Informativo São Vicente N. 306

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SUMÁRIO Palavra do Visitador 2019: ano de Mudanças pág. 3 CM Global EJV + JMJ pág. 4 Voz da Igreja Santo Padre nomeia lazarista para diocese do Maranhão pág. 5 Artigo Pedagogia vicentina hoje pág. 6 Obra em Destaque Colégio São Vicente de Paulo: 60 anos pág. 10 Cotidiano Provincial Encontro de Coirmãos jovens pág. 15 Espaço dos Seminaristas Abertura dos trabalhos na Formação pág. 16 Pastoral Vocacional Por uma Cultura Vocacional na CM pág. 18 Ação Social CPF: Uma experiência ímpar entre pares pág. 20 Família Vicentina Santas Missões Populares Vicentinas 2019 pág. 22 Perfil Pe. Wilson Belloni pág. 24 Cotidiano Provincial II 1º Simpósio Provincial de Comunicação pág. 26 Notícias da PBCM pág. 28 Cultura Dicas de filme e livro | Memória da Província pág. 30 Texto Diálogo e fé pág. 32 EXPEDIENTE Informativo São Vicente - 306 - Edição fechada em 20/03/2019 www.pbcm.com.br/informativosv | informativosv@pbcm.com.br| Impresso na Gráfica Print - São Paulo | Tiragem: 250 exemplares | Conselho Editorial: Pe. Geraldo Mól, Ir. Adriano Ferreira, Sacha Leite e Cristina Vellaco | Editoração: Adriano Ferreira | Jornalista Responsável: Sacha Leite MTB:30383/RJ| Revisão: Pe. Lauro Palú| Colaboraram nesta edição: Cléber Fábio, Ramon Aurélio, Natanael Ferreira, Pe. Denilson Matias, Pe. Alexandre Nahass Franco, Pe. Eli Chaves, Diác. Hugo Silva Barcelos, Pe. Lauro Palú, Vera Bonfim, Débora Finamore e Edelmar Lima.| Os textos publicados são de total responsabilidade de seus respectivos autores. | O Informativo São Vicente é uma publicação trimestral editada pela Província Brasileira da Congregação da Missão - Telefone: (21) 32352900 / Rua Cosme Velho, 241 CEP: 22241-125 Rio de Janeiro - RJ

EDITORIAL CSVP e Raul Brasil Em meio ao processo de fechamento desta edição do Informativo São Vicente, que tem como pauta magna o sexagésimo aniversário do Colégio São Vicente de Paulo, fomos fuzilados com a notícia do massacre ocorrido na escola Raul Brasil, em Suzano-SP. Um ataque bárbaro, como aqueles que frequentemente acontecem em instituições de ensino nos Estados Unidos, e que, até há alguns anos, pareciam muito distantes de nós. Entre as várias reflexões que este ato nos forca, como a análise do perfil dos culpados, suas motivações e sobre como eles se armaram, entraram na escola e cometeram tal carnificina, me dediquei especialmente a pensar sobre a contribuição da sociedade na construção de eventos como esse. A começar pela mídia e o jornalismo “mundo cão”, capitaneado por profetas do apocalipse como o apresentador José Luiz Datena; passando por sucessos do cinema como Tropa de Elite, cujo herói atira na face de um bandido já capturado; até chegarmos ao presidente eleito que afirmou em palanque o desejo de “metralhar a petezada toda”, nosso cotidiano está repleto de vendedores da lógica “bandido bom é bandido morto”. Em meio a toda apologia às forças que estimulam a morte, soerguidas a tema maior de destaque na mídia, na cultura e na política, estão nossos jovens, consumindo avidamente um discurso simplista que coloca a repressão violenta como solução à própria violência. É dentro de contextos como este, que estimulam a guerra em detrimento ao diálogo, onde são forjadas as mentes adoecidas capazes de executar um plano tão bárbaro como o desenvolvido em Suzano. Voltando ao CSVP, temos nessa edição um belo artigo sobre a Pedagogia Vicentina, no qual o Pe. Lauro Palú apresenta, por meio de exemplos bem didáticos, um pequeno método sobre como podemos vencer a cultura de violência e morte com pequenos gestos educativos. Vale a pena uma leitura atenta e a tentativa de colocar os pequenos gestos propostos em prática no nosso cotidiano. *** “Mais livros, menos armas”, postou em uma de suas redes sociais Marilena Umezo, coordenadora pedagógica morta a tiros, dias depois, na escola Raul Brasil. Mais educação, menos violência. Mais Paulo Freire, menos Datena.

Ir. Adriano Ferreira, CM


PA L AV R A D O V I S I T A D 0 R Pe. Geraldo Eustáquio Mól

2019: ano de mudanças O ano começou para valer. CPF em Serra do Ramalho. Santas Missões Populares em Itaobim. PBCM espalhada por todo canto. Até no Panamá tinha gente nossa, no Encontro Mundial da Juventude. A turma da Formação Inicial que, praticamente, não tirou férias, preparando as casas para receberem nossos jovens formandos, abriu as portas; o nosso ano letivo, finalmente, decolou, oficialmente, no dia 8/2, com Celebração Eucarística no Seminário São Justino de Jacobis. Coirmãos admitidos, jovens, grande esperança, ocupam seus lugares no Seminário Interno e na Casa de Teologia, nos mais variados períodos de estudos acadêmicos. Outros jovens ingressaram no tão querido TREVO, Instituto São Vicente de Paulo. E, em meio a toda esta movimentação, Padre Juarez, Padre Maurício e Irmão Admar vão assumindo novas e importantes colocações/funções na Província. Padre Juarez assumiu como Pároco na Paróquia Nossa Senhora de Fátima – Contagem, Padre Maurício é o novo Pároco da Paróquia São José do Calafate – Belo Horizonte. O Irmão Admar vai compor a equipe do Caraça. O Irmão Ezequiel emitiu seus Votos e agora é incorporado definitivamente à Família PBCM. Um bom orgulho para todos nós. Homem de rara grandeza e muitas habilidades. Cheio de saúde e disposição, como sempre se apresenta, será, com certeza, um grande aliado de todos nós na nobre vocação de Evangelizar os Pobres, nosso programa e tamanho desafio. Muito bem-vindo. Ocorreu o Encontro de Coirmãos Jovens. Tudo muito bem preparado. O Conselho Provincial retomou seus trabalhos nos dias 12 e 13/2, na Casa Central. 2019 vai se apresentando a todos nós com tantos acontecimentos alegres como tive a oportunidade de apresentar. Acontecimentos tristes, também. Desastres naturais, crimes humanitários e

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ambientais. Quanta dor! Em meio a tudo isso, Padre Vinícius já se mudou para a Espanha. Onde ele e outros Coirmãos, de diversos Países, vão, após um período de formação, nos oferecer on-line, um CURSO MASTER EM VICENTINISMO. Desejo ao nosso exemplar Missionário Vicentino, já em outras paragens, muita saúde e disposição missionária. Quero lembrar ao senhor que não se esqueça de sua Província de Origem. Vai ter saudade, viu? Entendemos. É a Missão. A CNBB orienta a nossa reflexão durante a Campanha da Fraternidade. “Fraternidade e Políticas Públicas” – “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1, 27). Se analisarmos, atentamente, a situação política em que o nosso País se encontra, o tema assume maior relevância em nosso cotidiano. É uma tentativa da CNBB de que a nossa Igreja possa assumir, verdadeiramente, a dimensão comunitária e social da nossa fé. A Campanha da Fraternidade vem iluminar e valorizar, de modo particular, gestos fundamentais deste tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola (solidariedade). E o trecho do Evangelho de Mateus, proposto para a reflexão da Quarta-Feira de Cinzas, Evangelho conhecido como o Evangelho da Justiça e a primeira fala de Jesus em Mateus, é: “Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3, 15). E o eixo fundamental que perpassa todo o Evangelho é “Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça” (Mt 6, 33). Que venha 2019 e que o nosso Bom Deus encha nossas mentes e corações de nobres ideais e sentimentos. Dê-nos muita disposição para enfrentar as adversidades que, com certeza, virão. Também, igual disposição para celebrar nossas pequenas conquistas que serão construídas “com a força de nossos braços, inseguros, porém livres” e com as abundantes bênçãos do nosso Deus.

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CM GLOBAL Por Sem. Cléber Fábio

EJV + JMJ Diácono João Soares, da província portuguesa da Congregação da Missão, avalia encontro da juventude no Panamá Da PBCM estiveram presentes também os Padres Denílson Matias e Alexandre Nahass Franco. Ao final da Jornada foi anunciado que a próxima JMJ se dará em Portugal. Entrevistamos para esta edição do Informativo São Vicente o Diác. João Soares, CM, da Província de Portugal, que nos externou a alegria de ter peregrinado ao Panamá, bem como as expectativas para ser anfitrião do EJV+JMJ em 2022: Qual importância da realização de um encontro como o EJV para a FamVin Internacional?

Dác. João Soares (à direita), junto ao Pe. Tomaž Mavrič (ao centro) no Panamá.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), é evento religioso da Igreja Católica, implementado por São João Paulo II, em Roma, a partir dos encontros de 1984 e 1985. Desde sua primeira edição, reúne milhares de fieis, especialmente jovens, em diferentes países do mundo, objetivando favorecer o encontro pessoal com Cristo e a promoção da paz entre os povos, tendo a juventude como embaixadora. A partir de 1997, em Paris, a Família Vicentina passou a realizar, antes da jornada, o Encontro de Jovens Vicentinos (EJV), promovendo o fortalecimento da identidade dos participantes como membros da Igreja a partir da perspectiva do Carisma Vicentino. Em janeiro de 2019, Panamá recebeu ambos os eventos: O IX EJV, em Arraiján, com o tema “A alegria de ser Vicentino”, e a XXXIV JMJ, na Cidade do Panamá, sobre o tema “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Participaram destes eventos diversos vicentinos brasileiros, entre eles o seminarista Louis Francescon, CM, para quem a experiência foi muito rica e uma oportunidade singular: “Nestes dias, a frase de motivação foi “eu acredito na força da juventude”. 4 INFORMATIVO SÃO VICENTE

Creio que um encontro de jovens vicentinos em nível internacional realça o sentido de família, uma família que não vive isolada, mas em comunhão, partilha experiências, fé e, sobretudo, o amor a Deus nos pobres. No que diz respeito a nós, da Congregação da Missão, creio que este encontro mostra duas coisas: a primeira, que dentro da CM existem jovens e, por isso, este encontro é também para nós; a segunda, que nós não nos podemos esquecer de que temos o dever de acompanhar a juventude, e por isso, este encontro é também um repto para nós. Que mensagem extrai destes eventos para sua vida de Missionário Vicentino? Trago comigo duas ideias interessantes, que acredito que são essenciais para o meu ministério. Em primeiro lugar, a ideia de que para anunciarlhes algo, são necessários modelos. Maria foi o modelo utilizado nestes dois encontros, e, portanto, se quero chegar a alguém, não lhes posso dar algo abstrato, mas uma fé que é vivida e vivenciada por alguém. Em segundo lugar, creio que devemos ter atenção às formas. O mundo mudou, e as formas de transmissão da fé devem acompanhar essas mudanças. O que o Papa fez quando utilizou a palavra ”influencer” ou outras palavras deste gênero, revela uma aproximação àquilo que é vivido hoje em dia. Não demonizar o que existe, mas aproveitá-lo como uma oportunidade. Acredito que seja este o caminho.


