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FAPESP
Nanochips do futuro Físicos brasileiros desvendam fenômeno de ruptura de nanofios de ouro, que abre perspectivas para a era pós-chips de silício
POUCA ABSORÇÃO DE GÁS CARBÔNICO NA AMAZÔNIA SUPLEMENTO ESPECIAL
INFRA- ESTRUTURA 4
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Aviso importante Se você já recebe mensalmente a revista Pesquisa FAPESP e deseja continuar a recebê-Ia, acesse
www.revistapesquisa.fapesp.br e preencha o formulário com seus dados. O objetivo do recadastramento é melhorar nosso sistema de distribuição
28 Físicos descrevem as etapas de rompimento dos nanofios de ouro e mostram como a simulação por computador pode auxiliar no desenvolvimento de novos materiais
CARTAS ••••••••••••••..•............ EDITORIAL MEMÓRIA OPINIÃO
.....•...•••.•••••••••••••
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•••••••••...•........•..•••
6
••••••••••••••••..•.........
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• POLíTICA CIENTíFICA ETECNOLÓGICA ..•.....•.•••.•.••.•
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ESTRATÉGIAS
10
INCOR INVESTE NA AMPLIAÇÃO DE LABORATÓRIOS DE PESQUiSA
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• CIÊNCIA
24
•••••••••...••••.••••••••
LABORATÓRIO
24
CAMINHO NOVO PARA A PRODUÇÃO DE FÓTONS EMARANHADOS
34
A EVOLUÇÃO DOS PEIXES DE CAVERNAS
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MACACOS TRANSMITEM VíRUS DA RAIVA ................•......
47
14 Estudo da FAPESPmostra a produção científica e tecnológica de São Paulo
ENZIMA PODE ANTECIPAR DIAGNÓSTICO DE MAL DE ALZHEIMER .. 48 COMO O PRíON SE MULTIPLICA
52
• TECNOLOGIA
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.•.•.•.•.•.•.•.•.•.•
LINHA DE PRODUÇÃO
54
MICROAMBIENTE PARA BIOTÉRIOS
62
INOVAÇÕES PARA O GERENCIAMENTO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL
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SELEÇÃO GENÉTICA E COMBATE ÀS DOENÇAS DO FEIJÃO
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• HUMANIDADES
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•••.•.••••••••••••
O IDIOMA DOS BANDEIRANTES RESGATADO
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TODA A MITOLOGIA DOS ORIXÃS EM LIVRO
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LIVROS ••••••••..••••••••••••••••••
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LANÇAMENTOS
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ARTE FINAL ••••••••••••••...•••••••
Capa: Hélio de Almeida Ilustração
da capa: Sirio J. B. Cançado
82
58 Novas metodologias com sensores e imagens de satélites e de aviões trazem benefícios à agricultura na análise de solos e na previsão de safras agrícolas
36 Pesquisa indica que a floresta amazônica absorve apenas o gás carbônico que emite e, portanto, não pode absorver a fumaça produzida em outros países
70 Livro sobre as primeiras trabalhadoras ferroviárias da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, nas primeiras décadas do século 20, revela condições de trabalho e preconceitos enfrentados PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE2002 • 3
CARTAS por meio desta revista, consigo conhecer os projetos que estão sendo desenvolvidos pela FAPESP. Sou bióloga de formação, com mestrado em Oceanografia Biológica pela Universidade de São Paulo (USP) e trabalho como professora universitária da disciplina Botânica nas Faculdades Integradas de Guarulhos desde 1996. Durante meu mestrado tive bolsa da FAPESP. MARIA SOLANGE FRANCOS São Paulo, SP
Revista Sou italiano, formado na Faculdade de Física de Milão, Itália. Depois da formatura, obtive uma bolsa de doutorado no Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo (IAG/USP). Terminei o doutorado com uma tese em Dinâmica Asteroidal Secular Ressonante (área de astronomia) em 1999, orientado pelo professor Sylvio Ferraz Mello e com o amparo de uma bolsa da FAPESP. Recebo a revista Pesquisa FAPESP aqui na Itália faz tempo e desejaria continuar recebendo, pois a considero muito interessante e preciosa. Para mim significa poder estar informado sobre o mundo da pesquisa brasileira, como também ficar por dentro da cultura brasileira. ALESSANDRO SIMULA Bergamo, Itália
A revista Pesquisa FAPESP sempre nos traz assuntos da mais alta importância, sempre na vanguarda do conhecimento científico e tecnológico. Ro ALDO POSELLA ZACCARO Iaboticabal, SP
Conheci a Pesquisa FAPESP há alguns meses e achei as reportagens muito boas. É fundamental para o professor estar sempre atualizado e, 4 • fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
Recebo e leio com o maior interesse e prazer a Pesquisa FAPESP e depois coloco os exemplares nas mãos de cientistas jovens que poderão receber preciosas informações para sua formação. Considero a revista como uma grande contribuição da FAPESP à nossa ciência, assim como uma prestação de contas à sociedade. Instituto
A. BRlTO DA CUNHA de Biociências/USP São Paulo, SP
Parabéns! Realmente fiquei surpreso com a qualidade da revista, pois não esperava tanta informação de relevância transmitida de maneira tão eficiente. Cf.SAR DA CÂMARA FERRElRA São Paulo, SP
Ocupo O cargo de chefe do departamento de Recursos Humanos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e, ao folhear a revista Pesquisa FAPESP, con~lui que o seu conteúdo é muito importante e valioso para o órgão. ADÃO Iost LASLOWSKI Curitiba, PR
Jornalistas e cientistas O artigo Imprensa e inovação, do jornalista Marcelo Leite, publicado em Pesquisa FAPESP 69, é oportuno e esclarecedor. Uma fonte
necessariamente precisa dispor de informações relevantes. Além da consciência de que socializar os conhecimentos é um dever do cidadão cientista, deve se esforçar no sentido de facilitar o trabalho do jornalista, evitando, ao máximo, a linguagem tecnicista e acadêmica para que haja uma comunicação correta dos resultados das pesquisas. Uma boa fonte não pode enganar o jornalista, criando, por exemplo, falsas expectativas ou sonegando a verdade. Quer dizer, a sua conduta tem de se pautar, acima de tudo, em princípios éticos e sociais, inspirando a confiança do jornalista na difícil intermediação da notícia para a sociedade. A relação entre cientistas e jornalistas deve ser extremamente profissional. Condeno a prepotência e a agressividade de ambos. Também não aprovo a pura troca de figurinhas, isto é, sem o exercício de uma qualidade essencial do jornalista: a capacidade crítica. Ou seja, o jornalista tem a missão de divulgar a ciência, mas não pode fazer propaganda do que desconhece ou se nega a conhecer, passando, dessa forma, a ser menino de recados e, por conseqüência, enganando o leitor, o consumidor do produto científico. Em síntese, a confiança deve existir; só não pode ser cega e, sim, profissional. Entendo que a humildade é uma companhia essencial do jornalista, principalmente daquele que divulga ciência. Os jornalistas têm o dever de aprimorar os seus conhecimentos, atualizando-se permanentemente. O conhecimento geral é fundamental, mas a especialização torna-se cada vez mais imperativa na profissão. No entanto, para fazer jornalismo científico não é preciso o jornalista virar cientista e muito menos o cientista virar jornalista! MOACIR LOTH, JORNALISTA Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis, SC
• Pesquisa
EDITORIAL
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Avanços estratégicos
PESQUISA FAPESP É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO PROF. DR. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ PRESIDENTE PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO VlCE·PRESIDErm CONSELHO SUPERIOR ADILSON AVANSI DE ABREU ALAIN FLORENT STEMPFER CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ CARLOSVOGT FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTO HERMANN WEVER JOSÉ JOBSON DE ANDRADE ARRUDA MARCOS MACARI NILSON DIAS VlEIRA JUNIOR PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO RICARDO RENZO BRENTANI VAHAN AGOPYAN CONSELHO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO PROF. DR FRANCISCO ROMEU LANDI DIRETORPRESIDENTE PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO DIRETDRADMINISTRATIVO
