A POESIA, A TRAGÉDIA, OS SERTÕES _ Sílvio Zancheti

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para Margot

A POESIA, A TRAGÉDIA, OS SERTÕES Silvio Zancheti

Museu Murillo la Grecca

25 de maio a 15 de julho de 2023

APRESENTAÇÃO

O Museu Murillo La Greca recebe a exposição

“A Poesia, a Tragédia, os Sertões”, do artista Silvio Zancheti, para dar visibilidade e continuidade a trabalhos que façam sentido ao equipamento. A instituição, que se consolida enquanto espaço para tratar do que é contemporâneo, se encontra com o trabalho de Silvio para abranger outras possibilidades de paisagens.

O artista, que utiliza da pintura e da impressão fine art como suportes para suas composições, constrói imagens que misturam as curvas de uma cartografia com montagens lineares que remontam quase que uma atmosfera “pixelada”, propondo uma interseccionalidade entre tempos que advém do histórico, mas perpassam o do próprio circuito artístico.

O tempo se faz presente na obra de Silvio, não apenas na negociação pictórica de referências contemporâneas ou não, mas também na sua narrativa em torno de acontecimentos históricos, como o de Canudos.

O Museu acredita que fomentar cultura é também rememorar o que compõe nossa história, abordar criticamente os contextos que sustentam as experiências das pessoas com os lugares que habitam, e elucubrar como a Arte consegue criar diálogos possíveis através de produções que viabilizam diferentes discursos.

Nós, que construímos o Museu Murillo La Greca, encontramos na obra de Silvio proposições pertinentes ao seu tempo e abrimos esse espaço expositivo com vontade de acompanhar quais inquietações surgirão a partir de suas obras.

PRESENTATION

The Murillo La Greca Museum hosts the exhibition “A Poesia, a Tragédia, os Sertões” (Poetry, Tragedy, the Backlands), by the artist Silvio Zancheti, to give visibility and a continuity to works that are meaningful to the Museum.

The institution, which is consolidated as a space to address the contemporary, converges with Silvio’s work to include other landscape possibilities.

The artist, who uses fine art painting and printing as a basis for his compositions, constructs images that mix the curves of a cartography with linear montages that refer back to an almost “pixelated” atmosphere, proposing an intersectionality between periods that come from history, but permeating that of the artistic circuit itself.

Time is made present in Silvio’s work, not only in the pictorial negotiation of contemporary or non-contemporary references, but also in his narrative around historical events, such as that of Canudos.

The Museum believes that fostering culture is also about remembering how our history is shaped, critically addressing the contexts that endorse people’s experiences with the places in which they inhabit, and mediating how Art manages to create possible dialogues through productions that enable different views.

We, who created the Murillo La Greca Museum, find in Silvio’s work propositions that are pertinent and have opened this exhibition space with the desire to follow-up on what inquietudes will arise from his works.

A POESIA, A TRAGÉDIA, OS SERTÕES

Com o advento da arte contemporânea e suas aberturas para o futuro, tivemos grandes movimentações no sentido geral da arte, mas também esquecimentos. Ocorre que diversas abrangências que as artes visuais proporcionavam no âmbito da cultura e seu envolvimento social parecem ter saído do repertório da criação artística na atualidade.

Um destes envolvimentos toca a história a partir das metáforas visuais do artista quando suas criações se envolvem com o passado, com a história, ou aborda temas universais como, por exemplo, a obra “Guerra e paz”, mural alegórico de Portinari, que está na sede da ONU, em Nova York. Pedimos licença ao leitor para fazer esta introdução ao texto curatorial da exposição

“Canudos: A Poesia, a Tragédia, os Sertões”, do artista Silvio Zancheti.

