O MELHOR CINEMA DO MUNDO “Festival” é o nome dado a uma série de manifestações artísticas, caracterizadas pelo nível de suas apresentações, exibições, periodicidade e/ou local onde se realizam. No caso dos festivais cinematográficos, a programação é marcada pela exibição de filmes e debates estabelecidos de acordo com o evento.
Os festivais possuem uma série de fatores políticos, econômicos,
culturais e sociais, onde governamentalmente transmite-se um ponto de vista de incentivador cultural; para os realizadores é uma janela de exibição; para a sociedade é uma forma de acesso à cultura; para investidores/patrocinadores e correlatos, é uma chance de atrelar sua marca à imagem do festival, em contato direto com o público, além de serem partes importantes da cadeia produtiva cinematográfica. Dentro da significação dos festivais, uma duplicidade básica: o jogo de interesses de vários trejeitos e o aspecto positivo de desenvolver a cultura cinematográfica. Um festival é importante pelo seu poder de revelar novos valores, ideias, culturas, que permite contato entre as pessoas das mais diferentes regiões, ampliando seus respectivos conhecimentos do que se passa no cinema. Permite, em via de mão dupla, um olhar específico a respeito da produção audiovisual, e um olhar abrangente, onde se criam as trocas de informações, diferentes olhares para produção e variação temática para pensar, viver e realizar cinema. A exibição de uma obra em festivais é a afirmação de que a mesma e o cinema tenham uma vida longa e consigam chegar até o público para transmissão de suas respectivas mensagens, formar plateias, discussões, rodadas de negócios, novos modelos de discussão, gerar qualificação profissional por meio de seminários, consolidando a arte cinematográfica como produto para amplo consumo. Funcionam como mostruários para difusão eficiente dos filmes, e no Brasil, isso vem possibilitando a circulação de diferentes produções. Quando recebemos, junto ao III Festival de Filmes de Faina, realizado na cidade homônima, estado de Goiás, entre 15/12 e 16/12, que teve mais de 300 filmes inscritos, não poderíamos deixar de dar outra resposta que não fosse “sim,
aceitamos!””. Embora possa parecer um pouco perversa a ideia de analisar os 71 filmes selecionados da categoria Transertão – categoria que não exigia a presença dos realizadores em Faina na cerimônia de premiação – a cinefilia falou mais alto. Ao assistir os filmes, procuramos aquele sentimento que bate no fundo do peito, aquele sentimento que é memorável e intraduzível em palavras. Não significa que todos os filmes que não estão listados aqui não tenham dado esse sentimento, mas sim que o poder da decupagem fez-se presente em dado momento. Gostaríamos de parabenizar todos os filmes selecionados para a mostra Transertão. Retrata a cara do cinema brasileiro, de luta, de sobrevivência, de amor pela arte e pelo que faz. É com muito orgulho que poderemos apontar para esses filmes, quando eles forem exibidos novamente em outras praças, apontarmos para eles, e esbravejarmos: “Esse é o nosso cinema nacional, o nosso cinema, um dos melhores do mundo!” Ah, com certeza o é.
Atenciosamente,
Paulo Vitor Luz Corrêa, e Larissa Melo Mendes Juris da categoria Transertão – III Festival de Filmes de Faina.
PRÊMIO DE MELHOR EFEITOS VISUAIS Casulos, de Joel Caetano
Os efeitos visuais de Casulos emanharam-se com o desenvolvimento narrativo e o humor da história de forma que esta seria completamente diferente sem eles. Bem conceituados dentro de uma estética que orbita o filme, os efeitos visuais do curta-metragem são sua alma, o que o premia como melhor efeito visual.
PRÊMIO DE MELHOR FIGURINO Á Margem do Universo, de Tiago Esmeraldo
O figurino dos personagens de Á Margem do Universo carrega um antro de ambientações acerca do universo que a obra constrói. Muitíssimo bem-feito, o figurino veste-se a si mesmo e torna-se um personagem, que estabelece comunicação entre as partes, e por consequência comunica com os espectadores: O figurino inserido não só complementa, como toma a dianteira nesse papel de significação para a história. Uma prisão, uma necessidade, um meio de comunicação, um objeto de controle, tudo depende de quem vê e quem o sente, nos mais diversos sentidos. O figurino, em À Margem do Universo se torna um dos protagonistas, motivo pelo qual ganha Melhor Figurino.
