CAOS PROFÉTICO
Paulo Monteiro
Paulo Monteiro
CAOS PROFÉTICO
Publicação Independente
Texto e Imagens: Paulo Monteiro Diagramação e Revisão: Paulo Monteiro Capa: Paulo Monteiro
Contato: paulomonteiro1991@gmail.com
Flores Artificiais Desenterrei todos meus medos, logo após o café. Quis enfrenta-los um a um. Decidi não ser mais covarde, um cão que foge no primeiro grito. Joguei todas as flores artificiais pela janela. Queria vida no vaso. Uma flor verdadeira, para vê-la morrer lentamente, e assim lembrar todos os dias que não sou eterno. E o que deixarei para esse mundo são rascunhos Folhas e mais folhas com meus versos.
Cores Escolho cores mortas no supermercado. Talvez os olhos que vendem no caixa sejam perfeito para me observar a noite. Meu sapato já se gastou, de tanto eu procurar uma cor morta.
Olhos nus Teu olhos nus deixam minha alma exposta. A vergonha é deixada de lado, o que nos resta agora é dançar nesse vale proibido, cultuar a lua, com seu brilho intenso e celebrar nosso pecado.
Pobre criança
Sua mãe foi surrada Socos e ponta pés regeram aquela noite Os gritos e choro eram a música de fundo Beatriz correu para o guarda-roupa Escondeu-se Pediu a Deus para que tudo parasse Para não derramar mais uma lágrima Queria apenas uma noite diferente Pobre criança Ainda não descobriu que Deus morreu
Cordas Ouviu o chamado das horas Cambaleando ele foi Equilibrando-se na rua bamba Como fundo musical um samba As horas não esperaram por ele.
Bruxo Quero ser queimado por todas as minhas profanações Sentir o fogo maltratar minha pele O castigo por cada palavra dita Cada poema escrito Pagarei com fogo todas minhas palavras Bruxo sou eu Mereço a fogueira Pagar com a vida Aquilo que tentei ser em vida
Sem perdão Minhas feridas estão expostas e as moscas pousam deixando suas larvas. Corto joelho de anjos, com navalhas enferrujadas, que outrora mutilaram línguas de poetas malditos. Pedi perdão pelo meus atos, mas Deus não perdoa poetas.
Mudanรงas.
Quando resolvi fugir Troquei meu sangue, por uma droga qualquer / Algo que aliviasse minha vida / Comprei ácido para corroer minha pele / Expondo minha carne viva, até o osso / Organizei todas as cartas amareladas / Passei o dedo na tinta fresca da parede / Desenhei meu demônio com cabeça de boi / Escutei as vozes e deixei-me levar / Até que fui preso por olhos com mãos / Resolvi fugir / Morri no meio do caminho / Com uma flecha na testa.
Fim Poeta – profeta grita na rua, saliva gasta com avisos sobre o fim. As sete trombetas anunciarão a abertura do cu do anjo, o cavaleiro branco sairá e transará com jovens barbudos comunistas. Grita nas ruas tortas – mortas, o poeta anuncia a chegada do fim. Meus poucos amigos ainda preferem jogar dominó, em um domingo preguiçoso qualquer.
Marcha do mormaço As antenas ficam sintonizadas Os macacos assinalaram positivamente Tudo irá começar Depois de aproveitarem mais a desgraça A marcha no mormaço começa O protetor solar é deixado em casa Subindo todos pela Eduardo Ribeiro Usando belas roupas Mostrem apenas a aparência Andem descalços Criem bolhas nos pés.
Ă gua de Morto.
Meu nascimento Quando eu nasci minha mãe perfurou meus olhos, disse que eu nunca enxergaria o mundo. “O mundo é feio, sujo. Prefiro que veja a escuridão.”
Meus dentes Cuspi todos meus dentes em uma manhã de sábado/Assim que acordei senti o peso em minha boca/Cuspi todos os dentes aos pés de minha mãe, que assustada orou a ver aquelas pedras brancas no chão/Tentei junta-los e coloca-los em seus lugares, mas os buracos já haviam fechado.
O rosto. Olhou no espelho, insatisfeita com o rosto Foi até a cozinha e pegou a faca Os cortes não foram superficiais Tão profundos que cortaram a alma O sangue escorre por cima do olho Cegueira momentânea Mesmo assim não cessa a mutilação A pele começa a ser arrancada O vermelho torna-se a cor da face Limpa os olhos Acha-se bela
No fim do mundo Quem chega ao fim do mundo Encontra seu reflexo sem olhos Dizem que os pecados estão lá Todos para atormentar você E nem Deus pode ouvir seu grito.
Certeza Ela viu que ainda era cedo / Olhou para o teto e contou os canais das telhas / O buraco no telhado deixou a luz penetrar em seu quarto / O feixe de luz direto em sua retina / Fazendo – a arder / Dando certeza a ela sobre a vida.
Allen Tu és o herói desse poema, Allen. Escute meu uivo baré. Do seu lugar, ao lado de Buda. Em minhas visões eu acaricio tua barba, beijo tua boca, toco no teu caralho, gozo ouvindo teus mantras, perco-me dentro de tua loucura cósmica e Moloch nos observa poderosamente, enquanto hipsters tem suas cabeças cortadas.