Tese Mestrado

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O Projecto e a Obra

Universidade Lusíada de Lisboa Faculdade de Arquitectura e artes

O Projecto e a Obra A Interpretação do Projecto em Obra

Paulo Jorge Santana da Costa Belga Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura

Orientador

Prof. Doutor Arqt. Alberto Cruz Reaes Pinto

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A Interpretação do Projecto em Obra

Dedicatória

Aos meus pais: Manuel e Lucinda Belga, por se terem conhecido; A minha esposa: Ana Belga, pela paciência, ajuda, dedicação, espírito de sacrifício e compreensão demonstrados; Ao meu filho: Sebastião Belga (Bolinha), por dar vida ao ambiente nos momentos de mais stress.

A eles dedico este trabalho.

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O Projecto e a Obra

Agradecimentos

A amizade, a colaboração, as conversas simples, o apoio, a motivação, os conselhos são ajudas de natureza diversa, que contribuíram para a realização deste trabalho. Este leque de ajuda surgiu de pessoas cujo meu agradecimento se manifesta nesta página.

Ao Prof. Doutor Arqt. Alberto Cruz Reaes Pinto, pela disponibilidade e ensinamentos prestados, primeiro como professor e mais tarde como orientador.

À Empresa Edifer Construções, pelo apoio dado no meu percurso académico.

Aos meus professores de arquitectura, Mestre Arqtº Bernardo Manoel e Mestre Arqtº Alberto Oliveira, por acreditarem no meu projecto.

Aos meus colegas de curso, pelos bons momentos.

À minha cunhada, Doutora Maria Augusta Antunes, o meu sincero agradecimento pelo privilégio da sua disponibilidade que em muito contribuiu para atingir os objectivos propostos.

À minha família, por me apoiarem sempre nas minhas decisões.

Finalmente, a alguém, que não podendo partilhar comigo a alegria do momento, decerto ficaria orgulhoso pelo cumprimento de mais uma etapa na minha vida.

A todos, muito obrigado.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Índice

Dedicatória ...................................................................................................................... 2 Agradecimentos .............................................................................................................. 3 Índice de figuras ............................................................................................................. 7 Palavras chave .............................................................................................................. 10 Resumo .......................................................................................................................... 11 Abstract ......................................................................................................................... 12 1. 1.1 2.

Capitulo 1 – Introdução ................................................................................... 13 Introdução................................................................................................... 14 Capitulo 2 – O Projecto.................................................................................... 15

2.1

Definição de Projecto ................................................................................. 16

2.2

Conceito de Projecto................................................................................... 20

2.2.1

Desenvolvimento do Projecto..................................................................... 21

2.2.2

Fases do Projecto ........................................................................................ 21

2.2.3

Características do Projecto ......................................................................... 26

2.3

A Preparação do Projecto em Obra ............................................................ 27

2.3.1

O paradigma ............................................................................................... 27

2.3.2

A influência dos custos no Projecto ........................................................... 27

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O Projecto e a Obra

2.3.3

A subcontratação ........................................................................................ 28

2.3.4

Preparação da execução da obra................................................................. 29

2.3.5

Vantagens da interpretação do Projecto ..................................................... 32

3

Capitulo 3 – Estaleiro....................................................................................... 34 3.1

O plano de estaleiro .................................................................................... 35

3.1.1

Impacte na sociedade.................................................................................. 35

3.1.2

Âmbito do problema................................................................................... 39

3.1.3

Organização física do plano de estaleiro .................................................... 48

3.1.4

Optimização do plano de estaleiro ............................................................. 52

4

Capitulo 4 – Interpretação do Projecto .......................................................... 59 4.1

O Projecto em Obra .................................................................................... 60

4.1.1

Diferença entre Projecto base e Projecto de execução ............................... 60

4.1.2

Análise crítica do Projecto em obra............................................................ 81

4.1.3

Reflexo da qualidade do projecto na competitividade da empresa ............ 83

4.1.4

Informação escrita do Projecto ................................................................... 85

4.1.5

Aplicações do Projecto de execução em obra ............................................ 90

5

Capitulo 5 – Conclusão .................................................................................. 110 5.1

6

Conclusão ................................................................................................. 111 Bibliografia...................................................................................................... 112

6.1

Bibliografia............................................................................................... 113

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A Interpretação do Projecto em Obra

6.2

Dicionários ............................................................................................... 115

6.3

Referências bibliográficas ........................................................................ 116

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O Projecto e a Obra

Índice de figuras Fig. 1 - Processo intelectual do projecto (Fabrício 2002)............................................... 17 Fig. 2 - Fases de um projecto segundo J.R. Navas Martín ............................................. 22 Fig. 3 – Resumo das etapas de preparação do projecto para execução em obra ............ 33 Fig. 4 – Factores que contribuem para o planeamento do layout do estaleiro de obra (Neves) ........................................................................................................................... 41 Fig. 5 - Proposta para o desenvolvimento do projecto base e projecto de execução, (adaptado Ferreira e Franco)........................................................................................... 43 Fig. 6 – Produtos das várias etapas do projecto de execução (estaleiro) relacionado com o projecto do produto (adaptado Ferreira e Franco) ....................................................... 44 Fig. 7 - Fluxograma para elaboração do anteprojecto das fases de estaleiro, (adaptado Ferreira e Franco) ........................................................................................................... 45 Fig. 8 – Diagrama com as etapas para a elaboração do projecto de estaleiro (Ferreira e Franco)............................................................................................................................ 47 Fig. 9 - Quadro resumo dos critérios adoptados para o arranjo físico do estaleiro de obra (adaptado Maia e Sousa)................................................................................................. 49 Fig. 10 - Plano estaleiro na fase das fundações e início da supra-estrutura (Ciocchi 2004)............................................................................................................................... 56 Fig. 11 – Plano de estaleiro na fase da supra-estrutura (Ciocchi 2004). ........................ 57 Fig. 12 - Plano de estaleiro na fase dos acabamentos (Ciocchi 2004)............................ 58 Fig. 13 - Desenho de implantação (Cabrita 1996).......................................................... 64 Fig. 14 - Desenho geral de posição (Cabrita 1996). ....................................................... 66 Fig. 15 - Desenho parcial de posição (Cabrita 1996). .................................................... 68 Fig. 16 - Desenho de construção .................................................................................... 69

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Fig. 17 - Desenho de montagem..................................................................................... 70 Fig. 18 - Desenho de produção de componentes (Soleira ). ........................................... 71 Fig. 19 - Comparação entre as situações com e sem utilização de projectos de execução (Fabrício 1996) ............................................................................................................... 73 Fig. 20 - Extrato de um projecto base de umas instalações sanitárias (fonte NLA Nuno leónidas arquitectos). ...................................................................................................... 75 Fig. 21 - Extracto de um projecto de execução de umas instalações sanitárias (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos).................................................................................... 76 Fig. 22 - Corte 3 de um projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos). ........................................................................................................................................ 77 Fig. 23 - Pormenor do vão M104 da I.S.S. no projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos). ...................................................................................................... 78 Fig. 24 - Pormenores das paredes da I.S.S. no projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos). ...................................................................................................... 79 Fig. 25 - Pormenores de remate dos tectos falsos da I.S.S. no projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos). ....................................................................... 80 Fig. 26 - Reflexos negativos para a competitividade das empresas através da má qualidade dos projectos, (adaptado Conde 2001)........................................................... 84 Fig. 27- Extracto de uma planta de fundações................................................................ 94 Fig. 28 - Pormenor das sapatas em corte. ....................................................................... 95 Fig. 29 - Planta do núcleo dos elevadores – armaduras.................................................. 96 Fig. 30 - Extracto de uma planta de definição geometrica da estrutura - piso tipo. ....... 98 Fig. 31 - Pormenores verticais de estrutura. ................................................................... 99 Fig. 32 - Extracto de uma planta de marcação de alvenarias e pavimento................... 100 Fig. 33 - Pormenores construtivos em planta, Portas. .................................................. 102

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O Projecto e a Obra

Fig. 34 - Pormenores construtivos em corte, Portas. .................................................... 103 Fig. 35 - Extracto de uma planta de tectos falsos. ........................................................ 104 Fig. 36 - Pormenores construtivos - tectos falsos......................................................... 105 Fig. 37- Pormenores de impermeabilização. ................................................................ 107 fig. 38 - Pormenor de um componente para encomenda e fabrico. .............................. 108 Fig. 39 - Organização técnica de uma "courette". ........................................................ 109

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Palavras chave

Projecto de execução

Organização

Obra

Qualidade

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O Projecto e a Obra

Resumo O objectivo principal desta dissertação consiste numa análise da relação projecto base de arquitectura / projecto de execução em obra, mais concretamente dos critérios que os diferenciam e as suas aplicações. A carência de informação no projecto é analisada como reflexo negativo para a execução em obra e para a empresa construtora. Por outro lado, a interpretação e compatibilização dos vários elementos do projecto de execução em obra são um beneficio para a comunicação entre os vários intervenientes, na procura de soluções e alternativas a fornecer à produção, que não suscitem dúvidas ao planeamento e à execução da obra. Deste modo, reduzem-se tempos de execução e custos, mantendo-se o nível de qualidade previsto em todo o processo e garantindo, no final, as melhores expectativas da empresa construtora, do cliente e dos autores do projecto. O trabalho está organizado em 5 Capítulos: No Capítulo 1 apresenta-se os objectivos do trabalho. No Capítulo 2 são apresentadas definições de projecto que foram propostas por diferentes autores do campo da arquitectura e da gestão de projectos. São abordados de uma forma resumida as várias fases e intervenientes do projecto, assim como as suas características. A preparação do projecto em obra é também descrita como método preparatório de detecção de incompatibilidades de projecto. O Capítulo 3 é dedicado ao estudo do plano de estaleiro como suporte físico da obra, destacando-se o reflexo que este tem na sociedade e na empresa construtora quando interpretado de acordo com o projecto. O Capítulo 4 aborda o projecto de execução como reflexo de competitividade da empresa construtora, referindo-se a capacidade que o projecto tem para fornecer à obra a informação necessária para o bom desempenho dos trabalhos, reduzindo custos, prazos e garantindo um bom nível de qualidade. Este capítulo é ilustrado com diversos exemplos de aplicações do projecto de execução em obra. Por último, no Capítulo 5 apresentam-se as conclusões e perspectivas futuras.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Abstract The main objective of this thesis/work was to perform an analysis of the Projectbased architecture / Design of execution at work, specifically taking into account the criteria that differentiate them and their applications. The lack of complete information on the project was considered a main cause of negative performance not only for the production itself but also for the construction company. The interpretation and compatibility of the various elements of the draft execution at work were found a benefit to the communication between the different players. Through the production, the planning and execution of the work allows to find alternative solutions, save time, reduce costs, maintain the level of quality expected in the whole process and guarantee that in the end, the best expectations of the construction company, the customer and the authors of the project are fulfilled. The work is organized in 5 chapters: In Chapter 1 sets up the objectives of the work. In Chapter 2 are presented the draft definitions that were proposed by different authors in the field of architecture and project management. The various phases of the project and actors as well as their characteristics are addressed in briefly. The preparation of the «project at work» is also described as preparatory method for detecting conflicts within the project. Chapter 3 is devoted to describe the study of the plan as yard work of the media, which when interpreted in accordance with the project as a reflection on the society and on the construction company. Chapter 4 describes the implementation of the project as a reflex of the competitiveness of the construction company, referring the ability that the project has to provide the necessary information in order to reduce costs, reduce delays, ensure a good level of quality and a proper business performance,. Several examples of applications of the project execution at work are illustrated in this chapter. Finally, in Chapter 5 the findings, conclusions and future perspectives are presented.

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O Projecto e a Obra

1. Capitulo 1 – Introdução

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A Interpretação do Projecto em Obra

1.1 Introdução

A complexidade dos projectos, a quantidade de informação dispersa, os inúmeros intervenientes no processo de concepção de um projecto, a competitividade no sector da construção civil (prazos, custos e qualidade) e a contratação e coordenação de subempreiteiros, levam a que as empresas construtoras desenvolvam meios técnicos por forma a dar uma resposta eficaz a todos estes factores, num mercado em constante evolução. Os erros de projecto, as incompatibilidades e as omissões dão origem a atrasos, custos e má qualidade no resultado final de uma obra. A organização e a preparação prévia de qualquer trabalho criam um suporte estruturante fundamental para definir os objectivos, os meios e os recursos técnicos a aplicar no desenvolvimento de cada fase de execução do projecto em obra. Por vezes, desde o início do projecto até à sua execução passam-se anos e as soluções técnicas apresentadas, os materiais e os preços podem encontrar-se desfasados da realidade. Devido à falta de informação no conteúdo dos projectos, as dificuldades e os problemas de execução são uma constante, que se enfrenta diariamente numa empresa de construção civil. A interpretação do projecto em obra torna-se assim uma ferramenta fundamental, visto que evita e antecipa possíveis conflitos Projecto-Obra. Neste âmbito, e tendo como ponto de partida a actividade profissional do autor na área da preparação do projecto em obra, surgiu a ideia de efectuar um trabalho que apresentasse uma série de procedimentos, que se considerou relevantes, para passar do projecto à obra. Assim, o trabalho apresentado nesta dissertação pretende diferenciar o projecto base do projecto de execução em obra, o contexto em que cada um se insere na actividade da construção civil, sensibilizando os autores de projecto para as consequências negativas da falta de elementos, que possam pôr em risco a análise correcta do projecto.

