Entrevista com Fabiano Baldasso

EGO

Fabiano

Baldasso sem censura Em entrevista inédita, o polêmico jornalista dispara contra Dilma,

critica a torcida mista e se diz favorável à legalização da maconha texto e fotos Pedro Trindade

F

abiano Baldasso é um personagem da comunicação do Rio Grande do Sul. Em 2016, ele completa 20 anos de jornalismo esportivo. Duas décadas de uma trajetória que teve início na Rádio Gaúcha, se consolidou no Grupo Bandeirantes, e, desde fevereiro desse ano, está ancorada na Rádio Atlântida. Período razoável para colecionar histórias na profissão. Tempo suficiente para adquirir a credibilidade necessária para revelar o time que torce sem temer qualquer tipo de repercussão.

A voz, o rosto e, principalmente, as ideias do jornalista se tornaram mais conhecidas a partir de 2010. Após fazer uma reflexão sobre o futuro, Baldasso decidiu que não queria ser “o tiozão que fala de futebol para tiozão”. Determinado a atingir todos os tipos de público, ele mergulhou nas ondas do universo virtual. Em redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram e Snapchat aliou entretenimento à informação e sobreviveu

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ao que chama de “tsunami dentro do jornalismo que o mundo web causou”.

Polêmico e dono de opiniões contundentes – que vão desde mensagem em apoio ao protesto de alunas que reivindicaram inclusão de short no uniforme escolar até manifestações políticas favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff – Baldasso é um caso característico da dicotomia “ame-o ou deixe-o”. O próprio admite que as pessoas que o odeiam provavelmente falem mais dele do que as que gostam do seu trabalho. Mas a rejeição não parece incomodá-lo. Ele é taxativo ao avaliar que seria pior lidar com a indiferença.

Em uma entrevista despida de qualquer tipo de censura, Fabiano Baldasso revela ser a favor da legalização da maconha no Brasil e contra torcida mista em Gre-Nal. Relata porque, 20 anos depois, resolveu se assumir como torcedor do Internacional e conta que na goleada de 5 a 0 que o Colorado sofreu para o Grêmio, em agosto de 2015, estava mais preocupado com o vídeo que faria depois do jogo do que com a derrota.

Baldasso jura de pés juntos que o “homem do cofre” do ex-presidente gremista Fábio Koff, em 2012, era o atacante marfinense Didier Drogba, e reconhece que o apelo para a convocação de D’Alessandro para a seleção argentina que disputou a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, foi um exagero.

Na ocasião, ele chegou a colar uma figurinha do ídolo colorado no álbum do Mundial no programa Os Donos da Bola na TV Bandeirantes com direito a presença do jogador no estúdio. Na política, diz considerar os deputados federais Jean Wyllys (Psol – RJ) e Jair Bolsonaro (PSC – RJ) “dois imbecis” que ignoram a tolerância dentro do conceito que estabelece sobre como as coisas devem ser. Ele avalia que o Partido dos Trabalhadores (PT) instaurou a corrupção “como forma de poder”.

Revista EXP – São 13 anos de Rádio Gaúcha, sete de Grupo Bandeirantes e, desde fevereiro deste ano, Rádio Atlântida. Como foi a passagem do hard news para o entretenimento?

Fabiano Baldasso – Existem alguns conceitos estabelecidos, especialmente em rádio, de que existe o formato rádio AM, o formato rádio FM, o formato hard news. Eu não sei se eu estava enquadrado dentro de um formato definitivo, porque eu já tinha começado uma ação há algum tempo, dentro de uma ideia que eu sempre tive de conseguir atingir todos os públicos, de uma mudança de formato na maneira de transmitir o meu conteúdo. E eu acho que eu já estava adequado e talvez isso tenha despertado o interesse da Atlântida. Eu, talvez, especialmente nas redes sociais, já estivesse enquadrado

No dia 26 de abril de 2016, Fabiano Baldasso anunciou ao vivo em rádio e redes sociais que é torcedor do Internacional

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No dia 26 de abril de 2016, Fabiano Baldasso anunciou ao vivo em rádio e redes sociais que é torcedor do Internacional dentro de uma ideia mais leve. Eu tenho várias teses sobre o jornalismo no futuro e essas teses todas estão ligadas a uma mudança de formato, na maneira do jornalista transmitir o seu conteúdo. E eu, dentro das minhas convicções, já tinha procurado moldar a minha forma de fazer jornalismo e acho que com isso despertei o interesse.

