Inventario Participativo Quilombo Sitio dos Crioulos

Page 1



saberes e fazeres

sítio dos crioulos

inventário Participativo do ponto de memória

Comunidade Quilombola Sítio dos Crioulos Jerônimo Monteiro - ES

Historiador pesquisador orientador : Paulo Sergio Medeiros Barbosa (ORG)

1ª Edição Espírito Santo 2017


FICHA TÉCNICA Historiador pesquisador orientador : Paulo Sergio Medeiros Barbosa Equipe de Pesquisa - Sítio dos Crioulos Lais Silva Prata Roserina Silva Amilton Nicácio Tayara de Souza Silva Taylor de Souza Silva Roger Silva de Almeida Paulo Jorge Neves Silva Nilcilene de Souza Silva Projeto Gráfico : Luara Monteiro Revisão : Evelyn Pieve Fotografias Luara Monteiro, Paulo Sergio Medeiros Barbosa Acervo Sítio dos Crioulos

Agradeço pelo convite de organizar e transescrever o Inventario Participativo da comunidade e poder conviver momentos, emocionantes e reveladores da historia do Negro no Espirito Santo. A história dos Negros no ES esta ou desconhecidas, ou conhecidas e mal interpretadas, ou conhecidas, mas deliberadamente ignoradas. Houve uma destruição da Historia dos negros no Brasil .Portanto ; É preciso escrever para que todos, possam ler e entender a mensagem dos antepassados e antepassadas, bem como estudantes e professores. O Inventario constituí a memória do Negro no ES e também as reivindicações políticas que foram negadas durante décadas. O livro do Inventario Participativo esta publicado, mas, ainda em construção como semente colocada na terra. No plano de escrita para o tema necessitaria de muitos anos de estudo, para dar conta de todas as historias do lugar . Entretanto, neste tempo do relógio, conseguimos desenvolver os resultados propostos no projeto. Obrigado Evylin Pieve pelos apontamentos. Gil Mourin, Thiago Moulin e Sandra Prata por cederem as pesquisas para compor o inventário. Por final agradeço a comunidade pela acolhida e confiança e ao Mestre Nico Preto pelas histórias compartilhadas e ensinamentos valiosos. Paulo Sergio Medeiros Barbosa Historiador pesquisador


AGRADECIMENTO A Comunidade Quilombola Sítio dos Crioulos agradece ao historiador Paulo Sergio pela parceria e a SECULT - ES.



PRÉFACIO O Livro Ponto de Memória Quilombo Sítio dos Crioulos é constituído do inventário participativo realizado pela comunidade, com apoio do edital SECult-ES 2017- Pontos de Memória.

1 – FUNDAÇÃO DO TERRITÓRIO SÍTIO DOS CRIOULOS Ano 1875 2 – SURGIMENTO DE JERÔNIMO MONTEIRO Ano 1948 3 – CERTIFICADO DE REMANESCENTE DE QUILOMBO Ano 2014 4 – PONTO DE MEMÓRIA QUILOMBO SÍTIO DOS CRIOULOS Ano 2017

O trabalho em equipe, apoiado pela comunidade, foi fundamental para reconstituir parte da história da comunidade Quilombola do Sítio dos Crioulos, somado a documentos “oficiais”, jornais, fotos, objetos materiais e fatos históricos da formação do Espírito Santo, na Região Sul. De acordo com documentos levantados e analisados, em meados de 1850, 1870, as Amas de leite não eram meramente mulheres negras que estavam produzindo leite para amamentação, mas sim, mulheres ‘selecionadas’, que deveriam se enquadrar em determinado padrão: As Amas de leite, segundo relatos em jornais da época, passavam pelo processo de seleção: a Ama de Leite deveria ter boa saúde, dentes fortes, algumas virtudes, honestidade, lealdade e respeitar os senhores. Barbara Maria da Conceição, por sua vez, era Ama de Leite, mas também desenvolvia outras atividades trabalhistas, e em 1875 recebeu a notícia de que seus senhores negociariam, para ela, uma faixa de terra próxima da Fazenda Christal. No documento Informativo Folha da Terra - 1996-apub, 1893, encontramos o relato de Cândido Bossois a …, que afirmava “Barbara, essa terra é para tirar seu sustento e de seus filhos”.



Assim, em 1878, por 200$000 réis, Barbara adquire a terra escriturada em 1893, no Cartório da Vila de Alegre, medindo 04 alqueires. No Brasil Colonial, desde o início do século XVI, essa unidade de medida variava de região para região. Para a medida de milho, feijão e arroz o alqueire equivalia a 36 litros e para medida de outros produtos, o alqueire oscilava entre 38 á 40 litros (SILVA, 2010). Mais tarde essa unidade passou a ser utilizada pelos agricultores brasileiros como unidade de medida agrária, ainda em vigor em nosso País. Porém nunca foi uniforme no Brasil (SILVA, 2010), continua variando de uma região para outra: • 1 alqueirão = 193.600 m2 • 1 alqueire mineiro = 48.400 m2 • 1 alqueire da região Norte = 27.225 m2 • 1 alqueire baiano = 96.800 m2 • 1 alqueire paulista = 24.200 m2. O território da Comunidade do Sítio dos Crioulos, a partir dos documentos de escritura e, convertido em metros quadrados, chega-se a uma área total de 197.800 m2. O território tornou -se uma das maiores ocupações coletivas de Negras e Negros, baseada no uso da terra, na ancestralidade, no parentesco e nas tradições culturais negras. Relato mestre Nico preto……. ‘‘ao longo do tempo, as terras foram ocupadas sem autorização uns... Posseiros poderosos. ‘’as invasões‘‘ faz tanto tempo que nós perdemos as terras pelo usucapião ‘’.


A usucapião mencionada pelo mestre, é regida pelo Código Civil Brasileiro, de 2002, e pela Constituição Federal, de 1988, mas é o Novo Código de Processo Civil, de 2015, que determina as condições e requisitos para a validade de tal demanda jurídica. A principal delas é que o posseiro que ‘invadir’ a terra e tentar registra-la, não pode, e deve provar, que não possui outro imóvel, seja na zona rural, ou urbana. A Constituição Federal brasileira considera os grupos afrobrasileiros como formadores da cultura nacional. O território do Sitio dos Crioulos tem duplo mérito, pois além de quilombo é, também, uma colônia agrícola, nestes casos os territórios são patrimônios culturais e, independente do tempo e da utilização da terra são livre o usucapião ou de invasões.

Pela primeira vez, documentos indicam e relacionam a comunidade a uma colônia negra no Estado do Espírito Santo. Quando a comunidade do Sitio completou 70 anos de existência, no ano de 1948, ocorreu a emancipação da cidade de Jerônimo Monteiro do Município de Alegre. Ao tomarmos conhecimento da Ancestralidade da comunidade do Sitio do Crioulos, pudemo afirmar e confirmar que os negros e negras da comunidade estão presentes na origem da formação cultural, agrícola, social e política da Região Sul do estado do Espírito Santo. Barbara Maria da Conceição e seus descendentes diretos e indiretos, ocupantes do território, participaram


dos acontecimentos históricos da Região Sul, seja como trabalhadores escravizados nas fazendas de café, ou como colonos, produzindo alimentos em suas roças de subsistência e negociando o excedente. Formar uma família legal só foi possível a partir de 1885, quando a Constituição do bispo da Bahia regulamentou os casamentos dos escravos, com pessoas livres ou cativas, impedindo legalmente as dissoluções familiares“A partir de então, a terra, como propriedade, passa a ser herança, pode ser passada de pai para filhos.”. Documento de partilha 1996 registrado em cartório estipulando 18 lotes de 8 litros para cada um dos citados, ficando o restante da terra como coletiva. “O Litro é a medida da superfície de um terreno rural em que se faz a semeadura de um litro (capacidade) de sementes de milho ou feijão, em covas com 3 ou 4 grãos, num espaçamento de 1 m x 1 m, cobrindo uma área de 11 m x 55 m, ou seja, 605 m2”.

