SUSTENTABILIDADE EM REDE DE HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL Localização: O projeto em questão foi desenvolvido para o município de Santa Cruz das Palmeiras, um município localizado na porção nordeste do estado de São Paulo, à aproximadamente 250km da capital paulista e 110km do município de Ribeirão Preto. Santa Cruz das palmeiras é uma cidade pequena, com cerca de 33 mil habitantes atualmente, e sua economia se baseia principalmente na produção sucroalcooleira regida pelas duas grandes usinas de açúcar e álcool presentes no município. A expansão urbana da cidade sempre aconteceu de forma orgânica, tendo seus limites demarcados pela geografia natural do terreno. Esta forma de expansão não planejada, porém, gerou uma série de problemas que são inerentes à maioria das cidades. Houve uma clara segregação da sociedade, na qual o corrego Pessegueiro, que corta a cidade, se tornou um agente de segregação social, dividindo a sociedade com maior poder aquisitivo em uma margem do córrego e a de menor poder aquisitivo na outra margem. Este fato também se deve a construção dos primeiros conjuntos habitacionais criados na cidade. Esta porção do município ficou conhecida popularmente como “Serra” em alusão ao garimpo de Serra Pelada e sua grande concentração de pessoas. Além da segregação social evidente criada pela forma de expansão urbana da cidade, notamos muitas áreas ociosas em bairros já consolidados do município. É muito comum ao se caminhar pelas ruas de Santa Cruz das Palmeiras nos depararmos com lotes desocupados (particulares ou públicos), onde não se têm nenhuma intenção de construir.
Partidos e Premissas: Tendo em vista esta situação dos lotes vazios no município de Santa Cruz das Palmeiras, foi pensada uma forma de ocupa-los. A solução proposta de usá-los para abrigar habitações de interesse social surgiu a partir de um estudo no qual as áreas destes lotes foram somadas e comparadas às áreas dos últimos loteamentos destinados a habitações de caráter popular realizadas pela prefeitura e por programas habitacionais do Estado. A conclusão a que se chegou foi de que se estes lotes que hoje se encontram ociosos fossem utilizados como formas de abrigar habitações de interesse social, não haveria necessidade de se ter criado o último conjunto habitacional inaugurado na cidade no ano de 2008 contemplando 183 famílias. Para realização do conjunto Olga Callegari Bento, foi disponibilizada uma área de 135 mil metros quadrados na área mais periférica da cidade. Tal fato se comprova quando observamos que além do perímetro demarcado pelas últimas ruas do conjunto habitacional já existem plantações de milho e cana-de-açúcar. Ou seja, a população carente novamente foi levada para uma grande área na periferia da cidade, tão na periferia que hoje o conjunto divide zona urbana de zona rural. Além da discrepante segregação social que este tipo de programa habitacional impõe, temos outros problemas como a necessidade de criação de novos equipamentos públicos, tais como creches, escolas e postos de saúde para suprir a demanda da população que fora marginalizada. Também se faz necessária a criação de toda uma nova infraestrutura urbana de saneamento básico; novas redes de água, luz, esgoto, pavimentação, guias e calçadas que são somadas aos custos de se implantar tal conjunto na periferia do município. Quando analisamos os custos de um empreendimento deste porte e nestas condições verificamos que aproximadamente 40% dos custos totais da obra se referem a esta infraestrutura que deve ser criada; ou
Após analisar o perfil das famílias que moram em habitações de interesse social, surgiu a ideia de fragmentar o espaço do banheiro. Normalmente famílias compostas por casais com mais de um filho, desta forma, um banheiro fragmentado permite até 3 usos simultâneos, pois como as atividades acontecem de forma independente, é possível termos uma pessoa tomando banho, outra usando o vaso sanitário e outra usando a pia ao mesmo, o que se torna uma solução muito viável em uma habitação com um único banheiro. Uma abertura na parte de cima dos espaços de banho e de sanitário é responsável por criar uma ventilação cruzada e iluminar estes ambientes.Para que se pudesse separar a sala deste espaço, foi utilizada uma estante, que divide o os ambientes e serve como estocagem. Outro ponto importante que foi levado em consideração foi a possibilidade de ampliação desta habitação. O projeto prevê um espaço na frente da casa que se tornou um espaço curinga. Este espaço conta com 6m² e foi pensado para que o morador possa ter um cômodo extra se assim for necessário. Este espaço pode ser transformado em um quarto extra, uma pequena oficina de trabalho, um local para armazenagem de ferramentas de trabalho, ou uma varanda se o morador não tiver a intenção de aumentar a sua habitação. Neste estudo de caso, o espaço curinga foi transformado em uma estação de trabalho. Levando-se em consideração o perfil das familías que geralmente moram em habitações de interesse social, percebemos que muitos adaptam suas casas para que possam atender clientes nelas. Especificamente para este estudo, o espaço curinga se tornou um pequeno salão de beleza.
