Terça-feira, 15 de setembro de 2009
Jornal de Brasília
SEGURANÇA
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ALTO PARAÍSO
Mulheres pedem proteção VALTER CAMPANATO/ABR
l Assassinato de artista plástica leva a população a lutar contra a insegurança G Pedro Wolff pedro.wolff@jornaldebrasilia.com.br
inda chocados com um crime ocorrido no dia 7 desse mês, quando uma artista plástica foi brutalmente assassinada, a comunidade de Alto Paraíso de Goiás se organizou e formou uma Comissão para o Enfrentamento da Insegurança. Neste sentido, ontem foi entregue um documento com 1.500 assinaturas no Fórum da cidade, pedindo para que o autor confesso do crime seja transferido imediatamente para uma penitenciária apropriada, onde aguardará julgamento. No documento, há ainda um pedido ao Ministério Público para instalar uma Delegacia da Mulher na cidade e a nomeação de um delegado e um escrivão para Alto Paraíso. De acordo com a educadora Maria Lúcia de Mesquita, 49 anos, uma das integrantes da comissão, gera insegurança na população o fato de José Mariano Xavier Gonçalves, 25 anos, suspeito do crime brutal, estar detido na cadeia pública da cidade. O crime ocorreu no feriado de 7 de Setembro. José Mariano cumpria o final da pena por estupro em regime semiaberto. Ele trabalhava durante o dia, indo para a cadeia apenas para dormir. Segundo o delegado-regional Eraldo José Augusco, José Mariano eventualmente trabalhava como jardineiro para Maria Helena Valido Silva, 60 anos, conhecida pelo nome artístico de Nartan. "Esse trabalho servia até como uma medida de ressocialização", disse o delegado. Usuário de drogas, no dia 7, José Mariano bateu na casa da artista plástica por volta de 1h30. Dentro da casa, ambos, segundo a polícia, teriam fumado maconha, no segundo andar da casa. Em de-
A
SAIBA
terminado momento, José Mariano decidiu matá-la por estrangulamento. Quando constatou que Nartan estava morta, o acusado desceu com o corpo até a lareira da residência e o colocou junto com almofadas e colchões para queimar. Para lhe assegurar um tempo de fuga, às 3h30 José Mariano posicionou uma vela na lareira, de modo que somente quando ela acabasse o fogo fosse aceso. O corpo de Nartan só foi encontrado dois dias depois, quando sua filha viajou de Brasília para Alto Paraíso em busca de notícias. A delegacia-regional de Formosa foi acionada e, como primeira providência, os policiais foram à cadeia pública da cidade, onde constataram que do sábado até segunda-feira José Mariano não havia pernoitado no local, como fora decretado pela Justiça. "Nós o encontramos em um bar da cidade, onde ele confessou o crime", afirma Eraldo Augusco. O delegado disse ter constatado arranhões no braço do acusado e pediu ao Instituto Médico Legal (IML) um exame de corpo de delito. Também foi recolhido material debaixo das unhas da vítima (única parte do corpo não incinerada) para se ter provas materiais do crime. DIFÍCIL PREVENÇÃO O delegado disse que ouviu de José a confissão do crime com uma riqueza de detalhes que só o assassino poderia ter. Eraldo Augusco lembra que esse é um caso de crime difícil de ser evitado pela polícia porque o autor conhecia a vítima e foi autorizado a entrar na casa. Segundo o delegado, a manifestação dos moradores é legítima. Ele concorda, inclusive, que há carência de policiais. Mas pondera que a comunidade tem sua parcela de culpa, quando é conivente com o uso de produtos ilícitos. Ele ressalta que é importante a promoção de um trabalho de conscientização para os jovens, alertando sobre os malefícios das drogas. Ainda assim, o delegado destaca que o misticismo e a ideologia de paz promovida pelos moradores de Alto Paraíso a tornam mais tranquila do que cidades vizinhas em termos de violência.
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Há apenas uma ONG que presta serviço social em Alto Paraíso. Ela é responsável pelo amparo a crianças com necessidades especiais e, no momento, está passando por dificuldades.
Segundo moradores, na cidade há crianças em situação de risco. Maria Lúcia informa que o município também passa por problemas de prostituição infantil em áreas mais pobres.
A cidade goiana, na Chapada dos Veadeiros, é considerada pacata. A artista plástica Nartan (detalhe) morava lá há algum tempo
Criança também foi morta Em maio, outro crime chocou a cidade. Na ocasião, um menino de oito anos foi encontrado afogado em um riacho da cidade. Segundo o delegado Eraldo Augusco, um homem chegou até a criança com uma borracha, o chamando para procurar uma forquilha para fazerem um estilingue. "Ouvimos todas as pessoas possíveis para solucionar este crime. A dificuldade é que nossa única testemunha é um primo da vítima, também de oito anos". Eraldo diz estar agindo com cautela para não criar um trauma na criança e, para isso, já acionou o auxílio de uma psicóloga.
O crime também foi lembrado ontem, na manifestação. Maria Lúcia de Mesquita, que integra a comissão de moradores, afirma que o foco maior é a falta de segurança e o descaso com o atendimento às mulheres. Ela lembra que na minuta entregue ao Ministério Público e ao juiz da cidade, há também um pedido de sensibilização em relação às necessidades de ações conjugadas de educação e inclusão social. A finalidade, explica, é garantir a segurança pública e a construção de uma cultura de paz na cidade. Quanto ao amparo do Estado às mulheres, Maria Lúcia informou
contar com o apoio da Secretária Especial da Mulher e Diferença Racial, órgão sediado em Brasília, que tem status de ministério. "Eles apoiam nossa reivindicação de instalar uma Delegacia da Mulher em cada município da região", garante. Sobre o problema das drogas, Maria Lúcia informa que a comissão tem vontade de iniciar campanhas nas escolas e demais repartições para orientar os jovens. "Há dez anos, quando me mudei para cá, foi quando chegou o crack. Na época, fizemos mobilizações para erradicar esse problema, até que a situação fugiu do nosso controle", informou.