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Courtney Love: música inédita

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Com performance energética e discurso de superação, Demi Lovato emociona público em São Paulo

Especial

Jim Morrison - sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo?

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DJs que dominam o mundo

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Os 100 maiores guitarristas de todos os tempos

Beatles

Autógrafos dos Beatles em painel do programa The Ed Sullivan Show podem render US$ 800 mil em leilão

Entrevista

Alice Cooper olha para o passado: “Eu não peço desculpas por nada”

História

Estúdio pede ajuda para recuperar mesa de mixagem que gravou Ten do Pearl Jam

Capa

Syd Barret: A genialidade e a loucura da lenda viva do Pink Floyd


Especial

Jim Morrison

Sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo? por Paulo Cavalcanti

Na edi莽茫o de janeiro da Rollin Stone Brasil, investigamos a hist贸ria do vocalista do The Doors, apresentamos uma entrevista hist贸rica com o astro e ainda comentamos a discografia da banda.


Jim Morrison, se estivesse vivo hoje, teria 70 anos e pouco mais de um mês. Um dos mais notórios membros do chamado “clube dos 27”, ele definitivamente não foi feito para durar ou ter cabelos brancos e rugas. A morte não é heroica, mas a mitologia que envolve o fim do vocalista do The Doors segue reproduzida infinitamente. Cada grande astro do rock que surgiu na década de 50 e 60 deixou uma marca e modificou o panorama social para as gerações seguintes. Mas Jim Morrison foi além; no fim das contas, não precisava se esforçar muito para ser mais moderno que os contemporâneos. Na edição de janeiro da Rolling Stone Brasil, você conhecetodasas facetasde Morrison, lê uma entrevista histórica com o cantor e ainda conhece a discografia e a videografia do Doors. Rebelde autêntico, o artista renegou a família – dizia que os pais estavam mortos, o que não era verdade. Nunca mais quis saber deles, especialmente do pai, almirante da Marinha norte-americana. Mais preocupado com a poesia do que com a cultura jovem e rock and roll, a princípio ele passou

longe de toda a efervescência criada pelos Beatles e pelos Rolling Stones. Depois do surgimento do Fab Four, todo jovem dos Estados Unidos aprendeu a tocar guitarra e montou uma banda de garagem. Morrison, não – virou músico por acaso. Ray Manzarek, colega dele na UCLA (Faculdade de Cinema da Califórnia), tinha uma banda iniciante chamada Rick and the Ravens. Depois do decisivo encontro na praia de Venice com Manzarek, onde Morrison mostrou ao colega algumas das poesias que havia feito, o tecladista ficou impressionado e convidou o poeta aspirante para se unir à banda. Usando a flexível e expressiva voz de barítono que aperfeiçoou ouvindo LPs de Frank Sinatra, Morrison ganhou o cargo de frontman sem muito esforço. Assim, com Morrison se juntando a Manzarek, Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria), o som do The Doors se formou. Os elementos básicos eram imagens retiradas da poesia beat e da literatura romântica, mais pitadas de música oriental e flamenca e jazz moderno da costa oeste. Mas o blues, paixão dos quatro


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integrantes, é que dava poder à banda e sustentava a parede sonora. E o tempero dessa salada era o ácido, a verdadeira fonte da lisergia californiana.The Doors (março de 1967), o primeiro álbum, jogou uma luz escura no otimismo da contracultura. A Guerra do Vietnã, levando potenciais fãs do The Doors a morrer do outro lado do mundo, fervia enquanto alguns sonhavam. Contendo imagens caóticas de incesto, destruição, violência, fim da noite e até misticismo, o Doors foi a trilha sonora para o conflito no leste da Ásia. “The End” parecia decretar que a velha geração tinha abandonado os filhos, que agora clamavam por uma amarga vingança. No começo, Morrison jogou o jogo. Estudante de imagem, sabia como vender as feições apolíneas com as quais foi abençoado. Ele pediu a Jay Sebring (cabeleireiro top de Los Angeles e mais tarde vítima da gangue de Charles Manson), que fizesse nele um corte de cabelo chamado usan“Alexandre, o Grande”. Com o peito nu e usan do apenas um colar, Morrison posou para fotos promocionais que depois seriam apelidadas de “O Jovem Leão”. Essas imagens, feitas por Joel Brodsky, são até hoje reproduzidas e todo mundo as conhece (a mais famosa delas está na capa desta edição) – há cerca de 45 anos vendem com perfeição a ideia do jovem e sensual deus do rock. As feições de Morrison eram tão perfeitas que pareciam ter sido esculpidas. Só que não havia nada de feminino ou andrógino nele. Bonito, sim, e particularmente perigoso. No verão de 1967, o Doors era onipresente na cultura pop – ninguém conseguia escapar de ouvir “Light My Fire”. Morrison, o Rei Lagarto, um xamã dionisíaco pingando sexo, desfilava pela região de Sunset Strip trajando calças de couro negro apertadas que não deixavam nada para imaginação. Com toda a arrogância do mundo, a banda contradizia o Beatles – o Fab


