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TERÇA-FEIRA, 26 de março de 2013
Diário do Minho
É hoje que a Sé Primacial de Braga acolhe, a partir das 21h30, um concerto do Coro da Sé Catedral do Porto, inserido na programação da Semana Santa. A entrada é gratuita.
RELIGIÃO
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos www.laboratoriodafe.net
Arcebispo Primaz lava os pés a 12 jovens de instituições sociais de Braga ARQUIVO DM
O «Credo», como já dissemos no tema anterior (19: «e se fez homem»), passa da referência à encarnação e nascimento para a condenação e morte de Jesus Cristo: «Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado». Neste tema, refletimos sobre a primeira parte desta afirmação. [Para ajudar a compreender melhor, ler: Atos dos Apóstolos 13, 26-29; Catecismo da Igreja Católica, números 595-623] «Exigiram a Pilatos que o mandasse matar» – proclama Paulo nesta catequese descrita no capítulo treze do livro dos Atos dos Apóstolos. «A tradição cristã elaborou respostas, a catequese forjou fórmulas: Jesus morto pelos nossos pecados, o sacrifício que dá a vida. Com o risco de, por vezes, nos fazer esquecer o choque que representavam para os primeiros discípulos o fracasso e a condenação à morte do seu mestre. [...] A sentença e a execução foram romanas. Mas a acusação política [...] parece mais uma montagem jurídica doutro processo. [...] O verdadeiro conflito foi religioso [...]. Era preciso que a questão fosse vital para Jesus e mortal para as autoridades religiosas para se chegar a uma tal rutura» (Ph. Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, «Para compreender o Credo», ed. Perpétuo Socorro, Porto 1993, 97-98). Também por nós. A primeira afirmação desta frase está em sintonia com dois temas anteriores: a causalidade humana (cf. tema 15: «E por nós, homens») e o motivo (cf. tema 16: «e para nossa salvação, desceu dos Céus»). Jesus vem ao mundo «por nós» e dá a sua vida «também por nós». Entre um e outro «por nós» desenvolve-se a vida terrena de Jesus Cristo. Ora, este reforço da causalidade humana, agora associada à crucificação de Jesus produziu uma teologia que se esquematiza da seguinte forma: criação - paraíso - pecado - culpa - castigo perda do paraíso - sofrimento - eleição de um povo - encarnação - cruz - redenção pelo sangue - igreja - fé - batismo - salvação ou céu. Nesta sequência, o maior ênfase foi dado à relação entre o pecado (humano) e a cruz (de Jesus Cristo). Daqui nasceu uma forte acentuação do sentimento de culpa e do sofrimento. E pouco ou nada se disse sobre a causa histórica da morte de Jesus. O aspeto doutrinal impôs-se sobre o contexto histórico vivido por Jesus, nomeadamente através dos escritos paulinos. [Sobre a temática da salvação pela cruz vamos continuar a
refletir nos próximos temas]. Em contrapartida, através dos Evangelhos, podemos reconhecer que a morte de Jesus é consequência da sua maneira de viver: Jesus morreu assim porque viveu assim, isto é, foi fiel à sua missão. Isto não nega a injustiça nem a crueldade do poder religioso (judaico) e do poder civil (romano). A maneira de viver de Jesus – purificar a religião de normas desumanas, acolher os pecadores, denunciar as injustiças, preferir os mais pobres – provocou a ira do poder religioso que fez tudo para obter a condenação e a morte de Jesus Cristo. Habilmente, transformaram uma acusação religiosa numa acusação política (cf. Lucas 23, 5; João 19, 12). Assim, Jesus «foi crucificado sob Pôncio Pilatos». Foi crucificado. A prática da crucificação é de origem persa. Foi usada, em primeiro lugar, pelos «bárbaros», como castigo político e militar. Foi adotada também pelos gregos e, mais tarde, pelos romanos. Estes introduzem a flagelação, antes de colocarem sobre os ombros do condenado o madeiro transversal da cruz. Era assim conduzido ao lugar do suplício. O condenado, quase nu, podia ser colocado com a cabeça para cima ou para baixo. Parece ter sido uma prática comum dos romanos contra os judeus. Além de uma morte lenta, o crucificado normalmente ficava abandonado na cruz, sem ter direito a sepultura. A cruz era um «sinal de vergonha», «o suplício mais cruel e mais repugnante» (cf. B. Sesboüé, «Creer. Invitación a la fe católica para las mujeres y los hombres del siglo XXI». Ed. San Pablo, Madrid 2000, 312-314).
Tradição do Lava-Pés em Braga com alteração inesperada
O Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, decidido a imitar o exemplo do novel Papa Francisco, alterou a tradição do Lava-Pés na Missa da tarde de Quinta-feira Santa: em vez dos habituais 12 seminaristas, o prelado irá lavar, este ano, os pés a «12 jovens de instituições de apoio social (nomeadamente, de S. Caetano e das Oficinas de S. José), infor-
mou ao Diário do Minho fonte do gabinete do Arcebispo de Braga. Esta decisão é justificada com o «desejo de uma Igreja que se vire para os mais fragilizados», refere a mesma fonte. Recorde-se que o Papa Francisco anunciou que celebrará a Missa da tarde de Quinta-feira Santa numa casa de correção para menores, em Roma.
Lausperene Quaresmal na cidade de Braga
Sob Pôncio Pilatos. Apenas três seres humanos são nomeados no Credo: Jesus Cristo, Maria... e Pôncio Pilatos. Porquê? Há certamente uma preocupação em situar historicamente o acontecimento da condenação de Jesus à morte na cruz. «Pronunciar este ‘nome histórico’ no Símbolo da fé é já um modo de dizer que a fé cristã crê em factos. Professa como verdadeiro e digno de confiança, até fazer com que se torne critério decisivo de escolha e de vida, um facto real, o da paixão e da morte de Jesus, na cruz» (Dionigi Tettamanzi, «Esta é a nossa fé!», Paulinas, Prior Velho 2005, 62). A morte na cruz, que parece proclamar o triunfo do ódio (humano), torna-se, em Jesus Cristo, na maior prova de amor de Deus pela humanidade.
Março Hoje – Senhora-a-Branca
27 – 28 Instituto Mons. Airosa