Paulo Alves

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A infância no interior e o legado de Lina Bo Bardi, os fundamentos da marcenaria artesanal e a inspiração na arte concretista se misturam na obra de Paulo Alves. O resultado é uma legítima expressão do design brasileiro.

A childhood in the countryside and the legacy of Lina Bo Bardi, the fundaments of artisanal joinery and the inspiration found in concretist art. All of these elements mix together in the work Paulo Alves, to create an authentic expression of Brazilian design.


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Paulo Alves

São Paulo 2015








Cores e nomes Amilcar de Castro escreveu ou disse: “se quiser ser original, fale sobre as suas origens”. Quando eu penso na trajetória profissional e artística do Paulo, essa frase do artista mineiro contemporâneo me vem à cabeça. Para mim, o designer-marceneiro, homenageado nesta publicação, sempre será o menino de Jardinópolis/SP. A pequena cidade a 18 km de Ribeirão Preto é a sua cidade natal. ... e não me lembro se foi Lênin ou Lennon que também falou ou escreveu, “se quer ser universal, cante a sua aldeia”. Antes do Paulo se formar arquiteto em São Carlos/SP, ele foi aluno do curso de Arquitetura e do Centro Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto. Foi lá que eu o conheci. Fui seu professor em disciplinas do Núcleo de Teoria e História da Arquitetura. ... e foi ele que, certa vez, nos anos 1980, falou-me sobre a sua cidade ser a terra das mangas, com muitos pomares e uma grande avenida repleta dessas árvores frutíferas. Por isso, ele era um menino “boca amarela”. A grande lembrança que eu guardo do Paulo assistindo às minhas aulas é a sua participação silenciosa e atenta aos assuntos focados. E também do seu desenho. Aliás, lembro-me da nossa conversa sobre a prova de habilidade para transferência à USP de São Carlos. Caiu o pavilhão de Barcelona do Mies van der Rohe. Era o período da “Nova República” no Brasil pós-ditadura. No desejo profundo de apresentar-se e estudar com aqueles alunos da geração do Paulo, estavam nomes como Flávio de Carvalho e Lina Bo Bardi, digamos que, até então, outsiders a uma história oficial da arquitetura brasileira. Quando vim a saber que ele estava trabalhando com a “loba romana” (epíteto de Waly Salomão para Lina), fiquei feliz e pensei com uma baita simpatia como ele poderia crescer ao unir a sua aldeia com o universal e, na metrópole paulistana, expressar as suas origens interioranas. Sem nostalgia. Algo como seu organismo, mesmo. Como ele tem feito há 20 anos. Então, “o azul”, “o vermelhão”, “o sulferine”, as cores que ele cita e recita e que vemos em suas arquiteturas domésticas vêm dessa experiência de trabalho ao lado de Lina, mas também vejo vir das casas populares da poética vernacular que estão nas cidades brasileiras como Jardinópolis, Guariba (minha cidade natal) e tantas e tantas e tantas... Depois de um bom tempo sem vê-lo, lembro-me de enviar por meio de uma pessoa, o disco da Eliete Negreiros, Canção brasileira, em que a cantora interpreta modinhas de muitos tempos. É isso! Se o Paulo fosse um disco, eu o vejo aí.

Lu de Laurentiz 12 13


Colors and names Amilcar de Castro wrote or said: “if you want to be original, talk about your origins”. When I think about Paulo’s professional and artistic career, this phrase from that contemporary artist from Minas Gerais comes to mind. For me, the Designer-joiner, honored in this publication will always be the boy from Jardinópolis/SP. That small town just over 11 miles outside Ribeirão Preto is his hometown. ... I don’t remember if it was Lenin or Lennon who also said or wrote, “if you want to be universal, woo your village”. Before Paulo graduated in architecture in São Carlos/SP, he was a student of Architecture at the Centro Universitário Moura Lacerda, in Ribeirão Preto. It was there that I met him. I was his teacher in subjects taught at the Center for the Theory and History of Architecture. ... and it was he that who once, in the 1980s, told me about his town being a land of mangoes, with many orchards and a broad avenue lined with mango trees, and how that made him a “yellow mouth” boy. The great memory I hold of Paulo attending my classes is of his silent and attentive participation in the subjects discussed. As well as his designs. In fact, I remember our conversation about the aptitude test for transfer to the USP São Carlos University. One of the questions that came up on the exam was about the Barcelona Pavilion by Mies van der Rohe. This was the period of the “New Republic” in post-dictatorship Brazil. In the profound desire to present themselves and study with students from Paulo’s generation were such names as Flávio de Carvalho and Lina Bo Bardi, who were, at that point, outsiders to an official history of Brazilian architecture. When I found out he was working with the “Roman wolf” (an epithet given by Waly Salomão to Lina), I was happy for him and thought with great affection about how he could grow by uniting his own village with the universal village and, in the metropolis of São Paulo, expressing his rural origins. Without nostalgia. Something that he has been doing for 20 years. Therefore, “the blue”, “the vermilion”, “the sulfur yellow”, the colors he mentions and recites and that we see in his domestic architectures come from this experience of working alongside Lina, but it also comes from the ordinary homes, of the poetic vernacular that is to be found in Brazilian towns like Jardinópolis, or Guariba (my own home town) and so many others... After a long time without seeing him, I remember sending him, by way of another person, a record by Eliete Negreiros, Canção brasileira, in which she sings lovely songs from a variety of times. That’s it! If Paulo were a record, that is how I see him.

Lu de Laurentiz


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"Compro arroz para viver e flores para ter pelo que viver." Confúcio

A infância em Jardinópolis está enraizada em Paulo até hoje. Terra da manga e dos meninos de boca amarela. Calor de rachar, sombras frondosas. Casas caipiras. Na pequena cidade paulista, ele tinha aquela liberdade típica do interior, de andar descalço, inventar brincadeiras, lidar com a natureza. A liberdade de não ser vigiado. Tinha também um senso de realidade, das coisas ao seu redor serem palpáveis, como a alface que saía da horta direto para a mesa, a água que descia da caixa d’água aparente e o leite tirado da vaca. Passados tantos anos, Paulo ainda relaciona essas características essenciais de sua origem ao seu processo criativo. “Adoro viajar nas ideias, pensar sem amarras, buscar inspiração na natureza ou em coisas abstratas, mas sempre para transformar em algo concreto.” A família não tinha posses, os pais trabalhavam na roça. A vida melhorou num golpe de sorte, quando o avô materno, Antônio Rossi, que morava junto, teve o carnê sorteado em um programa de TV e ganhou, numa tacada, três Fuscas 0 km. Com o dinheiro dos carros, arrendou um armazém na periferia da cidade e levou a filha Clélia para trabalhar com ele. Ali se vendia de tudo, mantimentos, fósforos, doces, enxadas, chapéus; era uma típica venda do interior. A essa altura, Paulo tinha 6, 7 anos, e à tarde, depois da escola, ajudava a montar e limpar prateleiras e ganhava uns trocados. Poucos anos depois, seus pais conseguiram construir uma casa própria, onde também instalaram o armazém. Foi um aprendizado ver a construção sendo erguida, desde a fundação até o telhado. D. Clélia, que sabia mexer com todo tipo de coisa, ensinou o filho e o encarregou das instalações elétricas.

