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deixa eu pensar ...
se o subsolo fica pra
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cima
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Venho aqui falar e relatar em verso e prosa coisas “apetitosas” daquelas que só acontecem quando se é pego de surpresa ao avistar o paraíso... Entre criadores e criaturas se encanta com aquilo que vê e sem perceber esquece todo o prometido entre ele e ser orientador... também tem daqueles que de tudo entende e acima de tudo com veemência fala da indescência e ousadia e às vezes sem dá um bom dia, fica indignado com as mudanças que o museu fazia, pois ali eu também via peregrinos urbanos, cantarolando e delirando de emoção diante das obras do Portinari e sem muito se importarem faziam procissão ocular na exposição Portinari Popular. E não acabava por aí não... Dessa vez a peregrinação tinha uma extensa imensidão, espanhóis completando os retratos de Ináh Prudente de Moraes e do poeta Felippe Daudt. E assim como o tráfego sempre era constante, pensei eu em ter avistado uma parente distante. Dessa vez foi na mão do povo brasileiro, uma “cunhada” gritava que eu até pensei que ela tinha “pegado” num braseiro: — Lefinha, corre aqui e espia se isso aqui não é um alambique? Lefinha/ Lequinha avistou de longe e veio andando a passos largos e do meu lado lhe disse entre risos: — Cachaça boa era desse tempo cumade!!! Senhoras e senhores se sentiam tão à vontade que era constante o sentimento da saudade.
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Outro dia uma mãe inconformada com o que a filha fez com alguns de seus aparatos, olhou pro lado apontou uma peneira e lhe disse: — tá veno ai, foi uma dessas que você jogou fora, né?! Me senti na obrigação e sem medo de levar um não, resolvi entrar na brincadeira. — Faça ela devolver sua peneira e seu ralador de coco... Entre risos e gargalhadas descontraídas desci “esbaforida” pra o 2º sub-solo e quando olho vejo uma cena sendo reproduzida na atualidade diante do quadro mulher e criança, com um pouco de esperança resolvo abordar um casal jovem que ali estava. — Oi, Bom dia, posso perguntar o que esse quadro te traz? — Achei tão lindo a proteção da mulher à criança, que resolvi fazer essa cena com meu namorado. Me respondeu ela sentada no chão. E esse foi o dia dos casais melancolia, mais tarde um pouco me surpreendo com outro casal jovem sentado diante de os Retirantes. Pude vê no semblante deles o fascínio que aquela pintura trazia, com aquela família fazendo romaria. A esse casal resolvi não abortar, pois eu iria escutar o que vi na face desses jovens. E a catraca louca do Masp começou a girar e na sequência fui chamada pra o segundo andar. Ali encontrei um pai envaidecido e acima de tudo subentendido, apresentando ao filho tudo que era arte, até o momento em que ele avistou uma mesa, com o olhar de espanto resolveu me perguntar meio que em prantos...
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— Isso aqui é arte? Eu não precisei responder pois seu filho, assim como a Rivane, se meteu por debaixo da mesa, e ali tinha giz e apagador e o pai com espanto e horror disse ao filho que saisse dali. E eu lhe disse: — Essa seria a sua resposta! E na sequência contei-lhe a história, pois os pais deixar Rivane se fazia de “besta“ e ia pra debaixo da mesa, assim como seu filho fazia mesmo. E assim os dias foram se passando e as visitas foram aumentando à medida que muitos iam criando informações imoral, esse caso aconteceu com o Portinari e Tarsila do Amaral. O diálogo aconteceu entre dois jovens senhores que sem nenhum pudor criou rumores amorosos na vida particular desses dois pintores: segue a conversa entre eles: — Você sabia que na época Tarsila do Amaral e Portinari eram amantes? — Mentira!? (se absmou o outro) — Sim, e eles tinha um código entre eles, tá vendo nas pinturas do Portinari? Pés e mãos grandes? — Sim, to vendo (afirmou) — era esse o código, a Tarsila pintava pés e mãos grandes pra se homenagearem. Passei por entre eles na dúvida se eu permitiria tal heresia contaminar a cabeça daquele que estava ali a acreditar no que lhe convinha. E então: como se diziam que tudo na vida se copia, deixei fluir entre eles essa energia de autoria. Luiza B. do Nascimento
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- Posso tirar fotos? - Vamos tirar foto dessa obra! - Vem tirar uma selfie, pessoal!
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Há algo de anormal no pais dos desigual, os que sobem não desce e o povo que nunca cresce. atente moço; é tão cruel … desfalque em tudo, sistema forma ou aluguel, planalto cascata povo réu… Só vai pra cadeia João EU gente ao léu!
Poema de Luiza B. do Nascimento S. rescitado por Suzi Aguiar Soares, no Sarau do Binho, realizado no Vão do MASP no dia 20 de novembro de 2016, como parte da programação de oficinas da exposição A mão do povo brasileiro.
