Sopa de Lixo

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SOCIEDADE

AMBIENTE

Sopa de lixo

tico», refere Marcus Eriksen, investigador da Fundação Algalita. «Isto tem impactos destruidores: determina a quebra de cadeias alimentares, interfere na passagem de luz e na constituição do fitoplâncton», diz Lurdes Soares, 43 anos, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA).

Tem duas vezes o tamanho dos Estados Unidos da América e anda à deriva no Pacífico POR PEDRO SANTOS

a maior lixeira do mundo, cerca de 100 milhões de toneladas de resíduos, na sua maioria plásticos, originários de descargas de navios e plataformas petrolíferas. Este «país do lixo» é constituído por duas manchas com mais de 900 quilómetros de comprimento e vagueia defronte da costa da Califórnia, passa pelo Havai e quase chega ao Japão. E não pára de crescer. «Nesta zona do Pacífico Norte, geram-se, por acção do vento na superfície do oceano e da rotação da Terra, dois vórtices. Essas áreas de convergência acumulam o lixo deitado ao mar», explica Isabel Âmbar, 62 anos, directora do Instituto de Oceanografia da Universidade de Lisboa. O americano Charles Moore descobriu o fenómeno ao participar numa regata, em 1997, entre Los Angeles e o Havai. O oceanógrafo conta que «sempre que ia ao convés do barco via lixo a flutuar por toda a parte». Para investigar este drama ecológico, Charles Moore criou a Fundação Algalita para a Investigação Marinha, que monitoriza e estuda as manchas de lixo desde a sua descoberta. «No início, pensava-se que era um ilha de lixos, sobre a qual se podia andar. Mas, não é bem isso – é como se fosse uma sopa de plás-

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PLÁSTICO QUE MATA

MORTAL O lixo à voga no Pacífico vai dar às praias do Havai

Os guardas da praia

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ela mão do GEOTA, Portugal está associado a um projecto europeu de monitorização e protecção da costa, designado Coastwatch. A Irlanda foi o país fundador, em 1987, a Portugal a iniciativa chegou há 18 anos. Entre as acções mais visíveis do Coastwatch figuram as campanhas no litoral, apanhando e caracterizando os resíduos. Dados das campanhas de 2004 a 2007 dão conta de mais de 400 mil unidades de lixo nas praias portuguesas, sobretudo plásticos e esferovite. É no Norte, sobretudo na área metropolitana do Porto, que é encontrado mais lixo.

Maria José Costa, 59 anos, investigadora do Instituto de Oceanografia, adverte para as consequências desses resíduos. «As tartarugas confundem os sacos de plástico com alforrecas e acabam por sufocar e morrer, as baleias e os golfinhos também correm muitos riscos se ingerirem este material. Há plásticos que integram materiais tóxicos e põem em risco o ecossistema e a saúde humana, quando se ingerem peixes ou marisco contaminados.» Haverá solução para um problema desta dimensão? «As zonas de convergência são extremamente vastas e não parece viável a remoção dos materiais acumulados», explica Isabel Âmbar. Acabam por ser as correntes a retirar o lixo das zonas oceânicas de confluência, deixando muitas praias havaianas cobertas de detritos. «Isso é o melhor que pode acontecer, pois o lixo é mais facilmente removido», comenta Lurdes Soares.

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