VO Z DA I G R E JA

Da redação

Santo Padre nomeia lazarista para diocese no Maranhão A Família Vicentina brasileira conta com mais um membro dentro da Conferência Episcopal No dia 20 de fevereiro, a CNBB divulgou uma nota oficial que orgulha a comunidade vicentina: Pe. Evaldo Carvalho Santos, CM, foi nomeado bispo pelo Papa Francisco, para a Diocese de Viana, no Maranhão. Pe. Evaldo é membro da Província de Fortaleza da Congregação da Missão (PFCM), viveu 21 anos de sacerdócio e 50 anos de vida, completos no último 9 de março. O novo bispo trabalhava como pároco de Santo Antônio, em Quixeramobim (CE). Com a nomeação, assume a Diocese de Viana, que estava vacante desde dezembro de 2017, quando Dom Sebastião Lima Duarte foi transferido para a Diocese de Caxias, no mesmo estado. Natural de Fortaleza, no Ceará, Pe. Evaldo cursou Filosofia e Teologia no Instituto de Pastoral Regional, em Belém (PA). Fez especialização em Serviço Social, Políticas Públicas e Direitos Sociais, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Durante seu ministério sacerdotal, atuou como vigário paroquial de São José, em Tucuruí, Diocese de Cametá (PA) (1998); formador do Seminário Lazarista de Filosofia, em Fortaleza (2000-2002); diretor do Seminário da Província (Propedêutico, Filosofia e Teologia), reitor do Seminário Lazarista de Teologia, em Belém do Pará (2003-2009); vigário paroquial de Nossa Senhora dos Remédios, em Fortaleza (2010); vice-provincial da PFCM (2007-2010); e Superior provincial (2010-2016); pároco de São Pedro e São Paulo, em Fortaleza. Em entrevista à equipe de jornalismo do site da SSVP BRASIL, Padre Evaldo afirmou que a

nomeação dele vem para coroar o trabalho desenvolvido pelos seguidores do Carisma Vicentino. “Nós, como filhos de São Vicente, somos uma família e trabalhamos em grupo. Ter sido escolhido bispo é o reconhecimento do trabalho de todos os vicentinos”. Pe. Evaldo Carvalho Santos afirmou também que o Carisma Vicentino casa muito bem com o pontificado do Papa Francisco, na linha de aproximação com os Pobres. Padre Evaldo não esperava a nomeação, mas a aceitou com muita alegria. “O Papa nos fala muito desta atitude de acolher as surpresas de Deus. É um desafio grande, mas eu confio no amor e misericórdia de Deus”. Pe. Evaldo será o terceiro bispo vicentino atualmente no Brasil. Também assumem dioceses brasileiras os lazaristas Dom José Fernando Barbosa, em Tefé (AM) e Dom Carlos Chacorowski, em Caraguatatuba (SP). A posse do novo bispo no Maranhão está prevista para o dia 18 de maio.


ARTIGO

por Pe. Lauro Palú

Pedagogia Vicentina Hoje A educação vista como crença nas pessoas

Um dos gêmeos, Felipe ou Gustavo, me disse: milhares de Educadores que deram o melhor de si “Você podia mandar fazer um hotel nessa casa aí deneste espaço sagrado. Uma das lembranças mais trás do Colégio”. Respondi que eu morava ali, com queridas dos vinte anos e alguns meses como Diretor os outros Padres e os Irmãos da Congregação. Ele do Colégio aconteceu no local da saída dos Alunos comentou: “Você é que é sortudo!” E por que você da tarde. Eu andava por onde os Alunos e Alunas quer que eu faça um hotel ali? “Para meu Pai e mivão embora. Pois foi ali que uma das Mães me disse: nha Mãe se hospedarem aqui num fim de semana e “Pe. Lauro, escute só o que o meu Menino acabou verem como meu Colégio é bom!” Fiz essa experiênde me dizer: 'Mãe, está vendo aquele moço ali? Ele é cia durante valentes vinte anos, nos dois períodos o nosso Diretor. Quando fala com a gente, ele se inem que fui Diretor do São Vicente (de janeiro de clina, para ouvir o que a gente está dizendo, para 1980 a setembro de 1986 e de maio mostrar o gostamento dele pelos Pede 1999 a fevereiro de 2013): do quenos'”. Só este “gostamento” tão sábado depois do almoço até secarinhoso vale um ano inteiro de Crianças e Adolescentes gunda cedo, o Colégio vazio é exserviço no São Vicente! A uma TV de traordinariamente agradável, silensão muito espontâneos São Paulo, que perguntou que marcioso, arejado, bonito, provocado e, tratados como gente, ca eu desejaria que ficasse, ao terpelas paisagens de todos os lados e minar ali meu trabalho, citei esta fraconservam essa franquepalpitante da seiva que corre todos se, como característica de minha za até a juventude e os dias, há 60 anos, por seus pátios, missão no Colégio. seus corredores, suas salas de aula, Noutro dia, por ali mesmo, amadurecem com a suas escadas, seu auditório, sua quando fui falar com um garoto que mesma lealdade Capela. E aquele Cristo Redentor saía, ele me disse, lealmente: “Sai de lindo nos abençoando... perto que eu soltei um pum...” Uni-me aos Educadores do São Vicente na década de 1970, quando trabalhava nos nossos Seminários com os livros de Paulo Freire. O que se propunha no Colégio fazíamos no Seminário, com os candidatos da Congregação. Sempre acreditei no valor evangelizador e multiplicador da educação, no caráter essencialmente vicentino de nossa missão atual de Educadores, Formadores e Missionários. Trabalhar no São Vicente, como professor ou funcionário, é privilégio e graça de Deus, pela riqueza de sua tradição, na melhor linha começada pelo Caraça e continuada até hoje pelos Coirmãos e pelos

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Quando vi um do sexto ano coçando a cabeça, perguntei se estava com piolho. Ele garantiu que não e subiu a escada, mas logo em seguida voltou e disse: “Pra você eu não posso mentir. Estou mesmo com piolho, mas não espalhe...” São duas provas do ambiente que espero ter conseguido criar com todos, Pais, Mestres, Funcionários e Alunos. Crianças e Adolescentes são muito espontâneos e, tratados como gente, conservam essa franqueza até a juventude e amadurecem com a mesma lealdade. O difícil é um adulto valorizar uma frase definidora, direta e totalmente verdadeira como esta de agora: um Pai não gostou quando soube que o Filho,


chegando da excursão de três dias e duas noites no Caraça, depois de tanta novidade (a viagem de noite, o quarto de muitas camas e a briga de travesseiros, a água geladíssima das cachoeiras e o fogão de lenha para fritar os ovos no café da manhã e derreter o queijo para o pão, as trilhas, a cobra no caminho, o lobo de noite, o silêncio da noite, a lua cheia!, as estrelas que fui comentando), o Menino disse assim: “Nem sei se ainda me lembro da cara de meu Pai!” Nunca inventei uma frase tão genial e bonita como essa, mas eu também tinha a impressão de que os três dias da excursão duravam mais de uma semana, tantas as alegrias que vivíamos juntos e as coisas que observávamos, aprendemos e fotografávamos, o que descobríamos juntos, as risadas, as reações de cada um, a união dos colegas das 4 turmas, pelo menos nesses dias... E agora um caso de Mãe que não entendeu a frase do Filho: Tinham passado 5 dias nas cidades históricas de Minas (ainda não iam ao Caraça, mas a São João del Rey, Tiradentes, Ouro Preto, Mariana, Sabará). Esperei na porta do ônibus, quando chegaram. O primeiro que desceu, justo o da Mãe que estava ao meu lado, comentou gloriosamente: “Ô Mãe, precisa ver que legal! Cinco dias sem tomar banho! Cinco dias!” Nem o Aleijadinho, o Ataíde, o Museu do Ouro e o Tiradentes, ninguém e nada alegrou mais o Menino do que esses 5 abençoados dias sem ir ao chuveiro... Minha senhora, não precisa morrer de vergonha. Está vendo como o mundo é rico, inimaginável, fabuloso de bom, uma surpresa atrás da outra? Num Conselho Pedagógico, reunião semanal da Direção com as Coordenações dos vários serviços e com representantes da Associação de Pais e Mestres e dos

Grêmios estudantis, Deus me inspirou uma reflexão que tentamos aprofundar ao longo de vários anos: trabalhando na educação de nossas crianças, adolescentes e jovens, e também com os de mais idade na Educação de Jovens e Adultos (EJA), podemos cumprir nossa missão como Professores, Educadores e Formadores. (E missionários!, acrescentou o Pe. Maurício de Resende Paulinelli). O Professor trabalha conteúdos, o Educador trabalha atitudes, o Formador trabalha valores. Todos devemos ser, ao mesmo tempo, Professores, Educadores e Formadores. Os CONTEÚDOS, na área da comunicação interpessoal em língua portuguesa, são os sujeitos, verbos e predicados das frases, o singular e o plural, as afirmações, as negações e suas regras, os sinônimos e antônimos, etc. As ATITUDES, na mesma área da comunicação, vão ser a clareza, a lealdade, a veracidade, a fidelidade à palavra, o falar expondo-se e comprometendo-se, o corrigir os erros e voltar atrás, a revisão atenta de nossos textos, a coerência entre o que a frase diz ou sugere, inspira ou supõe, promete ou cobra, e todas as nossas atitudes. E os VALORES, na comunicação interpessoal, são o respeito à palavra dada, o acolhimento e a valorização da opinião dos outros, o comprometimento pessoal com os interesses, os direitos, o ritmo e o tempo de cada um. E a DIMENSÃO MISSIONÁRIA do nosso trabalho num Colégio, numa missão ou paróquia, na área da comunicação, significará a preparação de nossas intervenções (aula ou homilia), o respeito absoluto à liberdade e à dignidade das pessoas, Alunos ou 'Fiéis' de nossos exercícios, a coragem de buscar e t r i l h a r c a m inhos novos, a busca da >>>


verdade sem medos, sem apego ao passado, com a abertura às novidades da ação de Deus e de seu Espírito, na vida social, cultural, política das comunidades, dos povos, das sociedades e civilizações. Assim, vimos nossos Alunos e Alunas nas Academias, nos Movimentos, na Ação Social, na Política, na Medicina, na Magistratura, na Igreja, no Magistério, na Televisão, nas Missões de férias promovidas pela Província, na formação de Professores, em regiões pobres do Brasil.

ria, não de cumplicidades. Cumplicidade tem claramente uma conotação negativa: parceria no mal... Por isto, em todas as reuniões com os Pais ou Responsáveis, sempre pedimos parceria, não aceitando nunca nem a mais simples alusão à cumplicidade...

