cultura
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AJUDA A ENTENDER DE ONDE UM LUGAR VEM, POR QUÊ ELE ESTÁ COMO ESTÁ ATUALMENTE, E COMO PODE DETERMINAR SEU FUTURO ATRAVÉS DE SEU POTENCIAL.
ÍNDICE
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PREFÁCIO por Ana Carla Fonseca 7 INTRODUÇÃO 9 CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 13 cultura e os objetivos de desenvolvimento sustentável
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cultura e o desenvolvimento urbano sustentável
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CIDADES SENSÍVEIS
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big data
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open data
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visualização de dados
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ECONOMIA CRIATIVA
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economias criativas
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genius loci
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economia criativa e o desenvolvimento sustentável
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economia criativa no brasil e no mundo
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economia criativa e a regeneração urbana no brasil
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CIDADES CRIATIVAS
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a classe criativa
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economia criativa e o desenvolvimento urbano
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rede de cidades criativas da unesco
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BRASÍLIA E A ECONOMIA CRIATIVA
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brasília e a rede de cidades criativas da unesco
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o desenvolvimento da economia criativa de brasilia
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MAPEAMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA DE BRASÍLIA
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sobre 47 como funciona
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lojas colaborativas
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cria brasília
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feiras 52 picnik 52 liga pontos
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CONCLUSÃO 80 LISTA DE FIGURAS 84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86
PREFÁCIO
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Prefácio
Vista por alguns como um termo instigante e convidativo e por outros como redenção da economia ao mundo das artes e da cultura, a economia criativa se perfila porém como algo muito mais profundo e transformador, em uma realidade social e econômica crescentemente complexa. Para vários economistas, dentre os quais me incluo, a economia criativa representa a lógica econômica de nossos tempos e prenúncio dos que estão por vir. Catalisada pela revolução das tecnologias digitais e conformada por bens e serviços cujo valor agregado advém da criatividade humana, a economia criativa reconhece a potência da criatividade como ativo econômico não copiável e não transferível. Firmar essa proposta em países nos quais o desenvolvimento de políticas públicas ancoradas em intangíveis ainda desperta reservas constitui, certamente, um desafio de grande envergadura. Para avançarmos em sua direção, faz-se crucial dispormos de um corpo consistente de estatísticas, mapeamentos, estudos e levantamentos, compreendendo os mais diversos indicadores: do número de trabalhadores empregados nos setores criativos (as chamadas indústrias criativas, entendidas como as que compreendem ao menos 30% de profissionais dedicados a atividades criativas), à territorialização dessas atividades. É a minimizar essa lacuna que damos as boas-vindas - especialistas, estudiosos, praticantes e simpatizantes da economia criativa - ao trabalho “Mapeamento da Economia Criativa no Distrito Federal”. Contribuição ainda mais significativa, por somar a um conteúdo precioso e ainda raro um olhar prático, aplicado e sensível de integrantes da academia. Que esta obra, cujo embrião surgiu como Trabalho de Conclusão de Curso, seja o início de uma longa trajetória de contribuições e provocações assinadas por Pedro Rodolpho, em nossa ainda incipiente seara de estudos voltados à economia criativa e à territorialização das atividades econômicas vinculadas à criatividade. E que constitua inspiração para a geração de novos estudos, por profissionais tão criativos e sérios como o autor deste demonstra ser.
Ana Carla Fonseca Economista e Doutora em Urbanismo, especialista internacional em economia criativa e cidades criativas
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INTRODUÇÃO Item 3 dos 10 elementos fundamentais para traçar novos caminhos para o desenvolvimento: “Revelar oportunidades através do mapeamento de assets locais da Economia Criativa. (...) Existe um gap de conhecimento a nível local e é notável a falta de evidências. Sem tais conhecimentos, todos, de desenvolvedores de políticas a administradores de projetos, tomam decisões com base em informações incompletas. Além disso, comprometimento político e disposição para investir permanecem escassos. Mapear os desafios, estrutura e funcionamento da Economia local é, portanto, importante para, consequentemente, medir-se os impactos de políticas. Evidências demonstram como exercícios de mapeamento das indústrias culturais e criativas são necessárias para prover às autoridades locais os recursos para o desenvolvimento de políticas baseada em evidências, uma vez que provém um panorama geral de características específicas ao local, capacidades humanas e institucionais, desafios específicos do setor, e oportunidades no decorrer da cadeia de valor. (...) Os resultados dos mapeamentos podem ajudar as autoridades a determinar a vantagem competitiva de sua localidade, assim como definir os resultados esperados a serem alcançados por meio de investimento no desenvolvimento da Economia Criativa local.” Relatório da Economia Criativa de 2013, UNESCO e PNUD.
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introdução
Este é um projeto sonhador. Mas não teria como ser diferente. O assunto abordado e o objeto de estudo são construções que só existem graças a uma miríade de acontecimentos interligados no decorrer de muitos anos, mas que essencialmente têm como ponto de partida um mesmo lugar: O sonho individual de muitas pessoas, ainda que diferentes entre si e com suas particularidades. Se é à partir de sonhos que novas realidades são criadas, o panorama da Economia Criativa de Brasília é um dos grandes exemplos disso, e também carrega consigo muitos outros ensinamentos valiosos. Um deles é de que ninguém faz nada sozinho e que uma nova realidade coletiva pode ser criada à partir da ação e esforços individuais ou de grupos, constituindo grandes mudanças e gerando impactos significativos. Um stencil sob um determinado túnel do eixo rodoviário da cidade avisa: Sonhe com os pés no chão. E é justamente a articulação entre os sonhos e uma abordagem realista para a realização deles uma das principais vocações e características dos atores e agentes que constituem a Economia e o Empreendedorismo Criativo de Brasília. Somente à partir de uma visão crítica sobre a própria cidade que se habita, e o vislumbre de qual a cidade que se deseja, é possível traçar o caminho para que a primeira se transforme na segunda. E é justamente esse o processo que está em curso em Brasília, graças ao sonho, a visão e o trabalho de muitas pessoas. Pra se chegar onde se deseja é necessario, no entanto, conseguir olhar para trás. E esse é um dos principais motivos de existência deste, que nasce no âmbito da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília. A premissa urbanística do Plano Piloto da cidade de Brasília influencia a cidade e seus ha-
bitantes de diversas maneiras diferentes, em todos os âmbitos de suas vidas. E isso cabe tanto aos moradores do Plano Piloto quanto das demais Regiões Administrativas do Distrito Federal, uma vez que, apesar de gradativamente possuírem uma maior independência entre si, ainda se encontram intrínsecamente conectados. O desenvolvimento da relação entre o objeto de estudo e a cidade de Brasília - não se limitando ao Plano Piloto -, se dá especialmente à partir da compreensão e análises dos espaços urbanos que a compõem. E é também nesse mesmo âmbito que acredita poder contribuir: Na compreensão do potencial de desenvolvimento urbano, social, econômica e cultural pela via do incentivo ao fortalecimento da Economia Criativa. Isto se dá por diversas vias, como o potencial fortalecimento do turismo pela atração de novos grupos de interesse, com a projeção da cidade como um centro de representatividade criativa e cultural a nível nacional e internacional - fato que se fortaleceu com a integração da cidade na Rede de Cidades Criativas da UNESCO, como Cidade Criativa do Design -, como pelo estabelecimento de regiões mais propícias para a atração e retenção de instituições culturais, empreendimentos criativos e gastronômicos e um maior reflexo do fortalecimento da Economia Criativa em Brasília a nível urbano. E esse processo carrega consigo uma série de potenciais benefícios para a economia local e, em especial, a própria relação dos moradores da cidade com seus espaços e a melhoria dos mesmos, apesar de também vir junto de desafios particulares que devem ser levados em consideração pelos agentes envolvidos e elaboradores de políticas. O desenvolvimento do projeto se dá por diversas vias, sendo uma das principais delas a criação de mapeamentos inéditos e exclusivos que apresentam visualizações do reflexo do crescimento da Economia Criativa no Distrito
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Federal entre os anos de 2013 e 2017(ano de desenvolvimento deste), no espaço geográfico da região. Tais mapeamentos, desenvolvidos por ferramentas de geoprocessamento e design gráfico, apresentam vocações, desafios, desequilíbrios e potenciais, que podem servir de acessório para a análise e observação das informações contidas neles e apoiar as ações necessárias para o crescimento de tal economia na região. Desenvolvidas à partir de material e dados coletados com vários dos agentes envolvidos no processo que culminou tal crescimento no período em questão, em especial, produtores de feiras que reúnem principalmente produtores locais e autorais, bem como criadores de lojas colaborativas, os mapeamentos indicam a distribuição geográfica de empreendimentos autorais nos setores de Arte, Design, Moda e Gastronomia no Plano Piloto e no Distrito Federal.
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Seria insuficiente, no entanto, apresentar as informações e descobertas sem antes apresentar e explorar os assuntos que compõem o caráter da Economia Criativa, que constitui o desenvolvimento econômico à partir de atividades criativas, e das Cidades Criativas, aquelas que estabelecem as indústrias criativas como um de seus principais vetores de desenvolvimento. Para compor tal panorama, este estudo também apresenta, ainda que sucintamente, estudos de casos bem sucedidos de cidades e regiões que passaram por transformações, positivas e negativas, à partir do estabelecimento das indústrias criativas no centro de suas agendas de desenvolvimento. Permanece a intenção de que o material desenvolvido possa servir de apoio e estímulo ao processo sobre o qual reflete. Se os sonhos só podem nascer e encontrar espaço na imaginação e na criatividade, são justamente os mesmos que permitem o desenvolvimento de soluções criativas para problemas e inovações, responsáveis pela criação de novas realidades.
introdução
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CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
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CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Em 2015, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, com 17 objetivos globais que deveriam ser implementados para que o desenvolvimento, em todas suas esferas, aconteça de maneira sustentável. Por desenvolvimento sustentável, compreende-se o desenvolvimento que atenda as necessidades da população mundial atual sem comprometer as gerações futuras. Nesse contexto, a Cultura é um elemento essencial para que o Desenvolvimento Sustentável seja uma realidade. A manutenção e preservação das manifestações culturais e da identidade dos povos, bem como patrimônios materiais e imateriais, são essenciais para que no mundo atual, e no mundo em construção, tenha espaço para a diversidade cultural e a manutenção dos povos em todos os lugares do mundo. As manifestações culturais e artísticas, enquanto elementos essenciais para o desenvolvimento da cultura dos povos e os benefí-
cios imateriais a nível individual e coletivo do contato com tais manifestações diversas, é também essencial para a manutenção e o desenvolvimento econômico, social e político das sociedades. As características desse desenvolvimento, pautado principalmente no desenvolvimento pessoal e de estruturas que estimulem relações de trocas predominantemente positivas, direta ou indiretamente, para os envolvidos, bem como, no geral, a independência da utilização de recursos naturais para tal desenvolvimento, constitui a cultura como um importante vetor de desenvolvimento sustentável, afetando todas as esferas da sociedade. Levando isso em consideração, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), adota a cultura e a preservação cultural como elementos fundamentais para o Desenvolvimento Sustentável, a realização dos Objetivos de Desensolvimento Sustentável(ODS). E se faz cada vez mais essencial, bem como uma realidade, que os governos também coloquem a cultura como fator estratégico de desenvolvimento social e econômico na agenda governamental de cidades e países.
Figura 1: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
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CULTURA E OS
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável traçam metas ambiciosas – a serem cumpridas até 2030 - para a criação e manutenção de um mundo mais igualitário, inclusivo e justo para todos. Sucessor dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), 8 metas estabelecidas pelas Nações Unidas para serem cumpridas até 2015, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável acrescentam um fator essencial para o aumento da responsabilidade de todos para que tais metas sejam alcançadas. Enquanto os ODM colocavam a responsabilidade de seu cumprimento prioritariamente nas mãos dos governos, os ODS estabelecem a importância do desenvolvimento de novas relações de governança e maior participação de todos os agentes da sociedade para seu desenvolvimento.
CULTURA E O
DESENVOLVIMENTO
Enquanto a Cultura se relaciona diretamente com vários desses objetivos – que vão desde o fim da pobreza e da fome até o desenvolvimento de energias limpas e manutenção da biodiversidade -, ela possui uma relação intrínseca à realização e implementação de cada um dos objetivos. Em especial, a Cultura possui um importante papel no desenvolvimento de um mundo em que a Igualdade de Gênero e o empoderamento de todas as mulheres e garotas (ODS 5) seja um imperativo; e apresenta, também, infinitas possibilidades para a promoção do desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável, bem como oportunidade de emprego e trabalhos descentes para todos (ODS 8); pode ser um importante elemento de redução das desigualdades entre e dentro de países (ODS 10); bem como possui um papel fundamental no processo de construção de cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis (ODS 11).