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O Projecto e a Obra

2. Capitulo 2 – O Projecto

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A Interpretação do Projecto em Obra

2.1 Definição de Projecto Sendo o projecto de arquitectura o objecto de análise desta dissertação enquanto elemento fundamental de interpretação na fase de obra, no sentido da sua concretização, procura-se apresentar nesta secção uma possível definição de projecto. O que se procurou entender foi onde começa e termina o projecto, ou seja, diferenciar o seu conceito na fase de concepção e na fase em que este se encontra em obra para ser executado. Na bibliografia consultada encontram-se várias definições para projecto, no entanto verifica-se que uma grande parte dos autores o define num sentido mais abrangente do conceito. Neste âmbito, Joaquim Vieira no seu livro `O desenho e o projecto são o mesmo?´ apresenta uma definição de projecto interessante que está mais em conformidade com a actividade arquitectónica. Para Vieira «O projecto é a proposição de novas organizações e funções da forma, de conjuntos de formas materiais, sociais ou ideológicas através de métodos e sistemas convencionais.»1 No seu livro, Vieira defende então que o projecto é uma actividade mental, em que a intervenção do seu autor apenas se limita ao campo teórico, ou seja, toda a fase de execução do projecto é orientada por ele sem que este contribua com esforço físico ou manual para a conclusão do objecto produzido. Considera também que existe uma vontade de transformação do mundo no sentido da sua contribuição no acto de intervir, sendo que nesta intervenção o arquitecto tem de ter a noção de responsabilidade e método de projecto. A antecipação também é descrita como uma característica do projecto, isto porque, segundo o autor existem muitos projectos que não chegam a ser executados, caso dos projectos utópicos.

1

Vieira, Joaquim – Seis Lições – O desenho e o projecto são o mesmo? – Outros textos de desenho – 1995 FAUP publicações, 1ª Edição.

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O Projecto e a Obra

A técnica também é referida na medida em que deve haver uma preocupação com o funcionamento das coisas, assim como a presença dos valores ideológicos que permitem fundamentar e orientar a forma de agir na altura em que tem de se decidir o que vai ficar e o que vai ser recusado. No final, este autor considera que o projecto tem uma razão de ser, uma vez que tem início de acordo com uma encomenda, recaindo sobre ela toda a intervenção, discutindo-se assim a sua exequibilidade construtiva e a subjectividade no plano da intervenção. Nesta linha de raciocínio, FABRÍCIO sugere que do ponto de vista intelectual e técnico, o projecto pode caracterizar-se como um processo em que as informações são criadas e tratadas por diferentes estratégias mentais e metodológicas. Considerando que o projecto de edifícios pode ser sintetizado como um processo cognitivo que transforma e cria informações, assistido por uma série de faculdades humanas, pelo conhecimento e por determinadas técnicas, cuja finalidade é a concepção de objectos e a formulação de soluções que permitam antecipar um produto e a sua obra.2

Fig. 1 - Processo intelectual do projecto (Fabrício 2002)

2

FABRíCIO, Márcio Minto, Projecto simultâneo na construção de edifícios, 2002. Disponível em: www.pcc.usp.br/silviobm/DISSERTAÇÕES E TESES PDF/Projeto_Simultaneo-TESE.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra

Num plano mais direccionado para a área técnica, em bibliografia relacionada com gestão de projectos, podem ser encontradas as seguintes definições:

«Um projecto é um trabalho não repetitivo, planificado e realizado de acordo com especificações técnicas determinadas, e com objectivos de custos, investimentos e prazos prefixados. Também se define um projecto como um trabalho de volume e complexidade consideráveis, que se realiza com a participação de vários departamentos de uma empresa e eventualmente com a colaboração de terceiros»3

«Operação de envergadura e complexidade notáveis, de carácter não repetitivo, que se empreende para realizar uma obra importante»4

«O projecto é um conjunto de operações de complexidade e dinâmica notáveis, destinadas a materializar uma ideia criadora, com objectivos precisos.»5 Pode-se assim constatar que, na área de gestão, a definição de projecto se enquadra mais num plano financeiro e técnico, onde se enumeram os objectivos e os procedimentos a que um projecto deve obedecer para que seja bem sucedido.

Numa perspectiva mais universal do conhecimento, os dicionários das línguas Espanhola, Portuguesa e Inglesa apresentam, respectivamente, as seguintes definições de projecto: «Ideia ou intuito de executar algo, representação em perspectiva, conjunto de documentos, cálculos e desenhos que se fazem para calcular como há-de ser e quanto custará uma obra de arquitectura ou engenharia»6

3

Brand, Jaime Pereña: Direcção e gestão de projectos, 2ª edição, 1998, Lidel Edições Técnicas. Definição proposta por Brand, Jaime Pereña: Direcção e gestão de projectos, 2ª edição, 1998, Lidel Edições Técnicas. 5 Martín, J. R. Navas – Engenharia de Gestão de Projectos – gestão de projectos, 2008 Lidel -Edições Técnicas. 6 Dicionário da Real Academia Espanhola de la Lengua, 4

Disponível em http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=projecto

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O Projecto e a Obra

«Plano para a realização de um acto; esboço; representação gráfica e escrita, acompanhada de um orçamento que torne viável a realização de uma obra»7

«Actividade ou obra planeada que seja concluída num período de tempo, destinando-se a alcançar um objectivo especifico.»8 O projecto é assim descrito como uma actividade abrangente, embora se reconheçam nestas definições algumas das características de um projecto de arquitectura. No entanto, o Dicionário da Língua Espanhola é aquele que nos parece direccionar a definição mais para o campo da arquitectura, falando na ideia que pressupõe um autor, assim como na realização de um objectivo (obra de arquitectura ou engenharia).

7

Dicionário Editora da Língua Portuguesa, 2009, Acordo Ortográfico.

Disponível em Http://www.infopedia.pt/default.jsp?qsFiltro=14 8

Dictionary of American English – Cambridge.

Disponível em http://www.cambridge.org/us/esl/cdae2/

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2.2 Conceito de Projecto Não pretendendo apresentar uma definição para projecto de arquitectura, pode-se contudo acrescentar ao que atrás foi dito que o produto final de um projecto de arquitectura, ainda que na sua fase teórica, surge da ideia criativa (Conceito) de um arquitecto e de um conjunto de procedimentos teóricos bem definidos de forma a dar resposta a variadas necessidades. Segundo BAESA “a ideia é a síntese de todos os elementos que compõem a Arquitectura (Contexto, Função, Construção, Composição). Como se de uma operação de alquimia se tratasse, numa destilação dos múltiplos elementos necessários para se obter um resultado único e unitário: uma ideia capaz de ser construída, de materializar-se.”9 No entanto, a técnica é que vai dar corpo à ideia, como tal a sintonia entre ambas é determinante para que no puzzle não faltem peças. No campo da arquitectura, o trabalho em equipa é feito entre o arquitecto e os engenheiros civis e mecânicos10. Pode constatar-se que no decorrer de todo o processo de realização de um projecto de arquitectura, o arquitecto não está sozinho, necessitando do apoio e participação de uma organização, que abranja diversos conhecimentos técnicos, por forma a que o resultado final a que se propôs tenha a coerência de um todo.11 Neste sentido, BENÉVOLO considera a “Arquitectura como sendo uma das artes maiores, juntamente com a pintura e escultura, no entanto a técnica da Arquitectura não é contemplada na arte e constitui uma especialização reconhecida no mundo da cultura tecnológica”. Este autor defende então que existe um especialista da projecção artística dos edifícios – o Arquitecto – e um especialista da projecção técnica dos edifícios – o Engenheiro – “que deveriam colaborar entre si, mas que, na maior parte das vezes, fazem um trabalho independente”.12

9

Baeza, Alberto Campo: A ideia Construída, Caleidoscópio, 2004, pag.48. Rohe, Mies Van der: Conversas com Mies Van der Rohe, Gustavo GILI, 2006. 11 Plácido, Isabel: Comunicação e Informação no Projecto de arquitectura, LNEC, pag.15. 12 Benévolo, Leonardo: A Cidade e o Arquitecto, Edições 70,2006,pag.87. 10

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O Projecto e a Obra

Para se compreender melhor esta afirmação, e por se enquadrar melhor no plano de desenvolvimento do projecto, este tema é desenvolvido na secção seguinte no que diz respeito à forma como deve ser gerida a presença dos vários intervenientes no projecto.

2.2.1

Desenvolvimento do Projecto No desenvolvimento de um projecto de arquitectura, a diversidade de

intervenientes que directa ou indirectamente participam na realização do projecto é extensa. As características e actividades inerentes ao próprio projecto não são repetitivas, envolvendo na organização elementos técnicos diferenciados que, porventura, trabalharão em conjunto pela primeira vez. Neste sentido, o diálogo e a relação entre as partes envolvidas poderá, como consequência da inexistência de um relacionamento habitual, ser mais difícil podendo gerar por vezes conflitos de interesses que possam pôr em causa o decorrer de todo o processo. Seguindo este raciocínio, o trabalho de projecto é um processo corporativo que envolve vários intervenientes, que formam um colectivo multidisciplinar na compatibilização das soluções a encontrar no decorrer das várias etapas. Segundo BRAND deverá existir um cuidado na preparação e planificação de todas as actividades para que a cada uma delas seja atribuída a mesma utilidade.13

2.2.2

Fases do Projecto O faseamento do projecto, a definição da altura exacta da intervenção de cada

especialidade é um factor importante a ter em conta para alcançar os objectivos finais. Neste sentido, MARTÍN defende que um projecto, desde a sua fase inicial até à sua conclusão, passa por uma definição de objectivos que vão progredindo com detalhes cada vez mais concretos, necessários à transformação de uma ideia inicial numa materialização do projecto (fig.2).14

13 14

Brand, Jaime Pereña: Direcção e gestão de projectos, 2ª edição, 1998, Lidel Edições Técnicas. Martín, J. R. Navas – Engenharia de Gestão de Projectos – gestão de projectos, 2008, Lidel Edições Técnicas.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Poderemos assim associar o esquema de MARTÍN às várias fases do projecto de acordo com o Regime jurídico da Propriedade Intelectual.

Fig. 2 - Fases de um projecto segundo J.R. Navas Martín

1ª Fase (Objectivos Genéricos): Programa preliminar que deverá conter, essencialmente, as seguintes informações: Objectivos da obra, suas características gerais, localização do empreendimento, limites de custos e modo de financiamento, prazos para elaboração do projecto e execução da obra.15

15

PROENÇA, José João Gonçalves, Direito da arquitectura, Regras para a Elaboração dos Projectos e Calculo dos Honorários 2006, Universidade Lusíada de Lisboa.

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O Projecto e a Obra

2ª Fase (Objectivos Genéricos): Programa base, destinado a expor as soluções propostas pelo autor, que deverá incluir os seguintes elementos: Esquema da obra e sequência das operações a realizar; dimensionamento das diferentes partes do solo; condicionamentos relativos à ocupação do terreno; peças escritas e desenhadas para esclarecimento do programa base e suas alternativas; estimativa geral do custo do empreendimento; estimativa do custo de manutenção e conservação da obra; necessidade de outros elementos.16 3ª Fase (Objectivos Concretos): Estudo prévio, constituído por peças escritas e desenhadas e outros elementos, para fácil apreciação das soluções propostas pelo autor do projecto, designadamente: Memória descritiva e justificativa; elementos gráficos sob a forma de plantas, alçados, cortes, perfis e outros desenhos; definição geral dos processos de construção e da natureza dos materiais e equipamentos; estimativa do custo da obra e alternativas.17 4ª Fase (Objectivos Concretos): Anteprojecto ou projecto base, constituído por peças escritas, peças desenhadas e outros elementos, para conveniente dimensionamento da obra e modo de execução, além do orçamento preliminar da obra e programa de trabalhos.18

16

PROENÇA, José João Gonçalves, Direito da arquitectura, Regras para a Elaboração dos Projectos e Calculo dos Honorários 2006, Universidade Lusíada de Lisboa. 17 Idem. 18 Idem.

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A Interpretação do Projecto em Obra

5ª Fase (Objectivos específicos): Projecto, que será apresentado de forma a constituir um conjunto coordenado de todas as informações escritas e desenhadas, do qual constarão, entre outros elementos, uma memória descritiva e justificativa, com a definição e descrição geral da obra; os cálculos relativos às diferentes partes da obra; medições indicando a quantidade e qualidade dos trabalhos necessários e respectivos orçamentos; condições técnicas gerais e especiais do caderno de encargos.19 6ª Fase (Objectivos específicos): Programação e coordenação do projecto, com vista ao escalonamento das suas diferentes fases e das actividades de cada interveniente.20

Quando se atingem os objectivos específicos, significa que o projecto está pronto para licenciamento, obedecendo à entrega dos vários elementos escritos e desenhados às entidades competentes, a fim de se verificar a sua conformidade com o quadro legal da legislação e, caso se verifique, o projecto tem autorização para ser executado. De acordo com o regime jurídico da urbanização e edificação (artigo 11º), para que tal aconteça será necessário a entrega dos seguintes elementos:

a)

Documentos comprovativos da qualidade de titular de qualquer direito que confira a faculdade de realização da operação;

19

PROENÇA, José João Gonçalves, Direito da arquitectura, Regras para a Elaboração dos Projectos e Calculo dos Honorários 2006, Universidade Lusíada de Lisboa. 20 Idem.