ENGLER
PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ DIRETORClENTlFK:O EQUIPE RESPONSAvEL CONSELHOEDITORIAL PROF. DR. FRANCISCO ROMEU LANDI PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ EDITORACHEFE MARILUCE MOURA EDITORESADJUNTOS MARIA DA GRAÇA MASCARENHAS NELDSON MARCOLlN EDITORDE ARTE HÉLIO DE ALMEIDA EDITORES CARLOS FIORAVANTI (CIÉNCIA) CLAUDIA IZIQUE (POLlTICA C&T) MARCOS DE OLIVEIRA (TECNOLOGIA) EDITOR·ASSlmrm ADILSON AUGUSTO DINORAH ERENO REPóRTERESPECIAL MARCOS PlvmA ARTE JOSÉ ROBERTO MEDDA (DIAGRAM~ÇAO) LUCIANA FACCHINI (DIAGRAMAÇAO) TÃNIA MARIA DOS SANTOS (DIAGRAMAÇAO E PRODUÇAO GRÁFICA) FOTóGRAFOS EDUARDO CESAR MIGUEL BOYAYAN COLABORADORES CARLOSHAAG cASSIO LEITE VI EIRA CELYCARMO DOMINGOS ZAPAROLLI JOSÉ TADEU ARANTES LuclLlA ATAS MEDEIROS LUIZ COSTA MARIA APARECIDA MEDEIROS REGINA DINIZ SUZEL TUNES WAGNER DE OLIVEIRA YURI VASCONCELOS PRÉ-IMPREssAo GRAPHBOX-CARAN E GRAFICA AQUARELA IMPRESSÃO PADILLA INDÚSTRIAS GRAFICAS S.A. TIRAGEM: 24.000 EXEMPLARES FAPESP RUA PIO XI, N° 1SOO,CEP OS468-90 1 ALTO DA LAPA - SAO PAULO - SP TEL.IO - 11) 3838-4000 - FAX: 10 - 11) 3838-4181 SITE DA REVISTA PESQUISA FAPESP: http://www.revistapesquisa.fapesp.br cartas@trieste.fapesp.br
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da FAPESP É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DE TEXTOS E FOTOS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO
.JAI'ESP SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
sta edição de Pesquisa FAPESP apresenta como reportagem de capa, a partir da página 28, importantes contribuições de físicos brasileiros para o avanço da nanotecnologia, área de fronteira da pesquisa, estratégica, que, entre outros efeitos, deverá produzir grandes transformações na concepção dos atuais computadores. São mudanças baseadas na miniaturização de componentes, com ganhos na capacidade de armazenamento e velocidade de processamento de informações, que praticamente anunciam para não muito mais que uma década o fim do domínio dos chips de silício. Dentro desse vasto campo por explorar, as proposições teóricas e experiências concretas feitas em São Paulo com nanofios de ouro são contribuições tão reconhecidas que mereceram a capa de dezembro da Physical Review Letters, uma das mais importantes, senão a mais importante publicação científica internacional de física. O assunto já apareceu na imprensa brasileira, particularmente em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo em 4 de janeiro, más pelo seu significado, pelo que demonstra da capacidade nacional para se situar na linha de frente da pesquisa científica mesmo em áreas de fronteira, Pesquisa FAPESP lhe concede seu espaço mais nobre, sacrificando deliberadamente desta vez um dos critérios que quase sempre considera na escolha da capa de cada edição, ou seja, o da novidade. Esta edição, contudo, está recheada de informações novas. Por exemplo, há novos cálculos que indicam que a Floresta Amazônica não absorve tanto gás carbônico quanto se pensava, como relata reportagem de Marcos Pivetta a partir da página 36, que foi séria candidata à capa. A revisão dos números saiu do megaprojeto internacional de US$ 80 milhões, que reúne mais de 300 pesquisadores da
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América Latina, Estados Unidos e Europa, liderados pelo Brasil. O trabalho aponta para uma nova visão das possibilidades ambientais da Amazônia: não é a vilã do mundo por causa do desmatamento e das queimadas, como também está longe de representar a salvação do planeta. Sem dúvida, uma nova contribuição para um debate científico sério travado sobre a região em diversas partes do mundo. Vale um registro especial para indicadores recentes de ciência, tecnologia e inovação em São Paulo e no Brasil, produzidos pela FAPESP, que mostram um sistema de C&T permeado de contrastes, mas que mesmo assim, como relata LucíliaAtas Medeiros, em reportagem que começa na página 14, avança, inova e produz, embora em ritmo ainda lento ante suas necessidades e ambições. O estudo mede os diversos ângulos do sistema científico-tecnológico e apresenta um painel real da produção paulista e brasileira. Ter uma idéia precisa do que é produzido no campo é o resultado de uma metodologia criada para estimar a tonelagem da produção de cana em uma determinada área com antecedência de quatro a cinco meses. Criado por um grupo de pesquisadores da Unicamp, o projeto, que está detalhado na página 58, usa imagens de satélite para fazer os cálculos corretos e deu tão certo que já está em fase de patenteamento. Também tem a ver com produção e trabalho o principal destaque da seção de Humanidades (página 70). Nela é contada a história das primeiras mulheres a trabalhar nas Ferrovias Noroeste do Brasil, em Bauru, interior do Estado, no começo do século 20. Os preconceitos e as dificuldades para desempenhar o papel de esposa, mãe e trabalhadora num ambiente inteiramente masculino são histórias ainda pouco conhecidas de uma sociedade que progrediu lentamente. PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • 5
MEMÓRIA
A primeira patente Pedido de privilégio industrial para máquina de descascar café é de 1822 •• NELDSON
Projeto da máquina de descascar café: pedido de patente tinha de conter plano, desenhos e descrição e ser depositada nô Arquivo Público .
MARCOLIN
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os últi~o.s anos, empresanos, economistas, advogados, pesquisadores e autoridades do governo brasileiro começaram a valorizar o direito à propriedade industrial como nunca haviam feito antes. Os efeitos da globalização, as disputas pela redução dos preços de medicamentos importantes e a necessidade cada vez maior de apoiar as descobertas oriundas de estudos de universidades e institutos de pesquisa levam, hoje, to dós a se empenhar para proteger um número maior de patentes brasileiras aqui e no exterior. O esforço atual é indispensável, mas as mais antigas medidas para concessão de patentes são do início do século 19. A primeira resolução foi tomada em 1809, um ano depois de a família real portuguesa ter transferido a Corte para o Brasil. Até então, um alvará da rainha Dona Maria I, de 1785, proibia fábricas, manufaturas e indústrias na distante Colônia. Essa era, na verdade, uma forma de ter monopólios comerciais que
6 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
transferiam as riquezas das colônias para a metrópole, Mas, a partir da instalação do governo português no Brasil, foi necessário criar meios para o desenvolvimento industrial- entre eles, a concessão de privilégios aos inventores e introdutores de novas máquinas, que teriam
o direito exclusivo de explorar a invenção por 14 anos. Um outro alvará permitiu a liberação de recursos para incentivar invenções e dar prêmios. Essas e outras ações culminaram com o pedido de privilégio .industrial para uma máquina de descascar e brunir (polir) café,
em julho de 1822. Foi a primeira patente brasileira, pedida por Luiz Louvain e Simão Clothe, com base no alvará de 1809, de acordo com o livro Propriedade jndustrial no Brasil - 50 Anos de História, da Associação Brasileira dos Agentes da Propriedade Industrial (Abapi). Louvain e Clothe pediram o privilégio de cinco anos para o invento, uma "máquina para descascar café, a qual, além de ser inteiramente própria da invenção dos suplicantes, _produz todo o bom resultado-I ...) pela perfeição com que descasca '0 café sem lhe quebrar o grão, ou seja, pela brevidade, e . economia, e simplicidade do trabalho". A Constituição de 1824 trazia o princípio da "propriedade do inventor" e já falava em remuneração, "em caso de vulgarização do invento".
