Identidades #1

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#1 DEZEMBRO ‘13 | JANEIRO | FEVEREIRO ‘14


IDENTIDADES

3 .. EDITORIAL

: DIREÇÃO COLETIVO IDENTIDADES

3 .. A FILEIRA DA MÚSICA PORTUGUESA DE IDENTIDADE

: PERIODICIDADE TRIMESTRAL | #1 DEZ ‘13, JAN E FEV ‘14

4 ........ A RECUPERAÇÃO DA VIOLA CAMPANIÇA (1ª PARTE)

4 .. CORDOFONES PORTUGUESES 7 ........ CORDOFONES TRADICIONAIS

: COORDENAÇÃO EDITORIAL FILIPA ESTEVÃO DE CARVALHO VASCO RIBEIRO CASAIS PAULO PEREIRA ANTÓNIO BEXIGA ANTONY FERNANDES

9 .. CONSTRUTORES DE INSTRUMENTOS EM PORTUGAL

: REVISÃO DE TEXTOS FILIPA ESTEVÃO DE CARVALHO

12 ........ TRADBALLS

: REVISÃO DE PARTITURAS TIAGO TRIGO : DESIGN GRÁFICO, PAGINAÇÃO E ILUSTRAÇÃO CRISTINA VIANA

11 .. AS ESCOLAS DE MÚSICA TRADICIONAL 11 ........ ESCOLA DE GAITAS DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O ESTUDO E DIVULGAÇÃO DA GAITA-DE-FOLE 13 ........ EMTRAD 14 .. ORQUESTRA FOLKMUS: A REVITALIZAÇÃO DA MÚSICA TRADICIONAL EUROPEIA 15 .. ORALIDADES – O NOSSO PATRIMÓNIO COMUM (2008-2013)

: APOIO À EDIÇÃO DGARTES

17 .. O PROJETO OCARINA: A MÚSICA A

: REDAÇÃO ANTONY FERNANDES ORLANDO TRINDADE DANIEL PEREIRA VASCO RIBEIRO CASAIS PAULO PEREIRA RITA NÓVOA ALEXANDRE MATIAS RICARDO FALCÃO SARA VIDAL RUI ARIMATEIA ELZA NETO TERESA NÓVOA RICARDO SANTOS SOPHIE COQUELIN NEIDE RIBEIRO MARISA BARROSO RUI COSTA SÍLVIA DE SÁ BÁRBARA TRABULO MARTA MIRANDA PAULO OLIVEIRA NICOLE BARTOLOMEU ISABEL SANTANA SARA ABREU ISABEL CRUZ DAVID RODRIGUES TIAGO PEREIRA

18 .. A IMPORTÂNCIA DA CULTURA TRADICIONAL NO

ESBATER FRONTEIRAS PLANALTO MIRANDÊS - O BURRO DE MIRANDA E A REVITALIZAÇÃO DA CULTURA TRADICIONAL DO PLANALTO MIRANDÊS 19 .. A CULTURA E O DESENVOLVIMENTO LOCAL 20 .. DA MÚSICA DE RAIZ TRADICIONAL AO BAILE: A PERSPETIVA DAS ARTES PERFORMATIVAS 22 .. CONCERTOS E FESTIVAIS EM 2013 23 ........ CONCERTOS 26 ........ FESTIVAIS 28 .. EM AUDIÇÃO 30 .. INVESTIGAÇÃO ........ OS 2048 MODOS 35 .. CANCIONEIRO 36 ........ PROJETO BALHO - ALECRIM 37 ........ PROJETO BALHO - RIO MIRA VAI CHEIO 38 ........ DAZKARIEH - NA BOCA DO LOBO 39 ........ OMIRI - REPASSEADO 40 ........ NMB - ELVIRA 41 ........ TOQUES DO CARAMULO - REAL CANINHA 42 .. AS NOSSAS MAZURCAS

identidades2010@gmail.com

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EDITORIAL Depois de 4 anos de muitas conversas, trocas de palavras e alguma discussão, a revista Identidades ganha forma, resultado de vontades muito diferentes mas com um objetivo comum: dar voz à música de raiz portuguesa e dar força a uma fileira que já está bastante instalada mas que peca por ser demasiado subterrânea. À semelhança de outros países, temos a ambição de ocupar o espaço que a TRAD magazine (França) ou a Folk Roots (Inglaterra) preenchem nos seus países. Ao contrário da maioria dos países europeus, nós tivemos a imensa sorte de nunca ver quebrada a tradição oral que passou o nosso património imaterial de geração em geração. Prova disso é o Ti Manuel Bento, um dos últimos tocadores de viola Campaniça (diz-se que chegaram quase a estar extintos), que ainda está entre nós, tendo passado a sua arte e repertório às novas gerações de tocadores, que hoje são muitos e que fazem deste saber a sua ferramenta de trabalho ou ocupação dos tempos de ócio. Esta revista pretende festejar a nossa cultura musical, sem limites nem preconceitos, apenas reconhecendo que é um valor nosso que merece ser divulgado, e que felizmente, se espalha a cada dia que passa, de mestre para jovem tocador, do conservatório para as ruas, das salas de ensaio para os palcos e dos subterrâneos obscuros para a programação privilegiada das salas de espetáculos, festivais e municípios. A cultura é o que nos faz ser únicos enquanto grupo enraizado de seres humanos à beira do atlântico, ajudando a construir e a formar a nossa identidade; não de uma só identidade, mas de muitas, todas elas espelhos multicolores de um património que só nós podemos e devemos conhecer, modificar e espalhar ao vento.

A FILEIRA DA MÚSICA PORTUGUESA DE IDENTIDADE O projeto “Identidades” é uma rede informal de músicos que tem como principal objetivo dar visibilidade à música folk e de identidade portuguesa, integrando todas as ramificações e contaminações possíveis da nossa herança cultural. O Identidades é apoiado pela dgArtes e aposta em duas ferramentas de comunicação nucleares para dar a conhecer a música de identidade em Portugal: o portal “Identidades” (em parceria com a Pédexumbo) e a revista “Identidades”. O portal, que já está em construção, é essencial para centralizar tudo o que se faz neste domínio: eventos e programação, associações, projetos culturais, escolas de música, grupos musicais, discografia, recursos pedagógicos, arquivos, partituras e muito mais. A revista identidades que agora publicamos em formato digital, terá uma periodicidade trimestral. Na revista os músicos falam na primeira pessoa sobre os instrumentos portugueses, a composição, a fileira da música portuguesa de identidade e os seus projetos musicais. As associações relatam as suas estratégias de intervenção cultural e o público fala dos eventos, festivais e concertos que testemunharam. A revista é criada a partir do interior de um movimento em franco crescimento que pretende cada vez mais dar-se a conhecer dentro e fora de fronteiras, e assim celebrar toda a diversidade da nossa cultura ancestral.

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CORDOFONES PORTUGUESES

RECUPERAÇÃO DA VIOLA CAMPANIÇA

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Durante os últimos anos tem havido um esforço, por parte de alguns indivíduos, em recuperar a viola campaniça. A equipa do Identidades quer perceber como é que esse esforço foi feito e que resultados tem obtido. Para isso, pedimos a várias pessoas que nos falassem do seu incansável trabalho na recuperação deste instrumento de corda alentejano. Nesta edição pedimos a Orlando Trindade, construtor de instrumentos de corda, para nos falar sobre a construção da viola campaniça.


A SUA CONSTRUÇÃO HISTORICAMENTE INFORMADA POR ORLANDO TRINDADE

A família das violas – instrumentos de cordas com braço e caixa de ressonância em forma de oito – é referenciada em Portugal desde pelo menos os finais da Idade Média, aparecendo em diversas fontes escritas e iconográficas. As nossas violas tradicionais têm a sua origem mais remota nas violas de mão e de plectro e estão referenciadas nas fontes ibéricas do séc. XVI. A viola campaniça, assim como as restantes violas tradicionais do país, manteve até o século XX muitas das características de construção que já se encontravam presentes nas referidas violas do séc. XVI, tais como o cravelhal em forma de espátula

com cravelhas de madeira, a escala ao nível do tampo (rasa) e o uso das duas barras harmónicas no tampo, uma de cada lado da boca. Originalmente usaria doze cordas, distribuídas por cinco ordens, sendo as primeiras três duplas e os dois bordões triplos. É de referir ainda o facto de não se usar verniz no tampo o que, mais uma vez, é uma característica comum às violas antigas, alaúdes etc., e que sobrevive ainda hoje nos nossos cordofones tradicionais. Ao longo do século XX assiste-se a uma decadência no uso e, consequentemente, na construção destes instrumentos. Quando mais recentemente ressurge o interesse na viola campaniça, existia toda uma

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tradição ligada com a sua construção que se tinha praticamente perdido. Atualmente, e na maior parte dos casos, assiste-se a uma incorporação de elementos existentes noutros cordofones modernos, como é o caso dos barramentos alterados, recorrendo ao uso de barras harmónicas em leque na zona do cavalete, que nunca aparecem nos instrumentos antigos; por vezes, também o uso da escala sobreposta ao tampo e a aplicação de sistemas mecânicos modernos como substitutos das cravelhas de madeira tradicionais. Outras mudanças mais subtis mas igualmente importantes são as relacionadas com as espessuras das madeiras, os vernizes, as colas e até as proporções e formas do próprio instrumento e dos seus elementos constitutivos, como o cavalete ou o cravelhal. Todas estas alterações vão influenciar direta ou indiretamente o timbre, volume e desempenho do instrumento, afastando-o cada vez mais do “som original”, particular e identitário deste tipo de viola. Desde 2006, quando me foi proposta a construção daquela que seria a minha primeira viola campaniça, réplica de um modelo antigo, tenho vindo a restaurar, examinar e documentar várias violas históricas sobreviventes, e tenho verificado a existência de uma normalização na construção desses instrumentos que se confirma pelas proporções do cavalete, cravelhal, diâmetro da boca, altura da caixa de ressonância, pelas próprias madeiras usadas e pelas técnicas de construção. Podem ser definidos dois modelos base de violas: A viola pequena afinada em ré3; si2; sol2; dó2; sol1 e com as seguintes medidas: · Comprimento total: de 860 a 885mm; · Largura máxima: de 260 a 285mm; · Comprimento do corpo: de 400 a 425mm · Comprimento de corda vibrante: de 530 a 547mm: · Comprimento do braço: de 240 a 250mm A viola grande afinada em lá2; fá#2; ré2; sol1;ré1 e com as seguintes medidas: · Comprimento total: de 940 a 945mm; · Largura máxima: de 280 a 295mm; · Comprimento do corpo: de 440 a 445mm; · Comprimento da corda vibrante: de 580 a 595mm; · Comprimento do braço: de 275 a 280mm

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Existem vários materiais comummente usados na sua construção. Para o tampo harmónico o espruce (Picea abies) ou a casquinha (Pinus sylvestris) com uma espessura de cerca de 2,5mm. Esta última é também usada para as barras harmónicas e contra ilhargas. Para as ilhargas e fundo é utilizada a mesma madeira do tampo, podendo também ser usada a madeira de nogueira (Juglans regia), ou de cerejeira (Prunus avium) com uma espessura nas ilhargas de cerca de 1,2mm, e no fundo de 3mm. O braço e cravelhal são talhados em madeira de casquinha ou amieiro (Alnus glutinosa). Na zona frontal do cravelhal é colada uma placa de madeira de pau santo (Dalbergia nigra) ou nogueira. Na escala ou ponto aparece igualmente o pau santo ou nogueira. O cavalete fixo é de madeira de pereira (Pyrus comunis), nogueira ou pau santo. O cavalete móvel, assim como a pestana, podem ser de osso ou madeira rija das mesmas espécies já citadas.


