EDITORIAL
SUMÁRIO Palavra do Visitador | pág. 3
Uma resposta aos apelos de Deus Pe. Eli Chaves dos Santos
Artigo I | pág. 4
Os primórdios da chegada dos primeiros missionários vicentinos ao Brasil Pe. Luis Carlos do Vale Fundão
Artigo II | pág. 8
Para Conhecer Dom Viçoso Maurilio Camello
Artigo III | pág. 11
Pe. Leandro Rebelo Peixoto e Castro Ir. Adriano Ferreira
Artigo IV | pág. 14
Lazaristas no processo de romanização da Igreja no Brasil Frater Henrique Cristiano Mattos
Perfil | pág. 19
Pe. José Tobias Zico, CM Pe. Luiz de Oliveira Campos
Pastoral Vocacional | pág. 20
Não há como atrair, sem se aproximar! Pe. Denílson Matias
Espaço dos Seminaristas | pág. 22 O que conversamos pelo caminho? Sem. Ramon Aurélio e Cléber Teodósio
Família Vicentina | pág. 24 FamVin Made in Brazil Sacha Leite
Entrevista | pág. 26
Lígia Barreto, Fabiano Salek e Hidelbrando Lima Sacha Leite
Cotidiano Provincial | pág. 28
Livro, Documentário, Hino, Monumento e Selo Da Redação
Notícias da PBCM | pág. 30 Pe. Eli Chaves dos Santos
Cultura | pág. 31 Dica de filme
Pe. Alexandre Nahass Franco
EXPEDIENTE Informativo São Vicente - n. 310 | ISSN 2596-2132 | Edição fechada em 07/04/2020 www.pbcm.com.br/informativosv | informativosv@pbcm.com.br| Impresso na Gráfica Print São Paulo | Tiragem: 300 exemplares | Conselho Editorial: Pe. Eli Chaves, Ir. Adriano Ferreira, Sacha Leite e Cristina Vellaco | Editoração e Capa: Adriano Ferreira |Jornalista Responsável: Sacha Leite MTB:30383/RJ| Revisão: Pe. Eli Chaves e Sacha Leite| Colaboraram nesta edição: André Fiduzi (ilustração da capa), Pe. Luiz de Oliveira Campos, Pe. Luis do Vale Fundão, Fráter Henrique, Maurílio Camello, Cleber Teodósio, Ramón Aurélio, Pe. Denilson Mathias, Pe. Alexandre Nahass Franco | Os textos publicados são de total responsabilidade de seus respectivos autores. | O Informativo São Vicente é uma publicação trimestral editada pela Província Brasileira da Congregação da Missão - Telefone: (21) 32352900 / Rua Cosme Velho, 241 CEP: 22241-125 Rio de Janeiro - RJ
200 anos em meio ao COVID-19
S
e tivermos de escolher uma única data para comemorarmos o bicentenário da presença lazarista no Brasil, seria o 15 de abril. Foi neste dia que, após 45 dias de viagem, desde o Rio de Janeiro, os primeiros missionários da Congregação da Missão chegaram ao Caraça. Ali, rodeados por altíssimas montanhas da cadeia do Espinhaço, no meio do mato, criaram o mais importante Colégio Mineiro do século XIX e daí partiram para pregar inúmeras missões que, duzentos anos depois, continuam dando valorosos frutos para a Igreja e para o país. Era para fazermos uma belíssima festa, uma merecida festa. Preparamos um momento em homenagem aos primeiros missionários, foi escrito um livro que conta a nossa história e também gravado um documentário, que conta um pouco de como estamos hoje. Teríamos um Simpósio onde tudo isso seria lançado, em meio à convivência fraterna dos Coirmãos, amigos e membros da Família Vicentina. Porém devido às intempéries causadas pela maior pandemia da qual a nossa geração teve notícia, foi necessário adiar a aguardada celebração. Não foi fácil dar essa notícia, pois contávamos com esse simpósio como uma carta na manga para animar a Província nas ações subsequentes em torno do bicentenário. Foi triste, mas o cancelamento foi necessário. Isso criou em nós a necessidade de nos reinventar. Confesso que a princípio não tive muitas ideias, fiquei realmente desanimado, procurando alternativas em meio à chuva de informações sobre o COVID-19 e à necessidade de isolamento social. Quando isso vai passar? Voltaremos os mesmos após essa experiência de ameaça de extinção global? Enfim, são muitas perguntas e poucas respostas. Mas o certo é que algo me animou muito, neste período: a inventividade dos Coirmãos em meio à quarentena. Muitos dos nossos se mostraram surpreendentemente criativos e capazes de lidar muito bem com a situação adversa. Ainda que sem treinamento ou sem os recursos adequados, Coirmãos e seminaristas conseguiram fazer deste limão uma saborosa limonada. Impressiona muito a quantidade de “lives" via Facebook e Youtube, onde podemos assistir missas, orações, palavras de bom ânimo, boa música e poesia. Destaco também o belíssimo projeto realizado pelo Teologado Vicentino, o “Compartilhando a Esperança”, onde, por meio de vídeos muito bem produzidos, eles vêm celebrando a vida, arrecadando fundos para doação e mostrando que, quando desafiados, somos capazes de fazer ótimas coisas que, talvez, não esperávamos. Uma pandemia em meio a nosso bicentenário, por essa não esperávamos, ninguém esperava. Mas não adianta desanimar, não podemos ficar passivos. Precisamos ser ativos, “inventivos na caridade e zelosos na missão”. Acredito que a Providência Divina sempre nos indica um bom caminho. Se o simpósio não pôde acontecer presencialmente, acontecerá virtualmente. Vamos lançar livro e documentário on-line. E no mais, o nosso bicentenário não se trata de um evento específico, mas de uma comemoração que nos anime a reviver o espírito corajoso e criativo dos primeiros lazaristas no Brasil. Acredito que estamos no caminho certo. *** Esta edição especial do ISV, traz todos os textos voltados para o contexto dos 200 anos, muitos deles estavam previstos para serem apresentados no Simpósio, que foi cancelado devido à pandemia. Não teremos, necessariamente, todas as seções que nos acostumamos a ver. Mas, por outro lado, temos textos riquíssimos que nos ajudarão a experienciar melhor este ano jubilar. Ir. Adriano Ferreira, CM
PA L AV R A D O V I S I T A D 0 R Pe. Eli Chaves dos Santos
Uma resposta generosa aos apelos de Deus “Seja a Divina Providência vossa força, vossa coragem e vosso guia em tudo e em toda parte” (São Vicente de Paulo). Com esta convicção de nossa fé, tão marcante em nossa vocação vicentina, vamos aqui ao seu encontro com nossa visita de amizade, fé e solidariedade, partilhando um pouco de nossa vida missionária.
P
artilhamos, neste Informativo, sobretudo as reflexões previstas para o Simpósio celebrativo dos 200 anos da chegada da Congregação da Missão no Brasil, que deveria acontecer em abril, no Caraça. Infelizmente, tivemos que cancelar o Simpósio. No entanto, importa conhecer, valorizar e acolher o testemunho histórico dos que nos precederam na missão vicentina em terras brasileiras. Em seus altos e baixos, em meio a acertos e equívocos, nossa história missionária mostra a fé, a dedicação e o entusiasmo de quem apostou suas vidas na busca de uma resposta generosa aos apelos de Deus, através da evangelização dos pobres, da formação do clero e dos leigos e da educação da juventude. Deus se revela na história e aí manifesta sua presença de amor solidário, nos surpreende, nos chama e conta conosco. Em meio aos condicionamentos das estruturas e acontecimentos históricos, os 200 anos da Congregação no Brasil são um convite a reconhecer a presença atuante de Deus na nossa história, são uma oportunidade da graça para renovar nossa abertura e compromisso de fé para acolher os sinais e apelos divinos no hoje de nosso mundo. Papa Francisco nos chama a colocar-nos em saída, numa atitude de conversão missionária, sempre escutando os gritos dos pobres e da terra. O olhar crítico sobre nossa história, sem negativismos e sem triunfalismos, nos chama a agir com esperança e otimismo, em estado de conversão e renovação, aco-
lhendo sempre as interpelações dos atuais e novos contextos e desafios e, segundo as palavras de São Vicente, não nos deixando “ficar amarrados a isto ou aquilo; coragem! Vamos aonde Deus nos chama, será ele quem cuidará de nós, não tenhamos medo de nada” . E a história continua com suas surpresas e mistérios... Provavelmente, este Informativo chegará aos nossos leitores, encontrando-os reclusos em suas casas, com seus trabalhos suspensos, seus planejamentos alterados, preocupados com a saúde e convivendo com um ambiente de incertezas, de angústias e de ameaça à vida, tudo decorrente da pandemia provocada pela Covid-19. Que neste momento e sempre, o testemunho de fé de nossos antepassados nos ajude a experimentar Deus sempre presente e atuante, convidando-nos a avivar nossa fé e a fortalecer nossa esperança, sempre “constantes na oração e profundos no discernimento, inventivos na caridade e zelosos na missão, firmes no essencial e abertos ao novo, diligentes nas iniciativas e pacientes nas provações”. Com São Vicente, renovemos nossa disposição de seguir Jesus Cristo no serviço aos pobres, com alegria, fidelidade e fecundidade: “Marchemos, com segurança, no caminho real da cruz, onde Jesus será nosso guia e nosso condutor”. “Deus nunca deixa de nos socorrer em tempo oportuno, quando de nossa parte, fizermos tudo o que podíamos”. INFORMATIVO SÃO VICENTE 3
Reprodução: Biblioteca Nacional
ARTIGO I
Ilustração de Carl Friedrich Philipp von Martius, pintor alemão que esteve no Caraça em 1817
Pe. Luís Carlos do Vale Fundão
Os primórdios da Congregação da Missão no Brasil Detalhes sobre os primeiros missionários e a fundação da PBCM
A
celebração dos 200 anos da chegada dos Missionários Vicentinos (Lazaristas) ao Brasil, neste ano de 2020, nos faz recobrar uma parte importante da história do Brasil que foi marcada pela contribuição desses homens zelosos nos diversos trabalhos missionários, educacionais e de serviço aos Pobres. Veremos, a seguir, como foram numerosos os trabalhos realizados pelos primeiros missionários em terras brasileiras, ao longo de todos esses anos, tais como: missões populares; fundação de colégios; direção de seminários; socorro aos empobrecidos, defesa dos injustiçados, etc. Neste artigo, vamos nos ater aos principais acontecimentos, desde a chegada dos missionários ao Brasil até a fundação da Província Brasileira da Con-
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gregação da Missão, com o devido reconhecimento tanto da Cúria Geral da Congregação da Missão, como da Santa Sé, em Roma. A história da chegada da Congregação da Missão no Brasil inicia-se com um pedido feito por Sua Majestade Dom João VI, ainda em 1819, quando solicita ao Visitador de Portugal, Pe. Antônio da Silva Rebelo, missionários lazaristas para assumirem uma obra em Cuiabá, no Mato Grosso, para a evangelização da população, catequização dos índios e defesa das fronteiras com os países vizinhos. O Visitador atendeu ao pedido do Rei e enviou dois missionários para essa empreitada no Brasil: Pe. Leandro Rebelo Peixoto e Castro e o jovem Pe. Antônio Ferreira Viçoso.