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VISITANTES INTERAGINDO COM AS OBRAS
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POR DENTRO COMO ESTAMOS
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Eu sou Julio Jules Mombo Dibi, da nacionalidade congolesa, hoje eu estou vivendo no Brasil, precisamente em São Paulo, trabalhando no MASP como orientador de público. Como a gente trabalha com o público, a gente recebe todo tipo das perguntas em relação com arte, com o funcionamento do lugar onde trabalhamos (MASP) e recebemos também as perguntas fora do MASP. Na verdade eu gosto muito do que eu estou fazendo aqui no MASP, tipo receber os visitantes, dar orientações sobre as galerias, onde estão as exposições. Eu faço isso em português, francês, ingles, swahili, eu já fez isso tambem na língua do meu país, porque eu já recebe os congolês quem estavam visitando o MASP, fiquei muito feliz dessa diversidade, dessa capacidade de poder communicar com qualquer pessoa visitando o MASP. Um coisa que eu acho muito engraçado é quando eu começo a falar na frente de um brasileiro, ele percebe meu sotaque, que eu estou estrangeiro, aí ele começa a fazer outras perguntas tipo você esta gostando do brasil? e depois voce está de parabéns porque voce já arrumou emprego, no MASP ainda, boa sorte no brasil. Eu lembro tambem quando tinha a exposição de portinari no segundo subsolo, como essa exposição falava sobre o trabalho que os negros fizeram, ela mostrava a moda, a vida dos negros... recebi também muitas perguntas sobre isso tipo pelo feito que você estrangeiro, africano do longe ainda o que você acha disso por exemplo do lavrador de café, eu sempre falava que eu vejo nada de mal, ao contrário é uma obra apresentando uma pessoa trabalhando e para mim é orgulhoso que ela seja preta, branca, eu disse isso também porque um dia tinha um visitante que falou que ela achou a exposição do portinari preconceituosa porque sempre mostrava os negros soufrendo, trabalhando, morando nos morros... sempre tentava de dar uma explicação
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tipo olha, faz parte da história, não seja, isso já passou e não são sempre os negros quem sofrem temos também uma obra ali no fundo quem se chama retirantes que mostra uma família fazendo uma migração para buscar as melhores condições da vida. A exposição do portinari era muito interessante para mim porque sempre recebia as perguntas dos visitantes de todos os lugares. Temos também a exposição da mão do povo brasileiro que eu achei importantíssima, porque a maioria das obras que tinham dentro dessa galeria era da áfrica e muitas são do congo também. Falando da minha experiência com os visitantes, conhecendo que eu estou africano do congo eles faziam as perguntas sobre os objetos tipo será que tem esse no seu país (enrolador de tabaco, moenda de cana-de-açucar) Falta de tempo, hoje eu vou me parar aqui, eu tenho ainda muitas coisas para contar porque toda dia no MASP é uma experiência nova para mim. 11/5/2017 Hoje eu estou me virando bem, mas não foi facil minha integração no brasil e no museu também. Foi muito dificil no começo, saindo de meu país eu já sabia que não ia ser facil para mim, vôce sabe quando você deixa sua família, par tentar uma outra experiencia da vida (nova língua, nova cultura, coustume...) então não deixei meus país porque eu quis, eu viajei para o brasil porque aconteceu uma coisa lá no congo. Na verdade nos estamos vivendo uma ditadura moderna o meu pais chama Republicá democraticá do congo mas infelizmente a democratia não existe, e o futuro do país esta obscuro para isso que nos estudante a esperança de amanhã, a gente saiu na rua para protestar contra o regime do presidente porque ele ja
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estava ilegal e ele não quis organizar eleição. Esse por isso que a gente fiz essa manifestação quem demorou 3 dias, Ela foi horrivel porque tinha repressão, a guarda do presidente matou muita gente ate eu que estava escrevendo quasi morri, e como eu estava lider do departamento do partido do meu bairro a guarda do presidente estava na minha procura foi muito dificil naquela época, por causa disso que eu decidi de fugir, por medo de morrer porque lá a guarda mata de qualquer jeito e ninguém pode falar nada. E verdade que a situação esta dificil lá hoje, mas estamos lutando para acabar com isso. por enquanto estou aqui no brasil trabalhando com publico no MASP e uma boa experiencia que estou conseguindo e verdade que a vida e uma arte, a arte faz parte de nosso dia a dia mas trabalhando no MASP me aproximei ainda muito mais da arte e sempre bem quando você aprende uma coisa nova. Um dia ou outro eu vou voltar no congo, talvez viajar no outro pais na europa para acabar a faculdade eu vou trazer na minha mochila a lingua portuguesa um conhecimento sobre arte e essa facilidade de comunicar com qualquer pessoa. Trabalhar no MASP me abriu muito. Nunca eu vou esquecer essa experiencia na minha vida. Uma migração não e facil eu acredito, mas vale a pena de tentar no meu caso por exemplo. A vida continua e tem muitas surpresas boas na minha vida eu vou conseguir tudo que eu sonhava resolver na minha vida. eu estou no caminho certo e a experiencia que eu consegui no brasil vai me ajudar muito.
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“ela tem vergonha do que fez?”
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Meu melhor dia no museu foi 02.12.1996, porque antes eu era prestador de serviço sem registro na carteira, então depois deste dia as coisas foram só melhorando para mim, eu me sinto privilegiado. Meu pior dia no museu foi a manifestação que teve a tropa de choque com confronto. Este dia eu vi um começo de uma guerra. Para mim foi o pior dia. Milton C. Silva
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“A Lina era completamente louca” “Qual a obra mais cara?” “Qual a obra mais famosa?” “Em que andar está a Monalisa?” “Moça, o que foi que aconteceu com aquele ali no fundo? Tentaram roubar?” — “Escuta, pq as legendas estão no verso?” — “Então isso faz parte da...” — “Uma merda! Odiei! Porque em nenhum museu do mundo..” “O que te leva a levar um trem daquele pra casa? Só porque é do fulano famoso...Eu gosto dos desenhos, das paisagens e daqueles dois bem realistas do Portinari lá em cima que parecem
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mais uma foto que um desenho... Mas acho estranho ter um quadro de rosto de gente dentro de casa, você nem sabe quem é...” “Vim ver todas as coisas de quando era criança... Porque eu fui criada num sítio. Hoje moro em Brasília, mas sou de Minas Gerais. A casa que mais sinto falta é a do meu avô. Ele tinha uma casa alta, tinha um rio que passava perto e ele desviou para passar por baixo do assoalho da cozinha, aí minha avó, italiana, fazia macarronada e a gente comia vendo a água passar por baixo do piso da cozinha.” — Posso te contar uma coisa em particular em segredo — Claro!... *longo silêncio* — Eu não gosto do Portinari!!” “Porra, to aqui no Maixpi Nesse calor da porra dessa Av. Paulista, sô carioca, to aqui na São Paulo, to de pé das 4 da manhã trabalhando, maix tem que vir no Maixpi, né, porque, porra, tem que aproveitar, e ai chego aqui, porra, Portinari, tem que aproveitar.” Uma vez, uma visitante portuguesa me abordou dizendo que, sempre quando vem para o Brasil, ela precisa vir ao MASP para ver/tirar uma foto desse quadro** Perguntei o porquê. Ela me disse que sua mãe, sempre quando via o
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pôr do sol rosado, dizia que era um “pôr do sol de Ruysdael”! Desde então, ela sempre manda para sua mãe a foto do quadro e lembra de sua história e dos vários pores do sol que teve. ** “Paisagem fluvial com com balsas transportando animais” de Salomon Van Ruysdael. Um homem ao ver um casal de rapazes demonstrar afeto com um singelo beijo, dentro da galeria do 1º andar, onde acontecia a expo Histórias da infância, veio indagar-me se tal comportamento era permitido, porque... como o MASP deixa que dois homens se beijem dentro do museu?!?! E pior, na frente das crianças!!!
