PELIKULA Photo Album 2013 (nº2)

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“Flores do campo” © Filipe Carneiro

FLORES DO CAMPO Vinde a mim, oh flores do campo saudai toda a gente e os amigos meus; Quero dizer-lhes que lhes quero tanto, como quero ao mundo que pertence a Deus. António Octávio Carneiro (in memoriam)

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Ficha Técnica PELIKULA PHOTO ALBUM 2013

(nº 2)

Fundador: Filipe Carneiro Conselho Técnico: Luís Ferreirinha, Mário Esteves, Zeca Neto, Filipe Carneiro Designers: Zeca Neto, Ivo Carvalho Apoio Informático: Filipe Lourenço Princípio Editorial: “fotografia em cru” – este é o conceito que a revista procura; um pequeno acerto de pós-produção é aceitável (este número permite a manipulação digital total, já que o tema central é Tecnologia). Convite: os apaixonados pela fotografia que pretendam publicar nesta revista, poderão enviar as suas fotografias para o mail: pelikularevista@yahoo.com Pede-se um mínimo de 2000 pixeis no lado pequeno da foto e resolução a 300 ppi. Assume-se que os trabalhos enviados são de autoria legítima (e têm carácter gratuito) e que os autores permitem o ajuste necessário para uma melhor composição gráfica da revista. Tema do próximo número - 2014: Café-Bar, Blues-Jazz, Rock&Roll As fotografias ou os artigos de texto deverão ser enviados até ao dia 15.Dezembro.2013 para o mail da revista. Fotografia da capa: © Zeca Neto Artigo do tema central: “TECNOLOGIA” por Manuel Varzim Revista Online: www.issu.com/pelikularevista www.flikcr.com/photos/pelikularevista Mail: pelikularevista@yahoo.com Fotógrafos: André Pereira, André Rodrigues, Arturo Cánovas, Celso Rocha, Estêvão Lafuente, Filipe Carneiro, Gustavo Pires Morais, Inês Carneiro, Ivo Carvalho, Jorge Machado, João Mota, José Loureiro, Luís Ferreirinha, Luísa Malheiro, Manuel Carvalho, Manuel Varzim, Manuela Matos Monteiro, Mário Esteves, Nuno João, Nuno Oliveira, Nuno Pires, Octávio Carneiro, Renato Cruz Pereira, Rita Mota e José “Zeca” Neto.

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Introdução Saiu o 2º número da Revista Pelikula - ano 2013! Na sequência da publicação do ano passado - Páscoa 2012, mantém-se a estrutura de um fotoálbum com carácter de revista mas desta vez com um grafismo mais diferenciado, mais fotógrafos participantes, mais fotografias e mais artigos de texto. O tema central está sempre presente, embora a maior parte do conteúdo da revista continue a ser de natureza livre. Considerando que o tema central é TECNOLOGIA desta vez foi ignorado o princípio editorial da revista - “a procura da fotografia em cru”. Na verdade, a pós-produção digital é um exemplo do desenvolvimento tecnológico no processo fotográfico, razão pela qual alguns dos trabalhos aqui publicados demonstram esse conceito. Nos séculos XIX e XX o progresso tecnológico teve o seu marco definitivo. Com a revolução industrial iniciada no séc. XIX a tecnologia sofreu um crescimento galopante, contrastando claramente com a história de séculos que ficaram para trás, nomeadamente o obscurantismo cultural que se viveu na idade média e que impediu durante muito tempo a liberdade do pensamento científico. A fotografia foi um evento nascido no séc. XIX entre 1837-1839 e criado pelos franceses Niépce e Daguerre. Desde então a sua evolução tem sido rápida e assombrosa como é do conhecimento geral. No final do século XX e com o aparecimento da ciência informática, alterou-se drasticamente a forma de fazer fotografia. No artigo do tema central publicado neste número, Manuel Varzim descreve de um modo claro e interessante a simbiose entre fotografia e informática. E é esta realidade dos dias de hoje que torna a fotografia mais acessível a todos. Se por um lado isso é uma vantagem enorme e admirável, por outro pode facilitar a produção de conteúdos fotográficos de menor qualidade e interesse. Em sentido lato, sugere também dizer que a poesia que caracteriza o analógico talvez ainda o digital não tenha conseguido igualar. Permanece sempre contudo o mérito de uma boa fotografia. Divirtam-se neste maravilhoso mundo fotográfico e espero que gostem da Pelikula Photo Album 2013. Muito obrigado, Filipe Carneiro

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Moinho no Rio Vez Š Zeca Neto 7


“Infinity” © Zeca Neto

© André Rodrigues

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Š Jorge Machado

Š Jorge Machado

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“Cai a chuva” © Octávio Carneiro