Nesse meio tempo, em Minas Gerais, na Serra do Caraça, o Irmão Lourenço de Nossa Senhora havia adquirido, em 1770, uma imensa propriedade, edificando uma pequena ermida dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens e a São Francisco das Chagas, a qual seria destinada às peregrinações, ao atendimento de confissões e aos demais sacramentos. Já na época do Irmão Lourenço, foram construídas duas alas laterais destinadas ao acolhimento dos peregrinos. A pequena comunidade, formada pelo Irmão Lourenço e composta de homens movidos pelo propósito de se penitenciar numa vida austera e de solidão, se dedicava ao cuidado e acolhimento de todos os peregrinos que acorriam ao pequeno santuário. Nas vésperas de sua morte, o Irmão Lourenço, já idoso e doente, foi visitado pela Virgem Maria, que lhe confidenciou que a sua obra não acabaria com o advento de sua passagem para a eternidade, mas seria continuada por zelosos sacerdotes que já estavam a caminho do Brasil. O irmão Lourenço, que foi confortado pela Mãe de Deus e de toda a humanidade, já havia redigido em 1806 um testamento doando toda a sua propriedade à coroa real e solicitando a Sua Majestade que fizesse do Caraça uma “Sede de Missionários e Escola de Meninos”. Depois de cumprida a sua missão neste mundo, o Ir. Lourenço faleceu em 27 de outubro de 1819, aos 95 anos. Foram, ao todo, cerca de 50 anos dedicados ao Caraça. Os dois missionários lazaristas partiram de Lisboa em 27 de setembro de 1819. A viagem durou 72 dias até ao Rio de Janeiro. Estavam ainda se preparando para a viagem rumo ao Mato Grosso, quando o Ministro de Sua Majestade lhes comunicou que, para aquelas terras já estavam indo os frades capuchinhos. Entretanto, Sua Majestade lhes oferecia outro campo de missão em Minas Gerais, no alto da Serra do Caraça. O Pe. Leandro leu o testamento deixado pelo Ir. Lourenço, que continha a frase: “Minha vontade sempre foi e é de que esta Casa seja residência de Missionários... e seminário para meninos”(1). Inicialmente o Pe. Leandro teve muitos escrúpulos em assumir uma obra para a qual não fora enviado pelo Visitador, entretanto, foi confortado pelo Ministro que afirmou que Sua Majestade já estava cuidando dos trâmites legais com a Província de Portugal e que logo obteria a licença do Visitador. Assim, em 31 de janeiro de 1820, os dois missionários receberam a Carta Régia que os autorizava a tomar posse, em nome da Congregação da Missão, de todos os bens deixados pelo Irmão Lourenço no Caraça: propriedade territorial, edificações, mobiliários, escravos etc. Esse aconteci-
mento é o marco da fundação carismática da Congregação da Missão no Brasil. Os dois missionários partiram para as terras mineiras em março de 1820. Após 45 dias de longa viagem, chegam ao Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens, em 15 de abril. Terminado o período de arrumação e reparos na casa, os dois missionários iniciaram logo o trabalho de pregação das missões. A primeira localidade a ser missionada foi o arraial de Catas Altas - MG, a 18Km do Caraça. Em junho do mesmo ano, missionaram também em Barbacena MG. Terminada a missão em Barbacena, o Pe. Leandro se dirigiu ao Rio de Janeiro para uma audiência com o Rei, na qual solicitou verba para a manutenção da Casa do Caraça. Sua Majestade ofertou 100 mil réis para essa finalidade e ainda deu ao Caraça o título de Casa Real. Em seu retorno a Minas Gerais, o Pe. Leandro levou consigo 4 jovens para iniciar os estudos no Caraça. Esses foram os primeiros alunos do Colégio. Em 1821, chegam, a pedido do Pe. Leandro, os primeiros missionários vindos da Província de Portugal para reforçar a missão no Brasil. São eles: Pe. Jerônimo Gonçalves Macedo e o Pe. José Joaquim Mendes Moura Alves. Com este reforço, pôde-se abrir oficialmente o Colégio do Caraça e iniciar as atividades com 14 alunos. A situação financeira do Colégio nos seus primórdios não era boa. Os missionários precisaram contar muito com o auxílio da Divina Providência neste primeiro momento da história. O noviciado também se iniciou nesse ano com a chegada do Pe. João Moreira Garcês, como primeiro noviço. Não obstante as dificuldades, Deus ia abençoando os trabalhos dos missionários. Em 1822, o colégio já contava com 30 estudantes. Nesse mesmo ano, houve a libertação dos dez escravos do falecido Irmão Lourenço e a nomeação do Padre Antônio Viçoso como reitor do Seminário em Jacuecanga – RJ. Iniciava-se, assim, o trabalho da Congregação na formação do clero em território brasileiro. Em 1823, chega ao Caraça o primeiro candidato à vocação de irmão leigo, trata-se de Francisco da Cunha Macedo, natural de Catas Altas – MG. Com a proclamação da Independência do Brasil, a Congregação sentiu fortemente os efeitos do anticlericalismo e da aversão do Império às Instituições religiosas que mantinham a sua ligação com a Santa Sé em Roma. Assim, em 1823, o Imperador encaminhou ao Padre Leandro uma carta contendo três notícias, sendo uma delas uma recomendação: que “a casa do Caraça está dispensada de pagar o dízimo dos bens da terra; que o novo título do Caraça é Casa Imperial, e que a Congregação deveria ficar independente de toda obediência à Casa de Lisboa” (2). >>> INFORMATIVO SÃO VICENTE 5
Os anos que se seguiram foram de grande perseApesar de sofrer muito com as leis de restrições guição às Congregações e às Ordens religiosas. Ocoràs atividades dos religiosos no Brasil, a Congregação reram nesse período a extinção e expulsão de diverda Missão gozava de certa simpatia do Imperador, sas delas, tais como: Capuchinhos, Carmelitas descaltanto que o mesmo sempre conferia aos missionários ços e outros. novas atribuições dentro do império. Era um sinal claMesmo nesse cenário hostil, a Congregação sero de que a Congregação era útil ao povo de Deus, gue realizando o seu trabalho e crescendo em númeao clero e à sociedade. ro e em obras. Em 1827 os missionários recebem Em 1831, pouco antes de sua abdicação, Sua Macomo doação a Fazenda Paraíso, de um rico propriejestade Dom Pedro I, dirigindo-se à Ouro Preto, fez tário de terras em Campo Belo do Sertão da Farinha uma visita à Casa Imperial do Caraça para aconselharPodre, em Minas Gerais, atualmente, Campina Verde. se com o Pe. Leandro. Às vésperas de sua partida A finalidade da doação era que fosse construída uma para Minas Gerais, Dom Pedro I havia sido obrigado a Igreja para o atendimento espiritual da população e assinar leis severas contra todas as instituições religioum colégio para educação das sas que fossem submissas a sucrianças e jovens da região. periores estrangeiros. As leis Nesse mesmo ano, o imperador previam prisão dos superiores e Apesar de sofrer muito ordenou que a Congregação demais membros das Instituiassumisse a direção do Santuá- com as leis de restrições às ções por até 8 anos! rio do Senhor Bom Jesus de O Pe. Jerônimo Gonçalves atividades dos religiosos Matosinhos em Congonhas do Macedo escreveu ao Superior Campo e que abrisse lá um Cono Brasil, a Congregação Geral relatando-lhe toda a situlégio, à semelhança do Caraça, ação da Congregação no Brasil. da Missão gozava de certa Em resposta, o Superior Geral mas, independente dele. Diante da necessidade de assumir a concedeu ao visitador todos os simpatia do Imperador, direção do Santuário e a fundapoderes de Superior Geral, com ção de um Colégio em Congotanto que o mesmo sem- autorização para nomear seu nhas, as obras missionárias em sucessor. pre conferia aos missionáCampo Belo ficaram para outro Em 1834, a Congregação momento que virá mais tarde. iniciou seus trabalhos em Camrios novas atribuições denEm 1827, ocorre a nomeapo Belo da Farinha Podre com tro do império. Era um si- os seguintes missionários: Pe. ção do Pe. Jerônimo Gonçalves Macedo, como visitador, pelo nal claro de que a Congre- Macedo, Pe. Antônio Morais e Superior Geral, Pe. José de Pe. José Tomás de Sousa. Essa gação era útil ao povo de obra se tornou um vasto campo Wally. Essa nomeação ocorre na contramão das orientações e de irradiação de atividades misDeus, ao clero e à sociedesejos do Império, cujas leis sionárias e educacionais no Tripassaram a proibir o noviciado ângulo Mineiro. Iniciaram-se, dade. nas Congregações que ainda nesse período, as atividades do sobreviviam no Brasil. Colégio em Campo Belo. Não obstante as pressões Apesar de sofrer com o feimperiais e o espírito de perseguição que havia conchamento do Seminário Interno, por ordem do gotra as ordens religiosas, a Congregação teve a grata verno em 1834 e com a crise financeira que não dava alegria de celebrar as ordenações de quatro novos ao Colégio do Caraça condições de funcionar com missionários no Santuário do Caraça, em 1829: Pe. regularidade, a Congregação segue o seu carisma Antônio Afonso de Morais Torres; Pe. José Afonso de cumprindo sua missão no Brasil em Congonhas (SanMorais Torres; Pe. Antônio Valeriano Gonçalves de tuário e Colégio); Jacuecanga - RJ (Seminário dioceAndrada e Pe. José Tomás Moura Sousa. sano); Campo Belo (Missão e Colégio) e a pedido do Em 1830, perante o proprietário João Batista SiMinistro Bernardo Pereira de Vasconcelos, em 1838, a queira, da sua esposa Bárbara Bueno da Silva e do Congregação também recebeu a missão de organizar Pe. Jerônimo Gonçalves de Macedo, foi assinada dee dirigir o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Para finitivamente a escritura de doação de três Fazendas essa empreitada, foi nomeado o Pe. Leandro. na Cidade de Campo Belo do Sertão da Farinha PoPara garantir o futuro das atividades missionárias dre à Congregação da Missão. da Congregação da Missão no Brasil e atender à le6 INFORMATIVO SÃO VICENTE
Foto: Arquivo da PBCM
gislação brasileira, foi necessário convocar uma AsEm 1847, o Imperador Dom Pedro II, por meio do sembleia Geral para eleição do Superior Geral. Isso artigo 81 do Código Civil Criminal, permitiu à Conocorreu no período de 11 a 13 de dezembro de 1839. gregação da Missão do Brasil reatar os laços com o O Padre Antônio Viçoso foi eleito Superior Geral com Superior Geral em Paris. Essa notícia foi imediatamentodos os poderes e prerrogativas do Superior Geral te comunicada ao Superior Geral, Pe. João Batista em Paris. Embora o resultado da Assembleia tenha Etienne. A fim de conversarem melhor com o Superisido encaminhado a Roma e a Paris, não houve, da or Geral sobre a situação da Congregação, dirigiu-se parte do governo geral e de Roma, uma resposta a Paris o Pe. João R. Cunha, com mais dois padres e confirmando a separação. um seminarista. Ao retornar ao Brasil, Pe. Cunha trouLogo após a Assembleia Geral, o Padre Leandro xe mais cinco padres, três irmãos e doze Filhas da foi convidado pelo presidente da Província de Minas Caridade. Estas chegaram a Mariana em 3 de abril de Gerais, para fundar a pri1849, tendo sido recebimeira escola de ensino das por Dom Viçoso. médio do Governo de Os trabalhos da Minas em Ouro Preto, Congregação se iniciam chamada Colégio Asno Seminário Maior de sunção. Mariana em 1853 a peEm 1842, a situadido de Dom Viçoso, ção da Congregação da sendo nomeado supeMissão no Brasil era de rior, o Pe. Miguel Maria muita instabilidade e Sipolis. No período de insegurança. Isso se 12 a 14 de maio de expressava por meio da 1855, realizou-se, oficidiminuição do número almente, na Santa Casa de Coirmãos, precariedo Rio de Janeiro, a 1ª dade financeira e pela Assembleia Provincial guerra civil que ameada Congregação da çava as estruturas das Missão no Brasil com a instituições. É neste presença dos seguintes contexto que o Pe. missionários: Pe. AntôAntônio Viçoso fecha o nio Afonso de Morais, Colégio do Caraça, em Pe. Mariano Maller, Pe. 25 de agosto de 1842 e Miguel Sipolis, Pe. João se dirige a Campo Belo Lamant, Pe. João Issaly com os alunos que hae o Pe. Valeriano Gonvia no colégio e alguns çalves. Nesta assempertences. A caravana bleia foi indicado e, em parte para o Triângulo seguida, nomeado VisiMineiro sem saber que tador o Pe. Mariano Pe. Mariano Maller, nomeado visitador em 1855 a guerra civil havia terMaller. Temos, então, a minado em Santa Luzia partir daí, constituída no dia 22 de agosto! oficialmente a Província Brasileira da Congregação da Em março de 1843, o Pe. Antônio Viçoso recebeu Missão. um Ofício Imperial nomeando-o Bispo de Mariana. Imediatamente, renunciou ao seu mandato de Supe__________________________ rior Geral e passou o cargo para o Assistente, Pe. Notas: Jerônimo Macedo, que, imediatamente, cuidou dos (1) ZICO, José Tobias, CM. Congregação da Missão trâmites legais para a convocação de uma nova Asno Brasil. Belo Horizonte: Líthera Maciel, 2000. p. 19. sembleia para eleição do novo Superior Geral. Feita a (2) Ibidem, p. 22 Assembleia, foi eleito o Pe. Antônio Afonso de Morais Torres, que logo escreveu ao Superior Geral em Paris, comunicando o resultado da Assembleia.
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ARTIGO II
Maurílio Camello*
Para conhecer Dom Viçoso Uma ode à memória do nosso Santo
A
Ilu s
tr a ção :
An dré
Fid usi
comemoração da chegada dos primeiros Lazaristas ao Brasil e ao Caraça (15 de abril de 1820) nos estimula a conhecer melhor a vida de Dom Antônio Ferreira Viçoso e do Padre Leandro Rebelo Peixoto e Castro, os dois Pais Fundadores. Exponho aqui os momentos principais do meu percurso para conhecer Dom Viçoso: a elaboração de uma tese de doutorado e a composição da Positio super virtutibus et fama sanctitatis, para o Processo de Beatificação. Duas significativas experiências que me ficaram indeléveis na vida.
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1.A Tese Defendi minha tese, “Dom Viçoso e a reforma do clero em Minas no século XIX”, em 11 de agosto de 1986, como exigência parcial para obtenção do título de doutor em História Social, pela Universidade de São Paulo (USP). Ela foi orientada pelo historiador Dr. Augustin Wernet, especialista na história eclesiástica do Estado de São Paulo. Realizei minha pesquisa entre os anos de 1981-1985, por diversos arquivos, com predominância para o Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana. Recordo com gratidão a acolhida que tive por parte do Sr. Arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira, que, no extremo de benevolência, me confiou até as chaves do Arquivo, para que eu o usasse na hora que quisesse e pudesse. Terminada, a tese se estruturou em 3 grandes capítulos: I – “Dom Antônio Ferreira Viçoso, Bispo de Mariana, Conde da Conceição” (título da biografia escrita por Dom Silvério Gomes Pimenta), onde se historiam os anos de formação de Dom Viçoso, sua nomeação para bispo de Mariana e sua cultura eclesiástica); II – A diocese de Mariana e a expectativa da reforma, onde se apresentam dados quantitativos sobre a diocese e o clero, o seminário e a formação do clero; as condições econômicas e sociais da diocese e, por fim, a perda dos ideais religiosos e espirituais do clero e do contexto social; III – A reforma do Clero, expondo-se o caminho de volta, isto é, o projeto de Dom Viçoso; a evolução do seminário, as resistências à reforma e, por fim, o clero reformado.