CORDOFONES TRADICIONAIS PORTUGUESES POR DANIEL PEREIRA ‘CRISTO’

Imaginem o som bem rasgado de um cavaquinho aos olhos/ouvidos de um estrangeiro que o escuta pela primeira vez, e imaginem o exotismo que ele sentirá ao som das nossas violas portuguesas com cordas duplas oitavadas. Imaginem os sentimentos que lhe provocará o som doce do nosso bandolim ou a forma peculiar de tocar da nossa rabeca chuleira... todo este manancial está aqui à espera de ser cuidado, melhorado e explorado! Depende de nós e cabe-nos a nós – interessados, militantes pela causa das nossas identidades – fazer perceber que a riqueza dos nossos instrumentos dar-nos-á pano para mangas, para deles fazermos o que tem que ser feito: desde

a melhoria técnica da construção dos instrumentos, à sua exploração técnica em termos de sonoridades e execução, até ao seu uso para promoção e valorização da nossa música de identidade, enquanto marca de alto valor de mercado, que o poderá (e deverá) ser tanto a nível nacional como internacional. Tive a sorte de me terem apresentado o mundo dos cordofones portugueses desde muito novo e eles são uma parte natural e extremamente importante do meu percurso musical. Entrei para o Origem Tradicional a tocar um pouco de cavaquinho e por lá aprendi a tocar braguesa e bandolim, que fui melhorando e explorando cada vez mais na

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Azeituna, na Universidade do Minho, e depois também nos Arrefole, onde a exploração livre da música pela música nos levaram e levam a descobrir os instrumentos até aos seus limites, buscando sempre novas potencialidades e sonoridades, deixando-nos surpreender por eles. Espero, sinceramente, que muitos miúdos novos possam ter essa oportunidade… e os graúdos a sensibilidade de abrir horizontes aos jovens artistas, incentivando-os a conhecer estes instrumentos, que também são deles e que também são parte da sua História. É certo e sabido que as leis de mercado comandam aquilo que se produz em todas as áreas e os nossos instrumentos não são exceção. Mais procura e uma procura mais crítica farão consequentemente evoluir este mercado em particular. É tempo de melhorarmos a qualidade técnica dos nossos cordofones e todos podemos ter um papel importante junto dos nossos construtores, para que progressos constantes possam ser feitos. Escalas perfeitas, pestanas e cavaletes no lugar certo e com a altura certa, carrilhões que afinem bem e mantenham o instrumento afinado, são fundamentais para que não haja desistências e para que possamos ter melhores músicos amanhã. Esse é um dos trabalhos que temos vindo a fazer na recém-formada Associação Cultural e Museu Cavaquinho, onde procuraremos colocar online o maior número possível de informação sobre as várias afinações, formas de tocar, vídeos e workshops. Basicamente está tudo por fazer… e este manancial de cavaquinhos,

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braguinhas, machetes, braguesas, violas da terra, violas de arame, campaniças, amarantinas, beiroas, rabecas, está à espera de ser recuperado para mostrarem ao mundo o tanto que ainda têm para dar. É certamente um património que urge preservar, não só nos livros, mas essencialmente na mão de bons e apaixonados tocadores… Os nossos instrumentos tradicionais são os melhores veículos que podemos ter para mostrar a riqueza das nossas tradições e para trilhar, através deles e através da rica e farta criação musical que pode haver em torno deles, as pontes de mais de mil anos de História... Os nossos sons, as nossas sonoridades, que nos transportam do passado até aos dias de hoje e vice-versa, com as portas bem abertas ao futuro… Eles mostram bem o tanto que têm para dar e o tanto que importa que os conservemos como património cultural português vivo, como a música e as sonoridades que nos fluem no corpo e no sangue, e como a identidade que importa preservar, para que não esqueçamos quem somos e o que somos, para dessa forma sabermos onde queremos ir e chegar. E tu, já experimentaste um cordofone português? Vais-te surpreender com a inspiração que vai brotar de ti! Estás à espera de quê? ; ) www.facebook.com/danielpereiracristo www.cavaquinhos.pt www.facebook.com/origemtradicional www.facebook.com/ arrefole


CONSTRUTORES DE INSTRUMENTOS EM PORTUGAL POR ANTONY FERNANDES

Em Portugal existe um razoável número de construtores de instrumentos musicais tradicionais. Para quem está interessado em adquirir um instrumento, aqui está uma lista de alguns construtores que o Identidades recolheu, alguns mais conservadores que tentam preservar a forma tradicional de construir o instrumento e outros mais inovadores que apostam na evolução do instrumento. Há soluções para todos os gostos e necessidades. SONS DA MÚSICA Cordofones e Gaitas de Fole ~ Torres Vedras 965 470 264 | 967 532 536 sonsdamusica@sapo.pt www.sonsdamusica.com.pt

ANTÓNIO VIEIRA Cordofones ~ Felgueiras 964 085 029 | 910 192 428 antoniofariavieira@sapo.pt instrumentostradicionais.blogspot.pt/

JP CUSTOM GUITARS Construtor de Instrumentos de Corda ~ Olhão 917 146 561 jpcustomguitars@gmail.com www.facebook.com/joao.pessoa

ORLANDO TRINDADE Cordofones ~ Caldas da Rainha 966 035 359 orlandotrindade@hotmail.com www.orlandotrindade.net

ALVARINHO DE CASTRO PEREIRA Cordofones ~ Gondomar alvarinho.decastropereira@facebook.com www.facebook.com/alvarinho.decastropereira

AMILCAR MARTINS DA SILVA Viola Campaniça ~ Odemira 283 925 347 :9


GUITARRA PORTUGUESA FLOR DE LIS Guitarra Portuguesa ~ Vila Nova de Gaia 227 455 154 www.facebook.com/pages/Guitarra-PortuguesaFlor-de-Lis/144479148972556

ATELIER DE INSTRUMENTOS MUSICAIS DE CORDA Cordofones ~ Carnaxide 967 594 696 | 964 753 040 aimc.instrumentos@gmail.com atelierinstrumentosmusicaisdecorda.blogspot.pt

CARLOS JORGE Cordofones ~ Funchal, Madeira cajopero@hotmail.com oficinacarlosjorge.com.sapo.pt

DANIEL LUZ Cordofones ~ Seisseiras / S. Teotónio 966 174 873 danielluz.wordpress.com

FERNANDO MEIRELES Cordofones ~ Coimbra sanfona@sapo.pt

ATELIER FERNANDO PORTELA

GAITAMAKER Gaitas de Fole ~ Porto 918 254 959 info@gaitamaker.com www.gaitamaker.com

CÉLIO PIRES Gaitas de Fole e Flautas de Tamborileiro ~ Miranda do Douro 963 448 137

DIOGO LEAL Flautas de bisel e flautas de tamborileiro ~Lisboa 934454919 diogo_leal@yahoo.com.br www.facebook.com/DLealRecorders

RED CLAY Instrumentos de Barro ~ Lisboa 913 796 083 redclay@redclay.com.pt www.redclay.com.pt

PAULO MEIRINHOS

Cordofones ~ Viana do Castelo 965 126 310 somosportelas.blogspot.pt

Pandeiros e Rabel ~ Miranda do Douro 934 261 972 paulomeirinhos@gmail.com

JOSÉ SERPA

AL-DUFF

Cordofones ~ Ilha das Flores joseserpa@sapo.pt joseserpa.no.sapo.pt

ACP - INSTRUMENTOS MUSICAIS Cordofones ~ Braga 253 672 520 www.apc-instruments.com

OSCAR B. CARDOSO Cordofones ~ Odivelas 219 373 458 oscar.cardoso@sapo.pt

SÉRGIO FONSECA Cordofones ~ Belas, Sintra 214 391 688 tradicionalis.blogspot.pt : 10

Adufes ~ Porto 965 548 227 al-duff.com/al-duff-www/

MIRANDRUM Percussões ~ Miranda do Douro 918 140 058 mirandrum@gmail.com mirandrum.blogspot.pt/

OFICINA DE ARTESANATO CÉSAR Membranofones ~ Ermesinde 229 740 366 | 966 762 186 | 917 495 033 oficinaartecesar@hotmail.com oficinacesar.com.sapo.pt


ESCOLA DE GAITAS DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O ESTUDO E DIVULGAÇÃO DA GAITA-DE-FOLE POR RITA NÓVOA

A Escola de Gaitas da Associação Portuguesa para o Estudo e Divulgação da Gaita-de-Fole nasceu em 2003 com o objetivo, indissociável da própria existência da Associação, de divulgar a gaita-de-fole através da formação de novos tocadores dentro de um contexto urbano e de preservar a música portuguesa de raiz tradicional tocada naquele instrumento. Criando os seus próprios percursos pedagógicos e ferramentas didáticas, a Escola de Gaitas foi então progressivamente captando um grupo sólido de alunos que percorria os três anos do curso de gaita-de-fole e se renovava anualmente. Dando continuidade a este trabalho, a Escola de Gaitas cresceu e funciona atualmente com cinco cursos distintos, cada um com três níveis de formação, abertos a todos os que pretendam aprofundar o contacto com a tradição musical portuguesa: o curso de gaita-de-fole (nível de Iniciação – prof. Inês Gonçalves; nível Intermédio e Avançado – prof. João Tiago Morais), que inclui noções teóricas e práticas de afinação, solfejo, técnicas de execução e adornos, manutenção, conceitos fundamentais acerca da história do instrumento, etnomusicologia e contextos culturais, e ainda o contacto com repertório e recolhas etnográficas; o curso de gaita-de-fole transmontana (todos os níveis – prof. Diogo Leal), o qual se centra no ensino de um tipo de gaita-de-fole inspirado em exemplares tocados numa região particular do país, Trás-os-Montes, com especial enfoque nos ornamentos e repertórios próprios dos gaiteiros tradicionais de Miranda do Douro, Bragança e Mogadouro; o curso de flauta de tamborileiro (todos os níveis – prof. Diogo Leal) assente

no ensino das técnicas de execução e coordenação de um conjunto instrumental (flauta tocada simultaneamente com um tambor) de grandes capacidades expressivas com longa presença na música de tradição oral portuguesa, em particular nas zonas de Trás-os-Montes e Baixo Alentejo; o curso de percussão tradicional (todos os níveis – prof. Rita Nóvoa), focado na aprendizagem dos ritmos tradicionais portugueses tocados sobretudo em caixa e bombo no acompanhamento da gaita-de-fole e, em simultâneo, no reforço das componentes técnicas (rudimentos, acentuações) e de formação musical rítmica (progressões rítmicas, poliritmos); e, por fim, o curso de adufe (todos os níveis – prof. Bruno Cintra), onde se pretende explorar este instrumento oriundo da Beira Baixa, não só através do ensino de técnicas de execução que lhe são próprias, mas também por via da aprendizagem de alguns cantares que tradicionalmente acompanham ou são acompanhados pelo adufe. Para além deste modelo de ensino, a Associação P.E.D. Gaitade-Fole criou ainda uma segunda via para dar continuidade à formação dos seus alunos corporizada num grupo musical que visa integrar os formandos que terminam o último nível de cada um dos cursos. O grupo que está hoje em funcionamento denomina-se Orquestra de Foles, o qual nasceu da herança de dois grupos anteriores, Gaitafolia e Cornes, e continua a partilhar com eles o objetivo de preservar, renovar e divulgar a riqueza e a diversidade dos instrumentos e repertórios que, enquanto Tradição, nos foram legados pelas gerações que vieram antes de nós.