URBANO SUSTENTÁVEL Atualmente, metade da população mundial – 3,5 bilhões de pessoas - moram em cidades, e a projeção é que esse número alcance 60% da população em 2030. A concentração populacional em aglomerados urbanos constitui, por consequência, grandes desafios e oportunidades. Como garantir que o desenvolvimento urbano construa oportunidades de acesso igualitário, constituindo espaços de encontro, e não de segregação? Como os aglomerados urbanos
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podem constituir oportunidades de desenvolvimento social e econômico para todos, bem como acesso universal a serviços básicos? Como garantir que o desenvolvimento e expansão das cidades ocorra sem comprometer os recursos naturais ou com aumento da poluição e violência, especialmente em países em desenvolvimento? Em um mundo globalizado e sob constante transformação, marcado por significativos fluxos migratórios, como garantir a coexistência pacífica de povos de diferentes culturas nos centros urbanos?
CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Figura 2: Festival das luzes de Lyon, França. ©Melville B.
Os questionamentos e desafios são incontáveis e diversos, tanto a nível global, quanto de acordo com as particularidades de cada local. Nesse contexto, a cultura é um elemento fundamental para o desenvolvimento urbano sustentável. Em especial, levando-se em consideração que as cidades são construídas e constituídas por pessoas, e que a cultura possui um papel fundamental no desenvolvimento de cidades mais humanas e inclusivas, de diversas maneiras diferentes. Essa relação se constitui presente tanto em transformações na infraestrutura física e social das cidades, bem como na constituição de espaços de inclusão, igualdade e diversidade cultural. Com a globalização, fluxos habitacionais e migratórios colocaram em evidência a necessidade de coexistência pacífica entre povos de diferentes culturas nos centros urbanos. Com esse contexto, se constitui, também, a oportunidade de desenvolvimento de novas características culturais, que por consequência modifiquem o espaço urbano, por conta do intercâmbio de diferentes culturas. A inclusão cultural, levando
em consideração tais diferenças, também constitui desafios a serem vencidos, como a criação de acesso igualitário a recursos culturais e econômicos e a necessidade de coexistência pacífica e tolerante no espaço urbano. A criatividade e as manifestações artísticas e culturais, por sua vez, constituem um importante vetor de desenvolvimento urbano, econômico e social, cujo desenvolvimento no contexto da cidade, além de criar espaços mais atrativos e estimular a ocupação dos espaços públicos, é centrado nas pessoas e no desenvolvimento da escala humana. A cultura e a criatividade, são, também, importantes elementos na construção e preservação da identidade de povos e na regeneração de espaços urbanos, possuindo potencial de empoderamento e desenvolvimento de capital humano, criando inúmeras outras oportunidades de desenvolvimento. A intrínseca relação entre a criatividade e a inovação constitui, também, um aspecto fundamental no desenvolvimento de espaços urbanos mais
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resilientes, igualitários e sustentáveis, constituindo por si só um recurso para desenvolvimento urbano. O desenvolvimento criativo e cultural estimula, também, a criação de novas governanças, atribuindo maior potencial de transformação e desenvolvimento aos próprios habitantes, o que se reflete nas cidades e na consequente construção de centros urbanos e espaços mais agradáveis e atrativos para a população. Enquanto a incorporação das indústrias criativas como vetores de transformação econômica e urbana correm o risco de serem integradas pelo planejamento estratégico voltado para a reprodução do capital e pode ocorrer de maneira desassociada dos pequenos e médios agentes, perpetuando a retenção de capital e concentrando oportunidades para poucos, as mesmas também acontecer com visão de empoderamento de produtores e realizadores locais, em atuação simbiótica com suas respectivas comunidades e lhes atribuindo um caráter de maior participação no desenvolvimento cultural, econômico e urbano de suas cidades.
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O desenvolvimento da cultura contemporânea e suas diversas manifestações, enquanto possuem potencial de acontecer no âmbito dos espaços urbanos, também desenvolvem e regeneram estruturas e espaços culturais. Não obstante, também têm um importante papel na integração social e no desenvolvimento econômico e é capaz de estimular uma melhor ocupação de espaços urbanos, tanto de maneira independente, quanto com subsídio do estado e de instituições privadas. A preservação cultural, por sua vez, também possui uma relação próxima com a manutenção do patrimônio material e imaterial, também apresentando potencial de desenvolvimento urbano, econômico e social. O turismo sustentável, como exemplo dessas possibilidades, é um dos principais vetores de crescimento econômico ao redor do mundo, agregando povos e criando novas estruturas de inclusão social e geração de oportunidades.
CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
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CIDADES SENSÃVEIS
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CIDades Sensíveis
BIG
DATA Para o desenvolvimento de centros urbanos mais inclusivos e centrados nas pessoas, é essencial obter informações a seu respeito e suas características atuais, para que seja possível analisar seus potenciais e desafios e seu processo de desenvolvimento seja mais efetivo. Inovações tecnológicas, que estão implementando transformações em todas as esferas da vida nas cidades no Século XXI, apresentam também, por sua vez, oportunidades para melhor compreensão das cidades e de seus habitantes. Com tais informações, é possível desenvolver soluções para os problemas que elas enfrentam com maior eficiência.
Nos últimos anos, foi fortalecido a presença da Big Data em todos os tipos de indústrias e áreas do conhecimento. O termo se refere à enorme quantidade de informações e dados criados e coletados a todo o tempo, bem como seu impacto em negócios e a oportunidade que traz de levar a insights e a melhores decisões estratégicas à partir de sua análise e compreensão. A Big Data, por sua vez, é também possível de ser implementada no contexto das cidades e os diversos aspectos para que sejam lugares melhores de serem vivenciados por seus habitantes – seja em sistemas de transportes, culturais ou de infraestrutura -, bem como na criação de um novo tipo de capital de desenvolvimento. A melhor compreensão sobre a cidade e seu desenvolvimento está intimamente ligado, por consequência, com transformações urbanas.
OPEN
DATA O caráter de abertura característico e pertinente a tais processos abre caminho, também, também, para o desenvolvimento de novas governanças e relações entre pessoas e órgãos com a própria cidade. O movimento de Dados Abertos (Open Data) por parte de diversos governos ao redor do mundo, oferece maior abertura e transparência para a população sobre suas próprias cidades, bem como oferece a oportunidade de contribuição por parte de especialistas e entusiastas na criação de apresentações e visualizações desses
dados, oferecendo autonomia e mecanismos para que a população tenha a possibilidade de contribuir com a compreensão e análise da cidade, e por consequência, do estabelecimento de uma visão crítica e uma autonomia para desenvolver soluções para problemas da mesma. Cidades como São Francisco (EUA) e Londres (Reino Unido) oferecem grandes volumes de dados abertos para acesso pelo público com informações sobre muitos aspectos da cidade, com informações sobre cultura, transportes e sistemas de água, dentre muitos outros.
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Figura 3: San Francisco Open Data.
VISUALIZAÇÃO
DE DADOS A compreensão de inovação social por meio do Design e Ciência é um dos motes principais do Senseable City, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). O laboratório apresenta e cunha o termo Cidades Sensíveis, que leva em consideração a emergência de novas relações e maneiras de compreender as cidades e de desenvolver novas soluções para seus problemas, principalmente levando-se em consideração as informações obtidas através do monitoramento e análise das cidades e dos aspectos que a compõem. Desenvolvendo projetos próximo a governos, o laboratório desenvolve “ferramentas para que aprender sobre as cidades – para que as cidades possam aprender sobre nós”. Uma das principais ferramentas utilizadas pelo laboratório para o desenvolvimento de tal processo é o desenvolvimento e a criação de visualizações de dados e mapeamentos.
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A visualização de dados é uma ferramenta essencial para a compilação e compreensão da enorme quantidade de dados disponíveis. Em 2014, uma matéria da Revista de Tecnologia Wired afirmava: Dados são o novo petróleo da Economia Digital. E isso se dá especialmente por se levar em consideração que o uso e a extração de informações corretas de bancos de dados garantem uma importante oportunidade de insight estratégico para empresas e companhias. Dados isoladamente, no entanto, dificilmente cumprem o potencial de passar as informações que carregam e os potenciais de criação de insights estratégicos. A compreensão de dados sobre cidades não poderia ser diferente. Levando isso em consideração, o desenvolvimento de ferramentas e maneiras de apresentação e visualização gráfica de dados passa a ser uma etapa importante na condensação e apresentação de informações que carregam consigo.
CIDades Sensíveis
“DADOS SÃO O NOVO PETRÓLEO
DA ECONOMIA DIGITAL” Wired, 2014.
Na intersecção entre arte e ciência, a Visualização de Dados cumpre a função de comunicar informações de maneira clara e atribui valores para os dados apresentados, sendo um elemento estratégico pra extração das informações que um determinado banco de dados carrega consigo.
Este projeto encontra na visualização de dados e na criação de mapeamentos um elemento fundamental para compreender, especificamente, a relação entre o desenvolvimento da Economia Criativa em Brasília e seu processo de ocupação e desenvolvimento no espaço urbano da cidade.
Figura 4: City Ways, projeto do MIT Senseable City Lab.
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economia criativa
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economia criativa
ECONOMIAS
CRIATIVAS Existem diversas Economias Criativas. A compreensão do que é Economia Criativa e as áreas de atuação que se encontram sob tal espectro possui diferentes atribuições, e pode variar de acordo com a definição predominantemente adotada em cada local. Em algumas definições, Economia Criativa se limita exclusivamente à geração de valor econômico à partir de áreas que utilizam diretamente a criatividade como material de produção. Outras definições, por sua vez, incluem sob o espectro de Economia Criativa áreas que utilizam a criatividade direta ou indiretamente para o desenvolvimento de soluções e inovações, incluindo setores como a Biotecnologia. É importante levar-se em consideração, também, que a criatividade é essencial para a concepção de basicamente qualquer atividade de desenvolvimento econômico. A discussão e a pluralidade de compreensões sobre o que é a Economia Criativa constitui por si um grande material de estudo que, para meios de desenvolvimento deste trabalho, não serão aprofundados, apesar de constituir uma reflexão importante de ser estimulada. Com isso em mente, será utilizada a compreensão de Economia Criativa conforme apresentada pelo escritor inglês John Howkins, precursor do termo, como um conceito atribuí-
do à criação de valor agregado à partir do desempenho de atividades criativas, e que possui um elevado potencial de desenvolvimento econômico, social e comunitário. Nesse contexto, atribui-se também, livremente, o elevado potencial de Desenvolvimento Urbanístico, levando-se em consideração a relação intrínseca da constituição de tal desenvolvimento de maneira sustentável. Dentre as diferentes sistematizações da Economia Criativa e das Indústrias Culturais, como o Modelo de Círculos Concêntricos e o Modelo do Instituto UNESCO de Estatísticas, este projeto irá adotar o Modelo do Departamento de Cultura, Mídia e Esportes do Governo Britânico(DCMS), que compreende a Economia Criativa como “atividades que possuem sua origem na criatividade, habilidade e talento individual, e que tem um potencial para criação de riqueza e de empregos através da geração e exploração de propriedade intelectual(British Council, 2012)”. Em tal modelo, 13 Indústrias são consideradas criativas: Publicidade, Arquitetura, Mercado de Artes e Antiguidade, Artesanato, Design, Design de Moda, Cinema e Audiovisual, Video Games, Música, Artes Performáticas, Publicações, Software e serviços computacionais, Televisão e Rádio.