".
Plano do Balão Brasil (1873): mais de 9 mil pedidos , de privilégio 'industrial foram feitos entre 1870 e 1910
A primeira lei de patentes surgiu em 1830 e, além de ter uma política mais ampla de fomento à indústria, protegia os inventores, f assegurando-lhes o uso exclusivo da descoberta por períodos de cinco' . a 20 anos. A legislação mais antiga que se tem notícia sobre o tema foi criada em Veneza, Itália, em 1474, quando a cidade era um grande centro comercial. No caso brasileiro, os avanços ocorreram unicamente em conseqüência da política de fomento à indústria. Hoje, o conceito é diferente: a patente trata do direito que qualquer cidadão, empresa ou instituição têm sobre tudo o que resulta dainteligência ou criatividade.
Barco Vélez (1891), útil na terra e no mar: utopiaera criar várias invenções em uma
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Guarda-chuva (1909):
modelo de Araújo.Castro
"para pôr ao abrigo do Sol as pessoas obrigadas a trabalhar ao ar livre"
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www.scielo.br
As publicações científicas brasileiras estão ao alcance de suas mãos. Não importa em que parte do mundo você esteja SciELO - Scientific Electronic Library Online é uma biblioteca de revistas científicas disponível na Internet. Uma biblioteca virtual que reúne 65 publicações científicas brasileiras. Sua interface permite o acesso fácil aos textos completos de artigos científicos, por meio das tabelas de conteúdos dos números individuais das revistas ou da recuperação de textos por nome de autor, palavras-chaves, palavras do título ou do resumo. A SciELO publica também relatórios atualizados do uso e do impacto da coleção e dos títulos individuais das revistas. Os artigos são enriquecidos com enlaces dinâmicos a bases de dados bibliográficas nacionais e internacionais e à Plataforma Latles no CNPq. SciELO é produto do projeto cooperativo entre a FAPESp,a BIREME/OPAS/OMS e editores científicos brasileiros, iniciado em 1997, com o objetivo de tornar mais visível, mais acessível e incentivar a consulta das mais conceituadas revistas ciéntíficas brasileiras. Em 1998, a coleção SciELO Brasil passa a operar normalmente na Internet e projeta-se rapidamente como modelo de publicação eletrônica de revistas científicas para países em desenvolvimento, em particular da América Latina e Caribe. Ainda em 1998, o modelo é adotado pelo Chile e em 1999 começa a operar a coleção SciELO Saúde Pública, com as melhores revistas científicas de saúde pública ibero-americanas. Outros países estão em processo de incorporar-se à rede de coleções SciELO. O modelo SciELO destaca e valoriza a comunicação científica brasileira. Ao mesmo tempo, proporciona mecanismos inéditos de avaliação de uso e de impacto das nossas revistas científicas, em consonância com os principais índices internacionais de produção científica.
Adote a SciELO como sua biblioteca científica.
GOVERNO
DO ESTADO
DE
SÁOPAULO
Secretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico
BIREME
I OPAS I OMS
www.fapesp.br
OPINIÃO
FAUSTO CASTlLHO
Um exemplo de investimento as Exatas e nas Biológicas, a obra de conhecimento depende do laboratório de pesquisa. Nas Humanidades, o resultado da investigação decorre em grande medida do suporte que lhe proporciona a biblioteca atualizada. Mesmo o estudo de, digamos, um filósofo grego anterior a nossa era tem de necessariamente se apoiar no texto mais atual, a saber, no que é estabelecido a partir dos últimos procedimentos utilizados em papirologia. Em anos recentes, a biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH -Unicamp ) passou por extensa e profunda reforma. Hoje, confesso que, sempre que ali me encontro, sou preso de um misto de deslumbramento e encanto, explicável decerto por motivos personalíssimos. Passaram-se 44 anos desde quando, no segundo semestre de 1967, selecionei e encaminhei para aquisição ao bibliotecário, professor Zink, os títulos das obras que deram inicio à formação do acervo da futura biblioteca. No ano seguinte, desenhei o esboço sobre o qual se elaborou o projeto arquitetônico do prédio em que a biblioteca primeiramente se alojaria. Uma construção despretensiosa, para receber uma dezena de milheiros de volumes, se tanto. Mas, em sua singeleza, a construção tinha um pormenor, para muitos enigmático, que, no entanto, a singularizava: havia no subsolo um enorme buraco vazio e hiante que assim ali ficou por anos e anos. É que, por determinação minha, o arquiteto previra um local onde se pudesse instalar a casa-forte que daria custódia aos Arquivos Presidenciais. Um projeto concebido à época da fundação da universidade que, à semelhança de outros, não foi conduzido a bom termo. Durante 20 anos, o prédio nos serviu de biblioteca. Não obstante as sucessivas ampliações, não foi porém suficiente para acomodar o crescente estoque de livros que acabou por lotá-lo de todo. Finalmente, no decorrer dos anos 1990, foi submetido à reforma que se disse. Uma reforma radical, que começou pela reformulação de toda a sua estrutura e, em conseqüência, permitiu a essa instituição adotar o presente estilo de funcionamento que lhe confere, afinal, a feição de uma verdadeira biblioteca. O leitor há de me perdoar se demoro além da conta na menção de números de dados de ordem técnica. Entre 1995 e 2000, a área da biblioteca ampliou-se mais de 100%, passando de 978 metros quadrados a 1.985 metros quadrados, quando outro edifício de dois andares, juntouse ao existente. O número de leitores sentados subiu de
N
100 para 280. No final de 2000, o acervo de Ciências Humanas era de 150 mil títulos: embora ainda distante de algumas bibliotecas de países do Hemisfério Norte, era já, sem embargo, a mais importante do país em sua especificidade. O acervo de filosofia, por sua qualidade e constante atualização, distinguia-se como o mais significativo no país, senão em toda a América Latina. Em 2001, foram adquiridos mais 18,8 mil títulos ou 25 mil volumes, graças a financiamento concedido pela FAPESP em 2000, no montante de US$ 750 mil. Para atender à ininterrupta expansão do acervo, a Unicamp tem pronto um projeto arquitetônico para edificar uma unidade suplementar, que aumentará em cerca de um quarto a capacidade instalada da atual biblioteca. Recordemos, a modo de um sumário lembrete, os resultados maiores da reforma: recuperação, reaparelhamento, modernização e ampliação de toda a infra-estrutura da biblioteca: instalação de sistema central de ar-condicionado e de um sistema de pára-raios. Para o armazenamento das coleções: introdução de estantes e arquivos deslizantes. Funcionalização de todo o mobiliário. Adoção de novos procedimentos de conservação e de utilização das coleções especiais. Ampliação substancial da infra-estrutura informalizada: serviço de fac-símile, cálculo, balança eletrônica, acesso ao material bibliográfico multimídia gravador, vídeo, projeção de diapositivo, retroprojetor multimídia, torres de CD-ROM, livro, impressora, varredouro, base de dados em CD-ROM. Informatização da consulta pela aquisão de equipamentos periféricos, para acesso à rede interna e conexão com a externa, incluindo a rede internacional. Instalação de laboratório de informática. Modernização da manutenção: higienização, desinfecção, restauração e encadernação. Eliminação da exposição a excesso de ruídos. Reforço da vigilância por monitoramento interno, fiscalização do trânsito de elementos do acervo mediante etiquetas magnéticas. Infra-estrutura para coleções especiais: TV, vídeo projetor de diapositivo, retroprojetor, etc. Essas mudanças a compor o que muitos consideram uma transfiguração de nossa biblioteca nós as devemos todas à FAPESP que, em boa hora, decidiu financiar - no caso do IFCH, por meio de dez projetos - a atualização da infra-estrutura da pesquisa das instituições de estudo.