www.gaitadefole.net/escola/

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TRADBALLS

POR ALEXANDRE MATIAS

A Tradballs dedica-se, desde 2005, à promoção e divulgação da Arte e da Cultura Tradicionais, nomeadamente a Música e a Dança, cuja redescoberta tem cativado o mais variado público, oferecendo uma nova forma de convívio e partilha de emoções e valorizando, simultaneamente, a cultura e a tradição. A Tradballs tem desenvolvido trabalho nas seguintes áreas: BALL-Dados (aulas regulares, workshops, etc de dança tradicional) onde os participantes são levados numa viagem pelo mundo, através da música e da dança de diferentes países. São ensinadas danças em roda, em linha, a par ou em grupo, onde se dá ênfase ao convívio, à diversão e à descontração; BALL-Toques (aulas de música tradicional): nestas aulas pretende-se trabalhar a aprendizagem de instrumentos e técnicas a partir do repertório tradicional. Contamos já com aulas de Concertina, Percussão, Canto Tradicional, Adufe, Guitarra, Iniciação Musical, entre outras. Trabalhando para a criação de uma pequena escola de música folk temos como objectivo a divulgação, recolha e recriação de música tradicional.; BALL-Kids (dança e actividades para crianças): proporcionam às crianças um percurso para a descoberta do movimento do corpo e das potencialidades expressivas e criativas. Os mais pequenos podem assim viajar pelo mundo através da música, da dança criativa e das danças tradicionais;

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BALL-Trad: a fusão entre a música e a dança dá origem ao Baile Tradicional, cuja principal característica é a presença obrigatória de músicos ao vivo; Festivais: produção e organização de festivais em diversos formatos por todo o país, dos quais destacamos o FEST-I-BALL (Março e Outubro, Lisboa), o RAIZ d’ALDEIA (Junho, Janeiro da Cima) e o FESTIVAL PASSAGEM d’ANO (Dezembro, Coimbra) que funcionam com diversas parcerias. Tradballs - Artes & Cultura Tradicionais no Teatro Dom Luiz Filipe Largo da Luz Nº 2 (Carnide) 1600-498 Lisboa www.tradballs.pt | tradballs@tradballs.pt | +351 966 887 299


EMTRAD’ - D’ORFEU POR RICARDO FALCÃO

Em 1995, quatro irmãos de Águeda, absolutamente mergulhados na cultura popular, decidem saltar as fronteiras do Folclore e empreender uma nova aventura, num meio fortemente marcado pela ruralidade dos purismos tradicionalistas. A partir de então, a tradição musical deixou de ser o que era. Ganhou novos rumos com a d’Orfeu Associação Cultural, cuja génese assenta no ensino da música tradicional, mas com uma abordagem inovadora e descomprometida, por oposição ao método rígido dos conservatórios clássicos. A EMtrad’ acolhe alunos de todas as idades, garantindo o compromisso pedagógico de iniciação às crianças e jovens de Águeda, a par de uma procura por parte de músicos ou mesmo interessados sem qualquer tipo de formação musical, de todas as gerações e origens geográficas. Por este motivo, ao longo dos anos, a EMtrad’ foi ganhando corpo e dimensão, assumindo-se como uma referência nacional no ensino da música tradicional e estrutura potenciadora de hábitos artísticos e culturais. Também é de referir que o protocolo existente com a Câmara Municipal de Águeda é um forte veículo de acessibilidade à participação de elementos das associações do concelho, o que estimula o envolvimento de vários alunos que, de outra forma, não o poderiam fazer. Neste sentido, todos aqueles que procuram a EMtrad’ como uma alternativa ao ensino da música clássica, encontram uma ampla oferta de cursos regulares, tanto em classes

de conjunto, como a nível individual, dos mais diversos instrumentos – Violino, Guitarra, Guitarra Portuguesa, Cavaquinho, Gaita-de-Foles, Concertina, Bandolim, Acordeão, Flauta Transversal, Piano, Saxofone, Viola Braguesa, Percussão e Canto tradicional, entre outros – com formadores (d’Formadores na d’Orfeu) de amplo reconhecimento musical. Procura-se sempre ir ao encontro dos interesses do aluno, através de um método de ensino flexível e aprazível. Para os mais novos, a grande novidade deste ano é a opÁ! – orquestra percussiva de Águeda, um projecto comunitário que vai desenvolver a sua actividade em estreita relação com as IPSS, escolas e associações do concelho, bem como com crianças, adolescentes e jovens (entre os 10 e os 18 anos) que se inscrevam a título individual. Actualmente, a actividade da EMtrad’ insere-se numa plataforma formativa, a d’Formação, alargada a outras expressões artísticas e técnicas, complementares e transversais entre si. A chave do sucesso desta estrutura de ensino é a motivação e qualidade dos d’Formadores, aliada a um espaço familiar no qual os d’Formandos se sentem em casa. 23460316 | 934623775 | dformacao@dorfeu.pt www.dorfeu.pt/ | dorfeu.blogspot.com www.facebook.com/dformacao www.facebook.com/dorfeuAC

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ORQUESTRA FOLKMUS: A REVITALIZAÇÃO DA MÚSICA TRADICIONAL EUROPEIA

POR SARA VIDAL (D’ORFEU)

O projecto europeu FolkMus nasceu em 2010, apoiado pela União Europeia, através do Programa Cultura, com o objectivo de preservar e revitalizar a memória cultural e os instrumentos tradicionais para os tempos actuais. Não pretende ser uma enciclopédia etnomusicológica, nem dar respostas concretas do ponto de vista académicocientífico. Assume-se, sim, como uma partilha informal das diversas sonoridades que compõem a matriz europeia, procurando sensibilizar e estimular o público internacional para a música folk, através de uma linguagem poderosa e global, a fim de superar os limites das barreiras linguísticas. Entre 2010 e 2012, o projecto integrou os parceiros Município de Roma, Zètema Progetto Cultura e Archivio Aurunco (Itália), Centro de Música Tradicional da Estónia (Estónia), Departamento Social de Cyclades (Grécia) e Førde Folk Music Festival (Noruega), desenvolvendo em cada país diversos workhops, concertos, residências artísticas e a gravação de um registo discográfico. Em 2013, inicia-se uma segunda etapa do projecto sem a presença norueguesa, mas com novos parceiros: d’Orfeu Associação Cultural (Portugal) e Fira Mediterrània de Manresa (Espanha). Até abril de 2015, o projecto FolkMus reúne jovens músicos emergentes de cada país participante, que trabalharão em residência artística sobre as diversas tradições culturais e musicais, partilhando a paixão pelas músicas étnicas e o interesse em encontrar pontos comuns. Neste novo ciclo, os músicos cruzam melodias representativas de cada país, num intercâmbio de ideias e vivências em forma de orquestra europeia multicultural de inspiração folk, da qual fazem parte os músicos portugueses Sara Vidal, João Pratas e Manuel Maio. Após o primeiro encontro de 23 a 27 de julho, na Estónia, concretamente no Viljandi Folk Music Festival, o projecto FolkMus já se apresentou em Portugal de 29 de outubro a 1 de novembro, com diversas actividades em Águeda: desde encontros pedagógicos com as escolas locais até ao concerto no Espaço d’Orfeu, passando pelos workshops de adufe e cavaquinho. A Orquestra FolkMus apresentar-se-á ainda em festivais e centros culturais na Grécia, Itália e Espanha, ao mesmo tempo que procede à edição discográfica do projecto, a iniciar-se já por estes dias com a representação portuguesa e equipa técnica da d’Orfeu. www.folkmusicproject.eu | www.facebook.com/FolkMus

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ORALIDADES: O NOSSO PATRIMÓNIO COMUM 2008-2013 POR RUI ARIMATEIA

O projecto Oralidades/Oralities teve início em finais de 2008, altura em que se constituiu uma equipa de trabalho que envolveu os diferentes parceiros europeus – Évora (líder), Idanha-a-Nova e Mértola, de Portugal; Ourense, de Espanha; Ravenna, de Itália; Birgu, de Malta; e Sliven, da Bulgária. Eram cidades desconhecidas umas das outras e entre as quais teve de ser construída uma relação, ao longo do desenvolvimento do Projecto. Houve troca de visitas entre técnicos e artistas (actores, músicos, marionetistas, contadores de contos, escritores, etc.); houve problemas e preocupações comuns que tiveram de ser resolvidas através do diálogo, da partilha e da solidariedade. No final, todos os participantes do Projecto ficaram mais ricos culturalmente. Um Projecto com esta envergadura só tem sentido enquadrado numa política cultural de continuidade, isto é, não poderá simplesmente terminar, após o final da comparticipação europeia. Através da criação do sub-projecto Centro de Recursos da Oralidade – com livros, cd’s, filmes, fotografias, documentos resultantes da pesquisa de inúmeros investigadores na área da Tradição Oral –, foi-se acumulando um acervo cultural. Os materiais e a massa crítica resultantes de duas Conferências Internacionais, organizadas em Ourense (Novembro de 2010) e em Évora (Novembro de 2012), constituem o suporte para que um Centro de Recursos da Tradição Oral possa vingar não só em Évora, mas igualmente nas cidades dos diferentes parceiros, se para isso forem disponibilizados alguns recursos logísticos e financeiros. O papel das Autarquias na prossecução do projecto Oralidades foi o de enquadrar os artistas e os técnicos no sentido de partilharem experiências com os seus parceiros. Após o término do Projecto, e não havendo nas actuais conjunturas – nacional e europeia – condições para a construção de uma proposta de continuidade poderemos, cada parceiro e em cada uma das cidades, continuar ainda assim a trabalhar e a desenvolver pequenos projectos nestas áreas tão aliciantes que são as do Património, da Cultura Imaterial, da Tradição Oral e das Oralidades. Muitas riquezas imateriais estão ainda por recolher e sistematizar junto dos residentes idosos, junto de Bibliotecas, de Universidades, de Associações (muitas vezes centenárias), que enquadram projectos que, pelas suas características, poderão vir a associar-se numa recolha e estudo comuns, e assim enriquecer um Centro de Recursos regional que se encontra continuamente em construção.

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Para o aprofundamento de práticas e técnicas poderemos auxiliar-nos de ferramentas que nos foram indicadas e facultadas pela UNESCO, nomeadamente a Convenção para a salvaguarda do património cultural imaterial, publicada em Paris a 17 de Outubro de 2003. Os objectivos do projecto Oralidades inseriram-se dentro dos pressupostos da Convenção da Unesco, a saber: valorização da Cultura Tradicional num quadro de inovação; promoção da cooperação cultural entre territórios, comunidades e agentes culturais e artísticos; intervenção sociocultural, tendo como base a promoção do diálogo entre culturas. Estes objectivos culturais, que promovemos e desenvolvemos no decurso do Projecto ORALITIES foram ambiciosos e desafiaram a nossa criatividade. Importa ainda referir que a intervenção sociocultural acima referida propôs-se a agir sobre a realidade específica de cada uma das cidades parceiras, tendo como base três conceitos operativos fundamentais: Memória, Identidade e Partilha. www.oralities.eu

PROJECTO 3 CULTURAS 2005-2006 co-financiado pelo POC: cooperação cultural entre os Municípios de Évora, Idanha-aNova e Mértola.

FESTIVAL DAS TRÊS CULTURAS 8 Festivais 55 Concertos 34 Grupos de Música 327 artistas participantes 6.375 espectadores (aprox.)

FESTIVAL EUROPEU MÚSICAS DO SUL 11 Festivais 126 Concertos 113 Grupos de Música 2.289 artistas participantes 39.780 espectadores (aprox.)

A TRADIÇÃO ORAL Cidades da Tradição Oral; Centro de Recursos da Tradição Oral e criação do website do Projecto

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A MÚSICA TRADICIONAL E POPULAR Circuitos e Festivais Circuitos de Música Popular e Tradicional 17 Circuitos 84 Concertos 72 Grupos de Música 1.189 artistas participantes 117.907 espectadores (aprox.)

