ESTGV – MESTRADO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS
Risco de incêndio Florestal Estudo do risco de incêndio Florestal em São Salvador Paulo Almeida 28-‐12-‐2010
Estudo do risco de incêndio florestal numa mata em São Salvador, junto ao quartel militar R14. O estudo incidiu no dia 26-‐11-‐2010 e foram recolhidas amostras de folha de pinheiro e eucalipto morta, folha de pinheiro e eucalipto viva, urze e tojo.
[RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL]
28 de Dezembro de 2010
Índice Introdução ................................................................................................................................................... 5 1.
Caracterização geral do ponto de amostragem ................................................................................ 7
1.1. Localização Geográfica ................................................................................................................. 7 1.2. Densidade populacional ................................................................................................................ 8 1.3. Cartografia de Risco de incêndio Florestal ................................................................................... 8 1.4. Ocupação do solo ......................................................................................................................... 9 1.5. Caracterização Climática ............................................................................................................ 10
2.
1.5.1.
Temperatura......................................................................................................................... 11
1.5.2.
Precipitação ......................................................................................................................... 12
1.5.3.
Insolação .............................................................................................................................. 13
1.5.4.
Humidade ............................................................................................................................. 14
Combustíveis florestais e a sua caracterização ............................................................................. 14
2.1. Tipos de combustível .................................................................................................................. 17 2.2. Teor de humidade dos combustíveis .......................................................................................... 17 3.
Metodologia .................................................................................................................................... 18
3.1. Preparação das amostras ........................................................................................................... 18 3.2. Dados Climáticos ........................................................................................................................ 19 4.
Resultados e discussão .................................................................................................................. 21
5.
Conclusão ....................................................................................................................................... 24
Bibliografia ................................................................................................................................................ 27 Páginas Web ....................................................................................... Fehler! Textmarke nicht definiert. Anexos ...................................................................................................................................................... 28
Índice de Figuras Figura 1 – localização da zona florestal. .................................................................................................... 7 Figura 2 – (a) Freguesias do Concelho de Viseu, (b) densidade populacional por freguesia (c) população por lugar no Concelho de Viseu, adaptado de [4]. ........................................................................ 8 Figura 3 – Cartografia de risco de incêndio Florestal, fonte [5] .................................................................. 9 2
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Figura 4 – Pinhal com sobcoberto, São Salvador. ..................................................................................... 9 Figura 5 - Áreas Urbanas, Equipamentos e Parques, Turismo e Industriais identificadas no PMOT, adaptado de [4]. ............................................................................................................................................ 10 Figura 6 - Clima de Portugal Continental, segundo a classificação de Koppen, fonte [6] ........................ 11 Figura 7 – Média da temperatura do ar, Novembro de 2010, fonte [6] .................................................... 12 Figura 8 – Precipitação total, Novembro 2010, fonte [6] .......................................................................... 13 Figura 9 – Duração total de insolação, Novembro de 2010, fonte [6] ...................................................... 14 Figura 10 – Teor de humidade nos combustíveis ao longo do dia, para a secagem a 105°C durante 24h. ...................................................................................................................................................................... 22 Figura 11 – Relação entre a humidade relativa e a temperatura ao longo do dia.................................... 23 Figura 12 – Relação entre os teores de humidade obtidos na balança rápida e a humidade relativa do ar. .................................................................................................................................................................. 23