Four dizia que “precisávamos de amor”, mas Morrison e companhia clamavam em “When the Music Is Over”: “Nos queremos o mundo e o queremos agora” Como artista, Morrison tinha uma dupla reputação. Era idolatrado por fãs adolescentes, mas o material que produzia muitas vezes era proibido para menores de 18 anos. Não se considerava um astro do rock, um cantor virtuoso ou ídolo adolescente, e sim um poeta que cantava o material que produzia. Vivia uma vida de vagabundo de luxo. Poderia ter a mansão mais luxuosa em Beverly Hills, mas, em vez disso, dormia em hotéis baratos ou no apartamento em Laurel Canyon que bancava para a namorada, Pamela Courson, com quem vivia entre tapas e beijos. Carrões e bens materiais não eram do interesse dele. Dava dinheiro e presentes a mendigos e amigos bêbados. E poetas não são poetas se não enchem a cara. Morrison nunca foi junkie. Detestava cocaína, experimentou profusamente LSD de 1965 a 1967, mas as viagens de ácido pararam quando viu que o álcool resolvia os problemas que tinha. Quando sóbrio, era um cavalheiro do sul, gentil e de fala mansa. O problema de encher a cara é que ele se tornava inconveniente e disposto a cometer mesquinharias com quem estava ao seu redor e se importava com ele. Tanto causava encrenca nos shows que chegou a ser preso em pleno palco em um show em New Haven. Costumava dizer que queria usar os métodos de provocação da trupe do Living Theater. A grande tragédia na vida de Morrison viria em 1º março de 1969, em uma apresentação no Dinner Key Auditorium em Miami (Flórida), justamente o estado onde o artista nasceu. Finalmente, no encerramento da apresentação, o cantor pediu que o público tomasse conta do palco e o caos foi instaurado. Morrison, antes um dos astros mais espertos e literatos do rock,

The End parecia decretar que a velha geração tinha abandonado os filhos.

O show começou com duas horas de atraso, devido a um desentendimento entre os promotores do evento. Morrison entrou no palco bêbado, não concluiu nenhuma canção e entoava discursos inflamados para provocar a plateia. Em certo ponto, abaixou a calça de couro e ameaçou mostrar o pênis – por debaixo da calça ele usava uma cueca samba-canção. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu naquela fatídica noite – se Morrison expôs os genitais ou não – e nem os integrantes do Doors, nem os policiais ou o público de 10 mil pessoas conseguiram formar uma opinião definitiva. Agora era um palhaço alcoólatra e inconveniente. O que ninguém percebeu é que, com um gesto extremo como esse, o astro clamava por ajuda, e não por veneração barata.Na época, a própria Rolling Stone EUA achou que o episódio foi mais constrangedor do que ultrajante.