A MÚSICA ANTIGA E DA RENASCENÇA Circuitos e Festivais Circuitos de Música Antiga, da Renascença e do Barroco 17 Circuitos 62 Concertos 46 Grupos de Música 357 artistas participantes 9.025 espectadores (aprox.)


O PROJETO OCARINA: A MÚSICA A ESBATER FRONTEIRAS POR ELZA NETO

(OFICINA DA COURELA)

OCARINA é um projecto cultural promovido pela Oficina da Courela, envolvendo cinco países europeus: Portugal, Reino Unido, Suécia, Roménia e Chipre. As actividades do projecto contemplaram um programa cultural em cada um dos países envolvidos. O projecto teve início em Portugal em Outubro de 2011. Durante 10 dias, 16 profissionais do sector cultural de cinco nacionalidades participaram em diferentes tipos de actividades. Uma residência artística, concertos, workshops de dança e de instrumentos de música tradicionais, um seminário e actividades culturais envolvendo os actores locais. Este projecto circulou depois durante 2012 pelo Chipre, Roménia, Reino Unido e Suécia. Actualmente, os agentes culturais envolvidos estão a trabalhar em conjunto para dar continuidade à circulação do projecto pela União Europeia. Os objectivos gerais do projecto são promover a mobilidade internacional de promotores culturais, a mobilidade internacional de artistas/produtos culturais e o diálogo inter-cultural. Especificamente pretende-se promover os instrumentos de música tradicional e as danças tradicionais, lançando novos desafios aos músicos e bailarinos, originando novas oportunidades e palcos para a criação, tendo em vista a realidade cultural actual. São parceiros da Oficina da Courela neste projecto as empresas 360 Graus, Cultura e Ambiente, Lda. (Portugal) e The Mosaic Art and Sound, Ltd. (Reino Unido), e as associações culturais Viksjöforsbaletten (Suécia), Art and Heritage Unesco Club (Roménia) e Politistiko Ergastiri Ayion Omoloyiton (Chipre). As informações relativas ao projecto podem ser pesquisadas através de website próprio: www.ocarinaproject.eu/home.html A Oficina da Courela é uma associação sem fins lucrativos sedeada na Azaruja (concelho de Évora), cujo objectivo é a divulgação e promoção do património cultural e ambiental do Alentejo.

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A IMPORTÂNCIA DA CULTURA TRADICIONAL NO PLANALTO MIRANDÊS O BURRO DE MIRANDA E A REVITALIZAÇÃO DA CULTURA TRADICIONAL DO PLANALTO MIRANDÊS

POR TERESA NÓVOA (AEPGA)

Quando a Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA) foi criada em 2001, o burro havia perdido a sua centralidade na vida dos mirandeses, levando a situações frequentes de negligência ou abandono; a outro nível, também a cultura tradicional do Planalto Mirandês havia sido marginalizada, – com a exceção de alguns elementos folclorizados durante o Estado Novo – na procura pelo urbano e moderno. De facto, tanto o burro como a cultura tradicional eram associados a um mundo rural de tempos idos, marcado pelo trabalho agrícola árduo, pela sobrepopulação do território e pela pobreza, bem como pelo subdesenvolvimento económico e cultural. Esta representação negativa da ruralidade levou à desvalorização simbólica – e também económica, em alguns casos – de tudo aquilo que lhe estava associado. Ao compreender que seria impossível lutar pela preservação do Burro de Miranda sem reverter essa perspectiva depreciativa do rural, a AEPGA adoptou uma abordagem que toma o burro como um todo, composto não só de dimensões biológicas que interessam conservar, mas também de uma imensa riqueza cultural, conferida em grande parte por práticas e saberes tradicionais. Partindo desse princípio, e de forma a complementar medidas de conservação mais concretas, foi feito um esforço de recuperação e reinvenção dos significados tradicionais do animal, bem como de criação de novos sentidos, nomeadamente através da atribuição de novos usos. A organização de eventos lúdicos talvez seja o exemplo mais imediato deste trabalho, uma vez que o contacto com os burros está, geralmente, associado à interacção com os habitantes das aldeias, o ensino de saberes tradicionais, pratos da gastronomia local e concertos de música mirandesa. O Festival Itinerante da Cultura Tradicional “L Burro i l Gueiteiro”, co-organizado pela Galandum Galundaina Associação Cultural, foi um dos primeiros eventos do tipo, e tinha precisamente como objectivo principal celebrar, e assim valorizar, dois elementos da cultura mirandesa que haviam perdido a importância de outros tempos: o burro e o gaiteiro. No entanto, longe de uma lógica folclorista, procurava demonstrar-se a diversidade e a capacidade de reinvenção da cultura tradicional, dando-se por isso especial enfoque a expressões inovadoras que questionassem tanto as representações negativas como os estereótipos românticos da ruralidade. Mais de uma década volvida, estes eventos multiplicaram-se, foram aprimorados e estenderam-se a outras associações e entidades da região, trazendo público de fora e, ainda mais importante, envolvendo cada vez mais pessoas locais. Graças a estas e outras iniciativas, muitos mirandeses reencontraram na sua cultura um elemento identitário que une todas as gerações.

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Assim, o Burro de Miranda, hoje como então, vai fazendo das suas longas e lanudas orelhas uma arma de intervenção pela cultura tradicional reinventada e pela revitalização do Planalto Mirandês.


A CULTURA E O DESENVOLVIMENTO LOCAL POR RICARDO SANTOS (LÉRIAS ASSOCIAÇÃO CULTURAL)

Escrevemos-vos desde o nordeste transmontano, mais concretamente desde o planalto mirandês. Esta é uma região onde a música sempre esteve intimamente ligada às práticas socioculturais locais, cumprindo ela mesma uma função social em diversas dimensões, desde o trabalho à religião ou aos momentos de lazer. Muito se poderia dizer sobre as alterações de perspectiva em relação à música tradicional. No entanto, iremos focar-nos no trabalho desenvolvido pela Lérias Associação Cultural e pela sua Escola de Música Tradicional que, desde 2008, tem promovido a música mirandesa. Estamos cientes de que, apesar das profundas alterações sociais, a música (ainda) cumpre um papel fundamental na preservação e projecção da identidade mirandesa. Neste sentido, tentamos dar continuidade a uma tradição ligada a práticas musicais concretas através da gaita de fole mirandesa, da caixa, do bombo, da fraita, do rabel, da sanfona, da dança, e claro, da voz. Conscientes de que as características dos tocadores se alteraram, bem como as suas experiências de vida, fomentamos o contacto entre os antigos tocadores e as novas gerações, com todas as suas novas referências que nunca são reprimidas. Além das aulas semanais regulares, a Lérias promove mensalmente as Sextas Culturais em distintas aldeias. Estes encontros contam com grupos musicais organizados e com os alunos de várias turmas e de vários instrumentos. É (também) nas Sextas Culturais que a aprendizagem do instrumento (e do seu contexto) se solidifica, não só no que diz respeito à execução solista e colectiva, bem como a toda a parte criativa e performativa. No complemento desta formação, promovemos ainda encontros informais entre alunos e tocadores tradicionais onde é possível aprender parte do que sempre escapa a uma formação académica “moderna”. Defendemos uma cultura conhecedora e respeitadora do passado de igual modo que incentivamos a criação de repertório novo e de novas versões de repertório tradicional. Entendemos a música e a cultura tradicionais como uma estrutura dinâmica que não fica refém do passado. Partimos do conhecimento deste para construir um futuro de continuidade consciente. Só assim conseguiremos ter (como cada vez mais temos), novos elementos vivos de cultura mirandesa, quer sejam tocadores ou bailadores. Acreditamos que, ao fomentarmos a música tradicional em Terras de Miranda, estamos a contribuir para que muitas das práticas tradicionais se mantenham vivas. Estamos a preservar e a defender referências estruturais de uma identidade e a contribuir para uma aproximação das gentes à sua terra e às suas raízes. A música e a cultura tradicionais não são feitas de espectadores, mas sim de agentes concretos de desenvolvimento local, gente que se dedica ao estudo, promoção e continuidade de um património colectivo, cultural e identitário.

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DA MÚSICA DE RAIZ TRADICIONAL AO BAILE: A PERSPETIVA DAS ARTES PERFORMATIVAS

POR SOPHIE COQUELIN (PÉDEXUMBO)

A originalidade da Associação PédeXumbo (PX) no panorama nacional provém da sua vontade de recuperar alguns aspetos dos bailes populares, principalmente a vivência social e coletiva que abrange a música e a dança, e introduzi-los numa abordagem artística. Com o objetivo de conhecer melhor as tradições musicais portuguesas e os seus instrumentos, a PX multiplica desde 1998 as suas linhas de trabalho de forma a reinscrevê-las no presente. De facto, aposta claramente nas dimensões dinâmicas e criativas da tradição, assumindo a construção e a reinvenção de um diálogo entre o passado e o presente. A questão da formação é aqui essencial. Neste sentido, a PX realiza diferentes projetos no intuito de facilitar a aprendizagem de instrumentos tradicionais, como a flauta de tamborileiro. A Bolsa de Instrumentos, programa de empréstimo gratuito de uma dezena de instrumentos, entra diretamente nesta linha. Mas o encontro de tocadores “Tocar de Ouvido” é o projeto mais significativo. Privilegia a transmissão não formal, propiciando o encontro e o contacto entre músicos, de forma a que partilhem repertórios, técnicas, histórias individuais e coletivas, e teçam sinergias. Estas trocas acontecem também no espaço das jams de improvisação ou nos projetos de difusão artística, como é o caso dos festivais. Da sensibilização à profissionalização, passando pela aprendizagem, a valorização da música de raiz tradicional pressupõe uma série de atores indispensáveis à sua continuação a longo prazo: os tocadores e os músicos – tanto amadores como profissionais – os grupos musicais, os construtores de instrumentos, as associações culturais, os professores/transmissores, os pesquisadores, e demais curiosos e apaixonados.

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Por outro lado, outros espaços permitem a promoção da música de raiz tradicional. Sob a forma de coproduções ou de residências, a PX estimula a criação artística e a releitura de repertórios à luz das interações entre o local e o global. O apoio à edição física (cd, dvd, livros) e digital (internet) é outro espaço, desta vez mediatizado. Abrange tanto as dimensões formativas e criativas, como a questão da pesquisa e da divulgação perene. Retomando a questão dos bailes... Na perspetiva da PX, os bailes não representem a simples junção de quem toca e dança; fazem antes parte de um entrosamento forte entre as componentes musicais e coreográficas que se traduz numa diversidade de interações e influências recíprocas. Os músicos produzem a cadência que dá o suporte rítmico e métrico para a realização de uma dança, podendo influir no decorrer da coreografia. Os contornos da melodia, os timbres dos instrumentos, estimulam a expressividade dos corpos e orientam o ambiente emocional do baile. Por sua vez, os bailadores influenciam o toque, apresentado um quadro em movimento a partir do qual se alimentam os músicos. E não podemos esquecer a vertente do despique, de confronto simbólico, onde cada um vai desafiar o outro. A música integra também a performance dos bailadores. Nos últimos anos, a PX investiu na recuperação dos bailes de roda em que os próprios bailadores participam com as suas vozes. A figura do bailador-mandador ilustra outra forma de diálogo entre a música e a dança, os mandos anunciados criam um “ostinato”, uma “lengalenga” que acompanha o discurso musical. O caminho que a PX procura impulsionar leva a interrogar o limiar onde já não é possível distinguir a dança da música, e a olhar os bailes na perspetiva das artes performativas.

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CONCERTOS & FESTIVAIS NESTE CANTINHO DA REVISTA, O PÚBLICO, PARTICIPANTES E INTERVENIENTES DE CONCERTOS E FESTIVAIS SÃO CONVIDADOS A PARTILHAR AS SUAS EXPERIÊNCIAS. OS CONTEÚDOS SÃO DA INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS SEUS AUTORES, QUE NA SUA DIVERSIDADE E ENTUSIASMO CONSTITUEM A PEDRA ÂNGULAR DO EDIFÍCIO QUE SE COMEÇA AGORA A VISLUMBRAR...