Da tese se fizeram alguns exemplares, distribuídos para instituições, onde pudesse ser consultada. Mas não foi impressa, fato que hoje lamento. Entretanto, pesquisadores posteriores a consultaram, analisaram e lhes serviu de instrumento para seus trabalhos. Sinto-me feliz com isso. 2. Pós-tese Em 1994, procurou-me o Padre Lauro Palú, CM, que havia sugerido meu nome à Província Brasileira da Congregação da Missão, e à Arquidiocese de Mariana, para compor a Positio super virtutibus et fama sanctitatis, peça essencial do Processo de Beatificação de Dom Viçoso. Esse processo estava parado na Congregação para as Causas dos Santos, havia vários anos, justamente por falta da Positio. Aceitei o desafio, primeiro indo a Roma, para tomar conhecimento do que deveria fazer, e já iniciar a pesquisa nos arquivos da Congregação da Missão e no Arquivo Secreto do Vaticano. Voltando ao Brasil, estendi minhas consultas a outros arquivos, e não foram poucos. Ao cabo de 2 anos, o trabalho estava pronto. Assim, em 1997, voltei a Roma e, juntamente com Dom Luciano Mendes de Almeida, então Arcebispo de Mariana, entreguei a Positio ao Postulador da Congregação para as Causas dos Santos. Era o memorável dia 14 de março de 1997! Para leitura e exame de meu trabalho, por parte da Comissão nomeada de Historiadores pela Congregação para a Causa dos Santos, ele teve de ser vertido para o italiano (a parte narrativa, não a documental). A versão italiana foi feita pelo Padre Lauro Palu, CM, com admirável perfeição. Isso pediu, é claro, mais algum tempo. Aprovada a Positio pela Comissão de Historiadores ad hoc nomeada, em 2002, o Decreto da Santa Sé reconhecendo a santidade de Dom Viçoso foi publicado a 8 de julho de 2014. Dom Viçoso passou então de “servo de Deus” para “venerável”. Nominando o Padre Lauro Palu, é meu dever também lembrar os nomes do Padre Tobias Zico, C.M., então diretor do Santuário do Caraça, e Mons. Flávio Rodrigues, diretor do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, que muito me estimularam na pesquisa e depois na composição da Positio. Finalizada, a Positio se estruturou nas seguintes partes: 1. Uma introdução (“Praenotatio”) assinada por Mons. José Luis Gutiérrez, relator da Causa 2. Uma Declaração de Pe. Ambrósio Eszer, O. P. Relator Geral 3. INFORMATIO sobre as Virtudes Teologais Fé, Esperança e Caridade quer com relação a Deus, quer quanto ao próximo, como das Virtudes Cardiais Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança, exercidas em
grau heroico, como também da fama de santidade, “in casu et ad effectum de quo agitur”. 4. Decreto sobre a validade do Processo. 5. SUMARIO: 1. Do Processo Ordinário de Mariana (1916) 2. Do Processo Ordinário de Mariana (1985) Elenco dos escritos de Dom Viçoso e juízos de Teó-logos Censores sobre os escritos 6. BIOGRAFIA DOCUMENTADA Índice de nomes e lugares 7. ILUSTRAÇÕES O conjunto deu num volume de 793 páginas, sendo que só a Biografia Documentada se estendeu por 619 páginas, distribuídas em 12 capítulos, assim titulados: I – Infância (1787-1801); II – A formação eclesiástica (1801-1818); ; II – Educador e Missionário (1818-1837); IV – Visitador e Superior Maior (1837-1843); V – O Episcopado (1844-1875); VI – Em Missão: as Visitas Pastorais; VII – A reforma do Clero; VIII – Em favor da liberdade da Igreja; IX – Aspectos humanos da personalidade de D. Antônio Ferreira Viçoso; X – Aspectos da personalidade espiritual de Dom Antônio Ferreira Viçoso; XI – Os últimos anos, morte e fama de santidade; XII – Fontes arquivísticas, biografias, bibliografia. Observação: Como “Biografia documentada”, cada capítulo (exceto o último) se compõe de uma parte narrativa e outra de transcrições de documentos, já que fatos, afirmações e discussões deviam se apoiar rigorosamente em documentos. 3. Desdobramentos Como aproveitamento dos estudos e do material documental preparado para a composição da Positio, escrevi uma biografia sintética, a pedido de Dom Luciano Mendes de Almeida: “D. Antônio Ferreira Viçoso, Bispo de Mariana (1787-1875)”, em 2008, e fiz uma coletânea das Cartas de Dom Viçoso, ao todo 533, “Dom Antônio Ferreira Viçoso – Correspondência (1823-1875)”, em 1998. Ambos esses trabalhos estão inéditos. 4. Uma palavra sobre Dom Viçoso Ao ensejo da comemoração dos 200 anos da chegada dos Primeiros Lazaristas ao Brasil e ao Caraça (15 de abril de 1820), é indispensável lembrar a figura de Dom Viçoso. Mas não é tão simples falar dos seus muitos trabalhos, como missionário da Igreja Católica. Nascido em Portugal no último quartel do século XVIII, veio ainda moço para o Brasil e aqui, de 1820 a 1875, viveu sem reservas a doação de si mesmo ao serviço divino. Ao morrer, deixou na memória dos que o conheceram a convicção de que haviam convivido e tratado com um santo, isto é, com >>> INFORMATIVO SÃO VICENTE 9
um ser humano especial, que vivera intensamente da intimidade de Deus, fato que o tornara, para a comunidade, um "sinal" divino. Atestam seus contemporâneos que sua presença e palavra tinham grande força transformadora, de modo que ninguém dele se aproximava sem se tornar melhor. Pode-se dizer que encarnou de modo autêntico, em sua existência, o sacerdócio, a profecia e a santidade. Apóstolos, como D. Viçoso, pairam muito acima de tempos e lugares. A cidade de Mariana e Minas Gerais, porém, se orgulham com fundadas razões de o terem tido como educador e pastor por mais de trinta anos. Seus pés missionários palmilharam, incansáveis, todos os caminhos de Minas, visitaram os mais remotos lugarejos, procuraram, sem discriminação, a todos que dele precisavam, em especial os pobres e os que padeciam da verdadeira sede de Deus. Como educador, Dom Viçoso fundou ou dirigiu vários colégios, entre os quais o Colégio de Jacuecanga, o renomado Colégio do Caraça, o das Irmãs de Caridade de Mariana, o de Congonhas do Campo e o de Campo Belo, no Triângulo mineiro. Como pastor, suas preocupações espirituais se somavam às questões sociais e econômicas, como a escravidão, a agricultura, o trabalho. Tarefa extraordinária, que ele cumpriu até o fim de sua vida, foi a reforma de sua diocese, de seu clero e da vida cristã de seu rebanho. Um Apóstolo de seu tempo e um modelo de santidade para todos os tempos. Por todos esses motivos, procurei, dentro de minhas limitações, resgatar do esquecimento "o que e quem não pode ser esquecido", escrever uns pedaços de texto para a manifestação do grande texto desta vida cristã extraordinária. Considerei isso menos e mais do que um trabalho. Uma bênção extraordinária, recebida em boa hora de minha vida. A bem da verdade, não fui o primeiro, nem serei o último. A memorável biografia, escrita pelo Padre Silvério Gomes Pimenta, em 1876, logo após a morte de Dom Viçoso, é o grande marco do conhecimento que se pode ter de nosso “Venerável”. O livro conheceu uma 2ª. edição, em 1882, e uma 3ª., em 1920. Foi uma obra muito apreciada na época em que apareceu e por gerações de leitores, não apenas interessados no conhecimento da vida e atuação do biografado, mas no estilo e qualidades literárias do autor, que se viu, anos depois, escolhido para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Mas o Padre Silvério nem foi o primeiro biógrafo. Em 1875, apareciam estampados no jornal O Apóstolo, do Rio de Janeiro, os Traços biográficos do Exmo. e Revmo. Sr. D. Antonio Ferreira Viçoso, Bispo de Mariana, da autoria de Francisco Manuel Raposo de Almeida, que se valeu de testemunhos de alunos e conhecidos do falecido bispo. Em 1881, apareceu em Paris, de autor anônimo, 10 INFORMATIVO SÃO VICENTE
uma Notice sur Mgr. Dom Antonio Ferreira Viçoso, Évêque de Marianna, informação sucinta, que se apoiava quase que exclusivamente na obra do Padre Silvério. Outros biógrafos vieram em seguida. Quero lembrar Dom Belchior J. da Silva Neto, com o seu Dom Viçoso, Apóstolo de Minas, de 1965, obra de divulgação, de apreciada simplicidade, que dava ênfase à ação pastoral do bispo marianense. Menciono, por fim, a obra do historiador português Mariano Calado, D. Antônio Ferreira Viçoso, Bispo de Mariana, aparecida em Cacilhas (Portugal), em 1987, com informações interessantes sobre a família de Dom Viçoso, as casas de formação por onde passou, além de uma boa documentação fotográfica. Esses e outros trabalhos guardam, cada um a seu modo, a memória de Dom Viçoso. A memória de D. Viçoso, passados um século e meio de sua morte, nunca se perdeu. Lugares e logradouros públicos levam seu nome, como a "Praça do Bispo de Mariana", em Peniche (Portugal), as duas cidades mineiras de Viçosa e Dom Viçoso; poetas maiores como Alphonsus de Guimarães e Carlos Drummond de Andrade o lembram em versos, e seu nome aparece com razão em estudos acadêmicos sobre o movimento da reforma religiosa no Brasil do século XIX. Na devoção popular, sua intercessão é invocada pelos mais variados motivos e a Arquidiocese de Mariana sabe que tem nele um dos marcos mais brilhantes de sua história. Sinais de sua atuação como missionário e educador ainda estão vivos em Minas. Nesse contexto escrevi, eu também, uma Biografia de Dom Viçoso, acima mencionada. Ela é, na realidade, uma leitura sintética da obra do Padre Silvério e uma complementação, em alguns pontos, por documentos significativos, especialmente cartas e alguns papéis pessoais de D. Viçoso, possivelmente não conhecidos pelo Padre Silvério ou por ele não aproveitados. Alguns desses documentos podem ter retornado a Mariana a partir de 1916, quando D. Silvério começa a solicitá-los para a formação do processo diocesano de beatificação. Eles não interfeririam substancialmente no escrito de 1876. Faço, ao longo de meu relato, frequente citação de cartas, numeradas segundo o volume da Correspondência, por mim organizado. Seja como for, essa biografia tem o mesmo objetivo de meus antecessores, isto é, trazer à memória e ao reconhecimento este Educador, Missionário e Pastor da Igreja de Mariana, ao qual não cabe outro melhor título, segundo nos parece, do que ter sido um homem de Deus, na integridade de seus dias e trabalhos. _____________ *Maurilio Camello - foi lazarista e é doutor em História Social pela USP.
ARTIGO III
Ir. Adriano Ferreira
Pe. Leandro Rebelo Peixoto e Castro Um dos mais importantes nomes da história da educação brasileira
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ma das maiores inteligências do Brasil-Império”, "Anchieta de Minas”, “Nosso São Vicente”. Assim vemos caracterizado o padre Leandro Rebelo Peixoto e Castro nos escritos de Dom Silvério Gomes Pimenta e do Pe. Pedro Sarneel, alguns dos que consultei para escrever esta nota. De minha parte, se pudesse definir o Pe. Leandro em apenas uma expressão, o chamaria de "Colosso da Educação Brasileira", pois foi ele um verdadeiro “gigante” das letras, da pedagogia e da administração escolar, não medindo esforços na tentativa de implantar um modelo educacional humanista, nos importantes espaços onde trabalhou, conforme veremos a seguir. Fundador o Colégio do Caraça, Vice-Reitor do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro e Reitor do Colégio Assunção, em Ouro Preto. O Pe. Leandro teve participação decisiva na instalação e organização de três dos mais importantes colégios do Brasil-Império. Isso, em um tempo em que a mínima instrução era um privilégio reservado a pouquíssimos filhos de gente rica e que se podia contar nos dedos das mãos o número de escolas secundárias em todo país. Nós, enquanto membros da Província Brasileira da Congregação da Missão, temos uma enorme dívida para com a memória do Pe. Leandro Rebelo. É lastimável um personagem tão importante da nossa história ser tão pouco conhecido e estudado. Como educador e congregado desta província, me sinto duplamente obrigado a reparar essa esta nossa omissão. Infelizmente ainda não será desta vez, pois não disponho de tempo, nem dos meios necessários para dar uma justa notícia sobre nosso ilustre preceptor. Conto com a compreensão do Pe. Leandro, já tão acostumado a nos perdoar a falta de não bem cuidar-mos de sua memória, por mais uma vez adiar sua justa biografia, deixando esta tarefa para um depois que não seja tarde. Por agora, apenas como breve registro para esta edição histórica do Informativo São Vicente, deixo alguns flashes a modo do Pe. Pedro Sarneel, no Guia Sentimental do Caraça, sobre o Pe. Leandro. >>>
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Inícios Nasceu em 1781, na província do Minho, em Portugal. De família rica, teve sólida educação desde a mais tenra idade, fez os estudos eclesiais no Seminário Arquiepiscocal de Braga, e, em 1806, tornou-se padre da Missão. Ainda em Portugal, lecionou latim, literatura e matemática. Era conhecido por sua erudição e imensa habilidade organizacional, sendo, por isso, enviado ao Brasil para semear o carisma vicentino nas terras do Novo Mundo. Viagem ao Brasil Em 1819 embarcou para o Brasil na Companhia do Pe. Antônio Ferreira Viçoso, seu aluno dos tempos de seminário e agora companheiro de perigosa viagem e aventurosa missão. Dois séculos depois, quando nos debruçamos para observar as proezas destes dois grandes missionários, é impossível não se admirar com o fato deles terem feito tanto, com tão poucos recursos disponíveis. Verdadeiros portugueses, fizeram jus à fama heróica de seus ancestrais, desbravadores dos oceanos, cantados por Fernando Pessoa:
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. Vejo neste poema o retrato do padre Leandro, que foi um dos pioneiros no esforço civilizatório-educacional, empreendido pelo consórcio Igreja-Estado, nas primeiras décadas de um Brasil ainda pouco acostumado à sua recente independência. Fundação do Colégio do Caraça O Colégio do Caraça foi a mais impressionante obra do padre Leandro. É preciso entender o contexto de sua chegada ao Brasil, em companhia do jovem Pe. Antônio Viçoso, quando sua expectativa era pregar missões no Mato Grosso. A partir do momento
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em que foi comunicado que isto não seria possível e lhe ofereceram como alternativa a fundação de uma casa de educação e missões em Minas Gerais, não pensou duas vezes. Como São Vicente, era homem de muita coragem empreendedora e confiança na Providência Divina. Ele sabia reconhecer nos percalços do caminho a ação silenciosa e assertiva da Graça de Deus. Não seria recriminado se resolvesse juntar os trapos e voltar a Portugal, porém encarou, sem pestanejar, o desafio que lhe foi entregue, mesmo sabendo que não seria fácil fazer brotar, quase que do nada, um colégio no meio do mato, ainda nos começos do século XIX. Ele o fez. E o fez tão bem, que, ao final da primeira década de funcionamento, o colégio contava com o impressionante número de 184 alunos, o que fez dele uma das maiores e mais importantes casas de educação do Brasil oitocentista. Não sem mérito, o Caraça recebeu o distinto título de “Colégio Imperial" e por sua excelência, constatada desde seus primeiros dias, formou toda uma geração que ajudou a transformar Minas Gerais e o Brasil.