Índice de Tabelas Tabela 1 - Tempo registado perto de Viseu, adaptado de WolframAlpha ................................................ 19 Tabela 2 – dados obtidos com aparelho portátil no local. ........................................................................ 20 Tabela 3 – Dados da secagem a 105°C durante 24h .............................................................................. 28 Tabela 4 – Parâmetros do ar no local ...................................................................................................... 28 Tabela 5 – Dados obtidos na balança rápida ........................................................................................... 28
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Introdução Desde o recuo glaciar, há cerca de 10 000 anos, no Holocénico que a vegetação florestal da península ibérica, começou a adquirir o seu aspecto actual, e já nessa altura o homem esteve presente e usou o fogo para moldar o meio ambiente satisfazendo as suas necessidades. No percurso pela história, várias foram as "ofensas" à floresta, desde a economia de pastorício, com o consequente corte, pastagem e fogo, silvicultura e a agricultura [1]. Na era moderna (séculos XV e XVI) reconhece-se a floresta como um recurso escasso, e com o Iluminismo deram-se os primeiros passos na gestão da floresta. Presentemente a floresta portuguesa cobre cerca de 38% do território, a floresta actual é o resultado de um longo processo evolutivo, apesar do alastrar da floresta portuguesa seja relativamente recente, com a proliferação de 2 espécies dominantes, o pinheiro bravo (Piuns pinaster) e o eucalipto (Eucaliptos glóbulos), cobrindo mais de metade do território continental (31% e 21% respectivamente), ocorreu essencialmente no século XX [2]. Actualmente, ocorrem inúmeros incêndios todos os anos com consequências socioeconómicas negativas para as populações, o verão de 2003 foi o pináculo das ocorrências de incêndios florestais. No que diz respeito ao distrito de Viseu, desde 1990 até 2003 registaram se mais de 200 000 hectares de floresta e mato ardidos. Como possível causa está o abandono da utilização dos recursos florestais pelos proprietários, devido á falta de mão-de-obra rural, preços praticados pelas madeireiras e intermediários, e a ausência dos proprietários devida à actual actividade silvícola, falha na gestão florestal como limpeza e desbaste da mata, abertura de bons caminhos para a acção dos bombeiros. No limite são factores que levam ao desinteresse pelo património florestal, logo degradação das florestas aumentando o risco de incêndio.
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Com vista à preservação do património florestal vários estudos foram e são realizados com intuito da conservação das florestas e matas, elaboração de mapas de riscos, uma gestão mais organizada das matas e florestas e o conhecimento dinâmico do fogo são alguns dos aspectos abordados, segundo o Ministério das cidades, Ordenamento do Território e Ambiente [2] o comportamento do fogo é dinâmico, sujeito por exemplo a factores climáticos, enquanto que o calculo do risco de incêndio relaciona-se com as fontes de combustível, pelo que se torna pertinente o conhecimento não só da dinâmica do fogo mas, também o conhecimento das fontes de combustível e a sua relação com o risco de incêndio. Ao sabermos antecipadamente a distribuição no terreno do risco de incêndio numa zona florestal, permite a adequabilidade da gestão dos recursos disponíveis, bem como uma melhor gestão e planeamento florestal. Se os incêndios não fossem tão nefastos, essencialmente do ponto de vista económico, provavelmente não seria um problema tão preocupante, assim é de extrema importância conhecer os seus efeitos e prejuízos provocados, levem a uma efectiva redução dos fogos florestais. Em Portugal o risco de incêndio florestal é-nos dado essencialmente por índices de natureza meteorológica, em Portugal é calculado desde 1960, pelo instituto meteorológico, para a "época de fogos". Assim foi feita investigação com o intuito de estabelecer índices meteorológicos de risco de incêndio florestal e que ao mesmo tempo fosse simples de implementar, recorrendo a elementos meteorológicos de fácil obtenção. Esta simplicidade permite o cálculo do risco em qualquer momento e local. O Sistema de informação de Risco de Incêndio Florestal (SIRIF), inclui assim os elementos meteorológicos mais expressivos para a deflagração e propagação dos fogos florestais, ou seja, temperatura e humidade relativa do ar, rumo e velocidade do vento, auxiliando-se da previsão do tempo do estado do tempo do dia seguinte inclusive, inserindo o desejado carácter de previsão.
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1. Caracterização geral do ponto de amostragem 1.1.Localização Geográfica O ponto de amostragem situa-se na cidade de Viseu, a Oeste da freguesia de São Salvador, junto ao quartel militar R14, na posição 40,64538 N 7,93704 O. São Salvador é uma das 34 freguesias do concelho de Viseu, com 5,07 Km2 de área e 3087 habitante (em 2001), [3]. O concelho de Viseu tem uma densidade populacional (em 2001) de 186,5 hab/km2 Geograficamente Viseu tem uma posição central em relação ao Distrito e ao Município, localizando-se no designado "Planalto de Viseu", É envolvida por um sistema montanhoso, constituído a norte pelas Serras de Leomil, Montemuro e Lapa, a noroeste a Serra do Arado, a sul e sudoeste as Serras da Estrela e Lousã, e a oeste a Serra que mais directamente influencia esta área, a do Caramulo. O município caracteriza-se por uma superfície irregular com altitudes compreendidas entre os 400 e os 700 m. A Figura 1, mostra a zona florestal em estudo, pode-se ver uma área urbanizada, vários caminhos de terra, uma arborização alta com alguma vegetação rasteira, não existem cursos de água significativos próximos da zona florestal em estudo.