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CONCERTOS ORIGEM TRADICIONAL FESTIVAL ANDANÇAS 19 - 25 AGOSTO 2013

POR MARISA BARROSO PROFESSORA, ALCOBAÇA

www.facebook.com/Origemtradicional

Para mim este ano tive uma surpresa muito positiva, quando no festival Andanças encontrei no programa uma oficina com o nome “Chulas, Viras e Malhões”. Sempre gostei muito destas danças portuguesas, porque nelas sinto uma alegria especial e também porque é um mundo que desconheço e queria tanto conhecer melhor. Já ia com as espectativas muito altas, e assim que deitei o olho à dita oficina, a minha emoção transbordou. Eu não conhecia nada do que estava ali, quando comecei a sentir uma cantoria desconhecida, para mim pelo menos, mas que já cheirava tão bem! Fiquei embasbacada de tanta surpresa. Era um vira velho, mas a sonoridade era absolutamente afável e absorvente, não sabia o que fazer, olhar para o grupo ou dançar. Eu pensava “o que terei andado a fazer estes anos todos neste meio das danças sem descobrir este grupo?” Tenho uma sede insaciável das nossas cantigas e mais ainda desta nova roupagem modernizada do que é nosso. Ainda sem saber quem eram olhava para o palco e via tanta diversidade, tantos instrumentos, tanta sonoridade e presença de palco. Pensei cá com os meus botões “isto deve ser algo muito próximo de felicidade”. Pois bem, eram os “Origem Tradicional” num choradinho de um vira velho que conta história de um amor perdido e outras pitorescas situações que só a língua portuguesa popular humildemente transforma em grandeza e sapiência.

Agora já não o sou Eu já fui o teu amor Agora já não o sou.

Se ainda te bato os olhos Foi jeito que me ficou. Foi jeito que me ficou Ó ai ó lari lolela...

Já só me faltava isto para começar de novo a velha tradição. Estas músicas têm uma riqueza desmedida, a cada verso, um universo. Os nossos músicos têm de se deixar encantar e cantar ao mundo estes versos, e os Origem Tradicional fazemno mesmo ao meu gosto para meu gozo. Mesmo quando falhou a electricidade no palco, não faltou energia para continuar. Aquelas vozes ficaram bem gravadas na minha memória de momentos felizes. Gostava de ouvir mais estes grupos, estas histórias com música, estas danças puladas, cada uma com seu salto. Uma nota também muito alta para a oficina de “Chulas, Viras e Malhões”, onde o nosso amigo Luís Moura, por amor às origens, partilhou de forma muito popular a sua alegria por estas danças. Descomprometeu as danças de uma possível ideia de rigor que elas tenham e deu-lhes uma leveza, e assim todos por ali se sentiam verdadeiramente em casa, na nossa casa. A nossa música renovada como aquela que ouvi pelas mãos dos Origem Tradicional é o que faz falta; mas é necessária mais divulgação para aumentarmos a percepção de que somos feitos de uma dose muito grande de inventores, criadores e intérpretes de elevada qualidade. E tudo isto é absolutamente divertido e fácil de ser absorvido, e ainda de podermos evoluir. A tradição tem uma origem mas o destino dessa origem somos nós, temos de a receber com olhos de ver, ouvidos de ouvir e corpo de sentir. Só não havia um CD para eu comprar…foi pena, queria tanto. Ainda assim, guardo bem o que lá ganhei, e isso ninguém me tira. Obrigada Origem Tradicional.

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GALANDUM GALUNDAINA FESTIVAL BYONRITMOS 5 - 7 AGOSTO 2013 POR NEIDE RIBEIRO

PROFESSORA, COIMBRA

A primeira vez que fui ao Byonritmos foi em 2008. Gostei bastante, principalmente por ser um festival pequeno, com actividades variadas, um público diversificado e uma paisagem lindíssima. Desde então tenho ido sempre. Um dos concertos que assisti nesta última edição, Galandum Galundaina, foi sem dúvida um concerto que deu para levantar pó (neste caso pedras, tendo em conta o chão). A música tradicional de Trás-os-Montes tem esse efeito. Já com três discos editados e com 15 anos de existência, os Galandum têm desenvolvido um trabalho de recolha, investigação e divulgação da música, dança e língua das terras de Miranda de l Douro. Em palco, ouvimo-los sempre falar e cantar em Lhéngua Mirandesa e a música que sai dos seus instrumentos tem, para mim, uma força própria que só pode vir de dentro de quem a toca. De alguma forma, a música dos Galandum transparece a imponência da paisagem transmontana. Com o recinto cheio de bailadores de todas as idades, ninguém conseguiu ficar indiferente. Beilou-se livremente e aplaudiu-se com bastante emoção, quando o nome de Daniel Falcão, bombeiro e pauliteiro na altura internado, foi referido. Durante o concerto, o ambiente não podia ter sido melhor. Houve sorrisos, pulos, coreografias improvisadas e, acima de tudo, houve música tradicional portuguesa que cada vez mais gosta dela própria. Um concerto de Galandum é sempre um momento especial, daqueles que não queremos que acabe. Talvez seja por causa da humildade e da simpatia com que se apresentam sempre em palco! Um palco que já no final do concerto se encheu de músicos convidados e um cão!

www.galandum.co.pt/

CELINA DA PIEDADE BAILE FOLK

TEATRO SÃO LUIZ 28 NOVEMBRO 2013 POR ISABEL CRUZ DESIGNER, LISBOA

www.celinadapiedade.com/

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Com conhecimento podes ir longe mas só com cultura poderás voar Devem ser poucas as coisas tão vastas como o imaginário. Cultivado ou não, ele cresce. Negro ou colorido, ele preenche cada dia, ora escondendo, ora revelando cada experiência de outros dias. Qualquer estímulo serve para evocar o imaginário individual ou colectivo mas a música, a par com o odor, superam quase todos os restantes estímulos. A música de Celina da Piedade consegue evocar toda a vastidão deste universo único que nos determina. São cores; cheiros; pó do caminho; trajes e sabores. São amores; desamores; são vidas e mortes; o dá e o tira; os lugares. É o parar e o avançar. O escutar. É o rir, com todo o nosso imaginário a dançar, lado a lado com todo o património cultural captado em cada música. Nada posso dizer sobre a música, porque de música nada percebo excepto o efeito que tem em mim. Esta semana fui ouvir a Celina ao São Luiz em Lisboa. Dancei, sorri, os músicos convidados subiram ao palco e lá estava todo o universo cultural a evocar o meu imaginário. O encarnado, num passo de dança. O azul, num refrão. Pode gostar-se ou não, mas não se consegue ficar indiferente. Até os silêncios são valorizáveis, presentes. É certo que só os silêncios permitem o ritmo e a melodia, mas nem sempre eles exigem de nós a atenção e obediência que a música de Celina nos convida. Se no silêncio está o desafio que por vezes nos faz sorrir, é na música e nas danças que harmonizam almas que se desenrola a vida sem parar. Eu gosto.


UXU KALHUS CORTES DO MEIO AGOSTO 2013

POR RUI COSTA

CHEF DE COZINHA, SERRA DA ESTRELA

www.facebook.com/uxu.kalhus

DAZKARIEH FESTIVAL TERRAS D’AIRE E CANDEEIROS 12 OUTUBRO 2013 POR SÍLVIA DE SÁ

TÉCNICA DE ILUMINAÇÃO, OEIRAS

Por vezes encontram-se bandas de qualidade tal que conseguem passar as barreiras da interioridade e preencher o vazio musical que existe no interior do país. Assim foi com os UXU KALHUS no mês de agosto, primeiro em Unhais da Serra, dia 17, a minha primeira vez com esta banda ao vivo, e logo no fim de semana seguinte, a 24, uma barrigada ainda maior de UXU KALHUS em Cortes do Meio num concerto cheio de power. Tudo estava perfeito, em recinto fechado com equalização de 1ª que marcou diferença e surpreendeu o público – assim é quando se trabalha com elevado nível de profissionalismo. É electrizante esta banda, com o seu estilo singular, uma espécie de mistura de folk/rock e música do mundo fundida com música tradicional portuguesa tomando uma forma progressiva de encher o ouvido. Músicas bem executadas por excelentes músicos e cantadas pela incansável Joana Margaça. Todos brilham, é impressionante: um baterista brutal (Luís Salgado), um baixo e guitarrista exímios (Eddy Slap e Tó Zé), nos sopros o surpreendente mágico Paulo Pereira que saltou para o meio do público contagiando-o com coreografias de danças tradicionais. Finalmente nas teclas, apesar de lesionado num pé, o não menos brilhante André Lourenço. São individualmente tão cativantes e interessantes que, por vezes, se tem dificuldade em observar a banda como um todo, vamo-nos deixando absorver por um sem que nos apercebamos. Todos juntos, fidelíssimos à qualidade de execução das músicas gravadas em estúdio, UXU KALHUS parecem ter conquistado as gentes serranas actuando num curto espaço de tempo em Paúl, Unhais da Serra e Cortes do Meio. Quiçá no próximo verão regressem à região, no “Sons da Fraga Dura” em Casegas, outro festival onde se encaixariam na perfeição. Afinal, no interior há poucos espetáculos do género mas bom gosto parece abundar. Muito bom e até breve, espero!

Numa noite de céu limpo, onde podíamos observar as estrelas como dificilmente poderíamos na cidade, o frio que se fazia sentir lá fora era rapidamente anulado ao entrarmos em contacto com o ambiente da sala onde os Dazkarieh tocaram, capaz de aquecer a alma de qualquer pessoa que por ali passasse. Ao abrir o concerto com a música “Lilaré” percebeu-se desde logo que apesar da mudança súbita de sonoridade (de uns Mu sempre em festa para o power da distorção nos instrumentos dos Dazkarieh), o público estava lá para viver aquele momento em pleno e não esperava menos que uma noite longa de música para dançar, cantar e disfrutar de tudo o que o local onde nos encontrávamos tinha para oferecer. Foi um concerto com muita energia, com uma interacção muito especial entre o público e a banda, com direito a um hino aos Dazkarieh oferecido por um grupo de fãs que ficou junto ao palco após o final do concerto. Não se podia esperar nada melhor do que aconteceu naquele espaço. Sem dúvida alguma o Festival de Serra D’Aire e Candeeiros oferece uma oportunidade única aos artistas de partilharem a sua arte e ao mesmo tempo disfrutarem da natureza e de um convívio raro que lembra um jantar de amigos que termina numa grande festa onde todos são bem-vindos.

www.dazkarieh.com

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FESTIVAIS

FESTIVAL MÚSICAS DO MUNDO SINES 18-27 JULHO 2013 POR BÁRBARA TRABULO ARTISTA PLÁSTICA, PORTO

www.fmm.com.pt/

FESTIVAL L BURRO I L GUEITEIRO MIRANDA DO DOURO 24-28 JULHO 2013 POR MARTA MIRANDA

DESIGNER, TORRES VEDRAS

www.aepga.pt/eventos/festivalitinerante-da-cultura-tradicionall-burro-i-l-gueiteiro-1569124491/ informacoes-217211916

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Falar do Festival Músicas do Mundo – Sines, é falar de viagem. Este festival apresenta todos os anos um cartaz de excelência que, através das suas bandas, dos seus ritmos e dos seus instrumentos, transporta o público para outros espaços e tempos. Há lugar para tudo desde o mais tradicional até o contemporâneo, viaja-se entre as culturas e a inovação, entre o real e o espetáculo. É um mundo aberto a todos, acessível a todos. É de destacar que este festival tem dois palcos principais, o do castelo e o da praia, e que, apesar dos concertos do interior do castelo requererem bilhete, há a preocupação em transmiti-los do lado de fora das muralhas para que todos, mesmo aqueles que não possuem entrada, os possam ver. As ruas enchem-se de pessoas de todas as idades, há nestas ruas artesãos, feirantes, lojinhas com montras de poesia todas elas espalhadas até às muralhas. O comércio não tenta fazer o negócio que se conhece de outros festivais, explorando os visitantes. Não. Aqui recebemos sorrisos e cumprimentos das pessoas que estão por detrás do balcão que tão bem nos recebem. Durante as noites, com tanta afluência de pessoas, quase podemos comparar às noites de são João do Porto. Tanta gente como sardinhas enlatadas, mas tão bem dispostas que provocam uma felicidade conjunta. Não se saberá dizer se é do calor, se da praia, se do céu limpo e estrelado, se dos cheiros, se dos outros sorrisos de pessoas tão doces e bonitas ou se será só da música, dos ritmos de cada um e dos movimentos de cada qual.