1827 - De Congonhas a Campo Belo Atribui-se também ao Pe. Leandro a criação de mais duas casas de educação em Minas. Nos começos de 1827, depois de receberem a responsabilidade administrativa do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, coube aos lazaristas a criação também de um colégio. Assim surgiu a terceira obra da Congregação em Minas, o Colégio Bom Jesus de Congonhas do Campo, organizado pelo Pe. Leandro nos moldes do Caraça. Segundo informações do Pe. José Evangelista Souza, em seus 28 anos de funcionamento, pelo colégio de Congonhas passaram mais de 1000 alunos. No mesmo ano, em Campo Belo da Farinha Podre, por força de contrato assinado no ato da doação de um terreno, coube ao nosso astuto educador erguer uma capela e uma escola pública de primeiras letras, “para instrução da mocidade daquele Sertão”, conforme consta no documento citado pelo Pe. Eugênio Pasquier. O que se sabe é que essa escola foi estabelecida pelo padre Leandro em uma viagem feita àquela região em meados de 1827. Lá criou as bases de uma escolinha que funcionou como único espaço público de alfabetização daqueles rincões por quase 100 anos. Ainda que menos afamados que o Colégio Imperial do Caraça, estas escolas tiveram grande importância para a história da educação mineira, ajudando a lançar luzes sobre as trevas do apedeutismo herdado dos tempos coloniais.
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Desenho da antiga sede do Colégio Assunção, em Ouro Preto, onde hoje funciona a Pousada Mondego
Vice-Reitor do Colégio Pedro II e Reitor do Colégio Assunção Se o colégio do Caraça foi o "mais afamado" do século XIX, podemos dizer que o Colégio Pedro II - CPII - fundado em 1837, foi o mais importante da mesma época. Isso porque era necessária sua chancela para se obter diploma secundário no Brasil e também seu regulamento servia como base para todos os regulamentos escolares existentes naquele tempo, sendo um correspondente à LDB - Lei de Diretrizes e Bases - de hoje. Nos primórdios do Colégio Pedro II, Pe. Leandro teve importante contribuição em sua organização, tendo trabalhado por um ano como Vice-Reitor. Há poucas informações sobre esta passagem de Pe. Leandro no dito colégio. Segundo informações colhidas nos textos do Pe Eugenio Pasquier, aconteceu que Bernardo Vasconcelos, fundador do CPII e Ministro de Estado, encontrava-se insatisfeito com os primeiros passos daquele Colégio e então convenceu o Imperador Regente, o ainda infante Pedro II, a convocar o Pe. Leandro para assumir a direção da Casa e reorganizá-la. Apesar de ter sido chamado para ser “apenas" o Vice-Reitor, os historiadores têm razões para acreditar que o Pe. Leandro realmente dirigiu a casa, visto que o Reitor era o bispo de Anemônia, que provavelmente não se ocupava do colégio como seu ofício cotidiano. Ocupou este cargo por apenas um ano, mas para um homem dinâmico como Pe. Leandro, tempo mais que suficiente para fazer uma verda-
deira reforma no modo de educar naquela casa. Prova disso é que, quando analisamos os primeiros regulamentos publicados do CPII, notamos grande semelhança com os primeiros regulamentos do Colégio do Caraça. Pe. Leandro já se encontrava adoentado naquele tempo e pediu para voltar a Minas, onde, logo em seguida, lhe foi confiada a organização, instalação e fundação do Colégio de Nossa Senhora da Assunção, em Ouro Preto, primeiro estabelecimento público de ensino secundário da província de Minas Gerais, inaugurado em 1840. Pe. Leandro Rebelo permaneceu como Reitor do Colégio Assunção até a sua morte, em 1841. E conforme salientou o Pe. Pedro Sarneel, "seu funeral assumiu as proporções de um luto público". Nosso São Vicente Em meio a todas essas atividades educativas que descrevi acima, ainda é importante lembrar que o Pe. Leandro Rebelo Peixoto e Castro, também foi o organizador da Província Brasileira da Congregação da Missão, sendo seu primeiro Visitador. Desde sua chegada ao Caraça, em 1820, incentivou as missões, que logo se espalharam por toda Minas Gerais. Conseguiu doações de terras e dinheiro que ajudaram no estabelecimento da Província nascente e foi referência intelectual, espiritual e missionária para todos os padres e irmãos nas primeiras décadas da Congregação da Missão no Brasil. O Pe. Leandro foi o nosso São Vicente!
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Foto: Arquivo da PBCM
ARTIGO IV
Imposição do pálio a D. Antonio dos Santos Cabral pelo Núncio Henrique Gasparri
Fráter Henrique Cristiano Mattos, CMM
Lazaristas no processo de romanização da Igreja no Brasil A contribuição de Dom Viçoso para a Igreja no Brasil do Século XIX
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endo em vista o grande Simpósio no Caraça para celebrar “200 anos de Presença dos Lazaristas no Brasil”, recebi a incumbência de proferir uma conferência sobre “A contribuição dos Lazaristas no processo da romanização da Igreja no Brasil, ao longo do século XIX”. O presente artigo é apenas um levíssimo aperitivo de um estudo maior sobre essa temática. O espaço concedido no “Informativo” não permite entrar em detalhes e por isso necessariamente se mantém na superfície de uma temática, em si, complexa e muito significativa. O primeiro ponto seria uma descrição mais ampla sobre o contexto histórico tanto em âmbito político internacional, quanto nacional. Infelizmente não o podemos fazer aqui exatamente por não ultrapassar o número de páginas permitidas. Basicamente o período em estudo conhece dois grandes movimentos
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antagônicos: os liberais e os conservadores. Temos consciência de que se trata de uma simplificação da realidade histórica que se apresenta muito mais complexa e nuançada. Após a Independência, em 1822, o Brasil adotou uma organização política baseada na monarquia. São os 67 anos do Império Brasileiro (1822-1889). Assim, lemos no Artigo 103: "O Imperador, antes de ser aclamado, prestará nas mãos do Presidente do Senado, reunidas as duas Câmaras, o seguinte juramento: Juro manter a religião católica, apostólica, romana…". Na realidade, a proteção oficial transforma-se numa tutela de dominação e de instrumentalização. A Constituição dá ao monarca o direito de nomear bispos e prover outras funções ("benefícios") eclesiásticas; conceder ou negar beneplácito (aprovação) aos decretos papais, antes de serem divulgados
no Brasil; admitir o "recurso à Coroa", isto é, o direito de alguém apelar aos tribunais civis, caso discorde com as sentenças da autoridade da Igreja. O catolicismo é tratado no Império como uma religião submissa ao Estado e, aos olhos do governo, a Igreja Católica constituiu-se uma "Igreja brasileira". A vinculação Igreja-Estado mostra-se, no decorrer dos anos, uma espada de dois gumes. O fato é que no período imperial não houve no Brasil um só governo verdadeiramente "católico". A legislação do Império não passa de uma série de atentados contra a religião católica e suas instituições. Na verdade, a Igreja se encontra nos 67 anos de regime monárquico, numa situação de dependência e opressão, sendo manietada e escravizada pelo Estado, através de intermináveis intervenções na sua vida interna. Semelhante procedimento atava e entravava a Igreja no livre desempenho de sua missão evangelizadora. No que diz respeito aos eclesiásticos no período em pauta observamos que, isolados pelas enormes distâncias e a dificuldade de comunicação, o clero vivia no meio do povo, sem grandes recursos. As côngruas (salário do clero pago pelo Estado) eram baixas e irregulares, o que obrigava a muitos procurarem meios complementares de sustentação. Assim havia padres negociantes, taverneiros, fazendeiros, advogados, proprietários de movimentados postos de ferrar cavalos. Em não raros casos encontramos cidades com templos dourados, servidos por párocos pobres e realmente necessitados. Durante a época do Império, vemos surgir duas tendências reformistas na Igreja em franca oposição ideológica. De um lado, o movimento que pode ser chamado de regalista, nacionalista e liberal, muito ativo entre os anos 1826 e 1842, dirigido por um grupo expressivo do clero paulista. Seus projetos tendiam perigosamente em direção à formação de uma "Igreja Nacional", apenas formalmente ligada a Roma. Um de seus principais representantes foi o Padre Diogo Antônio Feijó. De outro lado, o movimento que pode ser identificado como ultramontano e conservador, atuante de forma moderada até meados do século XIX, para depois enrijar-se. Defendia uma aproximação a Roma e uma maior sintonização com as diretrizes do Concílio de Trento (1545-1563) e, depois, com as do Concílio Vaticano I (1869-1870). Seus integrantes propugnavam uma Igreja mais centralizada com nítidas preocupações doutrinárias e disciplinares. Os princípios regalistas presidiam os projetos reformistas do grupo paulista. Acreditava-se seriamente que as reformas deveriam ser levadas a efeito pelo próprio governo civil, uma vez que - no seu status de
"religião oficial" - a Igreja dependia em tudo do Estado. Havia declarada aversão a interferências "de fora", sobretudo de Roma. Um exacerbado nacionalismo está presente nas discussões dos políticos, quando se trata de assuntos referentes à Igreja. Um tema que exaltou os ânimos foi a proposta de abolição do celibato eclesiástico ou, pelo menos, não colocá-lo como obrigatório para alguém ser presbítero. Outra questão polêmica foi a nomeação pelo Governo de Padre Antônio Maria de Moura, conhecido adversário do celibato, para bispo do Rio de Janeiro, indicação não aceita pelo Papa. Quase se chegou a um cisma (1835). Apesar de alguns pontos positivos, no fundo os reformistas deixaram orientar-se por princípios nitidamente regalistas que colocavam a Igreja sob a tutela do poder público, na suposição de que ela mesma não possuía condições para realizar sua reforma interna. Dotados de pragmatismo político, esses reformadores liberais não levavam em consideração a natureza específica da Igreja e sua autonomia "no espiritual." Seus protagonistas, entre os quais destaca-se o Padre Diogo Antônio Feijó (1784-1843), Ministro de Justiça (1831-1832) e depois Regente do Império (1835-1837), considerando a Igreja como um simples departamento da administração pública. No que diz respeito à outra tendência, que indicamos como “ultramontana” e “conservadora”, convém não perder de vista o contexto mais abrangente da época. Em meados do século XIX, assistimos a uma crescente centralização tanto na Igreja como na política interna do Brasil. O fenômeno verifica-se na Igreja Universal com o governo de Pio IX (1846-1878), Papa que teve o mais longo pontificado até hoje. Este período é caracterizado por uma decidida contraofensiva às orientações liberais e laicizantes no mundo ocidental. Roma toma a liderança do movimento, empenhando-se na restauração dos “sagrados valores nacionais”. A centralização romana torna-se um poderoso instrumento na arregimentação de todas as forças eclesiásticas, colocando-as rigidamente numa linha de combate aos “perversos avanços da modernidade”. Expressão eloquente desse fenômeno é a encíclica Quanta Cura (1864), acompanhada do Sílabo, ou seja, o catálogo de 80 condenações do mundo moderno. A declaração da “Infalibilidade Papal” no Concílio Vaticano I (1870), veio reforçar e completar a centralização em curso, dando-lhe um respaldo dogmático. Os adeptos e defensores dessas tendências romanizadoras são conhecidos como ultramontanos. Para eles o centro de toda a vida da Igreja está na pessoa do Papa, representante direto de Deus na terra. Chega-se a afirmar que só é autêntica a >>> INFORMATIVO SÃO VICENTE 15
ortodoxia católica emanada de Roma. Portanto, não conservadora em questões dogmáticas e disciplinabasta ser católico; é preciso ser “católico romano”! res. Finalmente (após 300 anos!), as determinações A invasão dos Estados Pontifícios pelas tropas da do Concílio de Trento (1545-1563) seriam aplicadas Unificação Italiana (setembro de 1870), que levou o no Brasil, dando a base para uma autêntica reforma Papa a ser “prisioneiro [voluntário] do Vaticano”, susdo catolicismo no país! citou no mundo católico uma onda de protestos a Na concepção tridentina de “sociedade perfeifavor do “Pontífice-mártir”. Este evento fez enrijecer ta”, a Igreja já não podia mais aceitar uma subserviainda mais as tendências romanizadoras. ência ao Estado. Começa a criticar-se o regime galiTambém no âmbito da Igreja no Brasil intensificanista do Império. Não está propriamente em discam-se os vínculos com a Santa Sé, durante o Secussão a fidelidade ao Trono e a cristandade como gundo Reinado. Roma é vista cada vez mais como o forma ideal de relacionamento entre os dois podecentro da catolicidade, garantia de sua união e orres. Mas diante de um legalismo sufocador, os bistodoxia. pos reformadores — entre eles o lazarista, bispo de Na sociedade civil brasileira de meados do séMariana, Dom Viçoso — exigem os legítimos direiculo XIX, percebemos igualmente um movimento tos eclesiásticos e o reconhecimento efetivo de o restaurador com características centralizadoras em Romano Pontífice ser o verdadeiro chefe da Igreja. torno da figura do segundo Imperador. CuriosaFortalecem-se também a comunhão e a solidariemente existe um paralelismo entre as metas da dade entre os bispos brasileiros, sendo uma decorIgreja e do Estado no reinado de Dom Pedro II: o rência natural de sua maior vinculação a Roma. fortalecimento do poder inter“Somos doze bispos unidos em no da Instituição, concentrado torno do Pontífice Romano, na pessoa de seu chefe, em como os doze Apóstolos em “Somos doze bispos unidos oposição às tendências centrítorno de Pedro”, dizia Dom Viem torno do Pontífice Romafugas que poderiam enfraqueçoso. Os bispos reformistas decer este mesmo poder centralinunciavam abertamente a interno, como os doze Apóstolos zado. Assim, os objetivos de ferência escravizadora do Estaem torno de Pedro”, dizia centralização, de uniformizado em assuntos eclesiásticos. Dom Viçoso. Os bispos reforção, de autoridade forte, de Assim, Dom Antônio Ferreira legalidade, se harmonizavam Viçoso, em carta ao Presidente mistas denunciavam abertaperfeitamente com os objetivos mente a interferência escravi- d a P r o v í n c i a d e M i n a s que a Igreja de então se pro(6-5-1856) critica sem rodeios a zadora do Estado em assuntos punha em sua estrutura ecleintervenção do poder público siástica. Quando, em 1842, esna Igreja: “Não é da compeeclesiásticos. tala a revolução liberal em Mitência das Autoridades civis dar nas, o então Padre Viçoso a Leis à Igreja; mas só defendêcondena categoricamente “pelas: como pois os nossos Legislos danos, escândalos e males irremediáveis que ladores Mineiros têm querido, nos anos passados, costumam trazer agitações deste gênero, e mais remover Párocos, diminuir e aumentar o número por enxergar em uma parte a injustiça patente, com dos Cônegos, marcar as atribuições e deveres dos que se levantam contra a legítima autoridade”. Capelães da Sé, reformar os estatutos dela e do Se o reformismo católico do primeiro Reinado Seminário Eclesiástico, castigar e demitir os Cône(1822-1831) e das Regências (1831-1840), liderado gos que não residissem, criar freguesias, suprimipelo grupo paulista do clero liberal, tinha por meta las, mudar as sedes delas? (...) Como agora sofrer adequar a Igreja no Brasil à realidade nacional, o que uns poucos de seculares, entre os quais é vermovimento reformador dos bispos que toma a diandade há gente de muito juízo, mas há também moteira no período do Segundo Reinado (1840-1889), ços que acabam há pouco das academias e que já se apresenta como marcadamente romanizante, no se sentam a dar regras à Igreja de Deus! Segue-se sentido de seguir de perto as diretrizes da Santa Sé. uma intromissão no que lhes não pertence, uma Não existia propriamente um orgânico “plano legislação nas matérias Eclesiásticas, extravagante e de ação” — aliás igualmente ausente no grupo pauuma confusão eterna. (...) Que desordens, que conlista — mas os bispos deixavam guiar-se pela pessequências não pensadas na fatura das leis, e tudo soa, gestos e normas do Papa. Em pontos essencipor se meterem em matérias que lhes não pertenais não havia dúvidas: a luta contra o regalismo cem, e tão fora de suas atribuições, como está fora exacerbado, a posição antiliberal e a concepção das minhas dividir distritos, criar comarcas, nomear 16 INFORMATIVO SÃO VICENTE