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Foi encontrada pelas imediações do MASP a irmã gêmea de Suzanne Bloch. Por muito, Suzani Broch revoltada por não ser retratada pelo Picasso, resolveu seguir seus passos até encontrá-la no museu. Foi então que Suzani, por fim, realizou (pela metade) seu sonho de posar ao menos ao lado de sua irmã, moral da história,: Suzani Broch conquistou o emprego de orientador de público do MASP.
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S E R O D IENTA
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O visitante ao saber qu
Mas ninguém me avisou Eu vim do interior Só tenho o dia de hoje! Só mais uma foto, por favor! Já são 18 horas??? Me falaram que fechava às 20h00 todos os dias…
que o museu vai fechar
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Conversa na exposição A mão do povo brasileiro entre os orientadores Milton Silva, Chico Soares e Leandro Nunes e Leonardo Matsuhei e Pedro Andrada, da equipe de mediação e programas públicos. Vassoura Leonardo: Eu nem sabia que isso aqui era uma vassoura. Damião: Sabia não, né? Aqui tem uma peneira, isso aqui é um abano... Milton: Eu trançava essas vassouras aqui de palha de coqueiro, né. Então cê varria a casa, casa de chão. Aquele tempo, na minha época, eu fui criado lá no norte, na Bahia. Minha mãe usava essas vassorinha. Pra varrer casa, varrer fogão e fazer muitas utilidades com essas vassorinhas. Essa peneira, peneira mais grossa pra peneirar feijão, milho… Pedro: Onde você usava Milton? Milton: É na região da Bahia, Vitória da Conquista, no sertão da Bahia. Peneira Pedro: Eu vi em um filme como se faz, primeiro você tira a folha, né?... Milton: É, tem o Imbiriçu que você tira aquela fita e tem o croa que é espinhento. Você tira aquela fita dele, que é forte, aí põe ela pra secar. Você tira aquela fita que é da imbira, seca e ela fica macia. Dela que a gente trançava com a fita de croá. Você põe a cera de abelha. Você passava nela pra ficar bem … Dá coxa, né? Pra ir puxando e dar aquela coxa. Fazia muito dessas coisa lá. Pedro: E as peneiras são da fibra também ou é de palha? Damião: Da palha, né. Milton: Tem um trançado diferente, né. Que é 74
mais alí, usa pra fubá de milho. As mães lá tinha os filhos, pisava farinha no pilão que precisava tira o anguzinho pra dar às crianças. Eu fui criado com isso. Balaios Milton: Esses aqui eu chamo balaio de coisa, pra mulher guardar roupa. Você põe no quarto e a roupa vai se amontoando dentro pra depois pegar pra lavar. Lá chamam cesto, né. Cesto ou balaio, balaio grande. Cevadeiras Milton: Aqui fica a cevadeira, que agente chama. Cevadeira é a mulher. Cevadeira cê vai colocando a mandioca. Ai você vai botando força, ela vai empurrando a mandioca e a massa vai caindo. Tem a cevadeira “mão leve” que sabe manobrar. Tem umas que tem “mão pesada”, que você põe força e não vê cair massa. Tu tem que ter a prática. Lavador de mandioca Milton: Joga a mandioca inteira, suja de terra, Leo - uma vai batendo na outra e elas próprias se lavam. Moinho Leonardo: De comida com fubá, o que vocês gostam mais? Chico: cuscuz, fazia cural. Tinha uma outra comida que a gente fazia, chama angu, também do milho, né. Milton: A gente chamava de quebra torto. A gente ia para a roça às nove horas e o café pra gente ia com cuscuz ou bolo de milho, cê comia pra aguentar até meio dia pra ir no almoço. Dava duro na roça mesmo, puxava a enxada, era um
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suor. A gente passava na minha época muita dificuldade no sertão da Bahia. Tinha vezes que o almoço da gente, hoje não tenho vergonha de falar, era cuscuz de milho, comia meio-dia pra poder passar o dia trabalhando. Chico: Às vezes fazia também uma farofa de cuscuz com ovo. Muito bom! Eu como até hoje. Ou então jabá frita. Fritava ela, cortava, colocava no cuscuz fazia aquela farofa e comia. Prensa de torresmo, torresmeira Chico explica que coloca a pele do porco e prensa, para fazer as tiras de torresmo. Damião explica que utilizava o óleo da banha para fazer sabão e outras coisas, como para fritura. Completa que o que sobrava eles colocavam para assar e consumir. Leonardo: E isso aqui é o que hein? Vocês sabem? Milton: Isso aí é de torresmo. Leonardo: É de torresmo esse? Nossa! Mas como? Milton: Torresmeira. Leandro: É, aí no caso acho que é de prensar. Você colocava a banha aqui, você apertava e tirava também o óleo da banha para fazer sabão e outras coisas. Leandro: Colocava a pele do porco e apertava para tirar o óleo, para fazer sabão e também utilizava para fritar alguma coisa e o que ficava eles colocavam para assar. Balança de pesar algodão Explicação do Milton sobre os funcionamentos das balanças. Milton: Aqui é só de algodão. Leonardo: Isso aqui é tudo de algodão? Milton: É, são as balanças de pesar algodão. De um lado colocava o algodão e do outro lado o