Sem conseguir explicar ao certo a razão, e mesmo sem nunca ter pisado Trás-osMontes, desde garota que Miranda do Douro e o que a estas “tierras” se relaciona, me proporcionam um especial interesse e fascínio. Um outro “país” dentro deste que conhecia, onde uma outra língua impera, localizado “lá atrás dos montes”, pareciame tão distante e rico em paisagens e gentes, que me enchia de encanto e me alimentava a vontade de o visitar e conhecer pessoalmente. No Festival L Burro i L Gueiteiro conheci os fundamentos deste meu interesse! Trata-se de um Festival Itinerante da Cultura Tradicional co-organizado pelas associações AEPGA e Galandum Galundaina, evento dirigido dos 8 aos 80, que tem especial objetivo dar a conhecer o que de melhor tem o Planalto Mirandês, longe de estar culturalmente parado no tempo, proporcionando a reflexão sobre o desenvolvimento e potencialidades desta região. Em ambiente familiar e com consciência ambiental, de aldeia em aldeia fazem-se caminhadas com o burro mirandês, ao som (sobretudo) da gaita-de-fole, ao encontro de uma população local que tão calorosamente acolhe todos os participantes e que com eles também participa na festa. O convívio e a partilha de costumes é constante. A oferta do programa estende-se a oficinas variadas, atividades rurais de caráter tradicional, sestas burriqueiras, teatro, refeições confecionadas com produtos locais, concertos de música tradicional, …. Os palcos fundem-se com o restante recinto, a festa vive-se a cada minuto destes 4 dias de julho de tão rica aprendizagem e experiência! Venha daí a XII Edição!


FESTIVAL ANDANÇAS CASTELO DE VIDE 19-25 AGOSTO 2013 POR PAULO OLIVEIRA

DESIGNER DE COMUNICAÇÃO/DIRECTOR CRIATIVO, LISBOA

Andanças... do pó e das silvas. O Andanças não cabe em linhas, nem tão pouco em páginas. Não há sítio onde possamos encaixar todas as críticas, todos os elogios. E nenhuma conversa é capaz de encerrar toda a música, toda a dança, e ter ainda espaço, e ter ainda tempo para nela serem contados todos os sorrisos e abraços. As mãos que se tocam de dia e de noite nos palcos, as mesmas que ajudaram a construí-los, são desconhecidas de quase todos, mas familiares aos olhos de quem abre o coração a um festival diferente. A edição de 2013 foi memorável, mesmo para os que afirmam que este Andanças é para esquecer, que foi calor a mais, casas de banho a menos, que “lá em cima é que era” e que nada será como antes. Como em tudo na vida, há um dia em que a mudança tem lugar e com ela tem lugar o risco, de errar em tudo, de acertar à primeira, de agradar mais a uns do que a outros. A lista do que podia correr mal começou a ser escrita a suor e lágrimas ainda o festival não tinha começado. E ninguém melhor do que os que lá trabalharam conhecerá o sabor da angústia e da desilusão, de ficar aquém, de saber fazer melhor e lhes ter faltado o tempo, a força, a organização e até os pregos! Mas garanto-vos, testemunho na primeira pessoa, que o Andanças é capaz de mudar vidas, opiniões e muito mais; que a vontade de fazer melhor e a força de quem levanta do pó e das silvas um festival assim será sempre maior, do tamanho de uma herança tão valiosa quanto pesada. Serei sempre dos que apontam o dedo... mas farei questão que seja para indicar um caminho. E seguirei lado a lado com os que acreditam que o Andanças somos nós. No dia que assim deixar de ser, o Andanças deixará de o ser.

www.andancas.net/2013/pt/

FESTIVAL BERGUEDÀ FOLK PUIG, REIG 13-15 SETEMBRO 2013 POR NICOLE BARTOLOMEU ORTOPROTESISTA,MAFRA

www.facebook.com/berguedafolk

Puig-Reig, uma pequena vila situada na Catalunha, a 15 minutos de Berga, recebeu de forma muito acolhedora, pela 5a vez, o Festival Berguedà Folk. O festival realizouse no fim-de-semana de 13, 14 e 15 de Setembro de 2013, e teve o prazer de dançar ao sabor de músicos maravilhosos como Naragonia, Hot Griselda, Accordzéâm, Ciac Boum, Amants de Lulú e Duo Coudroy Tanghe. O festival estava muito bem organizado, efectivamente acolhedor, alegre, bemdisposto, e cheio de sorrisos e abraços apertados. O ar cheirava a harmonia, emanava aquela boa energia e dava constantemente aquele impulso de saltar e dançar no trajecto entre albergue e o recinto do baile, do recinto do baile ao barzinho, do barzinho à pequena igreja,... e por aí de lugar em lugar! O local que deu lugar ao festival abraçava-o de forma medieval e mística, com a presença da antiga Igreja que ilustrava o evento como se e dum conto de fadas se tratasse, dando-lhe um toque mágico muito peculiar. O facto de ser um espaço relativamente pequeno, tornava o festival muito familiar e acolhedor, e ao mesmo tempo não estava excessivamente cheio, o que o deixava no ponto rebuçado. A música acompanhava-nos por todo o lado e podíamos sempre aprender mais um passito novo de dança nos workshops que se realizavam pela tarde. A noite reservava sempre muito boa disposição, brincadeira, muitos sorrisos e alegria estampada nas caras de muitos, e um baile com excelentes músicos até o sol nascer do dia seguinte. O facto do festival se realizar numa vila da Catalunha, permitiu provar comida da zona, como o óptimo e típico pãozinho com tomate (pan tomaca), a clássica e saborosa botifarra e como não podia deixar de ser, a deliciosa e muito bem servida Paella! Vegetariana ou normal para satisfazer todos os gostos. Que continue assim que nós gostamos!

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EM AUDIÇÃO ........................ CD’S 2013 - POR VASCO RIBEIRO CASAIS (MÚSICO)

CHARANGA BORDA TU

Os Charanga são os Ena Pá 2000 do movimento de identidade. O seu humor é inteligente e contagioso, começando logo pelos nomes dos protagonistas desta viagem: Francisco Gedeão, Quim Ezequiel e Alberto Baltazar. Com uma eletrónica refinada e com amostras musicais de José Mário Branco e recolhas de Ernesto Veiga de Oliveira, entre outras, os Charanga constroem um disco divertido mas profundo, que faz bem a ponte entre os mundos urbano e rural. Vozes, gaitas, percussões, teclados e eletrónica, e com alguns convidados a ajudar à festa, “Borda Tu” é um disco divertido, e vem acrescentar uma visão cheia de humor mostrando que rir de nós próprios também é estar bem com quem somos. É de referir que este disco foi pago através de uma plataforma de financiamento o que prova, mais uma vez, que toda a indústria da música já mudou, e que o público se encontra mais próximo dos artistas, sem intermediários que castrem a criatividade destes últimos. www.facebook.com/charangaportugal

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TIAGO PEREIRA

MOSCA TOSCA

É inquestionável o papel que o Tiago Pereira tem representado na divulgação das músicas tradicionais e de identidade. Todo o seu trabalho respira portugalidade e, de uma maneira descomplexada e sem pudores, apresenta tudo o que a nossa tradição viva tem para oferecer no continente e nas ilhas. O seu arquivo vivo “A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria” (MPAGDP) é uma montra de Portugal que vai desde a velhinha gravada no local mais remoto do nosso país até aos Ornatos Violeta em acústico na plateia do Coliseu de Lisboa. “Dêem-me duas velhinhas, eu dou-vos o universo”, para além do seu título genial, teve o papel de levar um conjunto de recolhas gravadas nos últimos anos a um público main stream. Lançado pela editora das bandas da moda (Optimus discos), foi referenciado nas principais publicações de música nacionais, algo que tem sido praticamente inacessível à maior parte das bandas deste movimento de identidade. Musicalmente a escolha das recolhas apresentadas neste disco podia ter sido mais feliz tendo em conta a qualidade musical dos arquivos do Tiago, mas mesmo assim não deixa de ser um ótimo exemplo da nossa tradição. www.facebook.com/ amusicaportuguesaagostardelapropria

Assimetria, o segundo trabalho dos Mosca Tosca, mostra-nos uma banda mais focada que prova que é possível fazer um bom disco e um bom baile sem tocar os mesmos temas de sempre neste meio das danças tradicionais. As composições de Vítor Cordeiro e de Mário Dias transportam-nos para vários ambientes da tradição europeia sem esquecer Portugal, e os arranjos dos temas tradicionais “Toma Lá Dá Cá” e “Balso Rastreiro” reforçamno mostrando, cada vez mais, uma preocupação crescente dos grupos em abordar a nossa tradição. Musicalmente, o que mais destaco neste disco são os arranjos de guitarra feitos com muito bom gosto, que muito foram beber ao rock. Destaca-se também o facto de o disco ter sido gravado e editado pelos próprios (com Mário Dias ao leme) o que prova que hoje em dia é possível fazer bons trabalhos com poucos recursos. Ainda com uma grande margem de progressão e com uma janela aberta para mostrarem a sua música fora do nicho em que se movem, os Mosca Tosca podiam aspirar a ser mais, pois é com pena que escrevo que a banda decidiu terminar as suas atividades no mesmo ano em que editam Assimetria. Esperemos que decidam voltar em breve! www.facebook.com/moscatosca

DÊEM-ME DUAS VELHINHAS, EU DOU-VOS O UNIVERSO

ASSIMETRIA


....................................................................................................................... OUTROS CD’S

MONTE LUNAI

AT-TAMBUR

OIO

2009

2003

2012

IN TEMPORAL

AT-TAMBUR

OIO

POR ISABEL SANTANA

POR DAVID RODRIGUES

(PSICÓLOGO/MÚSICO, LISBOA)

POR SARA ABREU

(ADMINISTRADORA, SINTRA) Considero o CD dos Monte Lunai – In Temporal – absolutamente fabuloso. A qualidade de sons, embora desconheça alguns dos instrumentos tocados, soa maravilhosamente bem e elevam-nos a mente. Há uma sensação de envolvência sonora, de leveza e plenitude. O CD apresenta músicas tradicionais de vários países que foram transformadas de forma brilhante. É aí que encontro a beleza deste CD. É pena que não se dê mais importância a estes trabalhos nacionais e que, por isso, as pessoas não os conheçam. Temos que fomentar muito mais a divulgação nas rádios e televisões de grupos portugueses tão fantásticos como os Monte Lunai. Há que difundir este universo musical. Este é um CD que dá vontade de ouvir ininterruptamente. Dentro deste tipo de música, considero dos melhores que já ouvi. www.montelunai.com