Figura 1 – localização da zona florestal.
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1.2.Densidade populacional O concelho de Viseu tem uma densidade populacional (em 2001) de 186,5 hab/km2. No entanto a população está concentrada sobretudo na freguesia de Viseu (Coração de Jesus), cuja densidade é de 3 601,75 hab/km2. Nas restantes freguesias a densidade varia entre 30,94 e 1905,42 hab/km2. Em São Salvador a densidade populacional é de 608,9 hab/Km2. Sendo considerada zona predominantemente urbanas (APU),[4].
(a)
(b)
(c)
Figura 2 – (a) Freguesias do Concelho de Viseu, (b) densidade populacional por freguesia (c) população por lugar no Concelho de Viseu, adaptado de [4].
1.3. Cartografia de Risco de incêndio Florestal Pela Figura 3 pode verificar que a zona florestal em estudo está caracterizada como zona de grau baixo moderado a grau elevado, próxima de uma zona de grau muito elevado. A existência de edifícios junto à área florestal e o elevado risco de incêndio torna necessária uma vigilância atenta.
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Figura 3 – Cartografia de risco de incêndio Florestal, fonte [5]
1.4.Ocupação do solo A ocupação do solo tal como foi descrito no ponto 1.1, pode ser observado na Figura 1 – localização da zona florestal. e com mais pormenor na Figura 4.
Figura 4 – Pinhal com sob coberto, São Salvador.
Na ocupação florestal é importante caracterizar a densidade e distribuição das espécies florestais e o grau de combustibilidade e inflamabilidade da vegetação arbustiva e subarbustiva
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No plano municipal de ordenamento do território a área correspondente á zona florestal é considerado como sendo “U” ou seja designado por urbanas existentes como se pode ver na Figura 5. Urbanas Existentes
U
4134,25
Urbanas Expansão
UZ
4 502,96
EP
216,48
E
3,54
PU
95,84
Turismo Previsto
TP
93,46
Ind Existente
IE
544
Ind Expansão
IP
25,86
Equipo Previstos Equipamentos não Diferenciados Parque Urbano
Figura 5 - Áreas Urbanas, Equipamentos e Parques, Turismo e Industriais identificadas no PMOT, adaptado de [4].
1.5.Caracterização Climática O concelho de Viseu apresenta um conjunto de microclimas, já que se encontra localizado numa zona de transição A Serra do Caramulo, localizada a oeste do Concelho, assume um papel de proeminência em termos climáticos, ao atenuar as interferências das massas de ar de oeste (embora o vale do Mondego facilite a sua penetração). Assim, o clima de Viseu caracteriza-se pela existência de distintas amplitudes térmicas, com Invernos rigorosos e húmidos e Verões quentes e secos. No que diz respeito aos incêndios florestais, os elementos de maior relevância são a temperatura média do ar e a precipitação, não menosprezando a insolação e humidade [2]. Segundo a classificação Thornthwaite o clima de Viseu é classificado como clima mediterrâneo com uma estação seca bem delimitada, já pela classificação de Koppen, o território português é dividido em 2 regiões, uma de clima temperado com invernos chuvosos e Verões secos e quentes (Csa) e outra de clima temperado com invernos chuvosos e Verões secos e pouco quentes (Csb), pela Figura 6 podemos ver que a
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zona florestal em estudo pertence à primeira situação (Csb)[6].