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b)

Certidão da descrição e de todas as inscrições em vigor emitida pela conservatória do registo predial referente ao prédio ou prédios abrangidos;

c)

Extractos das plantas de ordenamento, zonamento e implantação dos planos municipais de ordenamento do território vigentes e das respectivas plantas de condicionantes, da planta síntese do loteamento se existir, e planta à escala de 1:2500 ou superior, com a indicação precisa do local onde se pretende executar a obra;

d)

Planta de localização e enquadramento à escala da planta de ordenamento do plano director municipal ou à escala de 1:25000 quando este não existir, assinalando devidamente os limites da área objecto da operação;

e)

Extractos das plantas do plano especial de ordenamento do território vigente;

f)

Projecto de Arquitectura;

g)

Memória descritiva e justificativa;

h)

Estimativa do custo total da obra;

i)

Calendarização do custo total da obra;

j)

Quando se trate de obras de reconstrução deve ainda juntar-se fotografia do imóvel;

k)

Cópia da notificação da câmara municipal a comunicar a aprovação de um pedido de informação prévia, quando esta existir e estiver em vigor;

l)

Projecto das especialidades, caso o requerente entenda proceder, desde logo, à sua apresentação;

m)

Termos de responsabilidade subscritos pelos autores dos projectos quanto ao cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis;

n)

Ficha com elementos estatísticos devidamente preenchida com os dados referentes à operação urbanística a realizar.

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A Interpretação do Projecto em Obra

2.2.3

Características do Projecto

Em resumo, podemos verificar que um projecto deve obedecer a um determinado número de procedimentos que o caracterizam. A sua concepção pressupõe um objectivo, com base num conceito que é idealizado pelos seus autores, unificando vários pressupostos, para que daí resulte um produto final. Trata-se portanto de uma actividade premeditada. Desde o início até ao objectivo final, o projecto passa por um conjunto de fases e tarefas que correspondem a um determinado período de tempo. Poderá então dizer-se que o projecto tem um carácter prolongado e faseado, assim como uma descontinuidade, visto que por razões que lhe estão associadas (tipo de projecto, equipa) origina, por se tratar de uma tarefa com carácter não repetitivo, uma separação dos intervenientes. A complexidade que envolve um projecto origina tarefas complexas que necessitam de estudo para que não surjam problemas no seu decorrer. Assim sendo, na fase da sua realização, a cooperação entre o colectivo de trabalho assume grande importância no sentido de os co-responsabilizar pelas escolhas e opções nas sucessivas fases do projecto. No entanto, um projecto pressupõe que se chegue a um objectivo (materialização da ideia) logo a intenção não chega para o definir, será necessário que esta ideia assuma uma realidade física para que o sonho possa vir a ser realidade. O sonho não é um projecto, mas o projecto poderá vir a ser um sonho, se realizado.

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O Projecto e a Obra

2.3 A Preparação do Projecto em Obra

2.3.1

O paradigma A complexidade dos projectos, a evolução tecnológica, a contratação de

subempreiteiros e a diversidade de soluções ao nível dos materiais leva a que as empresas de construção civil, num sector cuja a competitividade e qualidade são factores importantes para o sucesso de uma organização, mudem a sua atitude no que diz respeito ao modo como vão intervir e responder aos novos desafios impostos por um sector em constante desenvolvimento.

2.3.2

A influência dos custos no Projecto

Os custos envolvidos num projecto são elevados e levam a que os donos de obra façam pressão nos prazos de execução de forma a reduzir os seus encargos financeiros e a economia reflexa e, por isso, exigem aos projectistas um projecto eficaz e às construtoras uma construção de qualidade pelo menor preço e no menor prazo possível. Ora, tal situação reflecte-se geralmente na qualidade dos projectos, e os erros e indefinições são fatais na fase de obra, acabando muitas vezes por se cumprir o mínimo indispensável para a aprovação do projecto, não por falta de conhecimentos técnicos, mas por falta de tempo. Não se pode encarar um projecto como um processo “standard”, mas sim como um trabalho único e não repetitivo, logo cada projecto tem soluções distintas que embora utilizem critérios semelhantes entre projectos, terão de ser adaptados e estudados caso a caso.

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A Interpretação do Projecto em Obra

2.3.3

A subcontratação

Actualmente, no sector da construção civil, tem-se vindo a verificar que, na generalidade dos casos, as maiores empresas de construção civil recorrem a subcontratação para execução dos trabalhos em obra. Em muitos casos, a empresa construtora fornece o material, cabendo ao subempreiteiro a aplicação do material e gestão da mão-de-obra na execução das tarefas. A relação da empresa construtora com a subcontratação torna-se uma tarefa difícil, na medida em que exige um atendimento às especificações mais rígidas de todos os serviços prestados.21A qualidade e desempenho da subcontratação reflectem-se na imagem da empresa construtora. Esta prática leva a que as empresas construtoras criem uma gestão de qualidade que visa minimizar o problema através da avaliação dos subempreiteiros, incluindo nesta avaliação aspectos como o cumprimento dos procedimentos de segurança no trabalho e o cuidado com o desperdício de materiais para além da qualidade dos serviços executados22. Neste sentido, verifica-se que a subcontratação é responsável parcial ou totalmente pelos serviços prestados à produção, sendo que a cooperação entre a empresa construtora na fase de início e preparação do processo de obra torna-se fundamental, na medida em que será necessário definir antecipadamente os procedimentos de execução e de controle, assim como o detalhe de pormenores de projecto a serem realizados no estaleiro da obra23. Segundo BRAND, quando se inicia um projecto devemo-nos precaver cuidadosamente da tentação de querer começar a toda a pressa tentando ostentar um grande dinamismo e preocupação pelo cumprimento dos prazos estabelecidos sendo que um dos erros mais graves na gestão de projectos é querer arrancar urgentemente com a obra, sem ter prestado devida atenção a uma série de tarefas de preparação.24

21

MELHADO, Sílvio Burrattino. Novos desafios da gestão da qualidade para a indústria da construção civil.

Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg619a626.pdf 22

MELHADO, Sílvio Burratino. Novos desafios da gestão da qualidade para a industria da construção civi.,

Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg619a626.pdf 23 24

Idem. Brand, Jaime Pereña: Direcção e gestão de projectos, 2ª edição, 1998, Lidel Edições Técnicas.

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O Projecto e a Obra

2.3.4

Preparação da execução da obra A quantidade de informação contida no projecto que chega à empresa

construtora é grande e dispersa (plantas, alçados, cortes, desenhos de pormenor, mapas de vãos, mapas de acabamentos, desenhos de especialidades, memórias descritivas, medições, orçamentos, cadernos de encargos, listas de desenhos, alterações etc.,). Tratase de um “puzzle” que terá de ser montado, encaixando todas as peças até se atingir o objectivo final. Os trabalhos preparatórios visam corrigir e detectar incompatibilidades que podem passar despercebidas aos olhos dos técnicos mais especializados. Trata-se de informação por vezes descurada por parte dos intervenientes do projecto, que facilitam e conferem esta parte às empresas construtoras. Estas anomalias, quando detectadas antes do começo da obra, ainda podem ter solução, procurando-se alternativas que solucionem o problema. Mas, se detectadas à posteriori, acarretam consequências que podem pôr em causa o desenrolar de todo o processo e até alterarem o orçamento previsto para tal actividade. Segundo MELHADO, a preparação da execução de obras pode ser entendida como uma fase que marca o fim da montagem do empreendimento e o início da sua efectiva gestão. A transição da fase “clássica” de projecto para o início da fase de execução, na qual esse projecto é criticado e ajustado, marca, ainda, o fim de um período em que os custos de execução são apenas estimados, substituindo-os por desencaixes efectivos. Este autor defende, ainda, que a utilidade da preparação da execução da obra está na criação de métodos participativos para antecipação das decisões, a partir do estudo das soluções de projecto. Evitam-se assim conflitos projecto-obra que comprometam os resultados finais do empreendimento.25

MELHADO,Sílvio Burrattino.Gestão, Cooperação e integração para um novo modelo voltado à qualidade do processo de projecto na construção de edifícios 2001. Disponível em: www.pcc.usp.br/silviobm/TESE LIVRE DOCÊNCIA SILVIO MELHADO.pdf

25

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A Interpretação do Projecto em Obra

MELHADO defende que no conteúdo de análise da preparação da execução da obra, devem ser tratados e destacados alguns itens que o autor considera como elementos chave a ter em conta no momento em que começa a análise do projecto:

Identificação dos agentes e definição dos procedimentos de comunicação e troca de documentos.

Análise do projecto, das memórias descritivas e dos cadernos de encargos.

Estabelecimento das soluções para os detalhes de projecto e validação das mesmas.

Realização dos detalhes de projecto para a produção, a partir da análise crítica do projecto.

Identificação, estudo e definição de soluções para problemas de interface envolvendo diferentes serviços.

Estabelecimento dos pontos de controlo.

Identificação e validação dos pontos críticos para controlo da qualidade e dos pontos obrigatórios de controlo externo, necessário à orientação no controlo da produção dos serviços.

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O Projecto e a Obra

Definição do cronograma físico da obra.

Solicitação aos fornecedores das amostras e protótipos dos produtos e sistemas a serem utilizados no edifício.

Elaboração do projecto de instalação do plano de estaleiro e de segurança.

Este autor considera ainda que, a partir do estudo das soluções do projecto, através de métodos participativos dos intervenientes, se evitam conflitos projecto-obra que podem comprometer os resultados finais. Considerando que, em muitos dos casos, os técnicos residentes em obra trabalham sem receber as informações necessárias, gerando várias dependências, que acarretam desperdícios de tempo, de mão de obra e de materiais. Neste sentido, cada vez mais existe por parte das empresas construtoras a necessidade de estarem munidas de colaboradores especializados, de forma a conseguirem dar resposta a estas situações quando lhes é adjudicada uma obra. Estes colaboradores devem ter um perfeito controlo sobre as inovações tecnológicas, planificação, organização, qualidade e produtividade, criando soluções sempre que possível quando detectada a existência de incompatibilidades e omissões no projecto. A sua intervenção começa por uma análise exaustiva ao nível da interpretação, sem sobreposição, da concepção e conceito do projecto, compatibilizando as várias peças desenhadas do projecto e cruzando-as com as peças escritas de forma a detectar possíveis incompatibilidades ou omissões.

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A Interpretação do Projecto em Obra

2.3.5

Vantagens da interpretação do Projecto

Com o intuito de simplificar e compilar a informação contida no projecto a fornecer à produção, a preparação em obra da informação torna-se fundamental, porque antecipa e orienta as várias fases da construção, criando meios simples e claros de informação que possibilitem ganhar tempo e reduzir custos no decorrer da construção. No entanto, também este trabalho está condicionado em termos de tempo, porque terá de ser gerido dentro do prazo que lhe é atribuído, segundo um plano de trabalhos elaborado pela produção. Para tal, os critérios de análise e simplificação da informação a fornecer serão fundamentais para que se ganhe tempo em cada frente de trabalho. Assim, nesta actividade os profissionais têm de ter consciência que o seu trabalho só será válido se servir para resolver os problemas inerentes ao desenrolar da obra. Na figura 3 é apresentado um fluxograma com as etapas de preparação do projecto de execução na fase de obra.

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O Projecto e a Obra

Fig. 3 – Resumo das etapas de preparação do projecto para execução em obra26

26

O fluxograma foi realizado com o apoio da empresa Edifer Construções.

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A Interpretação do Projecto em Obra

3 Capitulo 3 – Estaleiro

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O Projecto e a Obra

3.1 O plano de estaleiro

3.1.1

Impacte na sociedade

O estaleiro de obra assume grande importância na fase inicial de uma obra, visto que, durante o decorrer da construção do edifício, vai ser a estrutura fundamental do desempenho das actividades nela decorrentes. O estaleiro de obra é encarado pela sociedade como um mal necessário na actividade da construção civil, uma vez que cria condicionantes urbanas que, por vezes, não são bem aceites pela comunidade. Mas, na verdade, trata-se de uma estrutura provisória com um fim específico, o de ser o suporte físico de uma estrutura organizacional dinâmica e flexível27, que vai dar forma a novas infra-estruturas, que proporcionam à sociedade uma melhor qualidade de vida. Os inconvenientes resultantes da implantação de um estaleiro de obra são inúmeros e o seu impacte visual e acústico surge com mais frequência quando implantados em zonas urbanas ou com espaço condicionado. Dos impactes ambientais e sociais resultantes da implantação de um estaleiro poderemos enumerar os seguintes:28

A produção de resíduos, resultado de demolições, restos de materiais ou movimentação de terras.

Lamas e detritos em arruamentos, devido ao transporte de terras em tempo chuvoso ou poeiras no tempo seco.

Contaminação do solo, devido ao derrame de fluidos poluentes, como óleos, tintas e águas de lavagens.

27

SERRA, Sheyla Mara Baptista, PALIARI, José Carlos. Desenvolvimento de ferramentas gerênciais para o projecto do estaleiro de obras. 28 Manual de estaleiros da empresa, Edifer Construções.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Contaminação das águas, devido ao derrame de fluidos poluentes nas

redes de drenagem.

Danificação de redes públicas de drenagem, devido ao derrame de

fluidos poluentes, tais como cimento e arrastamento de partículas sólidas para as redes de drenagem.

Destruição de vegetação arbórea, quando existem unidades cuja

localização não colide com a aérea de implantação da obra, mas que não são respeitadas.

Impacte visual da vedação do estaleiro, dimensão, cor e estado de

conservação.

Ruído provocado no interior e exterior do estaleiro, devido a

máquinas em movimento, utilização de equipamentos ruidosos, comunicação entre trabalhadores.

Aumento do volume de tráfego, devido à circulação de veículos e

máquinas de serviço ao estaleiro.

Ocupação da via pública, devido à consequente redução das áreas de

circulação pedonal e/ou automóvel e de áreas de estacionamento automóvel e de carga e descarga.

Danificação do espaço público, na envolvente da área de intervenção,

devido ao fabrico e movimentação de materiais, assim como derrame de fluidos.

