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solo

organização fundiária e expropriação territorial de comunidades tradicionais. As desigualdades oriundas da acumulação por espoliação, com apoio político e financeiro do Estado, resultam em conflitos territoriais e ambientais, uma vez que há restrição ao uso do solo e à diversidade biológica necessária à permanência, sustentabilidade e subsistência econômica de habitantes tradicionais, como os agricultores rurais (ACSELRAD et al., 2012). Para Pedlowski (2017), o Porto do Açu é exemplo desse processo desigual, pois a sua implantação gerou bônus aos empreendedores privados e ônus às comunidades locais que utilizavam aquele território para sua subsistência econômica e social. Os impactos socioambientais e econômicos negativos causados pelo setor portuário brasileiro em áreas costeiras ocorrem desde a implantação de infraestrutura marítima e terrestre até suas atividades operacionais, destacando-se as alterações da linha de costa, do padrão hidrológico e da dinâmica sedimentar, a geração de resíduos, a poluição sonora e a restrição de uso de água e terra. Além do Porto do Açu, outras grandes obras portuárias apresentam o mesmo modelo de implementação, como o Porto de Suape/PE, o Complexo Portuário do Pecém/CE e o Porto de Angra dos Reis/RJ. Estes megaempreendimentos, caracterizados por suas grandiosas e complexas dimensões logística-industriais e seus impactos socioambientais e econômicos, foram concebidos sob a égide do neodesenvolvimentismo e neoextrativismo (BENEVIDES-GUIMARÃES, PEDLOWSKI e TERRA, 2019). O neodesenvolvimentismo envolve ações implantadas para viabilizar altas taxas de crescimento econômico, alcançadas pela viabilização das exportações de commodities. O neoextrativismo refere-se à adoção de um modelo de desenvolvimento voltado para a acumulação de bens extrativos, como minérios e combustíveis, no qual ocorre apropriação de recursos naturais por meio de atividades voltadas à exportação (MILANEZ e SANTOS, 2013).

1.4 Ecologia de Paisagens aplicada na análise climática e na dinâmica do uso do solo

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Segundo Bertrand (1968), a paisagem é um mosaico heterogêneo resultante da combinação de elementos abióticos (i.e., tipos de solo, formas de relevo e parâmetros climáticos), bióticos (i.e. fauna e flora), antrópicos (i.e. desmatamento, alteração de habitats e fragmentação florestal), além de perturbações naturais (i.e.

enchentes, geadas, fogo e erupções vulcânicas), que são indissociáveis, em perpétua evolução, reagindo dialeticamente uns sobre os outros. Carl Troll (1899-1975) empregou pela primeira vez o termo “Ecologia de Paisagens” em 1939, considerando, desta vez, a heterogeneidade do espaço habitado pelo Homem (METZGER, 2001). As definições de Ecologia de Paisagens também variam quanto à abordagem adotada, geográfica ou ecológica. Segundo Odum e Barret (2008), o conceito de Ecologia de Paisagens é interdisciplinar ao possibilitar aliar conhecimentos da geografia e da ecologia, permitindo uma abordagem ecossistêmica, pois lida com as interações entre a sociedade humana e seu espaço de vida. Já para Metzger (2001), a abordagem geográfica estuda a influência antrópica sobre a paisagem, focando no planejamento do uso do solo e na gestão de território, utilizando para tal, fundamentos de fitossociologia, biogeografia e geografia humana; enquanto a corrente ecológica busca verificar o contexto espacial e o entendimento da influência da paisagem sobre processos ecológicos, quantificando-a através de modelagens e análises espaciais e geoestatísticas, e a importância destas relações quanto à conservação biológica. A Ecologia de Paisagens pode fornecer também compreensões sobre as interações entre as MCGs e os sistemas abióticos, bióticos e socioeconômicos, bem como seus efeitos diretos e indiretos no uso da terra (i.e. mudanças nos ciclos hidrológicos ou gestão relacionada ao uso da terra), paisagens e nos serviços ecossistêmicos, o que pode possibilitar o desenvolvimento de estratégias de adaptação às MCGs graduais e abruptas. Para tal, a análise de padrões e processos no nível da paisagem deve incluir modelagem de reações complexas em sistemas ambientais, sociais e econômicos, considerando que os impactos de eventos extremos provavelmente serão irregulares em uma paisagem (MEYER e RANNOW, 2013). Segundo Opdam et al. (2009), apesar da maioria das interações dos padrões e processos da paisagem ser afetada pela mudança dos padrões climáticos, ainda é dada pouca atenção dos ecologistas à adaptação da paisagem às MCGs. Para Opdam e colaboradores, isso dificulta a elaboração de ferramentas e abordagens para encarar este novo desafio, onde a Ecologia de Paisagens pode desempenhar um papel fundamental na tomada de decisão. O uso das geotecnologias, como Sistemas de Informações Geográficas (SIG) (i.e. sensoriamento remoto, geoprocessamento, cartografia, topografia), por meio de ferramentas computacionais, permitem com precisão a coleta, processamento, análise e oferta de uma vasta quantidade de informações sobre a análise espacial,

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