Figura 6 - Clima de Portugal Continental, segundo a classificação de Koppen, fonte [6]
1.5.1. Temperatura Pela análise da Figura 7, para o mês de Novembro podemos ver que a temperatura média para o local em estudo esteve entre os 7,5°C e os 12°C, coincidente com os dados obtidos no local, a temperatura mais baixa registada foi de 6, 3°C às 9h:30m e a mais alta registada às 17h:00m com 11, 8°C
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Figura 7 – Média da temperatura do ar, Novembro de 2010, fonte [6]
1.5.2. Precipitação A precipitação sendo um factor condicionante, torna favorável ou não favorável a ignição, uma vez que condiciona o teor de humidade dos combustíveis finos, afecta o teor de humidade quer no solo como na vegetação, morta ou viva. Como se pode observar na Figura 8, a precipitação vária de local para local, variando também o índice de risco de fogo florestal. Considerando que a precipitação deva ser superior a 2mm dia para ter efeito relevante no teor de humidade dos combustíveis finos e pela observação da Figura 8, pode-se concluir que no mês de Novembro a humidade é significativa nos combustíveis finos, já que, o local em estudo e segundo os dados do Instituto meteorológico a precipitação foi de 75mm a 200mm.
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Figura 8 – Precipitação total, Novembro 2010, fonte [6]
1.5.3. Insolação É de conhecimento geral que a radiação solar contribui para o aquecimento do ar, solo e consequentemente todas as miuçalhas de combustível e que varia conforme a hora do dia e período do ano, bem como se existe neblina ou nevoeiro, condições que reduzem a incidência da radiação solar. Observando a Figura 9, a insolação solar este entre as 120 horas e 140 horas de luz solar incidente na zona de estudo para o mês de Novembro, em consonância com a Figura 6, para o tipo de clima em Portugal Continental. Apesar da radiação solar ser um parâmetro difícil de interpretar sabe-se que o solo e as partículas expostas à radiação directa do sol podem ter uma temperatura superior em 10º a 20ºC, em relação ao ar.
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Figura 9 – Duração total de insolação, Novembro de 2010, fonte [6]
1.5.4. Humidade A humidade que se utiliza para o cálculo de risco de incêndio florestal é a humidade relativa do ar, considerando-se que – “é a relação da humidade absoluta pelo vapor de saturação”. A utilização da humidade relativa deve-se a que a humidade absoluta depende da massa de ar, seca ou húmida, enquanto a humidade relativa apesar de variar com o movimento de massas de ar, é mais significativo com a variação da temperatura, esta varia ao longo do dia como a humidade relativa.
2. Combustíveis florestais e a sua caracterização Todo o material orgânico vivo ou morto susceptível de ignição e ser consumido num incêndio florestal é considerado um combustível florestal. As características do combustível geram mais ou menos libertação de energia, influenciando a propagação do incêndio florestal e a sua intensidade. 14
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O combustível pode ser considerado enumeras vezes como o factor determinante do inicio de ignição e a maior ou menor dificuldade em combater o incêndio florestal, ou mesmo a possibilidade de comportamento extremo. No entanto é a única variável que o ser humano pode controlar, modificar ou actuar. Conhecer o tipo de combustível é poder prever o comportamento de um incêndio florestal, tal como intensidade, velocidade de propagação e risco de propagação por partículas incandescentes. Os combustíveis podem-se dividir em 3 grupos conforme a sua localização, combustíveis de solo, de superfície e de copa. Os combustíveis de solo dizem respeito á manta morta da camada mais á superfície, composta por húmus raízes e matéria em decomposição combustível como troncos podres. Devido a esta camada ser compactada e com um teor de humidade mais elevado, potência uma combustão mais lenta, muitas vezes imperceptível, originando medidas especiais de mitigação em caso da presença deste material. Os combustíveis de superfície compõem-se em vegetação herbácea, arbustiva, resíduos de exploração da mata ou floresta e manta morta recente, que ainda não esteja compactada e pouco alterada pela degradação natural, estes combustíveis são de estrema relevância dado que os incêndios propagam-se especialmente por este estrato. Os combustíveis de copa referem-se as copas das árvores e de todo o material combustível existente nas copas, quer folhas vivas, quer folhas mortas, ou até mesmo ramos finos mortos presentes e susceptíveis de serem consumidos num incêndio. Assim, é importante conhecer as características dos combustíveis em cada estrato, com o intuito de se poder prever o comportamento do fogo. Segundo a Associação para o desenvolvimento da Aerodinâmica industrial [7], existem 6 característica base para descrever o complexo de combustível: I.