PRÊMIO FILME MINUTO Sustento, de Sylara Silvério
Em determinados momentos, menos é mais. A façanha de trabalhar em duração diminuta potencializa a dimensão poética de uma obra. E, pela capacidade de contar uma história em tão pouco tempo, mas tão carregado de background e sentido, o filme minuto vai para Sustento.
PRÊMIO INOVAÇÃO Peleja no Sertão, de Fábio Miranda
Pelo roteiro frenético (no bom sentido), pelo suspense que a obra carrega e pelo estilo de animação que foge ao usual. Recebe então o prêmio inovação, a obra estilo animação, com um suspense e terror dos bão, Peleja no Sertão.
PRÊMIOS DE MELHOR ATOR E ATOR COADJUVANTE:
A dupla de atores mirins completamente puxa o filme, a conexão é tão forte tal qual a dos personagens na obra, de forma que sem eles, Luiz não seria Luiz. Uma atuação potencializa a outra.
Dessa forma, premiamos:
Gabriel Freire, pela atuação de Luiz, para melhor ator. Rafael Santos, pela atuação de Luís, para melhor ator coadjuvante.
Ambos em Luiz, de Alexandre Estevanato.
PRÊMIO DE MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Alexandra Azambuja, pela atuação de Nanda em Flores, de Diego dos Santos
Lidar com personagens caricatos é extremamente complexo, já que há uma linha bem tênue entre o chavão tornado por acidente e o chavão propositadamente criado para ser chavão. Por saber lidar com essa linha, o prêmio de melhor atriz coadjuvante vai para Alexandra Azambuja, em Flores.
PRÊMIO DE MELHOR ATRIZ Fernanda Viacava, pela atuação em Ouroboros, de Beatriz Pessoa e Guilherme Andrade
Pela consistência da atuação de uma mãe que está inserida em um redemoinho de
condições
sociais
completamente
desfavoráveis
para
a
mulher,
historicamente. Fernanda Viacava soube transmitir essa inserção muito bem, forte, sutil, simplesmente mãe, motivo que recebe o prêmio de melhor atriz.
PRÊMIO DE MELHOR ANIMAÇÃO A Formidável Fabriqueta de Sonhos Menina Betina, de Tiago Ribeiro
Pela estética de animação lindíssima aliada a um bom desenvolvimento de roteiro e um sound design muito efetivo, A Formidável Fabriqueta de Sonhos Menina Betina diz muito em pouco tempo. Os sentimentos, os sonhos, e o inexorável, o que nunca pode ser desassociado: a mágica capacidade da existência. O prêmio de melhor animação vai para ela, a Menina Betina.
PRÊMIO DE MELHOR DIREÇÃO DE ARTE Flores, de Diego dos Santos
A consistência da direção de arte de Flores, de Diego dos Santos, é tão explícita que encanta o quadro fílmico. As cores se personificam nos personagens, tornando-se seus referenciais. Ao mesmo tempo, a ambientação cromática universaliza as condições humanas inseridas na obra, e aliada a um bom roteiro, são conduzidas a uma reverberação da cor por meio das flores, os motores do filme. Pelo trabalho na composição do quadro, Flores fica com melhor direção de arte.
PRÊMIO DE MELHOR FOTOGRAFIA O Vestido de Myriam, de Lucas H. Rossi
O preto e branco imponente a ponto de se transformar em elemento de cena; A composição imagética aproveitada em cada canto; Faltam palavras para definir a execução da fotografia de " O Vestido de Myriam ": dizer que é "bom" não é o suficiente. O prêmio de melhor fotografia vai para O Vestido de Myriam.