1. Paulino Faustino Neves 2. Jorge Francisco de Oliveira 3. Rafael Francisco de Oliveira 4. Jovina Francisca de Oliveira 5. Erotildes Francisca Oliveira 6. José Francisco de Oliveira 7. Nisério Francisco de Oliveira 8. José Francisco de Oliveira Barbosa 9. Rafael Francisco de Oliveira 10. Juvenal Barbosa de Oliveira 11. Ana Francisca de Oliveira 12. Brandina Francisco de Oliveira 13. Arlinda Barbosa Oliveira 14. Maria Gomes dos Santos 15. Nerentina Barbosa de Oliveira 16. Idalina Francisca de Oliveira 17. Amália Francisco de Oliveira 18. Hermes Rodrigues de Oliveira.


A Religiosidade que teve origem no Sítio dos Crioulos promoveu a união e o amor em Jerônimo Monteiro. Maria Carolina fundadora do Centro de Umbanda, referência na cidade unindo negros e brancos na espiritualidade. Ana Parteira, mulher negra e descendente do território, por suas mãos e conhecimentos herdados de sua avó, realiza mais de 200 partos por toda região do Sul do ES. Além de parteira era benzedeira, mulheres negras líderes. As mulheres negras foram capazes de conquistas admiráveis, lutaram bravamente, até mesmo em guerras contra a escravidão. Barbara Maria da Conceição, revela a mulher Negra Capixaba, guerreira que desmistifica a ideia de que as mulheres negras nunca fizeram nada de grandioso que marcaram a vida de seus descendentes. Ao conhecermos o contexto histórico vivido por Barbara Maria da Conceição, associamos a ela, bravura e inteligência, virtudes sempre citadas nas rodas de conversa na comunidade Quilombola do Sítio dos Crioulos. O inventário participativo nos trouxe a história sua história: uma mulher Negra, que no período da escravidão consegue comprar terras e passa-las aos seus descendentes. Temos muitas mulheres como Barbara, na história do Espirito Santo. Mulheres que ousaram romper a ordem do sistema escravocrata e que poucas vezes são citadas como: Zacimba, a princesa


guerreira que fugiu ao lado de outros negros que libertou e, na mata, criou um quilombo além de comandar muitas lutas para salvar seu povo. As histórias do Sítio dos Crioulos são marcadas pela luta incansável das mulheres Negras para criar seus filhos, enfrentamento as dificuldades. As mulheres negras vivem a dureza do dia-a-dia do trabalho no roçado na busca de sustento da família durante os séculos XlX, XX e XXl.



ÍNDICE Introdução Capítulo 1 – Região Sul do Espírito Santo 1.1 Principais etnias do ES 1.2 Origem do Quilombo Sítio dos Crioulos 1.3 Colônia Negra Capítulo 2 – Inventário participativo dos saberes e fazeres 2.1 Sítio dos Crioulos e a Memória 2.2 Festa de São João 2.3 Folia de Reis 2.4 Brinquedos – Perna de Pau 2.5 Casa de BARRO Capítulo 3 – Território e práticas culturais 3.1 Broa de milho e doce de mamão 3.2 Capoeira – patrimônio Capítulo 4 – Centro de Umbanda Espírita Maria Carolina & Centro São Jorge Capítulo 5 – Inventário Participativo Fotográfico Capítulo 6 – Árvore Genealógica ( em construção) Conclusão Bibliografia



INTRODUÇÃO A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) define que : “Patrimônio Cultural Imaterial é formado das práticas, representações, objetos, artefatos e lugares culturais que as comunidades, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.” O patrimônio cultural da comunidade do Sítio dos Crioulos inclui a sua cosmovisão, traduzidas em suas histórias, costumes, festas, cantos e rezas. O livro surgido ... as histórias dos primeiros ancestrais do território, que surge em 1878, até os dias atuais. São 139 anos de acontecimentos e lutas. Os moradores do território, reunidos em rodas de conversas, munidos de fotos antigas, documentos, contaram histórias do trabalho na roça das caçadas de animais e das pescarias, registros de suas vivências. As histórias guardadas, piadas, adivinhas e contos de assombrações. Mestre Nico Preto é o maior contador de histórias da região conhece as histórias dos encantados da mata e do “Saci Pererê”. O inventário participativo utilizou, além dos documentos existentes na comunidade, outros autores


que estudam o tema, consultas on-line, bibliotecas, arquivo histórico e jornais de época, que relatam a história de ocupação do sul do ES. As principais fontes de pesquisa externas foram: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APES), Biblioteca da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Acervos pessoais de pesquisadores locais do município de Jerônimo Monteiro. Com o passar das entrevistas, a equipe percebeu que a memória tem lembranças misturadas de muitos períodos da existência do Quilombo. No território, o cotidiano está cercado de elementos culturais preservados, como o costume de usar banha de porco na produção dos alimentos: as famílias extraem a banha, e comem o torresmo de porco. A oralidade é principal forma de transmissão dos valores morais, conhecimentos da natureza, medicina tradicional e da agricultura. O futebol tem espaço reservado nas vidas dos moradores do Sítio, muitas histórias foram relatadas acerca das disputas e jogos locais pelos mais velhos. Os Negros e Negras moradores do Sítio dos Crioulos, sempre estiveram presentes na história do ES, antes mesmo da fundação de Jerônimo Monteiro.



PROJETO PONTO DE MEMÓRIA O inventário participativo valorizou história das pessoas do território como protagonistas. Contamos, também, com doações da comunidade, que cederam seus patrimônios preservados para formar o acervo do Ponto de Memória.

A comunidade do Sítio dos Crioulos contou suas histórias baseada na memória oral de seus integrantes e a partir dos seus patrimônios: a natureza, árvores, plantas, animais, pássaros, canções, instrumentos de trabalho, fotos, objetos e conhecimentos ancestrais. Estes acervos estão guardados no território e preservados por mais de 139 anos. No Espírito Santo, assim como em todo o Brasil, os negros e negras escravizados passaram por dificuldades diversas. A maioria dos registros publicados fala do negro como escravizado, poucos documentos descrevem os que conseguiram comprar sua terra dentro do sistema e escravista. Barbara Maria Conceição, protagonista desta façanha, enfrentou muitas dificuldades para vencer e ter seu pedaço de terra, um chão para construir seu futuro e de seus descendentes. Após a abolição, a vida dos negros libertos não mudou muito, ou quase nada: foram tachados e rotulados de preguiçosos, desqualificados em seus trabalhos, em todos os sentidos. Para resolver o problema de ter que negociar mão de obra com os negros recém-libertos, o Governo local decide trazer massas de imigrantes para o Brasil, acreditando que seria muito mais lucrativo negociar com europeus que viviam na miséria na Europa. As políticas após abolição para distribuição de terras aos Negros e Negras foram ineficazes, aliás, não foram apresentadas política alguma para distribuição de terras ao povo recém-liberto. Já o tratamento dado aos imigrantes brancos foi bem diferente do que era oferecido aos Trabalhadores Libertos. As oportunidades, privilégios a concessão de terras são desiguais, como podemos


observar no decreto abaixo: Por meio de Decreto publicado em 04 de junho de 1892, o Estado concederia aos imigrantes estrangeiros pagamento de passagens, hospedagem gratuita na Capital, transporte e alimentação até o local que residiam, assistência médica gratuita por dois anos, concessão de um lote de 25 hectares em núcleo do Estado à escolha do imigrante e adiantamento, a cada família, de um valor de 250$000 para o primeiro ano de estabelecimento.

