DECOMPOSIÇÃO é uma criação performativa híbrida onde se cruzam os universos da performance, do vídeo e da música. Tem como fio condutor o imaginário poético, transgressor e marginal de Jean Genet, em especial as obras “Nossa Senhora das Flores” e “Diário de um Ladrão”, aliado a análises de Jean-Paul Sartre (“Saint-Genet – Ator e Mártir”) sobre o proibido, a transgressão, a solidão e associabilidade, a perversidade e a “santidade”.
... ...
... ... decomposição No princípio era Genet e a “Nossa Senhora das Flores” e “Diário de um Ladrão” e toda uma procura num sentido descendente, mas numa tentativa de alcançar a elevação, a ascese; era consumir e deixar-se consumir
No princípio era Genet e foi “Nossa Senhora das Flores” e “Diário de um ladrão”e foi toda uma procura num sentido descendente mas numa tentativa de alcançar a elevação, a ascenção, era consumir e deixar-se consumir totalmente para rebentar e desaparecer nessa demasia e isso seria poeticamente bonito, vivencialmente doloroso mas a única via de esvaziamento, que permitiria essa levitação ansiada… mas falhou… com toda a mágoa, ter-me-á faltado coragem para me deixar rebentar, para bater no fundo e apanhar o ressalto, mas sem esperar pelo ressalto, sem saber sequer se o ressalto existiria… e nesse ressalto, sem qualquer premeditação ou esperança, deixar que as asas me crescessem e aceitá-las… mas ter-me-á faltado a disciplina, e a coragem de me deixar cair… DECOMPOSIÇÃO é, talvez por isso e apenas, mais um manifesto mediano sobre a solidão e a impossibilidade das relações… um cerimonial do vazio ou um ceri-
totalmente para rebentar e desaparecer nessafugir monial de alguém que talvez tente atrozmente isso poeticamente viven-um dodemasia vazio…ehá umseria espaço circunscritobonito, e vedado… falso exílio (es)forçado… constante cialmente doloroso, masháa uma únicatrindade via de esvaziae mento, flutuante… corpos, 3 cadeiras,permitiria 3 corpos essa vazios, 3 a que3 verdadeiramente cadeiras vazias… e toda uma cosmética para se chegar levitação ansiada… (disfarçar) (a)o vazio… é o querer a plenitude seja ela qual for… é não estar bem assim e querer transformarFalhou… Com toda a mágoa, ter-me-á faltado se… é o transformar-se e não alcançar a satisfação… é coragem para me deixar rebentar, para bater estar lá a negritude não verdadeiramente alcançada… fundo e apanharmas o ressalto, sem esperar é no estar lá a claridade não a alcançar… e nessa pelo ressalto, sem saber sequer se o ressalto medianidade a frustração… e o que lá está afinal será existiria…ausência… e, nesse ressalto, sem qualquer presobretudo Uma liturgia ou funesta do amor… uma meditação esperança, deixar quecelebração as asas meda finitude… uma recusa da finitude… um recomeço… crescessem e aceitá-las… mas ter-me-á faltado a um reinicio… um início… mas será sempre assim? disciplina, e a coragem de me deixar cair… uma decadência acontecida, pressentida, antecedida … quantas vezes afinal poderá amar um coração? Est ce que c’est la mort où la petit mort?
DECOMPOSIÇÃO é, talvez por isso e apenas, mais um manifesto mediano sobre a solidão e a impossibilidade das relações… um cerimonial do vazio ou um cerimonial de alguém que talvez tente atrozmente fugir do vazio… Há um espaço
Um corpo a falhar… gasto… insuficiente… Mais
circunscrito e vedado… um falso exílio (es)
um corpo perdido que perdeu outros… mais um
forçado… enuncia-se uma trindade constante e
corpo a decompor-se… a decompor-se porque
flutuante… 3 corpos, 3 cadeiras, 3 corpos vazios,
se quer afirmar… e, no meio dos estilhaços, um
3 cadeiras vazias… e toda uma cosmética para
pairar constante na linha média com ligeiras
se chegar (disfarçar) (a)o vazio… é o querer a
oscilações acima e a baixo… e esta medianidade
plenitude seja ela qual for… é não estar bem as-
atormenta… mói… decompõe…
sim e querer transformar-se… é o transformar-se e não alcançar a satisfação…
Deixem-me apenas ser tremendamente… desamada ou amada… ainda que sempre e
É estar lá a negritude não verdadeiramente alca-
sempre me verei a fugir do caminho certo para
nçada… é estar lá a claridade mas não a alcan-
magneticamente me afundar naquilo que me é
çar… e, nessa medianidade, a frustração… e o
inalcançável… e perder, perder sempre, cair, cair
que lá está, afinal, será sobretudo ausência…
de amor, cair por amor, falling in love… deixemme ascender aos céus ou enterrar-me fundo…
Uma liturgia funesta do amor… uma celebra-
deixem-me… deixem-me tão-somente ser…
ção da finitude… uma recusa da finitude… um
tão-somente amar… Para quem falo afinal? para
recomeço… um reinício… um início… mas será
mim… que me falta a coragem de desejar o
sempre assim? uma decadência acontecida,
nada e nesse nada alcançar o tudo…
pressentida, antecedida … quantas vezes afinal
poderá amar um coração? Est-ce que c’est la mort
Helena Botto
ou la petite mort?