seja, no caso do Olga Callegari Bento dos 11 milhões de reais necessários para sua construção, apresentado na licitação, mais de 4 milhões se destinavam a implantação de redes de água, luz, esgoto, terraplanagem, pavimentação, guias, calçadas, arborização e etc. Tendo em vista estes fatores que foram apresentados acima, surgiu o ponto de partida para o desenvolvimento deste projeto; uma forma de se ocupar os lotes vazios da cidade para instalação de habitações de interesse social. Desta forma os custos de execução de nova infraestrutura seriam minimizados ou não existiriam, uma vez que estes lotes vazios estão inseridos em um contexto urbano já consolidado. Mais do que uma economia de custos de implantação destas habitações, que como vimos acima ficaria em torno de 40% mais barata; esta proposta também leva em consideração o caráter social, pois se estas famílias estiverem disseminadas por todo o território do município a segregação social causada pela marginalização destas pessoas alocadas na periferia seria minimizada. Outra forma encontrada para otimizar o sistema de habitação proposto foi a de propor a criação de pequenas vilas sustentáveis nestes lotes vazios. Desta forma, um lote que inicialmente se destinaria a uma única residência unifamiliar pode passar a abrigar mais famílias vivendo em comunidade. A ideia de ser uma pequena vila sustentável surgiu da intenção de que esse sistema causasse o menor impacto possível desde sua construção e seu efetivo funcionamento, e que além disso pudesse se manter com pouco custo aos moradores. Para se atingir este objetivo, o projeto será concebido com materiais de baixo impacto ambiental e pouca geração de resíduos, além de formas de se utilizar os recursos naturais, tais como aproveitamento de água de chuva, utilização de energia solar, compostagem, e formas construtivas ecologicamente eficientes como as tintas a base de terra, os telhados verdes e o steel framing que permite a modulação das habitações, resultando em menos resíduos e otimização do tempo de construção de cada moradia.
Materiais Utilizados:
O projeto em questão tem como objetivo a elaboração de uma vila sustentável com habitações de baixo custo voltadas principalmente para a população de menor poder aquisitivo. Portanto, a solução encontrada parte dos princípios de sustentabilidade como o uso de energia solar, aproveitamento de água de chuva, construções secas como o light steel framing, tintas a base de terra, telhados verdes e o conceito de agricultura de subsistência com a incorporação de hortas urbanas ao projeto.
Light Steel Framing:
O Light Steel Framing é um sistema construtivo estrututurado por perfis de aço galvanizado que trabalhando junto com outros sub-sistemas suporta as cargas da edficação. Devido a sua estrutura leve e distibuição homogênea de cargas, o sistema do Light Steel Framing pode ser utilizado sobre qualquer tipo de fundação, o que torna os custos desta etapa mais baixos, uma vez que os mais utilizados são as fundações rasas como o radier e as sapatas corridas. A vedação deste sistema é feita com placas estruturais que conferem ao sistema características que suportam tanto as cargas horizontais quanto as verticais, bem como as cargas de corte (sismos), motivo de ser muito utilizado em regiões que sofrem com terremotos. Do ponto de vista das instalações hidráulicas e elétricas utilizados por este sistema é exatamente igual ao sistema construtivo de uma casa de alvenaria, mas com a vantagem da agilidade e praticidade na instalação. O Light Steel Framing, ainda permite a utilização de uma gama de materiais bastante diversificada. Por ter esta flexibilidade, não tem grandes restrições projetuais, racionalizando e otimizando a utilização de recursos e o gerenciamento das perdas. É facilmente customizável, além de ser durável e reciclável.
Aproveitamento de água de chuva:
A água é um dos recursos mais importantes para a vida humana; mas na maioria das vezes não é tratada com o devido valor. A preocupação em se aproveitar a água das chuvas em um projeto de habitação social é importante pois neste tipo de projeto, normalmente há uma grande área impermeabilizada do solo, o que dificulta o escoamento natural das águas pluviais. Esta água, ao invés de ser jogada para a rede, pode facilmente ser armazenada e utilizada para diversos fins não potáveis. Portanto esta água se for coletada e armazenada de forma correta é um investimento que se paga dentro de dois a cinco anos aproximadamente, variando de acordo com as dimensões do sistema instalado. Neste caso, por se tratar de um projeto, cujo objetivo é que possa ser adaptado em qualquer tipo de lote, a solução encontrada foi criar um sistema de captação individual na unidade de habitação, e que desta forma possa ser somado ao das outras unidades que formarão a vila criando assim um sitema coletivo de aproveitamento de água de chuva que será utilizado em beniefício de todos os seus moradores. Para isso, o porjeto prevê a criação de telhados verdes nas unidades habitacionais que além de aumentarem a área permeavel do terreno, funcionam também como coletores de águas pluviais, que através de um sistema drenante conduzem esta água até uma cisterna para que seja tratada e possa ser reutilzada. Esta iniciativa além de ser sustentável e gerar uma economia efetiva na conta de água destes moradores, também é um fator de valorização imobiliária do empreendimento.
