar a natureza e parece-me que faço lentos progressos” A pintura é o seu mundo e a sua maneira de existir. Trabalha sozinho, sem alunos, sem a admiração por parte da familia, sem encorajamento por parte dos júris. Já velho, interroga-se sobre se a novidade da sua pintura não decorreria de uma perturbação da sua visão, se toda sua vida não
Sete anos mais tarde, aos 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que o envie para Paris. As cartas de Zola recriminam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão. Já em Paris escreve: “Mais não fiz que mu“Devemos pintar uma dar de lugar e o aborrecimento e o tédio face como se fosse um perseguem-me.” objecto”, a sua devoção O fundo do seu carácter é dominado pela ao mundo visível apenas ansiedade. Aos 42 anos, pensa que morrerá jovem e redige o testamento. Aos 46, tem são uma fuga ao mundo uma paixão atormentada, insuportável, da humano” qual nunca falará. Aos 51, retira-se para Aix, para melhor encontrar a natureza, mas trata-se de um retorno ao meio da sua inSete anos mais tarde, aos 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir fância, da sua mãe, da sua irmã. A religião, ao pai que o envie para Paris. “Devemos pintar uma face como se fosse um objecto”, a sua deque começa a praticar, surge para ele com voção ao mundo visível apenas são uma fuga ao mundo humano. o medo da vida e com o medo da morte. Segreda a um amigo: “É o medo, sinto que se teria baseado num acidente do seu cor- ainda me restam quatro dias na terra, mas po. Porquê tanta incerteza, tanto esforço, e depois? Creio que sobreviverei e não me tantos falhanços e de repente, o sucesso? quero arriscar a esturricar in aeternum” Jovem, aos 13 anos, inquietava os seus ami- Vai-se tornando cada vez mais tímido, desgos com os seus acessos de cólera e as suas confiado e susceptível. Vem alguma vezes depressões. Zola, que era amigo de Cezan- a Paris mas, quando encontra amigos, fazne desde criança, foi o primeiro a ver nele -lhes de longe sinal de que não lhes quer o génio e o primeiro a falar dele como um falar. A ideia de uma pintura.A natureza” “génio abortado”.
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Sete anos mais tarde, aos 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que o envie para Paris. As cartas de Zola recriminam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão. Já em Paris escreve: “Mais não fiz que mudar de lugar e o aborrecimento e o tédio perseguem-me.”
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“Quando Cézanne se muda par Auvers-surOise produz-se uma mudança. Em contacto com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta. As piceladas deixam de ser grossas e quadradas e tornam-se mais subtis e flexíveis” Texto PAULA MONTEIRO Fotografia ANTÓNIO SARAIVA
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surge em Cézanne a partir da mesma Fraqueza. e a sua extrema atenção à natureza, à cor, e o carácter inumano da sua pintura também. “Devemos pintar uma face como se fosse um objecto”, a sua devoção ao mundo visível apenas são uma fuga ao mundo humano. É possivel que, no momento das suas fraquezas nervosas, Cézanne tenha concebido uma forma de arte válida para todos. Entregue a si mesmo, pode olhar a natureza como só um homem sabe fazê-lo. “Como pintor torno-me mais lúcido quando confrontado com a natureza”. Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, Impressionistas, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza.
Cunscrição pelos contornos, composição e distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a acompanha”. Sobre a natureza: “É preciso que nos curvemos face a esta obra perfeita. Tudo nos vem dela, por ela existimos, esqueçamos tudo o resto”.quezas nervosas, Cézanne tenha concebido uma forma de arte válida para todos. Entregue a si mesmo, pode olhar a natureza como só um homem sabe fazê-lo. “Como pintor torno-me mais lúcido quando confrontado com a natureza”. Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, Impressionistas, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho.