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“Rainy Day“ ©Zeca Neto

© Luísa Malheiro

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“A Galeria” © João Mota 13


“Outono” © José Loureiro

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“Através” © Renato Cruz Pereira

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1 © Rita Mota 2 “Paris”© Nuno Oliveira 3 “Tempo - Oxford Castle” © José Loureiro 4 Acendem as luzes na Cidade © Inês Carneiro

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“Sorrow” © Octávio Carneiro

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“Do outro lado do East River, em Nova Iorque, pode apreciar-se esta visão noturna que reflete todo o esplendor de Nova Iorque, a cidade que não dorme. Manhattan, NYC” © Manuel Varzim

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© Estêvão Lafuente


“Torre” © Renato Cruz Pereira

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“Solitária” - Costa Nova, Portugal” © Zeca Neto

Sete e meia da manhã, -7ºC, em Yeltes, algures perto de Salamanca, numa véspera de Natal. O dedo indicador, quase congelado, conseguiu ainda assim premir o botão para registar a imagem. © Manuel Varzim

“Reflexos no Douro” (em baixo, à direita) Na escura e chuvosa noite do primeiro dia de outono, os candeeiros faziam-se refletir nas águas do douro, com as cores das respetivas lâmpadas. Dei-lhes a volta, neste caso de 90º. © Manuel Varzim 22


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Š Manuela Matos Monteiro

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Š Manuela Matos Monteiro

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YelloStone ©Arturo Cánovas 27


“Telecomunicações” © Filipe Carneiro

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“Simulador de Terramoto” © Filipe Carneiro

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“SkateRules” © Zeca Neto 30


“SurfSunset” © Zeca Neto

“UnderwaterLove” © Zeca Neto

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“Ice Drink” - passado, presente e futuro. © Octávio Carneiro 32


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© André Rodrigues

“Nevoeiro no parque” © Manuel Varzim

“Montes” © Celso Rocha 34


“Porto Nocturno” © Luís Ferreirinha

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“Uma perspectiva diferente sobre a cidade do Porto” © Zeca Neto 37


“Gardénias” © José Loureiro 38


“Borboleta” © Manuel Carvalho

“Hipericão” © Manuel Varzim 39


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“Dente de Leão” - Com um invulgar fundo azul, registei um alvo dente de leão. © Manuel Varzim 41


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“Açores” © Ivo Carvalho 43


“Recondito algures em Oxford” © José Loureiro

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“Sessão de Polaroid” © João Mota

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“Betão e Vidro” © Filipe Carneiro

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“Sound Wave” © Filipe Carneiro


“Faz-se música nas ruas durante o Carnaval de Nice, edição de 2011, ano em que o tema foi o Mediterrâneo. O Carnaval de Nice é um festival de cor, alegria e música, e o maior evento de Inverno da Riviera Francesa.” © Gustavo Pires Morais


“Aranha” © Octávio Carneiro 50


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“Imaginarium” © Luís Ferreirinha 53


“Câmara Praktica, modelo BMS - Produzida na República Democrática da Alemanha (RDA), antiga Alemanha de Leste, foi comercializada entre 1989 e 1990. Esta câmara teve grande sucesso: apresentava elevada robustez e fiabilidade, além de uma boa relação preço/qualidade. Ainda hoje é muito usada por entusiastas. Com a queda do Muro de Berlim (Cortina de Ferro), a RDA foi reunificada com a República Federal da Alemanha em 3 de Outubro de 1990. Foi o fim da “Guerra Fria”. Mas a Praktica permanece!” © Octávio Carneiro

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“Kodak FPK 3A - Câmara fotográfica dos inícios da fotografia em suporte flexível: Película. Apenas foram produzidas, nos Estados Unidos da América, pela pela Eastman Kodak Company durante os anos de 1903 a 1914, 15.000 unidades deste “Modelo B”. O seu preço, aquando do lançamento, era verdadeiramente astronómico: 78,00 dólares! Tão grande como o preço era o seu tamanho... 25cm de altura e mais de 1Kg de peso! Este modelo de câmaras utilizava um formato de negativo pouco comum: O “rolo 122” com o qual se produziam negativos do tamanho de postais (8.25x14cm). O obturador é um “Kodak Automatic” (pneumático) e as objectivas que equipavam este modelo de câmaras eram as “Bausch & Lomb” Rapid Rectiliniar. ” © José Loureiro

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“S.O.S.” © Estêvão Lafuente 57


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“Índia Lifestyle” © Nuno João 59


“Silêncio” © Inês Carneiro

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“Dente de Leão” © Octávio Carneiro

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“Explosão no Farol - Foz do Douro” © José Loureiro

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“Farol Foz do Douro” © Arturo Cánovas