Penso que consegui que avançássemos muito, quando falei claro aos Pais, para ter a parceria de que precisamos. Já disse aos Pais, em nome e em favor de todos os educadores e formadores, que não aceitamos que alguém diga: Estou pagando, tenho Nossa Congregação mantém o Colégio São Vidireito de exigir. Quando eles pagaram, o filho deles/ cente realizando seu objetivo na Igreja. Nosso fim é nosso Aluno não virou mercadoria, nem nós viramos seguir Jesus Cristo evangelizador mercadores ou mercenários. Não dos Pobres. Este fim se consegue somos empregados dos Pais; somos quando cada um de nós se esforça servidores, como Jesus Cristo, como A perspectiva em que para revestir-se do espírito de Jesus São Vicente. me situei, todo o tempo, Cristo; trabalha na evangelização Nunca foi fácil a parceria, porque dos Pobres, sobretudo dos mais quando fui Diretor do os elementos em que nos apoiamos abandonados; ajuda o clero e os Colégio, foi libertadora, podem até ter o mesmo nome, mas leigos na sua formação, levando-os nem sempre coincidem. O exemplo própria para fazer cresao serviço dos Pobres. mais claro e mais frequente disto é a Nossa tarefa de Congregação é transmitir este espírito aos Professores e Funcionários. Levá-los a se engajarem conosco nesta missão. Ajudá-los a adquirir este espírito, a viver este carisma, a ter estas preocupações e a querer realizar isto. Nossa missão, função e tarefa é ser animadores de toda a Comunidade Educativa, ajudar Pais e Filhos, orientar os Professores, os Funcionários, os Coordenadores, quantos venham unir-se conosco.

cer a independência, a autonomia, o espírito crítico, o empreendedorismo, o protagonismo, vendo os Alunos e as Alunas como sujeitos de sua história, de seu destino, de seu crescimento, de sua missão, e não como objetos de nosso ensino, nossas normas, nossos cuidados ou medos...

Este é o aspecto mais fascinante e desafiador, mais gratificante e exigente do trabalho em nosso Colégio, o que nos distingue essencialmente de outras escolas, cujos horizontes terminem na folha enrolada de um diploma ou na beca de uma formatura festiva e vazia.

O muito sucesso que conseguimos, o acerto habitual nas decisões, a liberdade estimulada na ação, aqui no São Vicente, são frutos espontâneos, maduros, de um esforço enorme de parceria com todos os agentes possíveis, num Colégio, num bairro, numa cultura, num final de milênio, no início do novo milênio, numa proposta conjunta de união decidida, de opção pelos mesmos valores, fruto maduro da parce-

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questão dos limites que uns acham que temos que impor à Meninada... Sempre me pareceu, e lutei por isto, no total dos vinte anos que passei no Colégio São Vicente, que, em vez de impor limites à Meninada, devemos estimular o crescimento deles. Partindo da liberdade gloriosa de Filhos de Deus, mencionada por São Paulo na Carta aos Romanos (8, 21), nada nos autoriza, em educação, a começar mal assim, pensando que devemos impor limites. A perspectiva em que me situei, todo o tempo, quando fui Diretor do Colégio, foi libertadora, própria para fazer crescer a independência, a autonomia, o espírito crítico, o empreendedorismo, o protagonismo, vendo os Alunos e as Alunas como sujeitos de sua história, de seu destino, de seu crescimento, de sua missão, e não como objetos de nosso ensino, nossas normas, nossos cuidados ou medos... Para o nosso trabalho, propus o lema: Formar agentes de transformação social, realidade empolgante, que traduzi, para os pequeninos das primeiras séries, em ser felizes e bons. E depois traduzi, para todos, como ser felizes por sermos bons.


Foto: Joka

Pe. Lauro recebe alunos do CSVP no Santuário do Caraça, em 2015

Propus nadar contra a correnteza, fazer um Colégio que busque o necessário, o mais decisivo, o melhor. Fazer não porque os outros fazem, nem fazer só para ser diferente dos outros, mas fazer o que é fundamental, o que realmente interessa, façam ou não façam os outros as mesmas coisas. Sugeri algumas ações de transformação: Monitoria no 1º Ano do Ensino Médio e não apenas na Educação de Jovens e Adultos. Entrar em sala de aula mesmo com atraso, por valorizarmos a presença dos Alunos em sala. Cuidar do silêncio, por tomarmos consciência de que há outros trabalhando e estudando na Casa. Ser alguém de valor em todos os setores de nossa personalidade, não para vencer competições, mas para ser competentes, dever de quem passa por um Colégio como o São Vicente. Cheguei mesmo a sugerir o esforço de não pôr nenhum Aluno para fora da sala de aula, não pôr nenhum Aluno para fora do Colégio, no fim do ano ou em qualquer ocasião, por levarmos a sério a proposta de inclusão que nos veio de uma Campanha da

Fraternidade. Para dispensar um Professor ou Funcionário, eu falava: “Estamos sentindo que falta em você tal ou qual qualidade, o modo certo de fazer, mais próprio do nosso ideal vicentino. Por isto estamos querendo dispensá-lo. Você acredita que pode reverter esta situação, corrigir o problema de que não gostamos?” Assim, o próprio Funcionário decide, com o Diretor e as Coordenações, se fica ou se se demite... como sujeitos envolvidos numa ação, não como objetos secos de uma decisão alheia... Estamos com os Educadores, ao lado deles, querendo o mesmo e ajudando-os a quererem sempre mais e melhor. Sonhamos com mais, porque cremos nas pessoas, sabemos que podem, se interessarão e farão mais e melhor, se ajudados. * Pe. Lauro Palú dirigiu o CSVP por 20 anos, somando-se suas duas passagens (1980-1986 e 19992013).

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O B R A E M D E S TA Q U E

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Foto: Sacha Leite

Em primeiro plano, quinto andar do CSVP; em segundo plano, prédios do bairro Cosme Velho e, ao fundo, comunidade dos Guararapes, circundada pela floresta da Tijuca

Texto e fotos por Ir. Adriano Ferreira

Colégio São Vicente de Paulo 60 anos: obra de contrastes Há 60 anos, o CSVP prima pela democracia e pela liberdade em ambientes heterogêneos Conforme reza um dos princípios da óptica: um objeto só pode ser identificado caso haja contraste entre ele e o ambiente ao seu redor. Quando o objeto e o pano de fundo têm as mesmas cores, fica mais difícil distingui-los entre si. Ao contrário disso, quanto mais equidistantes as cores sobrepostas, maior a facilidade de identificá-las. Por exemplo, quando faço uma foto, principalmente aquelas em preto e branco, é o contraste que busco. É pelas margens contrastantes da imagem que a fotografia se faz. Um quadro branco em uma parede branca é quase que como um camaleão que esverdeou para ser parte da folha. O contraste existe para demarcar diferenças, e as diferenças só podem entrar em diálogo quando identificadas. É comum nas grandes cidades brasileiras notarmos acentuados contrastes sociais. E a falta de encontro entre essas diferenças nos acostumou a considerar os espaços contrastantes como algo negativo. Os diferentes têm funções e posições sociais que "exigem" máxima separação. Assim: bairro para uns, favela para outros; escola privada para beltranos, escola pública para sicranos e por aí vai. Numa sociedade marcadamente >>> INFORMATIVO SÃO VICENTE 11


excludente, os contrastes nos separam, as nossas diferenças não nos enriquecem, apenas nos separam em burgos e guetos. Ao longo dos anos, o Colégio São Vicente de Paulo tem se esforçado para subverter essa lógica dos contrastes dicotômicos. Especialmente nas últimas décadas, vê-se cada vez mais O CSVP como um ponto de encontro entre diferentes e não como espaço de separação. Havemos de reconhecer o esforço dos que dirigem e trabalham nessa obra. Em tempos de máxima concorrência em vestibulares, no ENEM e em outros concursos, propor uma pedagogia que valorize as diferenças em detrimento à homogeneização dos estudantes, o que facilitaria a aprovação nos exames citados, é um grande desafio. Neste breve texto, pretendo falar sobre como o CSVP, no limiar de seus 60 anos, lida com seus contrastes e sobre como a escola assumiu essas diferenças de maneira positiva a ponto de transformar aparentes divergências em pontos de intercessão. O prédio e os seres que o habitam - arquitetura e pedagogia Demasiado hermético é o prédio do CSVP. Quem o conhece sabe: são cinco andares de linhas retas, sóbrias e funcionais, variando em tons de verde, marrom e branco. Está situado à Rua Cosme Velho, 241, em uma acentuada curva moldada pelo Rio Carioca, silencioso e submerso curso d’água, cujo nome inspira o gentilício dos nascidos no município do Rio de Janeiro. A linha reta do prédio, a curva do Rio. Invisível e maravilhoso primeiro contraste. Fachada, portaria, escadas, pátios, salas de aula, quadras, banheiros e elevadores, uma enorme sucessão de quadrados e retângulos é o CSVP. Essa arquitetura quadrilátera e convexa, semelhante às contemporâneas construções de Brasília, recebe a pecha de moderna. Moderna? Sim, quando por moderno entendemos a simplicidade e a funcionalidade. Mas poderia o reto prédio regrar os seres que o habitam? No caso do CSVP a resposta é um grandessíssimo e sonoro “não”. Há de se fazer saber que em matéria de pedagogia o "São Viça” é o colégio católico menos quadrado do Rio de Janeiro. Enquanto outras escolas particulares se encaminham pela trilha segura de preparar para o ENEM, o CSVP quis, desde muito cedo, ir além. Norteado pela ideia de “formar agentes da transformação social”, o que se faz dentro desse enorme retângulo na curva do Cosme Velho é uma educação que prima pelos ideais da democracia e da liberdade. 12 INFORMATIVO SÃO VICENTE

CURIOS I DADES SOBRE OCSVP


Percebe-se que há um esforço cada vez maior em se reduzir os processos educativos ao atendimento da lógica dos mercados, desvalorizando as disciplinas que estimulam o desenvolvimento do pensamento crítico. Ao mesmo tempo, nota-se uma tentativa de massificação ideológica nas escolas: vide a força do movimento Escola Sem Partido. Mediante este quadro, escolas como o São Vicente tem se mostrado verdadeiros focos de resistência pedagógica, acolhendo diferenças e estimulando a liberdade de pensamento. Nesse sentido, o hermetismo do seu prédio é mais do que conveniente, sua reta fachada é perfeita camuflarem para a pedagogia crítica gestada em suas entranhas. Bairro e Favela - alunos ricos e pobres

Fundado em 30 de março de 1959 Teve apenas 5 diretores em 60 anos Primeiro colégio católico misto - com meninos e meninas - do Rio de Janeiro Reconhecido por suas ações sociais e atuação no campo das artes . Em 2019 1069 alunos no ensino regular (diurno) 180 alunos na EJA (noturno) 86 colaboradores no setor administrativo, 112 no setor pedagógico e 8 estagiários

De frente para a Sala Multiuso, à sombra de uma frondosa mangueira, desvela-se a vista que mais gosto do CSVP. Em primeiro plano, o bairro Cosme Velho, com seus brancos prédios de classe média, velhos casarões oitocentistas, a cúpula da igreja de São Judas e altivas palmeiras imperiais. Em segundo plano, ou como pano de fundo, os entijolados barracos do Morro dos Guararapes, emoldurados pela Floresta da Tijuca e guardados pela sombra do Cristo Redentor. Dali mesmo, basta abaixar a cabeça e ver dezenas de alunos e alunas correndo pelas quadras. Sem nenhuma distinção entre eles, disputam a bola o aluno do Guararapes e o aluno do Cosme Velho, o aluno do bairro e o aluno da favela, a menina rica e a menina pobre, no CSVP eles representam um mesmo time. A cada cinco alunos pagantes é matriculado um bolsista. Ainda que esta seja uma exigência da legislação referente às instituições filantrópicas, o São Vicente poderia escolher colocar seus alunos bolsistas em outra unidade. Mas quando escolhe juntar num mesmo espaço pagantes e bolsistas, o CSVP promove um importante contraste educacional, pois promove a convivência de pessoas que nem sempre compartilham os mesmos espaços na sociedade. Este contraste é gérmen para a transformação social. Ainda neste ponto, não podemos esquecer as centenas de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que frequentam o São Vicente à noite. A maioria deles chega cansada da longa jornada de trabalho. São porteiros, domésticas, atendentes de lojas, taxistas, jovens mirando oportunidades no mercado de trabalho. Gente que está na luta, que vem para a aula sonhando com uma vida melhor por meio da educação. Muitas >>>

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vezes esse sonho esbarra no cansaço, no desânimo de não acompanhar a matéria junto com a turma, na dificuldade de retomar os estudos já com uma certa idade. É nesta hora que os alunos do diurno são fundamentais. Surge um novo contraste: dia e noite. Alunos do curso diurno vêm para a escola à noite, voluntariamente, trabalhar como monitores dos alunos da EJA. Durante o tempo que coordenei a EJA, pude ver casos de alunos que se tornaram monitores do porteiro do seu prédio, ou de sua empregada doméstica. Houve até o caso de uma aluna que se tornou monitora na classe da sua mãe, que decidira voltar a estudar devido ao incentivo da filha (aluna bolsista do CSVP). A relação entre essas pessoas, nunca mais será a mesma. Eles não serão mais apenas porteiro e condômino, mãe e filha, eles já se tornaram companheiros de estudo. Isso muda o mundo.