Há 10 anos atrás os At-Tambur estrearam o seu álbum homónimo, primeiro e único, numa mistura complexa de músicos e instrumentos. Margarida Sima (Voz), Tiago Costa-Freira (Flautas e Didjeridoo), Gonçalo Carneiro (Bateria), João Simas (Guitarra), José Miguel (Sanfona e Concertina), Luís Sousa (Contrabaixo), Francisca Sampaio Fins (Violino) são os músicos dos AtTambur, que contaram com convidados neste álbum, entre os quais Celina da Piedade. Ao ligar o disco, ouvimos um surpreendente repertório misturado de influências tradicionais portuguesas com os sons e ritmos da Europa. Entre temas cantados, outros adaptados e ainda outros originais, podemos não só apreciar este disco em casa, viajando para fora do sofá, mas também festejálo com um pé-de-dança. São xotiças, valsas de 3 e 5 tempos, mazurcas, jig’s, bourrés e ainda o tsadik katamar, entre outras melodias para desvendar, após uma década da sua estreia. www.attambur.com

As bochechas quentes do sol forte lá fora. Uma conversa fluída, alguns miúdos a jogar à bola. Um jardim. As primeiras flores. O álbum de estreia dos OiO, dupla portuguesa com raízes assentes na criatividade, remete-me para os primeiros dias de primavera, quando o calor começa a chegar e com ele... a vontade de sair para a rua e dançar. Um par de pernas a marcar o ritmo da tradição assim que a música começa, para limpar os ouvidos das sonoridades de sempre, sem deixá-las para trás, abrindo-nos o coração para um equilíbrio perfeito entre a tradição e a contemporaneidade. Música para todos os gostos: tradicionais, ritmadas, enérgicas, contemplativas, fofinhas, novas, balanceadas, originais: o álbum com que começo o dia e onde regresso a meio da tarde, seja para me dar energia, para me inspirar ou para descontrair um pouco. www.facebook.com/oio.duo

(PROFESSORA, LISBOA)

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INVESTIGAÇÃO

OS 2048 MODOS POR PAULO PEREIRA INTRODUÇÃO Quando nos deparamos com a música de raiz de qualquer país, a característica essencial que a separa da música moderna é a sua riqueza modal. Na maioria das vezes, a música moderna utiliza apenas dois modos, ao passo que na música identitária de cada país e cada região são sempre utilizados mais de 5 ou 6 modos, e estes diferem de região para região, desde as pentatónicas chinesas, às hexatónicas vietnamitas, passando pelas ragas indianas (mais de 50 modos), terminando nas heptatónicas da Europa oriental (com intervalos de tom e meio) e ocidental (com intervalos que raramente ultrapassam um tom); os nossos modos vêm indiretamente dos modos gregos, via teóricos medievais que os interpretaram mal: a lógica musical grega era descendente, em sintonia com a “música” da língua falada, enquanto que os gregorianos aplicaram uma lógica ascendente, dirigida a Deus. Os sete modos gregos viram-se assim transformados em 4 modos (mas isso é outra história). Regra geral, um modo é definido pelo número de intervalos que está contido numa oitava e pela organização e dimensão desses intervalos. Assim, temos modos de 5, 6 ou 7 intervalos, e a cada grupo modal assim definido correspondem modos singulares, cada um com uma combinação única de intervalos. Na totalidade, se descartarmos intervalos inferiores a meio tom nesta sistematização modal, e considerarmos os modos de 1 a 12 intervalos, podemos contar 2048 modos. Os modos são meios privilegiados de canalizar emoções, e usarmos apenas meia dúzia de modos é tentar pintar uma obra de arte a preto e branco. E estamos a perder exatamente cerca de 211 cores emocionais. Se considerarmos que no conjunto da Europa (ocidental e de leste) usamos aproximadamente uns 50 modos diferentes, então quer dizer que ainda nos resta explorar cerca de 98% dos modos existentes. Mas como lá chegamos?

TEORIA DOS MODOS PARTE I

TETRACÓRDIOS E ESCRITA MUSICAL NUMÉRICA Para chegarmos lá, temos de voltar aos gregos. Foi no berço da democracia que pela primeira vez se sistematizaram modos. Para os gregos, os modos (neste caso apenas do grupo de 7 intervalos) eram divididos em tetracórdios, cada um com 4 notas e 3 intervalos. Os modos perfeitos eram aqueles em que os dois tetracórdios eram exatamente iguais, intervalados por um tom. Consideramos assim que dos 7 modos gregos, 3 eram perfeitos, como exemplifica a figura seguinte.

Modo de dó, um dos modos perfeitos gregos, já que os dois tetracórdios têm a mesma estrutura: 221.

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Para nos ajudar, utilizaremos a tradução matemática dos modos, onde o intervalo de meiotom = 1, um tom = 2, tom-e-meio = 3, e assim sucessivamente. Cada unidade corresponde a um meio-tom, e nesta sistematização, esse é o intervalo mínimo que iremos considerar. Nesta notação, separando os tetracórdios com hífens, teremos 221-2-221, ou seja, o 1 (a que corresponde o meio tom) está sempre na terceira posição de cada um dos dois tetracórdios. A soma de todos os intervalos de um modo é sempre 12, tendo como casos extremos o modo de um intervalo (oitava) que é 12 e a escala cromática de doze intervalos (1+1+1+1+1+1+1+1+1+1+1+1). A divisão em tetracórdios é muito útil para a sistematização e classificação dos modos, já que corresponde ao segundo intervalo harmónico natural, a quinta; o primeiro intervalo harmónico, a oitava limita a extensão natural de cada modo. A utilização destes tetracórdios é também comum em instrumentos harmónicos como a fraita, com a obrigatoriedade de ter modos perfeitos nas três configurações possíveis, em modo de dó, ré ou mi, já que o harmónico está sempre a uma 5ª perfeita da nota base, o que obriga o segundo tetracórdio a ser igual ao primeiro. A fraita é um instrumento de modos perfeitos, como se pode observar na figura seguinte.

Estes modos perfeitos fazem parte de um grupo mais vasto de modos simétricos no qual se incluem a maioria dos modos utilizados na Europa, e provavelmente no resto do mundo. A notação 5-2-5 assinala esse grupo de modos que corresponde aos modos com tetracórdios separados por um tom (2) e com uma extensão de uma 4ª perfeita (5); este grupo, como tem os modos mais utilizados em todo o mundo, pintamos de verde para assinalar a sua audibilidade consensual.

AS ESCALAS OU RODAS MODAIS Se considerarmos agora a armação de clave, podemos observar que para a escala diatónica com a armação sem alterações (notas brancas do piano) podemos obter 7 modos diferentes, um a começar em cada nota (bordão). A representação desta escala como uma roda modal (a amarelo meios tons e a azul tons inteiros) facilita a sua compreensão, bastando começar em cada uma das notas da roda para obter cada um dos modos.

ESCALA DIATÓNICA

BORDÃO

MODO

GRUPO

NOME

C - DÓ

221-2-221 212-2-212

5-2-5 5-2-5

Dórico Frígio

D - RÉ

Jónico

E - MI

122-2-122

5-2-5

F - FÁ

222-1-221

6-1-5

Lídio

G - SOL

221-2-212

A - LÁ

212-2-122

5-2-5 5-2-5

Mixolídio

B - SI

122-1-222

5-1-6

Lócrio

Eólico

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Pode-se ainda constatar que os modos com bordão em C, D e E são todos simétricos e perfeitos. De forma análoga obtemos mais duas escalas únicas de 7 intervalos de meiotom (1) e tom (2). A primeira, com a armação de clave de Eb e a segunda com C# e Eb. Com esta configuração (modos de 7 intervalos, intervalos utilizados 1 e 2), esgotámos todas as possibilidades, obtendo 3 escalas e 21 modos. ESCALA C/ ARMAÇÃO DE CLAVE DE EB

ESCALA C/ ARMAÇÃO DE CLAVE DE EB E C#

BORDÃO

MODO

GRUPO

NOME

C - DÓ

6-1-5 5-2-5

Lítico

D - RÉ

222-1-212 221-2-122

Estídico

Eb - Mib

212-1-222

5-1-6

Lórico

F - FÁ

121-2-222

4-2-6

Iónódico

G - SOL

212-2-221

A - LÁ

122-2-212

5-2-5 5-2-5

Mixolítio

B - SI

222-2-121

6-2-4

Lárico

BORDÃO

MODO

GRUPO

NOME

C# - DÓ#

112-2-222 122-2-221

4-2-6 5-2-5

Tídio

D - RÉ

Bócrio

Pítio

Eb - Mib

222-2-211

6-2-4

Eólino

F - FÁ

222-2-112

6-2-4

Eróptio

G - SOL

222-1-122

Fírio Gótio Estóriano

A - LÁ

221-1-222

6-1-5 5-1-6

B - SI

211-2-222

4-2-6

De acordo com William Zeitler (músico e compositor), é possível ainda para cada escala medirmos o seu grau de perfeição. A 5ª perfeita, 2º harmónico natural, é o intervalo mais comum na história da música a seguir à oitava. Assim, se contarmos o número de quintas que é possível formar utilizando apenas as notas da escala, poderemos ter uma medida geral de perfeição, ou melhor, de imperfeição da escala. Assim, a escala diatónica tem apenas uma imperfeição (Si), enquanto que a escala de Eb tem três e a de Eb e C# tem cinco. Os nomes dos modos estão de acordo com a sistematização feita por William Zeitler na sua página (http://www.allthescales.org).

CÁLCULO DO NÚMERO DE COMBINAÇÕES POSSÍVEIS Outra de forma de chegarmos a este número de modos, é através do cálculo de todas as combinações possíveis de intervalos, seguindo determinadas premissas definidas pelas 3 rodas modais analisadas. Apenas com tetracórdios de valor 4, 5 e 6 (soma de todos os intervalos dentro do tetracórdio) e com intervalos possíveis de 1 e 2 podemos calcular o número total de modos a obter. Para um tetracórdio com valor 4 (cuja extensão é uma 3ª maior), temos 3 combinações possíveis de intervalos – 112, 121 e 211; para obtermos tetracórdios de valor 5 (4ª perfeita) voltamos a ter 3 combinações possíveis, a saber: 221, 212 e 122; finalmente, para um tetracórdio de valor 6 (5ª diminuta) existe apenas uma combinação possível de intervalos, 222. Com as possibilidades combinatórias de cada tetracórdio considerado (para tetracórdios de 5 e de 4=3 combinações possíveis; para 6 = 1), podemos agora calcular o número de modos para cada um dos três grupos de modos (verde, amarelo e laranja). Grupo verde: 5-2-5 (combinação de dois tetracórdios de 5) = 3 x 3 combinações possíveis = 9 modos Grupo amarelo: 6-1-5 (combinação de um tetracórdio de 6 e de um de 5) + 5-1-6 (combinação de um tetracórdio de 5 e de um de 6) = 1x3 + 3x1 = 6 modos Grupo laranja: 6-2-4 (combinação de um tetracórdio de 6 e de um de 4) + 4-2-6 (combinação de um tetracórdio de 4 e de um de 6) = 1x3 + 3x1 = 6 modos