No Nordeste brasileiro muitos artistas do modernismo se envolveram na abordagem histórica a partir de suas obras. João Câmara, por exemplo, é um deles e sua série de litogravuras e pinturas “Cenas da vida brasileira”, que o firmou no mundo como o grande artista que é, são um significativo exemplo dessa vertente artística. Mas temos muito mais, e no Recife também, como vemos no imaginário de Brennand em relação ao mural cerâmico

“Batalha dos Guararapes” que originalmente instalado na Rua das Flores, centro da cidade, e hoje se transferido para Boa Viagem, na agência do Banco Santander. Este tema foi pintado desde o século

XVII, como se vê no teto do coro da Igreja de N. Sra. da Conceição dos Militares, também no centro do Recife, e na pintura votiva que enriquece o acervo do Museu do Estado de Pernambuco. Importante também foi a exposição coletiva sobre o mesmo tema com a curado ria de Vera Magalhães1 intitulada “A Batalha dos Guararapes – Um Olhar Contemporâneo”, e a exposição sobre a Revolução Pernambucana de 18172 realizada na Arte Plural Galeria patrocinada pela Companhia Editora de Pernambuco. Também temos o mural de Cícero Dias sobre Frei Caneca, localizado no hall da Casa da Cultura de Pernambuco, e ainda as obras de Tereza Costa Rego como a série “Sete Luas de Sangue”3 e o mural “Mulheres de Tejucupapo”, entre outras obras de artistas de Pernambuco e

1 Participaram os seguintes artista: Francisco Brennand, João Câmara, Reynaldo Fonseca, Ismael Caldas, Tereza Costa Rego, José Cláudio, Montez Magno, José de Moura, Gil Vicente, Delano, Rinaldo Silva e Romero Andrade Lima.

2 Participaram os seguintes artistas: Jeims Duarte, Helder Santos, Daaniel Araújo, Bruno Vilela, Beto Viana, Plínio Palhano, Jessica Martins, Gio Simões, Roberto Ploeg, George Barbosa, Renato Vale e Rinaldo Silva.

3 As alegorias pintadas são: “O Massacre dos Índios’, “A Batalha dos Guararapes, A Luta de Zumbi dos Palmares”, “A Guerra de Canudos”, “O Cangaço”, “a Luta Pela Terra” – da luta dos Índios ao MST, “A Formação da República”.

de outras cidades do Nordeste como João Pessoa onde está a pintura alegórica de Flávio Tavares sobre Marielle Franco.

A história, os fatos sociais, os panoramas épicos como as guerras libertárias do Nordeste brasileiro, são fontes temáticas profundas para o artista com ânsia de criar um panorama da história à luz de sua criação artística. Euclides da Cunha nos deixou uma fortuna como texto histórico, mas também uma fortuna poética no seu importantíssimo texto de “Os Sertões”. O episódio do Beato Antônio Conselheiro à frente dos habitantes da cidade de Canudos enfrentando os soldados da República brasileira recém-instalada.

A Guerra de Canudos é o tema trabalhado por Silvio Zancheti que resultou na exposição que deu vez a esta curadoria acontecida no Museu Murillo

La Greca, espaço importante dedicado a novos artistas, lugar onde Silvio se coloca. A diferença a entre poesia e a tragédia enfocada por ele nos leva à abordagem da oposição entre o horror e a beleza, hiato carregado de uma dimensão trágica quando se trata da expressão de sua realização expressiva através da arte.

Silvio Zancheti retoma em Pernambuco este viés da arte em que tantos artistas importantes trabalharam. A pintura é hoje sua atividade principal surgida na maturidade de sua vida de arquiteto e professor aposentado da UFPE, da cadeira de Planejamento Urbano.

Silvio utiliza os meios de expressão tradicionais e da atualidade, na sua arte surgida da inquietude de quem vê e pensa, de quem pesquisa e sabe, e caminha por várias maneiras do fazer, no território da pintura principalmente, mas também entre a pintura e o projeto digital realizado através de impressões sobre tela e peças de cerâmica.

A arte de quem convive com a arquitetura é normalmente uma expressão onde a geometria ocupa grande parte de sua realidade. Silvio é geométrico, mas não completamente, nas suas criações ele lança mão da geometria para a organização dos espaços, a estrutura da obra. Vê-se nas criações deste conjunto muitos mapas que corroboram com a especialidade do autor como planejador urbano. Mas é muito interessante que Euclides da Cunha ter sido um aficionado pela cartografia, ele colecionava mapas, e se vê em suas narrativas uma precisão geográfica.