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GENIUS
LOCI Em latim, Genius Loci é um termo que designa o espírito do lugar. A compreensão do termo na cultura clássica romana, indica um espírito que atua como protetor de um local, e essencialmente implica nas qualidades intangíveis de um lugar, passível de apreensão material ou imaterial, desenvolvido a partir de uma construção cultural coletiva não intencional. Devido a tal conjunto de características e apreensões intangíveis, e seu consequente impacto na produção criativa e no desenvolvimento cultural de um determinado local, o Genius Loci possui uma intrínseca influência em sua criação artística e criativa. Por sua vez, é também um dos principais elementos que desenvolvem as características específicas pertinentes a tal local, que se traduzem em valor agregado, justamente pelo fator de exclusividade na manifestação em questão e o valor simbólico e imaterial que carrega consigo. A nível criativo, essa manifestação pode ser compreendida e exemplificada de inúmeras maneiras possíveis. A arte do xilogravurista José Francisco Borges, o J. Borges, por exemplo, só é passível de carregar integralmente todas as características temáticas e estilísticas por conta do contexto e o referencial imaterial e histórico que carrega da cultura local do povo do sertão nordestino. E é justamente esse fator que permitiu o reconhecimento universal de seus trabalhos, dentro e fora do Brasil, e constituindo também um importante elemento de manutenção e preservação cultural dos povos que representa. O desenvolvimento e a propagação de tais manifestações artísticas não constituem, somente, um
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importante vetor de desenvolvimento econômico e social para tais povos. Mas, também, um elemento fundamental de preservação e valorização do patrimônio cultural e imaterial dos mesmos. Na Economia Criativa, a manifestação do genius loci na criação e constituição de uma cultura e suas demonstrações culturais cumpre o papel de manutenção da diversidade em um mundo em que as trocas e influências culturais são cada vez mais intensas, mas muitas vezes se refletem de maneira desigual na influência de relações norte-sul do planeta. É por sua vez, também, um importante agregador de valor econômico e social, bem como um elemento que estimula um senso de pertencimento e coletividade, especialmente por meio das manifestações culturais e artísticas. Ainda levando em consideração os reflexos da globalização, a preservação de manifestações culturais e artísticas, bem como de suas características, ainda que o intercâmbio e a troca de influências culturais seja natural, é o que garante que sociedades preservem aspectos importantes de sua cultura e sua construção social e comunitária. E é justamente o que faz com que mantenham seu valor cultural e possuam maior representatividade e valor agregado a nível local, nacional e global. Não por acaso, diversas manifestações culturais brasileiras, como a música popular ou o Frevo do Carnaval de Recife – que é Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO – possuem enorme reconhecimento internacional, e estimulam tanto a preservação de tais manifestações e dos elementos simbólicos culturais que carregam consigo, bem como o desenvolvimento econômico e social dos artistas atuantes e suas comunidades.
economia criativa
Figura 5: Moça Roubada, de J. Borges.
ECONOMIA CRIATIVA E O DESENVOLVIMENTO
´ SUSTENTAVEL A Economia Criativa tem um papel próximo à preservação da identidade cultural e as manifestações culturais dos povos, conforme apresentado anteriormente. É também um importante vetor de desenvolvimento sustentável, social e economicamente, tendo um grande potencial da manifestação de tal desenvolvimento no desenvolvimento urbano e a criação de cidades mais habitáveis para seus habitantes. A inovação, intrínseca a seu progresso, é também um elemento fundamental para a elaboração de soluções para problemas atuais, em todos os níveis, áreas e contextos. O desenvolvimento focado nas pessoas e baseado no desempenho de atividades criativas
possui, também, um importante potencial de empoderamento social e progresso econômico daqueles que desempenham tais atividades e suas comunidades, por influência e consequência direta ou indireta. Considerando o atual momento de crise econômica e política no Brasil e em outros lugares do mundo, a Economia Criativa oferece uma oportunidade essencial de desenvolvimento econômico à partir de atividades conectadas à cultura local e capazes de beneficiar as comunidades locais nesse processo. Tal modelo de desenvolvimento também pode envolver um senso de coletividade, pertencimento e comunidade, cujo aprimoramento apresenta um grande potencial de inclusão e estímulo de mobilidade social, es-
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pecialmente se acontece com a elaboração de políticas públicas adequadas, eficientes e inclusivas, para que esse processo não seja limitado a algumas camadas sociais. Ainda levado em consideração esse perfil para outros locais do mundo, que enfrentam, também, diversos desafios de ordem humana, a consideração de um desenvolvimento cultural, especialmente em meios urbanos, em que a coexistência é uma necessidade, constitui um meio para o desenvolvimento humanitário e a integração social de populações marginalizadas, como populações imigrantes, e oferece uma oportunidade de desenvolvimento da diversidade cultural e de intercâmbio no contexto das artes, da cultura e do desenvolvimento urbano. No Brasil, devido às complexidades e peculiaridades da marcada extração social, que perpetua um histórico de exclusão e segregação social, o desenvolvimento das atividades da Economia Criativa e de atividades criativas, principalmente por meio da valorização cultural - inclusive das manifestações não consideradas “de qualidade” pelo estabelecimento cultural predominante e fortemente pautado na influência norte-sul da constituição do que é cultura – das artes desenvolvidas no país, e influenciada pelo Genius Loci de cada local em que é produzida, apresenta também um grande potencial de inclusão social e elevação social de parcelas da população hoje marginalizadas. Não somente para tais parcelas, o estímulo desse desenvolvimento é essencial também para a criação de um panorama mais sustentável para o desempenho de atividades artísticas e criativas no país, com frequência marcado pela dificuldade de subsistência econômica de artistas e realizadores. Com todos esses aspectos em mente, o desenvolvimento e o estímulo das atividades
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locais de empreendimentos da Economia Criativa são importantes elementos na criação de um país mais próspero, com uma base de atividade econômica mais sustentáveis, uma compreensão coletiva fortalecida do sentimento de pertencimento à cultura do país, bem como a preservação dos elementos simbólicos materiais e imateriais dessa cultura, possuindo reflexos internos e externos: Sociedades mais inclusivas, seguras e, por consequência, melhores centros urbanos; e um desenvolvimento econômico e social mais autônomo e sustentável. A nível coletivo, o momento atual de crise constitui, como é pertinente para tais momentos, uma possibilidade de ressignificação de padrões. E, em tal contexto, o desempenho e fortalecimento de atividades da Economia Criativa como uma importante oportunidade de desenvolvimento. A nível individual dos atores envolvidos no processo, bem como daqueles que virão a ser de acordo com as oportunidades apropriadas, um enorme potencial de crescimento pessoal, mobilidade social e prosperidade econômica, especialmente se, num panorama governamental, coloque-se o incentivo às indústrias criativas e culturais como um item fundamental na agenda de desenvolvimento a nível local, estadual ou nacional, de maneira que melhore o acesso e a inclusão de pessoas de diferentes camadas sociais nesse processo, bem como exista mais subsídios para a manutenção e o apoio para um crescimento e desempenho sustentável para todos aqueles envolvidos em tais atividades. Tais aspectos têm o potencial de estimular a criação de sociedades mais abertas à diversidade cultural e propensas à realização das poderosas transformações pessoais e coletivas que a arte e o desempenho de atividades criativas podem realizar.
economia criativa
ECONOMIA CRIATIVA NO BRASIL E NO MUNDO Enquanto a cultura e as manifestações artísticas e criativas brasileiras possuem, historicamente, conforme mencionado, extrema representatividade e notoriedade internacional, o panorama da Economia Criativa no Brasil é marcado por um momento de expansão, porém, carregado de inúmeros desafios. Ao redor do mundo, a Economia Criativa se desenvolve tanto com caráter formal, quanto informal – o que às vezes é até mesmo pertinente para o tipo de atividade desenvolvida -, no Brasil, o setor ainda é extremamente marcado pela informalidade. Reflexo dessa informalidade, no país, ainda existe uma dificuldade de configuração das atividades criativas e artísticas como Indústrias, o que dificulta o estabelecimento de um caráter oficializado para o exercício de tais atividades. Tal estado possui reflexos negativos tanto para aqueles envolvidos em tais atividades, quanto para os próprios governos, que perdem a oportunidade de estimular o desenvolvimento das mesmas como vetor de criação de empregos, de arrecadação tributária e de desenvolvimento econômico e social. Segundo o Relatório ‘Mapping Brazil, Creative Industries, Creative Cities’, desenvolvido pelo Centro de Cooperação Internacional Dutch Culture, “ao contrário de alguns países europeus e asiáticos, onde novos programas introduziram um caráter multidisciplinar para projetos relacionados à Economia Criativa, o Brasil retém a polarização entre cultura e indústria”. Tal caráter se reflete na perda de inúmeras oportunidades de desenvolvimento econômico e social. Apesar da notoriedade da riqueza e do caráter inovativo da cultura e da economia criativa bra-
sileira, bem como sua influência a nível global, o desenvolvimento de políticas públicas no setor ainda é incipiente e insuficiente, e o próprio estudo do perfil de tal Economia no país ainda consiste como um objeto mais relevante até mesmo para estudos externos, como o estudo supracitado do Dutch Culture, ou o estudo do British Council, que também desempenha projetos de incubação para desenvolvimento da Economia Criativa brasileira. Lugares do mundo em que a Economia Criativa é assumidamente adotada como um importante vetor de desenvolvimento, é estimulado a criação de centros e hubs de análise, estudo e estímulo ao desenvolvimento da Economia Criativa a nível local e da integração e intercâmbio a nível regional e global. Cidades como Edimburgo e Dundee, na Escócia, e Berlim, possuem núcleos governamentais de incentivo e ajuda a indivíduos e negócios de Economia Criativa, estimulando a conexão e a ação conjunta entre tais elementos, e constantemente gerando estudos sobre o perfil e o desenvolvimento de tal economia a nível local, levando em consideração as particularidades e oportunidades de cada setor da Economia Criativa. Em tais locais, iniciativas e organizações privadas e governamentais oferecem subsídios e recursos materiais e intelectuais para o desenvolvimento de novos empreendimentos criativos, de maneira que tenham mais chance de prosperar e se desenvolver de maneira oficial e formalizada, garantindo assim maior possibilidade de retorno e acompanhamento a nível governamental. O supracitado British Council, iniciativa do governo inglês, a nível de exemplo, gera relatórios e estudos que apostam e reforçam a importância da Economia Criativa para o desenvolvimento econômico e urbano, espe-
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Figura 6: Watershed Impact Hub, Bristol.
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cialmente nos tempos de crise a nível global, conforme vivenciado nos últimos anos. Alguns desses relatórios, disponíveis gratuitamente pela instutição e, frequentemente, em diversas línguas, incluem manuais práticos para o mapeamento das indústrias criativas a nivel local, relatórios sobre o crescimento da economia criativa ao redor do mundo e manuais de suporte para empreendedores criativos.
desenvolvimento econômico, urbano e social de tais locais, também gerando impactos, conforme o British Council, “na geração de empregos, novos produtos e serviços, desenvolvimento e retenção de talentos, educação informal, regeneração urbana, pesquisa e desenvolvimento, novas conexões, modelos inovadores de organização, melhoria na qualidade de vida e resiliência”.
