Causos, Contos e Eventos

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CAUSOS, CONTOS E EVENTOS

Paulo Passos

Coletânea de artigos publicados nas Revistas Hôtelier News e Portal dos Eventos



Trilogia da Captação de Eventos; episódio 1 Episódio 1: Qual a relação entre o número de eventos e o número de visitantes para os espaços de eventos? Tendo em vista as características singulares de cada espaço para eventos existente, quando abordamos o assunto captação, somos obrigados a pensar estrategicamente e desta forma, abordar uma enorme variedade de parâmetros para análise. A máxima que não se vende equipamento e sim destinos é uma verdade, mas o que é um destino além de ser a somatória do todo, incluso os equipamentos? As diversas tipologias, as características econômicas e turísticas, a relação existente entre número de eventos x número de visitantes/turistas, a oferta de espaços, os setores econômicos, as tipologias e o histórico são alguns temas de pesquisa que se bem utilizados, podem fazer a diferença em uma boa gestão ou planejamento estratégico de um espaço para eventos. Recente trabalho apresentado pelo São Paulo Convention & Visitors Bureau, agora com o nome, Visite São Paulo, intitulado: Estatísticas, impacto econômico e barômetro 2017, apresenta dados que não só, demostram a força de São Paulo e a competência do trade em receber bem mas acima de tudo, demostram um trabalho primoroso de toda equipe da entidade, capitaneada por seu presidente e por seu maior maestro, Toni Sando.


Deixando o confete de lado e não tendo o menor problema de jogar confete em quem merece, afinal, é merecedor, o trabalho apresenta algo muito maior do que apenas estatísticas. Ouro puro para proprietários e/ou gestores de equipamentos! Uma fonte de dados rica em informações para qualquer planejamento estratégico de um espaço para eventos. Neste primeiro artigo intitulado Trilogia da captação de eventos, abordo a relação entre o número de eventos captados e sua relação com o número de visitantes, portanto: mãos à obra! O trabalho apresentado pelo Visite São Paulo, indica que a cidade de São Paulo, recebeu em 2017 mais eventos entre os meses de março a novembro.

Agora, estando na pele do gestor de equipamentos para eventos, o que o este dado aponta? Qual a leitura que devemos ter? Quais meses apontam maior demanda por espaços e qual período existe maior oferta de equipamentos? Existe uma relação entre oferta e procura? E em outras praças? Se seu equipamento não está em São Paulo, alvo do trabalho apresentado, quais são os períodos de maior fluxo de eventos em sua região? Todo e qualquer planejamento estratégico que vise à gestão de um equipamento para eventos, deve ter este estudo de mercado. Não


há como trabalhar sem estudar os efeitos da relação oferta x procura. Parece obvio não? A verdade é que existem empreendimentos voltados ao trade de eventos, que não procuraram conhecer seu mercado e acabam por aprender no dia a dia, e desta forma, perdendo faturamento. Já a figura número 2, nos mostra dados alusivos ao número de visitantes.

De posse destes dois gráficos, as primeiras observações que devem

ser consideradas pelos gestores de equipamentos para eventos são: se o número de eventos apresentados na figura 1 são salvos nos dois primeiros meses do ano e no último, praticamente iguais, por que quando olhamos o gráfico de visitantes, a curva é diferente?


A segunda pergunta deveria ser: O que eu, gestor de um equipamento para eventos tenho com isto? Em artigo publicado em 2017 no Hôtelier News, comentei de um evento que deveria ser realizado em uma determinada cidade e que foi transferido no meio do processo. Este fato ocorreu mesmo com o espaço reservado, sinal pago, material do evento distribuído e tendo suas inscrições quase iniciadas. O evento em questão foi transferido para outra cidade, por apenas um motivo: falta de oferta condizente de leitos, pois a construção de um empreendimento hoteleiro, que completaria a oferta necessária atrasou sua entrega. Vejamos: quanto à primeira questão a ser abordada, fica claro na observação feita pela fundação 25 de janeiro que no período em questão, a cidade de São Paulo sediou dois eventos que tradicionalmente, recebem um número expressivo de participantes e em dezembro, outros eventos com forte apelo turístico.