PRÊMIO DE MELHOR EDIÇÃO Latossolo, de Michel Santos
A relação Homem-Solo é intrínseca à história humana. Uma relação tão profunda que em determinado momento o Homem se transforma na extensão do solo, e o solo na base do Homem. A condição de união e necessidade é característica. Latossolo explora essa dinâmica por da imagem em movimento. Completamente visual, completamente audiovisual, a estrutura fílmica, remete a uma câmera observativa, invisível, conduzindo a um terceiro elemento na obra: o tempo. Nessa relação de necessidade, o que o ser humano tira da terra, uma hora ela pedirá de volta. O tempo, ator invisível, é o juiz da relação entre o Homem e o solo, e sua participação no filme se vê pela duração dos planos, calmos, pacientes e abertos, pelo momento de saber avançar a velocidade e de relaxar. A montagem de Latossolo se alia ao tempo das coisas e cria sua própria definição de tempo, um tempo que não se quer deixar passar, uma montagemtempo que se quer permanecer e conversar. Dessa forma, julgamos Latossolo como honrável à obtenção de melhor edição.
PRÊMIO DE MELHOR ROTEIRO Não Falo com Estranhos, de Klaus Hastenreiter
A capacidade narrativa de uma obra é a de potencializar cada alternativa de enredo à medida que a história avança. De certa forma, uma analogia à virtualização das possibilidades que os seres humanos praticam em seus códigos internos de desejos e sonhos. Não Falo com Estranhos brinca com todas essas possibilidades de narrativa - da psique e de roteiro - de forma que um se mistura ao outro, se complementam e culminam por criar a essência fílmica da obra. A construção mental do universo em dúvida do protagonista permeia o desenvolvimento do roteiro em suas múltiplas alternativas de desfecho, pensando até mesmo se há como mensurar tal ato. Nessa imensidão de caminhos, o caminho até a escolha não é tão simples, e o roteiro do curtametragem soube explorar esse fato de forma ímpar ao desenvolvimento narrativo do filme. Pela capacidade da obra de estruturar uma história com essas considerações, Não Falo com Estranhos fica com melhor roteiro.
PRÊMIO DE MELHOR DIREÇÃO Eroica, de Josy Macedo
Um diretor, entre tantas funções dispostas, necessita ter o dom da escolha. De escolher qual história contar, de que forma e por qual linguagem. Essas escolhas definirão a consciência da obra. Eroica é um exemplo da sofisticação da arte de escolher meios e métodos para criar um filme. A sequência de planos mais longos e curtos, mediados pelas disposições sonoras, oferecem a linha narrativa da transformação. Transformação narrativa, transformação conceitual do fazer fílmico em um canal de simbologias e significações. Pelas escolhas felizes, premiamos Eroica, de Josy Macedo, com a melhor direção.
PRÊMIO DE MELHOR DOCUMENTÁRIO Painho e o Trem, de Mery Lemos
A capacidade do documentário de transmitir uma contextualização inspirada no 'real' - já que a imagem em movimento é uma representação desta, transmuta o conceito fílmico em sua absorção de narrativa e estruturação. O documentário é um gênero e formato imprescindível para a continuidade e registro do Brasil-anil, de norte a sul e leste a oeste, com tantas histórias para serem contadas. Painho e o Trem é daquelas obras que faz-se pensar sobre os rumos do Brasil. As idas, vindas, os caminhos. Ironicamente, quis o destino de estarmos falando de uma obra que aborda uma estação de trem. A alma do filme é tão leve que flutua. A narrativa é dinâmica, o timing do curta-metragem é muito bem pontuado. O protagonista que carrega e potencializa o filme assim o faz de uma forma que não fica cansativa. É um filme que usa a cidade de Carpina (PE) como mote, mas poderia ser qualquer lugar do Brasil que dependesse das linhas ferroviárias até uns 30 anos atrás. Painho e o Trem é um filme que fala do Brasil diante de um problema que os brasileiros conhecem tão bem: o transporte público, da população dependente desse transporte e suas configurações ao longo do tempo. Por essas idas e vindas, o filme fica com a atribuição de melhor documentário.
PRÊMIO DE MELHOR FILME Não Falo com Estranhos, de Klaus Hastenreiter
Pelo conjunto da obra, pela narrativa transversal, pela fruição da atuação dos atores, pela composição dos elementos audiovisuais, premiamos Não Falo com Estranhos, de Klaus Hastenreiter, com o melhor filme.