Aveiro, 17 de Novembro de 2009
Um trio, uma trindade, três personagens de “Notre-Dame des Fleurs” de Genet: Mignon, o macho, covarde, chulo, conquanto belo e fisicamente forte; Divina/Culafroy, a/o sacrificada/o e encantada/o com esse seu sacrifício consciente e prostituta/o; Nossa Senhora, o jovem herói de Genet que comete a grande transgressão do assassinato. E entre eles uma multiplicidade de relações que se vai transformando no decorrer da performance. A performer apropria-se, de forma alternada, das diferentes personagens, fazendo com que o jogo de identidades e sinais de reconhecimento físico seja também sexual, porque quer a performer quer as personagens se podem travestir ou identificar de forma mutável com o masculino e/ou o feminino. Três corpos, três seres, três solidões, três vazios; talvez, no entanto, uma única e mesma existência deteriorada que se vai tentando esvaziar. DECOMPOSIÇÃO vista como deterioração. As acções a remeterem para situações extremas de perda, de desgaste, de abandono, de incapacidade e impotência dos corpos e seres e, consequentemente, da degenerescência das relações humanas. É nas suas acções que, simbolicamente, são convocados esse seres marginais, transgressores de si mesmos e de uma sociedade. DECOMPOSIÇÃO vista também como desagregação, separar as partes de um todo, interrupção.
... ...
breve nota sobre
Em DECOMPOSIÇÃO, conjuntos de acções são decompostos, interrompidos, confrontando o público com o abrupto desaparecimento da atmosfera, emoções ou “ilusões” inspiradas na ficção de Genet, criando um efeito de contraste onde se passa da euforia ao vazio. Divina, a santa, em luta interna contra Deus, Exploram-se os momentos em que o corpo
decide “matar-se”, aniquilando a sua bondade ao
transgride, transpõe tabus e proibições e em
cometer o assassinato: “Indiferente, segundo nos
que, segundo Bataille, terá tocado a esfera do
parece ao resto das pessoas, Divina morria”
sagrado, vivenciando a experiência interior. Esta
(Genet). Desta forma, ao cometer o acto de
última dá-se quando o indivíduo consciencializa
assassinar (fazer) tornando-se assassina (ser) e,
que se rasgou a si próprio, ultrapassando uma
ao tornar-se assassina (ser), mata-se (fazer) a si
resistência que não lhe é apresentada do exteri-
mesma.
or, mas sim do seu interior, uma vez que se pode transgredir uma proibição social, exterior, sem
DECOMPOSIÇÃO tem uma componente vídeo
que isso implique uma transgressão pessoal.
que resulta de sequências pré-gravadas e de outras em tempo real; uma composição musi-
Creio que Genet procuraria experiências interi-
cal original desenvolvida com recurso a meios
ores nos seus actos e na sua obra, fazendo deles
electrónicos e com a intervenção ao vivo do
um acto estético. Sartre, a respeito de Genet,
saxofone, cuja composição foi construída a par
fala-nos do fazer para ser e do fazer que é subor-
do processo de experimentação performativo.
dinado a esse ser, quase como um ciclo interminável. O assassinato da criança de dois anos,
Acima de tudo, e dentro de uma linha autoral
cometido por Divina, é um exemplo deste ciclo,
que tem buscado o potencial da intersecção
quando nos diz: ”Agora, de que me serve ser boa?”