Não obstante, em países europeus, o desenvolvimento de Hubs Criativos se intensificou nos últimos anos, bem como a criação de redes de conexão e intercâmbio entre esses hubs, que são essencialmente espaços de conexão e fomento à nova economia urbana. Eles também cumprem o supracitado papel de formação e criação de oportunidade para agentes e empreendedores novos ou já em atuação, possuindo um importante papel no
No Brasil, por sua vez, também é possível se verificar o aumento na existência de instituições e organizações com intenção de fomentar a Economia Criativa local. No entanto, ainda se faz difícil, especialmente por ausência ou insuficiência de conexão, intercâmbio e incentivo governamental, de se observar uma consolidação desses sistemas e seu estabelecimento como vetores fundamentais do desenvolvimento nacional. Tal característica reflete na insuficiência
economia criativa
de elaboração de estudos a nível local, que constituem por sua vez, um obstáculo para a análise de oportunidades e desafios para que tal crescimento aconteça e os potenciais adequados sejam alcançados completamente. Tais questões possuem reflexos negativos internamente e externamente. Enquanto diversas oportunidades não são desenvolvidas pela dificuldade do estabelecimento de redes de conexão, novos empreendimentos e iniciativas correm o risco de se desenvolver na margem da informalidade e sem o apoio necessário para que tenham as competências e informações necessárias para prosperar, e tais elementos geram uma cadeia de efeitos negativos a nível econômico e social: Ocorre a perda de talentos por migração para lugares mais propícios para o desempenho de tais atividades, podendo, por sua vez, gerar uma concentração desequilibrada de pessoas em alguns poucos conglomerados urbanos do país; perde-se a oportunidade do desenvolvimento de intercâmbios e de exportação de produtos criativos desenvolvidos no Brasil, e por consequência, perda de enormes potenciais de geração de emprego e renda, bem como oportunidades de inclusão social e econômica para populações marginalizadas ou com pouco acesso, o que também constitui-se como não desenvolvimento de talentos, o que possui reflexo nos centros urbanos do país e na manutenção de problemas sociais já conhecidos. E são esses apenas alguns dos efeitos negativos das oportunidades que são perdidas. Enquanto tal Economia possui um caráter fortemente colaborativo, e seu desempenho estimula o desenvolvimento de novas relações de governança e do fortalecimento de instutições envolvidas, o incentivo governamental possui um importante papel para seu fortalecimento. No país, inúmeros programas de incentivo à cultura são desenvolvidos e apoiados por go-
vernos a nível local e nacional, constituindo um importante elemento para o desenvolvimento e a sustentabilidade cultural e econômica para todas as manifestações artísticas. No entanto, atualmente, o país carece de políticas públicas e planos bem definidos para o desenvolvimento da Economia Criativa à parte do fomento de iniciativas artísticas e culturais, que correspondem somente a uma parte dos setores abrangidos por tal Economia. Em 2015, a então Secretaria da Economia Criativa, a nível federal, foi extinta. Por sua vez, o último plano da Secretaria da Economia Criativa, com políticas, diretrizes e ações, compreendia os anos de 2011 a 2014. Ou seja, o país se encontra há diversos anos sem um plano governamental claro e eficiente para o desenvolvimento da Economia Criativa no país. O ministro da cultura na altura do desenvolvimento deste trabalho, Sérgio Sá Leitão, afirmou em entrevista concedida à Folha de São Paulo em agosto de 2017 que o desenvolvimento da Economia Criativa constituía como uma prioridade, ressaltando a dificuldade de delimitação e compreensão geral da população e dos próprios governos da Economia Criativa como atividades com dimensão econômica, atribuindo o valor necessário para o tema. O ministro afirma, também, que deixaria o ministério ao fim de 2018 dotado de diretrizes, políticas e ações voltadas para a Economia Criativa. Até o fechamento deste, não foi possível constatar se tais diretrizes e políticas haviam sido executadas conforme previsto pelo mesmo. Por sua vez, algumas instituições no país possuem um importante papel no desenvolvimento de estudos e referências importantes para a compreensão a análise do desenvolvimento da Economia Criativa a nível local e nacional, como a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro(FIRJAN), que, a cada três anos, lança um diagnóstico e Mapeamento das Indústrias Culturais no Brasil.
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A coleta e a apresentação de informações sobre o desenvolvimento da Economia Criativa constitui um dos desafios para seu desenvolvimento a nível local. É possível considerar a existência de dois eixos de desenvolvimento da Economia Criativa no país, com as determinadas demandas e desafios pertinentes a cada um deles. A nível macroeconômico, existe a demanda por maior desenvolvimento e monitoração, desenvolvimento de territórios criativos, estudos, pesquisas e marcos legais. A nível microeco-
nômico, a demanda por fomento à empresas criativas e a formação para complexos criativos, redes e coletivos. Tais desafios influenciam, também, no desenvolvimento da Economia Criativa a nível local e no cumprimento de sua oportunidade de desenvolvimento econômico nas cidades. A nível de comparação, Rio de Janeiro, cidade brasileira com maior participação da Economia Criativa no PIB da cidade, com 20% de participação. A participação no PIB de cidades como Barcelona e Amsterdam, no entanto, chegam a 70%.
Figura 7: Região do Porto Digital, Recife.
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economia criativa
A ECONOMIA CRIATIVA
E A REGENERAÇÃO URBANA NO BRASIL
O desenvolvimento de conglomerados possui importante papel na atração, concentração e criação de redes de intercâmbio, produção cultural e criativa e incentivo à Economia Criativa no país. Por consequência, também, de desenvolvimento e regeneração urbana. Um dos principais e mais consolidados centros é o Porto Digital, em Recife, cidade notória por sua expressividade cultural, inclusive na geração de artistas com representatividade nacional e internacional. Atualmente procedido do Porto Mídia, tais iniciativas realizadas na região portuária do Recife antigo constitui uma iniciativa clara de estabelecimento da Cultura, da Criatividade, da Tecnologia e da Economia Criativa como vetor de desenvolvimento econômico, social e regeneração urbana, constituindo um papel relevante na atração e retenção de talentos por meio da criação de oportunidades e oferecimento de estrutura e apoio para o desenvolvimento de projetos criativos no local, focado essencialmente no fomento ao capital humano como vetor de transformação. Criado em 2000, atualmente 267 empresas situam-se no local, de acordo com o site do Porto Digital, bem como universidades e ór-
gãos governamentais. Constituindo um elemento importante na propagação e fortalecimento da representatividade da cidade a nível nacional e internacional, especialmente como espaço de relevância cultural e importante centro de desenvolvimento de indústrias tecnológicas no país, a região também abriga eventos e encontros em tais setores, como a convenção de música Porto Musical. A convenção é o mais importante encontro voltado para profissionais de música do país, realizado há cada dois anos, desde 2005, constituindo um ponto de intercâmbio entre membros de todas as cadeias da Indústria da música a nível local e internacional, que em paralelo com o evento, também realiza apresentações musicais que estimulam, ainda mais, a cultura como importante meio de agregação entre pessoas, ocupação urbana, inclusão social e desenvolvimento econômico. O importante exemplo do Porto Digital explicita o enorme potencial de transformações, criação de oportunidades, regeneração urbana e desenvolvimento sustentável no estabelecimento da Economia Criativa no coração do desenvolvimento econômico e social do país, bem como a viabilidade de tal realização com a concentração adequada de esforços e incentivos públicos e privados.
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cidades
criativas “AS NOSSAS CIDADES SE TORNARAM
MAIS IMPORTANTES DO QUE EM QUALQUER ÉPOCA DA HISTÓRIA HUMANA” Richard Florida
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cidades criativas
Cidades criativas são cidades que encontram soluções criativas para seus problemas. Considerando a demanda crescente por soluções para os desafios enfrentados pelos centros urbanos no contexto de seu desenvolvimento, se faz necessário que governos, comunidades e indivíduos encontrem soluções para a resolução dos problemas da cidade em todos seus espectros. Por meio da consideração e da busca por soluções para tais problemas é que se encontra o caminho para o desenvolvimento de cidades mais inclusivas, resilientes e seguras. Nesse contexto, e levando em consideração o potencial de desenvolvimento econômico do desempenho de atividades criativas e culturais, tais elementos possuem um grande potencial de contribuição com o desenvolvimento social e econômico de centros urbanos. Enquanto todas as cidades podem ser criativas no que diz respeito à resolução de problemas e implementação de medidas estratégicas inovadoras, cidades criativas são especialmente aquelas que assumem a cultura como vetor principal de desenvolvimento econômico, social, comunitário e urbano. Nesse contexto, o desenvolvimento da Economia Criativa em tal contexto tem um papel primordial, uma vez que garantir que a Economia Criativa tenha as condições necessárias para prosperar e se desenvolver em tais locais é garantir, também, que esse desenvolvimento seja realizado e que os agentes envolvidos nesse processo encontrem espaço e oportunidade para o acontecimento de suas atividades profissionais, lhes permitindo, por consequência, maior atuação no papel de transformação social.
Como consequência do desenvolvimento apropriado de tais condições, as cidades passam, também, a ter mais condições de se desenvolver de maneira sustentável e resiliente quanto a seus desafios, oferecendo melhores espaços urbanos para seus moradores e desenvolvendo outras estratégias de desenvolvimento econômico, social e comunitário. Por consequência, sendo também espaços de inovação e laboratórios para a criação de soluções pertinentes a problemas locais ou globais. Enquanto Cidades Criativas e o desenvolvimento da Economia Criativa coloca novos agentes no centro da progressão, ela permite que novas classes sociais passem a ter mais espaço e representatividade. A classe criativa, que possui papel fundamental na Economia Criativa e na constituição das Cidades Criativas, possui, por sua vez, demandas que têm estimulado transformações em estruturas tangíveis e intangíveis, bem como urbanas, em cidades ao redor do mundo. A globalização estimula a disseminação de serviços, experiências e culturas pelo globo. Tal constituição pode estimular uma homogeneização cultural e apresentar desafios para a preservação de características e culturas locais, especialmente levando-se em consideração o caráter de desequilíbrio nos fluxos de exportação cultural e a já citada predominância de influência cultural dos países das regiões norte, mais desenvolvidos, sobre as regiões sul do globo. As cidades criativas, por sua vez, possuem uma forte relação com a manutenção do equilíbrio entre tais aspectos. Mas não está isenta, no entanto, de tais desafios e oportunidades.
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A CLASSE
CRIATIVA A classe criativa, termo cunhado pelo economista e sociólogo Richard Florida, compreende os agentes responsáveis pelo crescimento econômico das sociedades por meio da criatividade. Inclui profissionais de áreas artísticas e científicas que concebem novas idéias, tecnologias e conteúdos criativos. Florida descreve a classe criativa em dois segmentos de trabalhadores: os profissionais criativos e o núcleo super criativo. O primeiro inclui profissionais que trabalham nas áreas de negócios, finanças e educação, enquanto o segundo compreende cientistas, enegenheiros, artistas, designers e afins. O autor descrevia tal classe como aquela que exerceu forte influência no desenvolvimento das cidades pós-industriais dos Estados Unidos, mas é possível compreender tal classe como a responsável, também, pelo exercício de tal influência em boa parte das cidades – especialmente de médio e grande porte – ao redor do mundo. No decorrer de livros seminais, Florida discute os anseios, necessidades e prioridades dessa classe, e se faz inevitável a relação entre ela, o incremento da economia criativa e do potencial de desenvolvimento sustentável econômico e socialmente. Tais transformações possuem uma relação íntima e profunda com os espaços urbanos, em especial os centros urbanos. A globalização e a informatização trouxeram a inédita oportunidade de crescimento profissional e estabelecimento pessoal em qualquer lugar do mundo em paralelo com a manutenção do exercício de atividades profissionais e econômicas. Supostamente, por tal caráter, era esperado que o desenvolvimento de cidades como cen-
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tros de atração de pessoas se constituiria em um elemento de segundo plano, uma vez que o espaço digital seria o principal espaço a ser levado em consideração para o progresso da vida das pessoas envolvidas em tal processo ou em atividades profissionais que permitissem tal estilo de vida. Enquanto cidades, poderia se esperar, logo, uma dispersão de capital humano e uma diminuição na sua importância estratégica para o desenvolvimento desses novos setores da economia, cada dia mais representativos e associados com as principais transformações que o mundo passa. No entanto, aconteceu o oposto. Apesar da maior liberdade para o desenvolvimento de atividades econômicas e profissionais remotamente, as cidades passaram a ser espaços de ainda mais atração e concentração dessas novas classes, em especial pela relação que possuem com a disponibilidade de serviços e infraestrutura cultural e oportunidades de encontros e desenvolvimento de projetos. As cidades passaram, por sua vez, a apresentar um papel que extrapolava o papel político ou econômico: Passaram a ser tanto simbólicas quanto estratégicas. Nesse contexto, algumas cidades do mundo passaram a atrair tais classes com mais força, principalmente pela gama de oportunidades que apresentavam, seu caráter mais tolerante e multicultural e sua riqueza de variedades e programas culturais. Não por coincidência, algumas dessas cidades são as cidades mais representativas quando consideram-se as Economias Criativas e as Indústrias Criativas, como Berlim e Nova York. A atração e a retenção dessas classes passou, por consequência, a estimular o desenvolvimento econômico de tais cidades. Tal fator
cidades criativas
passou, por sua vez, a também ser um fator estratégico para outras cidades ao redor do mundo, que à partir de seus potenciais e vocações, puderam se transformar em centros de atração e retenção de talentos, e por consequência, de investimentos, das indústrias criativas e de tecnologia, em especial. O desenvolvimento de tais características passou a exercer influências nesses centros urbanos e em suas particularidades. Algumas de maneira positiva, outras não. Naturalmente, a atração de investimentos e o desenvolvimento econômico gera reflexos na infraestrutura e na configuração desses centros urbanos. Enquanto um reflexo positivo de tal processo pode ser a ocupação de áreas desocupadas com empreendimentos e serviços de áres criativas, estimulando uma melhor vivência urbana de tais locais, tal processo também pode gerar a expulsão das populações originais de tais locais devido à especulação imobiliária que pode decorrer de tais processos. A presença de serviços e características físicas e culturais semelhantes ao redor do mundo, decorrentes da globalização, oferece uma considerável ameaça à manutenção das características originais da manifestação cultural no espaço urbano. Considerando-se que tais classes estão na frente dos principais processos de desenvolvimento econômico no mundo atualmente, o que atribui um característico poder de compra e bem-estar econômico às mesmas, tal configuração contribui também com uma ameaça à possibilidade de manutenção de comunidades nativas das cidades, o que está relacionado, de maneira cíclica, à perpetuação das características culturais tradicionais em tais espaços. Os valores proibitivos de aluguel em São Francisco, principal pólo de atração de trabalhadores da indústria tecnológica e digital, por conta do Vale do Silício, são um exemplo de tal processo. O processo de gentrificação nas
principais capitais do mundo também são um exemplo de um processo análogo, que gera a expulsão de populações locais devido ao aumento do preço de alugueis por conta da maior ocupação de espaços urbanos, inicialmente por classes criativas, que encontram nesses espaços locais supostamente mais baratos e interessantes em detrimento a outras áreas mais ‘estabelecidas’ desses centros urbanos, processo que é seguido pela instalação de estruturas do grande capital que geram a repulsa dessas classes e a consequente ocupação de outras regiões locais e mais baratas do que os valores que a região ocupada inicialmente passou a ter. Ainda levando-se em consideração tais desafios, cabe ao governo a aplicação das medidas pertinentes, bem como à própria sociedade civil, que por meio de uma ocupação mais consciente e em sintonia com as características do local, participem de tal processo de maneira menos predatória, ainda que inconscientemente. Também levando em consideração as características de tal classe, se faz essencial a compreensão de seu papel no desenvolvimento urbano e econômico, bem como os potenciais desdobramentos positivos de seu estabelecimento e aglomeração em um determinado centro urbano. Em Cidades e a Classe Criativa, Florida estabelece princípios que as cidades devem ter para atrair a classe criativa. Levando em consideração a relação apresentada entre a classe criativa, o desenvolvimento da Economia Criativa a nível local e as cidades criativas como cidades que estabelecem a cultura como vetor de desenvolvimento sustentável, compreende-se, apesar dos desafios, essa relação como positiva para as cidades. Tais princípios são baseados nos três ‘T’s: talento, tolerância e tecnologia. Tais princípios passam, por consequência, tam-
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bém, a serem importantes para o desenvolvimento da Economia Criativa e do cumprimento de seu potencial em qualquer cidade. Compreendendo a Economia Criativa como extremamente pautada no desenvolvimento e na atuação pessoal de seus agentes, que podem vir a ter papel estratégico e de extrema influência a nível local e na propagação das qualidades e características culturais do local a nível nacional e/ou internacional, ainda considerando o panorama da globalização e do infinito potencial de intercâmbios, a retenção e a atração de talentos é um dos aspectos primordiais para o desenvolvimento das cidades criativas. Para o cumprimento de tal processo, leva-se em consideração as diversas vantagens e estruturas que as cidades devem ter para conseguir estimular e desenvolver os talentos locais. Deve-se lhes atribuir oportunidades de desen-
volvimento pleno de potenciais, bem como de retê-los e atuar na atração de mais talentos em diferentes níveis. Tais estruturas, no geral, constituem-se como apreciação e desenvolvimento cultural, qualidade de vida e espaços de estímulo e criação de oportunidades. A tolerância também passa a ter um papel primordial, ainda levando em consideração o caráter globalizado do desenvolvimento dessa cultura e as características dessas classes, bem como o oferecimento de infraestrutura tecnológica adequada para o desenvolvimento das iniciativas em tais setores. É possível perceber, por consequência, uma relação cíclica entre os processos de tais populações e o desenvolvimento da Economia Criativa e, do cumprimento da vocação de centros urbanos para cidades criativas e, por consequência, dos potenciais de desenvolvimento e regeneração urbana que carregam consigo.
