Cézanne, ao romper com o Realismo e com o Impressionismo inauguradores da arte moderna, ao recusar representar meras impressões sensíveis e ao abandonar a direcção de teorias objectivistas sobre a representação, lança-se na aventura de registar na arte as coisas tais como ele as vê sem pré-concepções, como se a pureza do ver inocente se identificasse com o objecto visto em si mesmo sem o filtro de categorias científicas e de grelhas geométricas. Nesta intenção de captar a essência da coisa tal como se nos oferece perceptivelmente, Cézanne, não só na sua pintura mas também nos seus escritos, entrevistas e diálogos registados, antecipa a Fenomenologia como doutrina filosófica que há-de ser criada por Husserl e continuada nomeadamente por Maurice Merleau-Ponty, que reconheceu no pintor da Montanha de Saint-Victoire esse visionário da percepção pura e verdadeira. Cézanne abre assim o caminho para as mais importantes das correntes estéticas nas artes plástica do século XX.