EXP – São 20 anos de jornalismo. O Baldasso que estreou em 1996 sente o que pelo Baldasso de 2016?

Baldasso – Que o Baldasso de agora, vinte anos depois, pode ter todos os defeitos do mundo como jornalista, e eu sei que o meu formato, especialmente no mundo acadêmico, desperta algumas críticas. Mas este Baldasso de lá sentiria orgulho desse Baldasso daqui, por esse ter conseguido passar pelas transformações que o jornalismo passou, pelo tsunami dentro do jornalismo que o mundo web causou e continua causando, com dignidade. Eu acho que eu consegui estar presente dentro do processo da transformação da melhor maneira possível. Eu cuidei disso, eu me preocupei com isso, eu estudei uma forma de passar por isso e eu acho que eu tô passando bem por isso. Eu acho que o Baldasso lá do começo se sentiria 26 || EXP || Julho 2016

orgulhoso pela maneira como esse Baldasso aqui passou por esse processo todo.

EXP – Youtube, blog, Facebook, Twitter, Instagram e Snapchat. Ter passado pelas principais redes sociais foi imprescindível para a tua popularização?

Baldasso – Em 2010, eu fiz uma reflexão. Que jornalista eu quero ser? Quem eu quero atingir? Eu tava me encaminhando para a seguinte ideia: ser o tiozão que fala de futebol para tiozão. Eu não queria isso para mim. Eu sempre tive a pretensão, dentro do jornalismo, de atingir a todos os públicos.

E eu encontrei, naquele momento, nas redes sociais, de que aquele era o caminho. É aqui que eu vou alcançar todos os públicos. É aqui eu vou conseguir ser o jornalista que eu quero ser. Conseguir falar de futebol para um adolescente de 14 anos e para um avô de 81, e todos me acompanharem e sentirem a necessidade de saber o que eu pensei de uma partida de futebol.

Modestamente, eu acho que consegui. Mas eu formatei a minha maneira de fazer jornalismo para que isso acontecesse. Eu hoje faço jornalismo esportivo aliando entretenimento, informação, análise. Para atingir todos os públicos, eu precisei me moldar

de uma forma que eu pudesse, através dela, fazer com que todos tivessem interesse em mim. E o jornalismo genuíno, puro e simples não faria isso. Eu precisava aliar entretenimento a isso.

“As pessoas que me odeiam provavelmente falem mais de mim do que as pessoas que gostam de mim.”

EXP – Ao fazer isso, tu, definitivamente, viraste um caso de “ame-o ou deixe-o”. Quem são, afinal, os principais responsáveis pela tua popularidade: os adoradores ou os haters?

Baldasso – As redes sociais fizeram com que eu me expusesse muito. Eu opino bastante, não tenho medo de opinar.

Isso faz com que exista o “ame-o ou deixe-o”, e ambos são importantes para mim. Óbvio que eu tenho um carinho especial por todas as pessoas que gostam de mim, que promovem meu trabalho, que me retuítam, que me compartilham. Mas os que me odeiam, primeiro que eles me acompanham, porque para me odiar eles precisam me acompanhar, ou seja, eles me dão audiência. Segundo que, a cada vez que eles colocam “olha o que esse filho da puta do Baldasso tá dizendo” e retuítam um tweet meu, eles estão fazendo com que o que eu escrevi vá para mais um tanto de pessoas. As pessoas que me odeiam provavelmente falem mais de mim do que as pessoas que gostam de mim. Ou seja, elas proliferam meu nome de maneira muito significativa. Óbvio que eu não vou dizer que eu gosto dos que me odeiam, mas eu vou dizer que são muito importantes para mim. A minha tese é aquela da minha vó: “falem bem, falem mal, mas falem de mim”. Eu preciso que todos me acompanhem, isso vai me fazer um profissional mais requisitado. Eu não faço nada para que as pessoas me odeiem, isso acontece pela minha forma de fazer jornalismo, mas eu prefiro que elas me odeiem do que não me acompanhem. Eu odiaria a indiferença. Se houvesse indiferença ao meu trabalho, eu ficaria preocupado. O fato de existir muitas pessoas que me odeiam não é ruim para mim.

EXP – No dia 26 de abril, tu anuncias em rádio e redes sociais que é torcedor do Internacional. Desde quando e como foi a ideia de revelar o teu time do coração?