é fundador do IFCH-Unicamp eprofessor da USp, da Unesp e da Unicamp. É professor emérito da Unicamp.
FAUSTO CASTILHO
PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 9
• POlÍTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA
ESTRATÉGIAS
Um projeto para contar a vida Só com a realização de um projeto mundial, semelhante ao do Genoma Humano, será possível descrever todas as espécies vivas da Terra. O biólogo ambiental inglês David Leslie Hawksworth, da Facultad de Farmacia de Ia Universidad Complutense, de Madri, propõe, com outros pesquisadores, um projeto de 25 anos para identificar e classificar todas as espécies
• Quanto vale um remédio Um estudo do pesquisador Ioseph DiMasi, da Tufts University, nos Estados Unidos, comprovou que desenvolver novas drogas está cada vez mais caro. Segundo seus cálculos, o custo médio da descoberta de um novo medicamento chegou a US$ 802 milhões em 2001- era de US$ 231 milhões em 1987. Enquanto o custo total da pesquisa aumentou 7,4% anualmente na década de 90, só os custos clínicos - relacionados aos testes de drogas em seres humanos - aumentaram 12%. 10
• FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA
FAPESP
vivas. No ritmo atual, os pesquisadores levariam 800 anos para terminar o trabalho. "Comparativamente, sabemos muito sobre as estrelas, mas pouco dos seres vivos com quem compartilhamos nosso planeta", observou Hawksworth ao jornal espanhol El País. Já ocorreu pelo menos uma reunião sobre o tema, nos Estados Unidos, para começar a se planejar esse pro-
Segundo disse ao jornal The Wall Street Jo'urnal o presidente do laboratório Merck, Raymond Gilmartin, o aumento dos custos clínicos deve-se a uma exigência do mercado: os laboratórios es-
jeto internacional de biodiversidade. De acordo com o biólogo, hoje se conhecem cerca de 1,8 milhão de espécies, mas a estimativa é de que existam 15 milhões, embora alguns especialistas apostem em muito mais. Um dos problemas é que certos grupos de organismos são menos conhecidos do que outros. Segundo o relatório Avaliação da Biodiversidade Global de 1995,
tão sendo pressionados a provar o valor das drogas em testes com maior duração e quantidade de participantes. Entidades norte-americanas de defesa do consumidor contestam os resultados de DiMa-
publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, se conhecem 90% das plantas com floração, mas apenas 5% das espécies de fungos. Se não houver um investimento da comunidade científica para descrever todas as espécies, parte delas poderá ser extinta sem que esclareçam questões importantes para o homem e o ambiente. •
si. Segundo essas organizações, apenas US$ 403 milhões de seus US$ 802 milhões totais são realmente gastos em pesquisa. O restante é custo estimado de capital investido - ou o retorno de um montante que tivesse sido aplicado a uma taxa de 11%. •
• Investimento em biodiversidade
Fonte: Tufts University
A organização não-governamental Conservation International (CI) recebeu, em dezembro de 2001, a maior doação já concedida a uma entidade privada de proteção ambiental. A Gordon and
- responsável por cerca de 15% da coleta global- foram o dobro da estimada. Se os pesquisadores estão certos, os chineses exageraram nos números - e os estoques mundiais de peixe diminuíram mais de 10% desde 1988. •
• Argentinos rumo ao aeroporto Barcos pesqueiros chineses: país é responsável por 15% da coleta global
Betty Moore Foundation destinou à CI US$ 261 milhões. O dinheiro será empregado nas três grandes áreas silvestres do mundo Amazônia, Congo e Nova Guiné - e nas 25 regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta, chamadas de hotspots. "Para assegurar a conservação da biodiversidade dos hotspots serão necessários US$ 28 bilhões nos próximos 30 anos", diz o brasileiro Gustavo Fonseca, vice-presidente do Centro de Pesquisas Aplicadas à Biodiversidade, criado pela CL •
Chinês expõe seus peixes: estoques podem ter baixado 10% desde 1988
• Chineses distorcem dados sobre pesca Em vários países, as evidências locais apontam para um acentuado declínio nas reservas mundiais de pescado. Mas os dados divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) têm indicado que a área global de pesca está estável ou em crescimento encorajando, conseqüentemente, investimentos na indústria pesqueira. Agora, o motivo desse descompasso foi descoberto. Estudo reali-
zado por Reg Watson e Daniel Pauly, da University of British Columbia, em Vancouver, Canadá, sugere que as estatísticas podem ter sido distorcidas por estimativas exageradas de alguns países particularmente a China. Eles reavaliaram as estatísticas da FAO utilizando fatores como a abundância de alimento e profundidade da água para estimar níveis de pesca. A pesquisa, publicado na revista Natl1re (29 de novembro de 2001), coincide com a da FAO em muitas regiões, mas as pescas relatadas pela China
Começar o ano em meio ao caos econômico e social, com salários atrasados e o dinheiro retido no banco. O que poderia ser pior para um argentino? Resposta: ser um pesquisador dependendo de equipamento importado para trabalhar. Os laboratórios estão quase parados. E há o medo de que anos de esforços para montar grupos internacionalmente competitivos sejam perdidos. "A situação econômica só piora", disse à revista Nature (10 de janeiro) Armando Parodi, do Instituto de Pesquisas Biotecnológicas da Universidade Nacional de General San Martín e pesquisador chefe do Conselho Nacional para Ciência e Tecnologia. Teme-se a imobilidade ou um intenso movimento em direção ao aeroporto. •
PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 11
Uma universidade para índios o Estado
do Amazonas decidiu seguir o exemplo de países como México, Estados Unidos, Canadá, Nicarágua e Equador e criar uma universidade exclusiva para indígenas. A universidade, que se chamará Centro de Estudos Superiores Indígenas, será a primeira do gênero no país e estará vinculada à Universidade Estadual do Amazonas. Funcionará em dois campi, a partir do segundo semestre deste ano: na capital Manaus e em São Gabriel da Cachoeira, na região do Alto Rio Negro. A idéia é formar professores especializados na cultura indígena e em lidar com os diferentes povos que habitam a Amazônia. Inicialmente estarão disponíveis 400 vagas nos cursos de licenciatura plena em Ciências Matemáticas e da Na-
• Mais informações sobre biotecnologia A criação de uma insulina mais barata e segura, um arroz com provitamina A, plantas com capacidade de extrair metais pesados do solo. Essas e outras possíveis conquistas das pesquisas com transgênicos serão, agora, sistematicamente divulgadas pelo Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), órgão criado por empresas e instituições do setor, como a Monsanto, Cargill, DuPont e Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), entre outras. Segundo Belmiro Ribeiro da Silva Neto, dire12 . fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
logia', afirma. ''Agora, há uma entidade que pode falar em nome dos que estudam e desenvolvem a biotecnologia em nosso país com total isenção e credibilidade," O CIB contou com um orçamento de R$ 500 mil em 2001 e tem previsão de R$ 1 milhão em 2002, que serão investidos em publicações, seminários, campanhas publicitárias e no site www.cib.org.br. •
• Aprovada vacina contra leishmaniose
Aulas para crianças indígenas: professores especializados tureza, em Ciências Humanas e em Linguagens, Artes . e Literatura. Neste primeiro ano, a missão primordial da universidade será a de preparar os professores indígenas amazonenses para exercerem o magistério de 5a a 8a séries e o ensino médio. ''A universidade, por meio do centro, dará
