OÁSIS

Page 1

O Á S I S



Pedro de Padua Salles Domingues • dezembro 2014

O Á S I S encontro na confluência dos rios Tietê e Tamanduateí

Trabalho final de graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura & Urbanismo Mackenzie sob orientação do professor Daniel Corsi para obtenção do título de arquiteto urbanista


Agradecimentos •

Ao meu orientador Daniel Corsi, por sua dedicação e ajuda na superação dos desafios dessa jornada. Aos meus colegas, futuros parceiros de profissão e, acima de tudo, grandes amigos. Ao meu irmão e companheiro. À Ana Beatriz, sempre ao meu lado. À minha mãe e a meu pai que sempre me incentivaram a sonhar alto.


INTRODUÇÃO • 7

I • ANGÚSTIA URBANA • 9

II • UTOPIA • 27

III • CONFLUÊNCIA • 45

IV • OÁSIS • 61

BIBLIOGRAFIA • 95

5


6


Introdução •

O mesmo elemento que levou a escolha do território ideal para o primeiro assentamento que originou a cidade de São Paulo, encontra-se hoje oculto, em meio às superfícies impermeabilizadas e às grandes infraestruturas. A abundância da água na forma indesejada contrasta com sua escassez na forma potável. O desejo do homem moderno de imprimir sua presença na natureza e a busca pelo progresso acelerado gerou um enfraquecimento das relações entre a cidade e seus recursos naturais, resultou num afastamento entre os cidadãos e os rios de São Paulo. A partir dessa angústia urbana, iniciou-se na contemporaneidade um período de mudança de mentalidade, buscando encontrar alternativas e proposições para o territórios saturados, assim como conciliar o desenvolvimento urbano à natureza até então negligenciada. A complexidade das questões envolvidas, gerou a necessidade de situar o trabalho numa constante tensão entre a realidade e a utopia, que encarada como expressão de um desejo e anunciação de um futuro possível, provocou indagações que se concretizaram na forma de um projeto. Encarou-se a confluência dos rios Tietê e Tamanduateí como um lugar ideal para o promover o encontro, uma situação singular, uma potencialidade latente para a transformação do território das águas. Em meio a um ambiente árido suje então uma atmosfera singular, isolada das dinâmicas de seu meio, um oásis urbano. Apesar de consistir em uma proposição pontual, as intervenções e estratégias propostas para este recorte visam ser o marco inicial para uma propagação de transformações ao longo dos rios, promovendo a ativação dos vazios fragmentados nas várzeas fluviais. A água é explorada como um elemento de cura e ativação da paisagem, criando uma nova experiência metropolitana, uma nova relação de identidade entre os cidadãos e os rios de São Paulo.

7


Angústia • [Do Lat. Angustia] S. F. 1. Estreiteza, limite, redução, restrição: a n g ú s t i a de espaço, a n g ú s t i a de tempo. 2. Ansiedade ou aflição intensa; ânsia agonia . 3. Sofrimento, tormento, tribulação: A triste revelação acarretou o agravamento de suas a n g ú s t i a s. 4. Hist. Filos. Segundo Kierkegaard [ v. Kierkegaardiano], determinaçãoo que revela a condiçãoo espiritual do homem , caso se manifeste psicologicamente de maneira ambígua e o desperte para a possibilidade de liberdade. 5. Hist. Filos. Segundo Heidegger [ v. Heideggeriano], disposição afetiva pela qual se revela ao homem o nada absoluto sobre o qual se configura a existência [q. v.] [Cf. Angústia, do v. angustiar.] FERREIRA. 1986 • 99

8


I •

ANGÚSTIA URBANA

9


O Á S I S

1 0


A N G Ú S T I A

Origem •

A relação entre cidade e natureza pode ser observada à luz das formas de uso da base material pela qual os homens se apropriam e transformam os recursos geográficos. Neste processo, as ações empreendidas abrangem desde feitos de caráter estritamente pragmático, voltados à manutenção do cotidiano ou à produção econômica, até intervenções de caráter marcadamente simbólicas.

O

FRANCO, 2005 • 28

assentamento das cidades sempre esteve intimamente ligado às características naturais do lugar, principalmente o relevo e a hidrografia. As primeiras civilizações, as chamadas civilizações hidráulicas, instalaram-se ao longo dos rios e passaram a fazer das águas um elemento vinculado ao desenvolvimento socioeconômico das cidades e à manutenção da vida. Na Mesopotâmia (meso “entre”, potamia “rios”) a abundância das águas possibilitou a criação dos primeiros sistemas de canalização, armazenamento e jardins, ou seja, a racionalização dos recursos naturais pelo homem. A água, elemento essencial à vida, vem desde então sendo incorporada às dinâmicas das cidades, do surgimento ao desenvolvimento urbano. Esse mesmo elemento foi o principal motivador da escolha do território da primeira vila que originaria a cidade de São Paulo. Seu surgimento foi resultado primordialmente da sua condição geográfica. A cidade encontra-se em um nó estratégico de onde irradiam caminhos naturais – os rios – do litoral para os principais pontos do interior do continente. O fato de o rio Tietê ter seu curso do litoral para o continente foi um fator primordial, que motivou a escolha do sítio do primeiro assentamento que originou a atual metrópole. Além disso, situar-se numa colina rodeada por corpos de água significava uma posição estratégica que proporcionava proteção e, ao mesmo tempo, conectividade e abundância de recursos.

U R B A N A

A originalidade do sítio urbano de São Paulo reside na existência de um pequeno mosaico de colinas, terraços fluviais e planícies de inuvndação, pertencentes a um compartimento restrito e muito bem individualizado do relevo da porção sudeste do Planalto Atlântico Brasileiro. (...) De tal forma o esqueleto urbano e suburbano da aglomeração paulistana se justapôs à bacia sedimentar do alto Tietê, que o estudo do sítio atual da Metrópole equivale, sob muitos aspectos, a um estudo da própria região fisiográfica, restrita e individualizada, conhecida pela designação de bacia de São Paulo. AB’SABER, 1957 • 13 Os colonizadores vieram do litoral e superaram a Serra do Mar através do curso do rio Piratininga (atual Tamanduateí), e se assentaram no polígono entre rios delimitado pelo Pinheiros, Tietê e Tamanduateí. Ele contava com melhores condições para a ocupação e expansão territorial, devido à presença de colinas altas e secas próximas aos eixos fluviais de conexão com o mar e o interior do continente. Dali poderiam seguir o curso do Tietê e se dispersarem rumo às áreas centrais sul-americanas. Antes dos jesuítas, diversas aldeias indígenas já se localizavam ao longo do Piratininga devido a sua situação geográfica singular. Assim surge São Paulo, a partir de uma de motivação de domínio territorial, um desejo de apropriação da paisagem protagonizada pelo homem. A busca por condições de salubridade, que inicialmente estava dissociada dos rios, resultou primeiramente na urbanização das terras altas (colinas e espigão central), encarando as terras baixas como impróprias para ocupação, devido ao alto nível de inundações. No entanto, até o século XIX, o vazio em torno dos rios – principalmente o Tamanduateí e o Anhangabaú tinha um papel articulador fundamental para a cidade e, mesmo representando um empecilho à expansão urbana, eram desses rios que chegavam as embarcações e partiam as carroças em direção ao centro. Até então, os rios eram organismos vivos incorporados às dinâmicas da cidade. Com a chegada da primeira linha férrea, iniciou-se um período de ocupação funcional das várzeas,

1 1


O Á S I S que passaram a ser palco de intervenções infra estruturais e representar uma nova frente de urbanização. A geografia foi e ainda continua sendo um elemento estruturador do processo de expansão da cidade, mesmo que a relação entre os cidadãos e a natureza tenha sido distorcida com o tempo. As limitações, que inicialmente representavam dificuldades impostas por essa geografia, foram “vencidas” a partir de sistemas de infraestruturas que refletiam os valores e tecnologia da época em que foram implantadas, “transformando as impossibilidades iniciais em oportunidades de desenvolvimento.” FRANCO, 2005 • 33. Os principais sistemas que desenharam a apropriação das várzeas foram, cronologicamente: o transporte ferroviário, o transporte rodoviário e as atividades industriais e de serviços.

1 2


A N G Ú S T I A

1 3

U R B A N A


O Á S I S

1 4


A N G Ú S T I A

U R B A N A

A busca pelo progresso •

O primeiro período (meio natural) é marcado pelos tempos lentos da natureza comandando as ações humanas de diversos grupos indígenas e pela instalação dos europeus, empenhados todos, cada qual ao seu modo, em amansar estes ritmos. A unidade, então, era dada pela natureza, e a presença humana buscava adaptar-se aos sistemas naturais. Num período pré-técnico, a escassez era a dos instrumentos artificiais necessários ao domínio desse mundo natural. Uma segunda fase é a dos diversos meios técnicos, que gradualmente buscam atenuar o império
da natureza. A mecanização seletiva desse verdadeiro conjunto de “ilhas” que era o território exige
que se identifiquem sub-períodos. As técnicas pré-máquina e, depois, as técnicas da máquina
- mas apenas na produção - definem o Brasil como um arquipélago da mecanização incompleta.
Mais tarde, com a incorporação das máquinas ao território (ferrovias, portos, telégrafo), estaríamos autorizados a apontar um meio técnico da circulação mecanizada e da industrialização balbuciante, caracterizado também pelos primórdios da urbanização interior e pela formação da Região Concentrada. SANTOS, 1999 • 27 Após o estabelecimento do primeiro assentamento, a cidade foi crescendo e se acomodando sobre a geografia original. Os rios, que primeiramente foram vistos como vantagem, passaram a se tornar barreiras à circulação e ocupação acelerada do território. Foi principalmente a partir do século XIX, que uma série de ações marcaram a paisagem natural da cidade, visando suprir as necessidades decorrentes de seu crescimento acelerado. A implantação da primeira ferrovia em 1867, a São Paulo Railway, caracterizou um importante instrumento para o desenvolvimento urbano de São Paulo e foi o marco inicial ao período da mecanização. Quando esse processo de desenvolvimento passou a demandar novas áreas de ocupação, a questão de “sanear” as várzeas e torná-las ocupáveis se sobrepôs às atividades diretamente relacionadas aos rios, como a navegação, pesca, extração de areia e abastecimento. Iniciaram-se então os projetos de retificação dos principais rios, visando o ganho de terras que inicialmente eram impróprias para o desenvolvimento. Segundo Fernando de Mello Franco em seu doutoramento, outros interesses também impulsionaram as obras nos rios. A necessidade crescente de suprir as demandas infra estruturais da população, viu na várzea um território ideal para essas intervenções e implantação dos setores industrial e de serviços. Transformar a condição natural das várzeas, adaptando-as às novas demandas, para posteriormente ocupá-las com as novas atividades, tornou-se então uma prioridade.

1 5


O Á S I S

1 6


A N G Ú S T I A

1 7

U R B A N A


O Á S I S Tão ou mais importante do que as novas frentes de urbanização, a intervenção nas várzeas equacionava de forma conjunta uma série de questões estruturais: saneamento, drenagem, abastecimento, geração de energia e circulação automotora. Seriam reunidas à ferrovia para ampliar a infraestrutura básica sem a qual o crescimento, sobretudo industrial, seria insustentável. Entre todos os sistemas implantados, o de transportes desempenharia o papel fundamental de possibilitar a articulação entre os setores produtivos e aglutinar a constelação de bairros definidos por um modelo de ocupação cada vez mais extensivo. FRANCO, 2005 • 54 O pioneiro foi o Rio Tamanduateí, canalizado em 1849 pelo engenheiro Bresser, tornando-o impróprio para navegação. Em 1865, foi inaugurada a linha férrea paralela ao eixo do Tamanduateí. Isso possibilitou mais adiante que as indústrias se instalassem ao longo de seu eixo ocupando o limite de seu leito, tornando-o um eixo importante de expansão urbana na cidade. Sua conectividade com o Porto de Santos impulsionou ainda mais o loteamento do seu eixo de acordo com os interesses privados. Posteriormente, concretizaram-se as retificações do Rio Tietê, associada ao saneamento, e a do Rio Pinheiros associada à geração de energia. Com as retificações vieram uma nova estrutura fundiária de ocupação máxima das áreas anteriormente inundáveis. No caso do Tamanduateí e do Tietê, a canalização vinha associada a projetos viários, necessários para conectar as indústrias à cidade, tornando suas margens eixos estruturais de circulação. Inicialmente, o sistema de transporte sobre trilhos necessitava cumprir um traçado de baixa declividade e de curvas de grande raio. Sendo assim, encontrou-se na periferia dos rios as condições mais favoráveis para a implantação desse modal com o menor custo e mais eficiência. A ferrovia foi também um prenúncio do fim da navegação, já que tornou-se um meio de transporte mais rápido, barato e eficiente que o transporte fluvial. Haviam também as questões políticas e econômicas de incentivo à industrialização acelerada, além do interesse especulativo, já que o transporte fluvial era visto como uma concorrência às empresas férreas. A grande quantidade de mercadorias que era movimentada através das ferrovias, associada à presença de grandes vazios urbanos a sua volta, fizeram com que a indústria encontrasse na várzea um local privilegiado para sua instalação. As áreas anteriormente inundáveis tornaram-se eixos de expansão territorial, tendo como novos polos de interesse as estações de trem. Associados à condição industrial, assentaram-se também nas margens diversos assentamentos de moradia do operariado, que tirava proveito da desvalorização das terras insalubres e da proximidade ao sistema de transporte. O sistema de transporte sobre rodas tornou-se necessário quando essa urbanização extrapolou os limites que podiam ser percorridos a pé. Ele veio então como complemento à ferrovia, e posteriormente, tornou-se protagonista. O fim do transporte de bondes, amplamente utilizado na cidade no século XIX, também foi um fator que contribuiu diretamente para que o ônibus se tornasse o principal meio de transporte público na capital em constante crescimento. O sistema rodoviário, primeiramente coletivo, foi se tornando individual com o passar do tempo. O carro estabeleceu um novo paradigma e tornou-se símbolo de ascensão social e status. Esses valores estabelecidos no início do século XX (com o sistema fordista) são carregados até os dias de hoje, tanto pelas gestões públicas quanto pela população, tornando-se uma condição cultural que vem afetando drasticamente a paisagem da cidade. Tivemos, consequentemente, uma urbanização espraiada, pouco adensada e policêntrica.