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“Sunset na Arrábida” © Zeca Neto 65


“Emoção à chegada” © Filipe Carneiro

“A espera” © Celso Rocha 66


“Túnel de São Bento” © Octávio Carneiro

“Campanhã” © Filipe Carneiro 67


“Museu Guggenheim, NYC Escondido num dos nichos da espiral em que se desenvolve o museu, lá consegui tirar um exemplar fotográfico único, às escondidas do vigilante guarda.” © Manuel Varzim

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“De perto à distância” (foto em cima) © Celso Rocha “Japoneses” (foto em baixo)© João Mota

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“Turtle session” © Nuno Pires

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71 “Cavalo” © José Loureiro


“Pardal” / “Super” © Manuel Carvalho

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“© Estêvão Lafuente

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“VCI - Long Exposure” © Zeca Neto

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“Heliporto da Ribeira” © Filipe Carneiro

“Pavimento Sintéctico” © Filipe Carneiro

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“Tempestade” © Filipe Carneiro 76


“At Night ” © João Mota

“Um casal e o bebé atravessam a cortina de nevoeiro no final de um espectáculo em Los Angeles, California, 2008” © Gustavo Pires Morais 77


“Barcelona” © Renato Cruz Pereira

“Station” ©João Mota

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© Luísa Malheiro


“Sou culturodependente...alimenta-me o vicio” © Celso Rocha

“Metro” © João Mota

© Luísa Malheiro

© Luísa Malheiro

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“Maré Vaza - Matosinhos” © Zeca Neto 81


“Neve Les Diablerets” © Mário Esteves

“Açores” © Nuno Oliveira 82


“Afurada” © Filipe Carneiro

“Portal” © Luís Ferreirinha 83


“Sunset - Zambujeira do Mar” © Nuno Pires 84


PHOTO ALBUM 2013 TECNOLOGIA ENTREVISTA COM JOSÉ LOUREIRO LANDWASSER VIADUKT LUA CHEIA GOLEGÃ

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Tecnologia O tema da tecnologia é de tal forma vasto e extraordinariamente fascinante que a melhor maneira que encontro para sobre ele escrever algumas linhas é relatar as principais transições a que assisti na minha vida, provocadas pela tecnologia. Pertenço à geração que atravessou a juventude a tomar contacto com os primeiros computadores. Sinto-me, por isso, um verdadeiro privilegiado, já que consigo separar com nitidez a era do “antes e depois” da informática, algo que para os nossos filhos não é mais possível. Todos achamos que estes nasceram a saber lidar com um computador melhor do que a falar ou a escrever, o que por si só já sublinha a importância que a informática tem na nossa sociedade actual. O fascínio de uma nova ciência a despontar, com tudo por descobrir, reforçou a minha opção por engenharia, curso que concluí na estreante especialidade de sistemas digitais e computadores. Ainda me recordo das primeiras máquinas de calcular, com um sem número de funcionalidades impensáveis poucos anos antes. Tive também a oportunidade de escrever alguns programas num fantástico e gigantesco computador da universidade, que “engolia” fitas perfuradas para o programar e efetuar um conjunto de operações cuja finalidade não consegui reter, mas que certamente uma qualquer máquina de calcular programável e atual resolveria num pestanejar de olhos. O primeiro verdadeiro computador que utilizei na minha vida profissional tinha a “assombrosa” memória de 64kb. Muito poucos saberão realmente o que isso representa hoje em dia. Comparado com uma pen de 8Gb que tenho à minha frente, do tamanho de uma moeda, representa “apenas” 125,000 vezes menos! Abstenho-me de dizer o real tamanho do computador, mas a relação é comparável com a de um elefante e uma formiga. O mais extraordinário é que o dito computador era anunciado como podendo suportar quatro utilizadores a trabalhar em simultâneo (provavelmente operando simples contas aritméticas e pouco mais…)! Os avanços da tecnologia foram, de facto, assombrosos. A informática revolucionou-nos entretanto de muitas outras formas, sendo talvez a mais emblemática a da partilha de conhecimento através da Internet. Ainda é cedo para concluir, mas se não for a maior descoberta da história da humanidade, estará certamente entre as primeiras. Também aqui há um nítido “antes e depois”. O conhecimento passou a ser partilhado por todos, ao alcance de um simples dedo e, o que demorava e custava eternidades e muitos contos de reis (lembram-se?), é hoje apreendido num instante e com muitas mais fontes de informação possíveis. Outro instrumento relacionado com a tecnologia e a comunicação, que revolucionou as nossas vidas, foi o telemóvel. Talvez muitos não tenham ainda refletido como era a nossa vida antes dos telemóveis e como ela é hoje em dia. A facilidade como comunicamos atualmente uns com os outros, nada tem a ver com a recorrente impossibilidade que todos da minha geração tinham em comunicar entre si de forma instantânea. Hoje, quando se pretende falar com alguém, usa-se o telemóvel, que passou a ser mais um bem essencial do dia-a-dia, como uns óculos ou a carteira, e liga-se de imediato. E se porventura não tivermos a sorte de nesse momento estabelecer contacto, será uma questão de minutos até recebermos a devolução da nossa chamada. Simples e eficaz. Até as longas cartas ou postais, que dantes enviávamos por correio para relatar como íam as nossas vidas ou porque paragens andávamos, foram hoje substituídas quase totalmente por telefonemas, mensagens escritas ou ligações portáteis e visuais, usando a internet (mais uma vez), tudo processado instantaneamente. Pode assim hoje estar-se perto, estando-se longe.