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O Projecto e a Obra

Informação publicitária, devido ao excesso de elementos promocionais

das entidades envolvidas na obra ou ausência de coordenação na sua colocação.

A sustentabilidade de uma empresa depende da promoção de uma construção sustentável, da prevenção dos acidentes de trabalho, da protecção do ambiente, assim como da redução dos impactes causados à sociedade pela actividade que pratica. Cumprir tais condicionantes não se torna tarefa fácil, já que um dos desafios para a empresa construtora, que inicia uma obra, é obter as informações necessárias para que possa implementar um plano de estaleiro adequado. Assim sendo, as empresas construtoras deveriam estar munidas de planos de redução dos impactes ambientais29 de forma a minimizá-los, tornando assim a empresa mais sustentável. ARAÚJO e CARDOSO, defendem que antes de se proceder à execução do plano de estaleiro, a empresa construtora deve ter um conhecimento do local da obra enumerando os seguintes pontos de levantamento:

Condições do terreno: com o objectivo de se conhecer a natureza do solo e subsolo assim como a sua permeabilidade, os declives, a presença de cursos de água e o nível do lençol freático.

Informações precisas sobre vegetações: levantamentos das vegetações, principalmente as de grande porte, e no caso de obras que abranjam ecossistemas, as informações devem ser mais precisas.

29

ARAUJO, V., CARDOSO, F. Redução de impactos ambientais do estaleiro de obras. Disponível em: http: http://pcc2540.pcc.usp.br/Material%202006/Habitare%20Impactos%20Canteiro%2030%206%202006.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra

Condições da vizinhança: devem ser considerados os níveis de ruído, circulação de veículos, dificuldade de estacionamento e ter em consideração, caso haja, a presença de edifícios de uso especial, como escolas ou hospitais.

Informações sobre ventos dominantes: Estudar a frequência, velocidade, direcção e sentido dos ventos.

Nível de poluição do subsolo: verificar os níveis de poluição do subsolo e, caso se verifique, comunicar o facto ao dono de obra.

Riscos naturais do terreno: desmoronamentos e inundações.

Fornecedores locais: pesquisa de possíveis fornecedores de materiais e serviços que se localizem mais próximo da obra.

Expectativas das partes interessadas: como trabalhadores da obra, subempreiteiros, fornecedores, dono de obra, projectistas e vizinhos.

Áreas para a disposição de resíduos: criação de espaços adequados e, se possível, criar meios para o reaproveitamento dos mesmos. Torna-se difícil generalizar estes critérios a todo o tipo de obras, dado que terão

de ser confrontados com outras condicionantes, tais como o projecto, o espaço disponível, os prazos, os recursos da empresa e o planeamento da obra. Os elementos de registo defendidos por estes autores são pertinentes no sentido de serem uma ajuda essencial no conhecimento das características do local da obra, podendo ou não, ser uma mais valia no orçamento previsto para o plano de estaleiro.

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O Projecto e a Obra

No entanto, a legislação em vigor e a evolução tecnológica são meios de auxílio a que as empresas devem recorrer com o objectivo de minimizar possíveis incompatibilidades que possam pôr em risco a sua actividade.

3.1.2

Âmbito do problema Nas empresas de construção civil, a arte de construir é constituída por

estratégias cujos critérios de produção proporcionam à empresa o alcance dos objectivos definidos na estratégia empresarial.30 Quando se inicia uma obra, o plano de estaleiro vai ser o suporte físico fundamental para o sucesso do objectivo final (produto), porque se trata de um conjunto de pessoas, materiais, máquinas e equipamentos, instalações de serviços, organizados e estruturados de forma a permitir a concretização do projecto com elevado nível técnico, em termos de economia, de racionalidade de processos, de prazos e de segurança.31 Neste contexto, qualquer falha na execução de obra poderá ser atribuída à organização e condições de estaleiro, sendo sobre ele que se irão reflectir todas as virtudes ou defeitos da sua organização.32 Para responder com eficácia a estes factores é necessário a elaboração de um planeamento, ou seja, definir a ordem e a forma como se vai executar e em que tempo 33 a obra, para que não haja interrupções, repetições, custos agravados e outras deficiências que possam pôr em causa o desenvolvimento racional da produção.34

30

NEVES, Renato Martins. Algumas estratégias de produção adoptadas pelas empresas de construção civil. Disponível em: www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ART171.pdf 31 CARDOSO, J.M.Mota. Direcção de obra, organização e controlo 2007-AECOPS. 32 NEVES, Renato Martins. Algumas estratégias de produção adoptadas pelas empresas de construção civil. Disponível em: www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ART171.pdf 33 CARDOSO, J.M.Mota. Direcção de obra, organização e controlo 2007-AECOPS. 34 CARDOSO, J.M.Mota. Direcção de obra, organização e controlo 2007-AECOPS.

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A Interpretação do Projecto em Obra

CARDOSO defende que um estaleiro deve ser planeado e organizado, de forma a responder inequivocamente a todas as situações surgidas ou criadas com o desenvolvimento dos trabalhos, sustentando ainda que a boa organização é aquela que possibilita a utilização dos meios disponíveis da maneira mais conveniente, de acordo com a importância, os custos e os prazos estipulados para as tarefas a realizar, dispondo aqueles meios de forma a conseguir a máxima rentabilidade.35 Seguindo este raciocínio, a análise e interpretação do projecto revela-se tarefa indispensável para o qual as empresas devem dar especial atenção, uma vez que, só através da informação recolhida do projecto se poderá dar início ao planeamento e dimensionamento do estaleiro. A elaboração de um planeamento que não suscite dúvidas à produção depende de um projecto bem executado e, o seu conteúdo, deverá ser o mais abrangente possível, por forma a conseguir-se interpretar, identificar e quantificar todos os processos e métodos construtivos, permitindo desse modo elaborar com garantia todo o processo de execução.36 As obras de construção civil abrangem um vasto grupo de actividades e intervenientes, que devem ser coordenados com o objectivo de se saber o momento exacto de intervenção de cada actividade. Um plano de trabalhos apenas permite saber antecipadamente as interligações entre as várias actividades, a duração das mesmas, assim como controlar os desvios de cada actividade no decorrer da obra. No entanto, o planeamento deve ser flexível ao ponto de não condicionar as decisões da produção em determinadas fases da obra que, por conveniência, têm de ser reajustadas. Com o planeamento bem definido, inicia-se a fase de dimensionamento do plano de estaleiro o que significa que o projecto foi perfeitamente identificado, convenientemente esclarecido, sem omissões ou incompatibilidades, ou seja, coerente.

35

CARDOSO, J.M.Mota. Direcção de obra, organização e controlo 2007,AECOPS. CONDE, Karla Moreira, Qualidade de projecto em empresas construtoras: Diagnostico e recomendações 2001. Disponível em: www.ufes.br/~pgecivil/dissert/KarlaMoreiraConde2001.pdf 36

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O Projecto e a Obra

NEVES sugere que existem determinados factores que se devem ter em consideração na fase inicial do dimensionamento e planeamento do estaleiro de obra (fig. 4).

Fig. 4 – Factores que contribuem para o planeamento do layout do estaleiro de obra (Neves)37

Os equipamentos embora considerados ligeiros em obras de construção civil (edifícios), não deixam de ter dimensões consideráveis, necessitando de espaços de paragem e percursos dentro da obra que permitam ao operador efectuar as suas funções em segurança. Será necessário então prever as áreas necessárias para a operação e manutenção desses equipamentos, o número de operadores que irá efectuar o trabalho, a ocupação segura e com protecção adequada para os equipamentos, relacionado com a dimensão e peso, assegurando o abastecimento desta instalação com energia e água. Também no diz respeito à movimentação, deve ter-se em consideração o movimento e deslocação de pessoas, equipamentos e materiais em fluxo contínuo e organizado, de acordo com a sequência da produção, por forma a que a sua integração gere na obra posições harmoniosamente integradas. Os materiais chegam à obra antecipadamente, tendo que ser guardados em locais seguros esperando pela data prevista para a sua aplicação. No dimensionamento destas instalações, NEVES defende que se deve considerar a localização, as dimensões,

37

NEVES, Renato Martins. Algumas estratégias de produção adoptadas pelas empresas de construção civil. Disponível em: www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ART171.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra

os métodos de armazenagem, o tempo de espera para a aplicação do material assim como a sua localização, que não deve prejudicar o trânsito das pessoas, a circulação de materiais, o acesso aos equipamentos e não deve obstruir portas. No dimensionamento das instalações de apoio à produção, tanto nos serviços administrativos como técnicos, a mão de obra é extensa devido à quantidade de pessoas que, directa ou indirectamente, frequentam o estaleiro de obra. É necessário prever o número de utilizadores para se poder determinar as áreas necessárias ao desenvolvimento do trabalho, criando condições de estaleiro que satisfaçam as expectativas dos trabalhadores e que conduzam desse modo a um aumento da produtividade. No que diz respeito à flexibilidade, o estaleiro de obra deve permitir possibilidades de mudança em função das necessidades, contudo os critérios de segurança nunca devem ser descurados mesmo que haja necessidade de adaptação. Os procedimentos descritos, sobre a organização e o dimensionamento do plano de estaleiro, estão de acordo com um método tradicional de mercado, ou seja, o projecto é entregue à empresa construtora sem que esta tenha tido qualquer intervenção técnica nas fases iniciais de elaboração do projecto, o que significa o seu desconhecimento técnico sobre a obra a executar, métodos, processos construtivos, materiais, etc. Torna-se assim fundamental por parte da empresa construtora proceder à decomposição e análise do processo que compõe o projecto, a fim de salvaguardar possíveis incompatibilidades ou indefinições de projecto, que possam pôr em causa a elaboração coerente de um plano de trabalhos e tornar possível a preparação dos trabalhos e métodos. Todos estes procedimentos causam às empresas construtoras transtornos em termos de tempos na fase inicial, porque se existirem dúvidas de projecto, estas terão de ser colocadas ao projectista como esclarecimentos de projecto, dependo o avanço dos trabalhos do seu parecer.

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O Projecto e a Obra

No contexto da concepção-construção, em que a empresa construtora é responsável pela elaboração e acompanhamento do projecto, FRANCO e FERREIRA defendem então que o projecto de execução é composto pelos processos que compõem o projecto, ou seja, projecto de estaleiro, a organização, o sistema de informações, planeamento e controle da obra, propondo uma metodologia para o planeamento e dimensionamento do plano de estaleiro. Esta metodologia consiste num projecto simultâneo a desenvolver, em paralelo com o projecto do produto (edificação) ao longo das suas fases, devendo iniciar-se durante a definição do programa das necessidades (PN), evoluindo paralelamente ao desenvolvimento do projecto do produto (edificação) nas várias etapas, estudo preliminar (EP), anteprojecto (AP) e projecto executivo (PE), analisando os fluxos e ciclos da produção, evitando assim a necessidade de criar soluções para possíveis problemas, resultando em decisões menos eficientes do que as previstas.

Fig. 5 - Proposta para o desenvolvimento do projecto base e projecto de execução, (adaptado Ferreira e Franco)38

38

FERREIRA, Emerson de Andrade Marques, FRANCO, Luiz Sérgio. Proposta de uma metodologia para o projecto do estaleiro de obras. Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg219a226.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra

Seguindo a linha de raciocínio dos autores, na figura 6 apresentam-se as várias etapas do projecto de execução relacionando-as com o projecto do produto. Enfatiza-se assim as acções do projecto de execução relacionadas com a elaboração do plano de estaleiro. Fases do Projecto

PN EP

Projecto do produto

Projecto de execução (Estaleiro)

Idealização do produto

Planeamento estratégico da produção

Conjunto de parâmetros e exigências a serem consideradas de acordo com os objectivos.

Concepção inicial e a sua viabilidade

Planeamento táctico da produção

Concepção e representação gráfica preliminar, considerando os parâmetros e exigências do programa das necessidades.

Definição do processo construtivo e do plano de ataque, com base nas metas, requisitos, directrizes e condicionantes previamente estabelecidos para a produção.

Formalização do produto

AP

PE

EXE

Conjunto de metas, requisitos, directrizes e condicionantes a serem considerados pelo processo da produção.

Planeamento operacional da produção

Representação preliminar da solução adoptada para o projecto, através da representação gráfica e especificações técnicas. Pré dimensionamento estrutural e concepção dos sistemas de instalações especiais.

Definição do cronograma e dos recursos necessários para a produção (materiais e mão de obra). Definição das principais fases do estaleiro, com base no plano de ataque e no cronograma dos recursos necessários. Elaboração do anteprojecto das fases do estaleiro, com a representação preliminar da solução adoptada em cada fase. Fornecimento da estimativa das necessidades do estaleiro, para os projectos de arquitectura, estruturas e instalações especiais.

Pormenorização do produto

Pormenorização do planeamento operacional da produção

Representação final e completa da edificação, através da representação gráfica, especificações técnicas e memórias descritivas.

Execução do projecto do produto.

Revisão do cronograma e das necessidades de recursos. Revisão das fases do estaleiro. Revisão do anteprojecto das fases do estaleiro. Avaliação e síntese das diversas fases num único projecto evolutivo. Detalhes dos elementos de estaleiro. Execução do projecto de execução, e revisão quando necessário, em função dos prazos ou na sequência da obra. Revisão dos fluxos dos processos e suas interferências, das técnicas utilizadas, da localização dos elementos de estaleiro e dos procedimentos para a mobilização ou desmobilização de equipamentos.

