Loucos por adrenalina PedroWolff Fotos Andressa Anholete
Mesmo com opções de mata fechada, o que o trilheiro gosta mesmo é de subir morro. Todos os fins de semana vários grupos de amigos ficam desenhando o chão do local com suas motocicletas. Um deles, Julierme de Souza, 35 anos, explica que a dificuldade da região é a areia solta: “O pneu da nossa moto fica cavando a terra e dessa forma aumenta a dificuldade do próximo. E na época das chuvas formam-se calhas”.
As paisagens são muitas. Pode ser com árvores retorcidas, cachoeiras, morros ou areia vermelha. E nada melhor do que mesclar esporte, natureza e diversão. A natureza de Brasília é rica em opções para dar ao público mais um dia de muita aventura. E o público é brindado com um dos biomas mais importantes do país: o cerrado, berço das águas e rico em fauna e flora. Quem convive com o cerrado garante que o contato com ele nos torna pessoas melhores.
O motocross pode ser praticado em qualquer data do ano, mas os trilheiros preferem mesmo a época das águas, por conta da lama gerada, que aumenta o grau de dificuldade. Nesse período também ameniza um pouco a temperatura. “O que pega na mata é o calor e ele o leva à exaustão, pelo fato de somar o sol, a temperatura do motor e todo o equipamento de proteção”, explica Julierme.
U
ma das opções para o fim de semana é o motocross. E quem pensa que Brasília é uma cidade monotonamente plana deve conhecer a região da Fercal. Com muito cascalho, areia vermelha e morros, o local é considerado o paraíso para quem gosta da explosão do motor sobre duas rodas. Quem frequenta o local explica que é a maior área disponível sem cercas e lá cada um pode modular seu grau de dificuldade. Os praticantes afirmam que o esporte garante satisfação e gratificação enormes, além de sensação de liberdade somada ao lado explorador. É possível chegar a locais, onde, sem uma possante de motor forte e reduzido, com uma coroa grande, peão pequeno e suspensão invertida, seria muito mais difícil. Um esporte de aventura, como o nome sugere, impõe seus riscos e isso o torna emocionante. Logo, a segurança nunca deve ser negligenciada e a regra é que, se acontecer alguma coisa, deve-se ligar para 193. Por isso as pessoas devem ser prudentes: não acelerar mais do que dão conta, não errar o tempo do freio e saber passar devagar pelos vilarejos para respeitar os moradores locais. Apesar de parecer bastante arriscado, quem pratica a moto offroad minimiza os risco alegando que é um esporte de regularidade. “Não tem velocidade, é mais agilidade de desviar obstáculos e subir montanhas. Corremos mais 6
perigo no asfalto”, explica o empresário Osmar Santos, 45 anos e 30 deles dedicados às trilhas. Somam-se à proteção os quase onze quilos de indumentárias que recobrem todo o corpo do motociclista, deixando apenas o nariz exposto, ou nem isso. A dica para quem quer iniciar pelas trilhas morro acima é procurar se juntar a um grupo mais experiente.
Os motociclistas garantem que não é por ser um esporte de motor que não exige esforço físico. A explicação é que se faz muita força ao conduzir a possante. “Você não gira apenas o guidom, mas sim a moto toda”, esclarece Clodoaldo de Paula, 43 anos. Ele prossegue a explicação de que, durante a explosão da moto, se faz muita força no momento de subir e descer os morros. “O pior é a descida porque, se errar o tempo do freio, passa direto. Na subida basta tirar a mão do acelerador que a moto para”, conclui. Ao fim de mais um dia de aventura que chega a durar até seis horas rasgando os morros, uma boa opção para os trilheiros é terminar com um churrasco para fazer a resenha do dia.