MENÇÃO HONROSA PELO CONJUNTO DA OBRA
Imbilino vai ao cinema, de Samuel Peregrino. e Aquela Rua Tão Triumpho, de Gabriel Carneiro
O Cinema é a arte do coletivo, a arte de contar histórias por meio da imagem em movimento. Uma arte. Mais bacana ainda é quando a arte se destina a contar a história da própria arte, dos fazedores de arte, dos propagadores de cultura. Essa metalinguagem cinematográfica permite a salvaguarda da história daqueles que sempre atuaram por trás das câmeras, propondo um processo de reflexão do audiovisual brasileiro.
Imbilino vai ao cinema nos faz pensar o papel do cinema enquanto ator social e estabelecedor de diálogos principalmente com populações fora dos grandes centros populacionais, com uma atuação de propagador cultural e formador de público consumidor de audiovisual brasileiro. A trajetória de Imbilino no estado de Goiás é um caso de sucesso de como o Cinema Brasileiro é multifacetado em suas linguagens.
Aquela Rua Tão Triumpho é uma linda homenagem sobre o cinema da Boca do Lixo, uma prova histórica da variante estética do nosso país, das diversas formas de se fazer cinema, de uso de linguagens, de símbolos e formatos narrativos.
Esses dois filmes são lindas provas de que o audiovisual brasileiro vive, respira e puxa o protagonismo para dentro de si. Por essas condições, ambos recebem Menção Honrosa na categoria documentário.
VIVA O CINEMA BRASILEIRO!
Faina, 16 de Dezembro de 2017.
Paulo Vitor Luz Corrêa
Larissa Melo Mendes
Juris da categoria Transertão – III Festival de Filmes de Faina.
SOBRE OS JURADOS:
LARISSA MELO MENDES
Larissa Melo Mendes, 13/11/1992, nasceu em Birigui, SP – Brasil, mas atualmente vive em Santos. Bacharel em Comunicação Social - Cinema e Audiovisual, pelo Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE (Santos-SP), tem experiência profissional em produtoras da Baixada Santista. Seu Curtametragem mais recente, "Sutura", um filme de terror/suspense, recebeu os prêmios de melhor filme na categoria ficção e jurí popular no 5° Festival Nacional de Cinema Universitário Tainha Dourada, em Itajaí (SC); Menção honrosa no 7° Cinefantasy - Festival Internacional de Cinema Fantástico, em São Paulo (SP); Selecionado na 15° Mostra Audiovisual Universitário América Latina MAUAL (MT), 14° Curta Santos - Festival de Cinema de Santos (SP), III Festival Boca do Inferno (SP), 3° FAB - Festival de Audiovisual de Belém (PA), 2° Festcine Poços de Caldas (MG), 1ª Mostra de Cinema da Vitória de Santo Antão (PE), entre outros. Melomendes.larissa@gmail.com
PAULO VITOR LUZ CORRÊA
Bacharel em Comunicação Social - Cinema e Audiovisual, pelo Centro Universitário Monte Serrat - UNIMONTE (2015). Trabalha na mesma Instituição de ensino, como técnico de laboratório audiovisual, na realização dos trabalhos acadêmicos com suporte logístico e de equipamentos. Atuou como curador na categoria curta-metragem do International Open Film Festival – IOFF, realizado nos Estados Unidos e Bangladesh (2016). Estuda os festivais de cinema enquanto fenômenos de comunicação e segmentação. O artigo "Festivais de Cinema e a Internet: uma breve análise por meio dos formatos de submissão de filmes", de sua autoria, aborda os formatos de inscrições usados pelos Festivais em 2016, foi publicado pela Associação Cultural Kinoforum (2017). Seu estudo mais recente, "Os Festivais Estudantis e Universitários como porta de entrada à Prática Audiovisual", que analisa a segmentação dos festivais nas categorias estudantis e universitárias e suas características, integra a edição n° 3 dos Cadernos FORCINE - Fórum Brasileiro de Cinema, sociedade civil que representa as instituições e profissionais brasileiros dedicados ao ensino de cinema e audiovisual. Dirigiu filmes documentários selecionados em festivais nacionais. pauloluzcorrea@gmail.com