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UnB Agência ENTREVISTA ­ 01/08/2014

António Nóvoa faz balanço de sua passagem pelo Brasil Educador português liderou série de diálogos na Universidade de Brasília Por Pedro Wolff­ Da Secretaria de Comunicação da UnB

Emília Silberstein/UnB Agência

Confira a cobertura dos eventos proferidos pelo reitor honorário da Universidade de Lisboa na UnB: >António Nóvoa dá as boas­vindas aos alunos > >António Nóvoa ministra palestra na UnB > >Reitor da Universidade de Lisboa ministra palestra na UnB > >Da UnB para o Mundo > >António Nóvoa se apresenta na Livraria do Chico >

Após nove meses na capital brasileira para consultorias à Unesco, o reitor honorável da Universidade de Lisboa, Antônio Nóvoa, desenvolveu uma saudável convivência com a Universidade de Brasília. A passagem pela UnB resultou em memoráveis palestras, entre elas a de um ciclo de diálogos que virará livro, e em parcerias acadêmicas com Lisboa, que incluem ações já previstas para este semestre. Considerado um dos grandes pensadores da sua geração, Nóvoa volta para casa nesta quinta­ feira (31), mas, antes da despedida, concedeu uma entrevista em que falou sobre suas percepções sobre a academia no país. UnB – Seu trabalho de consultoria à Unesco foi uma pesquisa sobre a formação dos professores no ensino da educação básica no Brasil. Conte um pouco sobre este trabalho. Antônio Nóvoa – Irei apresentar um “Plano de Desenvolvimento dos Professores do Brasil”. Fiz um estudo das correntes internacionais, para depois realizar um diagnóstico, e formular propostas e iniciativas à situação brasileira. Este estudo será entregue à Unesco e posteriormente ao MEC. A base da minha pesquisa foram dados do Inep e várias viagens pelo país onde entrevistei educadores, autoridades e alunos. E percebi uma enorme fragilidade na formação dos professores. UnB – Por favor, explore sobre essa fragilidade e quais as soluções propostas. A.N – Um problema é a falta de professores com as qualificações http://www.unb.br/noticias/print_email/imprimir.php?u=http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=8771

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necessárias. Outro é que, nos espaços universitários, as licenciaturas não atendem de forma adequada a formação do discente. Deve­se ter um espaço reservado dedicado apenas à formação de maneira interdisciplinar e que se crie um período de acompanhamento entre o final do curso e os primeiros anos de exercício da profissão, semelhante à residência médica. Outra deficiência, após a faculdade, é que a formação continuada está baseada em um calendário de cursos a se frequentar. A lógica certa seria as escolas proverem um espaço interno para esse trabalho de reflexão e atualização. UnB – E qual o papel das escolas para melhorar a qualidade desses professores? A.N – Antes de tudo é necessário primeiro a valorização efetiva do ensino de magistério, mas reparei que os professores trabalham em mais de uma escola e esses trabalham em vários turnos. São chocantes esses dois fatos porque deve haver apenas um turno e os professores devem se dedicar a um único lugar. O razoável é que esse profissional tenha o seu tempo para dar a aula e tenha um trabalho reflexivo necessário para melhoria da qualidade do ensino. UnB – Sobre este déficit de professores com formação nas escolas do Brasil, o Ministério da Educação criou em 2006 a Universidade Aberta do Brasil (UAB), da qual a UnB é uma das integrantes por meio de sua Diretoria de Ensino de Graduação a Distância (DEGD). A UAB tem como missão principal, por meio da Educação a Distância (EaD), dar formação acadêmica aos professores que já atuam em sala de aula nos municípios mais afastados de suas capitais. Qual sua opinião sobre esse modelo de atuação? A.N – É um modelo inevitável que procura corrigir deficiências do passado. Mas ele não pode ignorar a experiência desses educadores após anos de sala de aula. Estes professores não podem ser tratados como se fossem meros alunos recém­formados do ensino médio e sua bagagem deve ter relevância durante o curso. UnB – Como não pode ser negligenciada essa bagagem e levando em consideração que hoje o conhecimento está em todo lugar, a universidade pode dar um certificado acadêmico a uma pessoa que vem de fora, após reconhecer o seu domínio sobre determinado assunto? A.N – Não sou favorável à certificação nesse sentido. Mas sim de reconhecer alguns créditos em sua grade curricular. Porque esse aluno tem que passar pela formação acadêmica, mas pode diminuir o seu tempo na formação. UnB – O seu primeiro contato com a UnB foi em junho de 2013 quando proferiu a palestra a “A Universidade do Futuro”. Desde lá ocorreram várias outras e foi firmada uma parceria internacional. Como foi essa experiência para o senhor? A.N – A experiência foi fantástica e enriquecedora, porque me permitiu perceber uma universidade com um enorme potencial e que pode vir a ser uma referência única no mundo por sua história, pelo legado de Darcy Ribeiro e por sua matriz curricular. Outro fator que pesa é estar na capital de um país com voz crescente em um mundo onde se fortalece a língua portuguesa. Diante disso, a UnB precisa ter a concepção antecipadora para romper com esquemas de ensino defasados e que ande no caminho da convergência interdisciplinar. UnB – Quais são os passos que essa instituição deve fazer para galgar posições maiores na sociedade brasileira? http://www.unb.br/noticias/print_email/imprimir.php?u=http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=8771