Na famosa reportagem que a revista publicou na ocasião, Morrison aparecia em um pôster de “procurado” do velho oeste. A crítica e o movimento underground, que tanto incensaram o Doors em 1966 e 1967, agora decretavam que a banda era “peso leve”, e que Morrison não passava de um bufão cantorzinho de baladas. Poucos meses após o incidente de Miami, apareceu Charles Manson, outro fantasma a assombrar a contracultura. Morrison foi deixado de lado e perdeu o título de homem mais odiado dos Estados Unidos. Talvez o cantor tenha achado que o fato de ser bonito prejudicasse o desejo de ser levado a sério como artista. Para sufocar o “Jovem Leão”, ele guardou as calças de couro, engordou e escondeu o rosto atrás de uma barba e óculos escuros. A Justiça norte-americana queria transformar Morrison em exemplo. Ele foi julgado, condenado, teve de pagar pesadas multas e viu sua energia esvaída em meio a idas e vindas ao tribunal. Acabou condenado a seis meses de prisão. Apelou, mas temia o dia em que seria encarcerado.Mas o Doors era uma mini-indústria, e mesmo com seu homem de frente envolto em problemas, a banda precisava produzir, gravar e se apresentar. Depois de Miami, os promotores de espetáculos achavam que Jim Morrison era uma bomba-relógio, e o número de apresentações caiu consideravelmente.

A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi literalmente sepultada pelo resto da década de 70

Em compensação, a banda se recuperou em estúdio, lançando Morrison Hotel e gravando L.A. Woman, dois álbuns consistentes e mais focados que apontavam para dias melhores. Morrison perdeu a fé, se fechou para o mundo e entrou em forte depressão. Não era fácil conviver com ele, e ele próprio sabia disso. Os amigos se afastaram discretamente. Longe de ser um mártir de alguma causa ou um herói da liberdade de expressão, Jim Morrison era apenas um cara perdido. Em março de 1971, foi para a França, terra dos poetas e dos artistas surrealistas que tanto adorava. Nessa tentativa de recuperar a musa poética em terra estrangeira, não teve tempo de produzir muito. Mas pelo menos parecia estar mais sossegado, longe do assédio e das pressões. A morte de Jim Morrison, oficialmente vitimado por um ataque cardíaco em 3 de julho de 1971, gerou dezenas de teorias de conspiração – repassá-las aqui nem valeria a pena. Mas, ao morrer no apartamento em que vivia, Morrison teve o final que sempre quis: o do poeta nu, morto silenciosamente dentro da banheira. E não deixou de ser um dedo do meio para aqueles que o queriam atrás das grades e humilhado. Quando Morrison se foi, os outros três membros do The Doors teimosamente seguiram em frente. Lançaram dois álbuns que passaram despercebidos e logo encerraram as atividades.


Morrison tornava tudo difícil, mas sem ele a banda perdia sua entidade. A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi literalmente sepultada pelo resto da década de 70. Em tempos de glam, rock progressivo e disco music, a visão sinistra de Morrison não tinha espaço. Claro, muitos fãs do Doors acabaram militarando no punk, mas a visibilidade da banda e de seu carismático e complicado frontman parecia ter esgotado. Em 1979, o diretor Francis Ford Coppola usou “The End” de forma decisiva no épico Apocalypse Now. As memórias da Guerra do Vietnã estavam de volta, e seu bardo mais eloquente também. Jim Morrison era assunto nas livrarias com o best-seller Ninguém Sai Vivo Daqui e na capa da Rolling Stone com a provocativa chamada “He’s Hot, He’s Sexy and He’s Dead” (Ele é Quente, Ele é Sexy, Ele está Morto). Os anos 80 foram infestados de bandas que se calcavam no som baseado em teclados e abusavam de imagens surrealistas – de Echo & the Bunnymen a The Cult, todo mundo queria um pedacinho do The Doors. Talvez em termos de mitologia póstuma, hoje Morrison tenha sido suplantado por Kurt Cobain como o grande garoto problema do rock. O líder do Nirvana e o vocalista do Doors foram verdadeiramente heróis trágicos. Morrison, em particular, praticou o conceito da húbris – tornou-se tão arrogante que desafiou a fonte de seus poderes e, no processo, foi destruído. Ele ainda está enterrado no cemitério Père Lachaise, em Paris, e todo ano a administração local toma medidas para impedir o caos e o vandalismo que cercam a lápide do cantor, que até ficaria contente com isso. E enquanto a poderosa música do The Doors passar de geração para geração e as fotos do Jovem Leão circularem, o espectro do Rei Lagarto estará conosco.