Telhados verdes:
Os telhados verdes são uma soluçaõ eficiente para a cobertura das edificações. As coberturas das edificações normalmente são construídas com uma certa inclinação e com telhas, o que impossibilita a utilização desta cobertura pelo morado. O telhado verde em contrapartida agrega diversos benefícios quando utilizado. Do ponto de vista térmico e acústico os telhados verdes são extremamente bem sucedidos, pois são capazes de segurar grande parte do calor e dos ruídos do ambiente mantendo o interior da habitação mais agradável. Do ponto de vista ecológico, os telhados verdes são uma forma de contenção de águas pluviais, uma vez que a sua capacidade de permeabilidade é de 50% em relação a permeabilidade da mesma área no solo. Outro ponto positivo neste quesito é a respeito da filtragem do ar, pois os telhados verdes são capazes de absorver parte do CO2 presente na atmosfera dos centros urbanos. Este tipo de cobertura verde também permite que o morador utilize este espaço como uma área de jardim para plantação de alguns tipo s de vegetação de porte menor como hortaliças, vegetação herbácea, flores e etc.
Implantação do projeto:
O terreno está situado no bairro Jardim São Vicente, no município de Santa Cruz das Palmeiras. Este bairro compreende uma área aproximada de 6 hectares e tem seus limites definidos por dois pontos importantes do município; o primeiro deles é a antiga estação ferroviária e o segundo é o córrego do pessegueiro que corta a cidade. Assim como o restante da cidade, o Jardim São Vicente é composto em sua maioria por edificações de gabaritos baixos até dois pavimentos; entretanto, o lote imediatamente vizinho do objeto de estudo é um caso atípico da cidade, pois abriga o único prédio com quatro pavimentos no município. O bairro é essencialmente residencial, entretanto nas proximidades da entrada da antiga estação ferroviária, alguns galpões antigos foram mantidos e hoje abrigam as atividades comerciais, religiosas e industriais do bairro. O Jardim São Vicente apresenta um fluxo intenso se tratando de um município de 35 mil habitantes, pois é passagem para outros bairros maiores que só podem ser acessados por este caminho. Por ter seu limite definido pelo córrego Pessegueiro, o Jardim São Vicente é bem servido de áreas verdes, visto que uma parte do bairro é uma área de preservação permanente devido a proximidade do córrego. Apesar de não ser um bairro novo da cidade, o Jardim São Vicente ainda apresenta muitos lotes vazios, visto que alguns moradores dali ainda tem terrenos muito grandes onde criam animais como vacas, galinhas e cavalos, além de pastos para estes animais e eventualmente pequenas plantações de subsistência.
Energia solar:
A energia solar é uma forma eficiente de se aproveitar a radiação e o calor emitidos pelo sol e que podem ser convertidos em energia térmica e/ou elétrica. Atualmente o Brasil utiliza cerca de 70% de sua matriz energética proveniente de hidrelétricas, mas aos poucos formas alternativas de obtenção de energia vêm sendo cada vez mais difundidas. Em um país tropical como é o caso do Brasil, a abtenção de energia elétrica a partir do sol seria extremamente viável. Esta forma de energia limpa e sustentável entretanto não é tão utilizada, pois o custo para ser implantado em uma residência ainda é uma barreira para a maioria dos brasileiros. Felizmente com o avanço da tecnologia e a sua popularização, hoje em dia os sistemas residenciais para obtenção de energia solar estão bem mais acessíveis. Estima-se que atualmente o investimento neste tipo de equipamento seja recuperado em torno de cinco anos de uso, enquanto a sua vida útil chega próxima aos trinta anos de utilização. Pensando na energia limpa gerada a partir do sol e da relação custo benefício, optou-se pela instalação do equipamento de obtenção de energia solar, encarando-o como um investimento a médio prazo para os moradores das vilas sustentáveis.