Baldasso – Eu tenho 20 anos de profissão e nunca isso me angustiou como profissional. Até porque eu não tive dificuldade, embora antes fosse um torcedor do Inter ardoroso, de ir a

todos os jogos, torcer e sofrer. Quando eu virei profissional, eu levei isso tão a sério, e isso me entusiasmou tanto que eu nunca tive dificuldade em não torcer. Eu nunca fiz um Gre-Nal angustiado, que eu tivesse que torcer para Inter ou Grêmio. Cara, quando o Grêmio meteu 5 a 0 no Inter, eu tava preocupado com o vídeo que eu ia fazer depois do jogo e quanto ia dar de audiência, não tava preocupado porque o Inter tinha perdido de 5 a 0. Eu encaixotei, num canto do coração, a minha paixão pelo Inter. Ela sempre existiu, porque eu não vou conseguir apagar as minhas memórias de torcedor, ir ao estádio com meu pai, sofrer e vibrar com Inter. Isso não se apaga, está dentro de mim. Eu consegui reservar isso num canto. E eu resolvi, 20 anos depois, trazer isso de volta. Por alguns motivos. Como não me angustiava, eu trouxe de volta, porque eu achei que poderia incentivar algumas situações com isso. Eu acho que a gente tá muito exposto em redes sociais, e as pessoas exigem a nossa verdade. Eu não posso ser cínico a ponto de dizer que eu torço para o São José ou para o Avenida, ou fazer como o Wianey (Carlet), que disse que começou a gostar de futebol com 22 anos de idade. Amo o Wianey, mas ele que vá aplicar essa história para outro. É óbvio que a gente torcia para Inter ou para Grêmio. Eu acho que nós não temos mais o direito de nos esconder em relação a isso, porque mesmo que o nosso time do coração não faça diferença no nosso trabalho de dia a dia, como não fazia o meu, as pessoas têm que saber disso. Eu admiti ser colorado, e agora sim, eu desencaixotei essa paixão. Eu vou voltar a torcer, mas eu vou continuar sendo analista de futebol. Eu vou me permitir torcer de novo, porque eu tenho filho pequeno que eu quero levar a estádio de futebol.

Eu não quero tirar isso da minha vivência de pai. Eu quero fazer meus filhos serem colorados. E eu acho que tenho essa possibilidade por ter atingido uma credibilidade de 20 anos de carreira, de revelar meu time, de ir a estádio de futebol e as pessoas continuarem me acompanhando.

EXP – Tu não achas que a partir desta decisão, gremistas podem ver tuas avaliações não como técnicas, mas como tendenciosas?

Baldasso – Pode ser que eles pensem isso. Eles provavelmente vão esquecer que eu disse que transaria com o Geromel, que o Luan é o Luanel Messi, mas faz parte. Eu sempre fui muito incisivo nas minhas opiniões. Eu amava o D’Alessandro e achava ele melhor que o Di Maria, mas eu também cometi esses exageros calculados em relação a jogadores do Grêmio que eu Julho 2016 || EXP || 27

Com o microfone da Rádio Gaúcha, por onde esteve por 13 anos, Fabiano Baldasso entrevista Fernandão, ídolo do Inter gostava. Mas eu sei que os gremistas vão achar que tudo que eu disse até hoje a favor do Inter e contra o Grêmio foi porque eu era colorado, e obviamente não foi. E eu continuo tendo a capacidade de analisar um jogo do Grêmio tecnicamente.

EXP – Em 2014, tu colaste uma figurinha de D’Alessandro, então no Inter, no álbum da Copa do Mundo.

Em uma segunda oportunidade, pediste que o argentino fosse naturalizado brasileiro. D’Ale sobrou e não disputou o Mundial no Brasil. Injustiça com ele ou 28 || EXP || Julho 2016

exagero teu?

Baldasso – Foi um exagero meu. Só que para marcar posição naquele momento de um fato que era injusto. Porque o D’Alessandro deveria estar na Copa do Mundo e ele só não foi porque o Sabella (técnico da Seleção Argentina) não gostava dele pessoalmente. Eu resolvi fazer algumas figuras em relação a essa injustiça. E que figura maior eu poderia fazer do que ter o D’Alessandro ao meu lado, num programa em TV aberta, com todo mundo assistindo, e eu pegar o álbum de figurinhas, mandar fazer uma figurinha do D’Alessandro, e colar em cima

do Di Maria, que era uma das referências técnicas da seleção? É óbvio que eu não acho que o Di Maria não deveria estar na seleção. É óbvio que é algo que não deveria ser imposto dessa forma, mas fazendo aquilo eu chamei a atenção de todo mundo para a injustiça que era, aí sim, o D’Alessandro não estar na Copa do Mundo. Às vezes, o exagero é necessário, para que as pessoas prestem atenção numa verdade que tu quer dizer. O O que ficou daquele exagero foi o seguinte: “Bah, tu sabe que o Baldasso tem razão mesmo, cara? O D’Alessandro tinha que estar na Copa do Mundo”.