1 8


A N G Ú S T I A

U R B A N A As políticas rodoviaristas foram amplamente disseminadas na cidade principalmente a partir da década de 1930, com o Plano de Avenidas de Prestes Maia precedido pelos estudos do Plano de Irradiação de Ulhôa Cintra (1923). Estes consistiam na estruturação do transporte através de um sistema rádio-concêntrico, com objetivo de irradiar avenidas a partir do centro da cidade. Essa mentalidade, associada às políticas sanitaristas fizeram com que os principais eixos de avenidas se concretizassem nos fundos de vale de rios, aterrando seus cursos e os substituindo por vias expressas de superfícies impermeabilizadas. Essas estruturas vinham associadas às avenidas marginais (construídas nos meados dos anos 50) decorrentes da retificação dos rios principais. Estas se configuraram como “portas da cidade” de São Paulo, sendo eixos arteriais de entrada e saída da metrópole. Além das avenidas, outros elementos são importantes para compreender o urbanismo rodoviarista. Os viadutos e as pontes tornaram-se símbolos da expansão da cidade além do polígono entre os rios. Eles respondiam à necessidade de crescimento que existia na época. Até hoje as pontes, quase sempre inacessíveis ao pedestre, são símbolo de progresso e se juntam aos “cartões-postais” da cidade. São exemplos a Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira e a “Estaiadinha” Gov. Orestes Quércia. Estas infraestruturas respondem a uma exigência de escala macro, mas ignora a escala local, tornando-se marcos na paisagem não apropriados pelos cidadãos. O setor de transportes em geral tornou-se, portanto, o principal transformador da paisagem hidrológica paulistana, seguido pela indústria e pelo setores básicos de serviços (saneamento e extração de areia no caso do Tietê e geração de energia no caso do Pinheiros). Os rios foram a espinha dorsal da estrutura viária da cidade. Concomitantemente, mudanças de gestão e de legislação – movidas aos interesses mais diversos – se refletiram em mudanças físicas na paisagem da cidade. A constante sobreposição de camadas, caracterizadas pelas ações humanas, sobre o território original da Bacia de São Paulo fez com que os rios fossem se ocultando do território em crescente urbanização.

1 9


O Á S I S

2 0


A N G Ú S T I A

A morte dos rios •

Apesar de São Paulo ser uma metrópole rica em recursos hídricos, seu processo de urbanização - caracterizado pelo crescimento desenfreado, a falta de planejamento e a valorização exagerada do espaço privado em detrimento do espaço público - praticamente ignorou essa caraterística. Chega a ser irônico que o mesmo fato que impulsionou o primeiro assentamento – a presença de água – tenha se tornado um empecilho às questões de expansão na cidade. A forma de apropriação do espaço das várzeas, ligada ao sistemas de transportes, foi caracterizado por um processo de impermeabilização e ocupação desastrosos do ponto de vista ambiental. O rio, portanto, afastou-se da cidade no momento em que a cidade passou a dar as costas para ele. Assim, o caráter geográfico e ecológico tiveram um papel secundário na urbanização, que tinha como principal objetivo o aproveitamento máximo das terras loteadas nas várzeas para construção de obras privadas e infra estruturais. O urbanismo rodoviarista, teve como resultado um espaço urbano com rios canalizados e enterrados e ocupação imprópria das margens dos rios, transformando-os em “cortes” na malha urbana. A falta de salubridade dos rios tornou-se um problema na medida em que a cidade beirou as suas margens. Como consequência da falta de interesse por parte do poder público e da população, os leitos fluviais tornaram-se vias de esgoto a céu aberto. A cidade fazia dos rios - num primeiro momento o Tamanduateí e Anhangabaú, e depois o Tietê e o Pinheiros - depósitos de seus dejetos. A poluição industrial degradou ainda mais a flora e a fauna dos rios, além da sua condição paisagística original. A água até o século XX era sinônimo de insalubridade e atraso ao progresso, e o conflito entre os cidadãos e a água esteve sempre presente na consolidação da capital paulistana. Temos hoje na orla fluvial um espaço de caráter estéril, ao invés de proporcionar situações de lazer, deleite ou uso sustentável desse recurso natural. A inexistência de um passado de valorização dessas possibilidades de apropriação faz com que a população desconheça esse valor, tornando-se incapaz de reivindicá-lo.

U R B A N A

Antes de conclusão da canalização não foi possível começar a implantar as marginais,
cujo traçado seria indissociável da retificação do rio. Quando, finalmente, estas foram terminadas, uma nova frente urbana se abriu para a cidade, contribuindo para acelerar o processo de ocupação das áreas adjacentes. Mas a possibilidade de aproximação ao rio
ficou comprometida. O crescimento da cidade e a inexistência de um sistema completo de esgotos que captasse os dejetos urbanos terminaram por esvaziar os usos do rio ligados
ao lazer da cidade. Enquanto diversas glebas recém-drenadas eram disputadas, e mesmo ocupadas indevidamente, como no caso do atual Center Norte, nas áreas imediatamente contíguas às vias e canais as condições de urbanidade eram esvaziadas. Paradoxalmente, acabaram preenchidas por habitações precárias. FRANCO, 2005 • 57 A partir de 1930, as várzeas começam a sentir o impacto da urbanização horizontal e descentralizada de São Paulo. Surgem uma série de loteamentos irregulares que tiram proveito da situação de abandono desses locais. As favelas surgem assim rizomaticamente no território das áreas de risco, tendo uma relação íntima com a rede hídrica da cidade. Enquanto a cidade formal se distancia das águas, a cidade informal a ocupa desenfreadamente. Observa-se, portanto, um gradual e constante afastamento entre a cidade formal e as águas, tão abundantes na bacia fluvial que foi base para a sua construção. O rio perdeu seus espaços de inundação e hoje a água aflora de forma indesejada, emergindo das superfícies impermeabilizadas no período das chuvas. Essa é a única forma de relação direta que a cidade tem com a água nos tempos atuais: quando ocorrem as enchentes, ela emerge de maneira indesejável na superfície. A presença do rio, apesar de os progressos tecnológicos quererem escondê-lo, é imediatamente lembrada por episódios de inundações. KAHTOUNI, p. 147

2 1


O Á S I S

O crescimento desordenado de São Paulo e a falta de consciência ecológica ao longo de sua formação, resultou numa cidade cuja rede hídrica foi sobreposta por superfícies impermeabilizadas. Essa conjuntura vem causando problemas cotidianos à população, como enchentes e inutilização de seus maiores rios para a navegação, esportes, lazer ou uma relação simbólica com a paisagem. A busca do progresso imediato e a qualquer custo acabou com toda e qualquer atividade cívica nas margens. A circulação de veículos e a produção fabril fizeram dos rios e seus arredores espaços degradados e fragmentados por vias expressas, incompatíveis com a escala do pedestre. Além disso, o uso do solo das margens está longe de ser ideal, com carências em habitação (principalmente social), áreas verdes, comércio, serviços (atividades geradoras de emprego) e principalmente de espaços públicos da cidade . Hoje é inegável que São Paulo necessita reestabelecer a relação com seus rios, tendo em vista que a situação atual não reflete as aspirações contemporâneas, que visam retomar a relação com a natureza através do desenvolvimento sustentável e da criação de novos espaços públicos. O rio, tornou-se apenas um rastro de sua condição original, teve sua identidade distorcida e sua imagem enfraquecida, levando-o uma condição indesejada. A questão atual gira em torno de como é possível ressignificar a condição paisagística do rio e reintegrá-lo à vida na cidade.

2 2


A N G Ú S T I A

U R B A N A

Leituras do território • O conceito de rugosidade, de Milton Santos, consiste numa associação das marcas da pele, que aumentam com o tempo e refletem a vivência, com os acontecimentos no espaço físico. Quando esse conceito se transpõe à análise do território habitado, essas rugosidades consistem em transformações físicas que atuam como marcas de expressão sobre a paisagem, denunciando as ações a que ela foi submetida ao longo do tempo. As rugosidades relacionadas ao território humanizado, igualmente carregadas da dupla noção de transformação física e de registro temporal, denunciam a idade de um lugar e noticiam as expressões de vida que nele atuam. Constituem-se como as principais permanências materiais a transpassar o tempo. Uma vez decantadas, contêm uma densidade histórica que as diferencia pelo valor de uso, pelo valor de referência e pelo valor de memória, que conjuntamente lhes conferem um caráter estruturante em relação às formas de uso do território. FRANCO, 2005 • 14 Dessa forma, o que aconteceu com o leito dos rios e suas áreas de inundação no processo de urbanização da Bacia de São Paulo deixou marcas físicas na paisagem da cidade. A situação atual do espaço fragmentado pelas infraestruturas, subutilizado quanto ao seu potencial hídrico e de apropriação cívica praticamente inexistente, não passa de um reflexo do processo a que foi submetido. A paisagem fluvial, ao ser condicionada a uma pode ser entendida, assim, como uma cicatriz, uma marca permanente de algo ocorrido no passado. A ocupação desenfreada das várzeas trouxe consequências diretas à paisagem, comprometendo a qualidade dos espaços vazios. Estes espaços foram palco para intervenções para suprir o conjunto da cidade, mas não os lugares onde se situam. A ocupação sistemática da orla fluvial deu aos vazios uma condição de fragmento urbano em meio a infraestruturas, a lugares de passagem, de não-lugar. Esse conceito, segundo Marc Augè, define espaços com ausência de significado ou identidade geralmente representados pelos espaços públicos de rápida circulação. No caso, a implementação dos sistemas de transporte e rodovias expressas. A presença das vias marginais é um bom exemplo disso, tendo o papel de articular a cidade, mas se tornam elementos perturbadores e carentes em urbanidade, que desarticulam a escala local. Fragmentados por essas infraestruturas, os vazios são dificilmente acessados pela população, dificultando uma apropriação, ocupada ou não ocupada, das várzeas, não havendo incorporação efetiva dos rios à vida da cidade. A leitura desses terrenos vazios em meio à cidade, pode ser feita através do conceito de terrain-vague, estudado por Ignasi de Solá-Morales. Segundo ele, o vazio pode representar tanto uma ideia de ausência, quanto

2 3


O Á S I S uma ideia de espaço subjetivo em que há uma expectativa para acontecimentos imprevistos. São espaços do território urbano simultaneamente indefinidos, inocupados e de significado instável, contrastantes com as dinâmicas da cidade devido a carência de atividades catalisadoras de pessoas em sua volta. Esses espaços seriam elementos que representam estranheza do homem perante às cidades, ou seja, espaços de angústia em que, pela indefinição programática, acabam sendo percebidos de forma negativa pela população. Entretanto, se ativados a partir de algum agente catalisador, podem se transformar em potencialidades, em espaços expectantes capazes de abrigar a multiplicidade de significados e atividades imprevistas. São lugares obsoletos nos que somente certos valores residuais parecem se manter apesar de sua completa desafeição da atividade da cidade. São, em definitiva, lugares externos, estranhos, que ficam foram dos circuitos, das estruturas produtivas. Desde um ponto de vista econômico, áreas industriais, estações de trem, portos, áreas residenciais inseguras, lugares contaminados, tem se convertido em áreas das que se pode dizer que a cidade já não se encontra ali.* SOLÀ-MORALES • 2002 O rio Tietê, principal eixo de água na cidade, foi muito tempo utilizado para atividades ligadas à extração de areia, acarretando na sua canalização tardia e na grande presença de vazios urbanos em seu curso. A presença dos espaços vazios ao longo do leito dos rios é emblemática na medida em que é fruto das infraestruturas (principalmente as marginais) ali presentes. O caráter funcional aplicado ao território das várzeas, acabou resultando na ausência, ou carência, de urbanidade, fazendo dos vazios espaços afastados das dinâmicas e relações interpessoais presentes nas cidades. No entanto, esses espaços podem representar potencialidades latentes, abertos às múltiplas significações e formas de apropriação.

