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por Janara Sousa e Marcos Urupá
Orientar é transmitir conhecimento que acumulamos: Christiana Freitas
por Janara Sousa e Marcos Urupá
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O currículo é extenso. Christiana Freitas, professora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito (FD) e do Curso de Graduação do Departamento de Gestão de Políticas Públicas da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (Face) da Universidade de Brasília (UnB), integra diversos comitês, conselhos e grupos de pesquisa que discutem questões relacionadas à internet, direitos humanos, telecomunicações e políticas públicas.
Seus principais temas de pesquisa envolvem a análise de redes para participação política; as políticas regulatórias sobre o uso das mídias e redes sociais; redes abertas de produção e divulgação de conhecimento; knowledge commons como motor de inovação e geração de valor público; avaliação de programas governamentais e políticas públicas. Conceitos tratados e desenvolvidos em pesquisas e artigos incluem participação política digital; knowledge commons; inovação tecnológica; governança digital; capital tecnológico-informacional; tecnologias da informação e comunicação; software livre e software público; administração e avaliação de serviços públicos digitais; democratização do conhecimento na sociedade em rede e democracia digital.
A escolha da professora Christiana Freitas se deu pela proximidade de suas pesquisas com nosso objeto de trabalho. Abaixo, as perguntas feitas à pesquisadora.
Chris, de modo geral, qual o papel de uma orientação para você?
A orientação de alunos e alunas na universidade talvez seja a tarefa mais importante, complexa e, também, gratificante de todas as nossas inúmeras atividades acadêmicas. A orientação, a meu ver, é a forma mais adequada de transmissão do conhecimento que acumulamos ao longo da nossa carreira. Às vezes mais do que por meio de aulas, nas orientações podemos passar para os alunos esse conhecimento. Além de questões teórico-conceituais e metodológicas, orientar um aluno ou uma aluna é você colaborar para o crescimento daquele ser humano em variadas esferas. Muitas vezes, por exemplo, faz-se necessária uma atenção maior a problemas particulares, específicos, que podem vir a dificultar a aprendizagem discente. É um processo em que orientando(a) e orientador(a) aprendem muito.
Nesse processo, você vê alguns limites do papel de um orientador? Até onde ele pode ir na condução da pesquisa do orientando?
Deixar o(a) orientando(a) livre para criar é fundamental. Ele(a) tem que se apaixonar pelo seu objeto de pesquisa. Não existe um limite claro, objetivo, passível de definição na orientação. O importante é você orientar no sentido de aguçar o senso crítico do(a) aluno(a) e realizar a sempre necessária articulação entre teoria e empiria, entre fundamentação teórico-metodológica e os resultados apreendidos na pesquisa. Os conceitos selecionados para a pesquisa são as ferramentas para a compreensão daquela realidade analisada.
Sendo esse processo um trabalho conjunto, você acredita ser possível identificar o fracasso ou o sucesso de uma orientação?
Não, não há indicadores objetivos para isso. Creio que o sucesso de uma orientação é tanto o(a) orientando(a) quanto o(a) orientador(a) terminarem o processo com um sentimento de satisfação, realização plena e dever cumprido, retratados no trabalho final.
Entrando um pouco mais na prática e no cotidiano da orientação, de que forma você costuma realizar o acompanhamento das pesquisas?
Faço reuniões de quinze em quinze dias. Tenho todo um cronograma de atividades que peço aos orientandos(as), desde o primeiro mês ao último de orientação. Essas atividades vão desde o amadurecimento do objeto de pesquisa, no início, pesquisas exploratórias sobre o tema até a elaboração final do trabalho com suas várias etapas.
Esses acompanhamentos acabam sofrendo mudanças de acordo com o perfil do orientando?
Sem dúvida, cada orientando(a) é um mundo à parte; uns precisam de mais orientação, outros precisam de menos (uns precisam que o orientador funcione como um acelerador, estimulando a curiosidade e dizendo pra ele(a) “se jogar” na pesquisa; outros, pelo contrário, precisam de freio, limites etc. Existe uma adaptação de acordo com as características de cada um.
Você já testou modos diferentes de acompanhamento?
Não, o que aconteceu foi que ao longo dos anos fui aprimorando o meu método de acompanhamento.
Ao fim do processo de orientação, como você avalia o resultado?
De duas formas; uma, acadêmica: o quanto o(a) aluno(a) cresceu em termos de apreensão dos princípios teóricos, de análise crítica da realidade etc. Uma segunda forma, mais subjetiva: o quanto o(a) aluno(a) cresceu em autoconfiança, o quanto aumentou sua segurança para defender seus princípios e suas descobertas baseadas na pesquisa feita. Essa questão é fundamental para formar um profissional realizado.
Chris, você orienta pesquisas tanto na graduação, como no mestrado. Quais são as diferenças e particularidades em cada um desses momentos?
Talvez, na graduação, esse crescimento do indivíduo, na sua forma mais subjetiva, seja mais importante do que na pós. Muitas vezes, o(a) aluno(a) na graduação não irá seguir carreira acadêmica, não tem interesse e, aí, a formação da subjetividade para que ele se torne um bom profissional é mais importante do que a apreensão de princípios teórico-metodológicos per se. Na pós é diferente. Você está formando um(a) aluno(a) que pode vir a ser seu colega, trabalhando com a sua mesma escola de pensamento etc. Ele(a) tem interesse pela teoria e já é mais formado(a) no plano subjetivo. Aí a transmissão de conhecimento acontece de forma mais densa. Muitas vezes o(a) orientador(a) aprende também com seus orientandos(as).
Por fim, gostaria de saber como você enxerga o papel da orientação ao longo da sua formação.
A meu ver, orientar é uma das maiores fontes de realização na carreira acadêmica.