EXP – Antes de revelar o time do coração, tu declaraste preferências políticas, chegando a ir em atos pró-impeachment. Até que ponto a saída da presidente Dilma Rousseff resolve os problemas do Brasil?

Baldasso – Eu não voto em partidos. Aliás, eu talvez não vote também nem em pessoas, eu voto em ideias. Eu, quando vou conceder o meu voto, quero saber o que prega quem eu tô votando. Isso fez com que, por exemplo, eu já tivesse votado no PT em várias vezes. Eu votei no Lula para presidente duas vezes. Se hoje eu sou um ativista de que o governo do PT tenha que cair é porque eu sou mais um dos decepcionados da forma como a coisa é feita. Especialmente com a institucionalização da corrupção. Da corrupção não mais como ato isolado e sim como forma de poder, que é o que o PT instaurou. Assim como eu acho que o Temer não pode ser presidente, que o Eduardo Cunha não pode ser presidente da Câmara dos Deputados, que o PSDB tem no Aécio Neves uma figura que também está sendo muito investigada. O Brasil teve dois grandes governos na era democrática, e os dois são absolutamente antagonistas: o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso e os primeiros quatro anos do Lula. No momento em que tô admitindo isso, eu tô deixando bem claro que eu não tenho posição política partidária.

EXP – Jair Bolsonaro ou Jean Wyllys?

Baldasso – Dois imbecis. Eu odeio extremistas. Eu odeio xiitas. Eu odeio pessoas que estabelecem um conceito da forma como as coisas devem acontecer e esse conceito ignora a tolerância. O Jair Bolsonaro é um intolerante de direita, e o Jean Wyllys é um intolerante de esquerda. Esse tipo de pessoa faz mal para o país. E faria mal se tivesse algum cargo no Executivo que, graças a Deus, eles não têm e nunca vão ter. Eles vão continuar se

“O Jair Bolsonaro é um intolerante de direita, e o Jean Wyllys é um intolerante de esquerda.”

elegendo no Legislativo porque atendem a nichos importantes.

EXP – Tu és a favor ou contra a legalização da maconha?

Baldasso – Eu sou a favor da legalização da maconha, e olha que eu não fumo maconha faz 25 anos. Eu sou a favor da legalização da maconha não para que as pessoas consumam mais. Eu acho que no mesmo momento que legalizar a maconha tem que estabelecer campanhas dizendo que a maconha faz mal para a saúde. A minha legalização da maconha não está pensando no usuário. Eu tô cagando e andando pro usuário da maconha. A minha ideia de legalização da maconha é para que a gente consiga amenizar o tráfico de drogas e com isso, reduzir a violência no país por conta do tráfico de drogas.

EXP – Torcida mista, a favor ou contra?

Baldasso – Torcida mista é uma bobagem. Torcida mista é uma besteira. Torcida mista é um negócio que tu vai fazer com que haja uma imagem bonita num clássico Gre-Nal para render imagens de televisão e fotos de jornais que não servem para nada. Se perdeu tempo nesse Estado com várias reuniões entre clubes, policiamento, Ministério Público, representantes de torcidas para que a gente tivesse torcida mista em estádio.

Será que a gente conseguiria ver uma ação tão significativa de todas essas instituições e entidades para que a gente acabasse com o vandalismo no futebol?

EXP – Em algum momento de 2012, o Grêmio esteve realmente perto de trazer o atacante marfinense Didier Drogba ou essa foi uma grande barrigada de Fabiano Baldasso?

Baldasso – O Grêmio estava fazendo uma parceria com um banco chinês que ia ter os naming rights da Arena e esse banco tava viabilizando com o Drogba, que já tinha aceito a proposta, mas só viria após a Copa da África, que era 100 dias depois. Cem dias depois que era o que disse que demoraria o Fábio Koff (ex-presidente do Grêmio) para que o “homem do cofre” viesse. O “homem do cofre” era o Drogba. A informação era essa: o Grêmio está tentando trazer o Drogba, dentro desses moldes. Em nenhum momento, eu disse que ele viria.

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