* Texto original em espanhol: Ignasi de Solà-Morales (Territórios, Gustavo Gili, 2002) / Tradução ao português: Igor Fracalossi

2 4


A N G Ú S T I A

U R B A N A

Reflexão I •

A ambição moderna pela conquista do território e por um controle sobre a natureza resultou na condição atual das várzeas de São Paulo. A angústia urbana, então, consiste na atual relação de estranheza e afastamento dos cidadãos perante o espaço das águas. Os rios tornaram-se cortes, na paisagem, e gradualmente passaram a não participar ativamente das dinâmicas da cidade. Fazendo um contraponto a essa ideia de ruptura, o desejo de reconciliação com os elementos naturais e a necessidade do desenvolvimento sustentável é imperativo na contemporaneidade. O principal desafio torna-se como transformar os rios em elementos vivos e eixos estruturantes de uma nova paisagem, utilizando-se da arquitetura e dos novos programas como suporte para a ativação dos vazios urbanos e apropriação da orla fluvial. Os rios tornam-se, portanto, palco de grandes propostas urbanas, utópicas ou realistas, que refletem os anseios da população.

2 5


Utopia • [ Do gr. ou, “não”, + -top(o)- + - ia: ‘de nenhum lugar”.] S. f. 1. País imaginário, criação de Thomas Morus, escrito inglês (1480-1535), onde um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz. 2. P. Ext Descrição ou representação de qualquer lugar ou situação de ideias em que vigorem normas e/ou instituições políticas altamente aperfeiçoadas. 3. P. ext. Projeto irrealizável; quimera; fantasia

2 6


II •

UTOPIA

2 7


O Á S I S

Em geral, pode-se dizer que a Utopia representa a correção ou a integração ideal e de uma situação política, social ou religiosa existente. Como muitas vezes aconteceu, essa correção pode ficar no estágio de simples aspiração ou sonho genérico, resolvendo-se numa espécie de evasão da realidade vivida. Mas também pode tornar-se força de transformação da realidade, assumindo corpo e consistência o suficiente para transformar-se em autêntica vontade inovadora e encontrar os meios de inovação. ABBAGNANO • 2009 (...)procedimento que consiste em representar um estado de coisas fictício como realizado de uma maneira concreta, quer a fim de julgar consequências que ele implica, quer mais frequentemente, a fim de mostrar enquanto essas consequências seria vantajosas. Sem dúvida, certas obras utópicas são, na realidade, uma crítica pura e simples dos vícios ou dos abusos do seu tempo, sem nenhuma intenção construtiva (...) LALANDE • 1999

2 8


U T O P I A

Real e Ideal •

A palavra utopia foi criada por Thomas Morus em sua obra De optimo republicae statu, deque nova insula Utopia de 1516, a partir dos radicais gregos (ou, “não” e topos, “lugar”), portanto, o “não-lugar” ou “lugar que não existe”. Desde então, o conceito de utopia é associado a uma ideia de projeto fantasioso, a sonhos e delírios que resultam em uma ideia de civilização ideal. Utopia é a transformação do desejo em um projeto de cidade que se define por um paralelo imaginário entre o presente e um futuro almejado, criando uma visão “perfeita” da sociedade. Utopias, portanto, podem ser vistas como espaços irreais que fazem a conexão entre o real e o desejado, exprimindo a ideia de perfeição – direta ou invertida – de uma determinada sociedade. Em contraponto à ideia de utopia, no século XX o filósofo pós-estruturalista Michael Foucault discorre sobre espaços resultantes de diversas camadas de significação, que são simultaneamente físicos e mentais. Assim define-se o conceito de heterotopia (junção do hetero, “outro” e topia, “lugar”). `Ao contrário das utopias, as heterotopias representam espaços reais, em relação com os espaços de uso, sobrepondo em um só lugar espaços incompatíveis entre si, invertendo seus significados. Espaços cuja complexidade não pode ser lida de imediato. Há também, provavelmente em todas as culturas, em todas as civilizações, espaços reais – espaços que existem e que são formados na própria fundação da sociedade - que são algo como contra-sítios, espécies de utopias realizadas nas quais todos os outros sítios reais dessa dada cultura podem ser encontrados, e nas quais são, simultaneamente, representados, contestados e invertidos. Este tipo de lugares está fora de todos os lugares, apesar de se poder obviamente apontar a sua posição geográfica na realidade. Devido a estes lugares serem totalmente diferentes de quaisquer outros sítios, que eles refletem e discutem, chamálos-ei, por contraste às utopias, heterotopias.* FOUCAULT , 1984 • 46 A heterotopia pode ser entendida, portanto, como um espaço do “outro”, da alteridade onde impera a diferença e a multiplicidade. Foucault acredita que este espaço do outro foi esquecido pela cultura ocidental, que esteve sempre em busca do espaço uno, do universal. Para ele, a sociedade produz heterotopias e essas são reflexo dos conflitos e tensões exercidos pelo poder em uma determinada sociedade. Ao longo do século XX, outros pensadores estudaram esses conflitos, estranhezas e a dificuldade do homem moderno de criar laços profundos de relações. Para Bauman, a contemporaneidade pode ser entendida com a Modernidade Líquida, ou seja, é nesta época que todos os referenciais morais da época anterior, denominada pelo autor como modernidade sólida, são retiradas de palco para dar espaço à lógica do agora, do consumo e da artificialidade. Esses conceitos servem de base para compreensão da cidade contemporânea: as utopias (cidade ideal) são refletidas nas heterotopias (cidade real). Esse contraste entre real e ideal é discutido por Giulio Carlo Argán, que acredita que a cidade é um objeto de criação humana coletiva, cuja constituição física é resultante de diversos fenômenos e ações. Segundo ele, a cidade é uma obra de arte resultante de ações coletivas emaranhadas sujeita a transformação e não um desenho imutável fruto de um só artista ou grupo seleto de pessoas. A cidade é desenhada de acordo com as necessidades de seus usuários.

* Michel Foucault, Dits et écrits 1984 , Des espaces autres (conferência no Cercle d’études architecturales, 14 de março 1967), in Architecture, Mouvement, Continuité, n°5, outubro 1984, p. 46-49. Traduzido a partir do inglês por Pedro Moura.

2 9


O Á S I S

Futuro •

Apesar de se saber que as utopias podem ou não levar em conta toda a complexidade que gira em torno da constituição das cidades, elas são de extrema importância, pois são anunciadoras de possíveis situações futuras, reflexos do desejo de uma determinada sociedade. É desse desejo que partem as iniciativas de transformação de uma condição urbana, social política ou cultural vigente. A utopia torna-se necessária para que haja a quebra de paradigmas e para o entendimento das mudanças de mentalidade que irão resultar em ações diretas sobre a cidade, transformando seu desenho e suas relações com os indivíduos. Os projetos urbanos expostos a seguir, situam-se nessa constante tensão entre o plano real e o plano ideal, tendo em comum a relação entre o espaço das águas e o ambiente construído. A ideia é que eles sirvam de base para a intervenção projetual (Capítulo IV). Torna-se necessário situar as propostas num posicionamento entre utopia e realidade, principalmente devido à complexidade de tais intervenções, os impactos causados e o conflito de interesses que envolvem propostas de tal dimensão. O desafio é como seria possível transpor uma ideia utópica, ao complexo espaço heterotópico da cidade contemporânea. Daí a escolha dos exemplos seguintes, que ora representam situações reais de como algumas cidades conseguiram agregar novos significados a seus rios, ora são proposições não necessariamente concretas de como estabelecer essas novas relações.

3 0


U T O P I A

3 1


O Á S I S

Amsterdam e as águas Cerca de metade do território dos Países Baixos foi construído abaixo do nível do mar e em superfícies sujeitas à inundação. A cidade de Amsterdam é o principal exemplo de como o homem desde a Idade Média fez uso de seus conhecimentos multidisciplinares para transformar a natureza em ambiente construído, criando as condições propícias ao assentamento humano. O sistema de drenagem da cidade foi concebido juntamente ao seu desenho e à sua ocupação, e a construção de seus canais foi persistente ao longo da história até os dias de hoje. Seu desenho urbano é reflexo do desejo do homem de domar a natureza e as águas através das grandes construções infra estruturais que deram suporte à apropriação cívica do espaço. Isso proporcionou um grande adensamento do centro da cidade e diversas atividades comerciais que justificariam obras de tamanha dimensão. Esses sistemas de drenagem e de controle das águas foi adaptado ao sistema de navegação que tornou-se parte de uma imensa rede hídrica de canais navegáveis que atravessam a Europa até a Rússia, e convergem com as rotas de circulação terrestre. Cidades como Amsterdam, Veneza e São Petersburgo criaram uma relação de identidade com a água ao longo de suas histórias, fazendo dela um elemento importante nas dinâmicas das cidade, criando atmosferas próprias e individuais a cada uma delas.

3 2


U T O P I A

Basta observar qualquer imagem de satélite de Londres, para perceber que o Rio Tâmisa é o elemento dominante. Historicamente, o Tâmisa é a própria razão da existência de Londres. Antes uma importante via comercial que servia ao coração da cidade, o rio hoje está deserto e parece insignificante para a cidade. Ao longo de seu leito cresceram inúmeras das maiores instituições políticas, comerciais, religiosas e culturais da Grã-Bretanha. Hoje o Tâmisa é meramente um elemento divisor separando a área sul de Londres, mais pobre, da região norte, mais próspera. É este belo curso d’água, que margeia dezenove distritos de Londres, que tem a chave para revitalizar o futuro da metrópole. Se reunirmos nosso uso e nossa percepção do rio, ele poderia, uma vez mais, unir as diferentes comunidades. ROGERS, 1997 • 135

3 3

Londres e o rio Tâmisa A partir dessa visão do potencial do rio Tâmisa enquanto elemento estruturador da cidade, Richard Rogers e seu escritório propõem um projeto urbano para a celebração do milênio da cidade de Londres. O objetivo é repensar a cidade e a relação com o rio, criando uma série de projetos e iniciativas ao longo de seu leito, associando o uso público às necessidades infra estruturais da cidade. O sistema de transportes fluvial seria associado aos meios de locomoção existentes e seus pontos de parada se associariam às polaridades existentes além de criarem novos pontos de interesse cívico. Essas intervenções, segundo o arquiteto, dariam suporte para o surgimento de pequenos projetos ao longo das margens, trazendo de volta o rio para a vida dos londrinos.


O Á S I S

Madrid-rio O projeto vencedor do concurso lançado em 2005 para requalificação do entorno do Rio Manzanares em Madrid foi desenvolvido pelos escritórios West 8, Burgos & Garrido, Porras La Casta e Rubio Alvarez Sala. Ele consiste em intervenções arquitetônicas, urbanísticas e paisagísticas na superfície sobre um túnel de seção de 30 metros que foi implantado ao longo do leito do rio, ligando a região com o centro da cidade. A estratégia de implantação foi pulverizar diversos projetos estratégicos ao longo do Manzanares, criando uma estrutura básica para uma série de subprojetos a serem implantados posteriormente, unindo as esferas pública, privada e os interesses dos moradores. Além disso, várias praças, bulevares e parques foram criados e a construção de diversas pontes e passarelas permitiram uma conexão maior entre os bairros adjacentes. O projeto atualmente já está concretizado e foi considerado um sucesso em diversos aspectos urbanísticos, se refletindo em um aumento na qualidade de vida para os habitantes e visitantes da cidade.

3 4


U T O P I A Medellìn: O rio que não o é Para o concurso de revitalização do rio Medellín, o escritório colombiano LCLA parte da premissa que ele não é mais um rio e essa condição não pode ser revertida. A questão principal, portanto, gira em torno da ativação desse eixo hidrológico. A proposta visa transformar os córregos e afluentes do rio na “coluna vertebral” da paisagem hídrica da cidade, criando plataformas públicas ao longo do leito do rio. Esses equipamentos, dispostos sobre os cursos d’água consistem em livrarias, escolas, áreas de lazer e esporte que servem de suporte para uma ocupação cívica do curso do rio. A inserção sistemática desses “atrativos sociais” visa reforçar o encontro e, ao mesmo tempo, consolidar áreas mistas de uso contribuindo com um alto nível de sustentabilidade econômica, ambiental e social. Os equipamentos esportivos, culturais e institucionais geram espaços de oportunidade e geração de empregos, tornando o rio uma experiência metropolitana. A ideia é criar uma paisagem atrativa e curativa. Atrativa no sentido de promover o encontro social e curativa na medida em que se propõe reestruturar o corredor biológico associado à paisagem fluvial. Três estratégias pautaram a proposta de reconciliação entre o rio e a cidade: ativar através da implementação das infraestruturas necessárias para grandes eventos, gerando uma paisagem de identidade metropolitana com uma grande afluência de habitantes; conectar associando as estruturas existentes a essa nova dinâmica; e transformar o espaço existente, estéril, em um espaço de uso coletivo e de alta qualidade ambiental.