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No primário e no ginásio, Paulo estudou em uma escola do Sesi. Pelo vínculo com a indústria, ela mantinha atividades voltadas para a formação de mão de obra. A principal delas era uma oficina completa de marcenaria. Sempre que sobrava uma brecha de tempo, o menino gostava de estar ali e produzir pequenos objetos. Os projetos saíam das aulas de desenho técnico e as próprias crianças operavam a maior parte das máquinas – algo improvável de acontecer hoje. “A gente desenhava um porta-joias para o dia das mães, com todas as medidas, ia lá e fazia. Saía meio tortinho, mas saía.” Sempre curioso, Paulo era ótimo aluno. Lembra-se de se impressionar com a história do menino do dedo verde, que transformava tudo que tocava em plantas e flores, tendo, assim, mudado o mundo. Quando acabou o ginásio, foi fazer um curso técnico de contabilidade no colégio das freiras franciscanas. Gostava do assunto, aprendeu suas operações, mas as plantas dos anúncios imobiliários do Estadão, usadas para fazer os embrulhos do armazém, faziam mais sua cabeça. Fez delas uma diversão: recortava, rabiscava em cima, montava uma com outra. E adorava mudar a arrumação dos móveis; a mãe ficava brava com a confusão. O primeiro trabalho formal, já adolescente, foi no almoxarifado de uma oficina de caminhões e tratores. Mas logo surgiu uma vaga de aprendiz no Banco Real, um salto profissional, que lhe abria as melhores perspectivas imagináveis na pequena Jardinópolis. O trabalho bancário serviu para Paulo poupar o máximo e ingressar na faculdade em Ribeirão Preto, novidade absoluta – e pouco compreendida – na família. “Eu não sabia bem o que queria, mas tinha certeza de que não era ficar ali e ser gerente de banco.” Entrou em Engenharia, pois engenheiros já tinha visto vários em sua terra! Eram os responsáveis pelas construções. Mas, por mais que transitasse bem pelas ciências exatas, logo pressentiu que o curso seria técnico demais. Duas semanas depois, estava matriculado em Arquitetura, e a transferência se mostrou acertada. A combinação de teoria, criatividade e prática encantava Paulo. Na imaginação, aquelas pranchetas forradas de plástico verde já começavam a habitar seu futuro. E não tardaram mesmo as primeiras oportunidades na área. Bastou aprender alguns princípios técnicos e passou a atender diversos escritórios locais, recebendo por metro quadrado de desenho. No terceiro ano do curso, Paulo percebeu que precisava ir mais longe e conseguiu uma transferência para a USP de São Carlos. Era uma escola de outro nível, bem mais puxada. De lá, ainda lembra o dia em que teve acesso, pela primeira vez, à essência da obra de Lina Bo Bardi. Foi num ciclo de palestras de Marcelo Suzuki, arquiteto que trabalhava com Lina e era também professor da universidade. Naquele momento, Paulo sentiu que tinha achado um verdadeiro sentido para a profissão. Uma linha de raciocínio humanista, que levava a


criatividade ao extremo. Uma forma legítima de pensar a arquitetura e a própria vida. “Pirei com as ideias da Lina; botei na cabeça que ia para São Paulo trabalhar com ela.” E foi. Uma tensão interna, que mistura desconfiança e deslumbramento, sempre marca a chegada dos ‘caipiras’ à metrópole. Com Paulo não foi diferente. Com contrato de aluguel fiado por Mayumi Watanabe, professora de projeto da faculdade e muito amiga de Lina, instalou-se em um pequeno apartamento no Centro, perto do Teatro Municipal. Com a ajuda dela e de Suzuki, esperava chegar à maestra italiana; mas logo soube que ela estava doente, teria de esperar. Passaram-se duas semanas e então veio a infelicidade: Lina Bo Bardi havia falecido de véspera. Na época, o escritório dela estava tocando a obra do Palácio das Indústrias, que seria a nova sede da Prefeitura de São Paulo, no Parque Dom Pedro II. O escritório era dentro do canteiro de obras, como Lina preferia. Mais algumas semanas e Paulo foi lá tentar a sorte, ver se pegava um rescaldo daquela alma criativa. A obra estava caminhando para o fim, mas ele conseguiu uma posição de assistente para os últimos meses de trabalho. E, neste caso, o fim foi só o começo. Interrompidos os trabalhos, os três arquitetos assistentes – além de Paulo, Giancarlo Latorraca e Adriana Levisky – foram convidados para uma nova função, dessa vez no Instituto Bardi: organizar todo o acervo de Lina para um grande projeto de livro e exposição sobre sua obra. De repente, o rapaz recém-chegado a São Paulo se viu passando os dias na mítica Casa de Vidro, acessando projetos, esboços, croquis, aquarelas, escritos etc., etc., etc., com uma liberdade que nunca ninguém havia tido. Eles chegavam às 9h e não raro ficavam até de madrugada para dar conta de revirar e organizar aquele tanto de preciosidades, e os materiais brotavam do quarto de empregada, sob as camas, de cima dos armários. “A liberdade com que ela desenhava me inspirou muito. Os primeiros desenhos pareciam impossíveis de construir, mas você via pelas evoluções do projeto que ela ia, ia, ia, e chegava aonde queria. Aquilo virou uma grande escola para mim.” Foram quatro anos rodando o Brasil e outros países com a exposição. Ao mesmo tempo, houve uma aproximação natural de Paulo com a Baraúna, marcenaria e loja de móveis pertencente ao mesmo grupo de arquitetos discípulos de Lina, que a assessoravam nos projetos e eram ligados também ao Instituto Bardi. O trabalho criativo de Lina, bem como o desse grupo, passava pela arquitetura e pelo design, e essas referências acabaram por desvendar uma nova dimensão da profissão para Paulo. Projetar móveis não só era um ofício compatível com sua formação como também um jeito de pensar a arquitetura, organizar e dar identidade aos ambientes a partir do mobiliário.

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Com a irmรฃ Fia em Jardinรณpolis, 1971 With his sister Fia in Jardinรณpolis, 1971


Paulo trabalhou nove anos na Baraúna, e ali deu os primeiros passos em sua trajetória como designer-marceneiro. Tornou-se sócio da empresa, gerenciava suas operações e a viu crescer, ampliando o fluxo de trabalhos, o quadro de funcionários e os pontos de venda em todo o Brasil. Ao mesmo tempo, aprimorou seu conhecimento técnico e lapidou caminhos criativos que depois foram elevados a outra potência, mas de alguma forma marcam, ainda hoje, sua obra. As primeiras peças que desenvolveu – bandejas e fruteiras com pedaços de madeira descartada de outras linhas de produção – já apresentavam um desses fundamentos: o uso racional dos materiais. O Buffet Cercadinho foi um divisor nesse sentido, pela forma como enfatiza essa preocupação sustentável, com um painel frontal formado por pedaços residuais de madeiras diversas e, ao mesmo tempo, por ser um produto realmente acabado em termos estruturais. “Ele representa uma vertente do meu trabalho de design muito relacionada com a arquitetura. O vão livre gera certa surpresa no primeiro momento e sugere leveza para aquela peça pesada. Ao mesmo tempo, as linhas do móvel são simples, sem nenhum excesso, mas bem aparentes. E o que sobressai é a combinação dessa diversidade de espécies de madeiras que nossas florestas oferecem.” Desde que o Cercadinho foi lançado, Paulo desenhou uma série de peças a partir dessa mesma combinação: linhas simples e retas e a presença aparente das características naturais da madeira. Esse aspecto da madeira nua, sem disfarces, também se expressa em outras linhas que surgiram posteriormente. O desdobramento incessante de alguns princípios criativos não só marca toda a trajetória de Paulo como é o que dá identidade ao seu trabalho. Em algum momento, eles reaparecem, convergem, se reagrupam. Ao mesmo tempo, é interessante notar como a fidelidade a algumas linhas e soluções em sua obra é pontuada por uma evolução contínua e diversificada do conjunto ao longo dos anos, fruto da inquietude do designer. Esse amadurecimento acontece especialmente após Paulo fundar sua própria marcenaria, em 2004 – a Marcenaria São Paulo. Ela foi instalada em um galpão na Rua do Lavapés, no Centro de São Paulo. As primeiras máquinas eram antigas, todas manuais, compradas de um marceneiro suíço aposentado. Ainda hoje, elas funcionam a serviço da marcenaria e marcam seus processos, preservando uma mão de obra essencialmente artesanal. No início, o principal eram os móveis sob medida, o que no meio se conhece por marcenaria especial. Mas Paulo realizava também peças para outros designers, e continuou a desenvolver suas linhas próprias, distribuindo a produção em lojas pelo País.