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A.N – Eu falo na criação dos “Terceiros Espaços”, ou seja, lugares de ligação entre a universidade com a sociedade. Que sejam locais de tecnologia, cultura e ciência e que promovam a ligação academia/escola em nível de desenvolvimento social, inovação e de extensão. Um espaço simultâneo dirigido por pessoas de dentro e de fora do campus. A segunda condição é assumir por inteiro sua autonomia e liberdade. É preciso matar a burocracia e todos os constrangimentos que consomem tempo e energia para centrar no que é relevante. UnB – Em entrevista após ouvir sua palestra “Futuro do Livro” na livraria do Chiquinho, o senador e ex­reitor da UnB, Cristovam Buarque, disse que a academia terá que promover iniciativas como essas para continuar existindo. Ele quis dizer que no futuro o estudante não precisará necessariamente ir ao campus para estudar. Somado este depoimento com a sua ideia de Terceiros Espaços, como tornar o espaço universitário mais atraente para o público interno e externo? A.N – Primeiro considero que a palavra “atraente” não seja adequada, melhor seria o termo “dar um sentido” para trazer o cidadão ou estudante. Mas não há uma fórmula para isso porque não sabemos como a tecnologia vai mudar nossas vidas, mas temos que ficar abertos e atentos às mudanças. Uma certeza absoluta é que o modelo clássico de academia com seus muros e prédios não vai existir por muito tempo. No sentido simbólico, ela estará em todo lugar. De maneira que uma turma possa se reunir em um café e ao mesmo tempo em que ela irá se esparramar pela cidade, é normal um movimento contrário de que a vida urbana venha para dentro. UnB – Nesse contexto, como deve ser a relação com os egressos? A.N – Os diplomados são os mais importantes cartões de visita de uma comunidade acadêmica e deve­se incluí­los para uma participação forte interna. UnB – Você esteve presente nos bastidores quando a reitoria sofreu mais uma invasão. Em duas gestões como reitor, você nunca se deparou com situação igual. Qual a sua análise deste problema tão particular? A.N – Bom vamos lá. A reitoria não é um espaço restrito aos servidores do seu quadro. Ela representa o símbolo da comunidade acadêmica e quando medidas extremas de rupturas ocorrem é preciso reconhecer que ela tem suas razões. Temos que buscar compreender o mal­estar, sua origem e conversar sobre o assunto. Democrático é o diálogo e é preciso conviver com outros caminhos. Para efeito de comparação, em Lisboa, existe movimento sindical da mesma forma, mas a diferença é que os protestos são voltados contra o governo, provedor da instituição. UnB – O que se espera do movimento estudantil organizado, como, entre outros, o Diretório Central de Estudantes (DCE)? A.N – A primeira coisa é que eles tenham uma palavra a dizer à direção de uma universidade. Que participe e tenha ações com a qualidade do ensino, das condições dos estudantes e professores e que sua orientação externa seja na participação de debates políticos culturais e sociais sobre o papel da própria instituição. UnB – Em palestras, você citou escritores brasileiros e, em uma delas, o violonista Manassés tocou “Fado Tropical”, música em que um de seus trechos diz: “Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo”. Soma­se o fato de que Portugal, mesmo diante de várias intempéries ao longo da história, conseguiu manter o Brasil unificado em um único idioma. O senhor percebe influência portuguesa na literatura brasileira? http://www.unb.br/noticias/print_email/imprimir.php?u=http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=8771

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A.N – Eu percebo que a influência na literatura não é enorme. Mas quanto ao fato de uma língua atravessar um país continental de norte a sul reforça o que venho a falar do potencial brasileiro na agenda internacional. Já ouvi que, se a China tivesse um alfabeto romano e falasse um único idioma, teria dominado o mundo há muito. Essas características estão presentes no Brasil. E cabe à universidade consolidar este patrimônio histórico de sua linguística e projetá­la ao mundo por meio da cultura, conhecimento e da ciência. UnB – Novamente, diante de fatores a seu favor, como concretizar uma agenda internacional? A.N – Há uma questão muito importante nisso de despertar a consciência de que o Brasil é bem visto internacionalmente, tem peso e é preciso se valer disso. Deve­se construir uma rede de cooperação entre as universidades e elas participarem de problemas como, por exemplo, a diplomacia na Faixa de Gaza. Tenho certeza de que, se o reitor dessa universidade realizar um périplo internacional, será recebido pelas autoridades locais, caso solicite. Claro que seu currículo conta, mas mais pelo fato de vir do centro político e administrativo do Brasil. UnB – Para encerrar a entrevista, fale sobre como foi estar diante de um museu ao céu aberto, referindo­me ao patrimônio urbanístico e arquitetônico de Brasília, presente também na própria universidade. A.N– Vou­me embora nesta quinta­feira, mas levarei muitas saudades. Sou apaixonado pelo Brasil e pela obra de Niemeyer e Lúcio Costa. Essa ligação entre o verde com uma arquitetura feita com traços elegantes é um patrimônio fantástico que deve ser cuidado e valorizado.

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