Agora, o que eu, gestor de um equipamento para eventos tenho com isto? A resposta é simples: tudo! Não há mais espaço para achômetros e o erro de análise pode leválo a montar projeções financeiras errôneas. O fato é que o número de eventos nem sempre é igual ao número de participantes e cabe ao gestor de equipamentos estar atento aos principais indicadores no seu planejamento estratégico. As características singulares de seu equipamento devem estar diretamente conectadas ao número de participantes e ao número de eventos. O fato é: os indicadores, todos eles, nos direcionam e podem nortear o trabalho da equipe comercial, tornando este trabalho mais assertivo, mais recompensador. Quantos eventos, quais eventos, público estimado, oferta de espaços concorrentes, histórico do destino e dos eventos, setores e tipologia são exemplos de indicadores a serem considerados no planejamento estratégico de um espaço para eventos. Afinal, a análise de dados de mercado está diretamente relacionada a compreensão das mudanças e do cotidiano do trade, nos direcionando a ter uma visão mais realista e aumentando nosso conhecimento para tomada de decisões; - uma visão que permita olhar para o futuro.



Profissionais ou PROFISSIONAIS? Há cada ano, centenas de alunos se formam nas diversas instituições de ensino Brasil e se habilitam a trabalhar com eventos. Por outro lado, profissionais de outras áreas, por falta de opção ou escolha mesmo, também ingressão na área, aumentando significativamente a mão de obra em eventos. Nada surpreendente em vista da importância do setor de turismo na economia mundial. São bem-vindos e acredito que há espaço para todos. Da velha guarda à garotada, o mercado se rejuvenesce e se profissionaliza com uma produtiva mescla de novas ideias e experiência com a técnica dos mais velhos. Pensar fora da caixa, pensar novo. Este é um imperativo! Não existe espaço mais para frases como: há anos faço assim ou sempre assim! CRIATIVIDADE E Um Novo Olhar! E se esforçar para criar este olhar. Inovação não é apenas pensar em algo que não existe e, sim, pensar em algo diferente O carro por exemplo, nada mais é que uma versão inovadora da carroça. Até o freio de mão, na maior parte dos modelos, ainda é parecido. Renomadas empresas estão revendo seus conceitos e reencontrando profissionais já aposentados como consultores. De que adianta investir tempo e dinheiro, anos de aprendizado se a corporação não puder se beneficiar deste conhecimento?


Não existem dois espaços, apenas um que é ocupado por junção da experiência com uma nova visão que a juventude oferece. Com uma expectativa de vida aumentando a época produtiva ainda longa, muitas vezes vê-se em profissionais experientes e com grande bagagem de conhecimento, uma motivação juvenil, uma empolgação e criatividade que fazem uma diferença e o levam a pensar fora da caixa constantemente, além de beneficiá-lo também com qualidade de vida. Os dois lados, ao trabalhar juntos, beneficiam -se como pessoas, profissionais e desta forma, as corporações ganham. O diploma não é visto como garantia de conhecimento e sim como autorização para adquirir conhecimento. Já o tempo de profissão não é lançado como detentor da verdade e, sim, como termômetro ara decisões. Um post nas redes sociais afirma que é a Apple não acabou com uma indústria da música bem como o Uber não acabou com o Táxi. Novos modelos de negócios e um olhar diferenciado ao cliente estão a favor de empresas inovadoras, criativas e exportações, como como duas citadas no parágrafo como exemplo. Junte experiência com capacitação acadêmica, coloque uma pitada de juventude, muita garra e tenha uma equipe Profissional


Especialistas e eventos No final da década de 70, comecei a atuar na área de eventos. Passei meus primeiros anos trabalhando em diversos setores e tendo distintas funções técnicas e operacionais. De vendedor a segurança, de projetista a bilheteiro. A ideia era que para chegar a comandar, gerenciar eventos, seria necessário entender um pouco de tudo. O profissional de eventos era um faz tudo que aprendia literalmente na marra. A formação em eventos não existia, sendo necessário estudarmos outros temas, nem sempre condizentes com o trade. Um exemplo? Um dos mais respeitados e brilhantes profissionais do trade, Roosevelt Hamam, então advogado e radialista, registrou a primeira empresa de eventos no Brasil, em 1967, e o primeiro curso a abordar eventos no Brasil foi o de Relações Públicas da Faculdade de Comunicação da FAAP, em 1971, tendo Roosevelt em seu quadro de professores. 37 anos depois, entendo que o mercado mudou. Tendo a Fenit, em 1957, como primeira grande feira realizada de caráter comercial e profissional, o mercado hoje está repleto dos mais variados tipos de eventos e, consequentemente, profissionais. De uma grande feira, passamos a ter inúmeros eventos realizados diariamente em todo o Brasil e nos mais variados locais. São festas populares, feiras comerciais, congressos, shows, seminários, cursos e outros tantos que tornaram o trade de eventos um dos mais fortes da economia brasileira. O profissional dessa área precisou especializar-se. O setor inteiro capacitou-se.