Figura 8: Festival South By Southwest(SXSW), Austin.
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cidades criativas
ECONOMIA CRIATIVA E O
DESENVOLVIMENTO
URBANO Conforme apresentado previamente, a Economia Criativa é um importante meio de desenvolvimento e regeneração urbana. Enquanto pode acontecer num âmbito ampliado, como em cidades inteiras, esse progresso pode se refletir especificamente em algumas regiões de uma determinada cidade. Para a observação e análise de tal processo é importante levar-se em consideração os potenciais e vocações de desenvolvimento das cidades e regiões, para que seja conduzido e criado eficientemente. Num contexto de cidade, a cidade americana de Austin, no Texas, vivenciou uma intensa transformação econômica em detrimento do surgimento e desenvolvimento de diferentes setores da economia criativa em diversos momentos de sua história recente. Nos anos de 1980, o estabelecimento de duas companhias de tecnologia, à partir de ação conjunta entre estado e setor privado, estimulou a atração de trabalhadores e negócios do setor de tecnologia, passando a atribuir, com o tempo, um caráter de região de concentração desse setor, seguido da criação de mais de 100 mil empregos desse seguimento na cidade. Ainda nos anos de 1980, o festival South by Southwest foi criado na cidade, estimulando o desenvolvimento da música como outro importante setor da Economia Criativa na cidade. Atualmente uma convenção de música, arte, tecnologia e comédia, o festival atrai anualmente cerca de 370 mil pessoas à cidade e estimula o movimento de mais de 300 milhões de dólares no período, e foi fundamental para o desenvolvimento da música como um elemento primor-
dial na atração e retenção de talentos à cidade, bem como num intenso desenvolvimento econômico pela criação direta e indireta de empregos, atração de investimentos e o incremento do turismo. A cidade abriga mais de 200 casas de show e emprega mais de 50 mil pessoas no setor cultural, e atualmente, estabeleceu oficialmente a cultura como um dos principais vetores de desenvolvimento da cidade. A UNESCO estabelece a cultura no coração da regeneração urbana e da inovação, com um papel crescente em estimular a revitalização de espaços públicos, a reabilitação de áreas indústriais em declínio e o estímulo desenvolvimento econômico. Enquanto o desenvolvimento urbano à partir da criatividade e das Indústrias Criativas, mais especificamente, agrega uma série de desafios para cidades que já passaram ou ainda vão passar por tal processo de desenvolvimento, as oportunidades de desenvolvimento de uma cadeia de vantagens nesses locais também é factual. Segundo o Centro para o Futuro Urbano (Center for the Urban Future, 2015), Nova York abrigava, em 2013, 8,6% de todos os postos de trabalho da indústria criativa nos Estados Unidos. Na segunda metade da primeira década dos anos 2000, regiões fora de Manhattan, especialmente no Brooklyn, como Williamsburg e Bushwick, começaram a receber uma grande quantidade de artistas e trabalhadores dos setores criativos que migravam de Manhattan devido ao aumento nos valores de alugueis. Tal processo estimulou tanto um período de intenso desenvolvimento econômico nessas regiões, especialmente por via do progresso da
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Figura 9: Williamsburg, Nova York.
Economia Criativa e de criação de infraestrutura, postos de emprego e oportunidades, quanto um período de crescimento e estímulo de ocupação de espaços não utilizados e revitalização urbana em tais regiões, que passaram a estimular, também, o incremento do turismo, outro fator que estimulou a economia local. Em alguns anos, a região passou a abrigar diversas estruturas para a Economia Criativa, como casas de shows, lojas, cafés e restaurantes, bem como empresas de pequeno e médio porte dos setores criativos e tecnológicos. Tais fatores estimularam a ressignificação e o desenvolvimento do local por diversas vias. Conforme mencionado, tal processo não se deu isento de reflexos negativos e impactos que, para análise dos benefícios desenvolvidos, precisam ser levados em consideração quando utilizado como estudo de caso. A gentrificação e o aumento dos preços de aluguel causou a repulsa da população original, e, atualmente, gerou o próprio processo de repulsa da população e empreendimentos criativos, que também não conseguiram acompanhar
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o aumento em tais valores. Nesse contexto, Nova York, como cidade que possui uma influência relevante da Economia Criativa em sua prosperidade econômica e cultural, está também experienciando a intensa evasão de criativos, que têm migrado para cidades como Los Angeles, que também abrigam os potenciais de desenvolvimento e, por enquanto, apresentam alugueis mais acessíveis que Nova York. Impactos do desenvolvimento econômico e regeneração urbana pelo estímulo da Economia Criativa também aconteceram em diversas outras cidades ao redor do mundo, como Berlim, em regiões como Kreuzberg e Neukölln, e Londres, especialmente em regiões do leste da cidade, como Shoreditch. Ainda que acompanhadas das mesmas complexidades indicadas em Nova York, essas regiões também desenvolveram inúmeras oportunidades, atraindo empreendimentos, estimulando a economia local, a revitalização de espaços públicos e a projeção internacional de tais cidades como importantes pólos de cultura e criatividade, o que também resulta na retenção e atração de talentos.
cidades criativas
REDE DE CIDADES CRIATIVAS DA UNESCO O estabelecimento da cultura como vetor estratégico no desenvolvimento sustentável no desenvolvimento urbano, é um elemento com ascendente importância na agenda de desenvolvimento das Nações Unidas. Nesse contexto a Rede de Cidades Criativas da UNESCO foi criada em 2004 com objetivo fundamental de promover conexão e cooperação entre cidades que identificaram a criatividade como vetor estratégico de desenvolvimento. Em 2017, 180 cidades em 72 países integram a rede, com o objetivo e compromisso comum de, segundo a descrição no site da rede, “colocar a criatividade e as indústrias culturais no coração dos planos de desenvolvimento a nível local, e cooperando ativamente a nível internacional”. Ainda segundo o site da rede, as cidades que passam a integrar a rede assumem o compromisso de compartilhar práticas e desenvolver parcerias no setor público, privado e na sociedade civil para fortalecer a criação, produção e distribuição de bens e serviços culturais; desenvolver hubs de criatividade e inovação, estimulando a criação de oportunidades para profissionais do setor; ampliar o acesso e a participação à vida cultural e “integrar completamente a cultura e a criatividade nos planos de desenvolvimento sustentável”.
Distribuídas em sete setores criativos, as cidades estabelecem um setor de maior representatividade na Indústria Criativa local, se comprometendo com o fortalecimento de práticas especialmente, mas não somente, no mesmo. O desenvolvimento dos diferentes campos estimula, também, o intercâmbio e incremento de parcerias e troca de experiências entre cidades integrantes do mesmo setor, o que pode acontecer por meio de encontros, convenções, intercâmbio de agentes e artistas e afins. As sete áreas criativas determinadas pela Rede são: Design, Cinema, Media Arts, Artesanato e Arte Tradicional, Gastronomia, Literatura e Música. Atualmente, 8 cidades no Brasil integram a Rede de Cidades Criativas. Belém, Florianópolis e Paraty, como Cidades Criativas da Gastronomia; Santos, como Cidade Criativa do Cinema; Salvador, como Cidade Criativa da música; João Pessoa, como Cidade Criativa do Artesanato; Curitiba e Brasília como Cidades Criativas do Design. A representatividade e a relevância da Rede de Cidades Criativas estão em um momento de intenso estímulo e desenvolvimento, inclusive a nível nacional.