Este trabalho não é um mural, como geralmente se dá no caso de pinturas históricas, trata-se de uma série de sete pinturas, sete impressões e uma instalação existem mapas da região onde ficava situada a povoação de Canudos, mapas em que o artista trabalha dando sentido narrativo a esta cartografia que justifica algumas situações do fato histórico do extermínio da população comandada pelo Conselheiro. Na atualidade vemos realizada a profecia do Conselheiro se tornar realidade. O Beato disse aos quatro ventos: “O Sertão vai virar mar e o mar vai virar Sertão”, e assistimos a partir desta metáfora ao alagamento da cidade de Canudos pelas águas da barragem do Açude Cocorobó. A instalação de vários fuzis feitos de barro e modificados a partir da água derramada neles para depois serem cozidos e transformados em algo diferente do que foi quando realizados também nos fala da previsão do Conselheiro.

O episódio de Canudos aconteceu entre 1896 e 1897, sete anos após a Proclamação da República, num Brasil em plena mudança e numa região assolada pela seca e por condições sociais e geográficas quase primitivas. “O sertanejo é antes de tudo um forte!” é um brado de “Os Sertões”,

e a guerra à qual homens, mulheres e crianças de Canudos foram submetidos foi um massacre inominável. Foram quatro investidas do exército sobre o povo de Canudos, nos três primeiros o fracasso do exército foi patente, no último, porém, as tropas foram em número muito maior e houve a derrota dos sertanejos.

O conjunto das pinturas é uma homenagem à paisagem, não a real, documental de Canudos, que não mais existe, mas a como motivo da arte. Os títulos destas das são frases pinçadas do texto de Euclides da Cunha e colocam a poesia no cerne deste trabalho. Começam com “A Velha Noite”, onde acima da paisagem noturna do Sertão estão as fases da lua numa composição de círculos e quadrados; em seguida uma paisagem com caminhos em curvas se chama “Uma Volta no Caminho”; serras ao longe evocam “A quietude Universal das Coisas”; outra paisagem luminosa tem o título de “A Luz Curva dos Dias Longos” e um sol fortíssimo com sua luz emitida em quadrados, figura que parece o tema desta série, pois nos leva a pensar em território, se intitula “O Sol Pintando o Deserto de Flores de Ouro”. Finalmente duas paisagens com o sol em raios quadrados, números um e dois, se intitulam, “Agitavam as Longas Crinas Ondulantes” um e dois. As impressões em “fine art” partem de colagens de cartas geográficas e fotografias antigas composta e recompostas para criarem uma narrativa que vai além do mero documento, narrativa que concentra a relação das obras com a verdade histórica, porém não necessariamente narrativa, mas em composições atuais, tanto do ponto de vista da distância e da memória, numa época em que tudo na região se transformou, como do ângulo estético quando os meios eletrônicos possibilitam juntar

imagens de terra arrasada, escombros da cidade sobre mapas do Estado da Bahia, paliçadas, muros e limites da cidade destruída, a igreja demolida, homens, mulheres e crianças mortos e cenas que sugerem ataques surgidas das narrativas de Euclides: “Não lhes bastavam seis mil Mannilinchers e seis mil sabres, e o calcanhar de doze mil coturnos... sob a impassibilidade de céus tranquilos e claros — a queda de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença consoladora e forte.” Isto tudo contra homens armados de peixeiras, paus e pedras. “Caiu o Arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas. 5.200, cuidadosamente contadas”.

01. “a ossatura partida das montanhas” / “a paragem sinistra e desolada”

2020, Colagem eletrônica, impressão Fine Art, 100 x 100 cm

02. “Vinha do tirocínio brutal da fome, da sede, das fadigas, das angustias recalcadas e das misérias fundas. Não tinha dores desconhecidas.”

2020, Colagem eletrônica, impressão Fine Art, 100 x 100 cm.

03. “Gizavam antecipadas façanhas; coisas de pasmar, depois, aos ouvintes crédulos e tímidos; cenas jocotrágicas — lá dentro, na tapera monstruosa, quando a varressem a tiro.”

2020, Colagem eletrônica, impressão Fine Art, 100 x 100 cm.