De metros quadrados, passamos a oferecer um espectro bastante abrangente. Palavras como: experiência, engajamento, resultados, emoções, excelência, conectividade e hospitalidade entraram não só no discurso; passaram a fazer parte do nosso dia a dia. De profissionais apenas espontâneos e acolhedores a profissionais especializados e focados.

O cliente, antes mero expectador, virou parte do processo. O fato é que uma palavra em especial de destacou: especialidade! Análises de mercado, demonstram que a especialização da empresa de eventos tem peso maior na hora da decisão do que o preço praticado, ou seja, o mercado concorda em pagar mais, se a empresa for realmente especializada. A professora Flavia Mastrobuono, da Universidade Anhembi Morumbi completa: "Eventos não são para amadores!" O mercado


cada vez mais exige profissionalismo e necessidade de especialização em comunicação estratégica, pois eventos são ferramentas de comunicação dirigidas. Entramos no universo dos especialistas. O evento já não se faz mais apenas com um grande profissional. Ele é realizado com o trabalho de uma equipe coesa e antenada. A soma de especialistas que entendem que o sucesso de seus clientes representa seu próprio sucesso. Comprometimento, energia de realização e criatividade. Ingredientes necessários para o sucesso em Eventos.



Experiência Muito se fala da famosa experiência, mas o que vem a ser? O Aurélio define como ensaio, tentativa, conhecimento adquirido por prática, estudos, observação ou ainda, homem de experiência: homem conhecedor das coisas da vida. Mas afinal, o que é experiência? No começo dos anos 80, projetei um pequeno stand para uma empresa de móveis planejados, destacando-se cozinhas, estantes e armários para quartos. Uma empresa que tenho orgulho em ter trabalhado onde tenho o privilégio de ser amigo dos donos até hoje. A Feira era uma UD Nordeste, a versão em Recife de uma das maiores feiras do Brasil na época. Um stand onde além da exposição dos armários para cozinha, coloquei na ponta do stand o grande lançamento da empresa. Uma estante modulada, algo novo na época. Do alto de minha “grande experiência” de um ano de vivencia em feiras e já, saboreando as delicias do marketing, sugeri um aquário com cavalos marinhos no meio do estante. Tínhamos de fazer algo diferente, dizia. -Não podemos ser iguais, temos de nos destacar e criar algo que chame a atenção comentava. Como devem saber, e eu não sabia, o cavalo marinho macho é que fica gravido. Tem até barriguinha! Por “sorte”, um dos cavalos marinhos que colocamos no aquário estava gravido e ele além da barriguinha proeminente, chegou até nadar de ponta cabeça.


Imaginem um stand com fila? Sabe quantas estantes vendemos? Nenhuma! Criei algo maior do que o produto. O cavalo marinho chamava mais atenção do que a estante. Ha alguns anos, o amigo e organizador de eventos Roosevelt Hamam, um dos mais respeitáveis organizadores de congressos que conheço, ao inaugurar um evento (sim, tínhamos inaugurações oficiais com “autoridades” entre outros), estava com o que popularmente dizemos pulga atrás da orelha. O evento tinha como tema a Suécia e tudo pronto para inaugurar faltavam apenas às autoridades do Brasil e da Suécia chegarem ao local. Exposição? ok! Público? ok! Bandeiras? Ok! Tudo ok? Pulga atrás da orelha…. Por parte da Suécia, o Rei e a Rainha Silvia (brasileira) e do Brasil, representando o Presidente da República, estava o Governador André Franco Montoro. A Banda, da Polícia Militar, com uniforme de gala, tudo como manda o Cerimonial Oficial. Amigo, (a) leitora: pulga atrás da orelha vem a ser a somatória de termos técnicos como ferrou, tem alguma mer… errada + já me ferrei com isto antes. Voltando ao nosso linguajar, mas popular, deixando este eruditísmo técnico a parte, nosso amigo em questão, já com anos de bagagem, começou a andar de um lado para o outro, checando tudo que pudesse ser checado. Ao conversar com o maestro da banda, responsável por executar os hinos nacionais da Brasil e da Suécia, dá uma olhada na partitura e….


