O Gigante Egoísta
(1º Narrador) Certo dia, o Gigante olhando as suas altas e negras torres e os seus portões de bronze maciço disse para consigo: (Gigante) – Se fizer aqui um jardim, ficará menos triste! (1º Narrador) Se assim pensou, assim o fez. Manejou quase sem descanso a enxada e a picareta e pôs pronto o seu jardim, que ficou atapetado de relva macia. (Gigante) – Ficou tão bonito e alegre o meu jardim, com estas lindas flores. Parecem estrelas entre a relva. Agora já posso ir visitar o meu amigo, o ogre de Cornualha. (2º Narrador) Na Primavera as aves pousavam nas árvores e algumas crianças, que ali perto estavam no recreio da escola, ouviam o seu cantar e uma delas disse: (1ª Criança) – Vamos brincar para aquele lindo jardim? (outras crianças) – Vamos! Que Bom! (2º Narrador) Decorrido algum tempo, o gigante, regressou e, como era muito egoísta, ao ver as crianças a brincar no seu jardim, ficou muito zangado, expulsou-os, ameaçando bater-lhes e gritando-lhes: (Gigante) – O jardim pertence-me e, por isso, não deixarei que ninguém brinque nele, a não ser eu. (2º Narrador) As crianças choraram muito e foram embora. O gigante para guardar melhor o jardim para si, cercou-o de altos muros, para que ninguém o pudesse ver. (3º Narrador) Veio a Primavera. As árvores do jardim do gigante não floriram e os pássaros fugiram, pois não gostavam de lá voar, porque não ouviam o sorrir das crianças. Só a neve e a geada habitavam lá, assim como o Vento Norte, que assobiava, agora mais triste do que a própria tristeza.
(3º Narrador) Durante muitos anos, o jardim não conheceu a Primavera, por causa do egoísmo do Gigante. Até que certa manhã, este acordou ao som de uma linda música. (3º Narrador) Abriu a janela e viu um espectáculo maravilhoso. Por um buraco pequenino do muro, as crianças tinham entrado no jardim e estavam sentadas na relva macia a brincar. As aves ouviram-nas e tão contentes voltaram, voaram e cantaram alegremente. (Exclama o Gigante) – Até que enfim, chegou a Primavera! A neve, a geada e o vento norte abandonaram o meu jardim. (1º Narrador) Num canto do jardim encontrava-se um lindo menino de caracóis loiros e olhinhos azuis, que queria subir a uma árvore mas não conseguia e então chorava imenso. (Gigante) – Coitadinho do petiz, e como tenho sido egoísta! Vou pô-lo em cima da árvore e depois derrubarei o muro, a fim de que, de futuro, o jardim pertença sempre às crianças. (1º Narrador) E o Gigante, correu até ao menino e sentou-o com mil cuidados, num ramo. As aves vieram cantar sobre ela e o menino estendeu os braços e beijou o Gigante. As outras crianças, quando viram que o Gigante já não era mau, voltaram a correr e a saltar; e, com elas, regressou também, para sempre, a Primavera ao jardim. (2º Narrador) O Gigante pegou no martelo e derrubou o muro e depois fez um grande baloiço onde se sentava de manhã e à noite, para ver as crianças brincar e rir. Só tinha um desgosto o Gigante! É que o menino dos caracóis loiros nunca mais aparecera no jardim, muito embora se fartasse de perguntar por ele. Mas ninguém o conhecia! E o Gigante envelheceu, a balouçar-se na sua cadeira e ralado de saudades pelo menino. (3º Narrador) Chegou o Inverno e o Gigante, que de tão velho mal podia quase andar, não ficou aborrecido, pois agora sabia que, no seu jardim depois do Inverno vinha a Primavera. Ora, certa manhã – numa manhã em que o Gigante se sentia mais fraco do que nunca, viu que, no canto do jardim havia uma árvore coberta de flores brancas. E, debaixo da árvore, estava o menino de caracóis loiros e olhinhos azuis.
O Gigante foi ter com o menino, com tanta pressa quanta permitiam as suas pernas. Ao chegar junto dele, parou admirado, pois ele tinha as mãozinhas e os pezinhos feridos. (Gigante) – Diz-me quem te feriu, que eu matá-lo-ei com o meu cajado! (Menino de caracóis loiros) – Não digo, pois as minhas feridas são de Amor. (Gigante) – E quem és tu? (1º Narrador) O menino sorriu então para o Gigante e disse-lhe: (Menino de caracóis loiros) – Tu deixaste-me brincar uma vez no teu jardim; hoje virás comigo para o meu jardim, que é o do Paraíso. (2º Narrador) E, quando as crianças vieram nessa tarde brincar para o jardim, encontraram o Gigante morto debaixo de uma árvore e todo coberto de flores brancas.
FIM (Conto infantil adaptado de Òscar Wilde por João Sereno)