04. “Por cima – toldada a manhã luminosa dos sertões – uma rede vibrante de parábolas...”

2020, Colagem eletrônica, impressão Fine Art, 100 x 100 cm.

05. “Não lhes bastavam seis mil Mannlinchers e seis mil sabres, e o calcanhar de doze mil coturnos ... – sob a impassibilidade de céus tranquilos e claros – a queda de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença consoladora e forte...”

2020, Colagem eletrônica, impressão Fine Art, 100 x 100 cm.

06. “Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se mostrassem mulheres precipitando-se na fogueira dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...”

2020, Colagem eletrônica, impressão Fine Art, 100 x 100 cm.

07. “Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5.200, cuidadosamente contadas.”

2020, Colagem eletrônica, impressão Fine Art sobre canvas, 100 x 100 cm.

01 A TRAGÉDIA
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08. A Velha Noite 2022, Pintura acrílica sobre papel Canson Montval, 115 x 115 cm.

09. Uma Volta no Caminho 2022, Pintura acrílica sobre papel Canson Montval, 115 x 115 cm.

10. A Quietude Universal das Coisas 2022, Pintura acrílica sobre papel Canson Montval, 115 x 115 cm.

11. A Luz Crua dos Dias Longos 2022, Pintura acrílica sobre papel Canson Montval, 115 x 115 cm.

12. O Sol Pintando o Deserto com Flores de Ouro 2022, Pintura acrílica sobre papel Canson Montval, 115 x 115 cm.

13. Agitavam as longas Crinas Ondulantes - I 2022, Pintura acrílica sobre papel Canson Montval, 60 x 100 cm.

14. Agitavam as longas Crinas Ondulantes - II 2022, Pintura acrílica sobre papel Canson Montval, 60 x 100 cm.

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THE POETRY, THE TRAGEDY, THE OS SERTÕES

With the advent of contemporary art and its openings to the future, great changes occurred in the general sense of art, but also oversights. It transpires that various horizons that visual arts provided in the field of culture and its social involvement seem to come straight out of present day repertoire of artistic creation.

One of such involvements broaches history through the visual metaphors of the artist when his creations involve the past, through history, or addresses universal themes, such as “War and Peace”, Portinari’s allegorical murals, at the UN headquarters, in New York. We ask permission from readers to make this introduction to the curatorial text of the exhibition “A Poesia, a Tragédia, os Sertões”, by the artist Silvio Zancheti.

In the Northeast of Brazil many modernist artists were involved in the historical approach in their works. João Câmara, for example, was one of these and his series of lithographs and paintings “Cenas da vida brasileira” (Scenes of Brazilian Life), which established him worldwide as the great artist that he is, is a meaningful example of this artistic aspect. But there are more, in Recife too, as can be observed in Brennand’s imagination regarding the ceramic mural “Batalha dos Guararapes” (Guararapes Battle) which was originally installed at Rua das Flores, downtown, and later transferred to Boa Viagem, at the Banco Santander agency. This theme has been painted since the 17th century, as can be seen on the ceiling of the N. Sra. da Conceição dos Militares Church, also in Recife’s downtown, as well as in the votive painting that enriches the collection of the State of Pernambuco Museum. Also significant was the group exhibition on the same theme under the curatorship of Vera Magalhães*, “A Batalha dos Guararapes – Um Olhar Contemporâneo”1 (Battle of Guararapes – A Contemporary Outlook), and the exhibition on the Pernambuco Revolu-

tion of 18172 held at Arte Plural Galeria sponsored by Companhia Editora de Pernambuco. There is also the mural by Cícero Dias about Frei Caneca, located in the hall of the Casa da Cultura de Pernambuco, as well as the works of Tereza Costa Rego such as the series “Sete Luas de Sangue” (Seven Moons of Blood)3 and the mural “Mulheres de Tejucupapo” (Women of Tejucupapo), among other works by artists of Pernambuco and other cities of the Northeast of Brazil, such as in João Pessoa where the allegorical painting by Flavio Tavares about Marielle Franco is located.

