Uma proposta de ciência e tecnologia para os futuros governantes

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SEIFMBRO 1998

PUBLICAÇÃO MENSAL DA FUNDAÇÃO DE AMPARO ÀPESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO POLÍTICA DE C& T

UMA PROPOSTA DE POLÍTICA TECNOLÓGICA PARA OS FUTUROS GOVERNANTES

IMPORTANTES PASSOS DO PROJETO GENOMA-FAPESP Pág.9

O Fórum de Secretários para Assuntos de Ciência e Tecnologia e o Fórum das Fundações Estaduais de Am~aro à Pesquisa (FAPs), em reunião conjunta realizada nos dias 3 e 4 deste mês, aprovaram o documento Proposta de uma Política de Inovação Tecnológica, a ser encaminhado aos candidatos aos governos estaduais e à Presidência da República.

O REVISOR GRAMATICAL AUTOMÁTICO PARA PORTUGUÊS Pág.13

AS REVELAÇÕES DO NOVO MAPA DE RELEVO DO ESTADO DE SÃO PAULO Pág.14
















LIVRO

Degradação socioambiental na Amazônia

Um diálogo entre as ciências sociais e as ciências da natureza é essencial para a compreensão do processo de degradação ambiental e social na Amazônia. Com o livro "A Morte Social dos Rios" (Editora Perspectiva, !amá e FAPESP), o sociólogo Mauro Leonel contribui para que essa conjunção se realize. O pressuposto inspirador do estudo é o de que as relações dos homens com a natureza são indissociáveis das relações que os homens mantêm entre si: "Os fatos ecológicos são, assim, indissociáveis dos fatos sociais, e são, em última análise, fatos sociológicos". Professor de Política da Unesp e pesquisador do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (lamá), Leonel seleciona como caso central de seu livro a organização da pesca artesanal a partir dos produtores primários - o beiradeiro, o pi_abeiro e o semi-especializado- e sua relação com a intermediação, a sobrevivência das relações coloniais de produção e as influências externas no associativismo dos pescadores. O beiradeiro - ou ribeirinho caracteriza-se pela diversificação da produção, combinação da pesca com o extrativismo e a agricultura, cultura de sobrevivência e vida rural. Esses aspectos o diferenciam do pescador artesanal semiprofissional, que tem na pesca suaatividade principal e vive na periferia de grandes cidades. Ambos, porém, realizam pesca artesanal. A Amazônia representa mais da metade da pesca artesanal comercial brasileira, mas a produtividade de 11

kg por hectare ao ano é baixa pararegiões tropicais, que podem alcançar entre 17 a 60 kg/ha/ano. Todavia, trata-sede uma produção importante, que chega a US$ 200 milhões anuais, mesmo sem subsídios do governo. Ela propicia que a média de consumo das camadas pobres da população seja uma das mais altas do mundo, não havendo subnutrição em proteínas. Os problemas da pesca na Amazônia são inúmeros, incluindo a falta de crédito para a renovação da frota dos pescadores artesanais profissionais ou ribeirinhos, disputa das várzeas com a agropecuária, sobrepesca seletiva pelo setor industrial, falta de fiscalização de embarcações e carência de coleta de dados para acompanhamento e análise da atividade. No caso da sobrepesca seletiva, Leonel cita que em Manaus a pesca é concentrada em cinco espécies - tambaqui, jaraqui, curimatã, matrinxã e piramutaba-, que respondem por 80% da pesca desembarcada, embora cheguem a 33 as espécies aceitas pelos consumidores. "O tambaqui e o pirarucu estão seguramente sofrendo sobrepesca na região de Manaus, só se encontrando exemplares pequenos; os grandes têm de ser buscados mais longe." Tabus reguladores do consumo, de origem indígena e cristã, são um. exemplo da importâncias das tradições locais na manutenção dos estoques de várias espécies: "O boto, por exemplo, não é consumido. O consumo de alguns peixes é culturalmente regulado para mulheres, às vezes durante a gravidez e logo após o parto". Amaioriados bagres são considerados causadores da lepra e outras doenças e só alguns deles são consumidos. Graças a isso, os estoques de bagres ficaram intocados até começarem a ser capturados para exportação.

Garimpo Segundo Leonel, o garimpo é a mais grave ameaça à renovabilidade do

peixe e dos recursos hídricos em geral e está "disseminado em quase todos os rincões daAmazônia, como um sarampo". Os principais impactos do garimpo sobre a pesca artesanal são a poluição fisica, com o revolvimento do leito, margens e barrancos dos rios, e o uso inadequado do mercúrio, com diferentes modalidades de contaminação para um quilo de ouro é utilizado um quilo e meio de mercúrio, número que possibilita aestimativade que entre 2 e 5 mil toneladas de mercúrio foram lançadas em milhares de pontos da Amazônia entre 1975e 1990,segundoLeonel. O ruído das máquinas, a luz, o óleo e o uso de detergentes também trazem conseqüências danosas à pesca, apesar de secundárias. O ribeirinho passa de uma condição de estabilidade num modo de vida modesto à mobilidade aventureira, ao improviso, ao nomadismo da condição garimpe ira, mas a mudança é apenas aparentemente compensadora, de acordo com Leonel. "Os garimpeiros dizem que, de cada dez, dois ganham algo no garimpo, os demais, a maioria absoluta, acumulam débitos com os donos de garimpo." Em geral, o ribeirinho é contratado para funções de apoio, como fornecedor, carregador, barqueiro ou cozinheiro, ou para as atividades mais perigosas, como o mergulho ou o desmonte de barrancos. No capitulo final do livro, Leonel apresenta suas conclusões. Contrasta o modo de vida, inclusive concepções e técnicas de uso dos recursos naturais, das sociedades tradicionais de floresta com o dos integrantes da fronteira econômica, repassa temas como origem e papel do Estado, a "acumulação primitiva" endocolonial e conceitos como o de progresso, qual idade de vida e desigualdade. Avalia também os conceitos ambientalistas, suas qualidades e deficiências diante do impacto do modo de vida do sistema global, sugerindo um conjunto de referências para o desenvolvimento sustentável da região.

-~APESP SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO


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