escrivães, etc., etc. (...) Pedimo-lhes por Deus atenda ordem “espiritual” e inteiramente voltado para der à liberdade da Igreja, pois é para lamentar que “as coisas do alto”. Uma constante preocupação é a tenham mais liberdade os Católicos da Inglaterra ou estrita observância do celibato. A fim de melhorar a da China, países Protestantes e gentios, do que no cultura do clero, os bispos instituem as conferências Brasil, onde a Religião dominante é a Católica. eclesiásticas, a serem realizadas uma vez por mês. Deus não pode abençoar tais abusos e escravidão.” Esses bispos reformadores insistem que o lugar Entre os representantes mais ilustres dos Bispos próprio do padre é o templo, onde deve atuar no reformadores encontramos a figura de Dom Romualtar, no púlpito e no confessionário. “No púlpito aldo Antônio de Seixas, arcebispo da Bahia (1827deve pregar as verdades religiosas e exortar o povo 1860), inicialmente um regalista moderado que deà observância das regras morais; no confessionário pois aderiu plenamente ao movimento da reforma perdoa os pecados e orienta o fiel na prática dos “romana”. Gozou de amizade com Dom Pedro II deveres cristãos, o seu ministério culmina na celeque muito o apreciava e se deleitava por passar albração da missa, onde ele exerce a mediação entre gumas horas com ele em elevações literárias e cula divindade e a humanidade pecadora”. turais. Mais ainda do que a moralização do antigo cleMas será sobretudo em Minas e em São Paulo ro, interessava aos bispos reformadores acompaque a ação reformadora dos bispos se faz sentir nhar de perto os seminaristas. mais fortemente. Na formação do novo padre, Já mencionamos a figura em sintonia com as orientaímpar de Dom Antônio Ferções romanas e inspirada no reira Viçoso, lazarista e pormodelo tridentino, muito tuguês de nascimento, nocontribuíram os Padres da meado bispo de Mariana em Missão, ou Lazaristas que em 1844. Iniciando uma ampla 1820 chegaram ao Brasil por reforma na própria diocese, solicitação de Dom João VI. tornar-se-á igualmente o proOs melhores seminaristas pulsor da revitalização em eram enviados ao Colégio outras regiões do país, atraPio-Latino-Americano em vés de bispos formados por Roma, fundado em 1851, a ele: Dom Luís Antônio dos fim de beber “nas fontes imSantos, em Fortaleza polutas” as ciências sagradas. (1861-1881); Dom Pedro MaVários deles, ao retornar à ria de Lacerda, no Rio de Japátria, seriam indicados para neiro (1869-1890); Dom João postos no episcopado. Antônio dos Santos, em DiaA visita pastoral fora muito mantina (1863-1905). No seu recomendada pelo Concílio governo episcopal chegou a de Trento. Os bispos que ordenar 318 sacerdotes! aderem à reforma católica Dom Antônio Ferreira Viçoso, Sétimo Bispo de Mariana Em São Paulo, Dom Antôutilizar-se-ão dela para conhenio Joaquim de Melo (1852-1861), começou a recer de perto a realidade do povo e para promover forma pelo clero, a fundação de um seminário e as mudanças consideradas necessárias. Têm em frequentes visitas pastorais. mente combater o que consideravam “a ignorância No fim do período imperial entra no cenário do povo” e incutir nos fiéis padrões morais de Dom Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará acordo com as diretrizes oficiais da Igreja. (1861-1890), que será uma referência indiscutível no As Santas Missões continuam e aprofundam as processo de alinhamento da Igreja no Brasil com visitas pastorais do bispo diocesano. Normalmente Roma. são dirigidas por Congregações Religiosas com exAs áreas de atuação dos bispos reformadores periência neste campo de apostolado, destacandodizem principalmente respeito à reforma do clero, se os Padres da Missão (Lazaristas), jesuítas (retorà formação de novos candidatos mediante seminánados ao Brasil em 1842) e capuchinhos. Também rios diocesanos, às visitas pastorais e promoção de aqui a finalidade é instruir o povo nas verdades da missões populares. fé e elevar o nível moral, sobretudo no que diz resO grande objetivo é criar um clero douto e sanpeito à vida matrimonial. Insiste-se na recepção dos to, de conduta reta e grave, digno representante sacramentos, particularmente o da confissão. >>> INFORMATIVO SÃO VICENTE 17
Ao lado de novos movimenAo lado de inegáveis aspectos tos espirituais e devoções, surpositivos, percebemos notáveis Impressiona-nos a força de exgem nesta época associações pansão e amplitude do movimen- limitações. Em primeiro lugar, diretamente voltadas para a trata-se de uma reforma “imto reformador. Partindo de um prática da caridade cristã. No portada” da Europa, sobretudo bispo do interior de Minas, Dom fim do Império é criada no Rio no que diz respeito à visão do de Janeiro (1872) a primeira sacerdote e sua formação. TeViçoso, pouco a pouco o moviconferência da Sociedade de mos aqui um movimento tipimento foi crescendo e se espaSão Vicente de Paulo (SSVP), camente clerical que enfatiza lhando por outras dioceses. Nasfundada em Paris, no ano de antes de tudo a estrutura hie1833, por Frederico Ozanam. rárquica da Igreja em moldes ce um clero com outro espírito, Os Vicentinos representam uma do Concílio de Trento. A Igreja orientado pela nova figura de novidade em relação às antigas quase é sinônimo de hierarquia pastor ‘apóstolo e santo’, que se irmandades, pelo fato de estaeclesiástica. Daí a progressiva substitui à antiga imagem do rem inteiramente voltados ao marginalização dos leigos, pobre. O confrade vicentino como também das expressões bispo administrador e político, procura colocar a “caridade em populares da fé. Os promotores do período colonial ação”, participando pessoal e da reforma querem purificar a diretamente do serviço aos poantiga herança religiosa lusitabres mediante contatos pessona, substituindo-a por um catoais, marcados pela solidariedade e compaixão. E licismo mais ortodoxo e romanizador. tudo isso como membro de uma comunidade fraA ação reformadora dos bispos na segunda meternal de leigos animados por uma mesma vocação. tade do século XIX faz com que a Igreja no Império Concluindo: Impressiona-nos a força de expanse torne mais “romana” e menos “nacional”. Paulasão e amplitude do movimento reformador. Partintinamente o clero se afasta das atividades seculares do de um bispo do interior de Minas, Dom Viçoso, — entre as quais a política — começando a dedicarpouco a pouco o movimento foi crescendo e se esse quase exclusivamente à “cura d’alma”. Em suma: palhando por outras dioceses. Nasce um clero com “Ao mesmo tempo, a tônica do catolicismo brasileioutro espírito, orientado pela nova figura de pastor ro desloca-se do leigo para o bispo, da religião fa‘apóstolo e santo’, que se substitui à antiga imagem miliar para a religião do templo, das rezas para a do bispo administrador e político, do período colomissa, do terço para os sacramentos. nial. Foto: Arquivo da PBCM
Mariana, Seminário Maior, 1941 Na foto, P. Delile Ribeiro, P. Van Pol, P. Trindade e P. Dinarte
PERFIL
Pe. Luiz de Oliveira Campos
Pe. José Tobias Zico Marco glorioso nos duzentos anos da presença lazarista no Caraça Foto: Arquivo da PBCM
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adre José Tobias Zico, CM, nasceu na cidade de Araújos, em Minas Gerias, na Fazenda dos Veados. Estudou no Caraça na Escola Apostólica de (1935-1940). Fez Filosofia e Teologia no Seminário São Vicente de Paulo em Petrópolis, onde se ordenou sacerdote, aos 05/10/1947. Colocações: Primeira na Escola Apostólica Nossa Senhora Mãe dos Homens no Caraça, como Professor e Disciplinário e depois Ecônomo. Em 1956, foi nomeado Superior na Escola Apostólica São Vicente de Paulo de Fortaleza. Quatro anos depois é transferido para o Seminário da Prainha em Fortaleza, como Professor e Diretor Espiritual do Seminário Maior. Em seguida é nomeado Reitor do Seminário Menor de Mariana e, por um ano, do Seminário de Brasília. Em 1968 vai para o Rio de Janeiro participar do Curso do Ispac (Pastoral Cetequética). No começo de 1969 vem para Belo Horizonte, para ser Pároco na Paróquia de São José do Calafate (1969-1976). Interessou-se pelos trabalhos dos Confrades Vicentinos e publicou o livro que escrevera durante o tempo do Ispac: ”Ozanam e o Leigo na Igreja”. E para um grupo que se dedicava às representações teatrais, elaborou uma pequena peça: “São Vicente e Pobre”. Em 1976, como homenagem à inauguração da estrada asfaltada para o Caraça, Padre Tobias publicou o seu livro especial: “Caraça: Peregrinação – Cultura e Turismo”. (Precioso livro para se conhecer a história dos 200 anos do Caraça). Transferido para o Caraça, lutou por 20 anos (1976-1996) pela res-
tauração do prédio e pela boa acolhida aos peregrinos e turistas que procuravam o lazer no Caraça. Para responder a tantas perguntas dos visitantes sobre o Caraça, publicou os seguintes livros: “Nossa Senhora e a história do Colégio”, “Caraça Ex-alunos e Visitantes”, “A Igreja do Caraça e outras Construções” (No Centenário da Igreja neogótica – 1983), “Caraça e a Família Imperial” e “Parque natural e curiosidades do Arquivo”. Estes livros tornaram mais conhecida e documentada a fama do Colégio do Caraça e as benemerências da Congregação. Seu autor aceitou, como homenagem ao Caraça, a honra de ser membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e membro também da Academia Mineira de Letras. Em 1996, após superar violenta pneumonia, foi obrigado a deixar o Caraça, recolhendo-se à nossa casa da Paróquia de São José do Calafate. Neste período, escreveu o livro, cujos capítulos estamos resumindo: “Congregação da Missão no Brasil, Resumo histórico” (1820-2000). Padre Tobias continuou nestes anos no Calafate a lutar contra a insidiosa diabetes, vindo a falecer no Hospital Madre Teresa, no dia 09/02/2002, com 81 anos de idade e 55 de Sacerdócio. Após missa de corpo presente no Calafate, celebrada por Dom Sebastião Roque Rabelo Mendes, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte, seu Corpo foi levado para o Caraça onde está sepultado nas Catacumbas. Padre José Tobias Zico é um marco glorioso dos 200 anos do Caraça e da Congregação da Missão no Brasil. INFORMATIVO SÃO VICENTE 19
PA S T O R A L V O C A C I O N A L Pe. Denilson Matias
Não há como atrair, sem se aproximar! Novos desafios para a pastoral vocacional vicentina
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a raiz das nossas preocupações a respeito do vazio dos nossos seminários, pelo fato de não entrarem tantos membros como no passado, subjaz o medo da descontinuidade do nosso carisma específico e, como consequência disto, o medo da decadência das nossas obras. Esta é, de fato, uma preocupação aceitável. Sem novos membros, tudo tende a se estagnar. Alguns membros morrem e, às vezes, outros saem. Estes conturbados tempos atuais nos convidam a pensar: como anda o nosso trabalho pastoral com os jovens? Gostaria de estar equivocado, mas, penso que a sede de manter a máquina institucional em pleno funcionamento pode nos ter afastado de uma parcela importante do Povo de Deus, que é parte fundamental no trabalho da animação vocacional: as juventudes. No nosso contexto de Brasil, ainda não somos populações tão idosas quanto às dos países mais abastados do hemisfério norte. Ainda podemos desfrutar da presença juvenil, por onde quer que andemos. Pensemos, de modo mais global, em como se comportam muitas congregações masculinas e femininas hoje em dia. Maioria das vezes, os seus membros incorporados estão ocupados em seus trabalhos específicos. Hospitais, colégios, paróquias, missões, assessorias, ramos das famílias congregacionais e tantas outras obras, na maioria das vezes funcionando bem. Os membros especializados cuidam para que tudo funcione da melhor forma possível. Mas, na maioria das vezes, constata-se que há muito trabalho para poucas pessoas ou poucas pessoas ocupando o mesmo cargo durante muito tempo. Culpa delas? Não. Apenas não há pessoas com quem intercambiar. O mestre não tem mais discípulo para ensinar. Há casas vazias do barulho dos jovens ou das jovens inexperientes, mas cheios de vontade e de alegria. Esta é a realidade de muitas congregações. Algumas sempre foram pequenas e envelheceram. Outras, foram grandes e diminuíram com o tempo e há aquelas que estão diminuin20 INFORMATIVO SÃO VICENTE
Seminário do Caraça nos anos 50. Hoje estamos bem distantes do tempo dos "seminários cheios”
do pouco a pouco. Por detrás dessa realidade, podemos dizer que todas essas congregações, no seu momento, no seu auge, fizeram o que puderam para trabalhar com excelência. Talvez, em algum momento, apenas se esqueceram de gastar tempo com os mais jovens. No coração da cultura vocacional, caso não queiramos seguir ladeira abaixo, em vista da diminuição no número dos membros, a relação de proximidade com os jovens nos interpela. Em uma conferência, no Capítulo Geral na Ordem da Santíssima Trindade e dos Escravos Trinitários, o Papa Francisco disse: “Os jovens nos querem próximos. A pastoral juvenil e vocacional exige acompanhamento, o que comporta proximidade, estar presente na vida dos jovens. Os jovens vos querem como companheiros de caminho. (...) A proximidade é a única coisa que pode garantir uma relação fecunda, evangelicamente falando, com os jovens. Abram as vossas casas e comunidades aos jovens, para que possam compartilhar a vossa oração e a vossa fraternidade, mas sobretudo abram os vossos corações a eles. Que eles se sintam amados pelo que são, por
Foto: Arquivo da PBCM
como são. Sejam para os jovens, irmãos mais velhos com quem eles possam conversar, em quem eles possam confiar. Escute-os, conversem com eles, façam discernimento juntos. Isso cansa! E esse é o preço: o vosso cansaço”. (1) Não basta haver jovens em nossas missas, nas nossas escolas, trabalhando conosco, se a proximidade for um elemento ausente nas nossas relações interpessoais com eles. O fechamento distancia, afasta e impede qualquer possibilidade de encantamento. Tornamo-nos exímios personagens intocáveis em nome de uma religião, que deixa de ser importante, pois não comunica a partir do coração. O testemunho que não é comunicado não pode ser fértil. Não é capaz de fazer germinar no coração do outro sequer uma muda de curiosidade, de interesse, porque é algo realmente incomunicável. Quando não nos aproximamos de verdade, não comunicamos e a mensagem fica retida. Nisto, colocamos em risco o melhor da mensagem que nos foi conferida e que poderíamos ter comunicado com sucesso: o carisma não é transmitido. Sem relação não há contágio.
