O vampiro estendeu as mãos depressa, em direção a o pescoço dela.. Pelo visto, ele concluíra que, como não podia sugar o sangue da moça, estrangulá-la seria uma alternativa razoável. A srta. Tarabotti recuou e, ao mesmo tempo, fincou o palito de cabelo na pele branca da criatura. O prendedor penetrou apenas um centímetro. O vampiro reagiu com um meneio frenético, que, mesmo sem o uso de sua força descomunal, fez a jovem se desequilibrar nos sapatos altos de veludo. Ela retrocedeu. Ele ficou parado, urrando de dor, com o objeto parcialmente cravado no peito. Então, a srta. Tarabotti tateou em busca da sombrinha, procurando-a atabalhoadamente em meio às iguarias esparramadas, torcendo para que não sujassem seu vestido novo. Encontrou-a e, enquanto se endireitava, fez um amplo movimento circular com ela. Por puro acaso, a pesada ponteira da sombrinha bateu na ponta do palito de madeira, fazendo-o penetrar direto no coração do vampiro. A criatura ficou paralisada, com expressão de total assombro no rosto bonito. Então, caiu para trás, em cima da torta de melado já destroçada, tombando feito um aspargo mole, cozido demais. Seu rosto cor de alabastro adquiriu um tom amarelo-acinzentado, como se ele estivesse com icterícia; em seguida, o ser ficou imóvel. Os livros da srta. Tarabotti davam o nome de inanimação a esse fim do ciclo de vida de um vampiro. Como ela achou aquela cena muito parecida com um suflê murchando, resolveu naquele momento passar a chamá-lo de Grande Colapso.
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