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peso. Batedor de manteiga Milton explica que é só colocar o leite e ir rodando (manuseando) até sair o soro da manteiga. Pedro conta que o processo é deixar o leite decantar, pega a nata e bate no objeto. Milton: Esse aí é batedor de manteiga. Leonardo: E aí como que faz? Milton: Você põe o leite só. O leite quando ele já está bem preparado para a manteiga, você coloca dentro e vai rodando até fazer só um soro da manteiga. Leonardo: E só de bater assim ele já fica pronto? Pedro: Você deixa o leite decantar, aí você pega essa nata grossa e bate ali. Cana Pedro: E esse aqui Seu Milton? Milton: Esse aqui também é (moedor de cana). É diferente. Você põe o varão de cana aqui e a outra pessoa vai torcendo aqui. Leandro: Esse aqui é conhecido como manual. Esse aqui é o industrial, que no caso é animal. Industrial, como se diz (risos). Ai tem um animal aqui e ele vai girando. É engraçado que o animal já sabe. Você coloca ele aqui e ele já sabe, vai girando. Vai sozinho. Chico: Esse aqui era mais usado por quem fabricava rapadura. Como eram os bois que giravam, né. então ele produzia mais pra fazer rapadura. Pilão Milton: Isso aqui é tudo pilão né, tem o pilão de pé e o pilão deitado. Vai um pedaço de madeira bem grande e as duas mulheres, uma senta de um lado e a outra do outro com duas mãos no
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pilão e pisava em duas pessoas. Pedro: Você faz sentado? Milton: Olha aqui, você senta de aqui e o outro senta de lá e pum pum pum pum (faz os gestos). Meu pai fazia muito isso aí. Campainha Leandro: Geralmente tinha nas escolas também, era muito utilizado, e algumas estações de trem. Quando o trem vinha ficava aquela pessoa e “PIM”. Na estação Jaraguá, que é a mais antiga tinha uma dessas, mas era adaptada, elétrica. Matraca Leonardo: Acho que vocês devem ter alguma lembrança boa com isso aqui ó.. Chico: Ah.. Isso aí é uma armadilha Pedro: Da matraca? Chico: A matraca é assim, alguns vendedores, quem vendia algodão-doce, pirulito.. Então ele passava na rua, na frente das casa, batendo a matraca para chamar a atenção do pessoal.. Pedro: Vendia o que na sua região, Chicão? Chico: Vendia algodão-doce, pirulito, vendia pão também, doce de mocotó, doce, queijo.. Máquina de costura Milton lembra que sua mulher costurava na mão. Milton: a minha esposa ainda costurou no manual. Pedro: mas não tem que ter o pisante? Milton: não, mas tem umas que não tinha, era na mão mesmo. Leo: Nossa! Mas aí tem que ter coordenação né! Só uma mão para passar o tecido Solda branca
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Milton: E aqui é os candeeirinho… segura na asa aqui e pronto. Pedro: Quanto tempo durava um candeeiro desses aceso? Milton: Depende do gás. Hora que o gás tivesse acabando, você tinha que pôr mais gás. Chico: Dura bastante, viu? Leandro: Dura uma hora, meia hora? Chico: Dura mais. Você vai enchendo de gás ai, dura 3 ou 4 horas. Pedro: Vocês estavam me falando da solda branca também, né? Milton: Chicão que fazia isso, né Chicão? Chicão: É, meu pai que fazia. Meu pai fazia desse modelo aqui. E eu que soldava ele com solda branca… chamava estanhadeira, né? Hoje existe maçarico. Estanhadeira era um ferro, mas uma coisa improvisada na verdade. Daí você botava no fogo, esquentava aquele ferro, pegava a solda, tinha um preparo, aí você fazia essa juntinha aqui de solda branca pra não dar vazamento, com estanho. Isso aqui é a mesma coisa. Esse funil aqui é soldado com estanho. Você encostava o estanho, encostava o ferro quente, ai ele ia derretendo e ia fazendo a lacração na emenda. Leiteira Milton: Esse aqui chama esculateira, pra fazer café. Minha mãe falava: Hoje eu vou comprar esculateira que a minha aqui já tá furando de tanto bater a colherzinha pra bater o café. Você põe a água, naquela época você fervia, colocava o pó , batia com a colher pra depois girar com o coador. Leandro: Com meia que colocava pra coar café? não né? Milton: Ahn? Leandro: Coava como meia não, né? Milton: Tá gravando aí cara, você fica falando
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besteira aí (risos de todos) Na minha região era com coador mesmo. Coador era de pano. Peneira Pedro: Aí vocês estavam me explicando o lance do prego com cabeça, né? Do prego redondo… Chico: É esse “ralo” aí é o seguinte: isso aqui que é áspero pra ralar, você tem que furar com prego de ponta bem apontadinha, diferente da peneira. A peneira você tem que furar com prego sem ponta , porque você apoia na madeira e bate. Quando você bate sai um pedaço, aí não fica áspero , com a ponta. Leonardo: Como uma furadeira de papel, né? Chico: Isso! Exatamente! Pedro: E você riscava como compasso, né? Chico: Isso! Esse parte aqui era riscada com compasso. Você fazia todo o risco, depois ia lá e furava. Ralador de coco Damião explica que é para arrancar a carne do coco. Milton complementa explicando gestualmente como funciona para ralar o coco. Leonardo: E esse ralador de coco aí? Não entendi… Chico: Você pega aqui e só passa o coco para ralar. Rala a mesma coisa que esse aqui! Pedro: para arrancar a carne do coco né? Milton: Aqui você vai passando assim e vai saindo tudo. Cacau Damião: Essa pá aqui, pra quem não sabe, é de