3 5


O Á S I S Melhoramentos do rio Tietê No que concerne a cidade de São Paulo, a década de 1920 foi marcada pela realização de uma série de projetos para a canalização do leito dos principais rios. Dentre esses projetos, destacam-se os de Ulhôa Cintra (1923), Saturnino de Brito (1924) e Asa White Billings (1926), todos esses visando uma ocupação das várzeas fluviais. Apesar do Plano de Avenidas (1930) de Prestes Maia ter sido concretizado, é de exímia importância analisar o plano do sanitarista Saturnino de Brito, que apresentava uma outra forma de ocupação das margens. O projeto de Saturnino girava em torno das questões sanitárias que caracterizavam as preocupações da época. Entretanto, sua proposta continha uma preocupação com a preservação da paisagem dos rios, que deveria ser explorada usufruindo do potencial hídrico e ambiental. As marginais deveriam ser parkways associadas às massas vegetativas ciliares e a navegação ao longo do trecho urbano do Tietê era considerada essencial. Além disso, ele retificaria apenas alguns trechos do rio na região entre Osasco e Guarulhos, reduzindo a 26km os 46km do curso original marcado pela sinuosidade. O plano visava aumentar a vazão da água e manter seu fluxo constante, prevenindo enchentes e promovendo o abastecimento.

3 6


U T O P I A

Operação Urbana Carandiru - Vila Maria A proposta de Hector Vigliecca & Associados para o concurso da operação urbana Carandiru-Vila Maria abrange uma área de cerca de 20.000 hectares numa região ao longo do Rio Tietê de urbanidade precária. A ideia inicial era promover um redescobrimento da geografia, atualmente invisível. A partir da consideração do rio como elemento estruturador da paisagem a ser criada, o projeto procura associar a condição geográfica com as infraestruturas urbanas existentes. A principal questão girou em torno de como tratar as várzeas áridas do rio Tietê e as marginais. A necessidade de dotar a região de um sistema de transporte público mais eficiente resultou na proposição de uma linha de metrô acompanhando o eixo das avenidas marginais. O problema da impermeabilidade do solo foi equacionado a partir da criação de morrotes de estacionamentos (para cima do solo devido aos lençóis freáticos), atendendo à demanda e dando mais espaços às superfícies permeáveis e à vegetação. Para o adensamento da região, foram propostos uma série de edifícios altos e de projeção mínima no solo urbano. A associação de parques urbanos e equipamentos públicos visava uma ocupação do entorno imediato do rio para atividades de lazer. Na junção dos rios Tamanduateí e Tietê foi criada uma zona de alagamento, acentuando a conexão entre eles e abrindo um grande canal paralelo à Av. Prestes Maia para a retomada das regatas.

3 7


O Á S I S Hidroanel Metropolitano de São Paulo Liderado por Alexandre Delijaicov, o Grupo Metrópole Fluvial da FAUUSP desenvolve um projeto para a viabilização e a criação do Hidroanel Metropolitano de São Paulo. A transformação dos rios principais de São Paulo em estruturas de transporte de cargas e passageiros, dá suporte para a transformação da orla fluvial paulistana a partir de novas formas de ocupação, baseadas na paisagem hidrológica explorada em seu máximo potencial. O transporte fluvial, assim, organizaria o desenvolvimento econômico social e urbano do eixo dos rios. Três ideias orientam o desenho proposto para reestruturar a orla fluvial: portos; parques e habitação. Cidade Porto Fluvial: sistema hidroviário da Grande São Paulo; Cidade Parque Fluvial: parques-beira rio densamente arborizados; Bulevar Habitacional Fluvial: avenidas densamente arborizadas com largos calçadões, ciclovias, linhas de tróleibus ou bonde e metrô (subterrâneo e / ou elevado) que organizam conjuntos de edifícios de apartamentos, implantados ao longo da orla, com calçadas cobertas, comércio e serviços no térreo; e Pontes- Estação, porto, estação de metrô e praça de equipamentos sociais, modulando a orla com pontes de equipamentos públicos e torres de escritórios. DELIJAICOV, 1998 • 5 A geografia é usada como base para reestruturar a paisagem fluvial da cidade e a água é um elemento simbólico que é essencial à vida na metrópole que deve voltar a ser uma referência na paisagem urbana. A ideia do projeto é explorar ao máximo o potencial hidrológico da de São Paulo, tornando-a uma cidade fluvial onde os rios e canais formam uma enorme rede hídrica de transporte como em Amsterdam. As várzeas se tornam palco de intervenções com a construções de portos, parques e bulevares habitacionais ao longo dos cursos d’água. Isso minimizaria a carência de áreas verdes públicas, o transporte saturado e o déficit habitacional. Destaca-se a constante integração dessa nova dinâmica com de transporte os modais terrestres e a des-priorização do transporte rodoviário individual, cuja demanda seria suprida pelo Hidroanel, pelos sistemas coletivos, e pelo aumento do número de pedestres e ciclistas favorecidos pela nova proposta.

3 8


U T O P I A

3 9


O Á S I S

Arco-Tietê O projeto de reestruturação urbana do perímetro denominado de Arco-Tietê está sendo desenvolvido, desde abril de 2013, em sintonia com a revisão do Plano Diretor Estratégico de 2014 e as operações urbanas consorciadas Diagonal Norte e Diagonal Sul nele prevista. É o primeiro passo no processo de construção do Arco do Futuro, projeto que supostamente orientará um desenvolvimento urbano sustentável do ponto de vista social, econômico e ambiental para São Paulo. Associado ao Rio Tietê e suas redondezas, o projeto é um processo vigente e portanto as propostas estão sendo selecionadas e avaliadas pela gestão pública da cidade, contando com a participação da população através de uma série de audiências. No entanto, vale destacar algumas diretrizes possíveis da proposta. Num curto prazo, tem-se como premissa a despoluição gradativa do Tietê e seus afluentes, além de minimizar os problemas da drenagem urbana e inundações por meio da separação das águas pluviais (na superfície) e o esgoto (subterrâneo) como nos planos de Saturnino de Brito em Santos. Procura-se projetos emblemáticos que causariam um impacto positivo à paisagem da cidade e estimulariam o uso das margens, reaproximando as pessoas do rio.

O Arco-Tietê é constituído por dois eixos estruturantes, os Apoios Norte e Sul, que consistem em vias de circulação paralelas à Marginal Tietê. A proposta é concretizar as obras de apoio viário norte e sul, associadas à conclusão do Rodoanel e do Ferroanel, diminuindo gradativamente o uso das marginais para o uso do transporte rodoviário. Assim será possível, posteriormente, ressignificar o uso e ocupação de cerca de 4km das margens do rio Tietê. A proposta final será resultado de uma associação das mais viáveis diretrizes apresentadas pelos consórcios participantes, sempre visando uma reaproximação dos cidadãos com a natureza e considerando a viabilidade econômica. A área em torno da Ponte das Bandeiras, será revitalizada através do resgate das áreas de parque e implantação de equipamentos de impacto positivo para a população. O antigo Clube de Regatas Tietê já foi convertido a uma área de parque público e já está sendo utilizado pela população da região, apesar de ideias controversas constantemente girarem em torno dessas questões. Esse projeto, caracterizado pelas parcerias entre os setores público e privado, representa o início de uma mudança de mentalidade que acarretará em intervenções futuras de escala metropolitana em São Paulo.

4 0


U T O P I A

4 1


O Á S I S

4 2


U T O P I A

Reflexão II •

Os trabalhos apresentados, são representações, concretas ou utópicas, de como a cidade contemporânea deve se relacionar com sua paisagem hidrológica. Alguns deles, transpuseram-se do plano ideal para concretizarem-se em realidades construídas, ou seja, são símbolos de como o homem racionaliza e intervém na natureza. Os outros, são projetos que refletem um anseio atual de reaproximação entre o homem urbano e a paisagem que ele a habita. Como contraponto com a modernidade, a mentalidade contemporânea é caracterizada pela busca por uma relação mais respeitosa entre as cidades e a natureza. A linha de convergência entre eles é dada pela (re) conciliação das relações entre os rios e os habitantes das cidades. O caso de Amsterdam, é uma prova de como é possível, usufruir do potencial hídrico a partir da realização obras de grande escala e incluindo a paisagem natural na paisagem urbana. Já no caso do Rio Tâmisa, torna-se evidente a possibilidade de reativação de um rio após ele encontrar-se extremamente degradado. A cidade de Londres, se apropria e usufrui das suas margens para usos relacionados ao lazer e a vida cotidiana da cidade. Isso foi possível, principalmente, após as obras de despoluição após a década de 1950, em que o rio encontrava-se em situação precária, biologicamente morto. Algo semelhante ocorreu em Madrid. Hoje, o Rio Manzanares é cenário de uma das mais importantes obras de recuperação - paisagística e urbanística - de um rio urbano. A proposta para o rio Medellín também gira em torno dessa possibilidade de fazer dos rios, eixos estruturantes e de novas dinâmicas das cidades. Na cidade de São Paulo, os planos de Saturnino de Brito foram vencidos pelo urbanismo rodoviarista de Prestes Maia, que imprimiu um desenho urbano e uma mentalidade que deixou marcas profundas na paisagem paulistana. Hoje, é inegável a necessidade de uma mudança na relação entre a cidade e sua condição hídrica e é a partir desse desejo, uma aclamação por mudança da contemporaneidade que surgem os novos projetos urbanos para a metrópole de São Paulo. O Hidroanel de Delijaicov, as operações urbanas e o Arco-tietê são as propostas mais atuais que correspondem a esses anseios. A partir deles, os rios estão deixando de ser vistos como cicatrizes urbanas para ser encarados como eixos potenciais a serem explorados através de transformações que podem contribuir para um aumento da qualidade de vida na cidade e para o desenvolvimento socioeconômico. O estudo do histórico da ocupação dos rios e das possibilidades futuras de transformação da paisagem, ajuda a compreender de forma mais aprofundada a conjuntura urbana do lugar em pauta. O cenário a ser trabalhado situa-se numa constante tensão entre a realidade e a utopia, intermediando questões existentes a possíveis situações futuras. A realidade a ser construída é baseada no desejo de uma cidade com uma relação aprazível entre os habitantes e seus rios. Assim, a utopia contemporânea gira em torno de como reconciliar o desenvolvimento urbano aos elementos naturais negligenciados ao longo do processo de crescimento das cidades.

4 3


Confluência • [Do lat, confluentia.] S. f. 1. Qualidade do que é confluente. 2. Lugar onde se juntam dois ou mais rios; afluência. 3. Patol. Erupção cutânea. 4. Anál. Mat. Procedimento com que se obtém uma equação diferencial a partir de outra que tem dois pontos singulares , fazendo um dos pontos tender para o outro. FERREIRA; 1986, • 363

4 4


III •

CONFLUÊNCIA

4 5


4 6


4 7


O Á S I S

4 8


C O N F L U Ê N C I A

Além da infraestrutura •

Frequentemente o termo degradação é utilizado para caracterizar a situação atual dos rios que cortam a cidade de São Paulo. O emprego dessa palavra, está relacionado a uma ideia de descida de “grau”, estando implícita uma relação hierárquica, uma necessidade de retomada à condição de “grau” inicial. Cabe aqui um questionamento se é válida a tentativa de recuperar a condição original do rio, ainda que desejável o retorno dele como organismo vivo na cidade. O fato é que o rio foi transformado, em decorrência de certos interesses, e hoje cumpre com parte de seu potencial infra estrutural. O rio, agora, se encontra contextualizado num ambiente urbano e tem potencial para ser utilizado além da infraestrutura, podendo ter múltiplos significados na sua relação com a cidade. A partir da análise no primeiro capítulo da evolução urbana da cidade de São Paulo, fica claro que seu potencial hidrológico foi um fator que condicionou inicialmente o seu surgimento e, posteriormente, seu crescimento. A condição atual de seus rios reflete a associação desses elementos naturais ora como obstáculo à expansão horizontal da cidade, ora como eixos estruturantes para implementação de infraestruturas. Os rios e suas várzeas são barreiras e, ao mesmo tempo, são artérias de circulação importantes. Ao longo do tempo, as várzeas fluviais foram palco para o emprego de construções técnicas para cumprir as necessidades primárias da cidade, como abastecimento, geração de energia, saneamento e transporte (rodoviário e ferroviário), além de território para instalação das indústrias. Esse tipo de intervenção humana provocou uma transformação drástica na paisagem hídrica inserida na região metropolitana e da relação dela com os cidadãos. Essa transformação, caracterizada anteriormente como “a morte dos rios”, alterou a condição original dos rios de uma maneira irreversível. Entretanto, novas relações podem ser estabelecidas, novos significados podem aflorar a partir da condição presente. Essa ideia de “morte”, referente à mudança um primeiro significado, não deve ser encarada com um fim absoluto, mas como uma oportunidade de recomeço. O termo morte é utilizado como um artifício que sugere o fim de um ciclo e o começo de outro, ou seja, uma mudança e surgimento de outros significados. Após a morte, surgem novas formas de vida. Após a “morte dos rios”, os mesmos se tornaram cortes no tecido urbano, configurando em suas margens uma paisagem estéril e inóspita. As infraestruturas viárias foram criadas com o intuito de conectar a cidade, priorizando o automóvel e visando suprir uma necessidade a escala da metrópole. Entretanto, esses mesmos elementos acabam desarticulando os espaços na escala local, provocando o surgimento de espaços fragmentados, não-lugares sem nenhuma relação com a escala humana ou com assemelham-se a os terrain-vague de Solà Morales, ou seja, espaços não reconhecidos ou apropriados pela cidade de forma efetiva. A água surge, portanto, primeiramente como um elemento de caráter curativo. Torna-se pertinente encarar os rios e o potencial hídrico abundante como elementos articuladores tanto na escala da metrópole quanto na escala local. O transporte fluvial, tanto de carga como de pessoas, deve ser considerado parte da estrutura de transporte da cidade. Os limites impostos pelas vias marginais e pelas pontes deverão ser extrapolados, conectando o rio com a infraestrutura rodoviária e ferroviária. Os rios que hoje são vistos como rupturas, passariam a costurar a malha urbana ao invés de fragmentá-la. Contudo, as intervenções nos rios devem superar essa condição primária de infraestrutura para torna-los uma supraestrutura, no momento em que outros significados são atrelados a eles. Ir além do necessário (infra), no sentido de desconstrução sobre o que se entende como necessidade, sem significar que ela não exista, excedendo-se ao des-necessário (supra). A ideia de necessidade não estando necessariamente ligada a um uso especifico ou a um pré-significado. A rede hídrica além de simplesmente suprir uma demanda de transporte serviços, pode promover acontecimentos urbanos que geram um uso intenso do entorno do rio pelos cidadãos. A água então torna-se um elemento capaz de atrair pessoas e acontecimentos – pré-programados ou não – acrescentando possibilidades à dinâmica da cidade.