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© André Pereira A tecnologia é, como se percebe, um mundo deslumbrante, cujas fronteiras são ainda claramente desconhecidas. Não podia deixar de focar a influência da tecnologia na fotografia, afinal o tema central desta revista. Regresso à experiência pessoal, para mais facilmente enquadrar os avanços que se conseguiram na fotografia por influência da tecnologia, em particular com a era digital. Iniciei os meus primeiros passos nesta arte utilizando película fotográfica (ou negativo) de 35mm, que se impressionava através da luz que sobre ela incidia, através de uma lente, num curto intervalo de tempo. Sendo máquinas manuais, ao fim de cada fotografia tinha de se rodar o rolo para que ficasse disponível a próxima. Era um hobby relativamente caro e também moroso, uma vez que a revelação desses negativos em casas da especialidade demorava pelo menos um dia. Desses tempos recordo a ansiedade pela espera do resultado: teriam as fotos ficado estragadas, com luz a mais ou a menos? Teria conseguido captar aquele objeto que se deslocava a grande velocidade, ou foi mais um “tiro para o ar”? Será que algum dos convidados ficou com os olhos fechados? Depois, quando as tínhamos finalmente na mão, não resistíamos a vê-las todas de relance antes mesmo de as pagar, para depois as revermos vezes sem conta e refletirmos o que tinha corrido bem e as oportunidades que se tinham perdido em definitivo. Essa magia, que se traduzia na ansiedade pela espera, foi algo que desapareceu mas que recordo com saudade. De certa forma alimentei-a de forma diferente quando comprei um revelador. Aí as fotografias multiplicaram-se agora exclusivamente a preto e branco, as experiências redobraram-se pois os custos eram muito inferiores, e o tempo de espera pelo resultado também encurtou significativamente. Era indubitavelmente um momento de excepcional beleza ver nascer a fotografia que tínhamos tirado, nas nossas próprias mãos. Literalmente! Todo este mundo maravilhoso mudou com o advento das máquinas fotográficas digitais. Ao início pareciam toscas e lentas, e os resultados finais eram francamente piores do que os tradicionais. Mas percebia-se que, tal como a relação entre os discos em vinil e os cds, era uma questão de tempo até melhorarem e se massificarem.

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E, de facto, assim foi. Como praticamente todos os outros colegas, um dia lá me converti às novas tecnologias quando a minha mulher me ofereceu uma Nikon D50, em Setembro de 2005. É bom dizer que a arte da fotografia andava para mim meia esquecida por essa altura, agora que já não tinha o ampliador comigo e as fotos a cores não eram propriamente baratas. Foi exatamente isto que a fotografia digital veio mudar: de repente toda a gente podia tirar centenas ou milhares de fotografias sem gastar um tostão, aprender novas técnicas, experimentar novas realidades, verificar os resultados no instante imediato e, no final, escolher e guardar as melhores. A tecnologia digital na fotografia transformou assim uma arte, que antes roçava o elitismo, numa explosão universal. Pode ou não gostar-se do fenómeno da digitalização, uma vez que com este surgiu também a tentação pela manipulação muitas vezes exagerada dos resultados, através dos inevitáveis programas de edição, o que desvirtua a realidade que muitos gostam de preservar. Contudo já não é mais possível regredir no tempo, ignorar as virtudes deste novo cenário e por isso mesmo, tal como diz o ditado, “se não os consegues vencer, junta-te a eles”. E podemos sempre juntar-nos com dignidade e com consciência, permitindo-nos perpetuar de igual forma os processos manuais anteriores que continuam a manter intacta toda a magia desconhecida para a maioria dos novos “artistas”. Ficamos, assim, com o melhor dos dois mundos. Deixo para o final a conclusão que, apesar de óbvia, convirá sublinhar: a tecnologia não é arte, nem a verdadeira arte se consegue apenas com tecnologia. Tal como na música um bom tecnicista que domina o instrumento que toca, reproduz as notas primorosamente e cumpre as dinâmicas que o compositor colocou na pauta, precisa de muito mais para ser um músico de verdade, também na fotografia o domínio técnico e o aproveitamento completo das qualidades que uma máquina fotográfica nos coloca ao dispor não chega para garantir o perfume da arte no resultado final. A arte é, por definição, a capacidade para transmitir sensações e sentimentos pela observação auditiva ou visual, algo que afinal é o valor central do nosso ser desde que foi abençoado com inteligência e um dom que ainda e só a ele lhe pertence. Do que contudo parece não haver dúvida é que a tecnologia já é, provavelmente, o mais precioso auxiliar que o homem tem ao seu alcance para poder, cada vez mais, produzir verdadeira arte. Manuel Varzim Porto, Novembro 2012