Carga ou quantidade de combustível, e é expressa como o peso numa determinada área e usualmente expresso em Kg/m2, pode conter toda a carga de estratos ou ser expressa por estratos.
II.
Tamanho e forma, já que quanto mais finos e espalmadas as partículas de combustível forem mais facilmente o fogo é propagado.
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[RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL] III.
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Compactação, influencia a disponibilidade de oxigénio no espaço entre as partículas de combustível e facilita a transferência de calor, logo quanto mais disponibilidade de oxigénio e transferência de calor maior será a propagação do fogo.
IV.
Continuidade horizontal, caracteriza a distribuição horizontal nos vários estratos, influencia qual o estrato que será culpável pela propagação do fogo.
V.
Continuidade vertical, caracteriza-se pelo alinho vertical da disposição do combustível, influenciando a forma como o fogo chega aos diferentes estratos, quanto maior a continuidade mais a probabilidade do fogo passar do estrato de superfície para o de copa.
VI.
Propriedades químicas, as diferentes composições químicas do material combustível influencia a velocidade de propagação, e a sua intensidade. Um elemento importante na composição são compostos ricos em terpenoides, possuem baixo ponto de ebulição e têm um poder calorífico 2 vezes superior da celulose.
VII.
Humidade de combustível, é uma das propriedades dos combustíveis mais importantes e pode ser definida como a quantidade de água presente num combustível, expressa em percentagem do seu peso seco. Influencia na ignição e na velocidade de combustão. Na ignição a presença da água retarde a temperatura de ignição já que é preciso aquecer a água até ao ponto de fusão. O calor específico da água é de 4,18 j/g/°C e o calor específico médio da vegetação de 1,4 j/g/°C [7]. Se houver elevado teor de humidade nos combustíveis, o calor necessário para proceder á propagação da frente de chamas pode ser superior ao disponível e a propagação das chamas não ocorrerá.
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2.1.Tipos de combustível Os tipos de combustíveis florestais podem ser divididos em 4 grupos, dependendo do tipo de estrato em que o fogo se propaga. Esta distinção refere-se ao combustível superficial já que nos outros estratos a variabilidade de combustíveis florestais é bastante menor. Uma frente de chamas pode estar a ser consumido um ou mais tipos de combustíveis florestais e estes são divididos em: a. Combustíveis herbários, este grupo é constituído por herbáceas e fetos, devido ás suas características sazonais podem atingir cerca de 200% de humidade quando vivas e cerca de 10% depois de mortas, aumentando o seu poder de combustão gradualmente com passar da época estival. Estes combustíveis apresentam elevado volume de superfície em relação a outros, disponibilizando oxigénio abundante para a combustão, atingindo velocidades e intensidades de propagação elevadas. b. Combustíveis arbustivos, espécies arbustivas esclófilas e arvores jovens, até uma altura máxima de 3m e que apresentem continuidade vertical com os combustíveis do solo. Algumas espécies como o tojo, urze e giesta, estão adaptados aos fogos ocorrentes no território português, o facto de possuírem compostos voláteis, relação de volume altas, e boa circulação de ar na superfície de manta morta ou na própria copa, influência a propagação do fogo e sua intensidade, mesmo para teores de humidade de 100%. c. Folhada, constituída por folhas, ramos ou casca caída no solo recentemente, mais ou menos compactada conforme a sua proveniência, com maior compactação do que nos combustíveis herbários e arbustivos. d. Resíduos de exploração devido a exploração silvicultura, resulta da exploração silvícola, com o desbaste e desramação, originando combustível florestal, que arde com grande intensidade, visto na época do verão, poder descer a teores de humidade na ordem dos 6%.
2.2.Teor de humidade dos combustíveis Tal como vimos no ponto 2 - VII, a humidade é teor de água nos combustíveis e expressa-se em percentagem do seu peso seco.