4 9


O Á S I S A busca por um lugar emblemático que simbolizasse o encontro de pessoas em torno da água foi o que regeu o estabelecimento do recorte da área de intervenção projetual. A palavra confluência, sugere o encontro. Tanto o encontro das águas dos rios - no caso, o Tamanduateí desembocando no Tietê – como o encontro de pessoas. A ideia é que no projeto esses dois significados venham a convergir, ou seja, a intervenção na confluência das águas servindo de suporte para a confluência de pessoas. A água associada à arquitetura geram uma nova paisagem que proporciona um elo de ligação entre rio e cidade.

5 0


C O N F L U Ê N C I A

Situação singular •

O vazio triangular na desembocadura do Rio Tamanduateí no Rio Tietê é emblemático. Ele representa um momento singular e tem uma posição estratégica na metrópole, no encontro de dois rios importantes e de relativa proximidade ao centro, situado no bairro do Bom Retiro. Nele podem ser lidas e interpretadas as diversas camadas que foram sobrepostas à geografia original ao longo do tempo até o presente: a retificação, as infraestruturas (principalmente viária), a subutilização programática. As várzeas foram submetidas a um emprego contínuo de técnicas especializadas e funcionalistas, em detrimento da urbanidade do local em que as estruturas necessárias aos serviços da cidade foram empregadas. Esse tipo de construção desenhou nas redondezas nos rios um tecido urbano fragmentado por infraestruturas, que visam suprir as questões de uma escala macro, desestruturando as interações diretas em uma escala local. O leito dos rios, ou melhor, a água que corre de forma lenta no canal retificado e canalizado, há muito tempo não tem nenhuma função significativa para a cidade além da deposição de dejetos. Quando notada, é percebida de forma negativa pela população, ora por causa do cheiro, ora na forma de enchentes. A partir das fotos deste lugar específico, pode-se fazer uma leitura cronológica do que ocorreu em grande parte das várzeas dos rios em seus trechos urbanos.

5 1


O Á S I S

A primeira camada é a geografia. As curvas dos rios de planície da Bacia de São Paulo foram retificadas para dar espaço à expansão da cidade e suprir certas necessidades. O desenho do rio foi drasticamente alterado com a construção técnica das várzeas e a única razão pela qual a geografia original pode ser percebida deve-se ao fato de haver a presença da água. Esta hoje se move de forma lenta e despercebida, numa calha de concreto armado e está longe de ser o líquido inodoro, insípido e incolor que caracteriza seu estado elementar. A fauna e a flora praticamente já não estão mais presentes. Entretanto, o fato de um curso de água existir caracteriza uma condição precedente ao surgimento da cidade. O rio é hoje um rastro de sua imagem original. A segunda camada representa a primeira intervenção humana marcante na paisagem fluvial: a retificação e, posteriormente, a canalização. Apesar dessas duas obras não terem acontecido num mesmo momento, e o Rio Tamanduateí ter sido alterado bem antes do Tietê, elas representam a transformação da natureza a partir de uma visão funcionalista que caracterizou o período após a Revolução Industrial. Foi esta mesma maneira de enxergar o mundo que pautou a construção da rede de avenidas marginais e de fundo de vale nas várzeas, priorizando o uso do automóvel, sobrepondo os rios com superfícies impermeabilizadas. A terceira camada consiste na infraestrutura viária. A implementação do sistema de transporte arterial veio primeiramente com as estradas de ferro, que encontraram nas várzeas fluviais uma topografia adequada para sua implantação. Depois vieram as grandes avenidas de fundo de vale, principalmente após a década de 1930, visando otimizar os deslocamentos através do automóvel, fomentando uma mentalidade individualista que impera até os dias de hoje. A Marginal Tietê teve seu numero de faixas insistentemente ampliado, mais recentemente nas obras concluídas em 2011 que incluíram a duplicação e a construção da Ponte Governador Orestes Quércia, ligando a Av. Do Estado (sentido Santana) à Marginal Tietê (sentido Lapa). As marginais Tietê e Pinheiros são o portal de entrada da cidade de São Paulo, eixos estruturantes em mobilidade urbana e símbolo da construção sistêmica da orla fluvial. A construção das marginais e das vias adjacentes que cortam a malha urbana gerou uma série de espaços vazios e fragmentados, como é o caso do lugar em questão. Estes vazios encontram-se pulverizados nos espaços que sobraram entre as avenidas, caracterizando um tecido urbano fragmentado e desconexo numa escala local. As vias Marginais são ao mesmo tempo vias articuladoras da macro-metrópole e barreiras físicas ao pedestre que impossibilitam qualquer contato mais direto com os rios (ainda que hoje poluídos) e a vegetação ciliar.

5 2


C O N F L U Ê N C I A A questão da velocidade está presente na forma que se percebe o espaço. Além da poluição física da água dos rios, seu entorno é poluído sonora e visualmente pelos carros que aceleram contra o tempo sobre o asfalto das rodovias. O rio, atualmente, tem sua imagem fragmentada em frações de segundo numa velocidade de 90km/h e é assim percebido pelos transeuntes. A várzea possui somente locais de circulação em que não há convite ou suporte à permanência.

5 3


O Á S I S A quarta camada consiste nessa forma de (des)ocupação. A várzea é ocupada, porém não é habitada. A distribuição programática no entorno imediato dos rios, não fomenta uma ocupação efetiva, ou seja, o ambiente construído não dá suporte aos usos não programados ou a eventos que geram interações pessoais. Ao longo dos rios, é marcante a inexistência de urbanidade. Torna-se pertinente, então, a pulverização de programas que deem suporte para a ativação ao longo do eixo dos rios, tendo como foco o Rio Tietê. Por ter sido o último rio a ser retificado e sua canalização ter sido tardia, o eixo do Tietê possui uma herança de equipamentos de lazer para os cidadãos, como por exemplo os complexos esportivos e centros de entretenimento. É o caso dos antigos clubes sociais associados às competições de remo, natação e futebol – fruto do chamado futebol de várzea. Pode-se destacar o antigo Clube de Regatas Tietê (hoje revitalizado e aberto ao público), o Clube Espéria, o parque São Jorge do Sport Club Corinthians Paulista e o Estádio do Canindé da Associação Portuguesa de Desportos. Até o século XX, os rios eram usados efetivamente pela população, até que a construções das vias marginais e a poluição passaram a não permitir esse tipo de apropriação. Esses complexos então tornaram-se ilhas em meio à malha viária, ficando voltados para si mesmos. A maioria encontra-se em um estado de abandono, como era o caso do Clube Tietê, que recentemente na gestão Haddad foi reformando e aberto à população como Centro Esportivo e de Lazer Tietê. Quem sabe esse pode ter sido o marco inicial de uma mudança de mentalidade que provocará uma série de mudanças nos rios e, seguido da despoluição (questão que não pode ser mais adiada) gerará uma nova forma de apropriação das várzeas, principalmente do Tietê, no futuro. Além dos antigos centros esportivos, também existem locais que abrigam grandes eventos, como o Parque do Anhembi e o Sambódromo. Estes complexos também encontram-se desarticulados localmente pelas vias expressas que articulam as grandes distâncias. Os acontecimentos abrigados por eles têm um caráter periódico e os espaços não estão devidamente conectados com o sistema de transporte público ou com a escala do pedestre. O eixo do Tamanduateí possui uma condição urbana distinta do Tietê, praticamente cortando o centro de São Paulo. O Tamanduateí encontra-se mais urbanizado e incorporado nas dinâmicas da cidade. Todavia, em seu entorno ainda pode ser observada uma herança da implementação da indústria ao redor da estrada de ferro, caracterizada por construções como galpões industriais e antigas vilas operárias. Também são comuns as ocupações habitacionais informais, como cortiços e favelas, como é o caso da antiga Favela do Gato, hoje convertido em um complexo da habitação de interesse social, o chamado Parque do Gato. Além disso, a Avenida do Estado também apresenta-se como uma barreira ao rio. O cenário em questão é caracterizado

5 4


C O N F L U Ê N C I A por um espaço saturado, esgotado pela imposição das infraestruturas da própria cidade, que carece de espaços públicos de ocupação cívica. Para construir uma nova dinâmica urbana, tornando os rios eixos estruturantes, não só de circulação, mas de acontecimentos que promovam o convívio entre os habitantes, espaços públicos de permanência e grandes eventos, há a necessidade de adicionar uma quinta camada ou mais, sobre essas citadas anteriormente. A sobreposição de programas de forma estratégica visaria dar suporte aos acontecimentos mais variados nos espaços da várzea e, ativar o entorno dos rios através da multiplicidade de usos e ocupações. Essas camadas adicionais à preexistência proporcionariam uma ativação da orla fluvial, através de apropriações construídas ou não construídas do território. A pulverização dessas novas plataformas urbanas de ocupação seria a estratégia estruturadora para estabelecer uma nova relação entre os rias e a vida cotidiana da cidade. A escolha do recorte para intervenção, portanto, foi resultante da condição simbólica de foz do Rio Tamanduateí no Rio Tietê. Imediatamente, o terreno é cortado pela Ponte Governador Orestes Quércia e é adjacente à Marginal Tietê e à Av. do Estado. No seu entorno imediato encontram-se, a norte, o Complexo do Anhembi, e a oeste o Conjunto Habitacional Parque do Gato. O antigo Clube de Regatas Tietê (do qual o terreno fazia parte) situa-se a leste assim como o complexo da SABESP. O objetivo da proposta é criar aqui uma nova paisagem de identidade, fazendo uso da água como principal elemento capaz de curar e ativar a paisagem, tornando-se um atrativo de cidadãos. O território eleito agrega as mais diversas situações e questões que estão presentes ao longo da maior parte do trecho urbano dos rios, com enfoque no Tamanduateí e no Tietê. O crescimento da cidade resultou numa relação de estranhamento entre os habitantes e os rios, comparada anteriormente como um sentimento de angústia, logo, uma angústia urbana (Capítulo I). É esse sentimento que alimenta um desejo de mudança e a necessidade de intervenções pontuais que sejam catalisadoras de mudanças ao longo desses eixos com um potencial subutilizado pela cidade. Devido à complexidade das questões que envolvem qualquer discussão sobre a ressignificação dos espaços adjacentes aos rios, qualquer proposta que será discutida se situará numa constante tensão entre a realidade e a utopia. O que importa é que essas ideias sejam anunciadoras de uma mudança efetiva que poderá acontecer na paisagem fluvial futuramente. Essas ideias serão concretizadas no capítulo seguinte na forma de uma intervenção pontual urbanística e arquitetônica, explorando uma hipótese que venha a proporcionar uma confluência de habitantes do espaço da confluência dos rios, tendo a água como o elemento articulador dessa transformação. Entretanto, tudo que será discutido está pautado em projetos concretos e aprofundados dessas questões, como principalmente, o Hidroanel Metropolitano, o Arco Tietê e o projeto para a Operação Urbana Carandiru Vila Maria, mostrados no capítulo anterior.