Fig. 6 – Produtos das várias etapas do projecto de execução (estaleiro) relacionado com o projecto do produto (adaptado Ferreira e Franco)39

39

FERREIRA, Emerson de Andrade Marques, FRANCO, Luiz Sérgio. Proposta de uma metodologia para o projecto do estaleiro de obras. Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg219a226.pdf

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O Projecto e a Obra

Na figura 7 apresenta-se um fluxograma proposto por FERREIRA e FRANCO, com as várias etapas para a elaboração do plano de estaleiro até a fase do anteprojecto.

Fig. 7 - Fluxograma para elaboração do anteprojecto das fases de estaleiro, (adaptado Ferreira e Franco)40

40

FERREIRA, Emerson de Andrade Marques, FRANCO, Luiz Sérgio. Proposta de uma metodologia para o projecto do estaleiro de obras. Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg219a226.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra

O anteprojecto das fases do estaleiro define os recursos que devem estar presentes no estaleiro e as suas características são as seguintes:

Análise das interligações dos elementos de estaleiro.

Estudo dos fluxos dos processos.

Definição dos elementos do estaleiro.

Análise da atribuição dos elementos.

Elaboração do arranjo físico do estaleiro.

Avaliação do arranjo físico.

Na figura 8, estes autores esquematizam as várias fases da elaboração do plano de estaleiro relacionando-o com as fases do projecto. De acordo com este esquema, as metas de produção definem os parâmetros de custos, preço e produção. As características do projecto, o tempo de execução, as tecnologias existentes, o conhecimento das mesmas e o balanço entre os recursos necessários e disponíveis, definem o processo construtivo que vai influenciar o plano de ataque na atribuição de recursos necessários à produção. Os meses críticos de actividade, a maior dificuldade de movimentação dos materiais no estaleiro e a quantidade de mão-de-obra, devem ser analisadas nas fases do estaleiro. Através da elaboração de um cronograma de materiais, e de acordo com as fases do estaleiro, prevêem-se as alternativas de transporte para que estas sejam decididas sem pôr em causa a prontidão de resposta imposta pela produção. Só se deve dar início ao projecto global ou final do plano de estaleiro, após avaliação favorável do arranjo físico do estaleiro, para se proceder à definição pormenorizada dos elementos que compõem o estaleiro (divisões funcionais dos ambientes de trabalho e localização de equipamentos).

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O Projecto e a Obra

Fig. 8 – Diagrama com as etapas para a elaboração do projecto de estaleiro (Ferreira e Franco)41

FRANCO e FERREIRA sustentam que a metodologia apresentada para o projecto do estaleiro de obra vem contribuir para aumentar a eficiência dos estaleiros da obra, os níveis de qualidade e produtividade, assim como, ajudar na melhoria do resultado final do empreendimento, aumentando desse modo a competitividade da empresa.42

41

FERREIRA, Emerson de Andrade Marques, FRANCO, Luiz Sérgio. Proposta de uma metodologia para o projecto do estaleiro de obras. Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg219a226.pdf

42

Idem

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A Interpretação do Projecto em Obra

3.1.3

Organização física do plano de estaleiro

A partir dos elementos fornecidos pelo planeamento, a produção da obra deve definir:

Todas as fases de execução do projecto;

Os prazos e custos;

Os métodos de execução;

Os tipos de materiais;

A carga de mão-de-obra;

Os fluxos e quantidades de materiais;

Os equipamentos móveis e fixos.

Será necessário então organizar um plano de estaleiro cujas peças constituintes do estaleiro deverão possuir uma funcionalidade recíproca e interligada que assegure uma exploração conveniente,43 escolhendo para os locais certos o posicionamento dos elementos que o compõem, sabendo que responderão com eficácia e no momento oportuno às necessidades da produção. A organização e o adequado posicionamento dos elementos de estaleiro, assim como os recursos necessários à produção, influenciam a melhoria do processo de produção do edifício (FERREIRA e FRANCO).44

43

CARDOSO, J.M.Mota. Direcção de obra, organização e controlo 2007,AECOPS. FERREIRA, Emerson de Andrade Marques, FRANCO, Luiz Sérgio. Proposta de uma metodologia para o projecto do estaleiro de obra. Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg219a226.pdf

44

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O Projecto e a Obra

A disposição física dos elementos de estaleiro, as dimensões funcionais dos ambientes de trabalho e a localização dos equipamentos estão condicionados pelo tipo de obra e condições do terreno. No entanto, a experiência e a intuição dos técnicos responsáveis pela obra pode levar a que estes adoptem um conjunto particular de decisões quanto ao arranjo físico do estaleiro, cuja configuração passa a ser em função dos mesmos, esquecendo assim a filosofia da imagem da empresa (MAIA e SOUSA).45 Neste contexto, MAIA e SOUSA defendem que a concentração do conhecimento não deve permanecer só no indivíduo (técnico), mas ser partilhada com a organização (empresa), a fim de se utilizarem critérios que possam considerar as directrizes, objectivos e aspectos técnicos da empresa, sugerindo que a organização do arranjo físico do estaleiro passe a ser em função de critérios mais colectivos e explícitos. A figura 9 apresenta os critérios, as definições e factores a ter em consideração, no momento de pensar o arranjo físico do plano de estaleiro.

Fig. 9 - Quadro resumo dos critérios adoptados para o arranjo físico do estaleiro de obra (adaptado Maia e Sousa)

CRITÉRIO Acessibilidade

DEFINIÇÃO Facilidade de entrada e saída de pessoas, materiais e equipamentos no estaleiro da obra.

FACTORES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Existência de entrada exclusiva para a mão-deobra. Número de acessos para materiais. Largura dos acessos. Regiões servidas pelos acessos. Proximidade dos acessos aos armazéns de materiais. Proximidade acessosequipamentos de transporte vertical. Espaços para paragem de camiões nas proximidades do estaleiro.

45

MAIA, Alexandre Costa, SOUSA, Ubiraci Espinelli Lemes de, Método para conceber o arranjo físico dos elementos do estaleiro de obras de edifícios. Disponível em: http://publicacoes.pcc.usp.br/PDF2003&2004_1/BT%20-%20338.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra Movimentação de materiais

Indica a facilidade com que os materiais são levados de um ponto para outro dentro do estaleiro.

8.

Facilidade para a movimentação de pessoal

Indica a facilidade de movimentação dos trabalhadores, de um ponto para o outro, com finalidades diversas.

Interferência entre fluxos

Cruzamento e/ou sobreposição das trajectórias percorridas aquando do transporte de materiais, entre si ou com a movimentação de pessoas. A fiabilidade do equipamento denota a segurança ou a certeza deste no cumprimento de uma tarefa com poucas probabilidades de falha. A qualidade dos armazéns pode ser entendida como um conjunto de propriedades, atributos ou condições desejáveis do local de stocks, para que seja considerado adequado à manutenção das características físicas e químicas e de desempenho de determinado material.

12. Existência de transporte vertical. 13. Somatório das distâncias horizontais percorridas pelos trabalhadores sem a finalidade de transporte de materiais. 14. Número de cruzamento dos fluxos.

Fiabilidade dos equipamentos Aspectos adicionais quanto à qualidade dos armazéns

Segurança patrimonial

Conjunto de medidas que visam evitar furtos de materiais dentro do estaleiro de obra.

Segurança da mão-deobra

Preservação da saúde e estado físico natural dos trabalhadores, pela protecção dos mesmos quanto aos riscos de acidentes.

Distâncias horizontais reduzidas entre o ponto de chegada e o ponto final de utilização dos materiais. 9. Minimização do número de etapas do fluxograma de processos. 10. Características das vias de transporte. 11. Adopção de sistema de transporte sem decomposição de movimento.

15. Relação capacidade / aumento do número de equipamentos. 16. Dimensionamento adequado para cada tipo e qualidade de material. 17. Distância de outros fluxos. 18. Acesso e saída facilitados. 19. Os stocks devem ter características de protecção adequadas em relação à acção das intempéries. 20. Existência de guarda. 21. Número reduzido e controlado de acessos. 22. Distâncias elevadas entre os acessos. 23. Posição deficiente dos armazéns de stocks em relação ao guarda. 24. Redução do uso de mão-deobra para o transporte de materiais dentro do estaleiro de obra. 25. Características adequadas dos percursos realizados pela mão-de-obra para diversos fins. 26. Existência de vias definidas para a movimentação de pessoal e materiais. 27. Cruzamento entre fluxos. 28. Obediência e cumprimento das exigências das normas.

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O Projecto e a Obra Estética e marketing

Estética e marketing são encarados como um conjunto de características, propriedades, atributos ou condições visuais que denotem e reforcem uma imagem comercial positiva da empresa construtora da obra para o público em geral.

Flexibilidade

Aptidão ou capacidade que o estaleiro tem em adaptar-se às mudanças nas características ou volumes de trabalho.

Salubridade/conforto e motivação dos trabalhadores

Conjunto de factores que promove a saúde ocupacional e a higiene no ambiente de trabalho, contribui para o conforto e bemestar do trabalhador e, além disso, induz positivamente na conduta e postura do trabalhador em relação ao trabalho que executa. Facilidade de gestão/acompanhamento das actividades de produção dentro do estaleiro de obra.

Interacção administração/produção

29. Posicionamento dos elementos, que possam causar boa impressão aos transeuntes e visitantes, em locais que proporcionem boa visibilidade. 30. Adopção de equipamentos inovadores (tecnologia). 31. Controle da visibilidade da obra de fora para dentro quanto às partes do estaleiro que não se quer mostrar ao público externo. 32. Facilidade de limpeza e retirada do entulho. 33. Posicionamento privilegiado do stand de vendas. 34. Posicionamento dos elementos em locais que permitam a sua permanência durante o maior tempo possível sem sofrerem alterações. 35. Possibilidade de realizar modificações no estaleiro, quando necessárias, o mais rápido possível e com o mínimo de interferências. 36. Modularidade das instalações, facilitando eventuais acréscimos ou reduções de áreas destinadas aos elementos. 37. Composição do local que abriga o elemento, permitindo a fácil montagem/desmontagem. 38. Respeito às normas em vigor.

39. Posicionamento da área administrativa que privilegie a gerência e o controle visual da produção.

Os autores sugerem ainda que cada empresa poderá escolher de entre todos os critérios, aqueles que porventura considere mais pertinentes, uma vez que o orçamento disponível para o plano de estaleiro depende do custo total da obra.

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A Interpretação do Projecto em Obra

3.1.4

Optimização do plano de estaleiro

As várias fases da obra determinam as possíveis alterações que o estaleiro poderá sofrer ao longo da empreitada, sendo que o mais usual é a determinação do arranjo físico do estaleiro na primeira fase da obra. Mas, se for pensado na fase mais crítica, resulta em maior flexibilidade porque permite que o posicionamento dos elementos leve em consideração todas as fases, resultando numa maior flexibilidade, privilegiando o momento mais crítico,46 prevendo-se assim os espaços necessários a utilizar para todos os elementos de apoio à obra, dentro do limite imposto pelas restrições do projecto da edificação. Neste sentido, e com base nos dados do mês crítico, devem ser especificadas de um modo geral as seguintes informações:

Dimensões dos elementos do estaleiro;

Localização dos elementos do estaleiro;

Início e fim da sua presença no estaleiro;

Proximidade / afastamento de outros elementos, dos acessos e dos limites;

Especificações / recomendações / cuidados necessários.

As áreas necessárias aos elementos de estaleiro são condicionadas pela natureza dos recursos, do tipo de projecto, do tipo de estaleiro e da política da empresa, podendo ser classificadas segundo quatro perfis básicos (TOMMELEIN).47

46

MAIA, Alexandre Costa, SOUSA, Ubiraci Espinelli Lemes de, Método para conceber o arranjo físico dos elementos do estaleiro de obras de edifícios. Disponível em: http://publicacoes.pcc.usp.br/PDF2003&2004_1/BT%20-%20338.pdf 47 Citado por desconhecido disponível em: http://www.gerenciamento.ufba.br/Disciplinas_arquivos/M%C3%B3dulo%20X%20-%20Canteiro/TeseC4.pdf

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O Projecto e a Obra

Segundo este autor, os elementos de estaleiro caracterizam-se em dois tipos de recursos, dependentes e independentes, classificando-os da seguinte forma:

Recursos dependentes, disponíveis no estaleiro durante a execução da actividade e cujo espaço se reduz ao longo da execução da obra. São exemplo os tijolos, blocos de cimento, areia ou brita.

Recursos dependentes, disponíveis no estaleiro durante a execução da actividade, ocupando uma área constante ou variável, entre um mínimo e um máximo, e cujo volume varia ao longo da execução da obra. São exemplo os canos, tubos, telhas e chapas de madeira.

Recursos dependentes, de uma ou várias actividades, com área constante, disponíveis da primeira fase até aos terminus da obra. São exemplo os equipamentos.

Recursos independentes, disponíveis no estaleiro durante determinada fase da construção, e cujas exigências de espaço são constantes, no caso das gruas ou elevadores, durante a sua permanência no estaleiro. São exemplo as instalações de apoio, obstáculos existentes no estaleiro e equipamentos de longa duração (gruas ou elevadores).

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A Interpretação do Projecto em Obra

Verifica-se então, que os recursos dependentes estão relacionados com a execução de variadas actividades, estando a sua aplicação em obra prevista de acordo com o plano de trabalhos da produção. A presença destes materiais em obra vai ser temporária logo, e sem que haja conflito entre recursos dado que as actividades são desfasadas ao longo da execução, o espaço previsto para os recursos dependentes poderá ser o mesmo para todos até ao final da obra. Os recursos independentes, tratando-se de elementos indirectos de apoio à obra, são estruturas cuja presença se verifica desde o início até ao fim da obra, podendo nalguns casos reduzir o espaço da sua ocupação. A optimização destes elementos poderá seguir alguns princípios básicos, para que haja funcionalidade entre espaços, podendo-se destacar os seguintes:48

A localização do vestiário poderá ficar junto à entrada da obra e antes do relógio de ponto, para que os trabalhadores possam trocar de roupa antes de marcar a sua saída. Quando da entrada, a circulação dos trabalhadores pela obra já é feita com equipamentos de segurança.