Se tomarmos como exemplo a viagem dos alunos e professores voluntários ao Vale do Jequitinhonha, que é toda feita de ônibus, ao ultrapassarmos o túnel Santa Bárbara, já nos é desvelado um mundo completamente diferente. As favelas se multiplicam e o cheiro da Baía da Guanabara é cada vez mais podre. Segue-se pela Rio-Bahia e no curto espaço de algumas poucas horas de sono, a Mata Atlântica que rodeia a Serra dos Órgãos vai esmaecendo na paisagem até se tornar o campo e o cerrado típicos do semi-árido brasileiro. Já se acorda com o olhos no Sertão, já se acorda em outro mundo. Mais do que o contato com pessoas de culturas diferentes, a participação em projetos como o Construindo e Preparando o Futuro proporciona a professores e alunos participantes uma experiência de viagem. De sair da sua zona (Sul) de conforto e participar de outro espaço, nem sempre com os mesmos recursos com que estão acostumados. A longa viagem de ônibus, suas paisagens e percalços, diferentemente das viagens para o litoral ou para a Europa, com as quais a maioria deles está acostumada, é um rito de passagem. Vencido o rito da viagem, os infinitos contrastes encontrados, desde a paisagem, passando pelo abismo econômico, até a diferença de sotaque e cultura, ajudam a reconstruir a visão de mundo desses viajantes.

Aluna no Ensino Médio diurno fazendo monitoria junto a aluno do Ensino Fundamental da EJA

Pequeno Rio, Grandes Sertões - projetos sociais que levam o CSVP além muros Já falei do rio Carioca, de breve percurso e longa história, é de carona em suas curvas que professores e alunos do CSVP iniciam longa jornada para encarar o maior dos contrastes: da Zona Sul do Rio de Janeiro direto ao Sertão. Ao voluntariar-se para os projetos sociais da escola, professores e alunos rumam para as periferias do Rio de Janeiro, para o Sertão da Bahia e para o Vale do Jequitinhonha (e mais recentemente até para a Amazônia). Pois bem, seguindo pelo leito do recôndito rio, vai-se rumo à saída da Zona Sul. Sair desse espaço já significa o mais poderoso de todos os contrastes. 14 INFORMATIVO SÃO VICENTE

Chegando lá, o professor que leciona, costumeiramente, em uma sala limpa, com ar-condicionado e com acesso aos recursos pedagógicos mais modernos, vai se deparar com um cenário bem diferente, marcado pela escassez de recursos e pelo abandono das autoridades. Esse professor vai sentir na pele, por uns poucos dias, o que sente diuturnamente o educador local. Aquele professor que foi ao projeto visando ofertar um conhecimento voltará impactado por uma experiência ímpar: a de trocar saberes com quem compartilha o mesmo ofício e precisa fazer tanto quanto ele, porém com recursos muito menores. Conceber e manter um projeto social como o CPF, há mais de uma década, materializa o compromisso do CSVP com seu lema, a transformação social. Da mesma forma, o contraste, visto por muitos como algo negativo, característico da desigualdade, é cultivado pelo CSVP com maestria, já que oferece base de sustentação para uma instituição calcada na tolerância, no respeito às diferenças e à diversidade da subjetividade humana.


COTIDIANO PROVINCIAL por um Padre da Missão

Poema inconcretista Encontro de Coirmãos Jovens 2019

Ubatuba

Foto: Adriano Ferreira

Minas. Belo Horizonte. Trevo. Alzate. Assessoria. Centro Social. PowerPoint. Gentil. Estudo. Encíclica. Godói. Toni. Ônibus. Motorista. Viagem. Estrada. Paulo. Música. 381. Resenha. Sono. Hélio. Banheiro. Expectativa. GPS. São Paulo. Hugo. Chegada. Encontro. Casa. Bagagem. Quartos. Ezequiel. Escolhas. Coirmãos. Reclamações. Vanderlei. Cozinha. Bunda. Café. Paulinho. Pão. Louco. Padaria. Adriano. Praia. Chuva. Raios. Erik. Compras. Fartura. Cacildis. Bedê. JBL. Sertanejo. Brega. Luís. Churrasco. Praia. Mar. Gelo. Gustavo. Cerveja. Sono. Descanso. Lindinho. Padre. Risadas. Confraternização. Milton. Areia. Barraca. Côco. Camarão. Allyson. Ondas. Caldo. Marola. Denílson. Cachaça. Cerveja. Peixe. Coirmãos. Cantoria. Ubatuba. Despedida. Oração.


E S PA Ç O D O S S E M I N A R I S TA S por Sem. Ramon Aurélio e Sem. Natanael Ferreira

Abertura dos trabalhos na Formação Celebração Eucarística do Bom Propósito e início da etapa de formação Pré-Seminário Interno I e II No dia oito de fevereiro de 2019, na residência da comunidade de Teologia, São Justino de Jacobis, no bairro Santa Cruz, em Belo Horizonte, com muito júbilo demos início oficialmente às atividades das casas de formação. Foi um momento ímpar para a Província Brasileira da Congregação da Missão. A cerimônia foi presidida pelo Padre Eli Chaves, e teve a participação dos formadores Pe. Denilson Matias (Teologia), Pe. Wilson Alzate (Propedêutico e Filosofia), Pe. Luiz Roberto (Seminário Interno) e os coirmãos presbíteros Pe. Wellington Martins, Pe. Juarez Carlos, Pe. Sebastião Carvalho, Pe. Raimundo e o diácono Allysson Garcia. O momento foi de oração pela ocasião do Bom Propósito, encontro entre amigos e momento oportuno para fortalecer os laços entre os membros de nossa Congregação da Missão. Devemos sempre recordar os motivos bons que nos unem, pois recordar é viver, e viver é celebrar. Por isto, é importante recordar que o motivo desta data que é o compromisso do Bom Propósito. O Bom Propósito é para nós estudantes a antessala que nos prepara para os Votos Perpétuos, no âmbito em que fazemos uma promessa de viver estabilidade, a castidade, a pobreza e a obediência na Congregação da Missão. Nesta cerimônia simples, Seminaristas que emitiram o Bom Propósito pela primeira vez

os seminaristas expressaram o desejo mais pleno e profundo de viver em conformidade com a vontade de Deus, dando testemunho verdadeiro a partir do serviço generoso e compassivo junto dos Pobres. Portanto, é necessário que se levem sempre em consideração “os valores e os desafios que estes votos implicam” (RF, p. 24). Padre Eli Chaves, em sua homilia, afirmou que “o bom propósito é: este caminho pedagógico que ajuda o coirmão admitido a introduzir o jeito vicentino de ser”. Sendo assim, na celebração eucarística emitiram o Bom Propósito pela primeira vez, os seminaristas: Alexandro Geraldo, CM (Santa Bárbara-MG), Cleber Teodósio, CM (Fortaleza-CE), Michel Araújo, CM (Bambuí - MG) e Ramon Aurélio, CM (Santos Dumont-MG). (Logo após renovaram o Bom Propósito os seminaristas: Daniel Nhomkué, CM (Natia-Monapo ‘Nampula’, em Moçambique), Louis Francescon, CM (Pains-MG), Minês Taruma, CM (Tropene-Memba ‘Nampula’, Moçambique), Túlio Medeiros, CM (Patos - PB). Foram acolhidos com muita alegria também na comunidade São Justino de Jacobis os seminaristas: Jardel Santos (Teixeira de Freitas-BA), Luiz Carlos (Rio de JaneiroRJ), Leonardo Almeida (Campo Grande-MS) e Raimundo Nonato, (Massapê-CE).


Foto: Enviada por Ramon Aurélio

Seminaristas do Noviciado, com o seu formador, Pe.Luiz Do Prado Seminaristas da filosofia, com o seu formador, Pe. Wilson Alzate

Nesta mesma ocasião da emissão do Bom Propósito, durante a celebração Eucarística rendemos graças a Deus, por mais um ano que se inicia com atividades formativas do Pré-Seminário Interno I e II (Propedêutico/Filosofia). Assim sendo, com imensa alegria acolhemos os estudantes de filosofia e apresentamos os jovens vocacionados que ingressam este ano na comunidade do Instituto São Vicente de Paulo. Na etapa Pré-Seminário Interno I são: Hálesi Carvalho Gomes, de Antônio Dias-MG; Iúri Rocha de Sena, de Carinhanha-BA, Lucas Pessoa de Itapuã do Oeste-RO; Marcos Ferreira da Silva, de Angelim-PE; Paulo Marques Silva Souza, de Campos Altos-MG; Yuri César Ferrari Silva Goulart, de Belo Horizonte-MG. E na etapa Pré-Seminário Interno II: Yúri César Silva de Jesus, de Santa Bárbara - MG, Mário César de Barros Gonche de Rezende-RJ e Natanael Ferreira da Silva de Brumadinho– MG. Foi um momento festivo, de fortalecimento da amizade, de união entre as casas de formação, além é claro de ser um momento enriquecedor em partilha e de comunhão no qual pudemos cativar a cada pessoa

presente. Na ocasião participaram membros da Família Vicentina, as nossas jovens e adoráveis Iveta e Helena (que não poderiam faltar não é mesmo!?). Também contamos com a presença da professora de música Eliane, da comunidade da paróquia do Pai Misericordioso. E é claro, em nossa missa de abertura não poderia deixar de estar presente o Seminário Interno Interprovincial São Gabriel Perboyre, que, com a graça de Deus, conta com a presença de 11 seminaristas, sendo 5 seminaristas da CMPS, 3 da PFCM e 3 da PBCM. São eles: Alisson Medeiro, CM (Foz do IguaçuPR), Allan Ferreira, CM (Mariana-MG), Anderson Ferreira, CM (Abaetetuba-PA), Djony Noel, CM (Cap-Haitien – Haiti), Elpídio Júlio, CM (Paranaguá-PR), Fábio da Silva, CM (Barroso-MG), José Willian, CM (Fortaleza-CE), Junior Oliveira, CM (Iranduba-AM), Karlo Sltolte, CM (Itaiópolis- C), Leonardo Ubrich, CM (MafraSC). Após a missa houve um momento de recreação e partilha, em que os estudantes, convidados e formadores puderam conversar sobre as esperanças, alegrias e motivações para mais um ano formativo que damos início.