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Obtemos desta forma 21 modos, que correspondem exatamente às 3 escalas (cada escala tem 7 modos) de que falámos anteriormente. Se alargarmos os critérios de definição dos modos integrando a possibilidade de ter intervalos de 3ª menor (intervalo de valor 3), então o número de combinações possíveis passa de 21 para 266. Estes 266 modos, que incluem muitos dos modos orientais, distribuem-se por 38 escalas ou rodas modais com armações de clave únicas, contando com as 3 escalas que já analisámos, 15 escalas com um intervalo de 3 e 20 escalas com dois intervalos de 3. Neste caso, o número de combinações em cada tetracórdio aumenta (para um tetracórdio de 6, temos 7 combinações: 222 | 321 | 312 | 231 | 132 | 213 |123) e aos grupos verdes, amarelos e laranja juntam-se muitos outros. No esquema em baixo, o número de modos de cada grupo resultante da combinação de tetracórdios está entre parênteses retos. Cada linha corresponde aos modos cujo intervalo entre tetracórdios tem o mesmo valor (1, 2 ou 3). 1 entre tetracórdios: 8-1-3 [3]| 3-1-8 [3]| 7-1-4 [18] 4 -1-7 [18] 6-1-5 [42] 5-1-6 [42] = 126 2 entre tetracórdios: 7-2-3 [6] 3-2-7 [6] 6-2-4 [21] 4-2-6 [21] 5-2-5 [36] = 90 3 entre tetracórdios: 6-3-3 [7] 3-3-6 [7] 5-3-4 [18] 4-3-5 [18] = 50

Mais uma vez, as cores representam uma forma de arrumarmos os modos de acordo com a sua simetria, dos verdes e amarelos mais orelhudos para os azeitona, bordeaux e azul claro, com modos bastante menos audíveis.

mais orelhudo 6-1-5 6-2-4 5-3-4 7-1-4 7-2-3 6-3-3 8-1-3 5-2-5 5-1-6 4-2-6 4-3-5 4-1-7 3-2-7 3-3-6 3-1-8

Estas novas escalas podem também ser arrumadas, e entre as 15 escalas com um intervalo de 3, merecem destaque 6 que podem ser obtidas fazendo uma única alteração na escala diatónica. Na tabela, a escala diatónica está na primeira linha; seguidamente, estão a 6 escalas orientais (Or de oriental e o nome diferencial é a armação de clave mais simples para esta escala, pelo que OrG# é a escala oriental com armação de clave de G#, onde o 6º modo corresponde ao conhecido modo menor harmónico); à direita estão as armações de clave (AC) e as harmonias possíveis (I-VII), correspondendo os números aos intervalos do acorde, com 43 a ser o maior e 34 o menor: Diat OrG# OrAb OrDb OrD# OrGb OrA#

1º MODO

2º MODO

4º MODO

5º MODO

6º MODO

7º MODO

AC

221-2-221 221-3-121 221-2-131 131-2-221 311-2-221 221-1-321 221-2-311

212-2-212 122-2-122 222-1-221 213-1-212 131-2-122 312-1-221 212-1-312 121-3-122 213-1-221 312-2-211 122-2-113 222-1-131 112-2-213 122-2-131 222-1-311 211-3-212 113-2-122 132-1-221 212-3-112 123-1-122 231-1-221

3º MODO

221-2-212 121-2-213 131-2-212 221-1-312 221-3-112 321-2-211 311-2-212

212-2-122 212-2-131 312-2-121 211-3-122 213-1-122 212-2-113 112-2-123

122-1-222 122-1-312 122-1-213 113-1-222 131-1-222 122-1-132 122-1-231

43 G# 44 Ab 43 Db 43 D# 43 Gb 42 A# 43

I

II

III

IV

V

34 34 33 44 24 34 35

34 43 34 34 34 25 34

43 43 34 43 43 43 52

43 33 43 33 44 44 43

VI VII

34 34 44 34 34 34 24

33 33 33 24 42 33 33

Como podemos observar, a modificação de uma única nota na escala diatónica (excluindo as notas vizinhas dos meios tons) leva-nos para um novo universo modal oriental; baixar (aplicar um bemol) ou altear (aplicar um sustenido) o sol, o lá e o ré são a chave desses universos. Se voltarmos a alargar os critérios para todos os intervalos possíveis, o número total de modos de 7 intervalos passa agora a ser 462, distribuídos por 66 escalas únicas (462 = 66 x 7) a que correspondem 66 armações de clave não transponíveis entre elas.

ANOMALIAS DE MESSIEN E A PERFEIÇÃO ABSOLUTA DA SIMETRIA DE TODOS OS MODOS Podemos agora fazer o mesmo exercício para todos os modos, de 1 a 12 intervalos, esgotando as possibilidades de combinações matemáticas. Contudo, quando fazemos este cálculo para os modos de seis intervalos, o número total de modos não corresponde ao número de rodas, já que temos 80 rodas para 462 modos de 6 intervalos possíveis (80 x 6 = 480 modos, se cada roda produzisse 6 modos únicos). O que aconteceu aos 18 modos em falta? Este fenómeno acontece porque há escalas de 6 intervalos que não têm 6 modos. O caso mais flagrante é a escala de tons inteiros, que podemos escrever como 222-222. Esta escala, independentemente do bordão, resulta sempre no mesmo modo, pelo que 5 modos são redundantes. Messien tinha identificado estas escalas e algumas delas são efetivamente os modos de transposição limitada de Messien. Há ao todo 5 escalas

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anómalas (por não terem o mesmo número de modos que de bordões) nos modos de 6 intervalos, a que correspondem 12 modos diferentes. Se não fossem anómalas, estas 5 escalas resultariam em 30 modos. Os 18 modos correspondem justamente a esta diferença (30 normais - 12 anómalos = 18). Assim, juntando as escalas anómalas às ditas normais, temos ao todo 462 modos (os mesmos que os obtidos para os modos de 7 intervalos), distribuídos por 80 rodas, 75 normais e 5 anómalas.

Podemos agora calcular o número de modos para todos os intervalos, tendo como resultado 2048 modos. As escalas que integram estes modos são 351, ou seja, há 351 armações de clave únicas e intransponíveis que abarcam toda a música que é possível fazer (com intervalos superiores a meio-tom). Por agora ficam aqui 9 armações de clave para explorar (escalas ocidentais diatónica, de Eb e de EbC#, e as 6 escalas orientais derivadas da diatónica por uma única alteração; estas escalas correspondem a 63 modos), e em próximos números da revista iremos falar de pentatónicas e hexatónicas, análise e técnicas de composição modal, modos de outros continentes e muito mais.

É de notar ainda a simetria absoluta destes gráficos, o que quer dizer que os modos de 6 e 7 intervalos são em número igual (462) e que os modos de 4 e 9 intervalos têm exatamente 165 combinações modais; as escalas heptatónicas e pentatónicas, para além de serem 66, não têm nenhuma anómala, e as escalas hexatónicas são as mais numerosas com 80 armações de clave possíveis. Esta perfeição matemática da música é inesperada e surpreendente, levando-nos a encarar a exploração de todo este novo universo como uma viagem à perfeição última de todas as coisas. Mais, leva-nos a pensar que desprezar um só modo ou uma só escala destrói irremediavelmente esta perfeição, ou por outras palavras, estamos ainda a 98% de atingir a perfeição modal… Voltando com os pés à terra, onde a imperfeição reina e a sobrevivência dita as suas exigências mais triviais, esta teoria é essencialmente uma ferramenta empírica e de experimentação ao serviço da música, permitindo alargar horizontes e ter material de composição praticamente inesgotável. A fácil aplicação prática desta teoria é a sua grande virtuosidade, e já permitiu a muitos músicos quebrar as grilhetas do tonalismo e alargar as barreiras do nosso limitado modalismo abraçando, de alguma forma, a dimensão universal da música. Atreve-te tu também!

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CANCIONEIRO ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^

PROJETO BALHO

*ALECRIM * * RIO MIRA VAI CHEIO *

DAZKARIEH

* NA BOCA DO LOBO *

OMIRI

* REPASSEADO *

NO MAZURKA BAND

O Projeto Balho nasceu em 2013 por iniciativa da criadora Madalena Victorino, integrado num microfestival que complementava o colóquio “Ignorância e Esquecimento”, em Odemira. O desafio colocado foi fazer um baile baseado no património cultural de Odemira e integrando os músicos lá residentes. Com essa finalidade, nove músicas foram trabalhadas, das quais duas foram agora selecionadas para fazer uma partitura simples com voz, contra-voz, letra e cifra proposta. Os temas escolhidos foram o “Alecrim” e “Rio Mira vai Cheio” e os arranjos são de Paulo Pereira.

Na Boca do Lobo - Composição de Vasco Ribeiro Casais para os Dazkarieh gravada no disco “Incógnita Alquimia” de 2006. Durante alguns anos este tema era um climax no concerto dos Dazkarieh, e foi uma das primeiras composições do Vasco para Gaita Transmontana.

Repassedado - Composição de Vasco Ribeiro Casais para Omiri. Esta composição mostra bem como os temas passam a domínio público, uma vez que ganhou vida própria e transcendeu todos os limites que uma música consegue, sendo tocado dentro e fora de Portugal por um sem número de músicos, pensando-se já que o tema é tradicional. Elvira é um vira composto por NMB presente no primeiro CD da banda, “A-do-Baile” (2010). A composição é de 2009 e foi inspirada num vira existente, ganhando a riqueza modal que o carateriza. A dança é um vira de cruz, com a primeira parte rodada, a segunda cruzada e a terceira valseada.

* ELVIRA *

TOQUES DO CARAMULO

A música Real Caninha faz parte do álbum Toques do Caramulo “É ao Vivo!” (2007) - Concerto que funde a sonoridade rude da tradição com as cores das novas músicas, num excelente cartão de visita do Folk Serrano. É uma dança de filas muito antiga, muito viva e de agradável desenho do norte de Águeda.

* REAL CANINHA *

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* ALECRIM * ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ TRADICIONAL *** PAULO PEREIRA

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REVISTA IDENTIDADES #1


* RIO MIRA VAI CHEIO * ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ TRADICIONAL *** PAULO PEREIRA

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REVISTA IDENTIDADES #1

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* NA BOCA DO LOBO * ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ VASCO RIBEIRO CASAIS *** DAZKARIEH

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REVISTA IDENTIDADES #1


* REPASSEADO * ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ VASCO RIBEIRO CASAIS *** OMIRI

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REVISTA IDENTIDADES #1

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* ELVIRA * VIRA DE CRUZ ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ * NO MAZURKA BAND *

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REVISTA IDENTIDADES #1


* REAL CANINHA * ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ TRADICIONAL *** LUIS FERNANDES DORFEU

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REVISTA IDENTIDADES #1

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AS NOSSAS MAZURCAS

POR TIAGO PEREIRA

Sobre o fenómeno massivo das mazurcas nos actuais eventos de danças tradicionais, apetece-me dizer duas coisas: uma, a mais lógica, é que se não conhecermos de onde vimos, não sabemos quem somos; a outra, é que a ignorância é perigosa, porque nos faz esquecer de que tudo é mais interessante com variedade e diversidade. Assim como o fado concentra muita da atenção que se poderia distribuir por outras canções nacionais, como o cante alentejano, a polifonia minhota ou mesmo o cante ao guincho, também esta loucura das mazurcas absorve muito do conhecimento que se poderia ter com outras danças; este conhecimento poderia permitir a prática das mesmas fora da musealização do folclore, descobrindo assim mazurcas portuguesas (moda de dois passos), passos doble, saias, muitas danças de roda esquecidas, corridinhos, a gota de Carreço e por aí adiante! Que fique aqui escrito que é saudável que se dancem mazurcas, assim como viras, repasseados, e que se conheçam o baile da meia volta, as chamarritas e as valsas mandadas. O importante é que um evento de baile tradicional tenha o maior número de danças possíveis e que os contextos sócio-culturais e históricos se tenham em consideração, quer pelos monitores de dança que as ensinam como pelos músicos que as tocam. O importante é conhecer para que se possa escolher mais e se tenha mais pontos de fuga. Não somos contra as mazurcas, não queremos é que elas nos tiranizem e se tornem no fenómeno do Miguel Ângelo em Itália, onde todos os guias dizem que tudo foi feito por ele.

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A adesão ao novo acordo autográfico ficou ao critério de cada autor


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