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Entrevista com...

JOSÉ LOUREIRO Photography Conheci pela primeira vez José Loureiro há cerca de três anos através do seu blogue www.joseloureirophotography.blogspot.pt - o “blogue do cogumelo” como os meus filhos carinhosamente lhe chamam, já que tem como símbolo um belo cogumelo vermelho. Foi quando tentava perceber a simbologia inscrita em algumas das minhas objectivas fotográficas que encontrei este blogue. E ainda bem… porque não é fácil encontrar um texto tão bem escrito e completo sobre este vasto tema como encontrei neste site. Trata-se de um espaço formativo e informativo. Apresenta uma estrutura abrangente e rica em vários assuntos, desde os conceitos mais básicos da técnica fotográfica até os mais desenvolvidos, proporcionando também uma abordagem muito interessante relativa a equipamento fotográfico, testes, artigos de opinião, etc. A apresentação gráfica das páginas é apelativa e bem organizada, com uma narrativa agradável e tecnicamente rigorosa. Os artigos de opinião caracterizam-se por uma crítica delicada mas sempre verdadeira e isenta. Quem conhece pessoalmente José Loureiro sabe que ele é mesmo assim! E quem é José Loureiro? Nasceu na cidade do Porto no ano de 1964, é casado e pai de uma jovem adolescente. Tem como profissão a área da Justiça. Iniciou o gosto pela fotografia aos 16 anos de idade quando teve oportunidade de contactar com várias câmaras. Mais tarde acompanhou vários fotógrafos onde adquiriu os conceitos fundamentais da técnica fotográfica. Refere que por muito que se leia ou se estude, a prática no terreno é obrigatória e o método da tentativa/erro faz parte da evolução de qualquer fotógrafo. Diz com alguma graça que prefere analisar a fotografia ao contrário - “primeiro observo o que não gosto e só depois avalio o que ficou bem”. A ideia do blogue surgiu com naturalidade e foi uma forma de exprimir a sua paixão pela fotografia. Como nada nasce grande, refere que no início se tratava apenas de um hobby mas que agora é uma tarefa de responsabilidade acrescida, procurando por isso manter a dinâmica de uma publicação por semana.

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Tem cerca de 20000 visualizações mensais e 700 seguidores registados. Há ainda os seguidores ocultos, que o são por diversos motivos: alguns simplesmente não se querem registar, outros têm dificuldade em proceder ao registo(como aconteceu comigo… - o desenho informático do blogue não permite um registo fácil, situação que ultrapassa o J.Loureiro) e outros pretendem mesmo ficar ocultos (geralmente são profissionais que preferem esclarecer algumas das suas dúvidas por email). O blogue não tem qualquer interesse comercial. Não há publicidade nem suporte económico. Existe apenas algum apoio em material fotográfico sempre que lhe solicitam a realização de testes sobre um determinado tipo de equipamento. Tem sido abordado com algumas propostas de trabalho profissional - “mas estamos em Portugal e…,abdicar de uma profissão estável…, tenho uma família, uma filha para criar…” - refere J.Loureiro. Muito mais haveria a dizer sobre José Loureiro e o conteúdo do seu blogue. Parece-me contudo preferível deixar a sugestão de uma consulta individual e tranquila, com a esperança de que será do agrado de todos. Ficam alguns exemplos de temas interessantes que se podem consultar em José Loureiro_ photography e que, pessoalmente, gostei bastante: . Fotografar o Oceanário . Fotografar a Lua . Nomenclatura e Simbologia das Objectivas . Compatibilidade das Câmaras SLR . Artigo de opinião sobre a objectiva Fish Eye Samyang AE 8mm f/3,5 IF

Parabéns e Obrigado José Loureiro pelo trabalho realizado no seu blogue, verdadeiro legado de estudo e experiência. Continue sempre! Filipe Carneiro

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Landwasser Viadukt Atravessando o rio Landwasser entre Schmitten e Filisur no cantão Graubunden na Suíça, o viaduto Landwasser (em alemão: Landwasserviadukt) é uma obra de arte da engenharia ferroviária que se caracteriza pela sua forma curva suportada por 5 pilares em pedra de calcário.