A ausência de propostas para a distribuição de terras para os libertos é apontada como um dos principais motivos da situação socioeconômica do negro na atualidade. Ë neste contexto histórico que surge o território Quilombola da comunidade do Sítio dos Crioulos. O inventário Participativo reuniu a trajetória da comunidade”, iniciada com Bárbara Maria da Conceição, na formação da Região Sul do Espírito Santo. Sua história revela patrimônios materiais e imateriais de grande importância para a história do ES. A história de Barbara surgiu num momento de intensos conflitos políticos e econômicos da ocupação do interior do Espírito Santo e culmina na história e resistência de uma Comunidade oitocentista. O inventário Participativo foi mais um passo para o reconhecimento e valorização do legado histórico de Barbara aos seus descendentes. Uma vez que o acervo da Comunidade começa a ser construído pelos próprios membros, surge a vontade de desenvolver ações educativas para dar continuidade ao projeto e ampliar o acesso para que estudantes, pesquisadores, negros e negras conheçam mais sobre esta história.


Projeto de nova divisĂŁo do ImpĂŠrio, 1873. Acervo Biblioteca Digital Luso-Brasileira.


CAPÍTULO 1 - O SUL DO ESPIRITO SANTO Segundo Mestre Nico Preto, morador mais antigo do quilombo, “a origem mesmo, dessa região começou mesmo na Cachoeira das Flores, foi o primeiro nome de Jerônimo Monteiro. Os negros já estão aqui há muito tempo, antes de ser o que é hoje. Eu mesmo desde quando era criança … já trabalhei e rocei muita terra dos outros, já cuidei de gado, já tive vaca leiteira, plantei muita mandioca e café aqui e na terra dos outros fazendeiros”.

A ausência de ocupação e povoamento na Região do sul do Espírito Santo é decorrente da proibição do governo Português, de 1773, que desautorizava a abertura de caminhos que levassem às Minas Gerais. Em 1800, iniciaram o processo de demarcação dos limites entre Minas e Espírito Santo. As necessidades de comunicação entre Minas Gerais e o Espírito Santo se ampliavam na região Sul. De acordo com o texto de Bravo, (1994, p.9), em 1816, Manoel José Esteves de Lima recebeu autorização do governo de Minas Gerais para gerenciar a estrada de Minas Gerais até o Espírito Santo, e, em contrapartida, ficou isento dos impostos das terras ocupadas. Com o espírito tomado pelas possibilidades de exploração das terras e outras fabulosas riquezas, o sargento-mor Manoel José Esteves de Lima organizou, em 1820, uma bandeira com setenta e dois homens que, partindo de Mariana, capitania de Minas Gerais, penetrou nas terras do, hoje, sul do Espírito Santo (BRAVO, 1994). De acordo com o relatório do presidente da província Vasconcelos (1824), tais colonizadores mineiros tiveram suas posses de terras concedidas em março de 1822. Neste contexto histórico conhecemos o Negro Flores em um


dos primeiros registros que trata da posse da terra em troca do trabalho prestados por negros. No ano de 1859, chega a região Sul do ES, Cândido José Bossois. Casado, com filhos, ele traz junto seus escravos e mucamas para cuidar da casa, e as Amas de leite para amamentar as recém-nascidas crianças da família. Bossois sai de São João Nepomuceno (MG), em direção às grandes plantações de café chegando a Valença, RJ, onde tinha parentes. Depois de um curto espaço de tempo, consegue dinheiro para comprar terras e plantar café no Espirito Santo. Bossois estava decidido a investir na compra de terras no ES para o plantio do café. Reuniu, então, 5$000 cinco contos de réis e comprou a sesmaria Nossa Senhora da Penha do Alegre, na província do Espírito Santo, escriturada em 11 de julho de 1864, no Cartório de Alegre. Os lucros obtidos por Bossois do plantio de café e com trabalho escravo, consegue gerar grande excedente econômico,

Produção de Açucar e Café em Milhares de arrobas em 1873. Adaptado de Almada (1984)


possibilitando-o investir no setor das ferrovias. Com isso a região começa a impulsionar o povoamento e formação de núcleos familiares. (BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO, 1987). No site da prefeitura da cidade de Jerônimo Monteiro, encontramos no texto chamado “Contexto histórico de Jerônimo Monteiro” um trecho que conta a história do Quilombo Sítio dos Crioulos. Em 1878, o fazendeiro Cândido José Bossois, expressando a sua gratidão pelos anos de trabalho e lealdade da escrava Bárbara Maria da Conceição e de seu marido, doou uma área de terras com aproximadamente 04 (quatro) alqueires, pertencentes à Fazenda Santa Cruz. Em jornais de 1878 é possível encontrar relatos prevendo que em 10 anos a escravidão seria extinta no Brasil. Este mesmo jornal relata que escravos deveriam ser convertidos em colonos e as fazendas de café seriam transformadas em “colmeias agrícolas e os produtos colhidos deveriam ser preparados em fábricas centrais que seriam criadas nas fazendas”. (COSTA, 1998: p. 175). Mesmo com todos os argumentos sobre as vantagens da imigração e do trabalho livre, até 1880 a maioria dos fazendeiros acreditava ser impossível substituir a mão de obra escrava pelo trabalho dos imigrantes. (COSTA, 1997, p. 36-37) Com a crescente necessidade de reforçar sua “ascendência moral sobre os cativos”, os fazendeiros começam a alforriar os escravizados e distribuir pequenas porções de terra a seus escravos sem dar a liberdade, que permanece adiada.” (CHALHOUB, 2003: p. 130)


1.1

PRINCIPAIS ETNIAS AFRICANAS DO ES

Segundo a narrativa de Mestre Nico Preto, sob a formação do Espirito Santo, “Primeiro chegaram os portugueses com os negros, e depois os imigrantes brancos. Porque os índios já estavam aqui, vivendo no território e deram bastante trabalho para os brancos.”

Segundo fonte da OABES; Os primeiros escravos negros que chegaram ao Brasil, mais aceita hoje é a de que em 1538, pela mão de Jorge Lopes Bixorda, arrendatário de pau-brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos. Relato do Viajante Príncipe Maximiano: No século XIX, os primeiros dados sobre a existência de quilombos no Espírito Santo vêm dos anos de 1814 a 1817, quando o viajante conhecido como príncipe Maximiliano

Vista Geral da Expedição com muares carregados e homens armados e a cavalo e a pé . Class. embaixo [pena] : “A tropa dos viajantes atravessa o território de índios hostis do Rio Itabapuana até o Itapemirim em 2 e 3 de novembro de 1815”. Aquarela e Pena. 19,3 cm e 46, 0 cm. LÖCHNER, Renate e KIRSCHSTEIN- GAMBER, Birgit (reds). Viagem ao brasil do príncipe maximiliano de Wied Neuwied . Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GmbH. Petrópolis : Kapa Editorial, 2001.