Os sanitários devem estar interligados aos vestiários para que os trabalhadores possam tomar banho e vestir-se no final do dia, sem circular pela obra.

Os escritórios da obra devem ficar localizados num local de ampla visibilidade do empreendimento, para possibilitar aos técnicos uma visão geral dos acontecimentos.

48

Citado por autor desconhecido, disponível em: http://www.gerenciamento.ufba.br/Disciplinas_arquivos/M%C3%B3dulo%20X%20-%20Canteiro/TeseC4.pdf

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O Projecto e a Obra

Respeito pelas sobrecargas previstas na estrutura, no caso de gruas, ou equipamentos de apoio que necessitem de fixações ao edifício.

As instalações consideradas principais devem ser centralizadas, visando reduzir a vigilância, facilita o controle e a distribuição de materiais e pessoal.

As instalações secundárias devem ser localizadas em posições mais próximo das periferias, para que não haja interferência com outros equipamentos de apoio à obra.

Não se pretende que esta metodologia se adapte a todo o tipo de obras visto que, como já foi referido, o tipo de obra (tecnologia empregue para a sua execução), as condições de espaço e o projecto determinam as decisões a serem tomadas. Mas, para que o plano de estaleiro não seja uma consequência das características do projecto, a combinação de um grande número de elementos de estaleiro com pouca disponibilidade de espaço leva a que os técnicos detenham uma boa dose de criatividade para encontrarem soluções inovadoras na optimização dos espaços.49

As figuras 10, 11 e 12, apresentam a título de exemplo uma possível organização de estaleiro nas várias fases da obra.

49

SAURIM, Tárcisio Abreu, FORMOSO, Carlos Torres. Planeamento de estaleiros de obra e gestão de processos (volume 3). Disponível em: http://www.habitare.org.br/pdf/publicacoes/capitulos_rt_3.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra

50

Fig. 10 - Plano estaleiro na fase das fundações e início da supra-estrutura (Ciocchi 2004).

50

CIOCCHI, Luiz. Revista Téchne 82, Janeiro 2004.

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O Projecto e a Obra

51

Fig. 11 – Plano de estaleiro na fase da supra-estrutura (Ciocchi 2004).

51

CIOCCHI, Luiz. Revista Téchne 82, Janeiro 2004.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 12 - Plano de estaleiro na fase dos acabamentos (Ciocchi 2004).

52

52

CIOCCHI, Luiz. Revista Téchne 82, Janeiro 2004.

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O Projecto e a Obra

4 Capitulo 4 – Interpretação do Projecto

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A Interpretação do Projecto em Obra

4.1 O Projecto em Obra 4.1.1

Diferença entre Projecto base e Projecto de execução

Segundo FABRICÍO, o projecto base é visto como um projecto sem indicações de como produzi-lo e, muitas das vezes, não caracteriza completamente o produto, deixando para a etapa da obra a definição das características do produto e a selecção de materiais ou componentes a serem utilizados.53 Acrescenta ainda que sendo estes projectos que definem o produto (edifício), muitas das vezes não consideram adequadamente a forma e as implicações quanto à produção das soluções adoptadas, sendo comum que as especificações e detalhes sejam incompletas, acabando por ser modificadas ou resolvidas durante a execução da obra. Nesta linha de raciocínio, MELHADO e FABRICÍO salientam que o projecto base é regra geral caracterizado por uma série de indefinições. Quer das características do produto (incompleto ou com informações conflituosas), quer das actividades produtivas (ausência de definições de procedimentos de execução), repercutindo-se em decisões improvisadas em obra.54 As empresas de construção civil dependem, para a execução das obras que lhe são adjudicadas, de elementos de projecto credíveis, cuja função é auxiliar as suas actividades nas fases de construção de um edifício. Neste sentido, os projectos podem ser vistos como uma fonte de informação, que pode ser de natureza tecnológica, sendo útil ao planeamento e programação das actividades de execução ou que a ela dão suporte.55 Esta informação é obtida através do projecto de execução que além de definir a forma, dimensões e tipo de materiais, informa os executantes dos métodos e procedimentos construtivos.

53

FABRÍCIO, Márcio Minto, Projecto simultâneo na construção de edifícios 2002. Disponível em: http://www.pcc.usp.br/silviobm/Publica%C3%A7%C3%B5es%20PDF/SIBRAGEQ99-ES.pdf 54 MELHADO, Sílvio Burrattino; FABRICIO, Márcio Minto, Projectos da produção e projectos para produção na construção de edifícios: Discussão e síntese de conceitos. Disponível em: http://www.pcc.usp.br/silviobm/Publica%C3%A7%C3%B5es%20PDF/ENTAC1998_Proj-PProd.pdf 55 CONDE, Karla Moreira, Qualidade de projecto em empresas construtoras: Diagnostico e recomendações 2001. Disponível em: www.ufes.br/~pgecivil/dissert/KarlaMoreiraConde2001.pdf

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O Projecto e a Obra

CABRITA define o projecto base como sendo um projecto definidor da forma e dimensões gerais das edificações e da sua compartimentação interior, a sua constituição construtiva, assegurando a divisão, comunicação e conforto dos espaços, em obediência às exigências do programa.56 No que diz respeito ao projecto de execução, este autor considera-o como a ultima imagem das decisões tomadas pelos projectistas, após a obtenção dos acordos finais do cliente sobre a última proposta de solução. E destina-se a fornecer a concursos a informação completa sobre o projecto necessária à execução dos trabalhos em obra. CABRITA considera também que ao longo do projecto haverá vários desenhos base, conforme as necessidades, que evoluirão ao longo do projecto, por um processo aditivo da informação de cada especialidade técnica, a desenhos de comunicação à obra, como sendo:

Desenhos de implantação;

Desenhos gerais de posição;

Desenhos parciais de posição;

Desenhos de construção;

Desenhos de montagem;

Desenhos de produção de componentes.

Para além dos desenhos, o projecto de execução mostra também quadros de inter-referência dos desenhos e mapas e quadros descritivos. Apresenta-se a seguir:

56

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC)

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A Interpretação do Projecto em Obra

Desenhos de implantação: São desenhos gerais do edifício e terreno anexo, representando em planta e perfil a implantação do edifício em relação ao terreno e, sempre que possível, à malha urbana limítrofe, servindo também para implantação das redes de serviço. Em geral, são desenhos com escalas entre 1:500 e 1:100. A sua informação deve seguir os seguintes pontos:57

Linha limite do terreno com referências de identificação nos vértices das linhas extremas;

Confrontações com outras propriedades ou edifícios;

A orientação geográfica;

Pontos de referência;

Definição geométrica do relevo;

Indicação gráfica do volume de terras a movimentar;

Constituição geológica;

Definição gráfica cotada e especificada das construções já existentes sob o edifício;

Espécies arbóreas a manter;

Construções ou irregularidades existentes no terreno;

Malha do edifício situada em relação aos pontos de referência;

57

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC)

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O Projecto e a Obra

Nestes desenhos devem ainda ser indicadas as seguintes inter-referências:

As ligações entre os elementos construtivos das diversas especialidades com referências a desenhos de detalhe;

As ligações entre os elementos construtivos das diversas especialidades para a ligação entre os elementos exteriores e interiores em relação à edificação, para as diversas especialidades técnicas;

Perímetro exterior da área da edificação, ao nível do terreno;

Cotas de implantação de pontos notáveis, escolhidos na malha e relacionados com os pontos de referência;

Implantação das redes exteriores de abastecimento de água, gás, energia eléctrica e outros serviços especiais que se prevejam;

Implantação das redes exteriores de distribuição de iluminação, água para rega e outros serviços que se prevejam;

Implantação das redes exteriores de esgotos domésticos, pluviais, águas de lavagens, drenagens;

O posicionamento por cotas de referência com a identificação por código gráfico e a especificação por código alfanumérico dos elementos principais dessas redes. Exemplo de um desenho de implantação é apresentado na fig.13

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 13 - Desenho de implantação (Cabrita 1996).58

58

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC)

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O Projecto e a Obra

Desenhos gerais de posição: São desenhos gerais de escala média (1:200 e 1:100), representando projecções ortogonais das partes constituintes de cada edifício ou bloco, suas proporções e relação geométrica. Servem para a localização ou posicionamento das partes detalhadas na pormenorização do projecto de comunicação à obra (execução). Como estes desenhos se aplicam a várias especialidades da obra, o seu conteúdo deve conter informação que possa definir isoladamente um certo número de informação comum por especialidade. Os desenhos gerais de posição juntam elementos da construção que se encontram distribuídos pelos desenhos de pormenor, permitindo assim uma visão geral e localizada. Estes desenhos de pormenor inter-relacionam-se uns com os outros através dos desenhos de posição. Devido à quantidade de informação das diversas especialidades técnicas representada num só desenho, existe a necessidade de dividir a informação por vários desenhos gerais de posição, mantendo sempre a mesma base.59 A figura 14 representa a título de exemplo um tipo de desenho geral de posição.

59

CABRITA, A. M. Reis 1996. Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 14 - Desenho geral de posição (Cabrita 1996).60

60

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

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O Projecto e a Obra

Desenhos parciais de posição: São desenhos com as mesmas características dos desenhos gerais de posição, mas respeitantes a zonas mais limitadas e com maior complexidade. Devem ser utilizadas escalas entre 1:50 e 1:10. Estes desenhos têm a função de indicar a forma , dimensões e posição relativa dos elementos da construção, mas em zonas mais restritas cuja a densidade de informação exige escalas maiores a fim de obter maior detalhe de representação. A sua inter-relação com os desenhos de projecto deve ser a seguinte:61

Desenhos parciais de posição / projecto de estruturas;

Desenhos parciais de posição / projecto geral;

Desenhos parciais de posição / projecto de águas e esgotos;

Desenhos parciais de posição / projecto de instalações especiais; A atribuição destes desenhos ao projecto de execução deve definir-se de acordo

com as zonas de maior complexidade da obra, não sendo necessário definir todas as partes da edificação. No entanto, segundo CABRITA pode não fazer-se a escolha por zonas de maior complexidade quando existe uma zona que pela sua repetibilidade, compensa a sua representação em pormenor aumentando o rigor e trazendo fortes compensações económicas.62 Na figura 15 é apresentado um desenho tipo parcial de posição.

61

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

62

IDEM.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 15 - Desenho parcial de posição (Cabrita 1996).63

63

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

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O Projecto e a Obra

Desenhos de construção: São desenhos parciais definidos geralmente em secção e, por vezes, com vistas para mostrar as ligações mais complexas ou típicas entre elementos primários da construção, devendo-se utilizar escalas entre 1:20 e 1:5. Nestes desenhos devem ser definidos todos os acessórios necessários à ligação dos elementos, assim como garantir as especificações previstas no caderno de encargos.64

Fig. 16 - Desenho de construção65

64

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

65

Desenho do autor da dissertação

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A Interpretação do Projecto em Obra

Desenhos de montagem: São desenhos com o mesmo âmbito que os desenhos de construção, aplicam-se à representação das ligações entre componentes unitários da construção, produzidos isoladamente, e do assentamento desses elementos compostos na construção. Os desenhos parciais de posição fornecem a indicação da localização onde o elemento de montagem em causa se enquadra. Indicando o desenho de montagem a forma como se executa e assenta em obra a respectiva peça.66 Na figura 17 apresenta-se um desenho tipo de montagem de um elemento.

Fig. 17 - Desenho de montagem67

66

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

67

Desenho do autor da dissertação

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O Projecto e a Obra

Desenhos de produção de componentes: São desenhos que definem completamente um componente unitário da obra. Consideram-se como desenhos gerais em relação a esse componente, sendo no entanto parciais em relação ao conjunto da obra. A definição destes componentes será feita pela sua representação gráfica integrada na representação geral do elemento e pela definição das suas qualidades físicas nestes desenhos e em quadros de encomenda e fabrico.68 Na figura 18 é apresentado um desenho tipo de produção de um componente.

Fig. 18 - Desenho de produção de componentes (Soleira ).69

68

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

69

Desenho do autor da dissertação.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Quadros de inter-referência de desenhos: São quadros remissivos da informação desenhada do projecto e que relacionam os diversos elementos da construção. Nestes quadros faz-se somente referência ao código do elemento e dos seus componentes, (ex: para a porta; os aros, a bandeira, os vidros, etc.) segundo a organização do caderno de encargos, a referência às peças desenhadas e escritas onde se encontra a informação relacionada, os quantitativos totais do elemento e componentes.