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virar cacau no coxo. Na Bahia tem muitas dessas aí. Cacau tá lá no coxo e você tem que virar ele de um lado pro outro pra não ficar preto embaixo e outra cor em cima. Tem que ficar tudo uma cor só. Leonardo: Tem plantação de cacau em Ilhéus, perto de onde você mora, né? Damião: Tem, tem sim. Depois lhe mostro as fotos aqui. Pedro: E ai o que você fazia com o cacau seco Damião? Damião: Cacau seco era vendido numa cidade chamada Ilhéus. (Damião pega o celular e mostra as fotos da última viagem que fez a Ilhéus) Damião: Aqui, as cabaças quebrando… Aqui de novo… Aqui um pé de jaca...Aqui um ramos de cacau na hora de secar e aqui um cacauzinho verde do lado....Esse aqui tá doente, ó… Pedro: Quando fica preto assim ... Damião: É que está doente, sim. (continua mostrando as fotos) Aqui já tá todo preto, doente, uns bons outros ruins. Damião: aí também fazia licor de cacau né Pedro: Aah! Aí é com essa pá que você tá falando! Damião: Aqui dentro da estufa, aqui tudo é cacau. Pedro: E aí tem alguma coisa para esquentar? Damião: É fogo embaixo e uma chapa de ferro bem grande e embaixo é cheio de lenha e fogo e aí faz essa função de secar o cacau. Brinquedos Milton: Isso aqui é um corta-vento, não é Damião? Pedro: Esse é aquele brinquedo do malabarista né? Leonardo: Vocês faziam brinquedo também? Milton: Não não.. Chico: A gente fazia esse carrinho de lata, só que era outro formato.
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Milton: Lata de óleo né? Damião: Eu lembro que quando eu era moleque pegava a lata de óleo assim e furava, colocava um cordão e botava areia molhada e ficava girando. 42:33 min – nome do Damião Milton: Aqui tem um par de Cosme e Damião Pedro: Aê Damião! (risada de todos) Leonardo: É Damião por causa de Cosme e Damião? Milton: Cosme e Damião, essas duas pessoas aqui. Chico: 27 de setembro é festa de Cosme e Damião. Milton: Que o pessoal lá festeja dia de Cosme e Damião. Pedro: E é a mesma história que aqui assim, um monte de doce..? Chico: Samba,noitura, comida a noite toda e café.. Que mais? Caixa de farinha Milton: Toda a função da caixa de farinha está aqui. Tem a prensa, tem o cara ralando a mandioca.. Chico: Tem a cevadeira, o moedor ao lado da mandioca.. Aqui o cara está torrando a farinha. Esse aqui está lavando a massa, tirando o gomo, está vendo? Na bacia ele lava a massa, põe no coxo e a goma assenta, e depois você só tira para fazer os beiju, tapioca né. Leonardo: Que está lá no outro quadrado né? Milton: É, que está lá na frente! Produções artísticas e artesanais – bonecos de barro
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Leonardo: E tinha artistas lá na cidade de vocês? Não tinha nenhum escultor? Chico: Não, desse tipo não, mas de madeira tinha. Milton: Agora sobre bonequinho de barro da minha região não, o que eu conhecia eram mulheres que tinham que fazer aqueles lá da frente, que a gente chamava de potes de barro. Elas faziam, queimavam no forno. Damião: Mas na época que elas faziam você não pegava não os restos do barro para fazer boneco..? Essas coisas, porque geralmente sobra né, esses restos dá para fazer boneco.. Leonardo: Mas os brinquedos, vocês não tinham alguém que fazia brinquedo ou vocês mesmo faziam brinquedo..? Vocês brincavam mais com brincadeira de rua? Milton: Nossas brincadeiras no tempo de menino era cavalo de pau. Leonardo: Como que era? Milton: É, cavalo de pau era você amarrava um cordão num pedaço de pau e deixava ele sair, falando que era o burro ou o cavalo, saía correndo né? E as mulheres faziam várias daquelas bonequinhas de pano. Elas mesmas que costuravam lá e faziam. Minhas irmãs faziam muito para elas brincarem. Brincavam de casinha lá no mato, faziam lá as bonequinhas delas lá.. Agora nós era cavalo de pau. Chico: Carrinho para brincar eu fazia, já fiz. Leonardo: Mas carrinho que nem aquele lá? Chico: De lata de óleo, eu escolhia o modelo né. É assim, geralmente os mais fáceis. O mais fácil de fazer era caminhãozinho e ônibus. Aí precisava do que? Só de uma tesoura, um tesourão igual tem lá na ferragem para cortar a lata, o alumínio né, entendeu? Um martelo e prego. Leonardo: Soldinha ou não? Chico: Solda não, era só no prego. E as rodas fazia de madeira ou então de chinelo havaiana, aquele chinelo que ninguém usava mais. Pegava
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ele, modelava, fazia rodinha e botava nos carrinhos. Leo: Melhor né, já é borracha (risos) Milton: Ou então da própria, aquela cabaça seca de quebrar “carcueijo”, fazia a rodinha. Ex voto Leonardo: E essa parte aqui? Milton: Essa parte aqui eu já não conheço muito. Sou mais aquela parte de lá do couro. Leonardo: Ah! Do couro ali? Pedro: O Damião também né? Damião: O pessoal fazia promessa né? Pedro: É lá do Cariri, Juazeiro do Norte… Leonardo: Vocês têm alguma história de promessa? Ali é da cidade de vocês? Milton: Não… Leonardo: Ah! Minas Gerais também né?! Naquelas cidades históricas sempre tem.. Vaquejada Pedro: Mas e aqui Damião, você que era mais vaqueiro aí! Damião: Aqui faz parte tudo da vaquejada, ali é uma bainha de facão para quem não sabe o que é, chapéu de couro Milton: leiteira de couro ali também Damião: Leiteira de couro, uma calça de couro, “pentelha de couro” ali também, chinelo de couro.. Pedro: Mas por que que usava tudo de couro? Damião: É porque dentro do mato tinha aqueles espinhos, aquelas matas bravas tinha que usar tudo senão ficava sem a perna lá dentro. Leonardo: Devia ser quente hein! Damião: Vish Maria! (algumas exclamações) Damião: Isso aqui é um “polvarinho”, de botar