Wied-Neuwied escreveu sobre os ex-escravizados da Fazenda do Campo e Fazenda Engenho Velho, próximas à então Vila de Guarapari. Na pesquisa do Instituto Histórico e Geográfico do Alegre - IGHA – encontramos a seguinte formação da Região sul do Estado: Cachoeira das Flores, foi o primeiro nome de Jerônimo Monteiro. As informações revelam a presença dos Negros e Negras antes mesmo da formação de Jerônimo Monteiro. O grupo estava formado por 72 homens, a maioria de escravos libertos, índios aculturados e alguns brancos. Na viagem de retorno, por volta de 1823, algumas pessoas foram deixando a comitiva e o Negro Flores, que foi o primeiro morador da localidade, recebeu a terra batizada de Cachoeira das Flores. Decreto 4887/2003. Certificado – O Sitio dos Crioulos é reconhecido com Quilombo. ‘”A autodefinição como “quilombo”, a partir da legislação em vigor, significa também direitos à memória e ao patrimônio cultural, não apenas o que foi acumulado no território, mas também aquele herdado da África”. A legislação em defesa da população negra no Brasil ainda é insuficiente para reparar os anos de abusos escravocratas. Convivemos ainda nos tempos atuais com a desvalorização histórica do negro no mercado de trabalho e de sua contribuição à nossa nação.


A presença do negro no estado do Espírito Santo data do século XVI (NOVAES, 2010; MACIEL, 1994). No livro “Origens de uma cultura Afro Capixaba”, segundo autor Cleber Maciel, existem dificuldades de traçarmos uma origem, mas existem alguns apontamentos relevantes, pistas dos africanos que chegaram no ES. “...na a sua maioria era de origem da etnia Banto, isto é, povos chamados Angola e Minas, mesmo entendendo que essas etnias estão diluídas em outras [...] Cabindas, Benguelas, Caçanjes e Congos traficados do RJ, BA e MG e também pelo contrabando direto da África.”

1.2 ORIGEM DO QUILOMBO SITIO DOS CRIOULOS A comunidade surge na data da compra dos 04 alqueires, em 1878, mas que foi escriturado em 1893 e resiste até os dias de hoje. Os limites territoriais da propriedade da Comunidade foram alterados com o passar dos anos, pois um conjunto de pessoas das áreas vizinhas invadiram o entorno do Sítio. O primeiro e único nome escolhido pela comunidade para denominar seu território foi “Sítio da Boa União”. O nome Sítio dos Crioulos, como é conhecido hoje, surgiu de fora da comunidade, foi uma forma das pessoas da cidade deixarem expresso todo seu preconceito e racismo sobre a comunidade. Tudo começa em 1878, quando Barbara Maria da Conceição e suas irmãs chegam ainda jovens no Espírito Santo. Trabalhadoras desde que nasceram, Bárbara tinha como trabalho principal ser ama de leite na casa dos Bossois, uma da família de origem francesa.


Durante o período que vai de “1822 até 1850, a posse se tornou a única forma de aquisição de domínio sobre as terras. Em janeiro de 1854 é determinado pelo governo que todos os posseiros deveriam registrar suas terras nas paróquias [...] os vigários paroquiais são os responsáveis de receber as declarações da extensão da terra e seus limites”.

Para evitar que negros comprassem terras, o governo criou a Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, que estabelecia o fim da apropriação de terras pelo trabalho, as terras, agora, poderiam apenas ser compradas com dinheiro.


Além de impedir que os escravos adquirissem a posse das terras através do trabalho, a lei previa subsídios do governo à vinda de novos colonos europeus para substituir a mão de obra escravizada. Os imigrantes seriam contratados em todo nosso país e, consequentemente, esses fatores acabaram desvalorizando ainda mais o trabalho dos negros e negras. Após a abolição da escravidão, é possível encontrar documentos da elite com propostas relacionadas à distribuição de terras aos negros recém-libertos. O documento é uma carta escrita pela Princesa Isabel ao Conde Du, explicando o plano de D. Pedro para indenizar os negros seu pelo trabalho na construção do Brasil. A abolição foi uma conquista dos negros, negras e seus aliados, se deu na rua, na política e na imprensa abolicionista e somadas conseguiram disseminar os valores da abolição numa sociedade de maioria analfabeta.


1.3 COLÔNIA NEGRA Mestre Nico Preto relata: Aqui a gente sempre plantou de tudo, tinha um pilão … nós batia tudo no pilão, milho deixava ele bem fininho, batia arroz … de tudo … mas quando tinha bastante grãos nós levava no moinho do compadre, que era tocado pelos animais …

A expressão “colonos negros”, na historiografia do Espírito Santo, apresenta um silêncio. A referência surge em relatos de documentos que foram reunidos no inventário, homens e mulheres que povoaram territórios não habitados e se dedicaram ao cultivo das terras. Os habitantes do território do Sítio dos Crioulos guardaram, cuidaram e lançaram no território as sementes históricas dos antepassados. Ao se identificarem com sentido de colonos, os moradores do Sítio dos Crioulos trazem outra dimensão do papel do Negro como protagonista do ato colonizador, revelando indivíduos desbravadores, destemidos e com conhecimentos do cultivo da terra, desmistificando o mito de que só existiram no ES colonos alemães, italianos, poloneses, portugueses, os quais a história oficial reconhece. A comunidade busca atualmente, o reconhecimento e tombamento do território quilombola Sítio dos Crioulos como patrimônio cultural, numa tentativa de reparação da desvalorização histórica dos descendentes de Bárbara, mesmo que tardiamente, mas que deve ser consumado. A historiografia é escassa com relação a outras colônias Negras formadas no país. O território do Sítio dos Crioulos representa uma importante demonstração de que negros e negras quiseram trabalhar o cultivo na terra e tiveram capacidade para desenvolvê-la.


Um aspecto a destacar sobre a mão-de-obra na fazenda em que Barbara foi escravizada, é que Bossois queria manter seus escravos próximos, para que, mesmo com abolição, seguissem trabalhando em suas terras. Não encontramos nenhum relato ou documento, até o momento, de alguma carta de alforria sendo assinada, já que, mesmo de posse das terras Barbara continuou a trabalhar para a família de Bossois, que, desta forma, mantinha seus escravos e escravas sempre ao redor. O inventário participativo adiciona um novo olhar para as comunidades Negras do Espírito Santo ao igualar a experiência histórica da comunidade Sítio dos Crioulos, associando a ideia de colônia e de “colono”, à das etnias alemãs e italianas, corroborando para demostrar, nas memórias e imagens narradas, outros cotidianos possíveis, que entrelaça a vida de negros descendentes de africanos.


CAPÍTULO 2 - INVENTÁRIO PARTICIPATIVO 2.1 Sítio dos Crioulos e a Memória Pouco se sabe sobre Bárbara Maria da Conceição, relatos orais são a principal fonte. Sabemos que era uma mulher de força, sabedoria e conhecimento ancestral. Bárbara, com o passar do tempo tornou-se um exemplo de resistência e superação: da condição de uma mulher escravizada à proprietária de seu território, antes da Abolição, num dos períodos mais difíceis da história do negro no Brasil. Em meio a todo preconceito, racismo, violência, genocídios, Bárbara consegue, com toda a sua sabedoria e conhecimentos, virar uma nova página na sua história e de seus descendentes.. Essa mulher se revela como um dos grandes marcos de resistência dos Negros e Negras no Brasil: em 1878 ela compra sua propriedade. Passaram-se 139 anos e hoje a comunidade é titulada e reconhecida pelo governo brasileiro como Quilombo, um local de cultura de negros e negras herdadas de descendentes de Africanos. A história da comunidade é peça importante no mosaico da construção da história do Brasil e, principalmente do estado do ES. A história do território Quilombola Sítio dos Crioulos passa por três séculos, seus moradores são testemunhas e agentes históricos na construção do Estado Capixaba. Com a expansão cafeeira, a Região Sul passou a concentrar, em 1872, 52% dos negros cativos, como podemos constatar no Recenseamento Nacional, de 1872. Nos encontros de formação, pesquisas e nas rodas de conversas, a equipe de pesquisa, formada por descendentes do quilombo: Roserina, Laís, Amilton, Roger e Tayara, realizamos pesquisas na internet para termos acesso a documentos da história oficial e comparar às histórias contadas pelos mais velhos, quando pudemos constatar que são verdadeiras e, os conhecedores destas histórias são pessoas da comunidade, sem escrita e/ou leitura.