Em letras garrafais: Hino da Suíça! Seria um vexame! Ainda bem que deu tempo de ir até o batalhão e trocar! Aprendemos na marra, traves de tentativas e erros o famoso: como fazer! Uma aluna, em determinada ocasião, tentou convencer-me que eventos no Second Life eram o futuro dos eventos… Second o que? Já outra, mostrou-me as inúmeras vantagens de utilizar a tecnologia como forma de fomentar os resultados dos eventos, fato que se tornou, nosso dia a dia. Coleciono inúmeras histórias onde as chamo de causos, contos e eventos, mas nada mais são do que experiências, a soma de tudo. Uma forma de conhecimento específico, ou de perícia, que, adquirida por meio de aprendizado sistemático, se aprimora com o correr do tempo; prática. A experiência!



Seis fatores para o sucesso em receber eventos A indústria do Turismo é a segunda do mundo em faturamento e é inquestionável a importância do setor no PIB mundial, com participação estimada em 10%. O comércio de eventos, coirmão do turismo, demonstra toda sua força e, não raro, com notícias que ressaltam a força do setor. Cidades por sua vez passam por transformações urbanísticas e econômicas que favorecem uma oferta de novos espaços para realização de eventos. Podem ser novos e criados para este fim ou então espaços com novas destinações, o que significa dizer opções econômicas por parte de seus proprietários ou gestores.

A hotelaria, por sua vez, há muito descobriu a força do trade e trabalha com afinco na captação e manutenção de seus eventos, fonte de renda e de recursos.


Não obstante a força do setor, o país passa por um complexo e demorado momento político e econômico que reflete no setor e respinga nos investimentos do comércio. Como então trabalhar com o cenário interno nem sempre favorável e que precise de justificar investimentos para receber eventos? Diante deste dilema, vários fatores podem representar uma diferença entre sucesso x fracasso, mas seis, são, no meu entender, uma base para o sucesso na captação de eventos. 1) Qual ou quais tipologias de eventos seu espaço está mais apropriado a receber? 2) Qual a relação entre oferta e procura com tipologias que pretende atender? 3) Como é sua relação com os seus clientes e entidades do setor? 4) Sua equipe é treinada e está apta a atender e receber? 5) Seu espaço ou aparelho, bem como o seu dispositivo externo, apresenta facilidades que seus clientes esperam? 6) Qual seu diferencial? São apenas 6 perguntinhas, mas podem ser uma diferença enorme entre o prejuízo e o lucro. Infelizmente, existem "casos" onde o negócio final não deu certo Em alguns casos, apenas uma mudança de rota era a medida de segurança como perguntas acima referidas. Afinal, são só seis perguntas para iniciar o sucesso do seu espaço na arte de receber eventos e lucrar fazendo seus clientes também lucrarem


Vamos à FENIT? Que tal à UD? Salão da Criança? FENASOFT, então? Para os mais jovens, que não tiveram a oportunidade de conhecer, estes quatro eventos são exemplos de grandes feiras, as maiores em suas épocas, que dominaram o cenário econômico brasileiro. De um tempo onde a preocupação era o de criar o ponto de encontro entre oferta e procura, o setor de eventos no Brasil passou e passa por mudanças necessárias para o contínuo aperfeiçoamento que o transformaram em uma das principais ferramentas de promoção comercial do nosso país, sendo imprescindível para o fomento econômico dos setores onde atuam. Das grandes feiras realizadas em São Paulo as festas infantis organizadas com magnitude por profissionais especializados. Das festividades de Carnaval, como a do Rio de Janeiro, a pequenos seminários e cursos que ocupam a hotelaria brasileira. De palestras em universidades a congressos que movimentam o turismo. O fato é que o setor de eventos se especializou e se diversificou. Tipologias passaram de simples matéria nas faculdades a indicadores do trade. De profissionais que aprendiam literalmente apanhando e na prática – errando e acertando -, passamos a diversos cursos de qualidade oferecidos por universidades e demais instituições. Apenas uma coisa não mudou: o que leva uma pessoa ou uma empresa a um evento.


Infelizmente, alguns organizadores dessas ações, já no modo automático após anos de sucesso, esqueceram de fazer esta autorreflexão, ou melhor, as perguntas básicas que deveriam ser mantras de questionamento exaustivo e que nos levam a encantar e transformar a participação em algo memorável e economicamente viável. Quem são meus clientes? O que desejam? O que procuram? O que posso e de que forma posso oferecer o que procuram? Onde e como posso inovar? O que mudou para que possamos inovar também? Cada mercado com suas perguntas e suas respectivas soluções! Certamente que não existem respostas padronizadas e mágicas que nos deem as diretrizes corretas para promoção das ferramentas necessárias. Utilizando textos do livro “Adam Óbvios”, de Robert Updegraff, alguns princípios podem ajudar. Assim, sugere cinco perguntas: 1. Dá para simplificar? 2. Que tal inverter o processo? 3. Quem opina vai comprar? 4. Ainda sai coelho desta toca? 5. O que está bom pode ficar melhor? Estas perguntas, feitas com simplicidade há quase um século, são atuais e podem ainda ser aplicadas no mundo globalizado e complexo em que vivemos. Boa feira! *Baseado em “Obvio Adams: a história de um empresário de sucesso” de Robert Updegraff. Editora da Cultura, São Paulo, 2004.