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brasĂ?lia
e a economia criativa
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brasÍlia e a economia criativa
BRASÍLIA E
A REDE DE CIDADES CRIATIVAS DA UNESCO A inscrição de Brasília na Rede de Cidades Criativas da UNESCO, feita pela Secretaria de Turismo do Distrito Federal, apresenta inúmeras oportunidades de desenvolvimento da Economia Criativa a nível local, como a atração de investimentos, fortalecimento do turismo e atração e retenção de talentos. Enquanto Brasília como cidade administrativa e com um significativo patrimônio arquitetônico e urbanístico estimulam um tipo de turismo à cidade, a consolidação e o progresso da criatividade e da Economia Criativa a nível local apresentam uma oportunidade valiosa na propagação de outras vocações e qualidades da cidade e de sua população. Enquanto o turismo e o valor simbólico do patrimônio da cidade, há 30 anos Patrimônio Cultural Mundial da UNESCO, são essenciais no desenvolvimento econômico e artístico local, o reconhecimento nacional e internacional da produção local contemporânea amplia o foco para as qualidades atuais da cidade, não somente suas características históricas. A inscrição no Setor de Design, que sucede uma primeira candidatura não bem sucedida no Setor da Música, em 2015, carrega um potencial extremamente atrelado às vocações e características desenvolvidas na cidade nos últimos anos, que enquanto já possuem representatividade nacional, ainda não cumpriram completamente seu potencial, também pela natureza anacrônica da compreensão das pessoas acerca da cidade e os reflexos negativos do caráter político e administrativo que carrega consigo. Tal realização traz o potencial de transformações profundas na compreensão da cidade, suas características e produção criativa, tanto no desenvolvimento de novas relações de pertencimento e identidade, quanto de reconhecimento, valorização e desenvolvimento econômico e social. E por
consequência, também, de desenvolvimento e regeneração urbana. Brasília enquanto Cidade Criativa do Design irá desenvolver e multiplicar oportunidades, especialmente pela troca de experiências e intercâmbio com cidades do mundo inteiro. Por enquanto, além de Brasília, Curitiba e Buenos Aires são as únicas Cidades Criativas do Design na América do Sul, o que naturalmente desenvolverá a atenção para o Design local e os agentes e artistas envolvidos em tal processo, desempenhando papel de atração de um novo tipo de turismo, bem como de talentos e infraestrutura para o progresso desse setor a nível local, especialmente pelo consequente compromisso adotado pelo governo do Distrito Federal, na altura da inclusão na rede, de colocar a criatividade no coração do desenvolvimento sustentável local. Como parte da rede, a cidade terá um intercâmbio direto com cidades como Berlim, Pequim, Montreal, Helsinki, Budapeste e Seoul, dentre muitas outras, e levando em consideração o caráter crescente da rede, que aceita inscrições anualmente.
Figura 10: Marca, Brasília Cidade Criativa do Design.
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O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA
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DE BRASILIA A vocação de Brasília para o Design remete ao período de construção e crescimento da cidade. O desenvolvimento da arte e da criatividade na cidade, direta ou indiretamente permeada e envolvida em sua arquitetura, foi sempre representativa e marcada por uma característica forte e peculiar ao local. Isso remonta desde a atuação do artista plástico Athos Bulcão, cujo trabalho com azulejos pela cidade, inclusive em edifícios simbólicos, como o Palácio do Itamaraty, dialoga com as características da cidade e se funde com ela. O desenvolvimento da Economia Criativa brasiliense nos últimos anos, direta ou indiretamente, também estabelece um intenso diálogo com a cidade, seja para homenageá-la ou questionar suas complexidades e contradições. A influência e a incorporação do Genius Loci brasiliense na produção criativa local e na produção de sua Economia Criativa desenvolveu uma característica marcante e peculiar de tais trabalhos. E essencialmente, carregam uma valorização do patrimônio cultural material e imaterial da cidade, estimulam o desenvolvimento econômico e social sustentável local e, principalmente, se comprometem com a propagação do valor cultural da Brasília Contemporânea, levando em consideração sua história, mas não se definindo exclusivamente por ela e assumindo a cidade como um corpo em constante transformação e movimento. Nesse aspecto, a relação da Economia Criativa de Brasília está intimamente conectada com o urbanismo da cidade – levando-se em consideração a compreensão de Brasília como o Plano Piloto e as Cidades Satélites. Por um lado, tal configuração estimula a diversidade cultural da produção local, especialmente pela pluralidade cultural de cada região da cidade, bem
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como apresenta um material de inspiração e reafirmação cultural, tanto pela relação da cidade com a natureza, o conjunto arquitetônico e urbanístico e as peculiaridades culturais desenvolvidas na cidade; por outro lado, dificulta a articulação e a ação do desenvolvimento da Economia Criativa num nível urbano, bem como as potenciais transformações que podem vir de tal, uma vez que o distanciamento geográfico pode dificultar a criação de conglomerados e dispersar empreendimentos que poderiam se fortalecer e ter mais oportunidade de prosperar caso se concentrassem, configurando clusters de empreendimentos criativos, propiciando um desenvolvimento mais consistente de tal economia a nivel local. Também levando isso em consideração, o desenvolvimento da Economia Criativa na cidade nos últimos 5 anos aconteceu extremamente conectado com o próprio questionamento do papel da população em relação à cidade, e desempenhou uma importante função na ocupação de espaços públicos e o estímulo à valorização e engajamento da população com a produção local. Para o desenvolvimento deste trabalho, foi levado em consideração o surgimento e disseminação de dois fenômenos que estimularam a projeção e articulação de empreendimentos criativos locais e autorais, que caracterizam o caráter da economia criativa da região como fortemente colaborativa, de caráter auto-organizado e descolado de grandes empreendedores e financiadores da economia criativa: as Feiras e Lojas Colaborativas. No dia 21 de Abril de 2012 – aniversário de 52 anos da cidade - aconteceu a primeira edição do Picnik no Calçadão, no recém inaugurado
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deck da Asa Norte. O evento, realizado em um sábado à tarde na beira do Lago Paranoá, reuniu algumas dezenas de produtores e empreendedores criativos, principalmente locais, e contou também com uma pista de dança, também configurando um espaço cultural, que acompanha o evento em diferentes escalas até atualmente. A ocupação do espaço público do Deck por uma enorme quantidade de pessoas – lugar que se tornou um importante espaço de lazer para a população local -, passou a ser uma das principais características do evento, que no decorrer dos, até então, 5 anos, teve 25 edições realizadas em diversos espaços abertos da cidade, como o Centro Cultural Banco do Brasil(CCBB), o Jardim Botânico, a FUNARTE, o Parque da Cidade e a Torre de TV, bem como espaços pouco conhecidos ou visitados, como a Praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano. O evento, que atualmente movimenta ao menos 7000 pessoas em suas edições, também conta com edições bem sucedidas fora do Distrito Federal, em Goiânia e São Paulo.
À partir de tal período, e levando em consideração a já existência de algumas feiras criativas em espaços públicos da cidade na altura, houve a criação e o desenvolvimento de inúmeras outras feiras voltadas para a exposição de produtores da Economia Criativa, variando entre si em perfil, tamanho e público alvo. No geral, no entanto, mantendo a essência de ocupação de espaços públicos, aspecto que desenvolveu uma relação próxima entre a Economia Criativa local e a ressignificação da relação de seus habitantes com o espaço da cidade, estimulando uma relação de maior empoderamento sobre a possibilidade de construir coletivamente uma cidade de acordo com as necessidades e aspirações da população contemporânea, ainda que sob influência do urbanismo da cidade, notável por suas peculiaridades e as vantagens e desafios que oferece. O desenvolvimento dessa relação de coletividade e colaboração passou também, por consequência, a integrar os genes da Economia Criativa local.
Figura 11: Primeira edição do Picnik no Calçadão, 2011. ©Thum Thompson
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A Feira Livre, por exemplo, é uma feira comumente realizada no Eixão do Lazer, o Eixo Rodoviário que abre nos dias de domingo para a ocupação da população, especialmente para a prática de exercícios físicos e o acontecimento de encontros interpessoais. Geralmente realizada na altura do final da Asa Norte, a feira possui uma relação próxima com a liberdade de manifestação artística e atividades culturais diversas, como música e circo, e é compreendida como um evento que, além de estimular a Economia Criativa Local, marcado pela ausência de taxas para participação do evento, é também um evento que estimula estilos de vida e a diversidade cultural na cidade, chegando a reunir milhares de pessoas em cada edição. O desenvolvimento dos empreendimentos criativos locais, especialmente após a oportunidade advinda do espaço de divulgação e comércio característico de tais feiras, estimulou um processo de maior profissionalização e oficialização, abrindo espaço para todas as vantagens pertinentes a tal processo, em especial o desenvolvimento econômico e social,
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levando-se em consideração a sustentabilidade de perfil. De acordo com dados e informações coletadas com empreendedores, organizadores de feiras e criadores de lojas colaborativas, diversos empreendimentos que, inicialmente, eram atividades de geração de renda secundária para seus produtores, passaram a oferecer condições de se transformar em atividades primárias, ou ao menos, apresentar mais oportunidades de prosperar e gerar benefícios diretos para a sociedade civil, a iniciativa privada e o estado. Com tal processo, houve o surgimento de inúmeras lojas colaborativas, atualmente presentes em diversas regiões da cidade – tanto no plano piloto, quanto nas cidades satélites. Procedidas pela Endossa, filial de loja colaborativa de São Paulo, atualmente com duas unidades na cidade, tais lojas apresentam ao empreendedor as vantagens e oportunidades do estabelecimento de um espaço físico para
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comercialização de seus produtos, como a perenidade da entrada de caixa nos empreendimentos em detrimento a quando tal comércio é ocasional ou depende da venda online, bem como a maior divulgação em tal processo e a infraestrutura oferecida pelas lojas para os expositores mediante o pagamento de taxas de manutenção. Enquanto o estabelecimento de uma loja física individual é acompanhada de elevados custos de investimento e manutenção, que nem sempre conseguem ser pagos pelo pequeno ou médio empreendedor do setor, as lojas colaborativas oferecem as vantagens do espaço físico sob menor investimento. Tal processo apresenta diversos benefícios diretos e indiretos à cidade, socialmente e economicamente. Estimula a atração e aumento de investimentos, geração de postos de trabalho, a arrecadação de impostos e o desenvolvimento urbano dos locais em que se inserem, especialmente pela regeneração urbana e o acontecimento de atividades culturais e criativas em tais regiões, uma vez que estimulam, também, o de-
senvolvimento de outros setores da Economia Criativa local. Em paralelo, o forte apelo do perfil comunitário também traz diversos benefícios para a relação afetiva dos moradores com a cidade, a cultura e a produção local, estimulada por movimentos como o #feitoembsb, que estimulam a valorização das características culturais materiais e imateriais da cidade. Levando em consideração os diferentes setores da Economia Criativa, para este estudo será adotado especialmente aqueles relacionados diretamente com o desenvolvimento do perfil apresentado, inclusive pela proximidade com o estabelecimento de Brasília como Cidade Criativa do Design, e os potenciais de desenvolvimento que apresentam à partir do mesmo. Estudos específicos sobre outras Indústrias Criativas na cidade, como a música o cinema, também devem acontecer e apresentam potencial de apresentar importantes insights, especialmente pela atual expansão de tais setores na cidade, e o desenvolvimento de sua representatividade a nível nacional.
Figura 12: Picnik Festival 2015, Praça dos Cristais. ©Tomas Faquini
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SOBRE O Mapeamento da Economia Criativa do Distrito Federal advém da crença profunda na Cultura como importante vetor de Desenvolvimento Sustentável e no potencial de criação de incontáveis oportunidades e progresso econômico, social e urbano. O projeto adequa essa compreensão ao contexto do desenvolvimento da Economia Criativa do Distrito Federal. Levando em consideração o atual cenário desses setores na cidade, se constitui um importante momento de análise e observação de potenciais e desafios, especialmente para os encaminhamentos mais adequados à partir de agora. Às vésperas de um eminente momento de transição para um período de maior reconhecimento da produção local a nível nacional e internacional, este projeto se propõe a oferecer um subsídio para a compreensão do desenvolvimento da Economia Criativa local entre os anos de 2013 e 2017, período fundamental para a consolidação e fortalecimento de alguns dos setores da Economia Criativa local e o desenvolvimento de características próprias da produção local. Os exemplos e estudos de caso apresentados anteriormente indicam oportunidades e desafios a serem levados em consideração para esse processo de desenvolvimento, especialmente as complexidades associadas com a ocupação dos espaços urbanos das cidades em questão. O projeto considera o desenvolvimento da Economia Criativa local no meio urbano importante para o estímulo da criação de oportunidades e de transformações urbanas. O desenvolvimento de mapeamentos, elemento principal da pesquisa, consiste em visualizações do desenvolvimento e a ocupação geográfica do crescimento da Economia Criativa a nível local, criados por ferramentas de geopro-
cessamento e design gráfico. Os mesmos foram realizados à partir da coleta e organização de dados sobre os empreendimentos participantes nas feiras e lojas colaborativas, e a pesquisa e organização individual de dados geográficos dos mesmos à partir de informações disponíveis nas redes sociais e levantamento com as lojas. Tais mapeamentos levam em consideração os seguintes setores da Economia Criativa local, de acordo com predominância na participação em feiras e lojas colaborativas: Artes, que aborda produtos diretamente criados por processos artísticos, atribuindo valor agregado a eles; Moda, em suas diversas criações; Gastronomia, considerando a comercialização de alimentos nos contextos do mapeamento; Publicações, incluindo zines e editoras; e Design, incluindo desde objetos de decoração a acessórios. O material, desenvolvido à partir da coleta de dados com a loja colaborativa Cria Brasília e as feiras Picnik e Liga Pontos, cria visualizações e condensa informações a respeito do processo apresentado anteriormente, permitindo a observação de como o mesmo se deu no espaço urbano da cidade, suas características e oferecendo subsídio para análise dos mesmos, que condiz com a seção seguinte do material. Tais análises são realizadas tanto no aspecto de números e informações sobre o desenvolvimento da Economia Criativa local nos anos em questão, quanto no aspecto urbano de seu acontecimento. O mapeamento é desenvolvido com a apresentação das visualizações de diferentes edições das duas diferentes feiras, sendo o Picnik auxiliar na compreensão do desenvolvimento a nível das atuações de acordo com as diferentes regiões administrativas, e a Liga Pontos especificamente na distribuição dos empreendimentos nas regiões das cidades do Distrito Federal.