2.2 FESTA TRADICIONAL DE SÃO JOÃO As festas de São João e Cosme e Damião são realizadas na comunidade. A Folia de Reis, por sua vez, também já teve espaço no território, mas devido a morte de seus integrantes, não acontece mais. Atualmente, toda comunidade participa e organiza as festas de Cosme e Damião e de São João, que são realizadas de forma simples, na área central do Quilombo e outra parte no Centro Espirita. Os homens cuidam de buscar a lenha para a fogueira, as mulheres fazem as comidas, bem como alguns homens ajudam na cozinha, geralmente no serviço mais pesado. Com antecedência os homens começam a procurar madeira que deve ser, necessariamente, de árvores que tombaram, tudo é feito como antigamente. Roserina relata: A festa fica dividida em duas partes: montagem da fogueira que segue a tradição dos mais velhos que do corte até o modo de como montar a fogueira pra queimar toda lenha sem desarrumar. Em outra parte do quilombo as mulheres ficam a cozinhar o alimento e conversar de vários assuntos. E tem a limpeza do centro espírita, tudo na volta é limpo varrido. Tudo é preparado para a (Ladainha), as rezas que são feitos antes da meia noite, só depois que todos podem comer. Maria Carolina foi fundadora do centro espírita, ela manteve viva a tradição das Festas de São João no sítio, onde havia muita comida para todos, uma grande fogueira, muitos fogos e o “trabalho espiritual” era feito no centro Espírita de Maria Carolina.


A Festa de São Cosme e São Damião que permanece até os dias de hoje.

A personagem Ana Barbosa, conhecida como Ana Parteira, tinha documento oficial para ser Parteira. Ana trouxe ao mundo a maioria dos filhos das famílias do território e das famílias tradicionais da cidade até os anos sessenta/setenta (1960), numa época que “dar à luz” era comum acontecer nos próprios lares. Ana Parteira tinha uma carta dada por um médico de nome Dr. Pedro que a tinha como assistente para atender as famílias tradicionais do lugar.


Segundo Mestre Nico Preto: “nós temos o maior cuidado com a natureza para que ela fique para os que vêm pela frente”.

Durante os dias de festa, várias pessoas da cidade e de outras localidades chegam para visitar a comunidade, muitos são parentes, amigos e curiosos, mas todos em busca de diversão, música, dança, bebida e das histórias do Mestre Nico Preto que disse que : “teve tempos que era feito festa com música ao vivo, barraca de bebidas e comidas, muita gente querendo participar.”

Todos esperam até a meia noite para pular a fogueira e correr em cima das brasas. Amiltom (fundadores da associação) comenta: Através dos momentos de festas é que acontecem as trocas de saberes entre jovens, adultos e mais velhos, momentos de relembrar histórias de tempos passados, dos saberes tradicionais das plantas, hora de lembrar das pessoas que morreram, que nasceram [...] a festa é onde a comunidade fica reunida e são contados os causos e as tradições orais.


2.3 FOLIA DE REIS Nas antigas folias de Reis, do pai do William, no Centro de umbanda Maria Carolina, também chamado de Centro Nossa Senhora da Conceição. a existência da Folia “Os Três Reis do Oriente”, de Maria Carolina e do Mestre Francisco Tibúrcio. Os integrantes, em sua maioria já falecidos, são: Ageu Valeiro, Joaquim Rosa, João Paulo – genro de Maria Carolina, Rafael Cipriano dos Santos – filho de Maria Carolina, Paulino Neves – esposo, recebia a oferenda da bandeira e era contramestre, Geraldo Paulo e Sebastião Paulo – filhos João Paulo, Anicério Francisco, Francisco Cipriano dos Santos, o sanfoneiro, e Wila Tibúrcio, o palhaço que iniciou aos quinze anos de idade e cumpriu apenas treze anos, quando na verdade teria que ser quatorze, pela tradição da folia. A Folia de Reis que acontecia no Sítio dos Crioulos surgiu de uma promessa de recebimento de uma benção divina. Com a promessa, foi assumido o compromisso de realizar a folia de reis por sete anos. São doze Foliões necessários, no mínimo, e, para estar completa devem se apresentar entre quinze a vinte componentes.


Os Foliões, são parentes ou amigos do responsável pela Folia. Vestem roupas semelhantes a uniformes militares, e se organizam a partir de critérios hierárquicos. O mestre é a autoridade suprema e quem puxa os cantos. Os palhaços aparecem em números variáveis, tradicionalmente de uma a três, sendo divertidos e irreverentes. “A bandeira, por sua vez, constitui símbolo máximo e de maior importância de cada grupo”. Os foliões cantam nas casas, fazem a saudação aos donos das casas, cantam jornadas dos reis magos ou passagens da vida de Jesus, finalizando com o agradecimento e a despedida. Os instrumentos da folia são o tarol, bumbo, caixa, chocalho, pandeiro, triângulo, sanfona e viola. Folias de Reis, prática cultural do território que está encontra adormecida. Mestre Nico Preto nos relata seus conhecimentos sobre a Folia de Reis do sítio dos Crioulo: “teve Folia aqui, mas quando acaba as obrigação de sete anos, a Folia para até alguém assumir”.

As folias representam o nascimento de Jesus, quando os reis magos vão presentear o menino Jesus. Essa é a história instituída, mas, na prática, a estória é outra. A Folia realiza visitas, rituais nas casas de devotos, distribuindo bênçãos em troca de alguma coisa para a realização da festa, cada um dava o que podia. A


visitação às casas de devotos era dividida em etapas: tinha refeição, apresentação dos palhaços e a despedida. Os palhaços sempre ficam do lado de fora das casas até a apresentação e é muito perigoso tocar em suas vestes ou máscara. Tal festa, quilombo sítio dos crioulos, foi puxada em 1962 e teve como Mestre Francisco Tibúrcio, conhecido como Chiquitito, um dos mestres mais antigos da região. A primeira Folia de Reis fundada em Jerônimo Monteiro foi a Folia de Maria Carolina.