5 5


O Á S I S

5 6


C O N F L U Ê N C I A

Vocações do lugar •

Antes da especificação do programa, foi explicitada anteriormente a necessidade de considerar a singularidade desse lugar na metrópole: uma situação emblemática e única de foz, uma posição estratégica, um local com grande potencial hídrico ignorado pela gestão urbana. Observa-se aqui uma potencialidade latente de transformação de um não-lugar em um espaço com múltiplos significados e possibilidades da apropriação, baseada na ideia de hospitalidade urbana, o projeto como convite. Um espaço em que a palavra confluência, ou encontro, paute a criação de uma nova situação urbana. O vazio aqui presente representa uma potencialidade latente de transformação. Há provas concretas de que a cidade necessita se apropriar desse tipo de espaço. Após a desapropriação do Clube de Regatas Tietê pela prefeitura, esse terreno que era de propriedade do clube ficou abandonado. Em 2013, isso resultou na sua ocupação por 150 famílias, que construíram barracos e passaram a viver no local. A tentativa de remoção dessa favela pela prefeitura provocou um incêndio de grandes proporções que acabou abalando até a estrutura da chamada Ponte “Estaiadinha”. Depois do ocorrido, as famílias foram relocadas em meio a protestos por moradia, e o terreno reempossado pela prefeitura, que alega que o lugar não é adequado à habitação. Ele desde então encontra-se vazio e é um lugar que representa uma necessidade de reinterpretação de usos. Além da carência de habitação social, presente em toda a metrópole, a região é caracterizada por uma carência enorme de áreas verdes de borda de rio, de espaços livres e de equipamentos para uso público. É importante ressaltar a importância da presença da natureza na paisagem, algo que não acontece em São Paulo. É a partir dessas carências que o projeto do Hidroanel já propõe no espaço da orla fluvial bulevares habitacionais, parques e portos fluviais. A questão do transporte fluvial também deve ser considerada, já que o sistema rodoviário encontra-se extremamente saturado e a malha hídrica da Bacia de São Paulo é capaz abrigar essa nova dinâmica. A proposta de intervenção a ser conceituada no capítulo seguinte procura considerar todas essas esferas e propor novos usos para o triângulo na desembocadura do Tamanduateí no Tietê. Os novos programas terão a missão de ativar a área criando uma paisagem de identidade metropolitana e confluência de habitantes, conectar as estruturas existentes à nova dinâmica fluvial criada e transformar a região criando novos espaços de uso coletivo, contribuindo para uma sustentabilidade econômica ambiental e social. A foz do Rio Tamanduateí no Rio Tietê torna-se, além de um espaço com um potencial a ser explorado, uma situação simbólica de como situações semelhantes poderiam ser criadas ao longo de todo o curso dos rios da região metropolitana, um lugar inédito e possível de ser replicado ao longo dos grandes rios. Estes passariam a ser eixos estruturadores de intervenções que caracterizariam uma nova paisagem hídrica, requalificando a vida na cidade e enriquecendo a experiência urbana. O projeto dará importância à borda imediata do rio, extrapolando os limites do terreno e articulando o tecido urbano para a escala do pedestre com diversas situações de interação com a água e de conexão com a infraestrutura existente. A arquitetura emerge como um reflexo do desejo de transformação diante de uma angústia urbana. Deve assim promover um estado de equilíbrio entre a paisagem natural e a construída. A busca de uma relação íntima entre a água o homem e a arquitetura resulta no surgimento de programas singulares que visam criar uma nova situação, culminando em um projeto de um oásis urbano.

5 7


O Á S I S

5 8


C O N F L U Ê N C I A

Reflexão III •

A maior parte dos problemas e questões que foram discutidos a partir do estudo histórico das várzeas estão presentes no recorte estabelecido para a implantação do projeto. Esses problemas geraram alguns questionamentos e hipóteses que pautaram as decisões de projeto: Como criar artifícios que deem suporte à ocupação cívica nas várzeas? • Como criar uma nova paisagem fluvial em um ambiente urbano consolidado? • Como vencer com os limites e barreiras impostos pelas infraestruturas existentes? • Como dar importância à borda do rio incorporando-o à dinâmicas existentes e às novas situações? • Que tipo de programas são capazes de estabelecer a nova dinâmica desejada? • Que situações podem ser criadas para estabelecer uma nova relação entre os cidadãos e as águas? • Como a relação entre água e arquitetura pode criar, pontualmente, um espaço de identidade com possibilidade de propagação? Essas perguntas resultaram em três palavras principais, ou conceitos, que serviram de estratégias projetuais a serem conceituadas no próximo capítulo: transformar, ativar e conectar.

5 9


Oásis • [Do copta wake, “morar”, + sa, “beber”, atr. Do gr. oáis e do lat. oasis] S. m. 2 n. 1. Região coberta de vegetação em meio a um grande deserto. 2. Fig. Lugar aprazível, em contraste com outros que não o são: 3. Fig. Coisa bela , agradável, deliciosa, num conjunto que é oposto disso4. Fig. Prazer, alegria, entre desgostos, aborrecimentos

6 0


IV •

OÁSIS

6 1


O Á S I S

A palavra oásis está geralmente associada a um lugar em que há presença de água e vegetação no deserto, sendo assim considerado um ponto de parada estratégico por caravanas que cruzam regiões áridas. É no oásis que a água surge na superfície. A presença dela e, consequentemente de vegetação, o torna um local singular no território onde aparece, proporcionando condições favoráveis à permanência. A relação de contraste com aquilo que o circunda traz à tona uma ideia de isolamento, como numa ilha. Esta ilha deve ser encarada como um símbolo de uma situação ideal ou utópica, fruto de um desejo de transformação de uma conjuntura.

6 2


O Á S I S

Estratégias projetuais •

A busca por uma identidade que torne os rios elementos estruturantes de uma nova paisagem fluvial metropolitana, criou a necessidade de sobreposição de novas camadas urbanas a aquelas que predominam (conforme explicitado no Capítulo III). Visando estabelecer novas relações entre os habitantes e as águas, a principal premissa de projeto foi assumir os rios como eixos arteriais de intervenção urbana. Apesar do projeto do Oásis estar estrategicamente limitado à uma condição de ilha, a ideia é que ele simbolize um marco inicial para a transformação dessa paisagem, dando lugar a uma nova condição urbana. A geografia, caracterizada como “primeira camada”, foi encarada como a principal base projetual sólida. Ela é a única presença atemporal atuante no território, já que as construções humanas são relativamente efêmeras, ou seja, mudam de acordo com cada época. As demais camadas foram encaradas como uma realidade a ser transformada através da proposição sistemática de novas intervenções. As infraestruturas que alteraram a condição original do rio representam barreiras entre as pessoas e as margens. O projeto visa ser uma das formas de superação desses limites, buscando uma diluição tanto das barreiras físicas quanto perceptivas, dos significados e paradigmas que predominam, criando assim novos espaços de usos múltiplos. As intervenções aqui propostas não entram no mérito de alterar essa situação existente instantaneamente, através de obras de larga escala, como foi feita no Madrid-rio, por exemplo. Medidas como enterrar as vias marginais e demolições de pré-existências não foram adotadas, devido à complexidade das questões que envolvem tais propostas, e pelo fato de que essas grandes obras muitas vezes inviabilizam qualquer intervenção. As propostas almejam serem possíveis e terão seu sentido engrandecido conforme maiores mudanças forem realizadas posteriormente. A estratégia, então, consiste em de adicionar ferramentas de transformação, ativação e conexão, gerando uma nova paisagem. O Oásis, assim, é a concretização de uma busca da acentuação das relações entre o natural e o construído, através da água. A temporalidade, é uma questão fundamental a ser considerada ao analisar esse projeto. A ideia de processo esteve sempre presente. A partir da transformação de um recorte limitado, novas formas de ocupação capazes de reforçar o encontro poderiam ser sistematicamente inseridas em pontos estratégicos, consolidando novas áreas de uso múltiplo. Os rios se tornariam a “coluna vertebral” de uma nova paisagem fluvial urbana gradualmente através de uma propagação programada de equipamentos catalisadores onde se fizessem necessários. Após o estabelecimento dos rios como suporte para as intervenções, estudaram-se os processos que contribuíram para a condição de afastamento que há entre rio e cidade. Os rios, atualmente, limitam-se a “cortes” no tecido urbano. Ao encará-los como “cortes”, as intervenções em suas bordas teriam como principal objetivo a “costura” desse território fragmentado por infraestruturas. Essa operação, será concretizada nesse projeto pontualmente, mas visa ser uma situação emblemática de como novos equipamentos podem funcionar como atrativos sociais, criando espaços de interesse que impulsionem o encontro de pessoas na confluência dos rios.

6 3


O Á S I S

6 4


O Á S I S

A paisagem torna-se então curativa e atrativa. Curativa no sentido da articulação programática entre os espaços “cortados” pelos rios e pelas infraestruturas viárias, reestabelecendo os espaços de vegetação de borda de rio e reativando a qualidade ambiental dos cursos d’água (associada ao processo de despoluição). Atrativa através da pulverização planejada de diversos equipamentos atrativos sociais, que impulsionaria a ocupação da orla fluvial pelos habitantes de diversas maneiras, criando uma nova urbanidade em relação com os rios. Essas operações visam gerar uma experiência metropolitana singular, capazes de se repetir ao longo dos cursos d’água criando uma nova paisagem e uma nova identidade aos rios de São Paulo e seus espaços lindeiros. Tendo em vista essas diretrizes urbanas, as decisões de projeto que resultaram no Oásis foram baseadas, primordialmente, em três estratégias projetuais: transformar, ativar e conectar. Transformar o encontro dos rios através de novos programas e espaços públicos. Ativar através do usos coletivos e ferramentas que proporcionem a confluência de pessoas, dando suporte à imprevisibilidade de apropriações. E por fim, conectar essa nova situação urbana com as infraestruturas existentes, priorizando o pedestre e meios de transporte alternativos.

6 5


O Á S I S

Conectar

Ativar

Transformar

Confluência

6 6


O Á S I S

6 7


O Á S I S

Inundação programática •

A várzea originalmente era uma superfície alagável em que as vegetações ciliares faziam a proteção natural do leito dos rios. Hoje, é caracterizada por um território árido em que barreiras intransponíveis se assentam ao redor dos cursos d’água. Como transpor a ideia de oásis a uma situação urbana real e consolidada fazendo as águas emergirem das superfícies estéreis passando a ter um valor significativo para a cidade? Tomou-se como primeira iniciativa de projeto uma inundação programática, ou seja, todo o programa se relaciona direta ou indiretamente com novas superfícies alagadas que ora têm usos específicos (banhos e piscinas), ora possuem um caráter contemplativo e paisagístico (espelhos d’água e vegetação aquática). Com a abertura de um novo canal, que conecta o tri-porto no Tamanduateí proposto pelo projeto do Hidroanel, o triângulo deixa de ser somente uma ilha em meio às infraestruturas para ser literalmente uma ilha com dinâmicas próprias, descolada do território e rodeada por corpos d’água. No entanto, o isolamento físico não existe, já que ela será conectada com o entorno, mantendo a infraestrutura viária existente e criando novas possibilidades de articulação (barcos, bicicletas e pedestres). O que ocorre é um isolamento conceitual programático, ou seja, as intervenções limitam-se ao território dessa ilha, mas se reverberam pelo entorno além de seus limites físicos tornando-se o estopim para a transformação gradual dos eixos fluviais paulistanos.

6 8


O Á S I S

Para uma situação singular, as vocações do lugar apontaram para a necessidade um programa inédito na metrópole, que seja capaz de impulsionar a reunião de pessoas de toda a cidade e transformar o espaço das águas. Um espaço de destinação que seja símbolo de uma nova paisagem fluvial urbana, utilizando-se da água como um artifício catalisador. O programa é constituído principalmente por banhos termais e piscinas, um restaurante, piscinas esportivas e academia, uma nova orla fluvial e áreas de parque com vegetação densa e variada. Cada um desses será explicado individualmente a seguir.

6 9


O Á S I S

Ritual de banho •

Na Roma Antiga, os romanos faziam uso de suas termas como centros comunitários de grande importância cultural. O processo de limpeza através dos banhos era extremamente longo, então as termas se tornavam palco para conversas e reuniões de grande importância. Era senso comum no mundo antigo que a vida saudável era resultado dos banhos, massagens, exercício e alimentação. Todos esses tipos de atividades estavam presentes em abundância nesses complexos. Além disso, os centros termais não estavam limitados aos banhos, abrigando espaços complementares como salas de leitura, bibliotecas e comércio de alimentos. As termas romanas eram e são até hoje consideradas monumentos e marcos importantes nas cidades, locais onde as pessoas se encontravam e se relacionavam. Esses valores perderam-se com o tempo, devido às novas dinâmicas do mundo contemporâneo. A vida nos dias de hoje é dinâmica e os habitantes das grandes cidades passam a ter necessidade de aliviar as pressões cotidianas. Os banhos que nas antigas termas tinham como principal objetivo a higiene, na contemporaneidade passam a ter um papel de prazer, hedonismo, um oásis que isola, ainda que momentaneamente, as pessoas das angústias cotidianas. Em São Paulo, os clubes sociais, como o Clube de Regatas Tietê, cumpriam de certa forma essa função, associando o esporte e o lazer aos rios. No entanto, seu acesso era restrito à pequena parcela da população associada.