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É um dos elementos com mais influência num incêndio florestal, já que entra em todos os aspectos da combustão. Quanto maior o teor de humidade nos combustiveis mais energia será gasta para evaporar a água e assim fica menos energia para a pirólise e combustão, como vapor a humidade reduz ainda as reacções de combustão por abafamento e arrefecimento na zona de combustão. A análise divide em 2 áreas, conforme os combustíveis estejam mortos ou vivos. Nos combustíveis mortos o teor de humidade vária de acordo com o tipo de material combustível, se retêm mais ou menos água, com a temperatura, vento e humidade relativa do ar, ou seja das condições climáticas, é um processo passivo. Nos vivos, o processo depende de factores fisiológicos da planta, neste caso da folha e o meio envolvente, a variação do teor de humidade depende de mudanças sazonais, desenvolvimentos vegetativos e da capacidade do solo armazenar água que ira depois ser captada pelas plantas. Assim é de esperar uma variação estreita nos combustíveis vivos do teor de humidade e sempre com valores de 70% a 120% [7], no caso de espécies arbustivas e 100% a 150% para o pinheiro bravo e eucalipto, já nos combustíveis mortos o teor de humidade está dependente essencialmente das condições climatéricas, características dos combustíveis e localização deste.
3. Metodologia 3.1.Preparação das amostras Foram recolhidas amostras de folha de eucalipto e pinheiro, morta1 e viva2 respectivamente, urze e tojo no dia 26/11/2010 pelas 9h:30m, 11h:30m, 13h:30m, 15h:30m e 17h:00m. Entre a zona florestal e o laboratório demorou-se em média 15m, e foram mantidas em recipiente próprio selado de alumínio no transporte com intuito de manter os teores de humidade do local de amostragem inalterados ou seja para não perderem humidade e protegidas da luz solar.
1 2
Considera-se folhas caídas no chão Considera-se folhas ainda pressas às árvores
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As amostras foram pesadas na chegada, cada com aproximadamente 5g (Mi), respectivamente, de seguida foram inseridas numa estufa a 105°C ± 2°C durante 24h. Ao fim do período de secagem as amostras foram colocadas no eschicador por um período de 10m, com intuito de obter um peso constante, O peso seco (Mf) foi obtido depois de se terem pesado as amostras do eschicador O teor de humidade na mistura (Mth) é assim expresso como percentagem e calculado de acordo com a expressão seguinte. Mth=
!"!!" !"
∗ 100
Para cada hora em que as amostras foram obtidas, o teor de humidade corresponde à média de 2 réplicas de amostras independentes. Todas as medições foram efectuadas numa balança analítica. As amostras de folha morta de eucalipto e pinheiro foram sujeitas ainda a uma medição rápida do teor de humidade numa balança designada “Balança rápida TH” a 105°C durante 5m.
3.2.Dados Climáticos Os dados foram obtidos através de um dispositivo portátil e correlacionados com uma estação meteorológica situada em Viseu a cerca de 7km do local de amostragem. Viseu, Portugal Tempo Sexta, Novembro 26, 2010
Tabela 1 - Tempo registado perto de Viseu, adaptado de WolframAlpha Intervalo de tempo
Sexta-feira, 26 de Novembro, 2010
Temperatura
(2 a 7) °C média de 4°C
Condições
Nublado, particularmente nublado
Humidade relativa
(55 a 76) % média de 67%
Velocidade do vento
(4 a 8) m/s média de 6 m/s
Precipitação
Não houve
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Dados medidos com aparelho portátil “in situ”. Tabela 2 – dados obtidos com aparelho portátil no local. Horas
Temperatura
Humidade relativa
9h:30m
6,30°C
51,60%
11h:30m
9,50°C
46,10%
13h:30m
9,50°C
47,50%
15h:30m
9,30°C
50,30%
17h:00m
11,80°C
55,50%
Média
9,28°C
50,20%
Apresentação de dados para o dia 26-11-2010, obtidos pelo software WolframAlfa.
Figura 10 – Temperatura para o dia 26-11-2010, adaptado de WolframAlfa.
Figura 11 – Humidade para o dia 26-11-2010, adaptado de WolframAlfa.
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Figura 12 – Velocidade do vento para o dia 26-11-2010, adaptado de WolframAlfa.
Figura 13 – Insolação para o dia 26-11-2010, adaptado de WolframAlfa.