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COMO
FUNCIONA? A organização do mapeamento se dá, principalmente, à partir de dois elementos: As lojas colaborativas e as Feiras. Os mapeamentos das lojas colaborativas, desenvolvidos à partir de coleta de dados com as mesmas, leva em consideração o local em que os produtores são baseados ou possuem loja fixa estabelecida, fornecendo informações sobre a distribuição geográfica do espaço de produção dos empreendedores que expoem nas lojas. Foram desenvolvidos mapeamentos para a Loja Colaborativa Cria Brasília, localizada no shopping Liberty Mall. Os mapeamentos das feiras foram desenvolvidos à partir da coleta de dados com as feiras Picnik e Liga Pontos. Para a primeira, foram desenvolvidos mapeamentos da distribuição geográfica dos expositores participantes entre as edições 22 e 25, todas realizadas no ano de 2016 do evento, à partir de dados gentilmente cedidos pela produção do evento. Foi levado em consideração a informação indicada pelos participantes a respeito da região administrativa onde são baseados. Também foi desenvolvido um mapeamento indicando os locais em que o evento foi realizado entre 2012 e 2017. O desenvolvimento de mapeamentos análogos para os anos anteriores do evento não foram possíveis de ser desenvolvidos por conta da inexistência de dados análogos. Para a Feira liga pontos, foi desenvolvido mapeamentos de todas as edições do evento até o fechamento deste trabalho - 17 edições. Em tais mapeamentos, foi indicado a porcentagem
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de participação dentre os setores determinados para cada edição, bem como o nome de todos os participantes em cada edição, também de acordo com o setor de atuação, e a indicação no mapa da localização do empreendimento, quando o mesmo possui um estabelecimento físico. Também foi realizado um mapa que aponta todos os empreendimentos, à partir do agrupamento dos mapas de todas as edições do evento. O banco de dados para a realização de tais mapeamentos foi desenvolvido pelo autor do projeto, à partir da coleta de informações em páginas online - principalmente do facebook - de todos os empreendimentos participantes de todas as edições, por cada edição do evento. Tal metodologia se deu à partir da ausência de bancos de dados pré-existentes e a metodologia utilizada leva em consideração a conexão entre o perfil dos empreendimentos criativos da cidade e a presença em redes sociais, associada como o principal espaço de conexão entre o público consumidor e os empreendimentos, especialmente à partir do caráter ocasional e não permanente das feiras, espaços responsáveis pela criação de maior visibilidade para tais empreendedores. No decorrer da apresentação dos mapeamentos, são indicadas algumas análises, procedidas de uma seção específica de observações e análise de potenciais, vocações, deficiências do objeto de estudo, especialmente associado com a distribuição geográfica dos empreendimentos, tanto no âmbito do Distrito Federal quanto das diferentes regiões do Plano Piloto - ainda a região administrativa com maior concentração de tais empreendimentos.
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lojas colaborativas CRIA BRASÍLIA A loja coletiva Cria Brasília surgiu no final de 2015, instalada no Shopping Liberty Mall, na região central do Plano Piloto. A loja foca na exposição de produtos de empreendedores do setor de modas, apesar da disponibilidade de produtos de outros setores no local, como livros e acessórios. Em 2017 a loja abriu uma segunda filial em Águas Claras. O mapeamento, desenvolvido à partir de dados coletados com a loja no mês de Agosto de 2017, conta com 35 produtores diferentes, distruibuidos por diferentes regiões administrativas da cidade. Destes, alguns possuem loja física ou também têm produtos expostos em outras lojas colaborativas, enquanto outros possuem espaço físico exclusivo de apresentação de seu trabalho na loja.
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No mapeamento, é possível perceber a concentração de empreendedores de Moda no Lago Norte e na Asa Norte, bem como uma maior concentração de empreendedores de Design na Asa Norte, seguido do Jardim Botânico. A principal concentração de produtores é na Asa Norte, seguida do Lago Norte, e apesar de uma maior diversidade de produtores baseados na Asa Sul, não existe uma presença forte em tal região. Apesar da presença de empreendedores baseados em outras regiões administrativas, o Plano Piloto e regiões adjacentes, como o Sudoeste e o Cruzeiro, constituem a origem principal dos expositores da loja.
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Feiras PICNIK Realizado desde abril de 2012, o Picnik conta com edições realizadas em diversos locais do Distrito Federal, além de edições realizadas nas cidades de Goiânia e São Paulo. Alguns locais receberam mais de uma edição, como a Praça dos Cristais, que recebeu três edições do formato de Festival musical do evento, realizado em dois dias seguidos. O deck da Asa Norte, localizado na beira do lago, por sua vez, recebeu 10 edições do evento. Desde 2014, especialmente pela proporção do evento - que cresceu vertiginosamente dentre os anos de sua realiação -, algumas edições no decorrer do ano acontecem no Estacionamento 4 do Parque da Cidade, contando com público participante superior a 7000 pessoas.
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Um dos principais motes do evento é a ocupação de espaços pouco ocupados da cidade e o estímulo de uma ocupação criativa dos mesmos. Nesse sentido, o evento, gratuito, tem um importante papel no desenvolvimento de novas relações entre os habitantes e os espaços públicos da cidade. Enquanto espaços como a Ermida Dom Bosco e o CCBB recebem um grande volume de visitantes, especialmente nos finais de semana, locais como a Concha Acústica e a Praça dos Cristais eram frequentemente apontados como locais nunca visitados por uma quantidade razoável dos participantes. E isto se dá tanto pela distância dos mesmos, quanto da ausência de equipamentos de diversão e comércio em suas adjacências, o que faz com que sejam lugares, no geral, pouco frequentados. No decorrer do ano de 2016,
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cerca de 1500 expositores apresentaram seus produtos nas 4 edições do evento. Em cada uma dessas edições, segundo dados cedidos pela produção do evento, ao menos 50% dos expositores já haviam apresentado seus produtos em edições anteriores do evento, enquanto ao menos 18% participavam como expositor(a) pela primeira vez, apesar de já ter participado do evento como público anteriormente. Tal dado indica que, apesar da presença de participantes frequentes, cujo crescimento potencialmente está direta ou indiretamente associado ao evento e sua influência no crescimento da Economia Criativa do Distrito Federal, o mesmo ainda é uma importante plataforma de apresentação dos produtos de novos expositores, especialmente pelo espaço de conexão com novos públicos.
Em todas as edições do ano em questão, ao menos 21% dos expositores concentravam-se no Plano Piloto, enquanto nas edições 22, 23 e 24, havia também uma presença relevante de expositores de Águas Claras(8 - 10%), Guará(8%)Sobradinho(6%) e Taguatinga(8%), regiões que apresentaram potencial de fortalecimento de tais setores da Economia.
Em todas edições, mais de 60% destes apresentavam produtos autorais, ao menos 64% possuiam a atividade exercida como principal fonte de renda e mais de 56% possuiam atividade formalizada. Somente de 25 a 32% dos expositores, no entanto, tinham algum suporte governamental ou haviam participado de programas de instituições como o SEBRAE e o Governo do Trabalho do Distrito Federal.
Na última edição do mesmo ano, no entanto, regiões como o Lago Norte e o Jardim Botânico também indicaram aumento no número de expositores no evento, com 6% e 5%, respectivamente. Em todas as edições observadas, regiões como o Cruzeiro e o Gama também indicavam um maior número de participantes, se comparado com as demais regiões administrativas, com entre 2 e 3% do número total de participantes. Em todas as edições do ano de 2016, ao menos 7% dos participantes eram de fora do Distrito Federal, o que aponta uma importância do evento no estímulo da projeção de Brasília como um importante centro regional e nacional de Economia Criativa, fato que, naturalmente, estimula outros setores da economia local, como os setores de hotelaria e gastronômicos, bem como estimula a o intercâmbio com produtores locais e o potencial de projeção dos mesmos em outras regiões do país.
Tais dados indicam que o número de empreendedores no Distrito Federal ainda está em ascensão, que feiras como o Picnik ainda são um importante espaço de apresentação e incentivo aos mesmos e que o desempenho de tais atividades possuem uma importância fundamental para o desenvolvimento econômico dos produtores e da região. No entanto, ainda é possível verificar um caráter informal a uma quantidade significativa dos produtores, bem como seu desempenho sem o apoio de instituições ou órgãos governamentais. E tais fatores são extremamente prejudiciais para o fortalecimento da Economia Criativa na região e uma maior sustentabilidade e longevidade para tais empreendimentos.
Apesar dos indícios de aumento no número de participantes de outras regiões administrativas além das principais regiões apontadas, e do potencial que apresentam, indica, por sua vez, que ainda existe uma ausência ou pouca expressividade de participação de empreenedores de outras regiões administrativas. Isto pode indicar tanto a potencial ausência de incentivo ao desenvolvimento de tais setores em tais regiões, o que compromete a ação dos benefícios oriundos de tal crescimento econômico em tais regiões; bem como uma articulação enfraquecida de tais setores em um nível regional, bem como de intercâmbio de produtores e alcance de públicos potenciais nas diferentes regiões administrativas.
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LIGA-PONTOS A feira Liga-Pontos, que até o momento de fechamento desta havia realizado 16 edições, é uma feira que possui um local fixo para sua realização desde a primeira edição, o Café Objeto Encontrado, na quadra comercial da 102 norte. Organizada por empreendedores proprietários de uma marca de roupas da cidade, a feira é voltada, principalmente, para a exposição de produtos autorais dos setores de Design, Moda e Arte, contando também com expositores do setor de Gastronomia e Publicações. Enquanto o foco em alguns setores específicos estabelece uma maior determinação do público-alvo da feira, em comparação com feiras como
o Picnik, a análise do crescimento da feira apresenta informações importantes para a compreensão do desenvolvimento da economia criativa da região à partir de 2013 e como tal processo se deu no espaço urbano da cidade, também com a compreensão da importância do estabelecimento de um espaço físico para o crescimento de boa parte dos empreendimentos. É importante reiterar que os mapeamentos levam em consideração somente os empreendimentos cuja informação de localidade se encontravam nos sites ou páginas no facebook e instagram dos mesmos, aspecto utilizado para assumir que, ao menos uma parcela dos empreendimentos sem informações de localida-
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de disponível correspondem a estabelecimentos sem espaço físico para showroom e venda de produtos. Também levando tal aspecto em consideração, na análise dos mapeamentos da feira no decorrer dos anos é possível perceber um aumento significativo na quantidade de empreendedores com espaço físico indicado, bem como nas regiões em que tal instalação se deu. Ainda considerando tais mapeamentos, boa parte dos empreendedores que participam de tal feira estão instalados no Plano Piloto, ainda que exista a participação de empreendedores de outras regiões administativas. Em tal sentido, os mapeamentos servem como suporte para análise das regiões do Plano Piloto - região administrativa com maior representatividade dos setores em questão - que possuem maior potencial para o estabelecimento de conglomerados de empreendimentos dos setores, levando em consideração os potenciais benefícios de tal processo, previamente apresentados no decorrer dessa publicação. É importante adiantar que algumas das regiões com maior concentração de participantes corresponde a lojas colaborativas cujos expositores também apresentam seus produtos em feiras, o que ressalta a interconexão entre os dois objetos e a importância de ambos na articulação do desenvolvimento da Economia Criativa local. De tais regiões, algumas das principais
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concentrações se dá nas filiais da loja Endossa, nas quadras comerciais da 306 sul e da 310 norte, e , mais recentemente em lojas como a Nós Mercado Criativo, localizada no Shopping Iguatemi(Lago norte); a Lojinha da Virada Verde, no Sudoeste, e a Square Brasília, no Setor Hoteleiro Norte. Nos quadros dos mapeamentos, foram incluidos a quantidade de participantes por cada edição do evento, além do supracitado quadro de percentagem de participação de acordo com o setor, informação que complementa os setores com maior potencial e representatividade na Economia local. Cada setor é apresentado com uma indicação de cor diferente, que é incluido no mapa de acordo com o número apontado na lista de empreendimentos de acordo com setor para cada uma das edições. Em tais quadros, foram incluidos os nomes de todos os participantes da edição, e o participante cujo nome não vêm acompanhado de um número indica que não foi possível encontrar informações de localidade do mesmo. Em cada mapeamento, são incluidos somente os marcadores do setores que tiveram empreendedores em cada edição. Ainda que haja participação de todos os setores, é notável a maior representatividade de empreendedores de Moda, Design e Arte, respectivamente.
