Terça-feira, 17 de agosto de 2010
Jornal de Brasília
SEGURANÇA
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MINERVINO JÚNIOR
SOBRADINHO
Versões diferentes para o fato l Delegada que atirou em rapaz acusa desacato. Ele denuncia abuso de autoridade G Pedro Wolff pedro.wolff@jornaldebrasilia.com.br
pós uma discussão de trânsito, uma delegada de polícia do Estado de Goiás disparou contra o joelho de um jovem que teve sua carreira de atleta profissional encerrada. As versões do ocorrido, ouvidas ontem, são contraditórias. Enquanto ela o acusa de desacato, ele denuncia abuso de autoridade. O fato é investigado pela 13ª Delegacia de Polícia de Sobradinho. No dia 9 de junho, às 4h30 na Quadra Central de Sobradinho, tanto o atleta Welligton Rodrigues da Silva, 24 anos, quanto a delegada de Planaltina de Goiás, Mila Villela Junqueira, 27 anos, voltavam da Galeria Flamingo, onde se divertiam, mas não estiveram juntos no local. A delegada conta que foi seguida desde o Flamingo pelo carro de Welligton, um Gol, até que dentro de Sobradinho o veículo colidiu com o dela. "Eu me identifiquei, mas eles estavam em grupo de lutadores e foram avançando contra mim". Mila diz que Welligton estava embriagado e seguiu lhe ofendendo. Ela, por temer que ele roubasse sua arma, afirma que foi obrigada a atirar em seu joelho. "Ele estava em um grupo de dez e só restaram três porque eu os impedi de fugir". No primeiro depoimento, no dia do fato, a delegada fez relatos diferentes. Disse que estava no Fla-
A
SAIBA
mingo e foi envolvida em uma briga. Depois, um segurança da casa lhe teria dito que um dos envolvidos portava uma arma. Ela teria saído do local com o irmão e o marido em direção a Sobradinho em seu veículo, um Agile. Na altura do Hospital Regional da cidade, percebeu que o Gol lhe seguia, até que colidiu na traseira do Agile. Todos desceram e teria ocorrido uma discussão com o grupo de Welligton e ele teria tentado agredir o irmão da delegada. Na época, ela disse que diante da situação deu um disparo de aviso no chão na direção do agressor, mas acabou o atingindo acidentalmente. Welligton, atleta profissional de boxe chinês, diz que esse tiro lhe tirou o sonho de ir lutar no Campeonato Mundial e conta uma versão diferente das duas apresentadas pela delegada. Segundo ele, na época treinava para um campeonato e por isso não ingeriu álcool. "Ao contrário dela, que estava completamente bêbada e falando com a língua enrolada". No Flamingo, ele comemorava o aniversário de uma amiga, quando por volta de 3h30 teriam decidido comer um cachorro-quente em Sobradinho. Em dado momento, percebeu o carro da delegada lhe jogando luz alta. O carro ultrapassava e depois reduzia a velocidade na sua frente, segundo Welligton. Até que parou de vez e o irmão de Mila, Breno Villela Junqueira, 25 anos, se apresentou como policial e teria lhe chamando para a briga. Welligton teria pedido para ir embora. Nessa hora, outro policial civil de Goiás chegou em outro carro, atirou para cima e mostrou seu distintivo. "Nessa hora o Breno encarnou valentia e começou a me chamar para a porrada", disse Welligton. Ele disse que foi agarrado e empurrado, momento em que caiu. Nessa hora a delegada teria saído do carro e disparado.
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A Federação de Wushu do Distrito Federal em nota disse estar revoltada com a falta de preparo daquela policial. Seu presidente Uelber Alves disse que para Welligton
chegar aonde chegou foi investido muito dinheiro, em treinos e passagens aéreas. "A perda foi para o DF e o próprio Brasil, que terá um desfalque nos atletas que competem no exterior".
Por conta da lesão no joelho, onde foi atingido pelo disparo, Welligton encerrou a carreira de atleta
Jovem vai acionar a Justiça "Se o tiro não fosse à queima roupa ou se eu não tivesse sido operado de imediato eu teria perdido a perna", lamentou Welligton. Hoje ele luta para conseguir se aposentar por invalidez. "Meu trabalho era competir e dar aulas". Atleta desde os nove anos de idade, Welligton havia entrado na seleção brasileira de Kung Fu há dois anos e vinha se destacando nos campeonatos. Ele foi Campeão Sul-Americano e Pan-Americano no ano passado. Agora, ele diz que irá perder sua bolsa atleta e que acionará à Justiça
para pedir uma indenização ao Estado de Goiás e da própria delegada. Ele pretende abrir uma queixa contra ela na Corregedoria da Polícia Civil de Goiás. "Eu tenho que pagar aluguel, tenho que criar minha filha de oito anos e ela me impediu de trabalhar". O disparo destruiu sua patela e causou uma fratura exposta em seu fêmur. Welligton agora ficará três meses com uma gaiola com metais em sua perna para por os ossos no lugar. Em seguida, passará mais três meses de gesso para poste-
riormente fazer fisioterapia. "Hoje, o médico pede para eu rezar para poder voltar a andar e não ter encurtamento da perna". O delegado Rossi Mesquita Júnior, titular da 13ª DP (Sobradinho), disse que o fato está sendo investigado pela Seção de Investigação de Crimes Violentos (Sic-Vio). Ele aguarda a seção lhe produzir um relatório para dar início ao inquérito, que está registrado como lesão corporal. "Entregue o relatório, o inquérito tem um prazo de 30 dias para ser concluído e entregue ao Ministério Público".