© Mário Esteves Projetado por Alexander Acatos, foi construído entre 1901 e 1902 pela Müller & Zeerleder para a empresa ferroviária privada RHB ( HYPERLINK “http://en.wikipedia.org/wiki/Rhaetian_Railway” \o “Rhaetian Railway” \t “_blank” Rhaetish Bahn). Esta obra – que em pleno Séc. XXI ainda é diariamente utilizada, situa-se ao Km 63 da Linha do Albula, no trajeto entre Thusis e Filisur. Com 65m de altura e 136m de comprimento mergulha de forma espantosa, em uma das suas extremidades, numa rocha gigantesca de forma vertical (Landwasser Tunnel com 216m de comprimento) integrando-se de forma exemplar com a natureza circundante. É percorrido por uma via única ferroviária em bitola de 1m (via estreita). Este famoso viaduto, percorrido diariamente pelos lendários Glacier Express e Bernina Express, apresenta 6 arcos de 20m apoiados em 5 pilares e tem um raio de curvatura de 100m. A sua inclinação é de 2% e a sua volumetria atinge os 9200 metros cúbicos. Sendo um dos mais fotografados viadutos ferroviários do mundo ainda hoje suscita admiração, não só pela sua beleza e integração paisagística, mas também por, de facto, ser uma obra-prima da engenharia: foi construído sem o recurso a andaimes e com apenas duas gruas! De Março a Novembro de 2009 – cerca de 106 anos após a sua construção - foi sujeito a uma obra de requalificação e limpeza. A título de curiosidade, durante estas obras o Viaduto foi envolvido num gigantesco oleado vermelho onde em letras garrafais estava escrito: “No pictures, please!” Pelas suas características técnicas únicas, pela forma harmoniosa com que se integra no espaço envolvente, por questões culturais e tecnológicas da linha do Albula na qual se integra, em 7 Julho de 2008 foi-lhe atribuído, pela UNESCO, o título de Património da Humanidade. Muito bem entregue, atrever-me-ia a dizer! Mário Esteves

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Lua Cheia Aos catorze anos Verónica estava uma mulher feita e com entusiasmo ajudou a mãe a preparar a subida anual a Jerusalém. Como de costume, havia a caravana dos homens e a das mulheres e mais uma vez conseguiu acompanhar a mãe de Jesus que tanto a encantava com o trato gentil e palavras amigas. Só que desta vez notou-lhe um ar de alguma ansiedade, mas claro que não tinha coragem de lhe perguntar nada. Quando pelo fim da tarde as famílias se reuniam não deixou de contar ao pai em que boa companhia tinha vindo e ele limitou-se a sorrir e a dizer quase num suspiro “tal mãe tal filho”. A Lua cheia da primavera estava no seu auge de luz e todos esperavam com expectativa a grande festa da Páscoa judia. Já em Jerusalém, pelo segundo dia dos ázimos, notaram um burburinho fora do comum, diferente da vozearia que os forasteiros da cidade sempre lhe emprestavam. Eis que de repente veem um homem que levava aos ombros uma enorme cruz de madeira: ia a caminho do pior tipo de morte que se reservava aos condenados, a crucificação! Mal podia com ela, cambaleava e acabou por cair ao chão. Uma mulher saiu da multidão e abraçou-o carinhosamente. Verónica não se © Zeca Neto

conteve e correu também a ajudar. Não podia acreditar:

era Jesus o condenado e Maria, sua mãe, procurava ajudá-lo. E dizia-lhe “Jesus, meu filho”. Quase sem forças nem para falar, deu como resposta dorida “Mãezinha!” Verónica mal podia reconhecer o homem que há um par de anos a trouxera da morte à vida, e quando acordou daquele sono mortal viu um sorriso cheio de carinho a dizer a quem a rodeava: “Deem-lhe de comer”. Realmente, tinha estado muito tempo doente e sem comer, e assistiu quase divertida ao frenesim com que as carpideiras passaram cheias de júbilo à ocupação bem mais grata de cozinheiras e num instante lhe trouxeram um colossal guisado de cordeiro. Parece qua ainda sentia o aroma do loureiro no tempero. Mas agora, o sorriso tinha dado lugar a uma face transida de dor e desconforto e via-lhe sangue que escorria das tremendas feridas abertas pelo chicote de tiras de couro com bolas de chumbo nas pontas e pela coroa de espinhos que lhe tinham enterrado na cabeça para troçarem de tal rei assim coroado. E a cara suja não só de sangue mas das cuspidelas que lhe tinham dado. Então Verónica tirou da cabeça o véu e limpou a cara do Mestre, até que os soldados obrigaram o condenado a retomar o caminho com a ajuda de um lavrador que vinha do campo, Simão de Cirene. Não foi uma ajuda espontânea, mas imposta pela soldadesca que receava que Jesus desfalecesse e não conseguisse chegar ao lugar do suplício, o Calvário, um cerro fora da cidade. Verónica regressou à companhia da mãe e do pai e ao abrir o véu reparou que nele tinha ficado impressa a figura dorida de Jesus. Então, Jairo, bom conhecedor das escrituras, pois era chefe de uma sinagoga, pronunciou uma profecia de Zacarias: “O que são essas cicatrizes no teu peito? São ferimentos que recebi na casa dos meus amigos!” E eu fiquei a pensar que amigos seriam esses, e acho que descobri. São os meus leitores. E sou eu. Fernando Sena-Esteves Prof. Catedrático da Universidade do Porto

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GOLEGÃ Cavalos, touradas e fotografia N 39º 24’ 17,73’’ - W 8º 29’ 7,05’’ No esplendor das lezírias do Ribatejo encontramos a vila da Golegã, Distrito de Santarém. Tem apenas uma freguesia – a Azinhaga, onde nasceu o escritor português José Saramago premiado com o Nobel da Literatura. Região de planícies a perder de vista, periodicamente inundadas e fertilizadas pelo rio Tejo, caracterizase pela enorme riqueza dos seus pastos. Paisagens de ímpar tranquilidade e beleza, sossegam o espírito de quem as atravessa. O barrete de campino verde e vermelho é um dos seus principais símbolos. A vila da Golegã teve origem no início do reino e remonta talvez ao tempo de D.Afonso Henriques ou de D.Sancho I. Desde o século XVIII que se transformou no centro equestre português com a famosa Feira do Cavalo da Golegã. Por tradição no mês de Novembro e também com carácter de romaria, esta feira é um acontecimento globalmente conhecido a nível nacional e internacional. Realizam-se concursos hípicos de diversa natureza e os criadores de cavalos apresentam os seus melhores Puro-Sangue Lusitano, que são avaliados em provas de raça e transaccionados para todo o mundo. E não poderia faltar a tourada e os toureiros a esta terra bravia, de que são exemplo Carlos Relvas (1838-1894) e Manuel dos Santos (1925-1973), com as respectivas estátuas em sua memória.

© Filipe Carneiro Carlos Relvas assume uma importância especial no contexto desta revista. Lavrador abastado, cavaleiro, toureiro, inventor (inventou um bote salva-vidas inafundável; foi também o criador da “Sela à Relvas”), músico (violinista) e político (Presidência da Câmara da Golegã), foi talvez o maior impulsionador da fotografia em Portugal. Entre 1871 e 1876 construiu na Golegã um atelier de fotografia com características únicas a nível mundial - a ilustre Casa-Estúdio Carlos Relvas. É importante recordar que a fotografia tinha acabado de ser “inventada” poucos anos antes por