Tintas a base de terra:
As tintas a base de terra como o próprio nome sugere, possuem a sua pigmentação proveniente de quantidades de terra e/ou areia misturadas no processo de fabricação. Este material pode ser facilmente fabricado por qualquer pessoa, misturando-se amostras do próprio solo e de outros corantes naturais como o urucum, para se obter a coloração desejada. A Universidade Federal de Viçosa possui um projeto chamado “cores da terra” no qual ensinam a fabricaar este tipo de tinta sustentável. A “receita” leva apenas água, cola, terra e caso necessário algum pigmento natural como açafrão, urucum ou areia para compor a cor; evitando assim agrande quantidade de produtos químicos que são utilizados para se fabricar uma tinta convencional. A escolha deste material para pintura das unidades habitacionais do projeto se deu por conta das vantagens ambientais agregadas a este tipo de tinta e pelo seu custo, 70% mais em conta, quando comparados às tintas convencionais.
A implantação do projeto no terreno se deu de forma que as habitações ficasse todas concentradas na lateral direita do lote, desta forma toda a área restante no lado esquerdo foi utilizada como circulação. Como a inclinação original do terreno foi mantida, esta circulação se deu na forma de uma rampa de acesso que se estende desde o início até o fim do terreno, permitindo assim que toda a área do térreo seja acessível à pessoal portadoras de defiência. As rampas foram executadas em três seguimentos criando assim patamares de descanso entre elas intercalados com trechos de jardim. Todas as áreas comuns pavimentadas são cobertas com um piso intertravado drenante para que possa absorver melhor a água das chuvas. Além do piso drenante, os canteiros deixados ao redor das rampass também permitem uma drenagem eficiente das águas pluviais. Essa água de chuva será captada e abastecerá uma cisterna para que possa ser reaproveitada para fins não potáveis. Os jardins criados não só servem como um sistema de absorção de água de chuva, mas sobre os jardins também se encontram alguns equipamentos de uso comum dos moradores como bancos e bicicletários.
Hortas urbanas:
As hortar urbanas vêm se popularizando em meio aos grandes centros urbanos. A falta de espaço disponível para plantio nas grandes metrópoles faz com que o plantio de hortaliças aconteça em meio ao prédios da cidade, normalmente na área dos telhados. Esta iniciativa além de incentivar o plantio e o consumo de produtos orgânicos, também leva o verde para as grandes metrópoles. A ideia da utilização deste recurso num projeto de habitação de interesse social veio a partir da concepção dos telhados verdes e da ideia de que a população pudesse plantar e colher o seu próprio alimento, e que em caso de uma produção excedente, isso poderia gerar uma renda extra aos moradores. Apesar da cidade de Santa Cruz das Palmeiras ser uma cidade de pequeno porte, o fato da implantação do projeto acontecer em lotes pequenos, reservar uma área no solo para produção de uma horta seria inviável, portanto optou-se pela criação das hortas nos telhados verdes.
Unidade de habitação:
Para viabilizar a ideia do partido projetual, de chegar a um produto que pudesse ser adaptado nos lotes vazios da cidade, foi necessário se fazer o processo contrário do que convencional quanto a concepção do projeto arquitetônico. O partido do projeto neste caso não foi o terreno, mas chegar em uma unidade de habitação que contemplasse os requisitos necessários para torná-la sustentável, nas dimensões de uma habitação de interesse social e que pudesse se adaptar a diversos tipos de terreno. A escolha dos materiais foram fundamentais para estabelecer a diretriz do projeto. As paredes de light steel framing permitem uma flexibilidade na distribuição dos cômodos. O modelo apresentado possui um total de 44m², distribuídos em uma sala integrada a cozinha, dois quartos e um banheiro que foi fragmentado em dois espaços privados (banho e sanitário) e a pia colocada do lado de fora.
O acesso do terreno foi mantido pela rua José Pedroso de Moraes, tanto para pedestres como para veículos. Para não se gerar uma situação conflitante e de risco principalmente para os pedestres, os acessos, apesar de serem pela mesma rua, acontecem de forma independente. A garagem ficou na lateral direita do lote aproveitando-se dos seis metros de afastamento da edificação. Foram criadas três vagas de garagem para veículos, seguindo o percentual estipulado na constituição federal para habitação de interesse social. As unidades de habitação foram organizadas de forma que não ficassem coladas uma na outra. As unidades do térreo estão distantes três metros uma da outra, e as unidades do segundo pavimento foram inseridas de forma que cobrissem os vãos deixados no pavimento inferior. Desta forma, as unidades do primeiro pavimento servem como um apoio estrutural para as unidades do pavimento superior. A intenção de criar estes vazios, foi a de criar pequenos pátios cobertos entre as unidades de habitação, que possam ser utilizados para diversas finalidades de acordo com a necessidade dos moradores.
Título: Rede de sustentabilidade em habitações de interesse social Aluno: Pedro Luiz Traldi Orientadora: Luciana Pagnano Centro Universitário Moura Lacerda: 2016 Ribeirão Preto- SP