Pedal forte De maneira menos explosiva, mas igualmente excitante, outra modalidade sobre duas rodas pelas trilhas do cerrado é o ciclismo. Pedalando, cada um colhe os benefícios a sua maneira, com amizades, companheirismo e muita saúde. O bem-estar é geral, atingindo até mesmo o estado zen da alma. É o que garante o ciclista Jofre Huang, 36 anos. Ele diz que é uma sensação tão boa de se sentir como a do explorador, que vê tudo novo e excitante. “Você curte muito a natureza e a introspecção é tamanha que se 7
ESPORTES
pessoas que apreciam pedalar, tanto de dia como de noite, pelo agreste brasiliense. Para esperar os “atrasadinhos”, dois ciclistas ficam atrás para dar o apoio necessário, fechar as porteiras e recolher o lixo encontrado. “Por fim, são postadas na internet as fotos da sujeira achada no caminho para tentar identificar os donos”. Para iniciar a pedalada, o grupo chega ao local combinado de carro e de lá parte em grupo por caminhos em que podem variar os níveis de dificuldades pelas distâncias, tempo, rampas e trechos técnicos (como desvios de obstáculos). compara a uma meditação sobre rodas. Jofre prossegue o raciocínio afirmando que o autoconhecimento é terapêutico porque você está lá só por você e não por ninguém. “Meditar é se desligar dos pensamentos por completo para que você foque. Esse é o prazer de estar lá sozinho ouvindo a natureza e começar a esvaziar a mente. Daí as coisas começam a fazer sentido e uma atrás da outra vão surgindo. Como se tudo forçasse a mente a imaginar e sonhar. Isso é exploratório”, filosofa o ciclista. Jofre é integrante do grupo de amigos Rebas do Cerrado. O grupo conta com aproximadamente 1500
O detalhe é que só pode ir aos passeios de nível difícil quem sabe interpretar a planilha, que é o mapa de reconhecimento lido com auxílio do velocímetro e de um altímetro. Jofre conta que o grupo pedala também por locais inóspitos, mas nesses casos somente vai o pessoal da coordenação e convidados. Por razões de segurança, não são divulgados na internet e o
ESPORTES
ciclista tem que ser experiente. “Tem que aguentar o ritmo para não poder depender do outro, além de ter um conhecimento mínimo de sobrevivência”. Para realizar esses passeios, na mochila de um biker deve ter sua bolsa de hidratação, comidas leves, tais como pão com mel, batata cozida com sal, amendoim, castanhas, uva passa e algum doce. Durante o passeio é comum passar o protetor solar por até três vezes.
Longas distâncias e cautela Quando os ciclistas se reúnem para viajar é considerado um evento. Jofre conta a história do “Desafiando Limites”, que consiste em uma viagem por 100 quilômetros de trilha entre Santo Antônio do Descoberto e Pirenópolis, que deixou de ser um passeio de organização voluntária para ter o serviço terceirizado. Ele, que participou das cinco edições do evento, conta que na primeira edição foram cerca de 400 pessoas, até que há três anos ocorreu um acidente sério e houve necessidade da utilização de um helicóptero para resgate.
Na ocasião foi gerado um constrangimento com a família da vítima e os integrantes pensaram: “Poxa, realizamos este passeio entre amigos e ainda corremos o risco de ser processados?”, questionaram. Agora, como explica o trilheiro, se acontecer um acidente o grupo tem um respaldo legal. As pessoas, atualmente, devem cumprir as regras e são disponibilizados socorristas e vans de apoio durante o trajeto. Jofre Huang diz sentir-se gratificado por pedalar em grupo e compartilha com a Revista Pepper o motivo de sua entrada no grupo: “A gente vai envelhecendo 8
9
ESPORTES
e sente falta das pessoas que foram se afastando de nós no decorrer da vida. A primeira vez que admitimos esta necessidade, corremos atrás para fazer novos laços de amizade”, resumiu. Logo, ele é figurinha fácil de dia ou de noite rasgando o cerrado com seu camelo.
Abençoado por suas águas O leque de opções para um espírito aventureiro pode também levar à sensação de desafiar a gravidade ao descer uma cachoeira de rapel. Aqui as trilhas nos levam a um objetivo diferente: o cachoeirismo. Quem pratica o esporte garante que o dia está ganho quando você reúne os
amigos, arma um piquenique e desce a cachoeira de rapel. “A diferença do rapel é permitir vivenciar uma cachoeira ao longo da queda de sua água e deixando-a passar por você”, exemplifica Mauricio Martins, 36 anos. Há 20 anos adepto do esporte, hoje ele vive conduzindo grupos para a prática de diferentes esportes de aventura pelo cerrado à frente de sua empresa, a Itakamã. Entre capacetes, cadeirinhas, mosquetões, oitos e um cabo vida, Maurício explica que o rapel foi criado a partir de técnicas do alpinismo e, quando realizado a partir de três cachoeiras, é considerado canionismo. A etimologia da palavra vem do francês e quer dizer “puxar para si”. Este termo pode ser aplicado quando se usa uma mesma corda para descer uma montanha de tamanho imensamente superior ao cumprimento da corda. Ao completar cada etapa, você puxa a corda para si e vai passando de grampo em grampo instalados na trajetória.