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A Rua do Lavapés, antiga rota de entrada de tropeiros em São Paulo, distante pouco mais de 1 quilômetro da Praça da Sé, tornou-se um endereço estratégico para o galpão: era barato e de fácil acesso tanto para a região do Gasômetro, onde são comprados insumos para o trabalho com madeira, quanto para as regiões onde habita, na maioria das vezes, o público consumidor da alta marcenaria na cidade. O endereço calhou também com a vontade de ocupar o Centro; além do primeiro apartamento, Paulo morou no Copan e em outro endereço na região. “Isso é algo que se faz pouco em São Paulo, mas se você tentar alugar algo perto da Praça do Duomo, é dos lugares mais caros de Milão. Em qualquer cidade que se preze é assim.” Hoje, depois de alugar mais um galpão contíguo, Paulo construiu sua casa ao lado da marcenaria, e mora no Lavapés. Na Marcenaria São Paulo, a relação com os clientes seguiu a mesma dinâmica anterior, girando quase sempre na base do boca a boca e da preservação de longas relações. “A Marcenaria fez 10 anos, mas eu tenho clientes que atendo há mais de 15. Acho que isso está relacionado a saber ouvir, deixar as pessoas expressarem o que estão querendo.” Curiosamente, em alguns casos, essa afinidade leva o designer de volta a sua formação original, convidado a avançar em soluções que vão além da marcenaria, por conta de sua capacidade de organizar de forma criativa e funcional os ambientes. O resultado é uma arquitetura como extensão do mobiliário. Nos projetos de design ou de arquitetura, a linguagem de Paulo se evidencia. Além das estruturas aparentes, encaixes e cavilhas à mostra, ele gosta de experimentar madeiras diversas, inclusive aquelas muitas vezes consideradas ordinárias, que merecem ser revistas e revalorizadas. É avesso a tingimentos e qualquer subterfúgio que esconda as características naturais da madeira. Preza uma marcenaria sempre rigorosa, confortável, inteligente, em linha com a tradição forjada pelos grandes mestres do móvel moderno no País. “Para mim, mais abrangente que o raciocínio construtivo é o desejo de revelar a essência e o potencial dessa matéria-prima, jogar luz sobre uma riqueza tão grande e mal explorada no Brasil.” A própria história de Paulo forjou essa orientação criativa. Um dia disseram a ele que seu sobrenome, Alves, vinha da palavra árvore. Ele estava com aquilo na cabeça quando recebeu a encomenda de um móvel para a sala de imprensa do São Paulo Fashion Week; a associação acabou inspirando a estante Floresta e depois sua emblemática série de móveis baseados em desenhos da natureza. Com o tempo, descobriu que a origem


do nome estava furada, mas pouco importa. A intuição já tinha cumprido seu papel. “Naquele momento, aquilo funcionou como um gatilho afetivo para mim. Mas hoje, depois do sucesso dessa série, percebo que ela atinge um território do afeto coletivo. Quem não gosta de árvore, né? E essa questão afetiva é fundamental. É inclusive um aspecto importante da sustentabilidade do móvel, porque a pessoa vai cuidar dele, ele não será descartado.” Quando desenhou a estante Floresta, a ideia foi expressar a natureza de maneira concretista – a arte concreta e seus jogos de cena estão entre as suas influências estéticas mais presentes. Os pedaços de madeira das laterais eram autônomos; sem se tocar, apenas sugeriam o desenho orgânico de árvore. Nos desdobramentos da série, o conceito se amplificou em outros exercícios estruturais, a partir dos desenhos de galhos e raízes, lições de engenharia da natureza. “Em móveis como as mesas Guaimbê, o desenho parece aleatório, mas cada haste de madeira tem uma função bem definida ali. Se mudar um ângulo, vou precisar usar um sarrafo mais grosso ou uma ligação metálica.” A série se tornou uma oportunidade de despertar, a partir do design, o sentimento de sustentabilidade no público. Além disso, um de seus objetivos práticos é promover o aproveitamento total de retalhos de madeira. Ao lado das emblemáticas peças de pésraízes, a premiada cadeira Atibaia – desenvolvida em parceria com Luiz Suzuki, seu sócio na Marcenaria São Paulo – expressa um movimento inverso no mesmo raciocínio, com a depuração dessa estética em seu desenho mínimo. Apenas nos últimos anos, a partir do showroom que Paulo instalou na Vila Madalena – espaço importante para mostrar sua obra em conjunto –, e do fortalecimento do seu catálogo autoral, a equação dos trabalhos sob encomenda tem se invertido. Dar uma nova lógica ao negócio era fundamental para expor e vender mais as coleções e estabelecer uma escala na marcenaria, que leva a um aproveitamento de tempo, recursos e trabalho mais apropriado. E para aparecer como autor. “Cheguei num amadurecimento que acho mais importante me expressar, fazer produtos e abrir novas fronteiras para eles.” O caminho de afirmação autoral traçado por Paulo Alves é consistente com sua trajetória. Com a infância no interior, com a busca pela brasilidade de Lina, com a sofisticação exigida pelo mercado de alto padrão que consome a alta marcenaria no Brasil. A madeira bem trabalhada, de forma inventiva e elegante. Seu trabalho nos oferece um retrato legítimo, em todos os aspectos, do bom design brasileiro contemporâneo.

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Marcenaria BaraĂşna, 1998 Marcenaria BaraĂşna, 1998


"I buy rice to live And flowers to have something to live for." Confucius

The childhood spent in Jardinópolis is ingrained in Paulo until today. Land of mangoes and boys with yellow-stained mouths. Blistering heat, leafy shade. Simple houses. In the small town in the state of São Paulo, he enjoyed the freedom typical of a rural lifestyle, of walking barefoot, making up games, living in close contact with nature. The freedom of not being watched. There was also a sense of reality, of the surroundings being palpable, like the lettuce that came straight from the vegetable garden to the table, the water that flowed from the water cistern that could be seen outside, and the milk drawn from the cows. After all these years, Paulo still associates these essential characteristics of his roots to his creative process. “I love to let my thoughts run away with ideas, to think with no boundaries, to seek inspiration in nature or in abstract things, but always transforming them into something concrete.” The family was poor and his parents were agricultural workers. Life suddenly got better following a stroke of luck when his maternal grandfather, Antônio Rossi, who lived with the

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family, had his ticket drawn on a TV program and won three brand new VW Beetles in a single go. With the money from the cars, he leased a store on the outskirts of the town and took his daughter, Clélia, to work with him. There they sold a bit of everything, foodstuffs, matches, candies, hoes and hats; it was a typical countryside store. By this time, Paulo was about 6 or 7 years old and in the afternoons, after school, he would help to fill and clean the shelves and make himself a little bit of money. A few years later, his parents managed to build their own house, to where they moved the store. It was quite a learning process to see that house being built, from the foundations to the roof. ‘Dona’ Clélia, who knew how to do all sorts of things, taught her son and made him responsible for the electrical installation. In primary school and high school, Paulo studied in a school run by the SESI (Industrial Social Services). Because of its links with the industry, the school offered complementary activities aimed at workforce qualification, and had a full joinery workshop. Whenever he had some spare time, the boy liked to be there, making small objects. The designs came from the drafting lessons and the children themselves were allowed to operate most of the machines, something very unlikely to happen nowadays. “We would design a jewelry box for mother’s day, with all the measurements, go there and make it. It would come out a bit wonky, but we would get it done.” Always curious, Paulo was an excellent student. He remembers being impressed by the story of the boy with green thumbs, who transformed everything he touched into plants and flowers, and how with that he changed the world. When he finished high school, he attended a technical course in accountancy at a school run by Franciscan nuns. He enjoyed the subject and learned the operations, but the floor plans shown in the real estate adverts in the Estadão newspaper, used as wrapping paper at the store, had more appeal to him. They became his source of fun: he would cut them out, draw over the top, join one to another, and he loved to change the layout of the furniture, leaving his mother angry at the mess. His first formal job, as an adolescent, was in the supply room of a mechanical workshop for trucks and tractors. But a position soon opened up as a trainee at Banco Real, a professional leap that would make way for the best possible perspectives in the small town of Jardinópolis. Even so, the job at the bank served mostly for Paulo to save as much as possible and enter college in Ribeirão Preto, an absolute – and not very well understood


– first in the family. “I didn’t really know what I wanted, but I was sure that it wasn’t staying there and becoming a bank manager.” He entered Engineering because he had already seen several engineers from where he was born. They were the ones who were responsible for the buildings. But, even though he did well in the exact sciences, he soon felt that the course would be too technical. Two weeks later he signed up to study Architecture, and this switch proved to have been the right decision. The combination of theory, creativity and practice enthralled Paulo. In his imagination, those drawing boards covered in green plastic were already part of his future. It was not long before the first opportunities in the area began to appear. He had just had to learn a few basic principles before starting to work for a number of local firms, getting paid per square meter of design. In the third year of the course, Paulo realized he needed to go further and managed to get a transfer to the USP campus in São Carlos. This school was on a totally different level, much more difficult. From there, he still remembers the day he had access, for the first time, to the essence of the work of Lina Bo Bardi. It was in a round of lectures given by Marcelo Suzuki, an architect who worked with Lina and was also a professor at the faculty. At that moment, Paulo felt he had found a true meaning for the profession. A line of humanist reasoning, that took creativity to the extreme. A legitimate way of thinking about architecture and about life itself. “I flipped out with Lina’s ideas, and got it into my head that I was moving to São Paulo to work with her.” And so he did. An internal tension, a mixture of mistrust and awe, always accompanies the arrival of the ‘country folk’ to the big city. With Paulo it was no different. With a rental contract underwritten by Mayumi Watanabe, one of the project and design teachers at USP São Carlos and also a great friend of Lina’s, he moved into a small apartment in the city center, close to the Municipal Theater. With help from her and from Watanabe and Suzuki, he hoped to get to the Italian maestra; but soon found out that she was unwell and he would have to wait. Two weeks went by. Then, the sad news: Lina Bo Bardi had passed away. At that time, her offices were in charge of the work on the Palácio das Indústrias, which was to be the new seat of the Town Council for São Paulo in the Parque Dom Pedro II area. The office was at the worksite, as Lina had preferred. After a few weeks, Paulo went there to try his luck, to see if he could still pick up something from that creative soul. The work was nearly at an end, but even so he managed to get a job as an assistant for the final months.