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pólvora. Leonardo: Ahh! É de botar pólvora isso aí?? Eu achava que era um berrante. algo assim! Damião: Não é! - e continua- Isso aqui é um pó de cangalha. Chico: Badalo a gente chama de “ganguco” né.. Damião: Chocalho Leonardo: Chocalho ou badalo? Chico: É! Damião: Isso aqui é ferradura. Essas seis aqui é ferradura, cinco... Isso aqui é um cabeção… Leonardo: O que que é isso aí? Damião: É para botar na rédea do animal.. Aí esse daqui é um “lorques”, esse aqui é espora, outro de baijão lor outro de baijão espora.. Pedro: Você andava também, Damião? Damião: Andava.. Esse aqui o animal vai sumir você colocava no pescoço dele ele vai andando, ele vai balançando e você vai vendo onde ele está. Pedro: Sei sei… Você arrebanhava assim, cantava uns “a boi” essas coisas? Damião: Não não.. Pedro: Chegou a participar de vaquejada também? Damião: Participei! Pedro: Como que é a vaquejada? Damião: A vaquejada é.. Se bem que não tem um cavalo bom, não muito muito animal bom, são mais as pessoas que vão nisso aí.. Pedro: Mas o que que acontece na vaquejada? Tem várias categorias né, uma é pular em cima da vaca né.. Damião: Ah sim! Tem! Chico: Derrubar o boi… Damião: Estar preparado com essas roupas para estar preparado se o boi entrar no mato, tem que correr atrás para pegar ele.. Pedro: Mas não tem a festa da vaquejada? Damião: Tem, tem.. Chico: A vaquejada é o seguinte, eles cercam o
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terreno, eles põe bastante areia para ficar macio para derrubar o boi, aí eles deixam o boi cercado aí vão dois vaqueiros cada um em um cavalo, ficam um do lado direito outro o lado esquerdo e o boi vai sair no meio, entendeu? Ali tem um limite para derrubar ele e você ganha ponto, entendeu? Aí o que acontece, um cara que está lá atrás dele, ele cutuca o boi, ele deixa o boi estressado. Quando o boi sai ali, ele já sai a milhão! Aí um vaqueiro de um lado e outro do outro, um vai pegar no rabo do boi e quando chegar antes da linha, que tem o limite, o cara tem que derrubar ele, puxando o rabo dele ele cai. Aí se ele cair na linha, você ganha uma pontuação né.. Pedro: Mas os outros não pulam na cabeça? Chico: Então aquilo lá já é rodeio, ele é um pouco diferente da vaquejada, entendeu? Pedro: Entendi.. Chico: E esse equipamento aqui ele é para o vaqueiro pegar boi no mato, entendeu? Ele sai.. Pedro: O boi que fugiu do rebanho…? Chico: Exatamente! O fazendeiro fala assim ‘meu, se vira, vai atrás do boi’. Aí ele vai atrás do boi, bota esse equipamento e vai a procura.. Milton: E Chicão, estou em dúvida com isso aqui..? Chico: Isso é o peitoral para proteger o vaqueiro e o cavalo. Ali ele leva a água né.. Vestimentas vaqueiro Leonardo: E esse daqui é para o vaqueiro né? Chico:É, é peitoral.. Ali é a calça. tem que vestir para se proteger, ali as bainha de facão.. Leo: Não entendi muito bem essa sandália aqui… Esse buraquinho em cima.. Que que é isso aí? (risos) Chico e Damião juntos, dando risada: É luva! (risadas e exclamações) Leonardo: Ah luva!! Está junto né, com a sandália, falei sei lá né!
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Oratórios Chico: Aqui é tudo As Ave Maria Cheia de Graça.. Milton: Os oratoriozinhos, os povos antigos tinham muito. Damião: Os oratórios para guardar santo né.. Pedro: Você também Chicão, sua família era católica? Chico: É. Pedro: Você também, Damião? Damião: Também. Leonardo: Tinha um oratoriozinho assim? Damião: Tem! Até hoje tem o oratório ainda. Até hoje! Milton: As casa na Bahia, cada uma tinha dentro do quarto um oratório, dentro um santo protetor. Cada um tinha sua devoção com um santo, era Nossa Senhora da Aparecida, Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora do Rosário, Santa Luzia.. Tinha gente lá que tinha promessa para Santa Luzia que todo ano lia terço de Santa Luzia, rezava terço dentro de casa. Leonardo: A sua casa era como? Milton: Minha mãe mesmo fazia isso. Pedro: Era qual santo padroeiro da sua casa? Milton: É Santa Luzia, que a minha mãe chama Luzia. Chico: Lá na minha casa tinha mais imagem do coração de Jesus. Tem aqui tem? (Pedro e Leo indicam para o Chico onde está essa imagem) Leonardo: E na sua casa, Damião, qual que é? Damião: Cosme e Damião. (risos) Damião: Até hoje tem lá ainda, acredita? Máscaras/ Folia de Santo Reis Leonardo: E essas daqui vocês conhecem, as máscaras? É de alguma festa de lá?