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Curta pausa num país pintado de branco
Suiça
Entrada fictícia precisava de cem sessões de trabalho para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões de pose para um retrato. Aquilo a que chamamos a sua obra era para ele apenas o ensaio e a aproximação à sua pintura. Escreve aos anos: Vivo num tal estado de perturbações cerebrais, numa perturbação tão grande que temo a todo o momento, que a minha frágil razão não aguente. 380 c. 29
Vai-se tornando cada vez mais tímido, desconfiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de uma pintura “sobre a natureza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. pintura também. “
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Texto fictício parece-me que agora que estou melhor e que consigo dar uma orientação mais precisa aos meus estudos. Conseguirei atingir o objectivo tão procurado e durante tanto tempo perseguido? Continuo como sempre a estudar a natureza e parece-me que faço lentos progressos” A pintura é o seu mundo e a sua maneira de existir. Trabalha sozinho, sem alunos, sem a admiração por parte da familia, sem encorajamento por parte dos júris. Já velho, interroga-se sobre se a novidade da sua pintura não decorreria de uma perturbação da sua visão, se toda sua vida não se teria baseado num acidente do seu corpo. Porquê tanta incerteza, tanto esforço, tantos falhanços e de repente, o sucesso? Jovem, aos 13 anos, inquietava os seus amigos com os seus acessos de cólera e as suas depressões. Zola, que era amigo de Cezanne desde criança, foi o primeiro a ver nele o génio e o primeiro a falar dele como um
que era amigo de “génio abortado”. Sete anos mais tarde, aos 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que o envie para Paris. As cartas de Zola recriminam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão. Já em Paris escreve: “Mais não fiz que mudar de lugar e o aborrecimento e o tédio perseguem-me.” O fundo do seu carácter é dominado pela ansiedade. Aos 42 anos, pensa que morrerá jovem e redige o testamento. Aos 46, tem uma paixão atormentada, insuportável, da qual nunca falará. Aos 51, retira-se para Aix, para melhor encontrar a natureza, mas trata-se de um retorno ao meio da sua infância, da sua mãe, da sua irmã. A religião, que começa a praticar, surge para ele com o medo da vida e com o medo da morte. Segreda a um amigo: “É o medo, sinto que ainda me restam quatro dias na terra, mas e depois? Creio que sobreviverei.
Vai-se tornando cada vez mais tímido, desconfiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de uma pintura “sobre a natureza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. E a sua extrema atenção à natureza, à cor, e o carácter inumano da sua pintura também. “
Sete anos mais tarde, , duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que o envie para Paris.
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CHOCOLATE Quero arriscar a esturricar in aeternum” Vai-se tornando cada vez mais tímido, desconfiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de uma pintura “sobre a natureza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. E a sua extrema atenção à natureza, à cor, E o carácter inumano da sua pintura também. “.
POUSADAS
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Sete anos mais tarde, aos 20 anos, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e Cézanne não ousa pedir ao pai a estudar em Paris.
QUEIJOS
RELÓGIOS
Vai-se tornando cada vez mais tímido, desconfiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de uma pintura “sobre a natureza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. E a sua extrema atenção à natureza, à cor, e o carácter inumano da sua pintura também. “
CASTELOS
Vai-se tornando cada vez mais tímido, desconfiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de É possivel que, no momento das suas fraquezas nervosas, Cézanne tenha concebido uma forma de arte válida para todos. Entregue fazê-lo. uma pintura “sobre a natureza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. E a sua extrema atenção à natureza, à cor, e inumano da sua pintura também. “.
Face como se fosse um A sua devoção ao mundo visível apenas são uma fuga ao mundo humano. É possivel que, no momento das suas fraquezas nervosas, Cézanne tenha concebido uma forma de arte válida para todos. Entregue a si mesmo, pode olhar a natureza como só um homem sabe fazê-lo. “Como pintor torno-me mais lúcido quando confrontado com a natureza”. Italianos,Tintoretto, Delacroix,Courbet, Impressionistas, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso Quando Cézanne se muda par Auvers-sur-Oise produz-se uma mudança. Em contacto com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta. As piceladas deixam de ser grossas e quadradas e tornam-se mais subtis e flexíveis permitindo texturas formadas por pequenas manchas de cor com um resultado mais harmonioso. É Pissarro que incita Cézanne à pintura ao ar livre. 3.600 c.