Entrevista

alice cooper

olha para o passado:

“Eu não peço desculpas por nada” O astro do rock é tema do documentário Super Duper Alice Cooper, que acabou de estrear no festival Festival de Cinema de Tribeca. Por Kory Grow


“Nós não trouxemos a galinha”, diz Alice Cooper à Rolling Stone EUA, fazendo um gesto enfático com a mão em um hotel em Nova York. Em setembro deste ano, serão completados 45 anos desde que Alice Cooper se tornou Alice Cooper depois de encarar o público no show Toronto Rock’n’Roll Revival, enquanto abria para John Lennon. Reza a lenda que alguém jogou a ave no palco, e, pensando que ela iria voar (“Eu sou de Detroit e nunca havia pisado em uma fazenda na vida”, ele diz até hoje), jogou-a de volta para a plateia – apenas para ver o público desmembrá-la. “Quando eu percebi que as cinco primeiras fileiras eram de pessoas em cadeiras de rodas, tudo ficou ainda mais macabro”, relembra Cooper. O frontman credita a esse dia à inspiração para a persona que ele usa no palco até hoje. “Eu percebi que a plateia está louca por um vilão”, diz Cooper, que ainda se veste inteiramente de preto, incluindo as calças de couro. “Eles realmente querem um vilão – e quem melhor para interpretá-lo do que eu?”

Eu percebi que a plateia está louca por um vilão

Cooper tem feito algumas reflexões profundas nestes últimos meses, depois de ter participado de um documentário sobre a vida dele, Super Duper Alice Cooper (o filme acabou de estrear no Festival de Cinema de Tribeca). Com um elenco que inclui Elton John, Bernie Taupin, Johnny Rotten, Iggy Pop, a mãe de Cooper e, é claro, o próprio Cooper, Super explica como Vincent Furnier, de Detroit, se tornou o vilão que atrai fãs para o pesadelo que ele cria em cima do palco e em álbuns como Love it to Death e Billion Dollar Babies desde os anos 1960.


O documentário, que foi feito pelas mesmas pessoas que produziram Beyond the Lighted Stage, sobre o Rush, combina animação e gravações antigas, examina como Cooper se tornou um nome familiar e como o personagem quase levou a melhor sobre ele. Fala sobre quando o cantor conheceu Salvador Dalí, as turnês cheias de álcool e até sobre o motivo de Cooper ter encontrado consolo no Cristianismo. É uma história de sobrevivência, resistência e força.

Como foi assistir a sua vida passar diante dos próprios olhos? É engraçado, porque eu não não vivo no passado. Eu entendo que as pessoas queiram saber como foi que tudo deu certo, como eu comecei, e é uma história interessante. Mas foi divertido voltar. Eu não peço desculpas por nada – tudo aconteceu na “Era de Ouro”, quando você podia fazer referências a Jimi Hendrix e Jim Morrison e perceber: “Eu ficava bêbado com esses caras”.

À medida que você reconta essas histórias de pessoas como Hendrix e Morrison, o que vem a sua mente? O que eu aprendi com eles – tirando John Lennon, é claro, que era um lance muito diferente – é que eles viviam tudo ao extremo. Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Keith Moon: todos eles tinham a mentalidade de “Preciso fazer agora, porque eu não quero estar fazendo isso aos 30”. E minha mentalidade era: “Eu preciso descobrir como separar a minha personalidade deste personagem, ou isso vai me matar” [risos]. Para mim, era tentar descobrir como eliminar esse meio termo para poder ter uma vida minha, e Alice Cooper ter uma vida dele.


Você fala sobre religião no documentário. Isso já limitou Alice, o personagem? Até hoje, existe um momento em que penso: “Será que Alice faria isso?” Eu gosto do fato de existirem coisas que Alice não faria. Alice nunca xinga; isso não é legal. Existe uma elegância nele. Há músicas que eu não cantaria como Alice que eu escrevi há muito tempo, coisas que eu não quero que Alice promova.

Quando você tem uma cobra python de quase quatro metros no palco, 99% do tempo ela vai estar bem – mas e se chega uma noite que ela decide fazer outra coisa? Eu sempre gostei da ideia de existir a possibilidade de alguma coisa acontecer.