tor executivo do CIB, a população brasileira ainda desconhece o assunto e, muitas vezes, recebe somente uma versão da informação. "Pes-
mais ênfase à pesquisa, beneficiando tanto o ensino quanto a extensão em forma de serviços às comunidades indígenas e suas organizações", afirma o antropólogo Ademir Ramos, presidente da Fundação Estadual de Política Indigenista e um dos idealizadores do projeto. •
quisa realizada pelo Ibope em julho de 2001 mostrou que apenas 31% da população brasileira diz ter conhecimento suficiente sobre biotecno-
No final do ano passado, o Ministério da Saúde autorizou a Biobrás a fabricar vacina contra a leishmaniose tegumentar, doença que causa lesões na pele, comum no Norte e Nordeste do país e em boa parte de Minas Gerais. A autorização foi dada unicamente para o uso terapêutico da vacina (não profilático) criada pelo professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Wilson Mayrink durante os anos 70. "Publicamos os primeiros trabalhos em 1979, mas a autorização só saiu agora", diz Mayrink, de 77 anos, ainda pesquisador ativo do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Ele conta que desde a publicação dos artigos, os países do Oriente com alta incidência de leishmaniose tegumentar passaram a fabricar a vacina. "Foi uma luta de várias décadas para conseguir autorização para um trabalho que já estava dando certo:' •
• Educação pelos observatórios virtuais
Plantação de mamão transgênico: dados claros e fáceis de achar
Até meados deste semestre estarão prontos dois miniobservatórios astronômicos que se-
rão usados na educação de estudantes e professores - um do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e outro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os dois integram o projeto Educação em Ciências com Observatórios Virtuais com outras quatro instituições de ensino superior de outros Estados, que já têm telescópios. Todos vão operar os observatórios em conjunto e as imagens poderão ser acessadas remotamente por alunos e docentes de sete escolas (públicas e privadas) que participam da fase piloto. Também telescópios norteamericanos, do programa Telescopesin Education, da Nasa, estarão disponíveis. O trabalho é financiado pela Fundação Vitae (R$ 406 mil), mas a infra-estrutura será usada, ainda, em outros projetos semelhantes, como o Ensinando Ciências Através da Astronomia: Recursos Didáticos e Capa citação de Professores, coordenado pela UFRGS, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). •
mestrado em ensino virtual justamente para formarmos mais especialistas no setor", explica Paulo Cunha, coordenador do Laboratório de Hipermídia da UFPE e representante da universidade no consórcio. Agora, é necessário que o Ministério da Educação aprove o curso de pósgraduação a distância. •
• Conferência de Jornalistas Científicos O Comitê Internacional da 3a Conferência Mundial de Jornalistas Científicos, que será • realizado junto com o 7° Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, de 24 a 27 de novembro, está praticamente completo. O comitê tem representantes de todos os continentes e, segundo o presidente da Associação Internacional de Escritores de Ciência, Iim Cornell, os nomes foram indicados por jornalistas dos próprios países ou são de jornalistas que têm representatividade reconhecida. O evento ocorrerá na Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José dos Campos, São Paulo. •
Espiral de estrelas Cefeidas: estudo será feito remotamente
• Brasil no consórcio de ensino a distância O ensino brasileiro vive mais um de seus paradoxos. No ano passado, o país freqüentou o último lugar do ranking sobre educação no ensino médio. Ao mesmo tempo, o sistema de ciência e tecnologia oriundo das universidades e institutos de pesquisa mostrou que continua crescendo - o que indica a existência de setores altamente qualificados dentro das universidades. Prova disso foi o convite do Colégio de Las
Américas, de Montreal, Canadá, para que a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e a Federal de Pernambuco (UFPE) integrem a Rede Interamericana de Formação em Educação a Distância e Telemática (RIF- ET) - um consórcio internacional de oito universidades que pretende trocar informações e estimular o ensino a distância. As duas instituições brasileiras têm tradição nessa modalidade de ensino e numerosos projetos já desenvolvidos, "O primeiro objetivo é montar um curso de
Lixo'plástico ganha utilidade no Rio Não bastasse a poluição de material orgânico (esgoto doméstico) e químico (descartado por indústrias), as garrafas PET (de plástico polietileno) estão se transformando num dos maiores problemas ambientais do Rio de Janeiro, obstruindo galerias, provocando inundações e coalhando canais, aterros sanitários e praias. Para tentar diminuir o problema, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente vai usar o lixo a seu
Garrafas plásticas atulham o Rio:poluição crescente
favor. A idéia é instalar uma plataforma flutuante com estrutura de madeira (espécie de deque), que ficará apoiada em um colchão formado por embalagens de PET vazias, seguras por telas plásticas. Uma tela metálica será presa a ela, para reter o lixo, mas deixando a água passar. A estrutura será instalada no Canal do Cunha, responsável por 50% do total de lixo flutuante despejado diariamente na Baia da Guanabara. •
PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 13
• POLíTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA
INDICADORES
DE CT&I
Saltoà frente exige
mudança Desempenho brasileiro cresce, revela estudo, mas avanço do conhecimento ainda precisa ser incorporado pelo setor produtivo
LUCÍLIA
ATAS MEDEIROS
om um pé fincado na vanguarda e o outro preso às amarras do atraso, o Brasil é um país surpreendente. Pontilhado de "ilhas de excelência", onde são gerados produtos tecnologicamente nobres, convive com padrões de escolaridade considerados baixos, mesmo se comparados aos vizinhos latino-americanos. Sua elite científica equipara-se às melhores do mundo, enquanto a maioI ria da população estudantil não dispõe de laboratórios e microcomputadores nas escolas públicas. O governo banca a maior parte dos investimentos destinados à pesquisa e desenvolvimento (P&D), contrariando uma tendência mundial dos países desenvolvidos ou de economia mais dinâmica, que faz das empresas o locus preferencial da inovação. É assim, permeado de contrastes, o país que emerge do estudo Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo - 2001, produzido pela FAPESP. Uma obra que dimensiona as várias faces do sistema científicotecnológico paulista e brasileiro mostra que - apesar de todas as contradições - o Brasil avança, inova e produz, embora em ritmo ainda lento face às suas necessidades e ambições. Na geografia da inovação brasileira, São Paulo desfruta de uma posição bem mais confortável em relação ao resto do país, conforme vários dos indicadores obtidos
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14 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
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Dispêndio estadual em P&D, por fonte de recursos - Estado de São Paulo - 1995/98 em USS milhões
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Fonte:Anpei
Indicadores
ara o diretor presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, Francisco Romeu Landi, coordenador do estudo, os Indicadores, com suas informações concretas e exaustivamente trabalhadas, ajudam a compor uma imagem mais clara da atual situação do ensino, da pesquisa e da produção tecnológica, no Estado e no país. "Trata-se de uma radiografia do setor que pode indicar tendências e prioridades para a formulação de políticas e a tomada de decisões", ressalta ele.