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Chico: É de umas festas que faziam lá mas eu não cheguei a participar. Leonardo: É? E quais são as outras festas que são mais fortes de lá onde vocês vieram? Milton: Folia de Santo Reis. Leonardo: Como é? Milton: Meu pai sempre nós cantávamos terno de Reis, de primeiro de janeiro até dia seis. Seis dias com seis noites. Fazia a promessa para o senhor Santo Reis e todo mundo cumpria. Aí ia cantando Reis, pro santo né, Santo Reis. Bumba Meu Boi Milton, enquanto caminha em direção ao objeto: Aquilo ali é do bumba meu boi né? Leonardo: E para você, Damião, era qual festa? Damião: Fazia muita festa do Bumba Meu Boi, muita muita muita! Até hoje eles fazem ainda! Leonardo: Uhum, mantém ainda vivo lá? Damião: Mantém! Milton: É, lá também, todo primeiro de janeiro eles saem cantando o Terno de Reis de casa em casa. Leonardo: Tem alguma lembrança boa de algum acontecimento aí de uma festa? Milton: Ah, tem muitos né cara. Tem um de quando eu era mais novo, morava na Bahia. Todo ano a gente ficava esperando chegar o mês de janeiro, cada ano para a gente era aquela alegria! Então foram uns momentos muito bons que passei na minha vida junto com meu pai, meus irmãos, quando a gente cantava isso aí fica para sempre gravado na memória da gente. Leonardo: E tinha alguém da sua família que levava o boi? Milton: A gente não usava esse coiso aí, isso aí é mais para o lado de Pernambuco que eles usam. Nosso era só chapéu todo enfeitado de flor, uma toalha branca de renda.. Ali ficaram as almofadas de renda que a gente não falou.
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(aponta) Aquelas ali que minha avó fazia. Ali ó, ali tem, quer ver?! Almofadas de bilro Milton: Aqui ó, de bilro! Leonardo: A renda né! De bilro? Milton: É, que a minha avó lá e minhas tias todas faziam isso. Cada uma tinha uma almofadona assim, do jeito que elas tão aí - aponta para a imagem - e fazia a renda com os bilro né, com linha branca. Quando eu vi isso aqui até mostrei para o Damião. Quando eu chegava minha avó estava lá sentada com “bilrinho” na mão. Leonardo: E tinha alguém da família que fazia essas colchas assim? Milton: Não, dessas assim não.. Leonardo: E vocês dormiam mais ocm o que assim? Como que eram as colchas? Milton: Lençol mais liso mesmo. Damião: Eu dormia mais em rede. Milton: É a gente foi mais criado em rede, né. A mãe da gente botava uma rede dentro do quarto e ia lá para balançar a gente. Personagens - o matuto Matuto – homem andarilho (leva um saco nas costas) – troca trabalho por moradia e comida – percorre mais o interior, as fazendas. Damião, apontando para a imagem: Olha ó! Um matuto! Milton: O matuto ele é tipo um andarilho, você entendeu? Ele põe um saco nas costas e ele sai sem destino. Aí onde ele chega na fazenda ele pede um trabalho, aí o pessoal dá trabalho, dá comida, dá “dormida” e ele vive assim, o matuto, de andando, de casa em casa. Chico: Ele cansa de um lugar, parte para outro. Leonardo: E tinha bastante matuto que passava pela cidade assim?
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Milton: Não, geralmente eles andavam mais na roça. O matuto não é chegado à cidade. O negócio dele é andar no mato, matuto né, então ele é do mato. Tapete de retalhos Pedro: E aí? Vocês esgotaram a exposição toda né? (risos) Leonardo: Foi a exposição toda né?! E tem algum objeto que é o preferido de vocês, né, que traz mais lembrança boa? Damião: Traz, esse tapete ali ó, minha mãe fazia muito aquele tapete, muito muito..! Milton: Os candeeiro né.. Damião, minha mãe fazia esses tapetes por demais, inclusive aquele ali, aqueles três.. Milton: Eu me recordo muito da casa da farinha, que eu nasci, criei, trabalhando junto com meu pai. Damião: E isso não tem mais né. E a tendência é sumir. Milton: É, não existe mais. Damião: Este tapete mesmo, tudo de pedacinho de pano, fazia muito esse tapete, a minha mãe. Milton: O que que elas fazem, elas pegam a tira de pano e alinhava todas tiras e passa na máquina, todas certinhas. Leonardo: E esse pano aí vem de onde? Damião: Retalho de costura. Leonardo: Sua mãe era costureira? Damião: Era, era costureira. Máquina fotográfica Milton: Essa aqui é máquina de tirar foto né Pedro: A beca.. Leonardo: Vocês tiravam foto em que época? Tiravam bastante foto ou não? Milton: Eu tirei foto numa máquina dessa em
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1979, acho que eu tinha 17 anos. Leo: Tem guardada essa foto? Milton: Tem na reservista. Primeiro a gravata, o paletó.. Era um paletó que não tinha tamanho. Se você fosse desse tamanho tinha que ser este! (risos) Pedro: Era da reserva mesmo? Milton: Era, e era sem opção, tinha que usar aquele mesmo! Leonardo: E era a primeira foto também? Milton: Não não. Foi a primeira foto para reservista né.. Pedro: Vocês pegaram o exército? Os três respondem juntos que não e Milton completa: A gente era dispensado porque era da roça. Viola/ serenata Milton: Aquela violinha ali a gente cantava muita serenata lá no meio do mato com uma violinha dessa aí! Leonardo: Você toca, seu Milton? Milton: A gente ia para uma festa e nós cantávamos muito. Eu tinha uma voz boa, éramos eu e o meu irmão. Nós sentávamos lá e a gente começava a cantar… Aí o povo fazia aquela roda.. Era música caipira, sertaneja.. Nesse tempo não tinha televisão. As primeiras conhecidas nossas que vieram aqui para São Paulo levaram um “radinho”, aquele de mesa. Toda noite a gente ia para lá assistir a Rádio Nacional Edgar de Sousa e dava o outro dia nós estávamos cantando as modas. Aí o povo “olha como são esses meninos!”, mas naquela época não tinha um empurrão, não tinha nada! Eu e o meu irmão ainda chegamos a ir na Rádio Clube de Conquista, cantamos. Todo mundo ficou em casa escutando na rádio. Leonardo: Olha, estamos com um artista aqui! (risos)
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Final Milton: Depois a gente pode ouvir isso essa gravação? Leonardo: Sim! A gente pode fazer a edição depois juntos! Milton: Isso aí vai passar em vídeo depois ou não? Vai ficar à mostra? Leonardo: Não, na verdade a gente vai fazer o zine! Milton: É porque rever as coisas lá da minha terra para mim foi muito bom! Fiquei muito surpreso! Chico: É, foi muito bom. Leonardo: Vocês gostaram então? Milton: Não sei se saiu bem ou mal o que eu falei, mas eu tive prazer em fazer (risos) Leonardo: ô, valeu! Chico, Milton e Damião se despedem.