ESPORTES
de um aperto de mão controla sua descida. Você só conduz o atrito gerado pelo equipamento oito na corda. “Após a adrenalina da descida, é liberada a endorfina, que traz a calma”, garante o instrutor. Para aumentar a segurança, a prática é realizada com um guia em cima e outro aguarda embaixo. Para tranquilizar as mães que pensam que seu filho pode desmaiar ou prender o cabelo durante a trajetória, o indivíduo pode ser conduzido pelo guia que está no alto. “Não tem que descer outra corda para realizar o resgate, isso só aumentaria o risco para o
O rafting é mais apropriado para ser feito em cânions por ser um local confinado por duas paredes que dão vazão às águas. “Ele tem seus riscos, mas o maior perigo são pequenas lesões ou trombadas com o remo dos parceiros”, garante Mauricio Martins, da Itakamã Turismo. Maurício prossegue explicando que a classificação do nível de dificuldade vai de I a VI. As classes I a III são mais indicadas para o turismo de aventura comercial e iniciantes, pois, além de proporcionar fortes emoções, o grau de dificuldade é menor. São corredeiras fáceis, com ondas mais lisas e estáveis. As classes IV e V têm um grau de dificuldade maior e são indicadas para profissionais ou aventureiros que já tenham experiência em rios das outras classes. “Tem corredeiras mais fortes, com águas turbulentas que exigem mais atenção dos participantes e manobras mais precisas”, diz. Já a classe VI é indicada somente para profissionais, e as corredeiras são extremamente difíceis.
Já em uma cachoeira a corda é fixa. Para um marinheiro de primeira viagem, o nervosismo é comum, garante Maurício. Daí basta descer devagarzinho, deixando a água da cachoeira deslizar por seu corpo.
Serviço:
Pode parecer estranho a um leigo, mas a mínima força
praticante”, explica Maurício. E como a natureza deve ser respeitada e não negligenciada, a primeira recomendação é levar ao pé da letra a palavra grupo; portanto, todo mundo deve estar sempre unido. Caso queira se destacar do pessoal, informe ao condutor do passeio. No ambiente natural, evite dar gritos e deixar lixo. Também é recomendado desviar-se de animais: por exemplo, você não precisa matar uma cobra, basta se desviar dela.
• Para os ciclistas iniciantes, há opções de trilhas no Parque do Jardim Botânico, Parque Fona e da Torre Digital. Os caminhos de nível médio são na cachoeira do Tororó, Polo de Cinema em Sobradinho, Mar de Pinheiros (São Sebastião). Para os mais experientes, as opções são Córrego do Ouro (Planaltina), Cajuzinho (Gama), Morro dos Pinheiros (São Sebastião), Baixo do Delírio (Fercal) e Lenhador (Gama). • O local para a prática do Motocross é a Fercal. • Para descer um rapel, você pode ir até as cachoeiras do Tororó, Indaiá, Buraco das Araras, do Girassol (Cocalzinho de Goiás) e na caverna Escaroba (Formosa). • Os points para rafting são no rio Tocantinzinho e Corumbá, ambos em Goiás.
É de responsabilidade do guia portar um rádio de monitoramento e mesmo um celular com a bateria carregada e não deixar uma pessoa acima de 100 quilos descer no rapel.
Muita adrenalina na descida Um esporte que pode ser considerado um tanto mais emocionante na água é o rafting. Ele consiste na descida em corredeiras em botes infláveis de PVC com remos e trajando capacete e colete. E a diversão é certa, pois, antes do início, o guia pode perguntar aos membros do grupo se querem que virem ou não o bote durante o trajeto. 10
11