metodológica das acções físicas com o uso das
Uma forma de redimir este crime inexpiável,
tecnologias, resulta um objecto híbrido onde as
”Vamos lá então ser mazinha.”
fronteiras disciplinares se encontram diluídas.
conceito, direcção artística, dramaturgia, concepção plástica e videográfica, figurinos HELENA BOTTO composição musical original e sonoplastia JOÃO FIGUEIREDO captação de imagem, edição e videoplastia CLÁUDIO OLIVEIRA desenho e operação de luz PEDRO FONSECA performers e co-criadores CLÁUDIO OLIVEIRA, HELENA BOTTO e JOÃO FIGUEIREDO performers no vídeo DAVID Q, HELENA BOTTO e LUDGER LAMERS brainstorming inicial ANDRÉ DE BRITO CORREIA colaboração artística LUDGER LAMERS fotografias SUSANA NEVES costureira MARIA ADELAIDE produção itinerância PEDRO FONSECA grafismo colectivo, a. c.
co-produção TEATRO AVEIRENSE apoio INSTITUTO PORTUGUÊS DA JUVENTUDE uma produção PROJECTO TRANSPARÊNCIAS - CRIAÇÃO DE OBJECTOS PERFORMATIVOS - ASSOCIAÇÃO agradecimentos ANTÓNIO COSTA VALENTE, ANTÓNIO REIS, DANIEL MOREIRA DUARTE, EMANUEL PINA, JORGE FARDILHA, RUI RAPOSO (E A TODA A EQUIPA TÉCNICA DO TEATRO AVEIRENSE), MARIA ODETE REIS, O MANEQUIM - TECIDOS EXCLUSIVOS e um agradecimento muito especial a ANDRÉ DE BRITO CORREIA
... ... ficha artística e técnica
O Projecto Transparências é uma estrutura associada do PerFormas – Estúdio de Artes Performativas Contemporâneas
HELENA BOTTO Nasceu em Aveiro em 1978. Aos quinze anos estabelece um primeiro contacto com as artes performativas através do Acto. Instituto de Arte Dramática, organização com que manterá uma relação continuada até 2006. É no seio desta estrutura que adquire as suas competências no âmbito das artes performativas, desenvolvendo um trabalho de laboratório, diário e rigoroso, centrado na metodologia das acções físicas, no training físico, no canto e na acção vocal. Desenvolve estudo sobre a acção
biografias
... ...
vocal e o funcionamento do processo fonador com Christine de Villepoix e José Filipe Pereira, que desenvolverá posteriormente com Meredith Monk e Fátima Miranda. Para complementar o trabalho sobre a mobilidade orgânica e a fisicalidade do performer, estudou Dança Contemporânea com Enzo Pezzella e
Fundado em Aveiro em Dezembro de 2006,
Técnica Acrobática com Boris Nahálka. Actuou e/ou
o PROJECTO TRANSPARÊNCIAS- criação de objec-
dirigiu workshops em Portugal, Cabo Verde, Áustria,
tos performativos é uma estrutura que alberga um
Holanda, Noruega, Tunísia, São Tomé e Princípe, Itália,
projecto de autor, dedicada à pesquisa e criação no
Sérvia e Bulgária.
âmbito das artes performativas, situando as suas
No final de 2006, e para dar resposta aos seus anseios
acções nas linguagens contemporâneas, privilegiando
artísticos, funda a sua própria estrutura de criação,
a experimentação, o trabalho do performer e a sua
o PROJECTO TRANSPARÊNCIAS – criação de objectos
relação interdisciplinar com outras áreas artísticas.
performativos, cujo primeiro trabalho é “Hamartia”,
Na criação de objectos performativos, a intersub-
uma performance site-specific; ainda no mesmo ano
jectividade do performer estende-se a domínios
concebe, dirige e é performer em “A Espera”, criação
estéticos muito próprios que, para responder às suas
livremente inspirada em “À Espera de Godot”. Em 2008
necessidades criativas, recorre à interacção
dirige o workshop “Corpo, Voz e Memória” nas Universi-
com outras disciplinas, como sendo a música, as artes
dade de Sófia (Bulgária) e de Belgrado (Sérvia)
plásticas e visuais, o vídeo e a multimédia, e.o.
com o apoio do Instituto Camões. No mesmo ano con-
Em Junho de 2009, o Projecto Transparências tornou-
cebe dirige e é performer em “O Álbum”, uma criação
se estrutura artística associada do PerFormas - Estú-
interdisciplinar com o apoio da Fundação Calouste
dio de Artes Performativas Contemporâneas.