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Texto fictício a natureza
Para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos, composição e distribuição das luzes. A isso Cézanne responde
Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza. E sobre os mestres
Substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a acompanha. Sobre a natureza
É preciso que nos curvemos face a esta obra perfeita. Tudo nos vem dela, por ela existimos, esqueçamos tudo o resto.
Em contacto Com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta.
Quando Cézanne
Se muda par Auvers-sur-Oise produz-se uma mudança. Em contacto
Com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta. As piceladas deixam
De ser grossas e quadradas e tornamse mais subtis e flexíveis permitindo texturas formadas. Por pequenas manchas
De cor com um resultado mais harmonioso. É Pissarro que incita Cézanne à pintura ao ar livre. 800 c.
A isso Cézanne responde Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza.
Texto PAULA MONTEIRO Fotografia ANTÓNIO SARAIVA
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autenticidade Entrada fictícia precisava de cem sessões de trabalho para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões de pose para um retrato. Aquilo a que chamamos a sua obra era para ele apenas o ensaio e a aproximação à sua pintura. Escreve aos anos: Vivo num tal estado de perturbações cerebrais, numa perturbação tão grande que temo a todo o momento, que a minha frágil razão não aguente. 380 c. Texto PAULAMONTEIRO Fotografia ANTÓNIO SARAIVA
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Texto fictício parece-me que agora que estou melhor e que consigo dar uma orientação mais precisa aos meus estudos. Conseguirei atingir o objectivo tão procurado e durante tanto tempo perseguido? Continuo como sempre a estudar a natureza e parece-me que faço lentos progressos” A pintura é o seu mundo e a sua maneira de existir. Trabalha sozinho, sem alunos, sem a admiração por parte da familia, sem encorajamento por parte dos júris.
Texto fictício parece-me que agora que estou melhor e que consigo dar uma orientação mais precisa aos meus estudos. Conseguirei atingir o objectivo tão procurado e durante tanto tempo perseguido? Continuo como sempre a estudar a natureza e parece-me que faço lentos progressos” A pintura é o seu mundo e a sua maneira de existir. Trabalha sozinho, sem alunos, sem a admiração por parte da familia, sem encorajamento por parte dos júris. Já ve-
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lho, interroga-se sobre se a novidade da sua pintura não decorreria de uma perturbação da sua visão, se toda sua vida não se teria baseado num acidente do seu corpo. Porquê tanta incerteza, tanto esforço, tantos falhanços e de repente, o sucesso? Jovem, aos 13 anos, inquietava os seus amigos com os seus acessos de cólera e as suas depressões. Zola, que era amigo de Cezanne desde criança, foi o primeiro a ver nele o génio e o primeiro a falar dele como um
Destaque fictício um precisava de cem sessões para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões para retrato 100 c. “génio abortado”. Sete anos mais tarde, aos 20, decidido a tornar-se pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que o envie para Paris. As cartas de Zola recriminam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão. Já
em Paris escreve: “Mais não fiz que mudar de lugar e o aborrecimento e o tédio perseguem-me.” O fundo do seu carácter é dominado pela ansiedade. Aos 42 anos, pensa que morrerá jovem e redige o testamento. Aos 46, tem uma paixão atormentada, insuportável, da qual nunca falará. Aos 51, retira-se para Aix, para melhor encontrar a natureza, mas trata-se de um retorno ao meio da sua infância, da sua mãe, da sua irmã. A religião, que começa a praticar, surge para ele com o medo da vida e com o medo da morte. Segreda a um amigo: “É o medo, sinto que ainda me restam quatro dias na terra, mas e depois? Creio que sobreviverei e não me quero arriscar a esturricar in aeternum” Vai-se tornando cada vez mais tímido, desconfiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de uma pintura “sobre a natu-