4. Resultados e discussão A tabela com os resultados obtidos no dia 26/11/2010, encontra-se neste documento em anexo. OS valores obtidos para a secagem a 105°C durante 24h, foram comparados com intuito de perceber ou verificar se á alguma correlação ao longo do dia entre os diferentes tipos de combustível, como se pode observar na Figura 14 – Teor de humidade nos combustíveis ao longo do dia, para a secagem a 105°C durante 24h.
21
Humidade rela3va
[RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL] 200% 180% 160% 140% 120% 100% 80% 60% 40% 20% 0%
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folha pinheiro morta folha pinheiro viva folha de eucalipto morta folha eucalipto viva folha urze folha tojo 9h:30m
11h:30m 13h:30m 15h:30m 17h:00m Horas
Figura 14 – Teor de humidade nos combustíveis ao longo do dia, para a secagem a 105°C durante 24h.
Pode-se observar na Figura 14 que o teor de humidade para as folhas mortas é muito inferior ao teor de humidade para as folhas vivas, e que a folha de eucalipto morta é a que apresenta ao longo do dia o menor teor de humidade, em média 16, 36% e a folha de pinheiro morta uma média de 24,21%, traduzindo-se numa diferença de 7,85% em média de teor de humidade. A urze caracteriza-se por um teor de humidade constante ao longo do dia, apresentando um valor médio de humidade em relação aos outros combustíveis e na ordem dos 74,31%. O tojo mostra um comportamento similar à folha de eucalipto viva ao longo do dia, e aproximam-se muito os valores e o teor de humidades, variando em média 7, 68%. A folha de pinheiro viva apresenta os mais elevados teores de humidade, com um valor médio de 181,00%, uma diferença significativa em relação ao tojo e folha de eucalipto viva de 51,50% de teor de humidade. A relação entre a Humidade relativa e a temperatura, mostra um padrão esperado ao longo do dia já que conforme a temperatura ao longo do dia aumenta a humidade relativa diminui e quando a temperatura diminui a humidade relativa aumenta. Assim o entrevado mínimo da humidade relativa coincide com o intervalo máximo da temperatura que é entre as 11h:30m e as 15h:00m, Figura 15.
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10,00
57,00
9,50
Temperatura
53,00
8,50 8,00
51,00
7,50
49,00
7,00 temperatura
6,50
Humidade rela3va
55,00
9,00
47,00
Humidade relaLva
6,00
45,00
9h:30m
11h:30m
13h:30m
15h:30m
17h:00m
Horas
Figura 15 – Relação entre a humidade relativa e a temperatura ao longo do dia.
A relação entre os valores obtidos na balança rápida para a folha morta de eucalipto e pinheiro e a humidade relativa medida no local de estudo estão representados na Figura 16. 54,0%
Humidade rela3va
49,0% 44,0% 39,0% 34,0% 29,0%
folha eucalipto morta
24,0%
folha pinheiro morta
19,0%
Humidade relaLva
14,0% 9,0% 9h:30m
11h:30m
13h:30m
15h:30m
17h:00m
Horas
Figura 16 – Relação entre os teores de humidade obtidos na balança rápida e a humidade relativa do ar.
Pode-se observar que o valor mais baixo da humidade relativa do ar deu-se por volta do 12h:30m. Não explica o comportamento da folha de pinheiro ao qual se mantém estável até essa hora e mas explica depois o aumentando de humidade, enquanto a humidade relativa do ar aumenta.
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Na folha de eucalipto a partir das 12h:30m, conforme a humidade relativa do ar começa a aumentar o teor de humidade no combustível folha de eucalipto diminui, contrariando o que seria espectável. Outros factores estariam a condicionar a diminuição do teor de humidade na folha de eucalipto. Podemos relacionar a humidade e a temperatura com a insolação solar, pois a hora da maior insolação, é coincidente com o aumento da temperatura e a diminuição da humidade relativa do ar, verificável pelas figuras 10 a 13. A velocidade do vento e a percentagem de nuvens não apresenta uma relação directa com a humidade e a temperatura. Esta relação pode ser observada também pelos dados obtidos no local de amostragem. Assim podemos afirmar que o factor principal para a variação do teor de humidade nos finos é relativo á insolação solar para esse dia. Índice de deflagração Apesar das causas de deflagração serem múltiplas e variadas, só algumas destas causas têm condições para se desenvolverem e avançarem, originando grandes incêndios. Assim verificou-se que a conjugação de condições particulares de temperatura e de humidade relativa do ar que origina fogos florestais [8]. Exprimindo esta relação através de uma formula matemática obtivemos o índice de deflagração. IRDIFll =
! !