Mapas descritivos e quadros: São mapas de coordenação da informação relativa aos atributos qualitativos e quantitativos e aos elementos da construção organizados por tipos de elementos. Estes mapas, em casos simples, podem conter a informação dos quadros de inter-referência de desenhos. Os mapas descritivos contêm a descrição relativa à inserção ou posição no conjunto da obra de cada elemento, revestimento ou acabamento e respectiva localização no projecto, enquanto que os quadros contêm a informação apenas relativa à produção de um tipo de elemento, (ex: vãos de janela e componentes em geral), revestimentos e acabamentos

CONDE encara o projecto de execução, como um conjunto de elementos de projecto elaborado de forma simultânea ao projecto base e para utilização no âmbito das actividades de produção em obra. Segundo esta autora, o projecto de execução deve conter definições da disposição e sequência das actividades em obra e frentes de serviços do uso de equipamentos e ferramentas, tendo como função transmitir efectivamente para a obra a forma como a tecnologia deve ser aplicada, evitando assim que as decisões sejam tomadas na altura do acontecimento.70

70

CONDE, Karla Moreira, Qualidade de projecto em empresas construtoras: Diagnóstico e recomendações 2001. Disponível em: www.ufes.br/~pgecivil/dissert/KarlaMoreiraConde2001.pdf

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O Projecto e a Obra

Neste contexto, e para que o conceito de construtibilidade se enquadre com características do projecto, a existência de um projecto de execução como elemento definidor da obra, deve funcionar como antecipação da produção de determinadas etapas críticas da obra e auxiliar na avaliação da construtibilidade dos projectos do produto e na busca por soluções alternativas que o melhorem.71 O projecto de execução tem como função permitir uma melhor tradução das características e especificações do produto em procedimentos e sequências de produção em obra, minimizando a possibilidade de execução inadequada ou incompleta destas especificações. A figura 19 apresenta a comparação entre as situações com e sem utilização de projecto de execução numa obra.

Fig. 19 - Comparação entre as situações com e sem utilização de projectos de execução (Fabrício 1996)72

Aspecto comparado Decisões tomadas quanto a

Obra com projecto de

Obra sem projecto de

execução

execução

Projecto

Obra

detalhes de execução Prazo para decisão

Existência de uma antecedência em

Em geral, a necessidade da decisão é

relação à execução das tarefas.

detectada no momento da execução do serviço.

Profissionais envolvidos na decisão

Projectistas treinados e preparados

Por vezes o responsável da obra, que

para os devidos assuntos.

pode não estar preparado para tomar a decisão mais correcta, além de não dispor de tempo suficiente para reflectir sobre a questão, acaba por delegá-la aos executantes.

71

MELHADO, Sílvio Burrattino; FABRICIO, Márcio Minto, Projectos da produção e projectos para produção na construção de edifícios: Discussão e síntese de conceitos. Disponível em: http://www.pcc.usp.br/silviobm/Publica%C3%A7%C3%B5es%20PDF/ENTAC1998_Proj-PProd.pdf 72 FABRICIO, Márcio Minto, Processos construtivos flexíveis: Projecto da produção. Disponível em: http://www.eesc.usp.br/sap/docentes/fabricio/Processos_Construtivos_Flexiveis.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra Restrições de custos

Se o orçamento é feito a partir do

A obra possui um orçamento a ser

projecto, existe a possibilidade de se

cumprido, do qual uma parcela,

estudar um vasto número de

maior ou menor, conforme o prazo

alternativas.

da obra, já foi gasto, ficando por isso algumas alternativas inviabilizadas.

Compatibilização de interferências

Há possibilidade de alterações nos

Muitas vezes elementos, já

outros projectos, de forma a

executados, não podem ser

optimizar a solução num todo.

alterados, ficando-se sem alternativas, que nem sempre são as melhores do ponto de vista de custo, prazo e qualidade de obra. É comum em alguns dos casos, a demolição de um elemento já feito por não se ter previsto algum detalhe.

Verifica-se então que vários autores distinguem o projecto base do projecto de execução, considerando que este último é fundamental para o bom desempenho em obra no que diz respeito ao detalhe de informação a disponibilizar aos executantes na fase de construção. A título de exemplo, a figura 20 ilustra um extracto de um projecto base, e as figuras 21, 22, 23 e 24 apresentam a evolução em detalhe do mesmo compartimento, mas enquadrado já no projecto de execução.

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O Projecto e a Obra

Fig. 20 - Extrato de um projecto base de umas instalações sanitárias (fonte NLA Nuno leónidas arquitectos).

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 21 - Extracto de um projecto de execução de umas instalações sanitárias (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos).

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O Projecto e a Obra

Fig. 22 - Corte 3 de um projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos).

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 23 - Pormenor do vão M104 da I.S.S. no projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos).

- 78 -


O Projecto e a Obra

Fig. 24 - Pormenores das paredes da I.S.S. no projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos).

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 25 - Pormenores de remate dos tectos falsos da I.S.S. no projecto de execução (Fonte NLA Nuno leónidas arquitectos).

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O Projecto e a Obra

4.1.2

Análise crítica do Projecto em obra

A titularidade dos projectos pertence aos seus autores, sendo que, sempre que se verifique em obra a necessidade de alterar ou adaptar o projecto a uma nova realidade, esta terá de ser submetida à apreciação dos responsáveis de projecto. Neste contexto, o poder de decisão das empresas construtoras em relação ao projecto na fase de construção encontra-se limitado, visto que, qualquer alteração terá de ser transmitida ao projectista a fim de ser ou não considerada. Neste sentido, e para salvaguardar a posição da empresa no decorrer da obra, é conveniente a realização de reuniões periódicas com os intervenientes de projecto durante a produção do edifício, para garantir um controle do processo. A análise crítica do projecto em obra é a avaliação do projecto à medida que a obra é desenvolvida e até à sua conclusão. Este processo tem como objectivo adequar as características do projecto às directrizes e objectivos estabelecidos, aumentando a construtibilidade, reduzindo os custos ou prazos, optimizando métodos construtivos, racionalizando a produção e contribuindo para a qualidade. Esta análise é desenvolvida por meio de um exame completo dos aspectos técnicos, de acordo com a sua relação com a concepção, o processo das soluções adoptadas, permitindo assim que as avaliações sejam feitas ao longo do processo de construção do edifício (CONDE).73 Esta autora sugere que a análise crítica do projecto deve iniciar a sua actividade logo no início do projecto e acompanhá-lo até a conclusão do projecto de execução, enumerando diversos parâmetros que considera serem relevantes para as várias etapas do projecto.

73

CONDE, Karla Moreira, Qualidade de projecto em empresas construtoras: Diagnostico e recomendações 2001. Disponível em: www.ufes.br/~pgecivil/dissert/KarlaMoreiraConde2001.pdf

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A Interpretação do Projecto em Obra

Os parâmetros que estão directamente relacionados com a análise crítica do projecto em obra são:

Qualidade da solução quanto à tecnologia de produção escolhida;

Nível de compatibilização das interfaces entre projecto de especialidades;

Detecção de pontos desconsiderados ou mal resolvidos;

Análise do nível de informação definido pelo detalhe e a sua adequação à prática da empresa;

Qualidade dos detalhes construtivos e a análise da sua construtibilidade;

Análise do projecto para a produção e dos seus critérios de racionalização;

Verificação dos itens indicados pelo projecto a serem controlados na execução, critérios e tolerâncias adoptados;

Avaliação dos aspectos característicos de durabilidade, custos de operação e manutenção do produto e das suas partes;

Atendimento a normas técnicas e legislações aplicáveis;

Análise do custo total e da composição dos factores de custo.

- 82 -


O Projecto e a Obra

4.1.3

Reflexo da qualidade do projecto na competitividade da empresa

A competitividade de uma empresa está intimamente ligada à capacidade que a empresa possui de manter ou aumentar as suas quotas de mercado através da qualidade dos seus produtos. Na construção civil, as empresas construtoras são responsáveis pela organização e desenvolvimento das obras que vão transformar os projectos e planos em edifícios reais, gerando assim um produto final. Para que o produto final exceda as expectativas do cliente e da empresa é necessário que a qualidade e as soluções projectuais se enquadrem no plano da construtibilidade, ou seja, na capacidade que o projecto detém no sentido de direccionar e interagir com os sistemas de produção de forma eficiente. Um projecto com indefinições ou incompatibilidades cria conflitos de execução porque, na ausência de projectos orientados para a produção, a falta de domínio técnico, leva por vezes a que se estabeleçam procedimentos e decisões rápidas que podem pôr em causa todo o processo construtivo, repercutindo-se num aumento dos custos previstos, no não cumprimento do prazo estabelecido, assim como no denegrir da imagem da empresa. Através da melhoria do projecto, as empresas tornam-se mais competitivas, modernizando as suas formas de produção, aumentando a produtividade dos serviços, eliminando as falhas do pós-venda, tornando mais efectiva a aplicação dos recursos na construção e melhorando a qualidade do produto final. VIEIRA considera que a fiabilidade e a adequação das propostas técnicas deve ser tratada de forma rigorosa, ressalvando que o não cumprimento das especificações técnicas previstas em projecto pode causar impactos negativos na construção. Eventuais alterações das especificações técnicas devem ser discutidas, tanto quanto possível na fase de projecto, envolvendo os sectores ligados à produção, para

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A Interpretação do Projecto em Obra

que de um modo efectivo o resultado seja a obtenção de melhores resultados, com custos mais baixos e tempos de execução reduzidos.74 Segundo CONDE, a figura 26 ilustra os reflexos negativos da má qualidade do projecto na competitividade das empresas construtoras.

Barreiras tecnológicas •

Ausência ou deficiência nos

Aumento de custos e prazos.

projectos.

Diminuição do lucro.

Ausência de projecto para a

Aumento de perdas.

produção.

Diminuição da qualidade e

Ausência de coordenação entre os vários projectos.

produtividade. •

Deficiência de especificações técnicas.

Reflexos negativos

materiais e controle dos serviços. •

Ausência ou deficiência de informações técnicas e de projecto

Problemas de interface projectoobra.

sobre métodos construtivos. •

Dificuldades com a selecção de

Problemas de interface entre subsistemas.

Deficiência ou ausência de gestão

Diminuição do desempenho.

da qualidade voltada para o

Necessidade de manutenções

projecto.

frequentes. •

Utilização reduzida de novas alternativas construtivas.

Insatisfação do cliente.

Má imagem da empresa.

Fig. 26 - Reflexos negativos para a competitividade das empresas através da má qualidade dos projectos, (adaptado Conde 2001).

74

VIEIRA, Miguel Jaime de Araújo Pais. Racionalização do processo de desenho 2003. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/906/1/2003.12.31.%20Vers%c3%a3o%20Final.pdf

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O Projecto e a Obra

Neste sentido, verifica-se que o projecto ganha protagonismo como instrumento na melhoria da competitividade das empresas, visto que a qualidade e os detalhes das soluções projectuais são importantes para disponibilizar ao pessoal da obra o que se espera do produto e dos subsistemas construtivos. A integração das soluções de especialidades e a compatibilidade das informações presentes nos vários projectos são fundamentais para que a obra possa executar os subsistemas sem interferências não previstas (CONDE).75

4.1.4

Informação escrita do Projecto

A informação contida no processo do projecto de execução é extensa, não se conseguindo divulgar só nos desenhos. A informação de projecto que não é apresentada em desenho faz parte dos elementos escritos do projecto que o complementam em termos de características específicas. Estas características ou especificações técnicas vêm no chamado caderno de encargos que, segundo CABRITA, regulamenta as acções dos intervenientes e dos trabalhos, assim como as qualidades e procedimentos que devem possuir os materiais a aplicar na obra. Segundo este autor, o caderno de encargos divide-se em condições comuns a toda a empreitada, condições técnicas gerais e condições técnicas especiais, chamando a atenção de determinados critérios a serem atendidos por cada condição.76 Enumeram-se a seguir os critérios para cada condição do caderno de encargos: Condições comuns a toda a empreitada:

Disposições gerais (disposições e cláusulas da empreitada, condições gerais e regulamentos,

regras

de

interpretação,

erros

e

omissões,

alterações,

subempreitadas conjuntas e licenças). 75

CONDE, Karla Moreira, Qualidade de projecto em empresas construtoras: Diagnostico e recomendações 2001 Disponível em: www.ufes.br/~pgecivil/dissert/KarlaMoreiraConde2001.pdf 76

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

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A Interpretação do Projecto em Obra

Objecto e regime da empreitada.

Pagamentos ao empreiteiro.

Consignação da obra (prazos prorrogações e formalidades).

Preparação e planeamento dos trabalhos (preparação da empreitada e prazos para a execução da empreitada).

Fiscalização e controle.

Recepção e liquidação da obra.

Pessoal.

Condições técnicas gerais:

Relativa aos trabalhos;

Relativa aos materiais a aplicar;

Relativa aos produtos a aplicar;

Relativa aos elementos a aplicar;

Condições técnicas especiais:

Obras preliminares (estaleiro, instalações provisórias e acessos, protecções, desvios e demolições).

- 86 -


O Projecto e a Obra

Trabalhos no terreno (preparação, desmatação, decapagem, consolidação e drenagem do terreno, escavações, aterros, consolidação e transporte de terras).

Construções no terreno envolvente (pavimentação, elementos primários e secundários,

revestimentos

e

acabamentos,

impermeabilizações,

jardinagem e vedações).

Infra-estruturas (tipo de fundações e elementos, compartimentos enterrados e semienterrados, impermeabilizações e alguns casos especiais).

Elementos primários (estrutura resistente, alvenarias e betões, em envolventes e compartimentação interior, em escadas e chaminés).

Instalações gerais no terreno envolvente (redes e equipamento interposto nas seguintes instalações gerais: alimentação e distribuição de água para as edificações, para a rega, para as bocas de incêndio, fornecimento de gás e energia eléctrica à edificação, distribuição de iluminação no terreno, redes de esgotos domésticos e pluviais, de gorduras e de lavagens.

Instalações gerais enterradas sob a edificação (igual ao ponto anterior), com excepção da distribuição de água para rega e bocas de incêndio, da distribuição de iluminação e redes de águas pluviais.

Instalações gerais na edificação (subdivisão necessária à distribuição de água, em quente e fria, distribuição de energia para iluminação, aparelhagem eléctrica, comunicações, instalações de evacuação de lixos e ventilação).

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A Interpretação do Projecto em Obra

Elementos secundários (portas, janelas, clarabóias, guardas, alçapões).