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reza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. E a sua extrema atenção à natureza, à cor, e o carácter inumano da sua pintura também. “Devemos pintar uma face como se fosse um objecto”. sua devoção ao mundo visível apenas são uma fuga ao mundo humano. É possivel que, no momento das suas fraquezas nervosas, Cézanne tenha concebido uma forma de arte válida para todos. Entregue a si mesmo, pode olhar a natureza como só um homem sabe fazê-lo. “Como pintor torno-me mais lúcido quando confrontado com a natureza”. Italianos, Tintoretto, Delacroix, Courbet, Impressionistas,
Destaque fictício um precisava de cem sessões para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões para retrato 100 c. em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como 40 voyager | ABRIL 2012
um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza. A natureza para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos, composição e distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a acompanha”. Sobre a natureza: “É preciso que nos curvemos face a esta obra perfeita. Tudo nos vem dela, por ela existimos, esqueçamos tudo o resto”. Quando Cézanne se muda par Auvers-sur-Oise produz-se uma mudança. Em contacto com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta. As piceladas deixam de ser grossas e quadradas e tornam-se mais subtis e flexíveis permitindo texturas formadas por pequenas manchas de cor com um resultado mais harmonioso. É Pissarro que incita Cézanne à pintura ao ar livre. 3.600 c.
Destaque Destaque fictício fictício um um precisava precisava de de cem cem sessões para uma natureza morta, sessões para uma natureza morta, cento cento e cinquenta sessões para retrato 100 c.c. e cinquenta sessões para retrato 100
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Texto fictício a natureza
Para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos, composição e distribuição das luzes.
A isso Cézanne responde
Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza.
E sobre os mestres
Substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a acompanha.
Sobre a natureza
É preciso que nos curvemos face a esta obra perfeita. Tudo nos vem dela, por ela existimos, esqueçamos tudo o resto.
Quando Cézanne
Se muda par Auvers-sur-Oise produz-se uma mudança.
Em contacto
Com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta.
As piceladas deixam
De ser grossas e quadradas e tornamse mais subtis e flexíveis permitindo texturas formadas.
Por pequenas manchas
De cor com um resultado mais harmonioso. É Pissarro que incita Cézanne à pintura ao ar livre. 800 c.
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VO AGER
Entrada fictícia precisava de cem sessões de trabalho para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões de pose para um retrato. Aquilo a que chamamos a sua obra era para ele apenas o ensaio e a aproximação à sua pintura. Escreve aos anos: Vivo num tal estado de perturbações cerebrais, numa perturbação tão grande que temo a todo o momento, que a minha frágil razão não aguente. 380 c.
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no Oriente longínquo ABRIL 2012 | voyager
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Texto fictício parece-me que agora que estou melhor e que consigo dar uma orientação mais precisa aos meus estudos. Conseguirei atingir o objectivo tão procurado e durante tanto tempo perseguido? Continuo como sempre a estudar a natureza e parece-me que faço lentos progressos” A pintura é o seu mundo e a sua maneira de existir. Trabalha sozinho, sem alunos, sem a admiração por parte da familia, sem encorajamento por parte dos júris. Já ve-
E distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela abstração.
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lho, interroga-se sobre se a novidade da sua pintura não decorreria de uma perturbação da sua visão, se toda sua vida não se teria baseado num acidente do seu corpo.