7 0


O Á S I S

O programa, portanto, tem como objetivo a criação de espaços em relação com a água que sejam acessíveis à todos os habitantes de classes sociais diversas, beneficiando tanto a população geral da cidade quanto, principalmente, os moradores do entorno imediato. O surgimento de um espaço democrático que abrigue banhos termais, reinventando a dinâmica que tinham as termas no mundo antigo. Além dos espaços destinados ao prazer e hedonismo, há estruturas específicas para os esportes aquáticos como remo, natação, saltos ornamentais, nado sincronizado, polo aquático, etc. Também faz parte do complexo uma academia de ginástica associada a uma piscina de treinamento e um restaurante. Enfim, um espaço de encontro às margens dos rios. Nas cidades de praia, esse tipo de dinâmica está mais presente, tendo na orla marítima espaços de banho e lazer que são públicos e utilizados por toda a população. Em São Paulo, há uma carência maior de espaços democráticos, principalmente destinados ao lazer e ao passeio, o que muitas vezes resulta na apropriação de espaços privados para esse tipo de atividade (shopping centers, por exemplo). A transformação da orla fluvial num espaço com valor para a metrópole minimizaria essa carência de espaços públicos. Para isso, propostas como o Oásis, como o Parque Tietê e as ferramentas de cura e ativação da paisagem. A água passa a ser um elemento atrativo social na cidade, promovendo o desfrute comunitário e a imprevisibilidade.

7 1


O Á S I S

7 2


O Á S I S

7 3


O Á S I S

Barreiras e ligações •

Um dos principais desafios do projeto foi como tornar o triângulo um lugar habitável. Devido à presença da Marginal Tietê e suas vias adjacentes, esse fragmento tornou-se um ambiente hostil pela poluição sonora e visual causada pelo trânsito em alta velocidade de veículos. A Marginal Tietê, portanto, apresentou-se como a principal barreira infra estrutural entre o projeto e o rio. No entanto, na condição atual, a área é sem dúvida alguma predominantemente rodoviária. O foco das intervenções foi como criar novas estruturas que vençam essas barreiras às margens e, ao mesmo tempo, reforcem a ideia de isolamento que caracteriza o oásis urbano. Para minimizar a relação conflituosa entre o Oásis e a marginal, foi necessário uma proposta arquitetônica que tivesse o papel de proteção visual e sonora, reforçando a ideia de um lugar protegido das dinâmicas predominantes ao seu redor. A solução para essa relação de atrito entre o Oásis e essa via expressa foi a proposição de um muro de pedra, cuja superfície rugosa diminui o ruído dos automóveis e sua dimensão reforça a condição de um oásis silencioso em meio às infraestruturas existentes. Apesar de evitar o contato direto, esse plano extenso rodeado por um espelho d’água estreito passa a fazer parte da nova paisagem e visa ser um elemento a ser percebido pelas pessoas nos carros em alta velocidade, evidenciando que algo singular ocorre neste lugar. Apesar de saturada, a infraestrutura viária foi encarada como uma permanência e o projeto não abordou alterações nas rodovias. A estratégia, mais uma vez, foi a adição de novas alternativas para acessar o território transformado. Propõe-se a criação de (pelo menos) uma linha de táxi aquático que faria a interligação modal

entre o metrô (Estação Armênia - Linha 1 Azul) e o complexo, fazendo um circuito circular que passaria pelo novo canal e pelo tri-porto. Uma nova cota urbana constituída de passarelas metálicas elevadas (5m) para pedestres e ciclistas faz a articulação do projeto com alguns pontos importantes, cumprindo a função de conectar o Oásis e as novas dinâmicas aos equipamentos existentes. Um eixo principal estabelece a conexão para além do rio Tietê, ligando-o com o Complexo do Anhembi (a norte) e para além do rio Tamanduateí, estabelecendo a conexão com o tri-porto do Hidroanel (a sul), passando pela nova orla fluvial. Um segundo eixo complementaria o anterior, levando pessoas do Parque do Gato, ao novo passeio na margem. O terceiro eixo faz a ligação dos demais. Assim é feita a “costura” do território segmentado. Além da cota elevada, uma artéria que liga o rio Tamanduateí ao novo canal (ver Planta Nível -3.00) foi estabelecida para cumprir com as transições e é por ela que os acessos principais ao Oásis, tanto para funcionários quanto para o público em geral. Esta “fenda” no território articula todo o programa, desde o píer flutuante no Tamanduateí (parada do táxi aquático) até o Parque Fluvial associado ao novo canal. Neste mesmo nível, localizam-se toda a parte de serviços e apoio como a portaria principal com controle de acesso, secretaria geral, vestiários e enfermaria, além das áreas restritas a funcionários (administração, vestiários, refeitório e áreas técnicas) . O acesso ao térreo que abriga o programa principal é feito pela escada, após as catracas e o corredor de vestiários, chegando no solarium ou por um elevador de deficientes. A “fenda” estabelece um eixo visual e de ligação estrutural na nova paisagem e conta com alguns nichos com janelas que fazem a conexão visual entre as piscinas e a circulação pública.

74


O Á S I S A presença que a Ponte Governador Orestes Quércia possui no território é forte e, mesmo que sua estética e monofuncionalidade (transporte rodoviário) sejam discutíveis, ela apresenta-se como elemento marcante e ponto de referência na paisagem. Por ela cortar o complexo, foi tomada a decisão de estabelece-la como eixo estruturante da organização espacial, já que embaixo dela há uma situação específica e emblemática, uma sombra da infraestrutura e símbolo da condição atual da paisagem fluvial. Assim, os acessos e áreas de apoio e serviço situam-se em exatamente na sua projeção, porém num volume enterrado, garantido a permeabilidade visual plena no térreo, entre a praça e o complexo aquático. Na cobertura desse bloco há somente um espelho d’água, que funciona uma distinção física entre o espaço público e o semi-público. Ocorre, então, uma relação sensorial entre a presença da sombra da ponte, a ausência de construção (no térreo) e a água que, incidida pelos raios de sol, projeta-se sobre o concreto da infraestrutura. Dessa forma, a ponte projeta-se sobre a paisagem em forma de sombra e a água projeta-se sobre a ponte em forma de luz.

7 5


O Á S I S

Orla fluvial •

Sendo o objetivo principal do projeto a confluência de pessoas numa nova paisagem configurada pelas águas, as intervenções nas margens visam dar suporte para a ocupação e permanência na orla fluvial. Os espaços vazios e praças, foram estrategicamente posicionados para se tornarem espaços de descanso e contemplação dessa paisagem, passeio e deriva, cada um deles com uma condição individual. A praia urbana conta com a sombra da ponte existente e pode ser um espaço de banho e estar público com a despoluição do Tietê. Piers flutuantes fazem a relação direta entre os pedestres e a água e são eixos de circulação que servem de atracadouros para barcos, considerando a navegação nos rios a partir da instituição do Hidroanel Metropolitano. Alguns pontos de circulação vertical (escadas e elevadores) fazem conexão entre as cotas dos piers, do passeio fluvial e das passarelas elevadas.

76


O Á S I S

Parque fluvial •

O plantio de vegetação nativa é essencial para o início do reestabelecimento dos rios como corredores biológicos estruturadores da paisagem urbana. Para isso, a criação de parques fluviais urbanos (já proposta no projeto do Hidroanel), reconstituirá a vegetação ciliar de borda de rio e aumentará a qualidade ambiental das várzeas. Na intervenção, foi prevista a eliminação do estacionamento que serve à Sabesp para a abertura do novo canal e criação de um parque fluvial, com vegetação densa e paisagismo funcional (wetlands) onde a água poluída é tratada a partir de sistemas vegetais. Associado ao canal e ao parque, um passeio de orla conta com as conexões verticais aos eixos de circulação elevados, com uma rampa à “fenda” de ligação com o Tamanduateí e com um estacionamento de suporte ao Oásis. As novas áreas verdes reconstituem e fazem a manutenção da fauna e flora no rio urbanizado, amenizando problemas como a poluição sonora e do ar, decorrente do grande fluxo de veículos na marginal.

7 7


O Á S I S

7 8


O Á S I S

7 9


O Á S I S

8 0


O Á S I S

8 1


O Á S I S

8 2


O Á S I S

Termas •

No Oásis, os espaços dos banhos termais destinados ao prazer e o desfrute comunitário, foram pensados para causar diferentes sensações nos usuários de acordo com a característica individual de cada ambiente. Volumes fechados de concreto funcionam como ilhas programáticas que emergem das superfícies alagadas numa disposição ordenada e ritmada, cada um com sua própria atmosfera. Os quatro volumes maiores se configuram na margem do Tamanduateí abrigam o restaurante, saunas e duchas, o tepidarium e o frigidarium que são circundados por uma grande piscina social externa e duas outras piscinas sombreadas por uma cobertura metálica. Em meio a esses três corpos de água principais, outras seis caixas menores abrigam os banhos de sensações específicas (banho de fogo, banho de flores, banho de som, banho frio), além de duchas e o sanitário do restaurante. Todo o projeto do complexo termal é baseado na ideia de percurso, possibilitando que os usuários possam fazer um caminho contínuo baseado no aumento de temperatura das águas ou acessar cada banho separadamente. O significado que tinham as termas romanas e os benefícios dos rituais de banho no mundo antigo aqui são reinventados e adaptados aos valores e necessidades do mundo contemporâneo e do contexto urbano da paisagem fluvial de São Paulo. Como resultado, tem-se a criação de um programa singular e inusitado em que água, luz e arquitetura se relacionam intimamente em espaços lúdicos que estimulam o prazer e o hedonismo em meio à atmosfera hostil da metrópole. Para Peter Zumthor, o valor da arquitetura não está em sua forma, mas sim nas sensações e experiências que os espaços proporcionam para cada indivíduo. Em sua obra as Termas de Vals, a criação de espaços sensoriais se dá pelas interações entre a paisagem, a materialidade e a água, ou seja o material e o imaterial, em busca de uma experiência singular espacial.

8 3


O Á S I S

8 4


O Á S I S

8 5


O Á S I S

8 6


O Á S I S

8 7


O Á S I S

8 8


O Á S I S

8 9


O Á S I S

Esportes •

Os equipamentos esportivos também têm sua importância na nova dinâmica criada, pelo fato de serem grandes atrativos sociais podendo trazer para o complexo um grande número de pessoas durante o dia e a noite. Os habitantes são favorecidos com três piscinas esportivas, além daquelas presentes nas termas. Uma piscina olímpica com dez raias, capaz de comportar eventos de grande porte como competições esportivas profissionais e amadoras de natação, polo aquático e nado sincronizado, por exemplo. A segunda piscina é dedicada aos saltos ornamentais e ambas contam com uma grande arquibancada coberta por uma das passarelas, que tem espaço o suficiente para abrigar expectadores em um evento de larga escala. Além dessas, há também uma piscina de treinamento, associada a uma academia de ginástica. O núcleo esportivo também conta com uma garagem para barcos de remo, que tem um acesso específico pelo píer flutuante no Tamanduateí, abrindo a possibilidade de os rios retomarem as competições de remo em seus cursos d’água, atividades que tornavam o Tietê um rio ativo e catalisador de centros dedicados aos esportes no século passado.

9 0


O Á S I S

Estruturas complementares •

O entre ou o intervalo, o espaço vazio, o local do porvir, dos eventos, o espaços da arquitetura do puro evento – como na écriture double de Derrida, temos aqui uma busca por l’arquitecture double, uma arquitetura capaz de garantir, pela produção de intervalos e de um jogo de traços e diferenças, espaços da pretensa absoluta autonomia, ou seja, um mínimo de intervenção, que pode ser formal, programático-funcional, visando um máximo de eventos, espontâneos e heterogêneos. GUATELLI, 2012 • 39 Após a definição dos programas específicos, fez-se necessária articulação entre os espaços e equipamentos de grande concentração de pessoas. Foram então criadas marcações pontuais no território, num grid regular, visando cumprir com o papel de ativar os espaços vazios, os entre-lugares, estimulando a pulverização de pessoas ao longo de toda a superfície da ilha. O programa no espaço construído serve como suporte ao evento no espaço des-construído, num jogo entre o programado e o desprogramado onde o indefinido só é possível devido à presença do definido, agente catalisador de pessoas. É com a potencialização espaços vazios de significado indefinido, que ocorrem os acontecimentos inesperados, os eventos. Os pontos de ativação, dispostos a partir de uma malha abstrata e genérica, consistem estruturas sem uso ou programa pré-determinados. Podem ser ocupadas através de um uso específico ou não, funcionando como mirantes ou enquadramentos da paisagem, mas sempre com o objetivo de impulsionar a ocupação dos vazios. A deriva apenas é possível pela existência dos pontos

9 1

catalisadores, conformando uma relação de mutualismo entre o espaço definido e indefinido. O vazio, definido pelo cheio, é trabalhado sem um preenchimento, mas através das ações resultantes da livre interpretação e apropriação do espaço. Esses pontos de intensidade assemelham-se às Folies de Bernard Tschumi no Parc La Villette em Paris. O projeto concretiza-se através da sobreposição de três sistemas: as linhas (circulações), os pontos (Folies) e as superfícies (chão) e a dissociação programática. As Folies, ou “pontos de loucura”, consistem em módulos vermelhos fragmentados a partir de uma matriz cartesiana que cumprem com o papel de dispersar os visitantes ao longo dos extensos espaços entre os equipamentos, por serem capazes de abrigar os mais diversos usos, muitas vezes mutáveis. Assim, o arquiteto estabelece um diálogo constante com os filósofos pós estruturalistas, desconstrutivistas e suas posturas teóricas, quebrando significados paradigmáticos da arquitetura, como a relação forma-função, estabelecendo um novo tipo de relação suprimento-complemento.