O documentário inclui o show de Toronto no qual os fãs jogaram a galinha no palco, você jogou de volta e a plateia a desmembrou. Na apresentação, você estava abrindo para Falando dos enforcamentos John Lennon. Ele te disse alguma vez o que ele achou daquilo? e guilhotinas que você usa no palco. Você já conseguiu Ah, ele amou aquilo. John Lennon era um antever algo perigoso demais vampiro de Hollywood. Ele era um dos que bebia. Mas era John Lennon e Yoko quando antes de ir em frente? Não perigoso demais, mas houve momentos “Spinal Tap”. Já surgiram coisas do tipo: “Vamos colocar Alice em um canhão”. E compramos um canhão, e deu certo. Eu entrava no canhão, saía pela parte de trás, eles colocavam um boneco e atiravam; enquanto isso, eu já estava do outro lado e saía andando. É uma ilusão, mas ficava ótimo. Mas nada foi muito perigoso. A guilhotina é uma lâmina de quase 20 quilos; ela por pouco não me pega todas as noites, pelos últimos 40 anos. A mesma coisa com o enforcamento – você tem que esperar que o cabo do piano tenha sido testado naquela noite.

eles estavam fazendo a arte deles. Então, eles viram aquilo como arte; Yoko e John ficaram, tipo: “Isso é ótimo”. John achou engraçado. E eu não matei a galinha. [Risos] Mesmo que eles quisessem, eu não teria matado a galinha. Mas eu percebi naquele momento o quão loucas por sangue estavam aquelas pessoas no festival paz-e-amor – e era isso o que ele era. Eles não viam problema nenhum em matar a galinha.


John Lennon era um vampiro de Hollywood

Falando de estrelas do rock: tem uma cena interessante no filme, que é quando você conhece o seu empresário, Shep Gordon, no Landmark Hotel, e tromba com Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison em um quarto repleto de fumaça de maconha. Aquela cena deixou uma impressão sobre você. Você precisa se lembrar que nós éramos uma banda jovem de Arizona, e que nós conseguíamos fazer um baseado durar uma semana, porque era tudo o que tínhamos. E você entra em um quarto tão cheio de fumaça que não consegue ver a pessoa na sua frente, e quando a fumaça se dissipa [suspira]: “Olha, é o Jimi Hendrix ali.” E Shep, nosso empresário, abre uma gaveta, e tem uma gaveta [de maconha], e ele pega um punhado. “Esse é o nosso empresário. Isso vai ser demais.” Em 68, 69, essa era a coisa mais legal do mundo. Então, é, ver aqueles caras nos fez pirar. O engraçado é que a nossa banda era formada por bebedores de cerveja. Era muito estranho que as bandas com uma má reputação eram formadas por bebedores de cerveja, enquanto Mamas and the Papas, Jackson Browne e o resto estavam usando heroína. Era o oposto do que você imaginaria ser. Os caras do The Monkees sempre usavam ácido. Nós bebíamos Budweiser [risos].



Quando fala-se em Pink Floyd todos lembram de clássicos como Dark Side of The Moon, Ummagumma, Atom Heart Mother, Meddle, Wish You Were Here e The Wall. Também ficaram famosas as brigas do ex-baixista Roger Waters e os outros integrantes (David Gimour, Nick Mason e Rick Wright) pelo uso do nome da banda, depois que Waters deixou o grupo após o fraco The Final Cut. Mas o que pouca gente (em especial a garotada que começou a ouvir o som do Floyd mais recentemente) sabe é que não é Waters e muito menos Gilmour, o responsável pelo nascimento desse grupo em plena Swingin’ London nos anos 60 e que

pulou do psicodelismo para a ópera-rock, criando o termo progressivo, que provoca arrepios em muitas pessoas. A banda começou quando um excêntrico garoto chamado Roger Keith Barrett, apelidado de Syd, montou o grupo no meio da década de 60, tendo como base o rock dos anos 50 de Bo Diddley e de Buddy Holly, além de Rolling Stones.Carismático, enigmático, foi um dos primeiros (ou o pioneiro) a se pintar para subir ao palco, usando unhas coloridas e roupas extravagantes. Sua influência foi tão devastadora, que mesmo ficando pouco tempo na banda que montou (1965 até 1968), deixou marcas em novos