Além dessa proximidade sincera, fundamentada na abertura real do coração, isenta de comportamentos defensivos e de medos, o Papa ainda nos diz: “Encorajo-vos a caminhar com eles (os jovens), saindo de esquemas pré-fabricados; por favor, pastorais pré-fabricadas não, não dá certo”! Precisamos de coragem para sair dos nossos esquemas pré-fabricados de pastorais juvenis que não acompanharam as mudanças dos tempos, de pastorais vocacionais que não se adequaram às novas juventudes. Muitos dos nossos serviços já não funcionam, já não dizem nada às novas gerações. Reconhecemos que há no nosso meio a dificuldade de linguagem e de método para nos comunicarmos com o mundo juvenil. Portanto, é preciso nos abrirmos, dando passos para além da rigidez pastoral, saindo do lugar comum, que não exige criatividade, para criarmos ambientes inventivos de contato e de comunicação da fé: “Mais que um trabalho de “pescar vocações” faz-se necessário um empenho em ser presença a tantos rostos jovens desfigurados pela violência, exclusão e falta de sentido para a vida. (...) Para tal intento necessita-se de referenciais, apaixonados por Cristo que, com ousadia e arrojo, se dediquem à missão de ir ao encontro desse novo mundo ainda não desbravado; apaixonados por uma Igreja que se deixa evangelizar, que escuta e oferece como serviço humilde aquilo que carrega em vasos de barro; uma Igreja que saiba contemplar o divino no jovem e os cative pelo amor”. (2) Proximidade, abertura e criatividade: a partir dessas três atitudes ou comportamentos poderemos mudar o cenário de uma Pastoral Vocacional vazia de sentido e sem eficácia na ação para uma pastoral mais viva e esperançosa. Uma vez que o trabalho vocacional é missão de todos os consagrados, estas propostas deverão perpassar o trabalho de todos, independentemente das obras nas quais estejam. Cada consagrado é sujeito da animação vocacional. Neste sentido, o contato com as juventudes não é uma tarefa demarcada, enquanto o trabalho de alguns. Ele diz respeito à cultura vocacional e à vocacionalização das obras. Ousemos, na alegria de servir! ____________________
Notas: (1) Todas as citações do Papa Francisco, neste artigo, foram retiradas de sua Conferência no Capítulo Geral da Ordem da Santíssima Trindade e dos Escravos Trinitários, no dia 15 de Junho de 2019. (2)CORRÊA NETO, Sebastião. Juventudes e vocações hoje: caminhos e perspectivas para uma pastoral vocacional. São Paulo: Paulus, 2013. P. 64-65.
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E S PAÇ O D O S S E M I N A R I S TA S Seminaristas Cléber Teodósio e Ramon Aurélio
O que conversamos pelo caminho? (Lc 24, 17) Os estudantes vicentinos no contexto dos 200 anos
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Congregação da Missão celebra, neste ano, 200 anos da presença dos Padres e Irmãos Lazaristas no Brasil, por ocasião da chegada da Congregação da Missão à Terra de Vera Cruz. Comemoramos 200 anos de história repleta de criatividade e zelo na missão. Terra desbravada pelos missionários vicentinos que lançaram sementes (Mt 13, 3-9) durante muitos anos e ao longo do tempo estão colhendo, e ainda colherão bastantes frutos, nessa realidade que continua requerendo semeadores. O tempo é necessário àqueles que caminham. Questionar-nos sobre o que conversamos em nossa trajetória é válido, para toda a Província. Vivemos o kairós de Deus, o momento oportuno da graça, que age em nosso meio. No entanto, é necessário que nos coloquemos no lugar dos personagens a caminho de Emaús, e meditemos também sobre o questionamento que nos faz o Ressuscitado: “Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?” (Lc 24,17). Precisamos retomar o sentido do caminho e saber o que conversamos pelo caminho, a fim de não separarmos a jornada da mística, como de fato nos recorda Michel de Certeau: “é místico aquele ou aquela que não pode deixar de caminhar”. (1) A formação dos estudantes vicentinos é um caminhar, cheio de altos e baixos. Cada um de nós, aderindo à Vontade de Deus, apresentamo-nos como vocacionados, e respondemos o chamando a partir do carisma vivido por São Vicente de Paulo, há mais de 400 anos. Somos continuadores da missão evangelizadora de Jesus e de Vicente. A Ratio Formationis afirma que “São Vicente mesmo nos chama, por meio de seu rico legado, a uma formação e conversão contínua” (p. 177), ou seja, no caminho, é necessário que abracemos esse legado, a formação contínua e uma conversão diária, fazendo um exame de consciência, com humildade e confiança, para deste modo, caminhar com maior segurança nos caminhos do Senhor. No caminho faz-se necessário indagar-se. O leitor implícito atento ao Evangelho de São Lucas, ao adentrar-se na narrativa dos discípulos que estão em direção a Emaús, ver-se-á nestes personagens e pode entender que perguntar é também um modo de se relacionar com Deus, com o próximo e, sobretudo, consi22 INFORMATIVO SÃO VICENTE
go mesmo. O teólogo e poeta Tolentino Mendoça afirma que “deveríamos dedicar mais tempo a escutar essas perguntas que pulsam no nosso interior, tantas vezes pela vertigem, omitidas pelo pragmatismo ou pelo medo, adiadas para um momento ideal que depois nunca é”(2). Neste aspecto tão incidente é necessário, enquanto seminaristas, na atual conjuntura espiritual, apostólica, humana, vicentina, intelectual, comunitária, política, social e, também, provincial, estarmos conversando pelo caminho. Clarice Lispector já dizia: “eu sou uma pergunta”, assim que, perguntemos: o que conversamos pelo caminho? Entre nós seminaristas, um dos primeiros temas que tem acalorado nossos colóquios é o assunto dos duzentos anos. Nas casas de formação intensificamos as orações pedindo a Deus que nos torne “inventivos na caridade e zelosos na missão”(3), a fim de que revestidos do Espírito, possamos ser continuadores daqueles que nos precederam na seara do Reino, e que, por mais anos, sejamos continuadores da missão de evangelizar os pobres e de formar o clero e os leigos, iniciada em nossa Pátria. Seguimos atentos, disponíveis e engajados no maior número de atividades possíveis, relativas às celebrações desse singular ano jubilar. Outros temas latentes são aqueles relacionados à Igreja, local, nacional e internacional. Algo próprio de nosso fazer apostólico, onde discutimos e buscamos executar os planos paroquiais e arquidiocesano de pastoral, atentos às Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que contemplam em seu objetivo principal a Igreja em saída, o discipulado em comunidades eclesiais missionárias e o cuidado com a casa comum. Nos últimos dias nos detivemos à temática da Campanha da Fraternidade 2020: Fraternidade e vida, dom e compromisso: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (cf. Lc 10, 33-34). O tema provoca em nós, uma reflexão social, apostólica e de conversão lançando luz para a nossa formação vicentina. Analisando esse assunto, percebemos que a realidade mostra que será necessário empreender muitos esforços, no Brasil, para que realmente a vida esteja em primeiro lugar, uma vez que a desigualdade é um triste distintivo da sociedade brasileira, marcada também
pela ansiedade e a depressão (CF 2020, 30-58). No EREV (Encontro Regional dos Estudantes Vicentinos), acontecido em Belo Horizonte – MG, em 02/03/2020, uma de nossas reflexões consistiu em perguntar: como ser um seminarista-vicentino-samaritano nos dias de hoje? Logo vimos que é preciso olharmos à realidade como discípulos-missionários a fim de não nos deixarmos infligir pelas situações que são contrárias ao plano de Deus e estarmos atentos à vida nas suas mais diversas e múltiplas formas. Como gesto concreto, diante da realidade dos nossos irmãos e irmãs que sofrem e do questionamento que traz a CF desse ano, estamos contribuindo com a Pastoral Carcerária, ajudando-a em uma campanha em prol das pessoas presas no Complexo Penitenciário de São Joaquim de Bicas – MG, bem como, desenvolvendo na Paróquia Pai Misericordioso o projeto “Reciclagem Solidária”. Também, povoam nossas vozes, mentes e coração assuntos inerentes ao XXXVI ENEV (Encontro Nacional dos Estudantes Vicentinos) que se realiza, neste 2020, de 17 à 21 de abril, na PBCM, em Belo Horizonte – MG. Participarão todos os estudantes e seminaristas de nossa Província, mais oito estudantes das províncias de Fortaleza e de Curitiba. Em sintonia com o jubileu da CM no Brasil, o tema deste ano é: Resgate histórico e princípios fundamentais do ENEV, oportunidade de revisitar nossa história, firmar nossos pés no presente, para melhor viver nosso futuro. Além do viés formativo, o encontro conta com uma peregrinação à cartuxa de Dom Viçoso, em Mariana - MG e com uma tarde missionária na Paróquia Pai Misericordioso, em Belo Horizonte - MG. Nas formações dirigidas aos propedeutas, assessorias aos seminaristas internos, aulas aos filósofos ou
aos teólogos, nos detemos também a dialogar, analisar e refletir, para melhor viver o que nos orientam os documentos próprios da Congregação, despontando em nós a esperança, a fé, a fecundidade e a alegria, ajudando-nos a superar desafios cotidianos e a alimentar nossos sonhos. Além disso, procuramos estar atentos aos sinais dos tempos, conectando-nos com Deus, com nossos familiares, com os amigos e com os pobres, abordando questões de cunho político, social, religioso e cultural que denigrem a dignidade humana tanto em nível de nação quanto de mundo. Enfim, como nos lembra Paulo Freire “o caminho se faz caminhando”. Sendo assim, caminhemos, e conversemos pelo caminho, assuntos que toquem o cotidiano da vida de cada um de nós seminaristas. No contexto desses 200 anos, rezamos confiadamente pedindo que o “Senhor permaneça conosco” (Lc 24,29) e, que uma vez em nossa mesa, possa o Mestre abrir nossos olhos a fim de que sejamos autênticos estudantes vicentinos discípulos/missionários do Pai. Que enxerguemos o que Deus quer nos revelar por meio de seu Filho Jesus, para uma vez seguindo-O, aprendamos d´Ele a compaixão, e que faça gerar em nós o desejo de permanecer com Ele, ser presença que salvaguarda, cuida e transforma a vida dos mais empobrecidos (CF2020, 82) a começar por aqueles que estão ao nosso lado na caminhada. ____________________
Notas: (1) Obra: La Fable Mystique. “A Fábula Mística de 1982”. (2) MENDONÇA, J. Tolentino. Libertar o tempo: para uma arte espiritual do presente. São Paulo: Paulinas, 2020, p. (14). (3) Oração pelos 200 anos lazaristas no Brasil.
Seminaristas e formadores reunidos em Belo Horizonte Foto: enviada por Cléber Teodósio
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FAMÍLIA VICENTINA Sacha Leite
FamVin Made in Brazil Dois ramos da Família Vicentina que nasceram em solo brasileiro
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esde que São Vicente de Paulo criou a Congregação da Missão, em 17 de abril de 1625, os ramos derivados do seu carisma foram surgindo e se consolidando. Estes grupos começaram a se estabelecer em diversos países do mundo, formando o que hoje chamamos de Família Vicentina. É notório que diversas dessas iniciativas, elaboradas a partir do carisma de São Vicente de Paulo, estejam presentes no Brasil. A convite de Dom Viçoso, as Filhas da Caridade chegaram ao Brasil em 3 de abril de 1849, sendo, portanto, o segundo ramo da Família Vicentina internacional a se inserir em terras brasileiras. A partir de então, chegaram outras organizações, movimentos, entidades e representações. No entanto, uma minoria dos grupos que se originaram em solo brasileiro realizaram um trabalho consistente e suficientemente perene, a ponto de estarem ativos até hoje: a Congregação das Filhas de Maria Servas da Caridade, de Recife (PE) e as Servas dos Pobres de São Vicente de Paulo, de Maceió (AL) são alguns deles.
Congregação das Filhas de Maria Servas da Caridade A capital do estado de Pernambuco é o berço da Congregação das Filhas de Maria Servas da Caridade, criada pelo Pe. José Venâncio de Melo, CM em 8 de dezembro de 1928, com a finalidade de socorrer a pobreza de Recife e de outras cidades pernambucanas. As Servas da Caridade buscam levar uma palavra de fé, alento e esperança, e fazem ao mesmo tempo atividades de evangelização nas Dioceses e paróquias com um levantamento dos sacramentos que os fiéis precisam receber e os estimulam a participar efetivamente da vida eclesial em suas comunidades. Pe. Venâncio foi considerado, tal qual São Vicente, como Pai da Caridade,
querendo atender a todas as necessidades dos pobres, desenvolveu vários projetos de grande impacto social: Dispensário São Sebastião, Escola Doméstica Dona Maria Borba, Asilo da Velhice e muitos outros. Padre Venâncio valorizava a educação e desejava promovê-la a seus semelhantes, muitas vezes vítimas de grandes privações, por lhes faltar instrução. As Irmãs Servas da Caridade mantém em ação hoje as seguintes obras de caridade: Instituto São Miguel, Casa do Pobre, Abrigo São Francisco, Casa Generalícia, Dispensário Santo Antônio e Casa da Criança (obras no estado de Pernambuco), Instituto Padre Venâncio (em Fortaleza-CE) e ação pastoral na Diocese de Cametá, no Pará.