Fatos curiosos sobre os Seminários em 2019 Excesso de Yuris: Ao ligar para a casa do Instituto São Vicente de Paulo, diga nome e sobrenome do seminarista Yúri/Iúri com quem gostaria de falar, visto que são três seminaristas com o mesmo nome, além do funcionário da casa que também se chama Este ano segue-se uma dinâmica internacional, pois existem seminaristas do Brasil, de Moçambique e do Haiti. É possível que a oração Esperança de Israel que tanto rezamos na capela Dom Viçoso às terças-feiras esteja fazendo efeito. São 32 estudantes nas três casas de formação. Continuemos a rezar! O Pré-Seminário Interno I e II contribuem com trabalhos apostólicos na paróquia Nossa Senhora de Fátima em Contagem, junto com dois teólogos. E os seminaristas do Seminário Interno e da Teologia colaboram nos serviços pastorais da paróquia missionária Pai Misericordioso, no bairro Paulo VI. Além, é claro, de assumirem trabalho em pastorais específicas, como as sociais, e de forma muito especial o apostolado junto à Família Vicentina. INFORMATIVO SÃO VICENTE 17


PA S T O R A L V O C A C I O N A L

Por Pe. Eli Chaves

Por uma Cultura Vocacional na Congregação da Missão A pastoral vocacional muito além do simples recrutamento

O papa São João Paulo II, em 1994, ao enviar a mensagem para o Dia mundial de Oração pelas Vocações, se referiu à urgente necessidade de uma cultura vocacional. É preciso passar de um trabalho funcional de pastoral vocacional, para uma ação que penetre a vida de todos os cristãos, que favoreça repensar a vida como serviço e que as comunidades desenvolvam um processo educativo vocacional. Rezar e trabalhar para conscientizar todos os cristãos de que a vida é uma vocação, um projeto a ser acolhido e desenvolvido ao longo da existência. Isto requer uma nova mentalidade que desperte não apenas para a vocação específica (presbiteral, consagrada), mas abra horizontes de missão para compreender que a fé se insere na dinâmica do chamado-resposta, que insere a pessoa numa realidade de serviço e generosidade à plena gratuidade de Deus. Embora um pouco tardio, mas ainda em boa hora, o tema da Cultura Vocacional ganha agora destaque entre nós da Congregação da Missão. A cultura vocacional vicentina se funda e se constrói em Cristo Evangelizador dos pobres, que nos chama a evangelizar os pobres. Cultura vocacional é vocacionalizar toda nossa vida e missão em Cristo Evangelizador dos pobres, nele encontrando e vivendo com alegria o sentido de nossa vida e missão. É abraçar a vocação como dom e responsabilidade; dom que Cristo faz a quem Ele chama e resposta de quem é chamado através de uma vida que busque conformar-se com os valores do Reino. Cultura vocacional é encaminhar e desenvolver todas as atitudes, compromissos e estruturas pessoais e comunitárias dentro de um autêntico processo de discipulado, na decidida busca de fazer da vida uma memória viva da forma de existir e atuar de Jesus, o Verbo encarnado, junto aos pobres e a serviço dos pobres. Constrói-se uma cultura vocacional vicentina 18 INFORMATIVO SÃO VICENTE

quando se desenvolve em profundidade uma práxis ou um estilo de vida centrado em Cristo evangelizador dos pobres, capaz de transfigurar a vida e a missão vicentina, tornando-a evangélica e coerentemente destinada aos pobres e historicamente capaz de despertar as pessoas para o amor aos pobres, os preferidos de Deus e destinatários privilegiados do Reino. D u a s i m p o rt a n t e s o b s e r v ações para a compreensão e promoção da cultura vocacional vicentina:


1. Promover a cultura vocacional não se reduz a uma política de intensificação e priorização da Pastoral Vocacional, para superar o grande problema da redução numérica de vocações. Cultura vocacional não diz respeito apenas à Pastoral Vocacional. É verdade que necessitamos de novas vocações para a continuidade da missão, na Congregação da Missão. Também é verdade que é indispensável “ter vocação”, cultivar a vocação e nela perseverar, para continuar na missão dentro da Congregação. Promover a cultura vocacional vicentina é revitalizar nossa vocação para que ela se torne um sinal profético de amor e serviço aos pobres; é criar um modo de pensar, sentir e de agir que seja capaz de despertar o mundo para o amor preferencial de Cristo pelos pobres, para relações fraternas, solidárias e justas, em vista da vida em abundância para todos. Promover a cultura vocacional não é afirmar identidades grupais, isoladas, fechadas e que se afirmam em valores e padrões resgatados do passado; não é buscar segurança em devocionismos e costumes ultrapassados, nem tão somente sofisticar o marketing vocacional. A cultura vocacional é fruto de uma atenta escuta, de um evangélico discernimento e uma atualizada resposta aos apelos de Deus presente nos pobres, que nos chamam à conversão e a um compromisso transformador. Transfigurar e consolidar toda a vida pessoal e comunitária, todas as atividades e estruturas da Congregação, a partir da centralidade de Cristo evangelizador dos pobres, este é o caminho para o surgimento entre nós de uma cultura vocacional vicentina. 2. Promover a cultura vocacional vicentina é pensar a Pastoral Vocacional fora do enfoque restrito e funcionalista de buscar apenas recrutar candidatos para a Congregação da Missão. É preciso superar a ‘lógica do recrutamento’ de jovens para a Congregação e cultivar a ‘lógica do testemunho’, que desperta as pessoas para acolher o chamado de Deus e nos torna mediadores de Deus que chama. A lógica do recrutamento visa a sobrevivência e, quando a vida missionária vicentina se compõe de membros que são recrutados e não vocacionados, a tendência é negar com a prática o Foto: Oficina de Comunicación CM

que é dito com belos discursos e boas intenções. A pedagogia vocacional deve partir do testemunho vocacional, que leva à profecia. A vida consagrada tem a missão de fazer com que resplandeça a forma de vida de Cristo, na Igreja e no mundo. O testemunho de ardoroso e sincero serviço missionário aos pobres é o meio principal capaz de interpelar o mundo, a própria Igreja e despertar em novas pessoas o seguimento de Cristo. Aqui está a base para uma ação pastoral específica que busca despertar, discernir e acompanhar os jovens para responder ao chamado de Deus no seguimento de Cristo, através de diversos modos na Igreja, na Família Vicentina e, específicamente, na Congregação. Chamados por Cristo e destinados ao serviço missionário dos pobres, este é o eixo fundamental de nossa vocação, a partir do qual somos desafiados a desenvolver um modo sólido e coerente de ver, sentir, pensar e orientar toda a nossa vida, e tornarnos dentro da Igreja e da sociedade um sinal e instrumento do amor compassivo de Cristo pelos pobres. Aqui está a base da cultura vocacional a ser sonhada e buscada por nós. Em conexão com esta referência, entendemos o que São Vicente pedia em sua oração: “Todos os dias peço a Deus, três ou quatro vezes, que nos aniquile se não formos úteis para a sua glória” (XI, 698). INFORMATIVO SÃO VICENTE 19


AÇ ÃO SOCIAL

Por Vera Bonfim* e Débora Finamore**

CPF - Uma experiência ímpar entre pares Breve relato sobre o retorno do Projeto CPF ao Sertão Baiano Foto: Sacha Leire

da-feira, quando nos reunimos pela primeira vez, no Colégio Estadual Anísio Honorato Godoy, com o grupo de professores, coordenadores e diretores da Secretaria Municipal de Educação de Serra do Ramalho, sob a coordenação da secretária, a professora Maria Aparecida Rosa.

No caminho, já pudemos sentir o acolhimento carinhoso do povo da cidade, com saudações e votos de sucesso no trabalho que se iniciava. A recepção aconteceu no ginásio desse colégio, onde a equipe dos voluntários se encontrou com um grupo de aproximadamente 600 proProfessoras Débora e Vera concedem entrevista para documentário sobre o projeto CPF fissionais, acomodados em um local claro, com acústica ruim e calor intenso. Não O convite chegou a nós inesperadamente: retorobstante, todos assistimos à palestra inaugural, que nar à Serra do Ramalho, com o projeto CPF – Constratava da “trajetória dos módulos” da primeira parte truindo e Preparando o Futuro, para iniciar nova do CPF, atentos, e orgulhosos por termos feito parte etapa de trabalho voluntário com profissionais de daquela jornada. educação daquele longínquo município do oeste da Seguiram-se a esse primeiro encontro, outros Bahia. Entre felizes e assustadas, aceitamos o desaquatro, nos quais se tratou de “liderança”, “escola e fio. parcerias”, “caminhos” e “descobertas na Partimos do Rio, em um janeiro escaldante, com educação”. Na parte da manhã, eram realizadas paa curiosidade natural de quem há muito não visita a lestras no ginásio, e, na parte da tarde, os 600 procidade e desconhece os rumos que a educação trifessores ramalhenses se reuniam em grupos divididos lhou em pouco mais de oito anos. A viagem de ida entre os 27 professores voluntários. No turno da tarreservou-nos duas agradáveis surpresas: o acolhimende, com grupos menores, é que pudemos constatar to afetuoso em Brasília e a melhoria incontestável das que nossos colegas estavam muito mais articulados e estradas que cortam o sertão, em direção a nosso críticos do que há oito anos quando se deu a primeidestino. ra parte do projeto CPF. Chegamos à Serra no amanhecer de um dominEssa primeira parte do CPF, tema da palestra de go ensolarado. Estávamos cansadas, mas cheias de abertura, ocorreu entre os anos de 2006 e 2010, e expectativas quanto ao que iríamos encontrar. E, reconsistiu exatamente em dar corpo ao Projeto Polítialmente, nos deparamos com uma cidade bem difeco Pedagógico (PPP) da rede municipal de Serra do rente daquela que tínhamos conhecido anteriormenRamalho. Foram realizadas, num período de cinco te. Por toda parte reconhecemos sinais de algum anos, dez etapas de trabalho, nos meses das férias progresso, como ampliação do comércio e da rede escolares. de serviços. Assim, entre 2006 e 2010, fomos para a Bahia, Após um dia de descanso, planejamento e celecomo voluntárias, doar e receber conhecimento de bração, o trabalho começou efetivamente na segunnossos colegas ramalhenses, pois, embora, como 20 INFORMATIVO SÃO VICENTE


Foto: Sacha Leire

Pe. Mól discursa, para 600 ptofessores, durante a abertura do Projeto CPF

educadores, nossos propósitos sejam os mesmos – preparar estudantes transformadores –, nossas realidades são diversas. E, sabemos, diversidade promove saberes.

da educação em Serra do Ramalho. Em outras palavras, nos reuníamos para ouvir dos professores que ganhos profissionais eles tiveram e com que deficiências ainda se deparam.

Dos muitos projetos sociais da PCBM (Província Brasileira da Congregação da Missão), o CPF – nessa primeira parte – teve especial importância para nós, professoras do CSVP (Colégio São Vicente de Paulo – RJ) que tivemos a oportunidade de participar da elaboração do PPP do CSVP. Por isso, ficamos felizes quando fomos convidadas a participar da segunda parte do CPF, cuja estrutura foi traçada em uma reunião preliminar em novembro de 2018, na qual se decidiu que serão realizadas, no período de três anos, seis etapas de trabalho, nos meses das férias escolares, além de algumas atividades intermediárias para contemplar o pessoal de apoio das escolas.