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Entre os anos de 2014 e 2015, é possível observar um aumento considerável na quantidade de participantes - que quase dobrou entre as duas edições de 2014 - e em especial na quantidade de empreendimentos com espaços físicos para venda de produtos. Também nesses mapeamentos, é possível constatar a concentração de empreendimentos localizados no Plano Piloto, apesar da existência de empreendimentos com lojas físicas ou espaço de exposição em regiões como o Guará, o Lago Sul e Taguatinga. Os anos em questão foram, também, um dos períodos de maior expansão da Economia Criativa no Distrito Federal, bem como anos em que houve o aparecimento de novas lojas colaborativas e feiras, bem como as mesmas alcançaram altos patamares e um maior número de expositores e visitantes. À partir dos mapeamentos de tais anos, é possível verificar uma concentração de empreendimentos em diferentes regiões do Plano
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Piloto, variando também de acordo com o tipo de setor. Além das supracitadas regiões em que se localizam as filiais da Loja Endossa, pioneira das lojas colaborativas na cidade, é possível verificar o desenvolvimento de uma nova concentração de empreendimentos no Sudoeste, especialmente de Moda e Design; além de uma concentração de estabelecimentos de moda nas primeiras quadras comerciais da Asa Norte, como a 102 Norte, bem como um aparecimento exclusivo de empreendimentos artísticos nas últimas quadras da Asa Norte. Em relação aos anos seguintes, foi verificado uma clara ascenção no número de estabelecimentos com loja física, distribuídos por diversas regiões administrativas, e prioritariamente no decorrer do Plano Piloto. Um processo recente verificado foi, também, empreendedores com diversos pontos de venda(de 3 a 5), o que também estimula o fortalecimento das marcas e da produção local em locais cuja instalação não seria esperada em um primeiro momento, como cafés da cidade.
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ConclusĂŁo
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Conclusão
Ninguém faz nada sozinho. Brasília foi uma cidade que sintetizou o sonho e a visão de alguns. No entanto, só foi possível de ser materializada graças ao trabalho de uma grande quantidade de pessoas provenientes de diversas partes do Brasil. Tal legado, definitivamente acompanha e irá acompanhar a cidade na medida em que passa a ganhar novas características no decorrer do tempo, e vai gradativamente desenvolvendo sua identidade, contemporaneamente, em consonância com a identidade de seus moradores. Nesse sentido, os setores da Economia Criativa a nível local são um dos elementos que mais carregam consigo potencial de estimular tal realização. E com isso, o desenvolvimento cultural e urbano, poderá ter ainda mais influência a nível comunitário, econômico e político da cidade. E todos os indícios apontam que isso não está longe de se realizar. Cabe aos integrantes de tal processo uma capacidade crítica no decorrer do mesmo, bem como consciência da importância do desenvolvimento de suas atividades, ainda que carregada de inúmeros desafios, os quais poderão ter maior possibilidade de serem vencidos se adereçados coletivamente, por meio de uma maior articulação entre os agentes e empreendedores da Economia Criativa local. Em tal processo, o incentivo e suporte do governo local é essencial para a realização das vocações e potenciais da cidade e sua produção. Com isso, Brasília virá a ser conhecida, também, como uma cidade que, apesar de seu caráter político, é uma cidade com uma população extremamente criativa, resiliente e ativa na construção da cidade que quer viver. E esse é um papel fundamental para a população de qualquer cidade do mundo, uma vez que cidades são constituidas por pessoas, e que uma vida citadina não pode se resumir a trajetos ou
espaços privados, e sim por espaços públicos ocupados e em constante movimento. Desde meados de 2012, a Economia Criativa de Brasília se encontra em constante movimento, e têm estimulado a movimentação da cidade, de seus moradores e seus espaços públicos. E não é por acaso que o mote da Feira Picnik, a maior da cidade, é “Uma Cidade em Movimento”. A cidade, que atualmente está caminhando para um novo patamar, também, mas não somente, em sua Economia Criativa, graças ao crescimento dos empreendimentos e ações e de sua candidatura a inscrição na Rede de Cidades Criativas da UNESCO, carrega o potencial de passar por diversas transformações por conta de tal processo. Cabe aos agentes, empreendedores e órgãos responsáveis, a observação e o estabelecimento de parâmetros sobre para a direção que tal crescimento deve dar, especialmente para que ocorra de maneira inclusiva e sustentável a longo prazo. O desenvolvimento desse projeto permitiu apontar alguns processos e constatar que o fortalecimento da Economia Criativa têm ocorrido num nível regional, contando com regiões com forte potencial de crescimento de tais setores, e os quais devem, definitivamente, receber maiores incentivos, eventos e estabelecimentos para fomentar tal processo. No entanto, também é notável a concentração de tais setores no Plano Piloto - uma das regiões administrativas mais prósperas do Distrito Federal -, e uma ausência ou pouca representatividade de empreendedores de muitas regiões administrativas que recebem uma grande quantidade de moradores - como Samambaia -, fator que indica um enfraquecimento de articulação de tais setores num nível regional. Dentre todos os potenciais benefícios pouco desenvolvidos, como a regeneração urbana e a criação de oportunidades sociais e econômicas, há também um aprofundamento no panorama de desigualdade, ainda mais se levando
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em consideração o potencial de estabelecimento da cultura e da Economia Criativa como alguns dos aspectos fundamentais na agenda de desenvolvimento da região. Para tal processo, é preciso criatividade e o estímulo de políticas governamentais de apoio a pequenos e médios empreendedores, como o projeto Território Criativo DF, atualmente em curso, para que o estabelecimento de uma Brasília Criativa não se resuma às regiões administrativas que já apresentam maior participação em tal processo. Considerando o processo de ocupação urbana da Economia Criativa local, que ocorreu intrinsecamente a seu crescimento no período estudado, ficou evidente o processo de maior estabelecimento de lojas e espaços físicos dos empreendimentos dos setores, processo ainda em curso. Também devido a isso, os mapeamentos desenvolvidos apresentam suportes para a observação de locais que apresentam potencial de desenvolvimento e concentração de diferentes setores ou algum setor em especial, como é o caso da vocação das primeiras quadras comerciais da Asa Norte para estabelecimentos de moda, ou quadras que já recebem lojas colaborativas, importantes vetores para o desenvolvimento dos setores na cidade. O processo de concentração de empreendimentos criativos e estabelecimentos culturais e gastronômicos - também levando em consideração tal setor como um setor da Economia Criativa - apresenta um potencial de ocupação da cidade tanto diurna quanto noturnamente, e pode ser fundamental para o desenvolvimento econômico local, a prosperidade dos estabelecimentos e a realização de uma maior repre-
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sentatividade de tais setores a nível nacional e internacional. Conforme apresentado, em lugares do mundo em que isso ocorreu, tal processo foi responsável pelo desenvolvimento econômico das indústrias criativas e a regeneração de espaços urbanos, além de refletir em outros setores da economia, como, por exemplo, por meio da criação de postos de trabalho e o aquecimento do mercado hoteleiro por conta do estímulo ao turismo. Tal processo também possui diversos desdobramentos positivos para a cidade, especialmente no que diz respeito ao capital humano, por conta da atração e da retenção de talentos, o que estimula o desenvolvimento de inovações e transformações positivas nos setores econômicos e na economia local, levando em consideração os elementos que atraem a denominada Classe Criativa, termo cunhado por Richard Florida. Como apresentado nos estudos de caso das regões de Williamsburg, em Nova York, e Kreuzberg, em Berlim, regiões prósperas e relevantes para os setores da Economia Criativa, tal processo deve ocorrer acompanhado de um forte senso crítico e cautela, para que não fomente a gentrificação e outros processo negativos que estimulem a exclusão social e a repulsão de populações locais devido ao aumento no custo de vida de tais regiões. Brasília é, de fato, uma cidade em movimento. Para que seu potencial seja plenamente alcançado, no entanto, ningúem pode ficar de fora de tal processo. E isso depende não somente de cada pessoa envolvida atualmente ou no futuro, mas também de uma articulação a nível regional.
ConclusĂŁo
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Lista de figuras
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Lista de figuras
Figura 1: Objetivos do Desenvolvimento sustentável. Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/desenvolvimento-sustentavel-e-meio-ambiente/134-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-ods Figura 2: Festival das luzes de Lyon. ©Melville B. Figura 3: San Francisco Open Data. Fonte: https://datasf.org/opendata/ Figura 4: City Ways, Senseable City Lab. Fonte: http://senseable.mit.edu/cityways/ Figura 5: Moça Roubada, J. Borges. Figura 6: Watershed Hub Bristol. Fonte: https://visitbristol.co.uk/things-to-do/watershed-p26341 Figura 7: Porto Digital, Recife. Fonte: http://www.portodigital.org/empresas/empresas-embarcadas/empresas-de-economia-criativa Figura 8: Festival South by Southwest, Austin. Fonte: https://www.fuse.tv/2013/02/sxsw-south-by-southwest-festival-guide Figura 9: Williamsburg, Fonte: NY. https://www.compass.com/neighborhood-guides/nyc/williamsburg/ Figura 10: Marca de Brasília Cidade Criativa. Fonte: https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/2017/06/06/brasilia-concorre-ao-titulo-de-cidade-criativa-da-unesco/ Figura 11: Picnik no Deck da Asa Norte, 2011. Crédito: Thum Thompson Figura 12: Picnik Festival na Praça dos Cristais, 2015. Crédito: Tomas Faquini Figura 13: Mapeamento da Loja Colaborativa Cria Brasília. Figura 14: Locais de Realização do Picnik, entre 2012 e 2017. Fora da ordem de realização das edições. Figura 15: Mapeamento de participantes da edição 22 do Picnik, realizada em Abril de 2016. Figura 16: Mapeamento dos participantes da edição 23 do Picnik, Julho de 2016. Figura 17: Mapeamento dos participantes da edição 24 do Picnik, Outubro de 2016. Figura 18: Mapeamento dos participantes da edição 25 do Picnik, Dezembro de 2016. Figura 19: Mapeamento dos participantes da edição 1 da Liga Pontos, Maio de 2013. Figura 20: Mapeamento dos participantes da edição 2 da Liga Pontos, Setembro de 2013. Figura 21: Mapeamento dos participantes da edição 3 da Liga Pontos, Dezembro de 2013. Figura 22: Mapeamento dos participantes da edição 4 da Liga Pontos, Maio de 2014. Figura 23: Mapeamento dos participantes da edição 5 da Liga Pontos, Agosto de 2014. Figura 24: Mapeamento dos participantes da edição 6 da Liga Pontos, Dezembro de 2014. Figura 25: Mapeamento dos participantes da edição 7 da Liga Pontos, Maio de 2015. Figura 26: Mapeamento dos participantes da edição 8 da Liga Pontos, Agosto de 2015. Figura 27: Mapeamento dos participantes da edição 9 da Liga Pontos, Outubro de 2015. Figura 28: Mapeamento dos participantes da edição 10 da Liga Pontos, Dezembro de 2015. Figura 29: Mapeamento dos participantes da edição 11 da Liga Pontos, Maio de 2016. Figura 30: Mapeamento dos participantes da edição 12 da Liga Pontos, Agosto de 2016. Figura 31: Mapeamento dos participantes da edição 13 da Liga Pontos, Novembro de 2016. Figura 32: Mapeamento dos participantes da edição 14 da Liga Pontos, Dezembro de 2016. Figura 33: Mapeamento dos participantes da edição 15 da Liga Pontos, Maio de 2017. Figura 34: Mapeamento dos participantes da edição 16 da Liga Pontos, Agosto de 2017. Figura 35: Mapeamento dos participantes das edições 1-16 da Liga Pontos.
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REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
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