2.4 BRINQUEDOS - PERNA DE PAU A perna de pau produzida pelo Mestre Nico Preto é um objeto de valor material e imaterial. O mestre, que sabe fazer e andar nas pernas de pau, é uma referência distinta para reconhecer o lugar e destacar um dos saberes e fazeres mais conhecidos produzido pelo Mestre Nico Preto, na cidade de Jerônimo Monteiro. A perna de Pau de Mestre Nico surgiu na infância e o acompanha até os dias de hoje, que conta com os seus mais de 87 anos. Mestre Nico Preto detalha todo processo para confeccionar a perna de pau e sua relação com esse brinquedo feito de bambu: Seu Nico diz: […] aprendi a fazer sozinho [...] uma vez quando eu vi um homem muito alto que me chamou atenção, era uma perna de pau que ele usava, fiquei muito tempo pensando como fazer uma, aí tive a ideia de fazer como que eu tinha a perna de pau, fui melhorando […] primeiro meu filho tem que escolher dois bambu bem bonito [...] aí você corta o bambu de preferência


na noite de lua cheia, no outro dia você pega eles escolhem um gomo do bambu nessa parte mais dura, hoje eu uso um formão, mas antes eu usava o facão, aí faz o furo. Depois você tem que ter dois pedaços de madeiras curta, mas tem que aguentar o peso […] Enfio aqui e já dá pra sair andando. Quando eu era mais novo fazia piruetas, dançava, pulava […] todo mundo pedia para eu andar nas perna de pau […]. Hoje sou conhecido por fazer essas pernas de pau […] pra mim fica fácil eu tenho logo ali o bambuzal, tenho muito bambu pra fazer […] eu monto aqui no terreiro mesmo [...] pego minhas ferramentas e pronto […] como te disse, preciso de um facão, serrote e formão, dois bambu e dois taco de madeira para colocar os pés. No início é melhor ficar parado no mesmo lugar, por um tempo, até se equilibrar, o importante é que as pernas deve ficar bem junto das pernas. Se você ver que vai cair se atira para frente, usa as mãos para amortecer a queda. Quando conseguir o equilíbrio nas pernas é só andar para frente.

Na África, os pernas de pau representam divindades em cerimônias tribais e ritos de iniciação. Embora sejam hoje mais conhecidas como divertimento, usadas por crianças e adultos em todas as partes do mundo, as pernas de pau tornaram-se populares graças, sobretudo a sua grande utilidade como instrumento de trabalho nas festas populares, no carnaval, e no mundo circense.


2.5 CONSTRUÇÕES TRADICIONAIS No espaço da comunidade, existem casas de alvenaria e uma feita de barro e bambu, embora ninguém mais queira morar ali. No território existe espaço para essas práticas de construção tradicional, memorizada na comunidade, um saber fazer da própria casa, um significado de liberdade. Muitos negros e negras, quando em liberdade, procuraram moradia na paisagem natural do território, como o Quilombo Mão Forte, onde as casas foram construídas embaixo de pedras e cavernas naturais. Elcio, morador do quilombo, é detentor desse conhecimento. Ele aprendeu com seu avô a construir casa de barro e, por isso, ainda existe na comunidade este tipo de estrutura. Também realizamos o inventário participativo destes relatos: como construir uma casa tradicional de barro. Segundo Elcio, morador do quilombo, nascido e criado no território: “ para fazer a casa de barro, deve-se começar pelo preparo do barro, na escolha do terreno, tem que tá bem parelho o chão, depois que tamanho queremos fazer. Essa aqui eu fiz pra lembrar de como fazia, funciona mais como um local para guardar ferramentas e outras coisas, como táva te dizendo […] depois de escolher o local, tem que ter um barro bom, eu usei um que achei perto daqui, depois escolhi e cortei os bambu para fazer a armação da casa de barro, qualquer pessoa, mesmo sem entender das coisas, consegue fazer desse jeito que tô dizendo. A casa de barro eu aprendi a fazer com os antigos, pra manter essa tradição conhecida por toda a comunidade que eu construí essa.”

O saber fazer, que um dia foi transmitido a gerações pela oralidade, está se perdendo com o tempo. Temos presenciado a mudança desse tipo de construção tradicional para mudar para uma casa de tijolo.


Segundo Faria (2002), atualmente em Minas Gerais, ainda são construídas casas em pau-a-pique, além das construções, há também a restauração de construções centenárias. (FARIA, 2002) Elcio segue

[…] depois de cortar os bambu no meio, começa a montar como se forma uma rede de peixe: trama os bambu, depois começa espalhar e vai apertando o barro com a mão uma pessoa do lado detentor e outra fora e vão apertando juntas […]. Coloca uma camada fina de barro a primeira vez, depois de dá uma puxada aí vem outra camada de barro, tem que tapa todos bambu, e na última camada, pra ficar bom, tem que mistura o barro com uma fibra, pode ser casca de coco, ou esterco de cavalo ou vaca, e mais um pouco de cinza. Aí dura mais […]. A última casa que tinha aqui veio abaixo era ali […]. Agora só tem essa aqui que eu fiz […].

É de fundamental importância documentar os modos de construção em barro, que tanto foram usadas pelos nossos ancestrais, pois estamos perdendo estes saberes ao longo do tempo. Portanto, inventariar as técnicas de construção de casas em barro mostrou-se fundamental para registrar os conhecimentos orais da utilização do barro como material de construção, sendo que, para manipular o barro, é preciso ter alguns conhecimentos, tais como, sua composição, a mistura de que maneira e quando. Todo esse conhecimento fica aqui registrado nas palavras de quem aprendeu no processo de transmissão de saberes orais.


CAPITULO 3 - TERRITÓRIO E PRÁTICAS CULTURAIS 3. 1 BROA DE MILHO & DOCE DE MAMÃO O alimento com papel de agregar famílias, a Broa de milho e o doce de Mamão, estão na memória e nas lembranças dos avós e dos netos. As pessoas ouvidas durante a Festa de São João na comunidade do quilombo Sítio dos Crioulos, colocam a Broa de Milho e o Doce de Mamão como pratos típicos, que não podem faltar nas festas. A Broa, por sua vez, tem um jeito simples e especial de ser feito. Considerar a gastronomia como representante da cultura de um povo começa a ser valorizado partir de 2000, quando o Iphan aceitou que o conceito de “patrimônio cultural” passasse a ser reconhecido além de monumentos, sítios e bens móveis do país (ACS- ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UnB, 2005). Com isso, passamos incluir os bens culturais imateriais, as técnicas do processo das culinárias e todas as relações. Resgatar hábitos alimentares de uma região tornase uma ação importante na preservação da cultura de um povo (FERNANDES, 2004). Assim sendo, a Broa de Milho e o Doce de Mamão fazem parte do inventário participativo, eleitos como patrimônios da comunidade. Os doces aparecem sempre durante os aniversários, casamentos, festejos de São João e Cosme e Damião. São alimentos comumente produzido na comunidade e nunca podem faltar à mesa.


DOCE DE MAMÃO O doce, da época de criança, simboliza uma volta no tempo, para lembrar dos encontros vividos, da vida na roça e do pilão, das festas que reuniam a família e a vizinhança, e, até hoje, nas reuniões e festas, o docinho sempre aparece. Afirma Roserina: “Antigamente a gente não comia balas, salgadinhos, a melhor coisa era o doce de mamão cristalizado e a broa de milho” A Broa e o Doce de Mamão são produtos vinculados às festas, reuniões familiares, o que reforça sua representatividade na cultura do quilombo. Roserina traz informações acerca da história da broa de milho e do doce mamão: os ingredientes da receita e o preparo passo a passo: “Inicia com preparo da massa, amassar, assar e comer, ouvindo histórias”.