Nesta segunda parte do CPF, a receptividade dos professores emocionou-nos muito, sobretudo porque soubemos que não tinham recebido o salário de dezembro e o percentual de férias. Para agravar a crise, estavam trabalhando gratuitamente no período das férias escolares. Segundo depoimento de vários profissionais, o respeito ao projeto CPF motivou-os a participar, mesmo em condições adversas. Esta foi uma importante avaliação positiva de nosso trabalho.

Para janeiro de 2019, ficou combinado que os primeiros encontros objetivariam uma avaliação diagnóstica da primeira parte do projeto, buscando perceber os ganhos dos profissionais envolvidos na etapa anterior (2006-2010) e as deficiências a serem resolvidas (2019-2021). Deste modo, as palestras da manhã fundamentavam as reuniões da tarde, quando nos reuníamos com pequenos grupos de professores da rede ramalhense para avaliar o desenvolvimento

Outro depoimento nos confirmou o valor positivo de nosso trabalho: em resposta a nosso elogio de que eles, após oito anos, se mostravam mais articulados, menos tímidos, um professor nos disse que eles não tinham perdido a timidez, tinham se livrado do medo. Encontramos, pois, educadores transformados, que se nos revelaram ainda mais aptos a realizar o propósito maior da educação: preparar estudantes transformadores. A diversidade dos saberes nos confirmou que o trabalho com nossos pares será sempre uma experiência ímpar.

* Doutora em Língua Portuguesa pela UERJ e professora do CSVP há 25 anos ** Mestra em Literatura pela UFRJ e professora do CSVP há 18 anos

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FAMÍLIA VICENTINA

por Diác. Hugo Barcellos

Santas Missões Populares Vicentinas A Missão no Vale do Jequitinhonha e seus frutos Depois de um ciclo de missões no estado do Rio de Janeiro, as Santas Missões Populares Vicentinas (SMPV) regressam às terras mineiras, para o já conhecido e querido Vale do Jequitinhonha. Vale das belezas naturais exuberantes, da diversificada fauna e flora, dos lajedos, das serras, da rica cultura popular, do artesanato, da profunda religiosidade e do senso do sagrado que influenciam a vida e a forma de seus moradores se relacionarem com o mundo e o perceberem. Vale do povo da esperança, acolhedor, de sorriso largo, que ama o que é e que cultiva o que tem, com poesia, música e arte. Apesar de estar longe de ser o vale da miséria ou da pobreza, como muitos o consideram, há dramas, não podemos negar, que marcam a vida de seus habitantes, como daqueles que precisam migrar, temporária ou definitivamente, com o sonho de vida melhor; ou dos que, por falta de água, veem perder-se as sementes lançadas à terra. O Vale tem sido, muitas das vezes, esquecido pelos poderes públicos, que não veem nele um potencial lucrativo. Mas é o vale da santidade. Dos infinitos santos e santas pacientes “ao pé da porta”, como diria o papa Francisco, “daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus.” Assim, podemos afirmar, contemplamos Deus nestes dias, em tantos rostos, histórias, sorrisos e lágrimas, fé, esperanças, resistências e lutas. Foi na paróquia São Roque, diocese de Araçuaí, na simpática cidade de Itaobim, banhada pelo rio Jequitinhonha e cortada pelas rodovias federais 116 e 367, que a Família Vicentina, entre os dias 12 e 26 de janeiro, celebrou as Santas Populares Missões Vicentinas este ano. Cerca de 80 missionários, pertencentes aos diversos ramos da Família Vicentina: o MISEVI, a Sociedade São Vicente de Paulo, as Filhas da Caridade, as Irmãs de Gysegem e a Congregação da Missão; assim como leigos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Monteiro, de Campo Grande – RJ, missionada nos anos de 2017 e 2018; e o Padre José 22 INFORMATIVO SÃO VICENTE

Antônio, do clero de Belo Horizonte, formaram as 12 equipes que visitaram todas as comunidades da paróquia São Roque. Nem o intenso sol e o forte calor, como nenhum outro desafio, foram impedimento para que as SMPV acontecessem. Para além dos encontros com crianças, jovens, famílias e lideranças, das celebrações da Eucaristia e da Palavra, dos momentos de oração, de procissão, de reza do Terço e de outras atividades, destacamos as visitas domiciliares como o ponto mais forte, marcante e fundamental de todo esse processo. Nas visitas, a complexa realidade vai sendo desvelada, os apelos de Deus são ouvidos e o longo caminho que a Igreja é chamada a percorrer é manifestado. Embora seja um município com cerca de 21 mil habitantes, Itaobim traz questões muito desafiadoras: facções criminosas disputam territórios, há grande número de dependentes químicos, moradores de rua, andarilhos, idosos que moram sozinhos, deficientes sem amparo, famílias inteiras desempregadas, jovens sem perspectiva, prostituição infantil, crianças em situação de vulnerabilidade, entre outras. No entanto, também encontramos pessoas que acreditam na força do Evangelho, comprometidas com o próximo e sedentas pelo Reinado de Jesus. Trazemos, em nossa memória e no coração, os vicentinos e os leigos de outros movimentos e pastorais que se desdobraram para que as SMPV acontecessem, trabalhando na cozinha, arrumando suas casas para nos acolherem, acompanhando-nos nas visitas e nos ajudando na compreensão daquilo que vivenciamos. Face a tudo o que foi vivido nesses dias, fica a pergunta: e agora, quais serão os frutos desta nossa missão? Certamente seria pretensioso querer mencioná-los, uma vez que o “Espírito Santo sopra onde quer” e que também é “Deus o responsável por fazer crescer todas as sementes lançadas”. Mas aqui, ousamos partilhar alguns elementos essenciais. Em um primeiro nível, os frutos, sem dúvida, são as amizades construídas, o testemunho que cada


missionário deixou e recebeu, as lembranças de momentos marcantes, a alegria vivida e compartilhada, o enriquecimento que, em si, as SMPV nos oferecem a partir do contato com outra realidade e cultura. Mas não podemos limitar as SMPV a este nível primário. Pois se assim fizermos, as missões serão reduzidas a um evento. Há, pois, um segundo e importantíssimo nível, que incide na vida pastoral da comunidade missionada. As SMPV, pela sua própria dinâmica, dão o testemunho de uma Igreja ministerial, na qual leigas e leigos, consagradas e consagrados e ministros ordenados, assumem, vivem suas vocações e dão testemunho dela. Inserem-se na realidade como sal, fermento e luz. Fazem crescer a consciência da necessidade de sermos uma Igreja em saída, em constante estado de conversão, Igreja pobre e para os Pobres, profética e servidora da humanidade. Durante nossas visitas, entre uma casa e outra, nos momentos de oração, nas reuniões, assim como na avaliação final, ficou clara a percepção dos missionários locais sobre a importantíssima necessidade de que as pastorais e os movimentos assumam estas visitas como atividade a ser realizada constantemente. Muitos se emocionaram conosco ao se depararem com “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias” de tantos homens, mulheres, jovens, idosos e crianças, que viram em nós um alento, uma esperança e uma oportunidade para partilhar suas vidas. Tendo visto e ouvido tais apelos, não podemos passar adiante, sobretudo nós, da Família Vicentina,

comprometida, pela força do carisma, com a promoção dos mais pobres. É indispensável que respondamos a tais interpelações, de maneira efetiva, como o bom samaritano, que, ao deparar-se com o necessitado, não prosseguiu o seu caminho sem que dele se compadecesse e com ele se comprometesse. A etapa da pós-missão é momento de integração dos níveis pessoal, eclesial e social. É tempo de florescimento de relações interpessoais saudáveis, de reconhecimento das alteridades, para que nossas comunidades, movimentos e pastorais sejam lugar de autêntica vida cristã, de completa abertura e de acolhida do outro. Para que a eclesiologia do Concilio Vaticano II, expressa de modo tão veemente no magistério de Francisco, se consolide e confirme, são com paróquias de identidade missionária, como foi em sua gênese. Uma comunidade que se insere, sem medo, nos meios públicos e políticos, fazendo ecoar uma voz profética que reivindica o bem comum, e que assume, nesses espaços, um caminho de autêntico discipulado de Jesus. Louvamos a Deus pela vocação de cada missionário, local e da Família Vicentina; pelo Padre Fernando e por toda a Paróquia São Roque, pela calorosa acolhida; pelas pessoas que encontramos, que, na partilha de suas vidas, nos revelaram o rosto de Deus. Que o Senhor “complete em nós a obra começada” e que, pela intercessão de São Vicente, permaneçamos firmes, entusiasmados, disponíveis e esperançosos em nossa missão de evangelizar os Pobres, “um serviço tão grande, que é, por excelência, o ofício do Filho de Deus”.

Roselene Avellar, missionária leiga, em visita a uma família de Itaobim Foto: Sacha Leire


PERFIL (IN MEMORIAM)

Por Padre Lauro Palú

Pe. Wilson Belloni, CM Uma caminhada de paciência, coragem e silêncio

Foto: Edelmar Lima

Pe. Wilson e Vicente, histórico personagem do Santuário do Caraça

Faltavam poucos dias para os 60 anos de padre, quando o Pe. Wilson viajou para Belo Horizonte, bem necessitado de assistência médica e hospitalar. Iríamos fazer-lhe a festa mais que merecida, após seu retorno, mas não... Pe. Wilson Belloni nasceu em Belo Horizonte, dia 25 de agosto de 1933, de Umbelina Librelon Belloni e Armando Belloni. Como outros meninos e adolescentes que tiveram a sorte de nascer perto da paróquia de São José do Calafate, Wilson teve contato com a Congregação desde cedo, na tranquilidade de um bairro modesto, pacato, de gente esforçada e alegre, trabalhadora e produtiva. Sorte também ao ser apresentado ao ideal sacerdotal, tendo sido orientado pelos Coirmãos da paróquia e pouco depois encaminhado com muitos colegas para o Caraça. Foi no Caraça que o conheci, quando os Estudantes de Petrópolis vieram de férias em nossa Casa e no Engenho. Depois o revi quando fui para o Seminário Interno em Petrópolis, onde estava quase terminando os estudos e sua formação. Fez o primário no Grupo Escolar Caetano Azeredo, em Belo Horizonte, o ginásio e o clássico no Caraça, de 1945 a 1950. O Seminário Interno em Petrópolis, em 1951 e 1952. Filosofia e Teologia, de 1953 a 1958. Foi ordenado Diácono no início de 24 INFORMATIVO SÃO VICENTE