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Marcenaria SĂŁo Paulo, 2014 Marcenaria SĂŁo Paulo, 2014


And, in this case, the end was just the beginning. At the end of the work, the three assistant architects – – the other two were Giancarlo Latorraca and Adriana Levisky – were invited to take on a new role, this time at Instituto Bardi: to organize all of Lina’s collected designs and projects for a major endeavor to put together a book and an exhibition about her work. Suddenly, the young man recently arrived in São Paulo found himself spending his days in the mythical Casa de Vidro (Glass House), accessing projects, rough drawings, sketches, watercolors, writings, etc etc etc with a freedom that nobody before him had enjoyed. They would arrive at 9 am and it was not uncommon for them to stay until after midnight in order to cope with looking through and organizing such abundant treasure, which kept flowing from the maid’s quarters, from under the beds, from the top of the wardrobes.... “The freedom with which she drew inspired me greatly. The first designs seemed impossible to build, but you could see, troughout the evolutions that she would keep going until she got where she wanted to be. That was a great lesson for me.” Four years were spent travelling around Brazil and other countries with that exhibition. At the same time, there was a natural coming together between Paulo and Baraúna, a joinery and furniture shop belonging to the same group of architects disciples of Lina, who had assisted with her projects and were also linked to the Instituto Bardi. The creative work of both Lina and of this group moved through architecture and through design, and these references ended up unveiling a new dimension of the profession for Paulo. Designing furniture was not just a craft in keeping with his education, but also a way of thinking about architecture, of organizing and giving identity to spaces through furniture. Paulo worked for nine years at Baraúna and there he took his first steps on his path as a designer-joiner. He became a partner in the company, managed their operations and witnessed their growth, expanding their workflow, increasing the number of staff and their sales outlets throughout Brazil. At the same time, he enhanced his technical knowledge and lapidated creative paths that were later elevated to another level, but that somehow still mark his work, even today. The first pieces he designed – trays and fruit bowls made from bits of scrap wood from other lines of production – already presented one of these fundaments: the rational use of materials. The Cercadinho sideboard represented a dividing line in this sense, due to the way in which it emphasizes his concern for sustainability, with a front panel made from leftover scraps of various woods and, at the same time, it is a truly well finished piece in terms of structure.

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“It represents a line of my work in design that is strongly related to architecture. The open span at the base generates a certain surprise at first and suggests a levity in that heavy piece. At the same time, the lines of the sideboard are simple, without excesses, but are very visible. What stands out is the combination of this diversity of species of wood offered by our forests.” Since creating the Cercadinho sideboard, Paulo has designed a series of pieces based on this same combination: simple, straight lines and the visible presence of the natural characteristics of the wood. This aspect of the bare wood, with nothing to disguise it, is also expressed in other lines that came along later. The incessant unfolding of certain creative principles not only marks Paulo’s entire trajectory, but also brings an identity to his work. At some point, they reappear, converge and regroup. It is also interesting to note how the faithfulness to some lines and solutions in his work is punctuated by an ongoing and diversified evolution over the course of time, as a product of the designer ’s restlessness. This maturing happened especially after Paulo founded his own joinery firm, in 2004 – the Marcenaria São Paulo. It was set up in a warehouse on Rua do Lavapés, in the center of São Paulo. The first machines were old, all manual, bought by Mr. Victor, a retired Swiss joiner. Even today, the machines still work at the service of the joinery shop and feature in its process, with the preservation of an essentially artisanal labor. In the beginning, the main breadwinner was custom, made-to-measure furniture. But Paulo also executed pieces for other designers and continued to develop his own lines, distributing his production in stores throughout the country. Rua do Lavapés, a former entry route for cattle drovers coming in to São Paulo, just over a kilometer away from the Praça da Sé square, became a strategic address for the warehouse: rent was cheap and the location offered easy access not only to the region of Gasômetro, where he could buy supplies for work with wood, but also to many of the districts inhabited by the public that consumes high-end joinery in the city. The address also tied in well with his desire to live in the city center; after moving out of his first apartment, Paulo has lived in the Copan building and at another address in the same area. “This is something that is not commonly done here in São Paulo, but if you try to rent somewhere close to Piazza del Duomo square, you’ll quickly realize that is one of the most expensive areas of Milan. That’s the way it is in any self-respecting city.” Today, after renting another adjoining warehouse, Paulo built his house alongside the joinery shop and now lives on Rua do Lavapés.


At Marcenaria São Paulo, the relationship with the customers follows the same dynamic as before, almost always relying on word-of-mouth and on the preservation of long-standing relationships. “The joinery is 10 years old, but I have customers that I have been working with for over 15 years. I think it has something to do with knowing how to listen, allowing people to express what they want.” Curiously, in some cases, this affinity leads the designer back to his original formation, inviting him to move forward in solutions that go beyond joinery due to his capacity to organize spaces on a creative and functional basis. The result is an architecture as an extension of the furniture. The language that Paulo uses is evident in his design or architecture projects. In addition to visible structures, embedding and pegs, he likes to experiment with different woods, including those that are often considered too ordinary, but that deserve to be revisited and revalued. He is averse to staining and to any subterfuges that hide the natural characteristics of the wood. He cherishes joinery that is always meticulous, comfortable and intelligent, in keeping with the tradition forged by the grand masters of modern furniture in Brazil. “For me, more important than the constructive reason, is the desire to reveal the essence and potential of this raw material, to shed light on such a vast and poorly exploited wealth in Brazil.” It was Paulo’s own story that forged this creative orientation. One day someone told Paulo that his surname – Alves – came from the word for tree (árvore, in Portuguese). He had that stuck in his mind when he received the order for a piece of furniture for the São Paulo Fashion Week press room. The association ended up serving as inspiration for the Floresta stand and later for his emblematic series of furniture based on drawings of nature. He later discovered that that explanation for the origin of his name was not correct, but that matters not. Intuition had done its work. “In that moment, the notion served as an emotional trigger for me. But today, looking at the success of that series, I can see that it touches a territory of collective feeling. Who doesn’t like trees, right? And this question of affection is fundamental. It is, in fact, an important aspect of the sustainability of furniture, because people will look after the pieces, they won’t get thrown away.” When he designed the Floresta shelf stand, the idea was to express nature in a concretist manner – concrete art and its play on scenes is one of the aesthetic influences most present in his work. The pieces of wood on the sides were independent; not touching, they merely suggest the organic design of a tree. In the unfolding of the series, the concept expanded into other structural exercises, based on drawings of branches and roots, lessons

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in engineering from nature. “In pieces of furniture like the Guaimbê tables, the design appears to be random, but each rod of wood has a well-defined function. If I were to change an angle, I would need to use a thicker slat or a metal connector.” The series turned into an opportunity to use design to trigger the sense of sustainability in the public; besides this, one of his practical objectives is to promote total use of leftovers of wood. Alongside the emblematic piece with root feet, the award-winning Atibaia chair – developed together with his business partner Luiz Suzuki, his business associate in the Marcenaria São Paulo – it expresses an inverse movement within the same reasoning, with the distillation of this aesthetics in its minimal design. It is only in the last few years, with the showroom that Paulo opened in the district of Vila Madalena – an important space to show the collection of his work as a whole –, and through the strengthening of his own portfolio, that the equation of the made-to-measure jobs has been inverted. It was fundamental to bring a new logic to the business in order to better display and sell the collections more and to establish a scale at the shop, leading to a better use of time, resources and labor. And to show up as the author. “I have reached a level of maturity where I feel it is more important for me to express myself, make products and open new frontiers for them.” The path toward authorial affirmation followed by Paulo Alves is consistent with his trajectory. With his small-town childhood, with the quest for Lina’s Brazilianity, with the sophistication demanded by the high-level market that consumes top-quality joinery in Brazil. The result suggests a natural path – between other possibles and presents – for Brazilian design. Wood that is worked beautifully, in an inventive and elegant manner. His work offers us a portrait, legitimate in every way, of good contemporary Brazilian design.