Elementos de equipamento (armários, bancadas, balcões, equipamento sanitário e de cozinha).

Revestimentos (em pavimentos, paredes, tectos, escadas, coberturas incluindo a base para o seu assentamento).

Acabamentos (pintura, rebocos, estuques, envernizamento, polimentos, limpezas).

Equipamento móvel (equipamento mecânico, não mecânico, mobiliário, decoração).

Como forma de complemento ao caderno de encargos existe outro documento escrito que se chama medições. Segundo CABRITA, o caderno de encargos constitui um auxílio eficaz às medições no estabelecimento dos custos, isto porque a medição é apresentada segundo os itens que estruturam o caderno de encargos, e que contêm todas as especificações de ordem qualitativa que podem interferir na atribuição dos custos. As medições tem como objectivo o estabelecimento dos custos e quantidades parciais ou totais dos elementos a aplicar na obra, tornando-se especialmente importante para a administração e programação dos trabalhos em obra, assim como no pagamento dos trabalhos realizados ou não pelos subempreiteiros.77 Enumeram-se a seguir exemplos das aplicações em obra das medições:78

77

CABRITA, A. M. Reis, Informação técnica Edifícios 6, Regras para elaboração de projectos, 1996, 5ª Edição, Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

78

Idem.

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O Projecto e a Obra

Quantificar

uma

edificação

em

unidades

de

medida,

devidamente

regulamentadas, segundo os componentes, produtos e materiais, e de acordo com o projecto que os define, atribuindo, face a isso, as quantidades de recursos de meios humanos, de materiais e equipamento de apoio requeridas pelas quantidades acima referidas.

Ajudar a produção e a coordenação da montagem dos elementos na obra, independentemente das actividades e diversas subempreitadas, se forem feitas por elementos, de acordo com a estrutura do caderno de encargos.

Facilitar as encomendas, subempreitadas, recepção na obra, fiscalização, quando se opta por um critério de subdivisão de subempreitadas.

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A Interpretação do Projecto em Obra

4.1.5

Aplicações do Projecto de execução em obra

Nesta secção pretende-se ressalvar a importância que o projecto de execução proporciona às actividades em obra e a sua aplicação prática no sentido de melhorar os resultados, entendendo o projecto de execução como veículo informativo da racionalização das actividades desenvolvidas no estaleiro da obra. Nas actividades de construção civil, o principal meio de comunicação das ideias e intenções de projecto, é através dos projectos de trabalho. A construção de qualquer obra envolve projectos que orientam à realização do produto final; sendo que os projectos de trabalho formam o elo de ligação entre as duas actividades. Quando o elo é fraco, o produto do projecto torna-se moroso, a construção torna-se um fracasso repercutindo-se num resultado deficiente face ao previsto. Para que o processo de construção decorra sem problemas, é necessário que a produção disponha de meios de informação que não suscitem dúvidas, que possam pôr em causa a interrupção de determinadas actividades ou incompatibilidades construtivas. Neste sentido, a informação do projecto de execução deve ser feita através de desenhos e informações sintetizadas das especificações dos procedimentos de execução contendo uma linguagem clara e acessível destinada, não só, aos responsáveis da obra, mas também a todos os executantes das actividades. Este método permite que o projecto apresente uma informação que resulta num processo de produção correctamente definido e passível de ser implantado em obra.79 Para se estabelecer uma informação precisa, e com características que se enquadrem com os procedimentos e métodos da construção civil, é determinante que se respeitem alguns factores normalizados na construção, na qual o seu respeito contribui em muito para uma boa execução e controle de obra. 79

MACIEL, Luciana Leone; MELHADO, Sílvio Burratino. Aplicações do projecto para produção na construção de edifícios.

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O Projecto e a Obra

A actividade da construção civil trabalha com medidas, sendo através destas que se desenvolve todo o processo. Neste sentido, é recomendável que a informação contida nos projectos de execução contenha uma ordenação das medidas como base para determinar as dimensões em toda a normalização construtiva. As medidas normalizadas da construção civil são destinadas a medidas directrizes da obra e às suas derivadas, ou seja, medidas isoladas, medidas da obra em tosco e medidas da obra em limpo. As medidas directrizes da obra podem designar-se da seguinte forma:

São medidas teóricas do projecto base, sendo a base das medidas isoladas, da obra em tosco e da obra em limpo. São necessárias para a ligação planificada dos elementos de obra. Exemplos: Espessura de uma parede, dimensão de um compartimento, distâncias

entre eixos de obra.

As medidas isoladas são destinadas aos detalhes da obra em tosco e da obra em limpo. Exemplos: espessuras das juntas, espessuras dos rebocos ou estuques, medidas

dos encaixes, saliências e tolerâncias.

Medidas da obra em tosco são medidas que correspondem às da obra sem os acabamentos, ou seja, a espessura de uma parede sem contar com os acabamentos, a espessura de um pavimento sem contar com o revestimento, os vãos das portas sem contar com os revestimentos das ombreiras ou vergas.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Medidas da obra em limpo são medidas que correspondem à obra completamente acabada e que devem corresponder às medidas iniciais do projecto base. Exemplos: dimensões reais de um compartimento, a dimensão de um vão, os pés

direitos, etc. Verifica-se, então, que as dimensões ou cotas formam um sistema de informação importante, funcionando como códigos de informação à obra. No entanto, estes códigos não podem ser colocados isoladamente, devendo estar referenciados a linhas de coordenação e controle que se designam por malhas. Segundo CABRITA, o termo malha designa, na generalidade, os sistemas de linhas rectas cruzadas, paralelas aos principais planos da edificação a que se aplicam e servem para localizar e dimensionar os seus elementos constituintes. Como já foi referido anteriormente, para que as sequências dos trabalhos nas frentes de obra decorram com normalidade, é crucial que a informação a fornecer à produção não suscite dúvidas que possam pôr em causa o desenrolar dos trabalhos previstos. Os projectos não devem ter a intenção de ser complexos ou impressionar as pessoas que os analisam, mas sim, serem de fácil compreensão e conterem clareza nos objectivos da informação a ser partilhada. Contudo, a habilidade, a prudência, a investigação e a experiência são factores que contribuem para se projectar de acordo com estas características. Nesta linha de raciocínio, verifica-se que o diálogo, a troca de experiências e as visitas permanentes aos locais de execução das obras, beneficiam a actividade de projecto, visto que são uma mais valia para os autores do projecto de execução. Havendo um projecto bem definido, em que as relações projectista - construtor funcionam do ponto de vista corporativo, com discussões amistosas, chega-se a um resultado mais satisfatório, na medida em que se evitam as dificuldades naturais de todo o processo da construção civil.

- 92 -


O Projecto e a Obra

A seguir apresentam-se exemplos de aplicações em obra do projecto de execução para várias actividades. Visto existir uma grande diversidade de trabalhos no decorrer de uma obra, optou-se por seleccionar as seguintes:

Estrutura;

Alvenarias;

Pormenores construtivos;

Acabamentos;

Componentes para fabrico;

Impermeabilizações;

Instalações especiais.

Assim sendo as figuras representam: Fig.27 – Planta de fundações.

Definição da malha de eixos;

Designação e localização dos pilares referenciados aos eixos de obra;

Designação e localização das sapatas referenciados aos eixos de obra;

Designação e localização das estacas referenciadas aos eixos de obra;

Cotas altimétricas;

Espessura da laje de ensoleiramento.

Fig.28 – Sapatas em corte.

Definição das armaduras superior e inferior;

Referências a outros desenhos que o complementam.

Fig.29 – Planta do núcleo dos elevadores.

Pormenores das armaduras do núcleo.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 27- Extracto de uma planta de fundações.

80

80

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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O Projecto e a Obra

Fig. 28 - Pormenor das sapatas em corte.81

81

Desenho cedido pela empresa Edifer Construçþes.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 29 - Planta do núcleo dos elevadores – armaduras.

82

82

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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O Projecto e a Obra

Fig.30 – Definição geométrica do piso tipo.

Definição geométrica dos pilares;

Designação, dimensões e localização dos pilares em relação aos eixos de obra;

Definição geométrica do núcleo dos elevadores;

Localização e dimensão dos negativos horizontais;

Localização e dimensão dos negativos verticais;

Cotas altimétricas do piso em tosco e limpo;

Espessura da laje;

Designação das vigas;

Identificação dos vários tipos de betão.

Fig.31 – Pormenores verticais de estrutura.

Cotas altimétricas dos pisos em limpo e tosco;

Altimetria e espessura das vergas dos elevadores em tosco;

Dimensão e localização dos negativos verticais;

Referências ao nível de metro do piso.

Fig.32 – Planta de marcação de alvenarias e arranque do pavimento.

Localização e espessuras das alvenarias em tosco;

Dimensões dos vãos em tosco para aplicação das portas;

Designação e localização das portas;

Designação dos compartimentos;

Identificação dos armários técnicos.

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A Interpretação do Projecto em Obra

83

Fig. 30 - Extracto de uma planta de definição geometrica da estrutura - piso tipo.

83

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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O Projecto e a Obra

84

Fig. 31 - Pormenores verticais de estrutura.

84

Desenho cedido pela empresa Edifer Construçþes.

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A Interpretação do Projecto em Obra

85

Fig. 32 - Extracto de uma planta de marcação de alvenarias e pavimento. 85

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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O Projecto e a Obra

Fig.33 – Pormenores construtivos em planta das portas.

Dimensões do vão em tosco, incluindo folgas para aplicação da porta;

Dimensões da folha da porta;

Esquema de montagem dos elementos.

Fig.34 – Pormenores construtivos em corte das portas.

Altimetria dos elementos estruturais em tosco;

Localização da porta com referência ao limpo;

Dimensões da folha da porta;

Esquema de montagem dos elementos.

Fig.35 – Planta de tectos falsos.

Arranque do tecto falso em relação aos eixos de obra;

Definição do tipo de tecto;

Localização dos equipamentos;

Localização dos pormenores construtivos do tecto falso.

Fig.36 – Pormenores construtivos do tecto falso.

Designação e características dos elementos;

Pormenores e tipo de remates.

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A Interpretação do Projecto em Obra

86

Fig. 33 - Pormenores construtivos em planta, Portas. 86

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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O Projecto e a Obra

87

Fig. 34 - Pormenores construtivos em corte, Portas.

87

Desenho cedido pela empresa Edifer Construçþes.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig. 35 - Extracto de uma planta de tectos falsos.

88

88

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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O Projecto e a Obra

Fig. 36 - Pormenores construtivos - tectos falsos.

89

89

Desenho cedido pela empresa Edifer Construçþes.

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A Interpretação do Projecto em Obra

Fig.37 – Impermeabilizações.

Esquema de montagem das várias camadas;

Designação e características técnicas dos elementos.

Fig.38 – Pormenor de um componente para encomenda e fabrico.

Dimensões do componente;

Quantidades do componente;

Designação do componente;

Localização dos pormenores para fabrico;

Pormenores de fabrico do componente;

Acabamento do componente.

Fig.39 – Organização técnica de uma “courette”.

Organização espacial em planta e corte da “courette”;

Dimensões dos equipamentos.

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O Projecto e a Obra

90

Fig. 37- Pormenores de impermeabilização.

90

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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A Interpretação do Projecto em Obra

fig. 38 - Pormenor de um componente para encomenda e fabrico.

91

91

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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O Projecto e a Obra

Fig. 39 - Organização técnica de uma "courette".

92

92

Desenho cedido pela empresa Edifer Construções.

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A Interpretação do Projecto em Obra

5 Capitulo 5 – Conclusão

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O Projecto e a Obra

5.1 Conclusão

Os projectos são o principal meio de comunicação das ideias e intenções nas actividades de construção civil. A falta de informação e coordenação no conteúdo dos projectos origina dificuldades e problemas de execução, que se reflectem na sua interpretação tanto na fase de concurso como na fase de execução em obra. O trabalho de projecto depende não só do arquitecto, mas também de um conjunto de diferentes técnicos que, trabalhando no estudo de soluções, visam evitar possíveis incompatibilidades no projecto, que poderiam na fase de execução comprometer o resultado final. O estudo desenvolvido neste trabalho pretende ser um modesto contributo na disponibilização de ferramentas de orientação para futuros Arquitectos e empresas construtoras, definindo um plano de comunicação projecto-obra que nos pareceu adequado à actividade, tanto no desenvolvimento do projecto como nas fases de execução em obra. Neste sentido, os procedimentos propostos neste trabalho sugerem uma maior intervenção e coordenação dos autores do projecto em busca da melhoria e obtenção de melhores resultados no processo de elaboração do projecto e sua execução em obra. Os procedimentos sugeridos funcionarão assim como instrumentos de comunicação entre os vários intervenientes do processo, tornando compatível, orientando e arranjando soluções e métodos construtivos para todas as fases do projecto, responsabilizando deste modo todos os intervenientes. A utilização destes instrumentos permite no final uma optimização e racionalização de todo o processo, servindo também para sustentar e aumentar a credibilidade dos autores do projecto. A satisfação do cliente fica garantida e a empresa construtora consegue assim manter a sua competitividade no mercado, ao assegurar através de um bom projecto a qualidade do seu produto.

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A Interpretação do Projecto em Obra

6 Bibliografia

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O Projecto e a Obra

6.1 Bibliografia

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O Projecto e a Obra

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A Interpretação do Projecto em Obra

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VIEIRA, Miguel Jaime de Araújo Pais. Racionalização do processo de desenho 2003 (Mestrado em gestão da construção e do património imobiliário), Departamento de engenharia civil da escola de engenharia da Universidade do Minho. Consultado em 2008 Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/906/1/2003.12.31.%20Vers%c3%a3o%20Final.pdf

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