O Á S I S

9 2


O Á S I S

Reflexão IV •

Desde o cuidado com a escolha do lugar ideal à inundação programática como ferramenta de ativação, o projeto do Oásis teve como principal objetivo ser uma situação simbólica de como fazer dos rios e suas várzeas lugares de importância na cidade, ressaltando o potencial da água no ambiente urbano e mostrando uma possibilidade de como ela pode se tornar um elemento catalisador de uma ocupação cívica da orla fluvial. Fazendo um contraponto às obras infra estruturais de larga escala feitas nas várzeas, características da utopia da modernidade, essa intervenção pontual visa ser o marco inicial, o ponto de irradiação da pulverização de novos programas e atividades ao longo dos eixos dos rios principais de São Paulo, capaz de criar uma nova relação de identidade entre os cidadãos e a água. Através da estratégia de cura e ativação da paisagem, o Oásis passa a ser um equipamento marcante na paisagem fluvial paulistana e, associado e articulado com as dinâmicas pré-existentes, tem a capacidade de abrigar eventos e acontecimentos de larga escala, tendo um impacto não só no entorno imediato, mas em toda a metrópole. A busca por uma identidade vai além do programa específico, fazendo uso de estruturas complementares para ativar o território fragmentado e saturado das várzeas. A confluência dos rios Tietê e Tamanduateí passa a ser uma nova centralidade na metrópole e um espaço catalisador de mudanças e acontecimentos em torno das águas.

9 3


O Á S I S Capa: Imagem “água”. Foto de Hiroshi Sugimoto. Fonte

com/. Acesso em: 19/11/2014.

p 192. P 8.

:

Página 24: Terreno Vazio na confluência dos rios Taman-

Página 48: Enfrentamento da enchente na Mariginal Ti-

duateí e Tietê. Fonte: Acervo Pessoal.

etê.

Página 27: Salto, ano 1921. Fonte: Acervo Clube Tietê.

B689/0125/975A/E23F/2787/age20091208050.154402.jpg.

de Kim Holtermand. Fonte : http://www.inspirefirst.

Página 28: Torre de Babel. Fonte: http://pt.wikipedia.org/

Acesso em 21/11/2014

com/2011/05/25/architecture-landscape-photogra-

wiki/Torre_de_Babel Acesso: 24/11/2014

Página 50: Imagem acima: Encontro dos rios Tamandu-

phy-kim-hltermand/ Acesso em: 12/11/2014

Página 30: Fotomontagem do grupo Metrópole Fluvial.

athey e Tietê, Nelson Kon, 1996 . Imagem no meio: En-

Página 09 : Imagem Angústia Urbana. Fonte : http://

Fonte:

contro dos rios Tamanduathey e Tietê. Fonte: FRANCO;

www.disaster-report.com/2012/01/recent-natural-disas-

sao-paulo-e-o-rio.html . Acesso em: 22/11/2014.

2005, p 192. P 94,95. Imagem abaixo: Encontro dos rios

ters-list-january-8.html. Acesso em: 18/10/2014

Página 31: ônibus anfíbio no Rio Tietê Iniciativa do “Por

Tamanduathey e Tietê. Fonte: http://www.constran.com.

Página 10: Foto de Satélite São Paulo. Fonte:

uma Cidade Navegável” . Fonte: http://noticias.uol.com.br/

br/atuacao.php?id=227 acesso em 27/11/2014

Página 12: Acima: Lavadeiras na Várzea do Carmo. Meio:

ultimas-noticias/agencia-estado/2014/09/19/em-sp-nu-

Página 51: Imagem acima, no meio, e a baixo: : Encontro

Lavadeiras na Várzea do Tamanduathey . Abaixo: Rio Ti-

mero-de-ciclistas-cresce-50-em-1-ano.htm . Acesso em :

dos rios Tamanduathey e Tietê. Fonte: http://www.con-

etê : Fonte: FRANCO; 2005, p78

22/11/2014

stran.com.br/atuacao.php?id=227 acesso em 27/11/2014

Página 13: Acima: Rio Tietê. Fonte : FRANCO; 2005, p78.

Página 32:

Meio: Regata Rio Tietê. Fonte: Acervo Clube Tietê Abaixo:

www.pinterest.com/pin/466896686342545521/ . Acesso

Fonte: : FRANCO; 2005, p 93.

Inauguração Ponte das Bandeiras. Fonte: Acervo Clube

em : 22/11/2014

Página 53: Imagens Cidade Genérica. KOOLHAAS, 1995,

Tietê

Página 33: Imagem a esquerda: Vista aérea de Lon-

p 1246

Página 14: Travessia da Ferrovia Sorocabana sobre o rio

dres. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.

Página 56: Marginal tietê- pista direita sobre o rio Ta-

Pinheiros, na confluência com o rio Tietê. Fonte: FRANCO;

php?p=118928051. Acesso em: 21/11/2014. Imagem a di-

manduateí.

2005, p 105

reita: Proposta de substituição da ponte ferroviária de

to/88495402 . Acesso em 15/11/2014

Página 16: Desmatamento do traçado do canal do Pin-

Hungford. Fonte: ROGERS; 2001, p 131.

Página 58: Imagem acima: vista da ponte Horécio Quér-

heiros. Fonte: FRANCO; 2005, p 26.

Página 34: Proyecto Madrid-Río / Burgos & Garrido.

cia, e terreno em questão. Fonte: Acervo Pessoal. Imagem

Página 17: Imagem cima: Construção do canal de Osasco

Fonte:

abaixo:Rio canalizado, com ponte ao fundo. Fonte: Acervo

(Retificação do Tietê), 1940. Fonte: FRANCO; 2005, p 113.

89344/proyecto-madrid-rio-mrio-arquitectos-asocia-

pessoal.

Imagem no meio: Canal do Tamanduathey. Fonte: FRAN-

dos-y-west-8 . Acesso em: 28/11/2014.

Página 61: Pedra/ Água. Foto de Kim Holtermand. Fon-

CO; 2005, p 88. Imagem no abaixo: Imagem no meio: Ca-

Página 35: Projeto Luis Callejas Para Manzanares. Fonte:

te

nal do Tamanduathey. Fonte: FRANCO; 2005, p 88.

http://www.luiscallejas.com. Acesso em: 28/11/2014.

ture-landscape-photography-kim-hltermand/ Acesso em:

Página18: Esquema teórico do Plano de Avenidas Francis-

Página 36: Plano de melhoramentos do Tietê, 1925. Fon-

12/11/2014

co Prestes Maia, 1930 Fonte: FRANCO; 2005, p 150.

te:

Página 68: Fotografia “Dead Sea”. Fonte: http://www.

Página 19: Engarrafamento marginal Tietê. Fonte: FRAN-

CD/5bd/1rmsp/plans/h1saturn/index.html . Acesso em

pinterest.com/pin/77476056061881249/.

CO; 2005, p 192.

13/11/2014.

12/08/2014

Página 20: Imagem cima: Vista da marginal, com de-

Página 37 : Projeto de Hector Vigliecca & Associados para

Página 70: Ritual de banho, termas Romanas. Fonte: http://

staque para o lixo n rio Tietê. Fonte: http://www.toca-

o concurso da operação urbana Carandiru-Vila Maria.

upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/33/Frigidar-

dacotia.com/wp-content/uploads/2012/10/Tietê-em-

Fonte : http://www.vigliecca.com.br. Acesso em 14/11/2014

ium_of_the_Old_Baths_at_Pompeii_by_Overbeck.png

São-Paulo.jpg Acesso em: 20/11/2014. Imagem Abaixo:

Página 39: Hidroanel Metropolitano de São Paulo. Fon-

Acesso em : 05/10/2014

Sofá boiando no Rio Tietê.

te:

Página 71: European Health Spa, St. Petersburg Florida

http://www.pinterest.com/pin/82050024436408193/

Acesso em: 12/11/2014 Contra- capa: Montagem Imagem água/ Pedra.

Foto

Fonte: http://msalx.vejasp.

http://eueaarquitetura.blogspot.com.br/2010/11/

Mapa de Amsterdam em 1835. Fonte: http://

http://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-

http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/c_deak/

http://www.metropolefluvial.fau.usp.br.

Acesso

em:

Fonte:

http://i1.r7.com/data/files/2C92/94A3/258F/

Página 52: Canalização do rio Tietê próximo à Vila Maria.

:

Fonte:

http://www.panoramio.com/pho-

http://www.inspirefirst.com/2011/05/25/architec-

Acesso

em

.

abril.com.br/2012/08/22/0009/hJxiE/age20101130230.

23/08/2014.

Photo by Jonathan Blair, November 1973 National Geo-

jpeg?1348321429 Acesso: 20/11/2014.

Página 40/41: Projeto de reestruturação urbana Arco-Ti-

graphic

Página 22: Imagem esquerda acima: Enchente Margin-

etê.

Página 83: Termas de Vals , 1996, Peter Zumthor . Fon-

al Tietê. Fonte: http://4.bp.blogspot.com/ Acesso

em: 30/10/2014.

te: http://weber.blogs.sapo.pt/104908.html . Acesso em

18/11/2014. Imagem direita acima: http://enchentescon-

Página 42:

29/11/2140.

flitosocial.blogspot.com.br/2010/04/nova-marginal-ti-

Página 45: Terreno localizado na Foz dos rios Tamandu-

Página 91: Parc de la Villette, Paris, 1983. Fonte: http://

ete-ira-resolver.html

Imagem

ateí e Tietê. Fonte: http://www.abcp.org.br/conteudo/im-

www.frac-centre.fr/collection/collection-art-architec-

Marginal Alagada. Fonte: http://3.

esquerda abaixo:

Acesso

em:

19/11/2014.

em:

Fonte: http://www.capital.sp.gov.br/portal/. Acesso

prensa/noticias/sao-paulo-sedia-xxviii-congresso-tecni-

ture/index-des-auteurs/auteurs/projets-.

bp.blogspot.com/. Acesso em: 19/11/2014 . Imagem direita

co-ficem-apcac. Acesso em: 22/11/2013

28/11/20146

abaixo: Alagamento Marginal. Fonte: http://3.bp.blogspot.

Página 46: Aerofoto de São Paulo . Fonte: FRANCO; 2005,

9 4

Acesso

em


O Á S I S

Bibliografia •

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Mestre Jou, 2009

Contemporâneos: tradução Alicia Duarte Pena. Editorial Gustavo Gili, Sl. Barcelona, 2009

AB’SABER, Aziz. Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2007

NESBITT, Kate . Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica. Tradução Vera Pereira, São Paulo, Cosac Naify, 2ª ed. rev, 2008

AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994. FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 1499 p.

ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. Barceloma: Editorial Gustavo Gili, 2001 SOLÁ–MORALES. Ignasi de. Territórios. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002

GAUSA, Manuel. Diccionario Metápolis Arquitectura Avanzada. Actar. Barcelona, 2001

TSCHUMI, Bernard. Event cities. Cambridge, Londres: MIT Press, 2005

GUATELLI, Igor. Arquitetura dos Entre -lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo: Editora Senac, São Paulo, 2012

TSCHUMI, Bernard. Architecure and Disjunction.Cambridge, Londres: MIT Press, 1996

IZEMBART, Hélène; LE BOUDEC, Bertrand. Waterscapes - El tratamento de aguas residuales mediante sistemas vegetales . Barcelona, Gustavo Gili, 2008 JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. KAHTOUNI, Saide. Cidade das águas. São Carlos: RiMa, 2004.

Periódicos ARQUITECTURA VIVA. Placeres del agua Madri, Spanha, Arquitectura Viva SL. Volume 127, Agosto, 2009. GA DOCUMENT EXTRA. Bernard Tschumi. Tokio, Japão, Volume EXTRA 10, Dezembro, 1997. 160 pags. Teses e dissertações

KOOLHAAS, Rem; MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova York, The Monacelli Press, 1995.

DELIJAICOV, Alexandre. Os rios e o desenho da cidade. São Paulo : Dissertação de Mestrado. FAU USP, 1998

LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FRANCO, Fernando de Mello. A construção do caminho. A estruturação da metrópole pela conformação técnica das várzeas e planícies fluviais da Bacia de São Paulo. São Paulo: Tese de Doutorado, FAU USP, 2005.

MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitetônicos

9 5



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.