A admiração que transforma Para anunciar uma nova coleção de móveis, Paulo Alves espalha folhas sobre o piso de sua loja, na Vila Madalena. O ritual não tem a ver com promessas tampouco com superstições. É um jeito carinhoso que ele encontrou de homenagear a arquiteta inspiradora de toda a sua obra: Lina Bo Bardi. Em 1959, a italiana, naturalizada brasileira, cobriu de folhas de eucalipto o chão da marquise onde hoje está o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Ela organizava a exposição Bahia no Ibirapuera e quis representar um terreiro no local. A admiração de Paulo por Lina começou quando ele ainda cursava arquitetura na USP de São Carlos. Era 1991 e Marcelo Suzuki, um dos colaboradores dela, professor da faculdade. “O Marcelo fez uma palestra emocionante para os estudantes mostrando várias imagens dos projetos. Eu pirei. Naquele dia, decidi que viria a São Paulo trabalhar com a Lina”, conta. Não deu tempo. Um mês depois da mudança, ela faleceu. Nem isso, porém, desanimou o jovem profissional, que decidiu ir até o escritório improvisado no canteiro de obras do Palácio das Indústrias – última atuação de restauro da arquiteta – para pedir estágio à equipe que trabalhava ali. Seis meses depois, com o término do trabalho, Paulo envolveu-se na produção do livro Lina Bo Bardi, publicado em 1993. Foi a oportunidade de ouro para vivenciar o universo da Casa de Vidro, morada de Lina e do marido, Pietro Maria Bardi, desde 1951, no bairro do Morumbi. “Tive uma experiência fascinante. Eu e meus colegas de pesquisa descobrimos riquezas antes nunca vistas: aquarelas, anotações, desenhos, rolos de papelmanteiga com edifícios e casas jamais construídos”, recorda-se. Esse mergulho no acervo da arquiteta, que também planejou móveis e teve uma marcenaria, transformou o olhar de Paulo Alves e o aproximou do design de mobiliário. “A influência dela na minha criação se manifesta na maneira como me encanto pelo popular, no respeito que tenho pela natureza e na forma de conceber: nunca partindo de uma folha em branco, mas experimentando, trocando ideias com os operários e aprendendo com eles”, diz. A simplicidade e a elegância do traço são outras características dela que Paulo tomou como referência. “A única vez que eu vi a Lina foi durante uma conferência de estudantes no Anhembi. Ela encerrou a palestra, dizendo que os jovens precisavam entender o conceito da simplificação. Aquilo bateu em mim, mas só mais tarde fui entender o que significava atingir a essência em poucas linhas”. Quem conhece os móveis de Paulo Alves sabe que ele entendeu bem o recado.

Regina Galvão

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Admiration that transforms To announce a new furniture collection, Paulo Alves spreads leaves over the floor of his store, in the neighborhood of Vila Madalena. This ritual has nothing to do with promises and nor with superstitions. It is an affectionate way he encountered of honoring the architect responsible for inspiring all of his work: Lina Bo Bardi. In 1959, the Italian-born citizen of Brazil covered the floor of the marquee that is now the location of the São Paulo Museum of Modern Art with eucalyptus leaves. She was organizing the exposition entitled Bahia no Ibirapuera and wanted to represent a terreiro (a traditional space for Afro-Brazilian religious ceremonies) there. Paulo’s admiration for Lina began when he was still studying architecture at the USP São Carlos University. The year was 1991 and Marcelo Suzuki was one of her coworkers and a professor at the university. “Marcelo gave a thrilling lecture to the students, showing images from a number of projects. I flipped out. On that day, I decided I would move to São Paulo and work with Lina”, he says. There wasn’t time. One month after he moved, she died. Not even that, however, was enough to dishearten the young man, who decided to go to her make-shift office at the worksite for the Palácio das Indústrias – the last restoration job taken on by the architect – to ask for the opportunity to an internship with the team that was working there. Six months later, when the work came to an end, Paulo got involved in the production of the book Lina Bo Bardi, published in 1993. That was his golden opportunity to experience the universe of the Casa de Vidro (Glass House), where Lina and her husband, Pietro Maria Bardi, had lived since 1951, in the neighborhood of Morumbi. “I had a fascinating experience. My research colleagues and I discovered riches such as we had never seen: watercolors, notes, drawings, rolls of greaseproof paper with buildings and houses that have never been built”, he recalls. This immersion into the private collection of the architect, who also designed furniture and had a joinery shop, transformed the vision of Paulo Alves and brought him closer to furniture design. “Her influence on my creation manifests itself in the way I am captivated by things with common appeal, in the respect I feel for nature, and in the way I conceive: never starting with a blank page, but experimenting, exchanging ideas with the workers and learning from them”, he says. Simplicity and elegance of line are other characteristics of hers that Paulo takes as a reference. “The only time I saw Lina was during a student conference at Anhembi. She ended the lecture by saying that young people needed to understand the concept of simplification. That resonated with me, but it was only later on that I came to understand what it meant to achieve essence in just a few lines”. Anyone who is familiar with the furniture of Paulo Alves knows that he clearly got the message.

Regina Galvão


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Buffet Cercadinho, estrutura em tauarĂ­ e portas em madeiras variadas, 2003 Cercadinho sideboard, structure in tauari wood and doors in a variety of woods, 2003


As linhas retas, que marcam os primeiros tempos da produção de Paulo Alves, guardam referências da formação do arquiteto na Escola de Engenharia de São Carlos e das primeiras impressões do designer quando foi morar na cidade de São Paulo. Na linha Paulista, o próprio nome expõe esse diálogo. O uso de formas limpas, com um desenho aparente e contido, se contrapõe ao desejo de envolver o observador, explícito nas estruturas em balanço e nas variações de proporção. Posteriormente, tais princípios reaparecem em novas linhas e peças, combinando-se a outros aspectos criativos e conceituais de sua produção. The straight lines that mark the early production of Paulo Alves hold reference to his training as an architect at the Escola de Engenharia de São Carlos and to the designer's first impressions from when he came to live in the city of São Paulo. In his Paulista line, the name itself exposes this dialogue. The use of clean shapes, with a visible and contained design, stands in counter position to the desire to envelop the observer, explicit in the overhanging structures and the variations in proportion. Later on, these principles reappear in new lines and pieces, combining with other creative and conceptual aspects of his work.

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Apartamento em Higien처polis, S찾o Paulo. Projeto em parceria com Carla Bergamini, 2005 Apartment in Higien처polis, S찾o Paulo. Project in partnership with Carla Bergamini, 2005


Buffet Paulista, paricĂĄ compensado de reflorestamento com topo aparente e laminado melamĂ­nico branco, 2005 Paulista sideboard, re-forested parica plywood with visible top and white melamine laminate, 2005 42 43


Apartamento no Itaim Bibi, SĂŁo Paulo, 2006 Apartment in Itaim Bibi, SĂŁo Paulo, 2006


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Estante modulรกvel, 2005 Modulated freestanding shelf rack, 2005


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Cozinha para Regina Faria, com acabamento que originou a linha Zizi, 2010 Kitchen for Regina Faria, with the finish that gave origin to the Zizi line, 2010


Banco Charlotte, eucalĂ­pto e cumaru, produzido pela Butzke, 2012 Charlotte bench, eucalyptus and cumaru wood, produced by Butzke, 2012 50 51



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Daybed Charlotte, eucalĂ­pto e cumaru, produzido pela Butzke, 2013 Charlotte Daybed, eucalyptus and cumaru wood, produced by Butzke, 2013


Mesa de centro Vilanova, cabreĂşva parda, 2009 Vilanova coffee table, cabreuva parda wood, 2009 Banco Muxarabi, peroba mica, 2010 Muxarabi bench, peroba mica wood, 2010 54 55




Banco Tato, catuaba ou pinus elliottii, 2012 Tato bench, catuaba wood or elliotis pine, 2012


Cadeira desmontรกvel Bo, pinus elliottii, 2012 Bo collapsible chair, elliotis pine, 2012 58 59



Cadeira Paty, ipê ou peroba rosa de demolição, palhinha e couro, 2010 Paty chair, reclaimed ipe wood or peroba rosa wood, straw and leather, 2010 60 61



Cadeira Glรณria, cumaru, 2009 Glรณria chair, cumaru wood, 2009 62 63


Banco Largo da Glรณria, catuaba, 2008 Largo da Glรณria bench, catuaba wood, 2008


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Mesa Nelson, peroba rosa de demolição, 2005 Nelson table, reclaimed peroba wood, 2005


Desenvolvida por Paulo em 2002, a solução do detalhe fresado garante o conforto no acesso à mesa e revela a textura do topo do compensado. A partir de então se tornou uma marca de seu design 66 67