IRDIFll – Índice de risco de deflagração de fogo florestal, proposto por L. Lourenço [8] T – Temperatura do ar, em °C U – Humidade relativa do ar, em % Para obtermos o índice máximo de risco de incêndio usa-se Tmax e Umin. Para este estudo verificou-se que i índice máximo de deflagração é de 0,2, correspondente a índice baixo de deflagração.
Conclusão Pode concluir que os factores meteorológicos são uma das principais componentes do risco de incêndio florestal, determinam a probabilidade de ignição e sua propagação. Como seria de prever existe uma relação inversa entre a humidade relativa do ar e a temperatura do ar.
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Devido às poucas amostras recolhidas, não foi possível observar um padrão complacente com os resultados esperados, tendo em conta a humidade relativa do ar, com o teor de humidade nos combustíveis, pelo que não foi possível criar um modelo de previsão que pudesse prever a humidade dos combustíveis através das 1ªs amostras do dia na balança rápida. Conclui-se que o risco de incêndio é baixo tendo em conta os teores de humidade nos combustíveis. O índice de deflagração corresponde a 0,2, o que resulta num índice baixo de risco de incêndio florestal. O factor mais relevante para a variação da humidade e temperatura ao longo do dia foi a insolação solar.
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Bibliografia 1. 2. 3. 4.
Pereira, J.S., et al., Incêndios Florestais em Portugal - Caracterização, Impactes e Prevenção. 2006, Lisboa: ISApress. Ministério das Cidades, O.d.T.e.A., Cartografia de Risco de Incêndio Florestal Relatório do Distrito de Viseu, I.G. Português, Editor. 2004. Estatística, I.N.d. Censos 2001. 2009 [cited 2010 27-12-2010]; Available from: http://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=ine_censos_indicador es. Santos, L.,
Caracterização Sócio- Económica dos Concelhos Concelho de Viseu. Direcção Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano, 2004. 5. Instituto Geográfico Portugues, in Instituto Geográfico Portugues. 2010, Instituto Geográfico Portugues. 6. Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, in Instituto de Meteriologia, IP Portugal. 2008, Instituto de Meteorologia. 7. Industrial, A.P.o.D.d.A., Curso sobre o comportamento de um Incêndio Florestal, E. Mecânica, Editor. 2007, Pólo II da Universidade de Coimbra: Coimbra. 8. Lourenço, L., Risco de incêndio florestal em Portugal Continental. informação florestal. Vol. 4. 1994, Lisboa.
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Anexos
Tabela 3 – Dados da secagem a 105°C durante 24h Horas
Folha pinheiro morta
Folha pinheiro vivo
Folha de eucalipto morta
Folha eucalipto vivo
Folha urze
Folha tojo
9h:30m
26,47%
174,84%
19,15%
140,44%
75,09%
152,01%
11h:30m
27,10%
177,12%
15,61%
106,60%
72,40%
112,77%
13h:30m
30,39%
187,44%
14,66%
121,54%
74,06%
129,22%
15h:30m
22,85%
178,67%
12,69%
120,47%
75,57%
116,16%
17h:00m
14,21%
186,95%
19,68%
120,06%
74,46%
137,38%
Tabela 4 – Parâmetros do ar no local Horas
Temperatura
Humidade relativa
9h:30m
6,30
52%
11h:30m
9,50
46%
13h:30m
9,50
48%
15h:30m
9,30
50%
17h:00m
5,80
56%
Tabela 5 – Dados obtidos na balança rápida
Horas
Folha pinheiro base seca
Folha eucalipto base seca
9h:30m
14,38%
13,65%
11h:30m
14,83%
15,03%
13h:30m
15,25%
9,63%
15h:30m
14,88%
9,71%
17h:00m
19,18%
10,37%
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