O planejamento foi feito? A difícil tarefa de preparar os “expositores” e como conciliar quem produz com os canais de distribuição? Quantas vezes ouvimos a afirmação que determinada feira estava fraca, que não vendeu nada, que não tinha público? De fato, existem feiras que por um motivo ou outro, não atendem o esperado. Mesmo tratando-se da principal ferramenta de promoção comercial do mundo, há feiras que por um motivo ou outro, acabam por não atender os anseios gerais. Faz parte do mercado, mas são, exceções. A realidade é que parte considerável dos expositores brasileiros não aproveita as feiras em todo seu potencial e culpa os organizadores por não alcançarem suas expectativas. De acordo com Fernando Lummertz, autor do livro FEIRAS DE NEGÓCIOS | Uma Poderosa Ferramenta para Marketing e Vendas, menos de 20% dos expositores das feiras brasileiras se preparam adequadamente para a participação. O trade por sua vez, vem sistematicamente martelando palavras como treinamento, tecnologia, experiência, capacitação, big data entre outras que demonstram claramente o interesse em cada vez agregar mais valor aos seus eventos, mas, do outro lado, não raro, cartões comerciais recolhidos nas feiras vão parar na gaveta do responsável comercial e ali, hibernam.


Atentas a isto, algumas entidades e promotoras de feiras vem ministrando há anos cursos e palestras na tentativa de demonstrar a seus clientes, o poder desta magnifica ferramenta, as feiras. E mais do que isso, orientam os expositores para a preparação estratégica da participação em feiras, planejando as ações pré, durante e pós-feira. Armando Campos Melo, Presidente Executivo da UBRAFE - União Brasileira dos Promotores de Feiras, afirma que “Planejamento é o nome da principal peça, não se esquecendo que no pós feira, a avaliação nos levará ao futuro sucesso”. Os eventos, são canais de dupla direção. Se por um lado, há a necessidade de ouvir o cliente, o expositor por sua vez, tem de participar, tem que estar preparado. Material só em português em feiras internacionais, mega estandes sem a necessária compatibilização com os objetivos de participação e, consequentemente, sem a menor noção de ROI, estandes onde não conseguimos identificar claramente o produto ou empresa, nenhuma ou preparação inadequada para feira, sem contar a participação em feiras que não são compatíveis com o produto do expositor. Ou seja, escolheu a feira errada! Estes, são apenas alguns poucos exemplos de erros ou da falta de planejamento na participação de alguns expositores. Como resolver este dilema? O caminho passa pela capacitação constante de gestores e de atendentes dos estandes e que, na forma de treinamento, deve ser oferecida pelo maior número de players possível. Planejamento + treinamento constante + dedicação + visão = profissionalismo


O melhor espaço para sua Feira Seja em sala de aula ou encontros do trade, volta e meia este assunto vem à tona: qual o melhor espaço para feiras? Tive a oportunidade de conhecer e trabalhar em alguns muito bons, sejam no Brasil ou no exterior. Quanto à pergunta, a resposta é simples, mas não desejo correr o risco de respondê-la sem algumas explicações. O fato é que você, leitor, merece meu respeito e carinho; afinal, dedicou tempo para ler meu artigo. Depois, tenho o prazer de ter vários amigos em diversos espaços para eventos no Brasil e no exterior e não gostaria de criar nenhum tipo de problema com eles. Honro estas amizades. Em aula, ensinamos que devemos estar atentos a detalhes tais como: estacionamento, tamanho, pé direito, infraestrutura, entre outros aspectos. Sim, de fato! Todos estes questionamentos devem ser feitos e são imprescindíveis para análise. Contudo, respondem nossa pergunta? Para elucidar, proponho uma pequena viagem no tempo... Em 1957, quando a Alcântara Machado Feiras promoveu a primeira Fenit, qual era o melhor local para realizá-la? Simples. No Ibirapuera, onde existiam os antigos galpões. (na época, recém-inaugurados) O local era central, lindo, glamoroso e