Destaque fictício um precisava de cem sessões para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões para retrato 100 c. Porquê tanta incerteza, tanto esforço, tantos falhanços e de repente, o sucesso? Jovem, aos 13 anos, inquietava os seus amigos com os seus acessos de cólera e as suas depressões. Zola, que era amigo de Cezanne desde criança, foi o primeiro a ver nele o génio e o primeiro a falar dele como um “génio abortado”. Mais tarde, aos 20, decidido a tornar-se
Destaque fictício um precisava de cem sessões para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões para retrato 100 c. E distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela abstração.
pintor, duvida do seu talento e não ousa pedir ao pai que o envie para Paris. As cartas de Zola recriminam-lhe a instabilidade, a fraqueza e a indecisão. Já em Paris escreve: “Mais não fiz que mudar de lugar e o aborrecimento e o tédio perseguem-me.” O fundo do seu carácter é dominado pela ansiedade. Aos 42 anos, pensa que morrerá
jovem e redige o testamento. Aos 46, tem uma paixão atormentada, insuportável, da qual nunca falará. Aos 51, retira-se para Aix, para melhor encontrar a natureza, mas trata-se de um retorno ao meio da sua infância, da sua mãe, da sua irmã. A religião, que começa a praticar, surge para ele com o medo da vida e com o medo da morte. ABRIL 2012 | voyager
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Segreda a um amigo: “É o medo, sinto que ainda me restam quatro dias na terra, mas e depois? Creio que sobreviverei e não me quero arriscar a esturricar in aeternum”
Destaque fictício um precisava de cem sessões para uma natureza morta, cento e cinquenta sessões para retrato 100 c. Vai-se tornando cada vez mais tímido, desconfiado e susceptível. Vem alguma vezes a Paris mas, quando encontra amigos, faz-lhes de longe sinal de que não lhes quer falar. A ideia de uma pintura “sobre a natu-
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reza” surge em Cézanne a partir da mesma fraqueza. E a sua extrema atenção à natureza, à cor, e o carácter inumano da sua pintura também. “Devemos pintar uma face como se fosse um objecto”. sua devoção ao mundo visível apenas são uma fuga ao mundo humano. É possivel que, no momento das suas fraquezas nervosas, Cézanne tenha concebido uma forma de arte válida para todos. Entregue a si mesmo, pode olhar a natureza como só um homem sabe fazê-lo. “Como pintor torno-me mais lúcido quando confrontado com a natureza”. Italianos, Tinto-
retto, Delacroix, Courbet, Impressionistas, em particular, Pissarro, a quem Cézanne deve a concepção da pintura, não como a realização de cenas imaginadas, mas como o estudo preciso das aparências, não como um trabalho de atelier antes como um trabalho sobre natureza. A natureza para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos, composição e distribuição das luzes. A isso Cézanne responde: “Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço de natureza”. E sobre os mestres: “substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração que a
acompanha”. Sobre a natureza: “É preciso que nos curvemos face a esta obra perfeita. Tudo nos vem dela, por ela existimos, esqueçamos tudo o resto”. Quando Cézanne se muda par Auvers-sur-Oise produz-se uma mudança. Em contacto com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta. As piceladas deixam de ser grossas e quadradas e tornam-se mais subtis e flexíveis permitindo texturas formadas por pequenas manchas de cor com um resultado mais harmonioso. É Pissarro que incita Cézanne à pintura ao ar livre. 3.600 c.
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Texto fictício a natureza
Para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos. A isso Cézanne responde
E sobre os mestres
As piceladas deixam
Eles faziam um quadro e nós procuramos um pedaço. Substituiam a realidade pela imaginação e pela abstração. Sobre a natureza
É preciso que nos curvemos face a esta obra perfeita. Quando Cézanne
Se muda par Auvers-sur-Oise produz-se uma mudança. Texto fictício a natureza Texto PAULA MONTEIRO Fotografia ANTÓNIO SARAIVA
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Em contacto
Com Pissarro abandona os temas tétricos e alegra as cores da sua paleta.
Para os clássicos exigia circunscrição pelos contornos.
De ser grossas e quadradas e tornamse mais subtis e flexíveis permitindo texturas formadas.
Por pequenas manchas
De cor com um resultado mais harmonioso. É Pissarro que incita Cézanne .