Designed by Paulo in 2002, the solution using a milled finish ensures comfort in the access to the table and reveals the texture of the plywood top. From this point on this aspect became a mark of his design



Biblioteca do Sesc Bom Retiro, São Paulo, 2011 SESC Library Bom Retiro, São Paulo, 2011


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Linha componĂ­vel desenvolvida para o Sesc Sorocaba, 2012 Composable line designed for the SESC Sorocaba, 2012

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Banco Dominรณ, Sesc Sorocaba, 2012 Dominรณ bench, SESC Sorocaba, 2012



Residência de Nando Reis, São Paulo, 2007 Nando Reis’ residence, São Paulo, 2007


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A casa que habito Conheci o Paulo quando ele ainda era da Baraúna e fez as peças que a gente precisava para mobiliar nossa casa. A forma como ele interpretou, realizou e entregou aquilo foi bem mais do que satisfatória, era algo materializante do que a gente realmente queria. Depois, quando, em outro momento, comprei uma casa e precisei de alguém para fazer a reforma, lembrei do jeito com que o Paulo havia transformado minhas intenções em objetos concretos. Importante dizer que, antes, nos tornamos amigos. Eu havia visitado o apartamento onde ele morava e lá pude ver exemplificada mais uma vez a sua lógica construtiva, que avança além do mobiliário, tratando questões mais conjunturais com respeito à moradia. E com uma ideia de beleza que bate fundamentalmente com o que eu acredito e espero de uma habitação. Para mim, a beleza está acima de tudo, embora a beleza da beleza se dê por meio da certeza que você tem e não tem quando você a toca. Nesse sentido, o móvel é uma ótima forma de vermos nossos sonhos dissolvidos em matéria. Ao longo do processo complexo que foi fazer a reforma da nova casa, eu necessitava transformar essa busca em uma realidade arquitetônica, traduzida através das variantes da minha própria vida. A gente trabalhou com essa ideia de que a casa se faz de dentro para fora, para abrigar quem mora. A casa é grande, com espaços amplos, que foram sendo preenchidos. É a casa em que moro, e nela convivo com as infinitas irresoluções que há entre o desejo da ocupação e o contorno daquilo que é o seu involucro. Gosto muito da casa que foi desenhada pelo Paulo, que contém os móveis que ele também desenhou. Dentro dela eu vivo uma vida real, encontrando móveis absolutamente perfeitos, vivendo com a eterna questão de eu próprio nunca ser suficientemente bem desenhado.

Nando Reis

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The house I live in I met Paulo when he was still working for BaraĂşna and he made the pieces that we needed to furnish our house. The way in which he interpreted, executed and delivered those pieces was way beyond satisfactory: it was the materialization of what we really wanted. Later, when, in a different moment, I had bought a house and was in need of someone to carry out the refurbishment, I remembered the way in which Paulo had transformed my intentions into solid objects. It is important to say that, before this, we had become friends. I had visited the apartment where he lived and there I could once again see examples of his constructive logic, which moves beyond furniture, looking at more conjunctural issues with regarding to the living. With a concept of beauty that is fundamentally in line with what I believe and hope for in a home. For me, beauty comes before everything, although the beauty of beauty itself appears by way of the certainty that you have and do not have when you touch it. In this sense, furniture is a great way of seeing our dreams dissolved into matter. Over the course of the complex process involved in renovating the new house, I needed to transform this search into an architectural reality, translated by way of the variants in my own life. We worked with the idea that a home is made from the inside out, as a shelter for whoever lives there. The house is big, with large spaces that were gradually filled up. This is the house I live in, and I cohabit in it with the infinite irresolutions that exists between the desire to occupy the space and the surrounding elements that case it. I really like this house, which was designed by Paulo and that also contains furniture that he designed. In my house I live a real life, finding absolutely perfect furnishings and living with the eternal question that I myself may never be sufficiently well designed.

Nando Reis




A intimidade com a madeira conduz Paulo por caminhos diversos de investigação formal. Em um momento, a madeira é uma pedra, ou suas camadas geram volumes geométricos, ou seus veios sugerem curvas de nível. A madeira lapidada, escultural. O desvendamento dessas potencialidades é uma preocupação central no trabalho do designer e evidencia sua aproximação com a organicidade da matéria. Paulo's intimacy with wood leads him down a variety of paths of formal investigation. In one moment, the wood is a stone, or its layers generate geometric volumes, or its grain suggests contours. The wood is lapidated, sculptural. The unveiling of these potentials is a central concern in the work of this designer and brings his intimacy with the organicity of the material into evidence.

Chaise Sereia, compensado multilaminado de paricá, 2005 Sereia chaise, multi-laminated parica plywood, 2005 Banqueta Descartes, compensado multilaminado de paricá, 2008 Descartes stool, multi-laminated parica plywood, 2008 82 83



Mesinha Cogumelo, compensado multilaminado de paricรก, 2008 Cogumelo side table, multi-laminated parica plywood, 2008 84 85



Banco Pedra, compensado multilaminado de paricรก, 2007 Pedra bench, multi-laminated parica plywood, 2007 86 87



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Prato Lasca, compensado multilaminado de paricรก, 2008 Lasca plate, multi-laminated parica plywood, 2008


Mesinha Jardim, compensado naval de pinus e laminado melamĂ­nico, 2003 Jardim table, pinewood marine ply and melamine laminate, 2003 90 91


Mesa Eclipse, paricá compensado e lâmina de canela. Parceria com Claudio Corrêa, 2003 Eclipse table, parica plywood and laminate with canela wood. Partnership with Claudio Corrêa, 2003


A arquitetura do design Conheci Paulo Alves no começo de sua trajetória como designer, quando o Armazém da Decoração também estava iniciando as atividades em Goiânia. Já se vão 16 anos. Era uma época em que as lojas de móveis voltavam a apostar no design brasileiro, depois de um longo hiato após o período moderno e, pessoalmente, me engajei neste movimento tão bem-vindo. Ao longo desse período, pude acompanhar o crescimento pessoal de Paulo e o desenvolvimento de uma linguagem muito própria, sempre com ideias bem trabalhadas, o que permite identificarmos facilmente sua autoria em cada peça. Uma característica que me toca muito na obra de Paulo é a delicadeza. Ela dá o tom de uma identidade muito brasileira, feminina, poética, com marcenaria impecável. Além disso, quando olho seus móveis, vejo arquitetura. Eles têm estruturas aparentes; de forma expressiva, combinam os planos, as massas, as madeiras. Provocam o observador, mas sempre com um resultado harmônico. Essa junção, que envolve o ponto certo de equilíbrio entre o mais e o menos, é um talento do Paulo, relacionado a um ponto de vista sobre os ambientes e à capacidade de antever soluções para eles. De certo tempo para cá, percebo também que Paulo vem se permitindo brincar mais, com um design solto e distante da rigidez dos cânones, e com o desdobramento de linhas que explicitam suas pesquisas conceituais. Acho que ele está no auge e muito confiante em seu próprio trabalho. Fico feliz por ele e por todos nós, amantes do mobiliário brasileiro.

Maria Abadia Haich

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The architecture of design I met Paulo Alves at the beginning of his career as a designer, when the Armazém da Decoração was also beginning its activities in Goiânia. That was 16 years ago. It was a time when furniture stores were going back to believing in the Brazilian design, after a long hiatus following the modern period and I, personally, engaged myself in this welcome movement. Throughout this period, I have been able to witness his personal growth and the development of a language that is absolutely particular to him, always presenting ideas that have been well formulated, which makes it easy for us to identify his authorship in each and every piece. One of the characteristics that particularly touches me in Paulo’s work is the delicateness that is expressed in a very Brazilian, feminine and poetic identity, with impeccable joinery. Along with this, when I look at the furniture he makes, I see architecture. The pieces have visible structure; there is an expressive combination of flat surfaces, mass and types of wood. They provoke the observer, but always with an harmonious outcome. This joining, which involves the correct point of balance between more and less, is a talent of Paulo’s to see a space and foresee solutions for it. Lately, I have also noticed that Paulo has been allowing himself to be more playful, with designs that are loose and distant from the stiffness of the canons, and with the development of lines that explicitly express his conceptual studies. I believe he is at the top of his game and very confident in his own work. I am happy for him and for all of us who love Brazilian furniture.