não havia outras opções adequadas para atender este e outros eventos que vieram na sequência. Agora, em 1970, com a inauguração do Anhembi, um local apropriado, moderno e com a infraestrutura adequada, estando na pele do Dr. Caio, onde iriamos realizar nossas feiras? O único obstáculo, à época, era que parte da imprensa não apoiava um pavilhão na zona norte de São Paulo. Ficava depois da Marginal, diziam. Acreditam? Pois é... Se voltarmos agora à década de 80, imaginem-se organizando uma feira do artesanato com 12 mil m2. Onde realizá-la? O Anhembi era grande demais e os pavilhões do Ibirapuera já não mais existiam. A solução estava ao lado: Bienal do Ibirapuera. Só o público do parque, com 100 mil pessoas em um final de semana de sol, já era sinal de sucesso em um evento B2C. Conheceram o Mart Center? O antigo projeto para centro madeireiro localizado na zona norte de São Paulo foi, durante anos, opção viável para realização de feiras B2B e B2C. Apresentava então espaços médios - ideais para projetos inovadores -, amplo estacionamento e um shopping atacadista como âncora que atraía um número expressivo de visitantes. Com 18 feiras em 1993, era uma das melhores opções custo x benefício da época. Neste ponto quero ressaltar que nossa pergunta não foi feita com base em outras tipologias de eventos. Estamos apenas focando em feiras de médio grande porte. Sem esta ressalva, também estaríamos falando de hotéis e de centros de convenções como o Palácio das Convenções do Anhembi ou do maravilhoso espaço oferecido pelo Centro de Convenções Rebouças, agora ampliado.


Voltando à nossa história, nasce na época uma nova opção de equipamento na cidade de São Paulo: o Expo Center Norte. O fato é que, com sua inauguração, promotores de feiras de médio a grande porte passaram a ter nova opção. Sabem a história de oferta e procura? A disponibilidade de “boas datas”, devido a intensa demanda era precária na época. Dizia-se na época que uma multinacional de feiras comprou uma Brasileira de olho nas datas do Anhembi. Será? Tendo na época em seu calendário diversas feiras da indústria de base, o Expo Center Norte passou a ser a via natural para quase todos os eventos que estavam no Mart Center e opção viável para promotores que procuravam datas no Anhembi. Hoje, após reformas e melhorias continuas, o pavilhão continua destacandose na vanguarda das feiras no Brasil. Sem me atentar muito à cronologia das inaugurações, nos anos subsequentes a oferta de equipamentos na cidade de São Paulo aumentou consideravelmente. Podemos citar: ITM-EXPO que, após navegar entre tipologias, focou em congressos e, com o apoio inestimável do SPC&VB, tornou-se na época um dos líderes em congressos de médio a grande porte. Frei Caneca? Um centro de convenções e pavilhão de feiras em um shopping? Um case de sucesso com certeza! Expo Transamérica? Uma bandeira hoteleira criando um novo patamar na oferta de espaços para feiras, mostrando que é possível e viável termos um equipamento deste porte (o primeiro com ar condicionado) e nível na zona sul. Uma Grife em eventos! Não poderia esquecer de mencionar o Centro de Eventos PRO MAGNO, outra excelente opção que com profissionalismo, ocupou seu espaço no mercado e que nasceu diante da necessidade de uma entidade.


Que tal então o São Paulo Expo? De espaço da Secretaria Estadual da Agricultura, onde eram expostos cavalos, bois, cabras etc. para um centro de feiras e exposições padrão internacional, gerido por uma das principais empresas do mundo do setor. Não faltam elogios do trade para este equipamento. Bem... chegamos agora ao momento da verdade. Sei que não falei de todos os equipamentos e os que comentei utilizo-os apenas como exemplo. Há aproximadamente 25 anos, um famoso evento em São Paulo foi realizado no Mart Center, depois seguiu para o pavilhão da Bienal, na sequência, para o ITM-EXPO e, finalmente, para o Center Norte. Qual o melhor destes locais? Todos! Cada um deles, provavelmente foi o melhor quando analisamos no tempo as características do evento em cada época.