1958, por Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra, e Sacerdote aos 28 de setembro de 1958, por Dom Hélder Câmara, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. Eram muito os Diáconos e Dom Hélder olhava com carinho para cada um, quando lia as exortações do ritual: “Caríssimos...”. A ordenação demorou muito, mas tocou fundo o coração de quantos tiveram a graça de participar da cerimônia. Seus companheiros de Ordenação: Pes. Antônio Gomes, Célio Dell'Amore, João Bosco Lomônaco Mendes, Argemiro Moreira, Dario Nunes. Trabalhou dois anos no Seminário Menor de Mariana, disciplinário e professor; dois anos e meio no Seminário Menor de Assis, disciplinário, professor e diretor espiritual. A segunda parte de seu ministério, 40 anos (1963-2003), em Irati, no Colégio São Vicente de Paulo. Nesse tempo, em várias férias, revalidou o curso de Filosofia e habilitou-se para o ensino de Psicologia e História, na Faculdade Dom Bosco, de São João del Rey, em 1972. Em 1977, formou-se em Administração Escolar de 1º e 2º grau. Os títulos o habilitaram como secretário, professor, disciplinário e enfim diretor a partir de 1974. Em 1978, começou a lecionar sociologia e latim, na Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Irati. Marcou esse tempo pela qualidade de sua atenção às pessoas, sua ale-


gria, delicadeza, fidelidade aos amigos e gratidão aos que o ajudavam. Até o final da vida, ex-alunos e seus pais e professores lhe escreviam, recebiam as cartas e os cartões de boas festas dele, comunicavam-se com ele por telefone e vinham visitá-lo no Caraça. Dirigiu o Caraça a partir de 2004, até julho de 2014, quando lhe sucedi. Ainda foi nomeado para o Curato de Nossa Senhora das Graças, que engloba as comunidades da Baixada Caracense: Santana do Morro, Sumidouro, Brumal, Nossa Senhora Aparecida e Barra Feliz (São Bento). Quando as atividades começaram a pesar-lhe, foi substituído no Curato pelo Pe. Hélio Correia Maia. Seu ministério no Caraça se caracterizou pelo cuidado com que preparava suas homilias, pelo jeito manso, próximo e bondoso de sua pregação, pela comunicação simpática e imediata. Nos últimos tempos, sua pregação lembrava muito o que contam de São João Evangelista: sua recomendação frequente do amor, que repetia mil e mil vezes: 'Filhinhos, amai-vos uns aos outros'. A limitação física o fez descer para junto dos fiéis, apoiarse no primeiro banco, fazendo ali sua pregação familiar, coloquial, extremamente simples e delicada. (Em anos anteriores, uma peregrina do Rio de Janeiro classificou sua homilia como ardente). Nunca o ouvi enfeitar suas expressões, procurar figuras, impressionar. Foi a simplicidade de São Vicente, o modo de falar ao coração das pessoas, quando já não possuía a força da juventude e da maturidade. Era especial sua ajuda como confessor, pela paciência, atenção no ouvir (até que os ouvidos começaram a lhe falhar e não se adaptou aos aparelhos que os sobrinhos lhe procuraram e tentaram adaptarlhe). A limitação do ouvido foi uma dificuldade que muitos sentiram, como as funcionárias do Caraça, quando parou de responder ao bom-dia carinhoso que lhe diziam. Não lhes custou desculpá-lo, não o censuraram, mas sentiam falta do sorriso, da palavra, da brincadeira. Em sucessão rápida, na Casa Dom Viçoso e no Hospital Madre Teresa, tratou um inchaço nos tornozelos, pneumonia, finalmente um acidente vascular cerebral e uma trombose, com que concluiu sua caminhada de paciência e dor, de coragem e silêncio. Nos últimos meses de Caraça, foi especialmente apoiado por Terezinha Ribinski, que o ajudara em Irati no secretariado do Colégio. Nesta última temporada, a dedicação constante da Terezinha reani-

mou o Pe. Wilson, deixou-o mais desperto, interessado no que lhe dizia respeito, mais disposto. Mas de fato era a última fase de sua vida. Foram dias em que não queria comer, beber nada. Para quem o conheceu e o admirou em seu vigor, foi muito triste ver como um organismo sadio e uma organização mental forte e resistente iam perdendo-se e decaindo, e seus Coirmãos e amigos não podiam fazer nada para interessá-lo, puxar conversa, fazê-lo reviver sua alegria, sua presença de espírito. A Província e a Comunidade do Caraça agradecem muitíssimo à Terezinha sua ajuda e amizade. No dia 28 de dezembro, dois grupos (funcionários do Caraça e fiéis do Curato) foram à Belo Horizonte para a missa de corpo presente e o sepultamento. No dia 3 de janeiro, no Caraça, celebramos a Missa no 7º dia da morte do Pe. Wilson, para os Funcionários e hóspedes. Na homilia, destaquei algumas qualidades dele: Menino brioso, bom jogador de futebol (antigamente, formando dupla de bons defensores e atacantes com o Pe. Antônio Gomes...), não aceitava facilmente ajuda dos outros; caprichoso no que fazia (por exemplo na preparação da homilia, como as comunidades do curato puderam perceber); zeloso das coisas da Casa, como das plantas dos vasos do claustro. Não era escrupuloso, mas, numa 2ª feira, quando por alguma razão não fizemos a novena perpétua da Medalha Milagrosa, eu o vi, depois, na igreja, rezando sozinho as orações e lendo o trecho correspondente ao dia da novena. Bondoso, conquistava os corações e irradiava simpatia, e sabia manter unidos os corações dos seus amigos, com as cartas que lhes escrevia. Atento à beleza do que fazia, era comunicativo, depois de superada e vencida a natural timidez. No período final de sua vida, teve que ficar um pouco teimoso, para obedecer aos médicos. Quando começou a comer cada vez menos, podíamos insistir, mas não saía da dieta prescrita. Na missa do 7º dia, ressaltei a fidelidade dele aos amigos, conquistados nos 14 anos finais da vida, no Caraça, e nos 40 de Irati. Deixou um nome abençoado no coração dos Pobres, com quem era sempre muito respeitoso e comprometido. Foi sepultado no jazigo da Família, em Belo Horizonte. Na glória do céu, só tem duas coisas para fazer: Louvar e adorar Deus e proteger a Família dele, seus Coirmãos e seus Amigos.

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C OT I D I A N O P ROV I N C I A L I I

por Sacha Leite

1º Simpósio Provincial de Comunicadores O Instituto São Vicente receberá evento de três dias dedicados à comunicação vicentina

A Comunicação é uma necessidade básica do ser humano. Se conscientes, não permanecemos um segundo sequer sem obter impressões, que geram interpretações involuntárias sobre a realidade. Este fenômeno emocional e cognitivo de captação e expressão é objeto de estudos de antropólogos, psicólogos e cientistas sociais. Mas o tema conta hoje com a utilização de não-especialistas, pessoas que dispõem das mesmas ferramentas expressivas de divulgação, impulsionamento e alcance de ideias, eventos e produtos. Há quem diga que uma estratégia decisiva para a vitória do presidente do Brasil tenha sido a implantação de notícias falsas, difamatórias, a respeito de seus opositores. O assunto está sendo investigado pelas instituições cabíveis, mas é interessante observar a dimensão e o efeito que o uso de ferramentas de comunicação virtuais pode causar.

com a valiosa ajuda, expertise e olhar amoroso dos comunicadores presentes. Além disso, o Simpósio será uma oportunidade de atualização, já que contará com a participação de profissionais de Comunicação atuantes no mercado. Quais são os veículos vicentinos disponíveis? Quais são as suas características? Quem são os produtores e os leitores? Como são avaliados? Devemos ter atenção especial com algum tipo de comportamento? Quais são as práticas mais benéficas para os vicentinos? Como priorizar a atualização sem perder o foco nos pobres?

A fim de acompanhar esse crescimento e verificar as melhores formas de inserção virtual, a Província Brasileira da Congregação da Missão promoverá o I Simpósio Provincial de Comunicadores Vicentinos. Previsto para os dias 7, 8 e 9 de junho de 2019, no Instituto São Vicente de Paulo (BH), o encontro servirá para colocar em pauta as práticas de Comunicação na Província.

O evento será destinado à pessoas que trabalham com atividades associadas à Comunicação na Província. São elas: representantes das Pastorais de Comunicação (PASCOM) das paróquias; profissionais contratados da área de Comunicação (ex: CSVP e Caraça); responsáveis por redes sociais, boletins informativos, jornais e outros meios de comunicação das obras da Província; membros da equipe provincial de Comunicação; coirmãos interessados pelo tema; comunicadores da Família Vicentina dos ramos de Belo Horizonte.

O objetivo está em apresentar, analisar e buscar melhores soluções para os problemas vivenciados em cada obra, aproximando os comunicadores da PBCM e formando uma rede de cooperação. As palestras, debates e oficinas terão o objetivo de trazer luz aos veículos vicentinos, debater sobre os processos vivenciados e acessar casos inspiradores, possibilitando a visualização de pontos em comum e distinções. Depois das apresentações listaremos os aspectos críticos e os gargalos, que poderão ser solucionados

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Depois desse diagnóstico, partiremos para a formação de uma rede provincial de comunicadores vicentinos, onde partilharemos nossas produções impressas e digitais e pensaremos maneiras conjuntas de melhor difundir o carisma vicentino por meio de uma comunicação cada vez mais compartilhada.

As temáticas previstas para os três dias de conferências são “Como criar sua rede social sob a perspectiva vicentina”, “práticas de publicação sob a perspectiva vicentina” e “ estratégias de colaboração para os veículos de comunicação”. Além desses eixos temáticos norteadores os encontros contarão com coffee-break, momento de espiritualidade, re-


São Vicente foi um grande comunicador, ao longo de sua vida, escreveu cerca de 30 mil cartas e proferiu centenas de conferências. Ele reconhecia a importância da comunicação constante e atenta, e a recomendava como instrumento fundamental de evangelização. "Fazer os pobres conhecerem a Deus, anunciando-lhes Jesus Cristo, dizer-lhes que o Reino do Céus já chegou e que este reino é para eles. Como isso é grande!" (São Vicente de Paulo)

feições e eventos culturais. Os comunicadores que participarem dos três dias de evento terão direito a receber certificado. Conforme temos observado, A Cúria Geral da Congregação da Missão tem incrementado cada vez mais as suas postagens nas redes sociais e buscado atualizações mais constantes, além de formar melhores comunicadores. Nesse sentido, promoveu, no início de 2018, o primeiro Encontro Internacional de Comunicadores Vicentinos, em Lima, Peru. O I Simpósio de Comunicadores Vicentinos está alinhado a essa proposta e visa contribuir para uma melhora geral na produção dos comunicadores da PBCM. Interessados devem enviar e-mail com assunto “Inscrição” até o dia 10 de maio para o e-mail: informativosv@pbcm.com.br, informando nome, contatos e veículo no qual trabalha*. Para mais informações, ligar para (21) 25561055 e falar com o Ir. Adriano Ferreira (ramal 213) ou Sacha Leite (ramal 214) do departamento de Comunicação Social da PBCM. Também é possível enviar sugestões de temas específicos a serem abordados, dentro do universo da Comunicação, para o mesmo endereço eletrônico. *A Paróquia ou obra que não possuir veículo de comunicação, impressos ou digital, também poderá enviar representantes para o encontro visando a promoção de novas atividades comunicacionais dentro de seu contexto.

São Vicente com uma de suas cartas. Obra do artista sacro francês, Arcabas.


N OTÍCIAS DA PBCM

Casa de Referência em Brumal De 15 a17 de fevereiro de 2019, no Instituto São Vicente de Paulo realizamos novo encontro do grupo CPF – Brumal, nossa Casa de Referência em prevenção, discussão e tratamento da dependência química. O Projeto está ficando bonito. Neste encontro, em particular, olhamos para nós mesmos, motivações, desejos, etc. O próximo encontro será entre os dias 15 a 17 de março na Fazenda do Engenho. Vamos lá gente. Um novo desafio nos aguarda.

CPF de volta à Bahia Nos dias 7 a 11 de janeiro de 2019, o pessoal do Projeto CPF – Construindo e Preparando o Futuro voltou a campo. Em Serra do Ramalho realizamos um grande diagnóstico do Projeto lá realizado entre 2006 e 2012. E traçamos linhas mestras para serem trabalhadas entre 2019 e 2021. Um grupo harmônico, altamente simples e competente, convivência muito fraterna e gentil. Obrigado a todos os voluntários.