Maria Abadia Haich


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Namoradeira Betty e Barney, seringueira e roxinho, 2014 Betty and Barney love seat, seringueira wood and roxinho wood, 2014


As formas inspiradas na natureza, sobretudo em estruturas de raízes e galhos de árvores, são uma fonte importante na investigação estética de Paulo, e também um jeito de falar de sustentabilidade através de elementos do afeto coletivo. Inaugurada como uma alusão concretista na estante Floresta, essa vertente de seu trabalho seguiu caminhos expressivos diversos em linhas como Guaimbê, Reserva e muitas outras. Shapes inspired by nature, especially in the structures of the roots and branches of trees, represent an important source for Paulo’s aesthetic investigation. It is also a manner of talking about sustainability by way of elements that touch on common affections. Started as a concretist allusion via the Floresta shelf system, this line of his work has followed a variety of paths of expression in lines such as Guaimbê, Reserva, and many others.

Estante Floresta, paricá compensado e laminado melamínico branco, 2007 Floresta shelf unit, parica plywood and white melamine laminate, 2007 98 99



Mancebo Pega-varetas, roxinho, 2014 Pega-varetas coat stand, roxinho wood, 2014 100 101


Produção de peça da linha Guaimbê na Marcenaria São Paulo Production of a piece from the Guaimbê line at Marcenaria São Paulo


Mesas Guaimbê, itaúba e tampo de vidro, 2010 Guaimbê tables, itauba wood and glass top, 2010 102 103


Mesa Cerrado, tamarindo e tampo de vidro, 2013 Cerrado table, tamarind wood and glass top, 2013


Mesa Rodésia, ipê, 2012 Rodésia table, ipe wood, 2012 104 105


Mesa de centro Reserva, sucupira, 2011 Reserva coffee table, sucupira wood, 2011


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Mesa Reserva, pinus elliottii, 2011 Reserva table, elliotis pine, 2011


Na cadeira Atibaia, desenvolvida em parceria com Luis Suzuki, Paulo leva ao extremo o esforço de decodificação dos desenhos orgânicos, lições de engenharia da natureza, buscando apoios mínimos para estruturar o móvel. O resultado é uma linha de peças delgadas, leves, com uma estética marcante. In the Atibaia chair, developed in partnership with Luis Suzuki, Paulo takes the effort of decoding the organic designs, lessons in engineering from nature, to an extreme, seeking to use minimal support for the structure of this furniture. The result is a line of slender, light pieces with a striking aesthetic appeal.

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Cadeira Atibaia em produção, Marcenaria São Paulo Atibaia chair in production, Marcenaria São Paulo


Cadeira Atibaia, catuaba e couro, 2009 Atibaia chair, catuaba wood and leather, 2009 110 111




Poltrona Atibaia, ipĂŞ e couro, 2010 Atibaia armchair, ipe wood and leather, 2010 Banqueta Atibaia, cumaru, 2010 Atibaia stool, cumaru wood, 2010


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A contribuição do design Há 115 anos trabalhamos com madeira em produtos para o uso externo. A partir de 1985, começamos a alterar o perfil da nossa linha para chegarmos àquilo que hoje somos, com conquistas importantes como a certificação FSC. Dentro dos nossos objetivos e estratégias, um novo elemento teve importância vital: a parceria com profissionais de design. Foi o que nos ajudou a garantir produtos exequíveis, funcionais, esteticamente interessantes, ergonômicos, inovadores e diferenciados, como também a firmar nossa indústria no mundo moveleiro dirigido a jardins e espaços de lazer. Além disso, os designers colaboram com a racionalização do processo produtivo e nos introduzem a novas técnicas construtivas e do uso de materiais. São parceiros também nas questões de sustentabilidade. Fomos em busca de profissionais gabaritados e reconhecidos que, além de apresentar um projeto novo, tivessem capacidade de compreender nosso processo e filosofia. Exatamente por isso, procuramos Paulo Alves, e fomos plenamente recompensados com produtos que expressam uma identidade própria e, ao mesmo tempo, nos proporcionam crescimento, tanto comercial como técnico e profissional. Paulo Alves é hoje uma parte da Butzke e da nossa vida.

Guido Otte

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The contribution of design For 115 years we have been working with wood to make products for outdoor use. As of 1985, we began to modify the profile of our line in order to get to where we are today, with important achievements, such as the FSC certification. Within our objectives and strategies, one new element was of vital importance: the partnership with professional designers. This is what has helped us to guarantee feasible, functional, aesthetically interesting, ergonomic, innovative and differentiated products, as well as to firmly establish our company in the world of furniture for gardens and leisure areas. In addition to this, the designers have collaborated in the rationalization of the production process and introduced us to new constructive techniques and the use of new materials. We are also partners in matters of sustainability. We went out in search of qualified and recognized professionals who, besides presenting a new design, were able to understand our process and philosophy. It is precisely for these reasons that we sought Paulo Alves, and we have been fully rewarded, with products that express their own identity and, at the same time, have helped us to grow, both commercially and technically. Today, Paulo Alves is a part of Butzke and of our lives.

Guido Otte


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Banco Atibaia Outdoor, cumaru. Produzido pela Butzke, 2014 Atibaia Outdoor bench, cumaru wood. Produced by Butzke, 2014


Cadeira Atibaia Outdoor, cumaru. Produzida pela Butzke, 2014 Atibaia Outdoor chair, cumaru wood. Produced by Butzke, 2014 Mesa Catarina, cumaru. Produzida pela Butzke, 2014 Catarina table, cumaru wood. Produced by Butzke, 2014 120 121



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Balanço Atibaia, peroba rosa de demolição e roxinho, 2014 Atibaia swing seat, reclaimed peroba rosa wood and roxinho wood, 2014



Escrivaninha Guaimbê, teca, 2011 Guaimbê desk, teak, 2011


Bar Guaimbê, catuaba e cumaru, 2009 Guaimbê Bar, catuaba wood and cumaru wood, 2009 126 127


Cômoda Guaimbê, teca, 2010 Guaimbê dresser, teak, 2010


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Buffet Container, pinus elliottii, tauari ebanizado e tampo de vidro serigrafado, 2012 Container sideboard, elliotis pine, ebonized tauari wood and serigraphed glass top, 2012


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Banco Parreira, ipĂŞ, 2008 Parreira bench, ipe wood, 2008


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Edição especial do Bar Guaimbê, jacarandá de demolição e cobre, 2014 Special edition of the Guaimbê Bar, reclaimed jacaranda and copper, 2014




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Armรกrios Serendipity, roxinho e pinho do Paranรก, 2013 Serendipity cupboards, roxinho wood and parana pine, 2013


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Atoa, roxinho, 2013 Atoa, roxinho wood, 2013


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Iberê, jacarandá de demolição e MDF com laminado melamínico. Série limitada, 2014 Iberê, reclaimed jacaranda and melamine laminated MDF. Limited edition, 2014


A brasilidade da madeira Seja pelo traço, pelo conceito ou pelo calor da matéria-prima, o trabalho de alguns designers transborda brasilidade. Aprendi a perceber esses indícios, num rico exercício de observação, ao acompanhar de perto dois grandes mestres da madeira: José Zanine e Sergio Rodrigues. E isso fica muito evidente no trabalho de Paulo Alves. Enxergo nele a mesma empolgação genuína, a admiração e o respeito pela tradição, sem nunca deixar de lado a inventividade, que meus mestres tinham quando trabalhavam ou simplesmente se referiam à madeira. Em uma geração talentosa de designers, com trabalhos muito diversificados, com a qual tenho o prazer de conviver, acredito que a consistência e a perenidade do trabalho de Paulo está diretamente associada a esse “transbordar”, que acontece de forma tão autêntica. O resultado dessa característica no seu trabalho são peças carregadas de identidade, com soluções específicas, às vezes recorrentes em sua obra, em outras improváveis, mas que sempre soam naturais e elegantes.

Zanini de Zanine

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The “Brazilianity” of wood Be it through the lines, through the concept, or through the warmth of the raw material, the work of some designers overflows with “Brazilianity”. I learned to spot these signs in a rich exercise of observation, when closely watching two grand masters of wood: José Zanine and Sergio Rodrigues. This element is highly evident in the work of Paulo Alves. In it, I can see the same genuine enthusiasm, admiration and respect for tradition, without ever abandoning the inventiveness that my masters had when they worked with or simply referred to wood. In this talented generation of designers, with highly diversified types of work, with whom I have the pleasure of mixing, I believe that the consistency and endurance of Paulo’s work is directly associated with this “overflow”, which occurs in such an authentic manner. This characteristic in his work results in pieces that are positively charged with identity, with specific solutions, sometimes recurring in his work, and with other improbable solutions, but ones that always appear natural and elegant.