Gulbenkian. Em 2009 dirige o workshop “Corpo, Voz e Memória (space appropriation)” no Teatro Laboratory Alma Alter em Sófia (Bulgária) e no Centar za Kulturu Stari Grad, em Belgrado (Sérvia) com o apoio do Instituto Camões. Em Março de 2009 é performer em “Dois Exercícios”, criação de José Filipe Pereira apresentada no Estúdio PerFormas, Aveiro. Em Novembro de 2009 estreia “Decomposição” no Teatro Aveirense, uma criação baseada no universo de Jean Genet. performer | directora artística
... ...
raider técnico
PALCO DIMENSÕES MÍNIMAS DA ÁREA CÉNICA LARGO 13 mt. PROFUNDIDADE 10 mt. ALTURA 6 mt. NOTA O público encontra-se situado num dos lados do
LUZ
palco (2 ou 3 filas de cadeiras), a sensivelmente 1,5 mt
24 PC’s de 1 Kw (todos com porta-filtros e palas);
do início da área de representação, pelo que este espaço
17 Recortes 25º/50º de 1 Kw (todos com facas e
deve ser previsto;
porta-filtros); 12 PAR 64 CP62 de 1 Kw (todos com porta-filtros; 52 canais de dimmer, dos quais 6 no solo;
SOM
1 Mesa de luz digital com possibilidade de gravar
1 Mesa de mistura analógica com um mínimo de
CUE’s.
6 canais mono (Mackie, Soundcraft, etc); 1 Equalizador Gráfico de 32 bandas (Klark Teknik,
OUTRO MATERIAL CÉNICO
DBX, etc);
1 Linóleo preto para toda a extensão da área
2 DI’s activas (BSS Audio, etc);
cénica;
P.A. compatível com o espaço, a ser instalado
1 Ciclorama branco para toda a extensão do
atrás do ciclorama (configuração de cinema), com
fundo de cena;
stereo subwoofer + top’s (médios e agudos);
5 cadeiras de madeira escura, estilo antigo.
Cablagem necessária.
DISPOSIÇÃO CÉNICA VÍDEO
Black box ou palco fechado à alemã conforme
2 Projectores de vídeo (mínimo de 3000 ANSI
planta em anexo.
LUMENS); 2 Mesas de mistura de vídeo (1 das mesas da
NOTAS
responsabilidade do Projecto Transparências);
12 horas para montagem e afinações (3 turnos);
1 Câmara de vídeo HDV (da responsabilidade do
2 horas para desmontagem;
Projecto Transparências);
É necessário realizar, pelo menos, 1 (um) ensaio
2 Computadores laptop (da responsabilidade Do
geral antes da apresentação;
Projecto Transparências);
Deverá ser tida em conta a limpeza do linóleo 3
Cablagem necessária.
(três) horas antes da apresentação.
implantação cénica de luz, som e vídeo
... ...
legenda
CACHETS (isentos de IVA) 1 APRESENTAÇÃO €1.500,00 2 APRESENTAÇÕES €2.500,00 3 APRESENTAÇÕES €3.000,00 ALIMENTAÇÃO Para 4 (quatro) pessoas no dia anterior à apresentação e no(s) dia(s) de apresentação. ALOJAMENTO Para a noite anterior ao inicio das montagens e noites decorrentes do tempo de apresentação: 4 quartos singles TRANSPORTE Pago contra apresentação de factura de transporte público, combustível e/ou portagens, com proveniência de Aveiro. NOTA Todos os custos associados à apresentação e/ou desenvolvimento destas actividades, tais como transportes, alimentação e alojamento, bem como as necessidades técnicas e logísticas (excepto as descritas como responsabilidade do Projecto Transparências, como assinalado), são da exclusiva responsabilidade da entidade contratante.
PROJECTO TRANSPARÊNCIAS – criação de objectos performativos Rua Pe. Manuel Marques Ferreira, Bl. C 30, 5º dto | 3800 - 089 Aveiro | Portugal M projecto.transparencias@gmail.com | colectivodocomicio@gmail.com TM (+351) 965 291 367 | (+351) 969 330 724 S www.projectotransparencias.com B http://projectotransparencias.blogspot.com