History, social facts, epic panoramas such as the libertarian wars of the Northeast of Brazil, are far-reaching thematic sources for artists eager to generate a panorama of history under the artist’s artistic creation. Euclides da Cunha left us a wealth of historical texts, but also a poetic fortune in his supreme text in “Os Sertões” (The Backlands). The episode of the mystic Antonio Conselheiro as leader of the inhabitants of the city of Canudos facing the soldiers of the recently installed Brazilian Republic.

Guerra de Canudos (Canudos War) is the theme worked by Silvio Zancheti resulting in an exhibition that enabled the curatorship that took place at the Murillo La Greca Museum, an important venue dedicated to new artists, a place where Silvio places himself. The difference between poetry and tragedy focused by the artist leads us to address the opposition between horror and beauty, a hiatus laced with a tragic dimension when dealing with expressing its significant accomplishment through art.

Silvio Zancheti resumes in Pernambuco this art in which many important artists have worked. Painting is today his main activity, surfacing in the mature years of his life as an architect and professor at UFPE, in the area of Urban Planning.

2 The following artists took part: Jeims Duarte, Helder Santos, Daaniel Araújo, Bruno Vilela, Beto Viana, Plínio Palhano, Jessica Martins, Gio Simões, Roberto Ploeg, George Barbosa, Renato Vale and Rinaldo Silva.

1 The following artists took part: Francisco Brennand, João Câmara, Reynaldo Fonseca, Ismael Caldas, Tereza Costa Rego, José Cláudio, Montez Magno, José de Moura, Gil Vicente, Delano, Rinaldo Silva and Romero Andrade Lima.

3 Painted allegories: “O Massacre dos Índios’, “A Batalha dos Guararapes, A Luta de Zumbi dos Palmares”, “A Guerra de Canudos”, “O Cangaço”, “a Luta Pela Terra” – da luta dos Índios ao MST, “A Formação da República”.

Silvio uses traditional and modern means of expression in his art, arising from the restlessness of who sees and thinks, researches and understands, and who meanders in various means through the territory of painting, mainly, but also amidst painting and digital project through prints on canvas and ceramic works.

The art of those connected with architecture is normally an expression where geometry occupies much of its reality. Silvio is geometric, but not completely, in his creations he uses geometry for the organization of spaces, for structures. Many maps are seen in his creations that corroborate with the expertise of the author as an urban planner. But it is most interesting that Euclides da Cunha was also a cartography enthusiast, he collected maps, and a geographical precision is possible to be observed in his narratives.

This work is not a mural, as is generally the case in historic paintings, it is a series of seven paintings, seven impressions and a setup with maps of the region in which the Canudos settlement was located, maps on which the artist works giving narrative sense to the cartography, unraveling some situations of the historical fact related to the extermination of the population led by Conselheiro. Today we observe that the prophecy of Antonio Conselheiro comes true. He called-out to one and all: “the backlands will turn into seacoast and the seacoast into backlands”, and we witnessed, on the basis of this metaphor, the flooding of the city of Canudos in 1969 with the waters from the Cocorobó Dam. The installation of several rifles made from clay and modified with water poured onto them to then be baked and transformed into something different from what they were also tells us about the predictions by Conselheiro.

The Canudos episode occurred between 1896 and 1897, seven years after the Proclamation of the Republic, in a rapidly changing Brazil and in a region beset by drought and under almost primitive social and geographical conditions. “the Backlander is, above all, a strong type!” is cried out boundlessly in “Os Sertões”, and the war in which men, women and children from Canudos were subjected to was an unimaginable massacre. There were four attacks by the army against the people of Canudos, in the first three the failure of the army was evident, in the last, however, the troops were in much greater numbers and the Backlanders were defeated.

The set of paintings is a tribute to the landscape, not the actual, documented landscape of Canudos, which no longer exists, but to the landscape as an art motif. The titles of these paintings are poetical phrases picked-out from the text of Euclides da Cunha, placing poetry in the core of this work. Starting with “A Velha Noite” (Old Night), where above the nightscape of the Backlands are the phases of the moon in a composition of circles and squares; next, a landscape with curved paths called “Uma Volta no Caminho” (A Turn in the Path); followed by mountains in the distance evoking “A quietude Universal das Coisas” (Universal Stillness of Things); another luminous landscape has the title “A Luz Curva dos Dias Longos” (Curved Light of Long Days); and a very strong sun with its light delivered in squares, a figure that seems to be the theme of this series, once it leads us think about territory, is called “O Sol Pintando o Deserto de Flores de Ouro” (The Sun Painting the Desert with Golden Flowers). Finally, two landscapes with the sun in square rays, called “Agitavam as Longas Crinas Ondulantes I e II” (Waving Long Rippling Manes I and II).