Pe. José Venâncio de Melo, CM e Ir. Maria Mercedes da Rocha Carvalho, uma das primeiras freiras da Congregação Foto: Divulgação Facebook
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Servos dos Pobres de São Vicente de Paulo A Fraternidade Casa de Ranquines nasceu de uma profunda experiência com o Santíssimo Sacramento. Alguns jovens membros da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), chamados de confrades e consócias, que, infundidos pelos dons do Espírito Santo, sentiram-se chamados a entregar a vida de maneira concreta a Jesus, para servir aos pobres, tal como São Vicente de Paulo. Escolheram viver para eterna doação aos excluídos da sociedade. A Fraternidade teve como sonhadores e idealizadores Márcio de Oliveira da Silva e Diogo Feliphe Ramos da Silva. O fundador dessa fraternidade, Márcio de Oliveira e a Co-fundadora Érika Walesca Soares Santos, fizeram uma escolha incomum a muitos jovens , os mesmos abdicaram da vida de noivos e um futuro casamento, para viver um amor esponsal a Jesus Cristo, o esposo da Igreja. E assumiram junto um caminho trilhado na vida religiosa, assim mudaram seus nomes para Irmão José Maria (Fundador) e Irmã Maria Rita (Co-fundadora).
A Instituição Fraternidade Casa de Ranquines foi iniciada em 25 de dezembro de 2005, na cidade de Maceió/AL, pertencente à Arquidiocese Metropolitana da mesma, tem como patronos São Vicente de Paulo e Nossa Senhora das Graças. A origem do nome casa de Ranquines foi dada a casa onde nasceu Vicente de Paulo em Pouy em Landes, na França. A palavra Ranquines significa na língua francesa “casa do coxo, do manco”. A casa tem foco na formação humana e espiritual. A Ranquines é o lugar onde é possível ter um encontro pessoal com Deus. Dentro de todo esse contexto nasceu a Associação Católica São Vicente de Paulo – A.C.S.V.P, para organizar os serviços já existentes, como também os que surgirem no decorrer do caminho, trazendo o lema do padrinho da comunidade, São Vicente de Paulo que diz : “A caridade precisa ser organizada.” Sendo assim as caridades foram tornando ações sociais e a associação, trançando planejamentos para atender, principalmente de forma digna os pobres necessitados.
Saiba mais sobre os ramos brasileiros da FamVin Congregação das Filhas de Maria Servas da Caridade Rua José de Alencar, 611 – Boa Vista Recife – PE Telefone: 81 3222-6698 servasdacaridade@uol.com.br
Associação CatólicaSão São Vicente Vicente de – A.C.S.V.P. / Fraternidade Associação Católica dePaulo Paulo - Fraternidade Casa Casa de Ranquines de Ranquines - Ladeira da Catedral, N°111, Centro Maceió-AL Ladeira da Catedral, N°111, Centro Maceió -AL Telefone: (82) 3374-6175/3326-2089 Te l e f o n e : ( 8 2 ) 3 3 7 4 - 6 1 7 5 / 3 3 2 6 - 2 0 8 9 / ( 8 2 ) casaderanquines@hotmail.com 8725-7154/9993-9552/8877-2049
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E N T R E V I S TA Sacha Leite
Lígia Barreto (designer) Fabiano Salek (músico) Hidelbrando Lima (escultor) Conheça alguns dos leigos que nos ajudaram a preparar o acervo comemorativo temático, para o bicentenário da presença lazarista no Brasil
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de abril de 1820 é a data em que, oficialmente, chegaram ao Santuário do Caraça os padres Leandro e Viçoso, iniciando, assim, a trajetória Lazarista no Brasil. Para homenagear a trajetória vicentina brasileira, o Departamento de Comunicação da Província Brasileira da Congregação da Missão está produzindo uma série de materiais comemorativos, e para tal, conta com o auxílio de colaboradores externos. Entrevistamos – e inserimos esta conversa a seguir – alguns dos profissionais que contribuíram para a confecção desse acervo temático: hino, selo comemorativo, livro, filme e monumentos que se propõem a evidenciar esta importante ocasião, para vicentinos, novos vocacionados e para a comunidade católica como um todo. 1) Você já conhecia a Província Brasileira da Congregação da Missão? O que mais lhe chamou a atenção neste contato? Lígia: Sim, estudei no Colégio São Vicente, no Cosme Velho e já conhecia a PBCM de nome, como mantenedora do Colégio. Percebi que a estrutura da Província é bastante grande e organizada, contando com várias iniciativas que ainda não conhecia. Fabiano: Não conhecia a fundo o trabalho desenvolvido pela instituição. Chamou-me a atenção o fato de quererem encomendar uma composição para celebrar uma data tão importante, ou seja, além de todos os valores vicentinos ensinados na missão, a cultura se também faz presente. Hildebrando: Não conhecia a PBCM. O que mais me chamou a atenção é que há tanto tempo já exista a caridade organizada. Foi uma alegria conhecer o trabalho de uma instituição que se dedica à caridade organizada e também ao ensino, há 200 anos. 2) Como foi trabalhar em parceria com uma organização religiosa? Lígia: O trabalho foi bastante profissional desde o início. Achei uma boa experiência, estabelecendo com um ótimo relacionamento com os meus contatos na organização. 26 INFORMATIVO SÃO VICENTE
Fabiano: Um processo natural de idas e vindas, onde ambos os lados precisam exercitar o desapego para que a obra ficasse pronta dentro de um prazo estipulado. Nem sempre é simples, mas acredito que fomos felizes. Hildebrando: Senti-me honrado com o convite para realizar o monumento em memória aos primeiros missionários lazaristas no Brasil, e mais uma vez convidado à construção do Reino de Deus.
3) Em sua opinião, o que o trabalho realizado por você ajudou a evidenciar? Lígia: O conteúdo do livro ajuda a contar a histórica da Província, bem como parte da história do país, evidenciando o quanto o trabalho religioso foi importante para a formação da nossa identidade. O nosso trabalho procurou evidenciar a riqueza e variedade de material produzido e armazenado ao longo desses anos, valorizando contar essa história com prazer visual. Fabiano: Creio que a composição por ter uma verve pop, com estruturas melódicas e harmônicas simples, contribui no processo de compreensão e assimilação da mensagem poética, trazendo um pouco da história da Missão e dos valores vicentinos para a Congregação.
Foto: Enviada por Fabiano Salek
Foto: Adriano Ferreira
Foto: Adriano Ferreira
Hidelbrando Lima escultor
Ligia Barreto produtora editorial e designer
Hildebrando: Acho que ajudei a evidenciar que no cumprimento da ordem de Cristo há um passe de bastão. No caso, o bastão do Cristo é a cruz. O passe do bastão é o cumprimento desta ordem: ide e evangelizai. Do mais novinho, para o adulto e para o mais velhinho. 4) Qual valor priorizado na produção da peça comemorativa, que, do seu ponto de vista, será experienciado por quem irá conhecê-la? Lígia: O que mais focamos na produção do livro foi em um produto bonito, com riqueza de fotos em que os membros da Província se identificassem, aliado a contar a história desses 200 anos, sem deixar de lado a autocrítica e o delineamento de novos passos. Quem folhear o livro poderá entender melhor os valores que norteiam a organização e, ao mesmo tempo, terá um acervo visual variado e de qualidade para apreciar. Fabiano: Creio que o carisma vicentino, que aparece no refrão como o grande responsável pela união em torno da Missão. Hildebrando: Eu quis retratar a ternura e a alegria quando se ouve e se busca cumprir ao chamado do Cristo. 5) Qual foi o maior aprendizado para você e sua equipe, dentro do processo de criação? Lígia: Aprendemos a nos conectar com o tema, para produzir um livro que representasse os 200 anos da chegada dos lazaristas ao Brasil. Fabiano: Conhecer um pouco da História de São Vicente de Paulo, principalmente por ser pai de aluno do Colégio. Hildebrando: O maior aprendizado é que quando confiamos Nele e nos entregamos ao trabalho com Ele e para Ele os maiores beneficiados somos nós mesmos. Vamos aprendendo que Ele sempre cuida de nós.
Fabiano Salek músico
6) Ficaram felizes com o resultado final? Em sua opinião, como esse produto cultural deve ser divulgado? Lígia: Ficamos muito felizes com o resultado. Acredito que temos um livro elegante, e de aparência moderna, ao mesmo tempo. Acredito que deva ser divulgado em todos os locais que a Província atua. Pode ser mandado um mailing de divulgação em que seja oferecido o envio do livro (versão brochura) para quem tiver interesse em conhecer e guardar essa história. Fabiano: Muito feliz! Papa Francisco? Sou fã dele! Hildebrando: O que eu gostaria é que todo o mundo visse os monumentos, sem distinção de etnia, credo, poder aquisitivo ou grupo político. 7) Nem sempre o espectador capta a mensagem que o realizador gostaria de transmitir. Se fosse possível exprimir em poucas palavras esse recado, qual seria? Lígia: Procuramos apresentar justamente a convergência entre o histórico e o moderno. O que foi a Província, com elegância e uma tipologia clássica no projeto gráfico, aliado a um toque mais moderno, representando o que será daqui pra frente, no uso do papel pólen, muito bem sugerido pelo Irmão Adriano e pela Sacha. A ideia também foi apresentar uma leitura visual dessa história, com o uso de muitas fotos, sempre com apresentação variada, e os álbuns, onde cada um pode olhar tanto o conjunto como se divertir com os detalhes. Fabiano: Não creio que seja o nosso caso… Mas vamos lá: viva os 200 anos da Missão lazarista pelo Brasil! Hildebrando: Alegria, felicidade e discernimento plenos começam e permanecem quando nos abrimos ao encontro, ao conhecimento e ao serviço a Jesus Cristo.
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C OT I D I A N O P ROV I N C I A L Da Redação
Livro, Documentário, Hino, Monumento e Selo Breve resumo explicativo dos itens comemorativos dos 200 anos Livro
O
Foto: Adriano Ferreira
livro Congregação da Missão: 200 anos no Brasil é fruto de um valoroso trabalho colaborativo que resultou em uma obra didática, sintética e imagética. Esta obra visa atender aos anseios do leitor hodierno, cujo perfil, moldado pelos meios de comunicação virtuais, exige urgência na forma e no conteúdo. Ao editar esta obra, não é nossa intenção repetir ou emular os valorosos escritos que, reconhecidamente, tornaram-se referência na difícil tarefa de contar a história da Congregação da Missão no Brasil. Os clássicos livros históricos escritos pelos padres José Evangelista Souza, Tobias Zico e Eugenio Pasquier, ainda são e serão, durante muito tempo, as mais importantes referências para os estudiosos que se dedicarem a conhecer a trajetória dos lazaristas em nossa terra. São livros densos, que obedecem a certos rigores acadêmicos, com descrições mais detalhadas acerca da vida e obra dos Coirmãos e dos fatos que construíram a Província em seus primeiros dois séculos. Já o livro que apresentamos aqui, traz uma belíssima síntese textual sobre os 200 anos da Congregação da Missão no Brasil, escrita pelo Pe. Eli Chaves dos Santos e conta ainda com prefácio do Pe. Lauro Palú e posfácio do Pe. Geraldo Mól. Permeando o texto, o livro traz a tona centenas de fotografias que ajudam a contar a história de maneira muito particular. As imagens foram selecionadas pelo Departamento de Foto: Adriano Ferreira Comunicação da PBCM, atividade que demandou um hercúleo trabalho de pesquisa nos arquivos da Província, espalhados pelo Rio de Janeiro, Catas Altas e Belo Horizonte. Este esmerado trabalho de pesquisa, digitalização, recuperação e
identificação das imagens levou cerca de seis meses e após recebermos a primeira prova da gráfica, sentimos que valeu a pena todo esforço. Está um livro muito bonito e gostoso de ler, folhear. Junto à Ilustrarte Design, capitaneada pela designer Lígia Barreto, elaboramos o projeto gráfico da obra, visando atribuir um destaque às imagens, mas também com máxima atenção ao texto, em busca de um equilíbrio harmônico entre esses elementos. Escolhemos uma fonte com serifa, a Didot, que apesar do visual clássico, é fácil de ler. Ainda visando a facilidade de leitura, escolhermos o papel Polén 90mg, que não dá reflexo e cuja impressão valoriza as imagens antigas predominantes ao longo da obra. Na capa, trazemos um registro fotográfico do Santuário do Caraça na primeira metade do século XX, em seus tempos áureos, localizada pela pesquisa iconográfica do livro, no Arquivo Público Mineiro. Este cenário passa bem a intenção desta publicação, que está em rememorar aos que viveram à época e apresentar, tanto aos mais jovens quanto às gerações vindouras, o quanto fomos grandes e de que maneira tivemos importante participação na construção da história da Igreja e da sociedade brasileira, como um todo. Desejamos, com este livro, contar a nossa história de maneira que cada um que a leia se sinta tocado, a tal ponto de querer fazer parte desta trajetória, construindo novos e valorosos capítulos que serão contados pelos novos vocacionados e pela nossa querida Família Vicentina.
Selo / Logotipo
A
marca para as ações relativas aos 200 anos dos Lazaristas no Brasil também surgiu a partir de uma conversa com Ligia Barreto, da Ilustrarte Design. Ex-aluna do Colégio São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, e mãe de alunos da escola, demonstrou estar familiarizada com a essência da cultura vicentina e portanto apta a realizar tal trabalho, com a assessoria do Departamento de Comunicação da PBCM. A proposta é que fosse representado o local onde se iniciou a missão vicentina no Brasil. Imaginamos, portanto que seria interessante apresentar a silhueta da igreja Nossa Senhora dos Homens, no Santuário do Caraça, primeiro endereço dos vicentinos em terras brasileiras. Depois de alguns esboços a Ilustrarte Design chegou em um traçado simples em que a imagem representa, com classe e discrição, a importância da ocasião que desejamos, humildemente, lembrar e enaltecer. O texto selecionado foi a versão mais sintética possível, que oferecesse fácil entendimento ao mais breve olhar e contivesse os signos capazes de entrelaçar as seguintes palavras-chave: ícone comemorativo, lazaristas, 200 anos, Brasil. Há versões horizontal e vertical, em cores verde, bomino e preto e branco. O resultado ficou bem satisfatório. As iniciativas relativas ao bicentenário podem e devem ser seladas com esta marca.
