A corda sem fim
01 | Julho | 2014
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O sistema de extracção
O tranporte do mineral desde o fundo da mina até à superfície
1 - Introdução A exploração de mineral que tinha sido iniciada em 1854 atraves de poços e galerias irá ser objecto ao longo dos anos seguintes da introdução de diferentes sistemas de lavra com o objectivo de se ajustar ás necessidades operacionais face á progressão dos trabalhos. A fase inicial que se tinha caracterizado por uma utilização intensiva de mão de obra no
Fig. 3 Fig. 1
desmonte da corta e o transporte do mineral efectuado por pequenas locomotivas a vapor ,Fig.1,iria dar lugar a todo um conjunto de novos desafios com vista a trazer até á superficie desde o fundo da mina as centenas de toneladas de mineral extraidas diáriamente.
2 - A Corda sem fim O sistema de corda-sem-fim , começa ser instalado nas minas a nivel mundial apartir de 1911 tendo este sistema sido instalado na Mina de São Domingos no ano de 1912 ,Fig.3. O sistema escolhido era do tipo directo , com uma unica corda e um tambor de tracção acionado
por um motor electrico e semelhante ao da Fig.4. A corda sem fim tinha um comprimento total de 756 metros incluindo as 3 voltas em redor do tambor do motor de tracção e saía junto ao chão do topo norte do cais de descarga , descia á mina até ao piso 150 onde invertia o sentido e começava a subir até á entrada do cais onde os zorritos eram descarregados e depois descia do cais até ao tambor
Fig. 2
Numa 1ª fase e ainda a pouca profundidade e com os túneis com pouca inclinação e á semelhança das praticas em outras minas do império britanico foi usada a tracção animal onde centenas de muares faziam a tracção dos vagões,Fig.2,mas com o aumento progressivo da profundidade da exploração e da inclinação dos túneis de acesso à mina , este sistema rapidamente se tornou obsoleto e incapaz de responder as necessidades. É nesta altura que se decide a instalação de um sistema de corda-sem-fim do tipo directo com uma unica corda e um tambor de tracção acionado por um motor electrico. 4
Fig. 4
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ate ao piso 150 , eram fixados á corda sem fim em intervalos nunca inferiores a 25 mts para dar tempo aos manobradores para fazer o seu engate e desengate da corda e também para melhor balancear todo o sistema de transporte em termos da distribuição da carga. Os zorritos eram engatados e desengatados manualmente com a corda sem-fim sempre em movimento e fixados á mesma atraves de um
Fig. 7
Fig. 5
de tracção tudo isto num ciclo continuo. Este cabo de aço com 1 1/4” (31,75mm) de diametro tinha 3 voltas em redor do grande tambor de tracção ,tambor este acionado por um motor electrico de 130 hp.e era objecto de cuidados especiais tal como não a deixar molhar com agua forte e mante-la permanentemente lubrificada existindo pessoal especialmente dedicado a esta missão. A corda sem-fim estava apoiada ao longo de todo o seu percurso em rolos colocados no chão e entre os carris,Fig.5,ao longo do todo o percurso e nas curvas era guiada por guias metálicas e rolos
para reduzir o atrito. Para manter a corda com uma tensão constante existia no interior da mina e no piso 150,um engenhoso sistema que em caso de sobrecarga devido por exemplo a descarrilamentos e outros factores que impedissem o normal funcionamento do sistema,desligava automaticamente o motor electrico á superficie, Fig.6.
3 - Os Zorritos Os vagões conhecidos por “zorritos” quer na sua viagem para a superficie quer na descida
mecanismo com um sistema de duas pinças que abraçavam o cabo. Estas pinças também chamados na gíria por “clips ou molas” eram fechadas e abertas com o pé através de uma alavanca sendo engatadas á argola existente no chassi do zorrito através de um gancho com uma corrente de ligação. Para se aferir da importancia da operacionalidade permanente de todo o sistema da corda sem-fim sabe-se que o tunel dos zorritos tinha desde o piso 150 até a superficie , um trabalhador cada 50 mts para garantir o fluxo normal de zorritos e em caso de acidente, descarrilamento ou qualquer ocorrencia que inibisse o funcionamento continuo estes operarios acionavam um sistema de aviso e a corda era parada até se restabelecer a circulação. Chegados ao cimo do cais eram descarregados nas toldas respectivas de acordo com a classificação do minério que traziam e desciam por um elevador existente no topo norte do cais para voltarem ao interior da mina para novo carregamento. Para além da sua função principal de transporte do mineral eram também usados para o transporte de materiais para o fundo da Mina e para trazer para a superficie os residuos das latrinas dos varios pisos.
4 - O Poço Nº4 O início do poço nº4 , era no piso 150 e dava acesso a todo o sistema de galerias.Era circular , com 4 mts de diametro interior , todo forrado com tabuas de madeira de riga e a sua área era
Fig. 8
Fig. 6
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dividida em 3 zonas distintas, Fig.8. A zona central onde estavam instalados os 2 elevadores , uma zona com a escada de serviço 5
entre pisos e outra zona com tubagens e cabos electricos para alimentação dos pisos inferiores. O elevador ou gaiola como também era chamado pelos mineiros-era o mesmo para subir o minerio e descer e subir o pessoal mas o transporte do mineral só de fazia quando o elevador não estava a ser usado para transportar os mineiros na mudança de turno ou “relevo”. Os 2 elevadores , trabalhavam em paralelo e eram acionados por um cabo de aço de 1 1/8” (28mm) de diametro e recebiam cada um deles um zorrito que pesava 930 kg quando completamente carregado com mineral. Por razões de segurança era feita uma inspeção semanal ao seu estado geral e substituidos na totalidade cada 6 meses. O guincho que acionava os elevadores localizado no piso 150 tinha um motor de 130hp e era comandado por um sistema de control que parava automaticamente os elevadores se estes atingissem uma determinada velocidade máxima sendo este o unico dispositivo de segurança existente para uma operação tão complexa.
5 - O Poço Nº4 e a corda sem-fim
Fig. 9
Era no piso 150 e a uma distancia de ~20 metros do poço Nº4 que se desenrrolava toda a actividade de engate dos zorritos para serem transportados para a superficie ou o seu desengate no retorno ao piso 150 , vazios ou carregados com terra e pedra para enchimento das galerias já exploradas,madeira para apoio das galerias , materias de manutenção,de acordo com as necessidades do interior da mina e que eram comunicadas ao pessoal das toldas existentes na boca do tunel. Toda a movimentação dos zorritos neste piso era feita manualmente e se tomarmos em consideração que cada zorrito carregado pesava aproximadamente 930kgs podemos ter uma ideia do esforço humano para processar toda a logistica neste piso
6 - Vestígios ainda existentes Infelizmente a informação sobre este tema que sobreviveu é muito pouca e uma parte importante deste artigo que este mes vos trazemos , baseia-se na sintese de várias conversas com os poucos mineiros ainda existentes e nos preciosos apontamentos do amigo John Higgins e cujos desenhos se reproduzem. As 2 roldanas que guiavam a corda sem-fim quando esta saía do cais em direcção ao tambor de tracção são um dos ultimos vestigios desse sistema de extracção que ainda hoje podem ser observadas na face do cais virada a nascente , Fig.9. Da “casa da corda sem-fim” no topo Norte do cais ,Fig.10, onde estava o sistema de comunicações, quadro electrico e motor com o tambor de tracção da corda sem fim nada mais resta do que vestigios desses tempos gloriosos quando a Revolução Industrial passou pela Mina de São Domingos.
Recolha e tratamento de informação de: José Zarcos Tirado Palma 6
Fig. 10
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