Reunião da Família Vicentina Avaliação do CPF No dia 10 de março aconteceu reunião da Família SMPV em Itaobim No dia 23 de fevereiro de Entre os dias 12 e 26 de janeiro de Vicentina dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, na 2019, na Sede Provincial, Rio 2019, foram realizadas as Santas cidade de Jequitinhonha-MG. Tivemos momentos de Janeiro, fizemos a avaliaMissões Populares Vicentinas em de estudos, espiritualidade e convivência fraterna. ção do primeiro módulo do Itaobim - MG. Nossos Missionários, Valeu a pena. CPF em Serra do Ramalho. em grande quantidade, realizaram Um grupo sempre festivo e importantes trabalhos de visitas doTrabalho de campo em Tefé miciliares, encontros diversos, celebra- Durante a Semana Santa, com o Padre dedicado, celebramos nossos trabações, etc. Voltamos felizes aos nossos Geraldo Mól, um grupo de Voluntários lhos e renovamos nossos compromislares e, com algumas certezas: preci- irá a Tefé. Será feito um estudo sobre sos com os colegas professores de samos aumentar, trazer mais pessoas a realidade local. Temos no grupo um Serra. Criatividade não falta. Amor, para o nosso grupo, trabalhar mais em Geógrafo, com experiência em traba- também não. nossa formação pessoal e comunitária, lhos com Indígenas, uma Historiadora, visto que realidades como Itaobim, Psicóloga, Assistentes Sociais, uma Rede Social uma realidade mais rural, nos deixam professora de Artes, e o Seminarista O Facebook oficial da PBCM está prómais confortáveis. Já outros desafios Adalberto. Vamos lá... podemos ajudar ximo a atingir 10 mil seguidores (até o fechamento desta edição estava com urbanos ainda representam grande em quê? 9.644). Ajude a divulgar esse novo desafio para todos nós. E vamos nos espaço provincial de evangelização. preparando para janeiro de 2020. Encontro de Visitadores nas FilipiVisite, compartilhe e deixe seus conas mentários: facebook.com/lazaristasbr Encontro de Coirmãos Jovens De 22 de junho a 8 de julho de 2019, De 18 a 22 de fevereiro de 2019 os vai acontecer o Encontro de VisitadoCoirmãos Jovens se encontraram. Este res nas Filipinas. Nossa Província foi Encontro tem trazido muita alegria à convidada a apresentar nosso proPBCM. Maior união entre os jovens, grama de formação inicial e permatrocas espontâneas de experiências. nente... vamos lá! Conforme relatos, o encontro transcorreu da melhor maneira possível. Votos Perpétuos do Ir. Ezequiel No dia 9 de março, na Comunidade São Judas, da Paróquia Pai Misericordioso, o nosso bom Ezequiel, agora, Irmão Ezequiel Alves de Oliveira, CM, fez seus Votos Perpétuos, com simplicidade, muita alegria e fecundidade. Seja bem-vindo Irmão. Temos muito a fazer. Força. No dia 12 de março, recebeu os Primeiros Ministérios: Leitorato e Acolitato. Muito bem Ezequiel! Que Deus o abençoe.

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Jubileu de Prata do Pe. Juarez No dia 2 de março o Padre Juarez Carlos Soares, CM, juntamente com sua Família e a Família da PBCM, celebrou com esmero e simplicidade o seu Jubileu de Prata Sacerdotal. Ao Padre Juarez, nossa cordial saudação e agradecimento por fazer parte de nossa Família. Grande abraço e que Deus o abençoe sempre.


Foto: Ir. Adriano Ferreira

Foto: Ir. AdrianoLima Ferreira Foto: Fernanda

Sr. Antônio: Funcionário mais antigo da PBCM recebe homenagem Nascido em Virginópolis (MG), Antônio Soares da Silva é funcionário da Província há 61 anos. Por gratidão a este longo período de trabalho e dedicação o Superior Geral da Congregação da Missão e da Companhia das Filhas da Caridade, Tomaz Mavric, concedeu a ele o título de afiliado à Congregação da Missão, recebendo-o como Membro da Família Espiritual Vicentina, no dia 20 de novembro de 2018. Sr. Antônio conta que durante dois anos foi seminarista em Petrópolis (RJ), chegando a fazer votos e a trabalhar como Irmão na PBCM. Em 1959 foi contratado como motorista do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho (RJ), por intermédio do Pe. Horta e do Pe. Salles, Superior Provincial à época. “Gosto muito daqui. Atendo no Colégio e na Casa Central. Tenho muitos amigos no Colégio, e dentre os padres também. Até hoje nunca tive nenhum problema”, lembra o funcionário mais antigo da Casa. Que este reconhecimento sirva para motivar que essa parceria se mantenha coesa e se renove por muitos anos.

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C U LT U R A Dica de Filme: Carfarnaum Direção: Nadine Labaki Lançamento: Maio de 2018

Cafarnaum é um filme sobre as misérias sociais e humanas. A obra nos conta a história de um garoto sírio chamado Zain que está morando no Líbano com sua família: muitos irmãos, péssimas condições de vida, pais abusivos e que pouco se importam, no sentido humano, com os filhos maiores. Esta é a situação do garoto. Sua condição social, suas dificuldades pessoais e comunitárias e as exigências que a vida lhe faz desde cedo trazem para ele uma maturidade precoce que rapidamente entristece o espectador, ainda mais por saber que esta realidade está presente, em graus diferentes, na vida de crianças miseráveis ao redor do mundo, dos refugiados de guerra e de lugares que passaram por desastres naturais e até são vítimas de um sistema socioeconômico e de uma longa série de causas históricas cujo interesse em extinguir a fome e a miséria são nulos ou rasos.

Há um grande desafio humanitário em jogo no filme. O espectador não é apenas colocado em uma realidade social de muita pobreza (no nosso caso, como público brasileiro, não é uma realidade nova. A nossa apenas não está ligada a um contexto próximo de guerra), mas também a um fator cultural e familiar que chamam a atenção. O filme tem a crise de refugiados na Ásia como núcleo e, em torno dessa temática, adiciona ingredientes dramáticos como crime, violência, justiça, empatia com quem precisa de ajuda e relacionamento entre pais e filhos, questões que são passo-a-passo desenvolvidas pelo texto, sempre com os pés na realidade, a respeito do claro fator emocional adotado.

Aqui estão os aproveitadores da exploração dos outros, o roubo, a infância perdida, a fome, a não inclusão das crianças na escola e por aí vai. Como a fotografia segue um caminho que até parece um documentário, nossa imersão nesse ambiente é ainda maior, tendo o seu ponto de afastamento apenas no desfecho, o único ponto talvez um pouco dissonante nesta película.

As atuações do elenco principal são maravilhosas e mostram muito bem a sua perspectiva de olhar o mundo. O roteiro assegura essa visão onde cada personagem ou núcleo de personagens podem agir e enfrentar a difícil realidade da forma que conseguem.

Denso e cheio de situações que nos fazem pensar na vida de milhares de crianças ao redor do mundo, Cafarnaum é uma obra sobre realidades trágicas que podem mudar quando a situação desses indivíduos é reconhecida e eles encontram oportunidade para combatê-las, começando com o reconhecimento de si mesmos como cidadãos. A este ponto chegamos: Além da miséria social, pessoas não são tratadas como pessoas. Por quê? Porque lhes falta um papel “permissivo” que as oficialize como tais. E é a isso que chamamos de “civilização”? Que Cafarnaum continue despertando o sentido da solidariedade, da inclusão social e da promoção da dignidade humana!

Pe. Alexandre Nahass Franco

Dica de Livro: Pedagogia do Oprimido Autor: Paulo Freire Editora: Paz e Terra (62ª Edição)

Para Paulo Freire vivemos numa sociedade dividida em classes, sendo que os privilégios de uns impedem que a maioria usufrua dos bens produzidos e, coloca como um desses bens produzidos e necessários para concretizar a vocação necessária do ser mais, a educação, da qual é excluída grande parte da população do Terceiro Mundo. Refere-se então a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos opressores, onde a educação existe como uma prática de dominação e a pedagogia do oprimido que precisa ser realizada para que surja uma educação com prática de liberdade.

Paulo Freire é caracterizado como um pensador que se comprometeu, além das ideias, com a própria vida, com a própria existência; na Pedagogia do Oprimido ele nos apresenta sua experiência cultivada no exílio durante cinco anos, bem como nos mostra o papel conscientizador da educação numa ação libertadora do próprio "medo da liberdade".

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Foto: Adriano Ferreira, CM

Foto: Adriano Ferreira, CM

Memória da Província

CSVP ainda em construção - 1958 - Corcovado visto da rampa

CSVP 2019 - os prédios ocultaram o Morro, mas o Cristo ainda é visível

Os primórdios do Colégio São Vicente Há 60 anos: Erguia-se, no Rio de Janeiro, uma escola risonha e franca

A matéria do jornal Correio da Manhã noticiou com entusiasmo a abertura do Colégio São Vicente de Paulo, em funcionamento desde o dia 30 de março de 1959. A notícia avisou ainda que a solenidade de inauguração aconteceria no dia 19 de julho do mesmo ano, quando comemorava-se a festa litúrgica de São Vicente de Paulo e que o Superior Geral da Congregação da Missão à época, o cardeal D. Jaime Câmara e o presidente da República Juscelino Kubitschek, já haviam confirmado presença. Qualificado como resultado do esforço e da dedicação dos padres lazaristas, o CSVP é referido, na matéria, como uma instituição educativa que se utilizava de métodos modernos e instalações extraordinárias. Destacou-se também o perfil empreendedor e cativante do Pe. Horta, primeiro diretor e fundador do do CSVP: “sua figura franzina poderia passar despercebida, mas em poucos minutos de permanência no Colégio verifica-se que ele realmente é a alma de tudo aquilo”.

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TEXTO

Diálogo e Fé* (…) Não há também diálogo, se não há uma intensa fé nos homens. Fé no seu poder de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens. A fé nos homens é um dado a priori do diálogo. Por isto, existe antes mesmo de que ele se instale. O homem analógico tem fé nos homens antes de encontrar-se frente a frente com eles. Esta, contudo, não é uma ingênua fé. O homem dialógico, que é critico, sabe que, se o poder de fazer, de criar, de transformar, é um poder dos homens, sabe também que podem eles, em situação concreta, alienados, ter este poder prejudicado. Esta possibilidade, porém, em lugar de matar no homem dialógico a sua fé nos homens, aparece a ele, pelo contrário, como um desafio ao qual tem de responder. Está convencido de que este poder de fazer e transformar, mesmo que negado em situações concretas, tende a renascer. Pode renascer. Pode constituir-se. Não gratuitamente, mas na e pela luta por sua libertação. Com a instalação do trabalho não mais escravo, mas livre, que dá a alegria de viver. Sem esta fé nos homens o diálogo é uma farsa. Transforma-se, na melhor das hipóteses, em manipulação adocicadamente paternalista. Ao fundar-se no amor, na humildade, na fé nos homens, o diálogo se faz uma relação horizontal, em que a confiança de um pólo no outro é conseqüência óbvia. Seria uma contradição se, amoroso, humilde e cheio de fé, o diálogo não provocasse este clima de confiança entre seus sujeitos. *Trecho do livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire

INFORMATIVO SÃO VICENTE Sugestões e contribuições: informativosv@pbcm.com.br


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