Zanini de Zanine


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Inaugurando o Projeto 2, de parcerias planejadas por Paulo Alves com profissionais de outras áreas, a linha de móveis e objetos para mesa e cozinha desenvolvida com a chef Morena Leite buscou expressar, em formas livres e coloridas, o universo de brasilidade que une os dois autores. O ponto de partida foi a flora tropical, elementochave de representação de sua afinidade criativa. The starting point of Projeto 2 – a series of partnerships with professionals from other areas, planned by Paulo Alves –, the line of furniture and utensils for kitchen and table developed in conjunction with chef Morena Leite sought to express, with a free and colorful form, the universe of Brazilianity that unites the two authors. The starting point was in the tropical flora, a key-element for the representation of his creative affinity.

Tábua de mesa da linha Design com Sabor, paricá compensado e laminado melamínico, 2014 Table board from the Design com Sabor line, parica plywood and melamine laminate, 2014

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Banquinhos Trancoso, cumaru, paricĂĄ compensado e laminado melamĂ­nico, 2014 Trancoso stools, cumaru wood, parica plywood and melamine laminate, 2014


Mesa de centro Quadrado, cumaru, paricĂĄ compensado e laminado melamĂ­nico, 2014 Quadrado coffee table, cumaru wood, parica plywood and melamine laminate, 2014 150 151


Carrinho de chá Capim Santo, ipê, 2014 Capim Santo tea trolley, ipe wood, 2014


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Dormitório Ian, 2010 Ian’s bedroom, 2010


Pares e complementares O trabalho do Paulo em marcenaria é admirável, sempre resulta em um design elegante, com um novo olhar. Pensando nesse seu talento, me parece que está relacionado a uma grande capacidade de síntese, que permite simplificar o que será produzido. Essa racionalidade envolve o prazer estético de quem vai usar aquelas peças, a adequação à função que elas passam a desempenhar e, ao mesmo tempo, a utilização dos materiais no seu limite de aproveitamento. Além disso, ele sempre traz para as peças uma marca própria, principalmente preservando as características da madeira bem aparentes. Eu acredito bem mais na co-criação do que na autoria, e acho que o Paulo também, porque a conversa com ele dá muito certo. Afinal, nós somos pares, mas complementares. O domínio do Paulo no trabalho com madeira é algo que me permite ampliar minhas soluções. Foi o que aconteceu em 2013, quando o Governo do Acre me convidou para desenhar as novas moradias para os índios das aldeias Yawanawá e repensamos com a comunidade uma tipologia contemporânea que materializasse sua cultura ancestral. No quarto do meu filho, o resultado dessa parceria também foi incrível. Como o Ian é leonino, a gente queria fazer uma floresta para o leão. Queríamos um quarto lúdico, com essa brincadeira. E o tema se encaixou perfeitamente ao Paulo, que já tem em sua obra essa reflexão sobre a origem da madeira e trouxe leveza e humor para o projeto. A gente gostou muito, o Ian e os amigos dele também.

Marcelo Rosenbaum

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Complementary peers Paulo’s work in joinery is admirable and always results in an elegant design, with a new perspective. This talent of his seems to me to be related to a great capacity for synthesis, which makes it possible to simplify the thing that is to be produced. This rationality involves the aesthetic pleasure of the person who is going to use those pieces, their suitability to the function they will be fulfilling and, at the same time, the utilization of the materials to their absolute limit. Besides this, he always brings his own mark to the pieces, especially by making sure the characteristics of the wood are highly visible. I believe much more in co-creation than in authorship and I think that Paulo does too, because conversation with him always works out very well. After all, we are peers, but complementary ones. Paulo’s mastery in his work with wood is something that allows me to expand my solutions. This was what happened in 2013, when the State Government of Acre invited me to design the new dwellings for the natives from the Yawanawá villages. Along with the community we were able to come up with a contemporary typology that would represent their ancestral culture. In my son’s bedroom, the result of this partnership was also amazing. Since Ian was born under the sign of Leo, we wanted to make him a jungle for lions. We wanted to create a playful bedroom through this idea. The theme suited Paulo perfectly, since his work already holds this thought of the origin of wood. Paulo managed to bring levity and humor to the project. We, Ian and his friends all loved it.

Marcelo Rosenbaum


Apartamento de Paulo na Bela Vista, SĂŁo Paulo, 2007 Paulo's apartment, Bela Vista, SĂŁo Paulo, 2007 156 157



A própria casa é um laboratório indispensável para Paulo. Ali, além de exercer o filtro de aproveitamento e praticidade das peças e expô-las também ao uso de outras pessoas, ele elabora novas ideias, testa protótipos, avalia suas dimensões e compartimentos, promove adaptações e observa o comportamento da madeira, seja nas áreas internas ou externas. Em interação com a personalidade do criador, as peças ganham vida. Paulo's home is an indispensable laboratory for him. There, apart from his perception of usage and practicality – and exposing it to others – he develops new ideas, tests prototypes, assesses their dimensions and compartments, promotes adaptations and observes the behavior of the wood, either indoors or outdoors. When interacting with the creator's personality, the pieces effectively come to life.

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Paulo com seus três filhos, João, Inácio e José, 2007 Paulo with his three sons, João, Inácio and José, 2007



Casa de Paulo na Rua do Lavapés, 2008 Paulo’s house, Rua do Lavapés, 2008


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Feita a partir de um ralador de milho comprado num armazÊm do interior de Minas Gerais, em 1994, a luminåria Ralador Ê a primeira peça assinada pelo designer Made using a corn grater bought from a store in the countryside of Minas Gerais, in 1994, the Ralador light fitting is the first piece signed by the designer


Equipe Marcenaria SĂŁo Paulo, 2010 The Marcenaria SĂŁo Paulo team, 2010



Edição e texto / Editing and text: Otavio Nazareth Projeto gráfico / Design: Daniel Brito Assistente de arte / Art assistant: Anita Prades Revisão / Proofreading: Monalisa Neves e Jonas Pinheiro Versão em inglês / Translation: Phil Turner Revisão do inglês / English proofreading: Lucas Rosin e Priscila Adachi Produção editorial / Publishing production: Tamara Baldassari Tratamento de imagens e produção gráfica / Imaging and printing production: Ângelo Baima Impressão / Print: RR Donnelley Equipe Estúdio Paulo Alves / Paulo Alves Studio Team: Paulo Alves, Luis Suzuki, Giovanna Cianelli, Lucas Rosin, Luciana Bernardina Apoio curatorial: Roberto Lot Cocenza Créditos de imagens / Photo credits: Fotos da capa: Victor Affaro Arquivo pessoal: 15, 19, 35, 54, 69c, 82, 90, 104, 142, 154 / Amanda Tambosi: 114-117 Eduardo Camara: 122 / Eduardo Delfim: 79, 80 / Evelyn Müller: 156-161 / Fernanda Petelinkar: 70-73 Geneviève Bernardoni: 2-11, 23, 55, 57, 76, 81, 97, 105, 109, 123, 140 / Jomar Bragança: 120 Lucas Rosin: 48, 49, 56 / Lufe Gomes: 44, 45, 51, 64-66, 148, 149, 162 / Luis Gomes: 28, 152, 153, 155 Marcos Freire: 32, 53, 68, 69, 83, 95, 98, 100, 124 / Nelson Kon: 36, 40-43, 60, 86 / Pierre Refalo: 38, 39, 87, 102, 121 Victor Affaro: 46, 50, 52, 58, 59, 62, 63, 84, 92, 96, 99, 101, 106-108, 110, 118, 119, 126-137, 143-147

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Alves, Paulo Paulo Alves. -- São Paulo : Editora Olhares, 2015. ISBN 978-85-62114-44-1 1. Alves, Paulo 2. Design 3. Designers de móveis I. Título. 15-00087

CDD-749.2

Índices para catálogo sistemático: 1. Designers de móveis : Artes 749.2

© 2015 Editora Olhares e autores. Este livro foi composto em Brandon Text, impresso pela gráfica RR Donnelley sobre papel Couche Fosco 150g em janeiro de 2015.



Agradecemos o apoio indispensável à produção deste livro de: For their indispensable support in the production of this book, we wish to thank:

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O trabalho do Paulo em marcenaria é admirável, sempre resulta em um design elegante, com um novo olhar. Pensando nesse seu talento, me parece que está relacionado a uma grande capacidade de síntese, que permite simplificar o que será produzido. Essa racionalidade envolve o prazer estético de quem vai usar aquelas peças, a adequação à função que elas passam a desempenhar e, ao mesmo tempo, a utilização dos materiais no seu limite de aproveitamento. Marcelo Rosenbaum


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