P
Investimentos - O Brasil ocupa hoje uma posição intermediária no ranking FAPESP
I
de CT&I em São Paulo·
5,5
2001, FAPESP
de nações que investem na produção do conhecimento: cerca de US$ 6,5 bilhões ou 0,87% de seu Produto Interno Bruto (PIE). Esse montante nivela o país a economias como as da Itália (1%), Espanha (0,9%) e Hungria (0,7%), embora o distancie das mais dinâmicas como a dos EUA (2,7%) e da Coréia do Sul (2,5%). Desses gastos - discretos para um país que precisa evoluir no setor - mais de 65% saem dos cofres públicos, numa proDistribuição porcentual do dispêndio em pesquisa porção inversa àquela no Estado de São Paulo, por fonte de recursos - 1995/98 verificada nos países desenvolvidos, onde as empresas arcam com aproximadamente 60% dos recursos. Uma das evidências do pequeno envolvimento do setor empresarial com a pesquisa tecnológica é sua baixíssima absorção de pósgraduados, especialmente doutores, fato que contrasta com a situação de países de industrialização mais recente, como Coréia do Sul e Taiwan. 1995 1996 1997 1998 Em relação ao Brasil, São Paulo investe ligeira• Os dados de dispêndio da Capes para 1996 são uma média dos outros anos. mente mais: entre 1995 Fonte: Ipen, Inpe, ITI,CPqD, Embrapa, Unifesp, UFSCar, Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, IPI, USp, Unicamp, Unesp, CNPq, Finep, FAPESP (1995, 1996, 1997 e 1998, o estado despene 1998a, b), MCT (1997 e 1998), Salles-Fllho et aI. (2000), Mello (2000), Capes (2000). Elaboração: equipe de pesquisa (Geopi/Unicamp) deu cerca de 1% de seu PIE em pesquisa e deIndicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP senvolvimento, valores
pelo livro. É o Estado que mais despende em P&D, que reúne o maior número de pesquisadores e de núcleos intensivos em tecnologia, além de manter nas escolas praticamente a totalidade (97%) das crianças entre 7 e 14 anos. Mesmo assim, como se verá, o projeto tecnológico paulista é ainda uma obra em construção.
• fEVEREIRODE2002 • PESQUISA
Evolução 95/98
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que ultrapassam os da mentos entre consumiEvolução da participação porcentual de alguns países dores de baixa renda teve Argentina, para uma pono total das publicações indexadas nas bases 151-1985/99 um aumento de 180%. pulação e PIB bastante próximos. A média dos Os resultados sugerem Países que contribuem com até 2% que o salário de um opegastos estaduais paulisdas publicações indexadas pelo ISI rário da construção comtas no mesmo período prava, em 1999, quase (US$ 2,5 bilhões) correstrês vezes mais alimentos pondeu a cerca de 38% do que em 1980. do total do montante na2,0 Quanto ao segmento cional em 1999. empresarial, os números Os investimentos púsão controversos e vários blicos e privados em peslevantamentos ainda esquisa podem ter grande tão sendo feitos. Contuimpacto econômico e social. Exemplo disso está do, dados da Associação Nacional de Pesquisa, no desempenho da agriDesenvolvimento e Encultura paulista, entre genharia das Empresas 1948 e 1998, quando se OL-__~ ~~ ~ Inovadoras (Anpei) inregistraram ganhos de 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 dicam uma participação produtividade superiode 71% das empresas res a 150%. Os indicadopaulistas no total de gasres mostram que, nesse MÉXICO BRASIL CHILE CHINA CORÉIA fNDIA ARGENTINA tos em P&D das empreperíodo, os índices de vaFonte: ISI (2000) Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP sas no país. lor da produção agrícola e de produtividade da terSinais de descompasso ra cresceram junto com o Num mundo onde o codesenvolvimento de nonhecimento científico é crescentemente incorporado aos vas tecnologias, ao mesmo tempo em que o índice de preços recebidos pelos agricultores apresentaram tendência produtos - dos mais simples, como os expostos nas gônde queda. A expansão da oferta de produtos agrícolas teve dolas dos supermercados, aos mais sofisticados, como os telescópios que varrem o universo - o Brasil tem múlticomo resultado a redução do preço final ao consumidor. Noutra perspectiva, e tomando como base o salário na plos desafios a vencer. Entre eles, eliminar os contrastes e construção civil, devidamente deflacionado, observa-se descompassos que emperram o seu desenvolvimento, que, a partir de 1980 e até 1999, o poder de compra de alicomÇ>as barreiras existentes entre um setor de pesquisa
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Evolução do poder de compra do salário na construção civil- Estado de São Paulo - 1980/99*
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Indicadores de CT&I em São Paulo- 2001, FAPESP
s PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 17
forte e uma produção tecnológica débil. "Basta ler os números dos Indicadores para constatar que as empresas brasileiras precisam investir cerca de dez vezes mais em P&D, o que está sendo feito em economias semelhantes à nossa. Se isso não ocorrer, não conseguiremos avançar", avalia o presidente da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz.
Número de publicações indexadas nas bases do ISI de alguns Estados brasileiros - 1995/99 7.000 6.000 5.000 ~
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mais divergente em relação às importações: de aproximadamente US$ 8 bilhões, em 1989, elas superaram a marca dos US$ 20 bilhões em 1999, concentrando-se mais nos produtos de alta tecnologia, cuja participação elevou-se na pauta de 36% para aproximadamente 50%. É visível, portanto, que a falta de robustez no setor mais "nobre" da produção tecnológica cobrou seu preço na forma de desequilíbrio do comércio. As exportações brasileiras desses produtos, que hoje representam cerca de 5% do total, devem-se principalmente ao desempenho das vendas externas de aviões fabricados em São José dos Campos (SP).