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Niépce e Daguerre, entre 1837 e 1839. O estado da arte estava por isso no seu início e naturalmente toda a técnica fotográfica ofereceria ainda muitas dificuldades. Carlos Relvas teria que possuir um espírito inovador para enfrentar os desafios de uma arte ainda tão pouco desenvolvida e de facto ele não se limitava a utilizar os processos já conhecidos mas também os corrigia e aperfeiçoava. A sua qualidade como fotógrafo mereceu um reconhecimento inquestionável não só dentro do nosso país mas como também ultrapassou fronteiras. A sua projecção no estrangeiro foi de facto notável, sendo testemunho disso os inúmeros prémios que recebeu, designadamente em França e Inglaterra. Auto-intitulava-se fotógrafo-amador, recusando qualquer pagamento pelos seus trabalhos fotográficos. Naquela altura a fotografia era considerada como o parente pobre da pintura mas Carlos Relvas discordou desse conceito e sempre entendeu a fotografia como uma forma de arte. E o futuro veio a dar-lhe razão! Homem de personalidade controversa – empreendedor, autoritário e narcisista – será fácil de imaginar Carlos Relvas como tendo uma existência rica, preenchida mas atribulada. E são muitas as histórias que se contam…. veio a falecer por septicemia na sua Casa-Estúdio em 1894, vítima de uma fatídica queda de cavalo. No âmbito familiar casou pela segunda vez (após a morte da primeira esposa em 1887) e teve cinco filhos, todos das primeiras núpcias: Francisco, Maria Clementina, José, Maria Liberata e Margarida Navarro (a mais nova). O estoicismo e dramatismo da sua vida poderão ter influenciado o trajecto de alguns dos seus filhos. Maria Liberata faleceu por doença antes de completar o primeiro ano de vida. De Francisco e Maria Clementina existem relatos trágicos e mal esclarecidos. Francisco veio a falecer com apenas 18 anos - foi suicídio, homicídio por vingança? Nunca se soube ao certo. Maria Clementina terá sofrido os martírios de um amor proibido. Conta a história (ou a lenda…) que se apaixonou por um empregado de seu pai e que este, considerando a união socialmente inadequada, mandou emparedar o homem numa das suas propriedades. Foi encontrado anos mais tarde durante da construção do tribunal da Golegã, que entretanto tinha adquirido essa propriedade à família Relvas. O pobre infeliz terá sido identificado por um anel de ouro, oferecido por Clementina (com as iniciais desta) e com o símbolo de um joker, uma vez ser essa a função que desempenhava. Margarida Navarro e José Relvas tiveram um percurso enquadrado com o estatuto sócio-cultural a que pertenciam. Margarida amava a fotografia, começando a fotografar com 11 anos de idade. Foi uma excelente fotógrafa e talvez a primeira mulher a fotografar em Portugal. Participou em várias exposições internacionais ao lado de seu pai. Abandonou a arte fotográfica quando se casou, passando a dedicar-se à pintura a óleo e a aguarela. Veio a falecer em 1930 com 68 anos de idade. José Relvas seguiu o caminho da política. Foi escolhido pelo partido republicano para a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa. Viria a ser ministro das finanças (o primeiro da República Portuguesa). José Relvas estabeleceu-se no concelho vizinho, em Alpiarça, onde construiu e viveu na magnífica Casa-Museu dos Patudos. Faleceu em 1929 com 71 anos de idade. Em Junho de 2012 tive oportunidade de visitar a vila da Golegã. Foi um fim-de-semana muito bonito passado em família, com a minha mulher e os meus filhos. Recomendo vivamente esta viagem e se possível pela estrada nacional; só assim se poderá disfrutar de toda a riqueza cultural envolvente.

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Pelo caminho, à ida ou à vinda, é obrigatória a visita à referida Casa-Museu dos Patudos em Alpiarça (…imperdível!), além de outras paragens sem rumo nem destino, como simplesmente descansar um pouco e apreciar algo de diferente a que não estamos habituados. Faz parte também do passeio a paragem em Almeirim e provar os seus famosos melões. E entramos no pórtico da Golegã, bastião de ruas bucólicas e tranquilas, passeios arejados e decorados com árvores. No caminhar pela vila temos a sensação de percorrer os corredores de um simpático e limpo museu, estimado e acarinhado. A simples beleza das ruas, o atraente comércio tradicional, a coudelaria, o mercado, a mercearia local, a estação dos correios, etc, etc. Existe tanto para ver e observar… A Igreja Matriz do séc. XVI em estilo Manuelino, magnificamente rústica e austera, no seu silêncio acolhedor. O Picadeiro, o Parque Equuspolis com o seu museu, prado e lagoas. O Museu Rural, o Palácio da Broa, o Café Central e a sua deliciosa sopa de pedra. E local onde dormir não falta; do caro ao barato a escolha é grande: o Hotel Lusitano, o Sporthotel, o turismo rural na Azinhaga, os apartamentos Cavalo Branco, os apartamentos do Parque de Campismo (ou será antes um resort?). Muitos parabéns ao Presidente da Câmara desta linda terra, Dr. José Veiga Maltez. E surge então a atracção principal… o ex’libris, a Casa-Estúdio Carlos Relvas. A Dra Cátia Fonseca, Conservadora desta catedral da fotografia e responsável pela visita-guiada, está de parabéns. A sua exposição é agradável e muito bem orientada, com uma descrição histórica atraente, associada à projecção de vídeos e alguns efeitos em 3D. A Casa-Estúdio caracteriza-se por ser uma obra de engenharia notável e foi construida com materiais de excelência: pedra, madeira e ferro. Predomina a noção do bom-gosto associado à grande exigência da técnica fotográfica, com os adequados tons de cor nas paredes e tectos, a interessante luminosidade dos amplos painéis envidraçados e uma decoração apropriada e elegante. Não é possível descrever a bela emoção de ver e sentir todos aqueles instrumentos de luz, câmaras fotográficas, livros e álbuns. Estar ali é a oportunidade de reviver o passado e sentirmo-nos honrados com o tributo que aquele espaço confere. É um conceito único e um hino magnífico à Fotografia e Arquitectura em Portugal. Filipe Carneiro

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PELIKULA

PHOTO ALBUM 2013

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