Um dos mais renomados e respeitados profissionais do trade, Armando Campos Mello, Presidente Executivo da UBRAFE, afirma: “Diferentemente de outros destinos que conta com um único


equipamento, São Paulo é a capital das Feiras, sua extensa oferta de locais para feiras, nos faz o principal destino do Mercosul . Maria Clélia, gerente comercial do EXPO CN complementa: nenhum Espaço de Eventos é bom, por si só, se não tiver um Equipe comercial e operacional atenta a todas as necessidades do cliente x evento, da sua comercialização a sua realização e o que dizer então do pós-vendas? Hoje infraestrutura moderna está a disposição de todos, é apenas uma questão de mais ou menos investimento e claro que cada novo espaço, por si só já é melhor porque é novo, mas o que não se compra é uma boa Equipe treinada e motivada para entender para melhor atender, toda a cadeia produtiva deste maravilhoso Mundo dos Eventos! Não existe fórmula mágica e os questionamentos apresentados no começo deste artigo nos ajudarão a encontrar a resposta. O fato é que não existe o melhor espaço. Aliás, existe sim: o melhor espaço, dentro da oferta disponível e de acordo com o tipo de feira. Cada feira tem a sua característica e o espaço para o qual ela é mais apropriada. Este sim é o melhor espaço para sua feira!



O Gelo, A Tecnologia e As Feiras Gelo e limão? Quase que diariamente ouço esta pergunta quando peço minha tradicional Coca Cola no almoço. Menos habitual, mas com uma certa frequência, ouço comentários de que as feiras estão sendo impactadas negativamente pela tecnologia atual como por exemplo as redes sociais ou o google analytics. Há algum tempo, uma aluna defendia veementemente que a Second Life iria acabar com as feiras… Second o que? A pergunta é: o que uma coisa tem a ver com a outra? Se permitem, é necessário que contemos uma breve história do gelo. Pois é, até o gelo tem história! Então vejamos: Antes da tecnologia de fabricação de gelos, o ser humano dependia basicamente do inverno para ter acesso ao gelo. Da mesopotâmia aos gregos. Do império romano aos EUA a tecnologia pouco mudou até o século XIX. Basicamente, utilizávamos o gelo para resfriamento no verão com o gelo produzido no inverno, gelo este, armazenado em instalações especiais. .


Já a indústria do gelo propriamente dita, esta começa no início Idade Moderna, com “frigoríficos”, poços em que congelavam água, isolada com palha, para ser comercializado. Nos EUA, popularizou-se a profissão de geleiro, profissional que recolhia gelo e o transportava para as cidades para posterior comercialização. Onde existe um produto, existe um mercado e este; nos meados do século XIX passa a ser dominado pelos EUA com direito inclusive a exportação. Que tal 240 toneladas de gelo enviadas dos Estados Unidos para Havana, Cuba, por F. Tudor? Já em 34 nasce o primeiro sistema de fabricação de gelo artificial e no meio século seguinte os aperfeiçoamentos nos processos de fabricação de gelo artificial foram se acumulando, surgindo desta forma, melhorias nos sistemas na fabricação de gelo. A consequência é o impulso que faltava à indústria de produção mecânica de gelo. A demanda cresceu vertiginosamente e passaram a surgir com rapidez crescente as usinas de fabricação de gelo artificial por todas as partes. Finalmente em 1918, surge o primeiro refrigerador automático, este, movido a eletricidade. Uma longa linha do tempo. Do gelo dos lagos ao gelo das geladeiras residenciais. Das primeiras geladeiras residências a uma gama gigantesca de eletrodomésticos e eletro portáteis que gelam, refrigeram ou simplesmente fabricam gelo. E as feiras? Nosso pequeno texto, utiliza o gelo como produto análogo às feiras. Por que? Por que elas evoluíram e evoluem constantemente e se adequam de uma forma atemporal utilizando as tecnologias existentes.


Se a principal função do gelo é gelar, desculpem-me pelo trocadilho, as feiras desde a idade média continuam a ter como função principal a de serem ponto de encontro entre oferta e procura.

Feiras antes de mais nada, geram experiências e conteúdo! Setores econômicos, targets e praças... As feiras evoluíram. No Brasil, da FENIT de 58, evento este B2B e B2C, a feiras atuais: segmentadas e especializadas. Feiras que geram conteúdo e que acompanham a forma de comprar de cada geração.


Eventos que graças ao auxílio da tecnologia, conhecem cada vez mais seus clientes, sendo verdadeiros canais específicos de oferta e procura. As tecnologias existentes não são concorrentes como algumas poucas (ainda bem) pessoas assim o pensam. São ferramentas agregadoras e facilitadoras, capazes de na mão de profissionais cada dia mais antenados de colaborar na oferta de experiências. Se o avanço das tecnologias gera mudanças no comportamento, as feiras por outro lado, continuam a ser o ponto de contato com o público alvo. A tecnologia muito antes de ser um competidor, tornou-se uma ferramenta que contribui para que nossas feiras tenham cada vez mais relevância em nosso dia a dia. Das feiras na idade média ao Salão do Automóvel que se encerra no domingo próximo, às feiras passam por constantes evoluções, sejam estas em seus formatos, seja em suas apresentações. Apenas, algo não muda, (nosso gelo). As feiras continuam sendo o grande ponto de encontro entre a oferta e a procura. Não, não se fazem mais feiras como antigamente… Se fazem melhores, cada vez melhores! Vai um gelinho?