Receita

DOCE MAMÃO

Ingredientes 03 mamões (médios) ralado 500 gr de açúcar 1 pitada de sal Cravo da índia (à gosto) Modo de fazer Lavar o mamão na água quente e espremer. Levar ao fogo com o açúcar e o sal, coloque o cravo quando o doce estiver quase pronto. Servir o doce com queijo ou com pão. Tempo: 30 a 40 minutos Rendimento: 10 pessoas


3.2 CAPOEIRA – PATRIMÔNIO A capoeira também tem lugar na memória do Sítio dos Crioulos, com as histórias narradas por Litron, irmão de Penha. Litron ia para os campos de futebol sempre acompanhado do seu Berimbau. Dava alguns saltos mortais, fazia movimentos rápidos. Em 1992, Litron começa a fazer aulas de capoeira na Fazenda Velha, território próximo do Sitio dos Crioulos, e, depois de algum tempo, surge, dessas aulas, Warlencar, apelidado na Capoeira de Compasso, e que se torna o primeiro capoeirista na história do Sitio do Crioulos. Ele conta um pouco da história da capoeira no Sitio dos Criolos: “em 1993 juntamos uma turma em Jeronimo Monteiro e começamos a treinar. Marilia também começou a treinar, era capoeira de rua sem mestre. No ano de 1995 o Mestre Falcão esteve em Jeronimo Monteiro e se comprometeu de mandar um aluno dele para treinar a gente, mas o povo não teve interesse. Compasso relata que em 1997 fui o primeiro capoeirista de Jeronimo Monteiro a ser graduado no segundo encontro nacional de capoeira realizado em Cachoeiro pelo Mestre Falcão. Em 1998, no território da Comunidade foi retomada a Capoeira com aulas todas as tardes. O grupo chegou a ter mais de 27 alunos de toda Jeronimo Monteiro. No ano de 1999 chegou Fabio o “Louva Deus”, aluno do Mestre Militão, que começou a ministrar aulas e, com ele, surgiu a terceira geração de capoeira de Jeronimo Monteiro. Mestre Fundão e Mestre Militão foram os responsáveis pela formação da capoeira na região sul e de alunos que estão, ainda hoje, ativos, tais como: Bebeto, Buiu, Leo, Cabrito, Louva Deus. Fominha e Guaiamu – alunos da terceira geração de capoeira da cidade.


O inventario participativo do Quilombo Sítio dos Crioulos revelou a história dos primeiros capoeiristas da região sul e da cidade de Jeronimo Monteiro: Joãozinho Capoeira, Compasso, Bacana, Tico, Isaias, Joaninhas, Macalé e outros. Registramos no inventario participativo da comunidade mais de 40 anos da história da Capoeira e as suas raízes no quilombo. Cabrito, que treinou com Bebeto e hoje é formado, dá aula no sítio para algumas crianças. Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações, formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares que abrigam práticas culturais coletivas. O patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e gera um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à cultura.


CAPITULO 4 - CENTRO DE UMBANDA ESPÍRITA MARIA CAROLINA E CENTRO ESPÍRITA SÃO JORGE 4.1 Centro de Umbanda Espirita Maria Carolina Entre os patrimônios apresentados pela comunidade para inventariar, estão duas casas sagradas: o Centro Espírita Maria Carolina, construído há mais de 70 anos, e o Centro de Umbanda Centro Espírita São Jorge, fundado em 1998. Ambos convivem na paz e na harmonia e integram o Inventário Participativo do Ponto de Memória. Todos os anos chega ao sitio uma caravana do Rio de Janeiro, composta de descendentes de Barbara para celebrar a união entre a família no Centro de Umbanda Maria Carolina. O acervo documental encontrado no Centro Espírita Maria Carolina foi uma grande surpresa para a comunidade. Neste acervo encontramos livros de reuniões, listas e relatos dos médiuns, depoimentos de colaboradores, relatos de pessoas que buscavam ajuda, muitas transcrições do mundo espiritual, conversas dos médiuns e objetos que acompanham a história do lugar antes mesmo da fundação do centro espírita.


Jovelino era filho de Maria Carolina e juntos dirigiam a Casa de Oração. Quando o casal veio a falecer, a casa resistiu, mas, após um período de tempo, desabou. Foi quando seu Nico Preto reconstruiu em conjunto com outros devotos a casa. Dona Maria do Rosário cuidou do Centro para que o ritual continuasse. Hoje, sua filha Rosarina continua a tradição das festas e ladainhas no território. O centro também recebeu, durante a sua existência, documentos do Centro Espirita São Sebastião um dos mais antigo da região, no entanto, todos esses documentos necessitam de cuidados imediatos. A equipe realizou a higienização e acondicionamento do acervo. Os materiais inventariados do centro espírita passaram por procedimentos básicos visando conservar essas fontes primárias, garantindo o aumento da vida útil dos documentos para que seja feito, posteriormente, um trabalho específico de conservação.


Centro Espírita São Jorge Em 1998, Wila construiu outra Casa de Oração: o Centro de Umbanda Espírita São Jorge, dentro do mesmo território, mas com outra “linha” e passou a realizar o ritual em conjunto com outros devotos destes santos. Wila, filho de Tibúrcio, foi criado na família de Jovelino Cipriano dos Santos e Laudelina (a Dondoca) Pinheiro dos Santos, donos do famoso “Tijolinho”, um salão de bailes para os negros frequentarem, já que negros não eram bem-vindos nos bailes dos brancos.


A história oral, particularmente calcada em histórias de vida, recolhidas nas visitas de nas casas dos moradores da comunidade nos levou a entender a dinâmica populacional e compreender que seria necessário convidar ex-moradores do Quilombo, que vivem fora, para participar do inventário a partir de suas histórias e vivências. Alguns integrantes da equipe do projeto foram visitar Maria e Rita, ambas, residem no RJ. Maria, descendente de Maria Carolina, líder espiritual e fundadora do Centro de Umbanda, mora Morro do Turano, e Rita, descendente de Ana Parteira, reside na cidade de Campos, RJ. Depoimento de Baba, marido de Maria, que conta os fundamentos do Centro de Umbanda Maria Carolina: [...] Aqui onde tem essas cruzes têm um fundamento […] quase todos os centros têm um cruzeiro […] aqui temos 04 cruzeiros [...] Teve tempo aqui que nem preto vinha no centro, era só agua. Aí, depois que nós começamos a mexer eu pedi licença e puxei aqui a corrente de preto véio, depois vem os Caboclos da Mata […] eu sempre peço licença para chegar, desde a entrada, até aqui, entendeu? […] teve gente que entrou para rezar a ladainha, e ficou foi muda, sem fala nada […] há um tempo atrás nós reconstruímos o centro, táva tudo caído [...].


CAPITULO 5 - INVENTÁRIO PARTICIPATIVO FOTOGRÁFICO No mesmo dia da apresentação do projeto para comunidade já formamos uma equipe com as pessoas interessadas e marcamos um próximo encontro para formação das metodologias de ação no território. O grupo foi formado por Amilton, Roserina, Roger, Lais e Tayara. Nossa primeira atividade foi reunir todas as fotos e documentos que pudessem nos ajudar a reconstruir a trajetória dos 139 anos da comunidade. O local de trabalho escolhido pela comunidade coincide com o local de roda de conversa da própria comunidade: à sombra da amendoeira, uma árvore linda e frondosa que habita em um lugar especial no território. Espalhamos as fotos sobre a mesa e foi feita uma primeira seleção. Quase 80% do total das fotos foram selecionadas por conterem informações relevantes. Os critérios usados nesse momento pela comunidade, foram as fotos que tivessem o maior número de pessoas reunidas, fotos com as pessoas mais antigas e as que estivessem em melhor estado de conservação. Iniciamos os trabalhos com uma reunião da diretoria da associação e a comunidade para apresentar projeto e começar a pensar nas estratégias. O Quilombo Sitio dos Criolos teve seu reconhecimento como Patrimônio do Brasil em 2014, quando recebeu o Certificado de Povo Remanescente de Descendentes Escravizados, pela Fundação Palmares,.