P
ercorrendo os museus do mundo é possível observar que, o longo da história, os homens têm buscado registrar seus medos, anseios, aspirações, alegrias, tristezas, sua vulnerabilidade e as edificações empreendidas, em obras de arte. Esse tipo de representação possibilitaria que pessoas provenientes dos mais variados lugares, tanto no presente como em tempos futuros tomem conhecimento da trajetória da Congregação da Missão no Brasil. Contatamos, portanto, o escultor Hildebrando Lima, que ficou encarregado de esculpir estátuas alusivas às memórias dos primeiros missionários vicentinos no Brasil. O artista plástico baiano possui ateliê na zona oeste do Rio de Janeiro e trabalha com arte sacra há mais de 20 anos. A partir de uma pesquisa criteriosa, procurou representar as figuras dos padres Leandro Rabelo Peixoto e Antônio Ferreira Viçoso, e de um seminarista prestes a chegar ao Santuário do Caraça, animado com a possibilidade de se tornar um virtuoso vicentino. A ideia é que as três estátuas sejam colocadas no Santuário do Caraça, possibilitando a exposição permanente para um amplo grupo de pessoas. Hildebrando esculpiu os monumentos em barro, com acabamento em resigranito, material elaborado pelo próprio artista a partir de longa pesquisa. (Na imagem ao lado, esboço do rosto de Dom Viçoso modelado em barro por Hidelbrando)
Documentário
E
m um mundo marcado pela virtualidade, almejamos ter um registro audiovisual de boa qualidade capaz de demonstrar a dimensão, a diversidade e a complexidade da caminhada vicentina pelos solos brasileiros. Convidamos, portanto, o cineasta Guilherme Pedreiro e sua equipe para elaborar, juntamente com a equipe do Departamento de Comunicação da PBCM, um roteiro que incluísse a gravação de entrevistas no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Catas Altas, com os membros da Província ainda em atividade. Optamos por inseri também imagens de arquivo capazes de contar um passo-a-passo resumido de como chegouse até aqui, além de atribuir um caráter histórico e documental ao material. Ao todo realizamos um trabalho de seis meses de duração, incluindo pesquisa, roteirização, entrevistas, montagem e finalização. Ao final, temos um belo documentário de 48 minutos de duração que apresenta a história dos vicentinos no Brasil pelas palavras de Coirmãos, leigos e leigas que vivenciam o carisma vicentino ao longo dos últimos 200 anos.
Foto: Hidelbrando Lima
Monumento para o Caraça
Hino
U
m tema musical para cantarmos a caminhada dos vicentinos no Brasil e animar as paróquias ao longo do ano de 2020, para ser entoado tanto em ocasiões festivas, comemorativas, quanto nas celebrações e catequeses cotidianas, era o que queríamos. Conversamos então com o músico Fabiano Salek, do Rio de Janeiro, que compôs o hino “Uma história de virtude” para agregar ao conjunto de elementos comemorativos temáticos desse importante bicentenário. Fabiano utilizou o texto-base do Pe. Eli Chaves dos Santos como fonte de pesquisa e inspirou-se no estilo musical marcha-rancho, conforme sugestão do Pe. Lauro Palú, para delinear a melodia principal e o arranjo desta gravação. O irmão Adriano Ferreira e a jornalista Sacha Leite, colaboraram na elaboração da letra. O fonograma foi produzido em um estúdio de áudio no bairro das Laranjeiras, Rio de Janeiro e possui versões instrumental e cantada.
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N OTÍCIAS DA PBCM* Nova Direção Provincial A Assembleia Provincial aconteceu de 2 a 5 de novembro, em Belo Horizonte. Com a renúncia do Pe. Geraldo Mól, por motivos de saúde, foi eleita a nova Direção Provincial, que ficou assim constituída: Visitador Provincial: Pe. Eli Chaves dos Santos; Conselheiro/Assistente Provincial: Pe. Agnaldo Aparecido de Paula; Conselheiro/Ecônomo Provincial; Pe. Emanoel Bedê Bertunes; Conselheiro/Secretário: Ir. Adriano Ferreira Silva; Conselheiro Provincial: Pe. Gentil José Soares da Silva. Com a celebração eucaristia e uma reunião, a nova Direção tomou posse no dia 24 de março; em tempos de pandemia, o Pe. Gentil só pôde participar da primeira reunião através de videoconferência e até a fotografia teve que obedecer às medidas sanitárias preventivas. Nossos Seminários Assim começaram nossos seminários em sua caminhada formativa, neste ano: Instituto São Vicente de Paulo, com 9 seminaristas (6 na Filosofia; 1 na Teologia; e 2 no Propedêutico); Seminário Interno, com 6 seminaristas, sendo 1 da Província do Rio de Janeiro, 1 da Província de Fortaleza e 3 da Província da Argentina. A grande novidade é que o Seminário Interno tem agora uma cara internacional. Seminário São Justino de Jacobis, com 8 seminaristas na Teologia, sendo 1 da Vice-Província de Moçambique. Que o Senhor da Messe abençoe nossos formandos, que perseverem e se capacitem bem para o serviço dos pobres!
*Notícias enviadas pelo Visitador Provincial
Ministérios e Emissão dos Votos O Conselho Provincial aprovou os pedidos de: Adalberto Silva Costa, para a emissão dos Votos na Congregação; Ir. Louis Francescon, para a recepção dos ministérios de Leitor e Acólito. Estes dois coirmãos residem e trabalham na Missão de Francisco Badaró/Jenipapo. Em datas a serem definidas se realizarão as celebrações da emissão dos votos e da recepção dos ministérios. Aos dois coirmãos, nossas orações e cumprimentos, que sejam felizes, fecundos e fiéis no compromisso que vão assumir! Campanha de Solidariedade A Pastoral Carcerária de Bicas, coordenada pelo Fráter Henrique, CMM, e da qual participa também nosso coirmão Diácono Ezequiel, promoveu entre as comunidades da PBCM em Belo Horizonte uma bonita campanha de solidariedade quaresmal: a coleta de material de higiene para os presidiários. Cada comunidade se organizou para conseguir doações de sabonete, escova de dente, aparelho de barbear, pasta dental e outros objetos de higiene. O pouco de cada um reuniu uma boa quantidade de material. A significativa e evangélica solidariedade cultivada e alcançada nesta campanha revela a importância de trabalhar juntos, assumir causas comuns e concretas em favor dos mais pobres e, oxalá, aumentar a participação e comprometimento de mais membros da Família Vicentina nesta pastoral, bastante desafiante e de grande alcance vicentino.
Nova Direção Provincial (2020-2024) Foto: Eduardo dos Santos
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Em tempos de pandemia Comunidades e coirmãos têm sido motivados a viver esse tempo com uma esperança marcada pela lucidez, pelo compromisso, pela responsabilidade e pela criatividade. Apoiados nas palavras de São Vicente, são desafiados a “marchar, com segurança, no caminho real da cruz, onde Jesus será nosso guia e nosso condutor”, na certeza de que “Deus nunca deixa de nos socorrer em tempo oportuno, quando, de nossa parte, fizermos tudo o que podíamos”. Nesta convicção vicentina, coirmãos e comunidades têm procurado: - Manter o isolamento social para resguardar e cuidar da vida de cada um de nós e evitar a disseminação do vírus e ser uma referência como formador de opinião, dando bom exemplo e ajudando na orientação especialmente do povo simples; - Acolher o momento de maior reclusão não na passividade e na acomodação, mas tornando-o uma oportunidade para reinventar suas práticas e para desenvolver a criatividade: aprofundar o espírito de oração pessoal e comunitária, rezando sobretudo na intenção da humanidade atingida por esta sofrida situação; fortalecer a convivência comunitária, aprofundando os laços de fraternidade; cultivar momentos pessoais e comunitários de estudos e formação permanente; valer-se de novos meios e tecnologias para a comunicação; e promover cuidado mútuo, de modo respeitoso, equilibrado e responsável; - Viver este momento como uma oportunidade para a fecundidade missionária criativa. Há um esforço de passar do cancelamento de atividades à busca de novas formas de servir. Com o Colégio São Vicente, o Caraça e as paróquias praticamente com suas atividades habituais suspensas, diversas e criativas inciativas que já estão sendo promovidas para dar continuidade ao trabalho missionário; - Estar atentos às consequências que esta pandemia pode ter junto aos pobres. “Nunca deixemos os pobres sozinho”, essa é a preocupação constante e prioritária. Apoiadas por um Fundo Emergencial criado pela Província, diversas comunidades estão realizando iniciativas de ajuda aos mais pobres atingidos por esta situação crítica, com ações voltadas à prevenção, saúde e alimentação. Neste momento, os coirmãos comunidades estão sendo chamados a crescer na fidelidade vicentina, estão sendo chamados a rezar e viver com mais intensidade a “Oração pelos 200 anos da chegada dos Lazaristas no Brasil”: “Dinamizados por vosso Espírito, queremos ser constantes na oração e profundos no discernimento, inventivos na caridade e zelosos na missão, firmes no essencial e abertos ao novo, diligentes nas iniciativas e pacientes nas provações, sempre dispostos a amadurecer e frutificar, nutridos pela seiva do Evangelho e do carisma vicentino”.
Dica de Filme: Caraça, Porta do Céu
C U LT U R A
Direção: Theodor Lutz Lançamento: 1950 Disponível no YouTube
Ao celebrarmos os 200 anos da Congregação da Missão no Brasil, fazemos memória do ano de 1949 marcado por uma empresa cinematográfica em Minas Gerais que resolve fazer um filme sobre o Caraça, uma película que se pode ver novamente com satisfação e proveito.
Segundo o Pe. Antônio Mourão, CM, por ocasião do lançamento do filme: “O Caraça estava esquecido. Esteve longo tempo esquecido dos homens. E foi isto que despertou no coração dos ex-alunos a necessidade de cuidarem do seu berço educacional. Foi a partir daí que surgiram nos jornais e revistas, notícias e reportagens mais frequentes sobre a nossa Casa. Surgiram depois, as caravanas anuais ao Colégio. E isto foi para o coração dos velhos mestres um grande conforto e um encorajamento não menor para prosseguirem na árdua e espinhosa tarefa de instruir e formar homens para Deus e para a Pátria. Foi graças às tradições culturais do Caraça que surgiu a ideia do filme de longa metragem.”
Revisitar esta obra de arte, mesmo percebendo as fragilidades do enredo, proporciona um verdadeiro encantamento pela bela fotografia do filme, muito bem cuidada pela influência de cineastas franceses. O destaque para este longa-metragem é para os atores, que foram escolhidos entres os próprios alunos do Co-
légio e três fizeram papéis importantes: “Francisco” como o aluno piedoso que torna-se o padre; “Ratinho”, o aluno estudioso e alegre, que deseja ser Presidente da República; e “José”, o menino problema que não estuda e briga com os colegas. Neste enredo simples, desenrola-se toda a vida do Caraça: Chegada dos alunos a cavalo, como em 1910; a história do Irmão Lourenço, os estudos, as festas religiosas, os jogos e até as brigas. Já a segunda parte do filme narra a vida destes três alunos em Belo Horizonte, e a volta ao Caraça em 1950 pelo motivo da caravana de ex-alunos. Destaques ainda para os atores Pe. Luis Dupret como “Superior”, Pe. Sarneel como “Pe. Vicente” e Irmão Nilo como “Irmão Jorge”. Não esquecendo também que no elenco estão os Padres José Tobias Zico, Manoel Torres, Francisco Xavier Guerra, José Álvaro, José Faria e Domingos Faria. Que saudosas lembranças!
Como primeiro filme em preto e branco sonoro de longa metragem filmado em Minas Gerais, torna-se também um valioso documentário para celebrar a fecundidade do Carisma Vicentino ao longo destes 200 anos no Brasil, sobretudo resgantado os valores sempre atuais do tão querido Caraça: Educação, preservação ambiental, acolhimento, colaboração e evangelização! Que este filme continue resgantado nossa história e que Nossa Senhora Mãe dos Homens, sempre presente no Santuário do Caraça, esteja nos esperando um dia na “Porta do Céu”!
Foto: Arquivo da PBCM
“Amanhã, às 21 h, terá lugar no Cine Metrópole a pré-estréia de gala do “CARAÇA – PORTA DO CÉU”. A renda da exibição, que tem o patrocínio da primeira Dama do Estado, sra. Déa Dantas, reverterá em benefício do tradicional educandário.”
Pe. Alexandre Nahass Franco
TEXTO
Oração pelos 200 anos da chegada dos Lazaristas no Brasil
INVENTIVOS NA CARIDADE, ZELOSOS NA MISSÃO
Deus da vida e Senhor da história, nós vos louvamos pelos 200 anos da Congregação da Missão no Brasil. E vos agradecemos pelo amor providente com que acompanhastes aqueles que nos precederam na seara do Reino. Bendito sejais pela fecundidade do carisma vicentino semeado em nossa pátria e por seus frutos na evangelização dos pobres e na formação do clero e dos leigos. Vós nos chamais a seguir vosso Filho Jesus Cristo, revestidos de seu espírito e empenhados na missão. Perdoai-nos as infidelidades que não nos deixam corresponder ao dom que recebemos. Despertai em nós crescente retidão de consciência e generosidade de coração para servir como convém aos menores dos irmãos, atentos aos apelos de cada momento. Dinamizados por vosso Espírito, queremos ser constantes na oração e profundos no discernimento, inventivos na caridade e zelosos na missão, firmes no essencial e abertos ao novo, diligentes nas iniciativas e pacientes nas provações, sempre dispostos a amadurecer e frutificar, nutridos pela seiva do Evangelho e do carisma vicentino. Pai Santo, aceitai nossa gratidão, encorajai nossa entrega e fortalecei nossa esperança, enquanto caminhamos para vós. Por Jesus Cristo, Nosso Senhor, que veio evangelizar os pobres, na unidade do Espírito Santo. Amém. *** - Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. - São Vicente de Paulo, rogai por nós.
INFORMATIVO SÃO VICENTE Sugestões e contribuições: informativosv@pbcm.com.br