m dos sio nais de que 1997 1999 1985 1987 1989 1991 1993 1995 o conhecimento não SÃO PAULO RIO DE JANEIRO MINAS GERAIS ~IO GRANDE DO--;Jt desempePARANÀ DISTRITO FEDERAL SANTA CATARINA nha papel central na estratégia de negócios das Nota: Estados que apresentam maior número de publicações indexadas pelo 151 no ano de 1999. empresas brasileiras está Fonte: 151(2000) Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP no registro de patentes. Trata-se de um termômetro sensível do grau de evolução tecnológica de um país, especialmente porque, nas últimas décadas, tem se concentrado em setores sofisticados, como o eletrôniQualidade e competência - O complexo aeroespacial montado nessa região é um exemplo revelado r de que há co e o farmacêutico. De acordo com dados levantados no Brasil pesquisa de primeira linha apta a ser transforpelos Indicadores, as patentes concedidas no Brasil a não mada em produtos. Os Indicadores mencionam também residentes (em geral, empresas transnacionais) corresos pólos instalados em Campinas (telecomunicações e pondem a 85% do total. Além de escassos (15%), os resiinformática) e São Carlos (óptica e novos materiais), redentes brasileiros são compostos por pessoas físicas, na giões paulistas reconhecidas internacionalmente como maioria dos casos. Prova que é limitado o número de centros de excelência na produção de alta tecnologia. Esempresas controladas por capitais nacionais que invesses pólos - ao lado de alguns outros instalados no país tem no conhecimento tecnológico. Quanto às transnacionais, seu núcleo de pesquisa "de ponta" localiza-se fora do resultam sobretudo de uma bem-sucedida aliança entre Brasil, embora algumas realizem internamente trabalhos pesquisadores e empresários, ambos dotados de grande de desenvolvimento experimental. força empreendedora. A pauta do comércio internacional também espelha a Essa sólida competência deriva, em boa medida, da montagem de uma rede pública de ensino superior e fragilidade da produção tecnológica brasileira. Em 1989, o saldo comercial do país era positivo em mais de US$ 16 pesquisa (um dos pilares que sustentam o desenvolvimento científico- tecnológico) relativamente recente no bilhões, graças ao superávit registrado para os produtos . Brasil. Começou a ser armada no início do século passade conteúdo tecnológico intermediário. Dez anos depois, o do, mas somente em meados dos anos 60 graduação e padrão de comércio internacional revelava um contorno distinto, sobretudo no tocante às importações, que tornapós-graduação articularam-se de forma mais organizada, compondo hoje um sistema "poderoso", na classifiram a balança comercial deficitária em cerca de US$ 1,2 bilhão. Os produtos de alta tecnologia, que correspondiam cação de Brito Cruz. Apesar das dificuldades que ainda enfrenta, trata-se de um aparato maduro e bem reprea pouco menos de 30% do total das importações, saltaram para mais de 43%. Os resultados obtidos no período sentado por diferentes áreas do conhecimento, a ponto de constituir-se referência para outros países em desencomprovam, portanto, que a abertura econômica promovida no início dos anos 90 não contribuiu para o aprimovolvimento. ramento da capacidade de geração de inovação interna. São Paulo mantém uma posição hegemônica no enO Estado de São Paulo - responsável por 50% do PIE sino superior brasileiro. Com cerca de 23% da populanacional - exibia um padrão de comércio internacional ção entre 18 e 24 anos do país, o Estado absorveu apro-
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18 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
-
ximadamente 32% das matrículas em escolas superiores, em 1998. Quanto à pós-graduação, titularam-se no Estado, naquele mesmo ano, cerca de 32% dos mestres e quase 66% dos doutores brasileiros. O outro celebrado parâmetro de avaliação de qualidade, o número de artigos científicos publicados no exterior, cresceu extraordinariamente nos últimos anos. As publicações brasileiras indexadas nas bases do Institute for Scientific Information (ISI, localizado nos EUA) passaram de 3.204 para 12.168, entre 1985 e 1999. Levando-se em conta que as bases do ISI cresceram 34% nesse período, a participação brasileira quase triplicou em porcentual da base, representando, em 1985, cerca de 0,4% do total da literatura científica mundial e 1,1% em 1999. entanto, o cerca de 50% das publicações indexadas nas bases do ISI, no período entre 1981 e 1993, tiveram origem em apenas dez campus universitários. Nesse ranking, a Universidade de São Paulo (USP) desponta como a instituição com maior número de publicações. Em São Paulo, destacam-se também a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), cujas contribuições à produção científica nacional também têm sido significativas. Em 1999, cada uma das três publicou, respectivamente, 3.033, 1.238 e 767 artigos indexados, o que representou 24,9%, 10,2% e 6,3% do total de publicações brasileiras. Dentre as instituições federais, os destaques foram a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que registraram crescimento acentuado no número de publicações nas bases do ISI.
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DOUTORES São Paulo Brasil % SP/Brasil Fonte: Elaborada
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da Pós-Graduação,
CAPES, 1999 (para o ano de 1998) e Uma Década de Pós-Graduação anos de 1989 e 1994),
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Indicadores
de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP
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de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP
PESQUISA
FAPESP
• FEVEREIRODE2002 • 19
te de complexidade deescolaridade média da Evolução da matrícula no Ensino Médio manda que haja, desde o população e no número Brasil e regiões - 1988/2000 "chão de fábrica", uma de matrículas. mão-de-obra preparada e polivalente. Daí a imsses ganhos, 9.000 portância de se incluir porém, não 8.000 nos Indicadores estudos são suficienespecíficos sobre essa tes para que 7.000 rede de ensino. Além de os sistemas gq 6.000 dados quantitativos, são educacionais brasileiro e apresentadas análises paulista acolham todos E 5.000 qualitativas sobre as esos que o procuram, prin~ ~ 4.000 colas e seus equipamencipalmente no ensino ::l .~ tos e avaliações quanto ao médio. Em decorrência, +-' 3.000 rendimento escolar, estas apenas uma parcela da '~" 2.000 últimas baseadas em espopulação pode particitudos do Ministério da par dos avanços cientí1.000 Educação (MEC). ficos e tecnológicos do o "O governo tem feito país. Mesmo em São Pau1988 1991 1996 1997 1998 1999 2000 grandes investimentos na lo, onde a situação edueducação básica e houve cacional é uma das me~N-or-:d-es-te"" ~ Brasil Norte Sul Centro-Oeste vários progressos. O aceslhores do Brasil, há que so à escola para a popuempreender um formiIndicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP lação brasileira entre 7 e Fonte: MEC/INEP/SEEC dável esforço para rever14 anos já abrange 95% ter o quadro atual. das crianças nessa faixa etária. Mas o país ainda Propostas duradouras está longe do patamar ideal': alerta Landi. A superação dos desafios desenhados pelos Indicadores No nível médio, o Estado de São Paulo detém a maior especialmente os centrados na questão educacional e na fatia, 28% das matrículas brasileiras, seguido por Minas capacidade de inovação empresarial - demandam proGerais, com 10%, "uma situação muito preocupante", depostas duradouras e de longo alcance. O Brasil ampliou fine Landi. Ainda assim, na década de 90 os desníveis reseu espaço no terreno científico, deixando de ser um outgionais diminuíram, houve queda na taxa de analfabetissider no panorama mundial, mas sob o aspecto tecnolómo e no índice de repetência e aumento nas taxas de gico a situação ainda é crítica. Inserido num mercado onde a competição é feroz, o país precisa não só amGastos públicos por aluno/ano e renda per capita pliar seus investimentos Brasil e países selecionados, em 1997 em P&D, mas fazê-lo de modo inteligente e articuPaís lado. "Os Indicadores deixam claro que já fizemos 1.467 10.300 1.575 1.224 1.054 Argentina 1.781 coisas relevantes do ponto de vista tecnológico e que o 859 921 6.480 820 1.002 Brasil país tem capacidade de de1.814 12.730 1.798 1.856 Chile 1.689 senvolver soluções para os 1.015* 8.370 1.798* 1.088* México seus problemas", sublinha Brito Cruz. 1.450* 2.332* 2.135* 13.590 Coréia Repetir essa receita é 373 570 3.320 74 Filipinas 570 570 uma questão que envolve 3.379* 22.030 3.242* 6.182* França não só aspectos políticos como recursos financeiros e * Dados de 1996. Nota: Os valores estão expressos em dólares americanos convertidos pelo fator de "poder eqüivalente de compra" escolha de nichos, mas tra(ppp - purchasing power parities). Os dados foram também ajustados para haver uma comparabilidade entre sistemas de balho duro num ritmo aceperíodo integral e de meio período de freqüência diária. O chamado lower secondary foi desagregado do upper secondary (nosso nível médio), dadas as diferentes formas de organização dos sistemas escolares. lerado, porque o resto do Fonte: UNESCOIOECD (2000) Indicadores de CT&I em São Paulo - 2001, FAPESP mundo não vai esperar. •