The “fine art” prints start from collages of geographical maps and old photographs assembled and reassembled to create a narrative that goes beyond the mere document, a narrative focused on the relationship of the works with historical veracity, not necessarily a narrative, but in current compositions, both in relation to distance as to remembrance, at a time in which everything in the region has been transformed, from an esthetical angle when electronic means enable the gathering of images of the scorched earth, rubbles of the city on maps of the state of Bahia, destroyed palisades, walls and city limits, the demolished church, dead men, women and children and scenes suggesting attacks arising from Euclides’ narratives: ”Six-thousand Mannlichers, six thousand sabers, and the heels of twelve-thousand boots were not enough for them... – under the indifference of the quiet and clear skies, the fall of a burning ideal, the absolute extinction of a consoling and strong belief”. All of this against men armed with machetes, sticks and stones. “Arraial fell on the 5th. On the 6th they finished by destroying the homes. 5,200 of them carefully counted”.

2023

∞ ∞ ∞ ∞

No barro nasceste e ao barro retornas.

2023, Placas de cerâmica queimada; armas em barro cru, potes de água e conchas de coco, 82 x 124 cm.

SILVIO ZANCHETI

Silvio Mendes Zancheti, artista plástico, arquiteto, planejador urbano, conservador de bens patrimoniais.

Formado pela Universidade de São Paulo (USP) com Mestrado em Artes pela Universidade de Manchester e Doutorado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo.

EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL

2022 — “O Sublime e a Razão – Silvio Zancheti convida Raul Córdula”. Cecí Galeria. Recife, PE.

2020 — “Dois Mundos – Um Mundo”. Museu do Estado de Pernambuco. Recife, PE

EXPOSIÇÕES COLETIVAS

2021 — Ceci Galeria, Recife, PE.

1973 — XII Bienal de São Paulo (na mostra de filmes). São Paulo, SP.

1973 — Jovem Arte Contemporânea, Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC). São Paulo, SP.

1973 — 1ª Bienal Internacional de Arquitetura. São Paulo, SP.

PUBLICAÇÃO

2021 — REVISTA TÊMPERA. Vol. 3, Nº 10. Publicação da série “Canudos: a tragédia dos sertões”.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Zancheti, Silvio

Canudos : a poesia, a tragédia, os sertões / Silvio

Zancheti ; curadoria Raul Córdula ; tradução Vivien

Susan Maciver. -- Recife, PE : Ed. do Autor, 2023.

Título original: Poetry, tragedy, the backlands. ISBN 978-65-00-66428-7

1. Artes visuais - Exposições - Catálogos 2. Brasil - História - Guerra de Canudos 3. Pintores brasileiros

4. Pintura - Exposições 5. Poesia I. Córdula, Raul. II. Título.

23-150849

Índices para catálogo sistemático:

CDD-750

ARTISTA

SILVIO MENDES ZANCHETI

CURADORIA

RAUL CÓRDULA

PROJETO EXPOGRÁFICO | SINALIZAÇÃO | CATÁLOGO

PEDRO ALB XAVIER

PRODUÇÃO ESCULTURA

VALTER CARVALHO DE ARAUJO, CASA DA ARGILA

TRADUÇÃO

VIVIEN SUSAN MACIVER

TRATAMENTO DE IMAGENS

ROBSON LEMOS | SUPER IMAGEM

MONTAGEM

RÔMULO FRANCISCO DO NASCIMENTO

1. Pinturas : Artes : Exposições 750

Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253

R. Leonardo Bezerra Cavalcante, 366

Parnamirim, Recife - PE, 52060-030

81 3355.3129 | TER A SEX 9H—12H E 13H—17H

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