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“o acervo é belo, mas essa ideia (legenda atrás), horrível... Reprovada!” “Não tenho muito tempo, Qual a melhor galeria?” PORTINARI POPULAR Menino: “você é segurança?” Jussara: “Não, só estamos aqui para olhar vocês...” A mãe pede para a filha mais velha (+- 6 anos) ficar próxima à obra para tirar foto, a mesma responde (emburrada e de braços cruzados): - Não, ela é feia! A mãe pede de novo, e a resposta é a mesma: - Não!! Ela é feia! Na sequência a mãe pede para a filha mais nova o mesmo A criança vai toda feliz e saltitante apontando para a obra... A mãe consegue tirar a desejada foto. “Olha isso também é uma exposição. Olha a faixa.” (na exposição Trabalho, de Thiago Honório)
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No 1º Andar, uma senhora entra com seu filho e “resmunga” pra ele: - Isso aqui é exposição indígenammm não quero ver... Na sequência me pergunta: - Onde fica o acervo, os quadros europeus? Respondo: - 2º andar, senhora! (fugiu da galeria...) - Até que horas fica aberta a galeria do rock? - O Eataly Itaim tá meio longe? - Como chego no shopping Eldorado? - O Terraço Itália tá perto? - Meio ruim pegar o metrô p/ Itaquera agora? - Qual o mercado mais próximo daqui? - O que mais posso visitar aqui perto? TURISTAS!!
“Nossa, o MASP devia ter um exército pra cuidar do acervo!” Todo o acervo / reserva. “Aquilo ali é a exposição do Jonathas de Andrade? Ta montada?” Lá vai a explicação...
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- Onde é bom comer (sem ser o restaurante do MASP)? - Que lugar eu acho essas pizza de pedaço aqui perto? - É muito perigoso andar até a frei caneca? - Que andar fica o mirante? - Como chego na V. Madalena? - Qual andar da exposição do itaú cultural? - Me fala um bom lugar para comer massa...? - Se eu sair, posso voltar?
TURISTAS!!
Mãe, filha, neto subindo as escadas – Portinari – sem fôlego, a senhora diz: - Hoje é rapidinho, mas ta bem bonito! A filha diz: - Temos que correr pra rodoviária!! BOA VIAGEM =) Um senhor entra na galeria (Portinari) e passo as regras sobre fotos. Na sequência me responde: – Posso te contar uma coisa? – Claro! – Essa obra do MASP foi o meu avô quem doou, ele e o Chateubriand eram amigos e ele disse pro meu avô, José Maria Whitaker, doar para o museu, e foi isso que ele fez. Eu lembro que o quadro ficava na sala em cima de um rádio que meu avô escutava big bands. Ele saiu, deu uma volta na galeria e continuou: – Vou te mostrar meu documento para você ter certeza... Tirou uma caneta do bolso, pegou o RG, mostrou o sobrenome Whitaker e disse: – O sobrenome vem da minha mãe, filha do José Whitaker Pediu para eu tirar uma foto dele com o quadro e
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me perguntou se podia postar no facebook... – Claro! #LAVRADOR DE CAFÉ “Ainda bem que aqui pode tirar foto! Porque na Europa a gente chupa prego pra virar parafuso e tem que ficar calado!” “A arquiteta que criou essa escada tava fumando maconha!! Eu quase me estribuxei toda!” – Vocês trabalha muito né?!! =) – Deviam dar patins pra vocês correrem mais rápido!! Patins na galeria?!! ... Dois meninos de um grupo de escola me abordam n’A mão do povo brasileiro; o 1º pergunta: - Moça, c quer vê um instrumento de tortura, hem? (pausa) - Não temos, sinto muito. O segundo vai embora chateado!
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Participaram desse zine os seguintes funcionários do MASP, a partir dos encontros semanais entre a equipe de mediação e a equipe de orientadores de público ao longo dos anos de 2016 e 2017:
André Mesquita Camila Moura Camila Vasques Chicão Soares Damião Barreto da Silva Fábio Dias Gabriela Gagliani Hugo Szaz José Pereira Joseilson Freire de Lima Julio Jules Mombo Jussara Nascimento Leandro Nunes Leila Silva Leonardo Matsuhei Lipe Reis Luane Faria Luisa B. do Nascimento Luiza Proença Marcos de Almeida Marina Rebouças Michel Fernando Milton Santos Nathalia Caparro Neto Chiavelli Pedro Andrada Ricardo Bonnet Sabrina Yukie Samir Kemel Tayná Barreto
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