O evento certo no lugar certo É notória a importância do setor de eventos para a economia e sua contribuição para o turismo. Em especial para hotelaria. De espectador deste movimento, o trade hoteleiro passou a ser considerado ferramenta fundamental neste processo, seja pela necessidade de leitos, seja como local para realização das ações. Há alguns anos, um importante evento estava para ser realizado em uma determinada cidade e foi remanejado para outra que apresentava oferta de leitos adequada. Perceba que não estava na fase de escolha da cidade. O evento já estava sendo divulgado e comercializado com tudo certo para ocorrer no primeiro município. Ocorre o seguinte: um empreendimento que estava sendo construído e complementaria a oferta de leitos necessária para realização deste evento atrasou sua obra e, desta forma, quando o congresso ocorresse não haveria leitos suficientes. A conclusão foi que o trade turístico do primeiro município perdeu. Outro grande evento que ocorria havia anos em instalações administrada pela própria entidade organizadora acabou por alterar o lugar de sua realização. Mudou de local e de cidade o que, concordamos, é uma mudança radical!


Dos vários motivos para tal alteração, um dos que mais me chamou a atenção foi o fato de o local do evento não permitir a democratização da ação pelo alto custo. Não do evento diretamente, mas de hospedagem, transporte e alimentação dos congressistas. Um determinado espaço para feiras tinha virado sinônimo de "mico". Para começar, não tinha sido construído para tal finalidade e suas características técnicas não facilitavam em nada a montagem de feiras que ali aconteciam. Novos, melhores e mais adequados pavilhões sendo construídos resultaram em uma perda significativa de eventos ao empreendimento. Oito anos depois, este espaço tornou-se um dos maiores expoentes no segmento que atuava, com uma agenda de dar inveja. O que podemos entender com os três "cases" acima? No primeiro, possivelmente a política capitaneou a escolha da cidade. A aposta foi alta e o município perdeu. O "trade" turístico de lá perdeu.


Em vista do tamanho deste congresso, quero crer que a ação deveria ter sido planejada inicialmente para ser realizada em outro local. A cidade escolhida, o local onde seria realizado, a estrutura hoteleira era inadequada? Sim e não! Sim para este evento e não para milhares de outros que ali acontecem com maestria e sucesso. No segundo caso encontramos uma situação igual na necessidade de alteração de local, mas diferente no motivo. Se existe um setor onde a frase "a verdade de hoje necessariamente não é a verdade de amanhã" é o setor de eventos. O local onde a ação foi realizada por diversas edições foi adequado e vitorioso até o momento em que a direção do evento detectou que a mudança de local seria benéfica para ele a partir daquela edição. O local estava neste momento impedindo, de certa forma, o crescimento do evento em questão. Analisando o terceiro "case", podemos ver o problema por outra ótica: a do espaço! Imaginem-se na pele do empreendedor ou do acionista recebendo planilhas com panoramas cada vez mais sombrios. Como comentado, a estrutura técnica do espaço não era adequada e, se em algum momento foi sede de várias feiras, este fato ocorreu apenas como resultado da famosa relação oferta x procura que todos conhecemos bem. De que forma, portanto, este empreendimento alterou sua curva de faturamento? Simples: mudando o foco! Em vez de feiras, especializou-se em congressos pois a infraestrutura técnica era mais adequada a esta tipologia de eventos.


Resumo: não existe o melhor local para eventos. Existe o local certo para cada evento. E, se permitem uma pequena alteração no título deste texto, incluiria: “no tempo certo”. "O evento certo, no tempo certo, no local certo".

Paulo Passos é diretor do Centro de Convenções PRO MAGNO, diretor do IBEV (Instituto Brasileiro de Eventos) e membro do SKAL Internacional São Paulo tendo, em 39 anos de experiência, atuado em mais de 300 eventos nacionais e internacionais. Foi gerente de projeto setorial da APEX, além de ter trabalhado em outros cinco centros de feiras e convenções no Brasil. Ex-diretor da ABEOC-SP e da ABBTUR-SP, é consultor, palestrante, jurado do” Prêmio Caio”, atua na direção de feiras e exposições e colabora regularmente com artigos para as revistas Hôtelier News e Portal dos Eventos


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