candidatos a astros do rock como David Bowie, que segundo uma lenda fre-

qüenta até hoje uma sociedade secreta que cultua Syd. Bowie nunca negou sua paixão por aquela figura esquisita, magra e de olhar esparso: “Quando vi o Floyd ao vivo pela primeira vez, fiquei chapado com o visual dele. Imagina usar unhas pintadas, pinturas naquela época! Eu queria ser igualzinho. Ziggy (Stardust) foi uma homenagem minha ao Barrett”, confessaria anos depois. Depois de expulso do grupo por comportamento excêntrico e abuso das drogas, Syd Barrett produziu dois discos solos totalmente diferentes da concepção do som da banda, até se retirar definitivamente do mundo artístico para a reclusão total até hoje. Não é exagero considerá-lo a maior lenda viva do rock, já que como Hendrix, Morrison e outros, conheceu o auge, viveu o excesso, mas está vivo e quase incomunicável. Conheça um pouco mais desse


Não existiria Pink Floyd sem Syd Barrett. Também não existiria Syd Barrett sem Pink Floyd.

personagem ímpar da música.Durante uma entrevista na década de 70 quando promovia Barrett um jornalista pediu para que Syd se auto-definisse. A resposta não poderia ser mais apropriada: “Eu sempre achei que os jovens deveriam se divertir, mas acho que nunca consegui isso. Tenho uma mente totalmente estranha, mas não sou nada do que você gosta de imaginar.” Nascido em Cambridge, no dia 6 de janeiro de 1946, Roger Keith Barrett, ganhou o apelido de Syd ainda estudante da escola da cidade, onde começaria a fazer amizade com dois garotos: Roger Waters e David Gilmour. Começou a tocar em bandas com nomes como The Abdabs, The T-Sets, Sigma 6 e até Meggadeath.O pessoal desses grupos era mais ou menos o mesmo: Bob Close, Roger Waters, Nick Mason e Rick Wright. Com a saída de Bob, Syd resolveu fundar uma nova banda: Pink Floyd. O nome fora retirado de dois ‘bluesmen” obscuros, Pink Anderson e Floyd Council. Com Waters, Mason e Wright, Syd começou a montar o som do grupo. Extremamente talentoso, era um bom guitarrista, além de excelente letrista e vocalista.Como todo jovem de sua época, não poderia ficar imune ao som dos Beatles e das bandas norte-americanas como Byrds e Love. Barrett era fã de Arthur Lee. Começaram basicamente a tocar com mais uma banda de R&B inglesa, como tanto outras.Aos poucos, o som foi evoluindo e as letras esquisitas de Syd, que não tinham paralelo com nada que era apresentado na Londres daquele período, fez o Pink Floyd


ser um cult-group e ter suas apresentações cada vez mais concorridas, em clubes como o UFO e o Rondhouse. O Floyd acabaria sendo a “banda da casa” e ficavam horas e horas no palco. Apesar de ser o líder e o guru de todos, Syd odiava o contato com as pessoas e não gostava de dividir a sua privacidade. “Eu prefiro desaparecer a fazer isso”, dizia. No palco, mostrava exatamente essa figura ambígua: tenso, pálido, com olhos esbugalhados, frágil fisicamente.Com o sucesso, veio um contrato e lançaram dois compactos: “Arnold Layne/Candy and a Currant Bun” e “See Emily Play/The Scarecrow”. Os dois foram bem sucedidos comercialmente e em 1967, lançaram o primeiro disco, The Piper at the Gates of Dawn, que para muitos foi tão importante quanto Sgt. Pepper’s dos Beatles, lançado na mesma época. Uma curiosidade: os dois discos foram produzidos nos estúdios da Abbey Road. E tome mais lenda, entre elas, que os integrantes dos dois grupos ficavam horas e horas conversando nos corredores dos estúdios durante os intervalos. O Floyd acabaria caindo na estrada junto com Jimi Hendrix, Move (os dois eram as estrelas), Amen Corner, The Nice, The Outer Limits e Eire Aparent.

Talvez o maior sobrevivente do abusivo uso de drogas, Barrett, mesmo com uma discografia pequena, virou a maior lenda viva do rock.

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