CAPITULO 6 - ÁRVORE GENEALÓGICA EM CONSTRUÇÃO

Bárbara Maria da Conceição

Juventina

Miguel dos Santos

Wilson Dias

Rosania

Wilson Dias JR

Wilton Dias

Maria Gomes Cercino

Teodóro

Dorcino

Paulo Jorge

Jorge José

Néia

Cercino

Basilino

Rosangela

Mariangela Sabastião

José

Alberto

Warlei Gomes

Paulo Jorge

Rosania Fabrícia

Ana Francisca Barbosa

Geraldo de Paula

Ana Patrícia de Paulo Cunha

Patricio Tomas Souza Cunha

Manuel Francisco

Jorge Barbosa

Maria da Penha

Rita de Fátima

Renato

Hélio de Araújo Cunha

Helem Vanessa de Paulo Cunha Bento Souza Cunha

João Batista

Fabíola

R


Rosilene

Teodora

Juvenal

Maria do Rosário

Arlinda

Rosalina Neves de Oliveira

Paulinho Neves

Maria Carolina

Wellington

Antônio José Neves

José Neves

Roserina

Lais

Maria Oliveira Neves Silva

Roger

Diva

Luis Carlos Silva

Emiliano Neves

Jorge Eli Neves Silva

Maria do Rosário

José Nilo Silva

Nico Preto

Antônio Marcos Neves Silva

Samara

Marinete Vargas

Sávio

Paulo Jorge Neves Silva

Thaiara

Nilcilene Souza Silva

Thailor


CONCLUSÃO Barbara Maria da Conceição é uma das grandes mulheres negras da história do Brasil no período da colonização e da escravidão, porém encontramos pouquíssimo material que pode ser lido sobre mulheres que foram lideranças quilombolas, nem mesmo as que foram tão importantes para comunidades enormes, como no caso de Jeronimo Monteiro. Essa ausência de conhecimento é um problema profundo no Brasil. Para conhecer as histórias de luta dessas mulheres, é preciso mergulhar em uma pesquisa pessoal. Sempre existiram mulheres negras que concretizaram grandes feitos no Brasil, mas na prática existe uma ignorância e isso é muito grave. As mulheres negras foram capazes de conquistas admiráveis, lutaram bravamente, até mesmo em guerras contra a escravidão, Barbara Maria da Conceição revela esse papel da mulher Negra, de guerreira, e desmistifica, mais uma vez, a ideia de que as mulheres negras nunca fizeram nada de grandioso, tampouco marcaram a vida de seus descendentes. Quando conhecemos o contexto histórico vivido por Barbara, associamos a ela histórias de bravura, inteligência, estratégia, histórias reatadas em rodas de conversa na comunidade Quilombola do Sitio dos Crioulos. Temos que espalhar essas histórias, como a de Barbara Maria da Conceição, mulher Negra que no período da escravidão consegue comprar um pedaço de terra; devemos lembrar de Zeferina, líder do quilombo de Urubu; Anastácia, escrava que até hoje é cultuada como Santa; Maria Felipa, que foi líder nas batalhas pela independência da Bahia; Antonieta de Barros, a primeira deputada negra do Brasil e Zacimba Gaba liderança do litoral norte do Espírito Santo. O inventário participativo colabora ao trazer a conhecimento público acerca da memória da guerreira Barbara Maria da Conceição, que foi de enorme importância para a formação da cidade de Jeronimo Monteiro.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Maciel. Os últimos zumbis. Rio de Janeiro: Brasil- Cultural, 2001. ALMEIDA, Alfredo Wagner B. de. Quilombos: sematologia face a novas identidades. In: PVN (Org.). Frechal: terra de preto – Quilombo reconhecido como reserva extrativista. São Luís : SMDDH–CCN, 1996. ARAÚJO, Ana Lucia. Caminhos atlânticos: memória, patrimônio e representações da escravidão na rota dos escravos. Varia História, Belo Horizonte, v. 25 n. 41, p. 129-148, jan./jun. 2009. ARRUTI, José Maurício Andion. Direitos étnicos no Brasil e na Colômbia: notas comparativas sobre hibridização, segmentação e mobilização política de índios e negros. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 6, n. 14, p. 93-123, nov. 2000. BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2000, p. 25-67. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 1 6 7 CARNEIRO, Edison. [1947] O Quilombo dos Palmares. São Paulo: Nacional, 1988. GODOI, Emília Pietrafesa de. O trabalho da memória: cotidiano e história no sertão do Piauí. Campinas: Editora da Unicamp, 1999. GORDON, Edmund T. Disparate diasporas: identity and politics in an African Nicaraguan community. Austin University of Texas Press, Institute of Latin American Studies, Austin, 1998. MACIEL, Cleber. Negros no Espírito Santo. Vitória: Ufes, 1994. MARINATO, Francieli Aparecida. Escravidão, quilombos, quilombolas e fazendeiros na origem da comunidade de Monte Alegre. In: OLIVEIRA, Osvaldo Martins de (Coord.). Relatório técnico de identificação da comunidade remanescente de quilombos de Monte Alegre. Projeto Territórios Quilombolas no Espírito Santo. Convênio Ufes–Incra. Vitória, 2006.


MARTINS, Robson L. M. Em louvor a “Sant’Anna”: notas sobre um plano de revolta escrava em São Matheus, norte do Espírito Santo, Brasil, em 1884. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, n. 38, 2000. MAULIN, Gilfredo Carrasco, 1971 - Lugares e tempos em narrativas de uma edicação ambiental pós-colinial no Sitio dos Crioulos - Jeronimo Monteiro — ES Gilfredo Carrasco Maulin. — 2013 237f.il. MAXIMILIANO, príncipe Wied-Neuwied. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte/ São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1989. MOREIRA, Vânia. A guerra contra os índios botocudos e a formação de quilombos no Espírito Santo. Afro-Ásia, Salvador, n. 41, 2010. MOURA, Clóvis. Quilombos, resistência ao escravismo. São Paulo: Ática, 1987. ____. História do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1989. NERY, João Batista Correa. A cabula: um culto afro-brasileiro. Vitória: Comissão Espírito-Santense de Folclore, 1963. OLIVEIRA, Osvaldo Martins de. Negros, parentes e herdeiros: um estudo da reelaboração da identidade étnica na comunidade de Retiro, Santa Leopoldina (ES). Niterói: PPGACP/UFF, 1999. ____. Quilombo do Laudêncio, município de São Mateus (ES). In: O’DWYER, Eliane Cantarino (Org.). Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro: FGV/ABA, 2002.1 6 8 ____. O projeto político do território negro de Retiro e suas lutas pela titulação das terras. 2005. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – PPGAS–UFSC, Florianópolis. OLIVEIRA, Osvaldo Martins de (Coord.). Relatório técnico de identificação da comunidade remanescente de quilombos de Monte Alegre. Projeto Territórios Quilombolas no Espírito Santo. Convênio Ufes–Incra. Vitória, 2006. SILVA, Sandro José da. Do fundo daqui: luta política e identidade quilombola no Espírito Santo. 2012. Tese (Doutorado) – PPGA/ UFF, Niterói. WEBER, Max. Religião e racionalidade econômica. In: COHN, Gabriel (Org.). Weber – Sociologia: grandes cientistas sociais, 7a ed. São Paulo: Ática, 2000.


CONTATO quilombositiodoscrioulos pontodememoriasitio@gmail.com

REALIZAÇÃO Associação Quilombolas Sítio dos Criolos


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.