E
20 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
• POLíTICA CIENTíFICA E TECNOLÓGICA
Lousa e banquetas com bases nitrogenadas
de DNA estampadas
compõem espaço em que pesquisadores
debatem projetos
CARDIOLOGIA
Incor amplia área de laboratórios Mudança no espaço físico terá reflexos imediatos nas pesquisas aplicadas Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), está ampliando suas áreas de pesquisa. Os laboratórios de Genética e Cardiologia Molecular, Imunologia e Biologia Vascular já estão operando, desde o início deste ano, nos dois últimos andares do novo prédio do Incor, numa área total de 2.400 metros quadrados. O laboratório de Bioenge-
O
nharia vai ocupar, em breve, uma área de 1.800 m' no mesmo prédio. O Incor investe, anualmente, cerca de R$ 15 milhões em pesquisa, sem considerar os gastos com infra-estrutura, que, no caso dos novos laboratórios, somaram algo em torno de R$ 4 milhões. "Um hospital universitário não pode só prestar assistência médica. Tem obrigação de desenvolver a pesquisa aplicada em benefício dos próprios pacientes': justifica o diretor do instituto, José Antonio Ramires. Desde o início da década de 80, o Instituto do Coração desenvolve pesquisas de ponta voltadas para doença cardiovasculares. No início, as principais áreas de investigação eram as de bioengenharia e imunologia, em ra-
zão das necessidades de aprimoramento das tecnologias de transplantes. "Hoje a pesquisa é ampla. A genética molecular, com seus aplicativos em cardiologia, é um instrumento do nosso dia-a-dia", afirma Ramires. Seus laboratórios estão realizando, por exemplo, o mapeamento dos genes responsáveis pela hipertensão arterial, desenvolvendo uma vacina contra a febre reumática e, ainda, estudando a enzima responsável pelo estresse vascular. O Incor atende 250 mil pacientes anualmente e é considerado o maior hospital da América Latina. Realiza uma média de 3.800 cirurgias e 11 mil cateterismos por ano. As áreas originais ocupadas pelos laboratórios torPESQUISA FAPESP • FEVEREIRODE2002
• 21
naram-se incompatíveis com as novas demandas da pesquisa, e o projeto de construção do novo prédio, inaugurado em agosto de 2000, foi redimensionado de forma a permitir a ampliação da investigação científica. a Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular, por exemplo, deixou um pequeno espaço no Hemocentro para ocupar todo o 10° andar do prédio novo. De acordo com o diretor do Incor, o Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular foi projetado para atender às necessidades de desenvolvimento de terapêutiLaboratório ca genética nos próximos 15 anos. a projeto arquitetônico inspirou-se no modelo utilizado por laboratórios da Universidade Harvard, em Boston: as salas dos pesquisadores principais, administração, salas de reuniões e estações de trabalho estão dispostas em torno de áreas de uso comum, onde estão localizados os seqüenciadores de genes, setor de bacteriologia, material radioativo, entre outros, e um grande laboratório de pesquisa. Na entrada deste laboratório, foi construída uma área, batizada de" hall das idéias", equipada com lousa e banquetas estampadas com motivos que imitam as bases nitrogenadas de DNA, utilizada por pesquisadores para a apresentação e debates de seus projetos. Também está previsto espaço para instalar dois módulos de trabalho, com laboratórios específicos, nos quais serão desenvolvidas pesquisas de vetores virais e expressão genômica, e quatro salas para fisiologia humana, equipadas com ecocardiógrafo para a observação da função cardíaca. "Contamos ainda com o apoio de um grupo de bioinformática", acrescenta José Eduardo Krieger, diretor. equipamentos, de última geração, foram adquiridos com o apoio da FAPESP, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Conselho Nacio-
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22 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
de Imunologia
Investiga doença de Chagas e busca vacina para a febre reumática
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e uma pequena participação da indústria farmacêutica. a laboratório tem como foco principal de pesquisa o mapeamento dos genes responsáveis pela hipertensão arterial. Krieger explica que o objetivo é entender o funcionamento do sistema de controle da pressão, observando o comportamento da enzima conversora da angiotensina (ECA) que funciona como um marcado r de doenças em ratos e que parece ter o mesmo papel em seres humanos -, sua, importância biológica e a sua variação genética na população (ver Pesquisa FAPESP nO 69). Com a ampliação do espaço de pesquisa, o laboratório deverá intensificar a utilização de terapia gênica e celular em problemas cardiovasculares, já realizada com animais e que, em breve, segundo Krieger, será testada em seres humanos. Também serão ampliadas as análises de genes candidatos, identificados como principais suspeitos nas doenças vasculares. "Com os resultados do Projeto Genoma, é possível procurar variantes do gene e realizar estudos de associação e, ao mesmo tempo, desenvolver estudos sobre o comportamento da população", diz Krieger. Em parceria com a Universi-
dade Federal do Espírito Santo, o laboratório está iniciando estudos sobre genes candidatos numa população de 1.600 habitantes da cidade de Vitória. Imunologia - a Laboratório de Imunologia, criado em 1985, dividia espaço com o Instituto de Medicina Tropical, até ser transferido para o 9° andar do novo prédio do Incor, numa área de 850 metros quadrados. Desde o início, suas atividades estiveram ligadas ao estudo da histocompatibilidade para transplantes de rim, medula, fígado e coração. "Hoje somos um laboratório de referência no Estado de São Paulo", diz Jorge Kalil, diretor. Mais recentemente, incorporou à sua linha de pesquisa investigações sobre doenças imunológicas cardíacas, como doença de Chagas e febre reumática, esta última responsável por cirurgias de troca de válvulas, muito comuns no país. A febre reumática é uma doença auto-imune, decorrente de infecção por estreptococos na garganta, que tem reflexos no coração. Para combatê-Ia, o laboratório trabalha no desenvolvimento de uma vacina sintética contra a febre reumática, já que uma vacina produzida a partir da bactéria poderia desencadear a doença, adian-
o Laboratório
de Cardiologia
Molecular analisa os genes responsáveis pela hipertensão
ta Kalil. Nos próximos meses, serão iniciados estudos para o desenvolvimento da imunologia da arteriosclerose. Em todas as linhas de pesquisa, o laboratório utiliza técnicas de biologia molecular e de proteonômica nos estudos de peptídeos e proteínas. O laboratório integra, junto com institutos de clínica e alergia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Instituto de Investigação em Imunologia, um dos Institutos do Milênio selecionados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que contará com recursos da ordem de R$ 4,5 milhões para o financiamento de pesquisas, nos próximos três anos. O objetivo, explica Kalil, é levar o conhecimento acumulado na bancada para a aplicação médica, abordando não apenas o tratamento de doenças infecciosas,mas também alergias que afetam um terço da população brasileira. Uma das propostas do Instituto de Imunologia é desenvolver preparações alergênicas mais bem padronizadas, de forma a criar produtos com menor efeito colateral e maior eficiência. Kalil lembra que há resultados promissores em animais e humanos com o uso de peptídeos em imunologia específica, vacina de DNA, oligonucleotídeos CpG e vacinas com antígenos
de microbactérias, o que leva a crer que será possível prevenir ou curar doenças atópicas no futuro, por meio da resposta imune. "Vamos, mais uma vez, juntar nossa capacidade com a do Instituto Butantã, com o qual já desenvolvemos a vacina Anti CD3, com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que trabalha com a vacina de DNA, e com a Universidade de Brasília (UnB), no estudo de anticorpos monoclonais', relata Kalil. Biologia Vascular - O Laboratório de Biologia Vascular, dirigido por Protásio Lemos da Luz e Francisco Rafael Martins Laurindo, ocupa uma área de aproximadamente 170 m', contígua ao Laboratório de Imunologia. "Protásio iniciou o trabalho de pesquisa na divisão de experimentação no Laboratório de Fisiologia, estudando isquemia do miocárdio em animais", conta Laurindo, na época seu orientando. Hoje, Protásio dirige o Grupo Clínico de Arteriosclerose e divide com Laurindo a coordenação das pesquisas em Biologia Vascular, que têm como principal foco a fisiologia molecular. Um dos projetos desenvolvidos pelo laboratório é um temático financiado pela FAPESP que tem como objetivo estudar a enzima NADPH oxidado,
responsável pelo estresse vascular. O projeto tem a parceria de Hugo Monteiro, do Hemocentro. A expansão da área do laboratório também permitirá a ampliação das linhas de pesquisa. Uma das propostas é avançar na análise do papel da enzima superóxido - dismutase na lesão vascular. Trata-se de uma enzima protetora que fica deficiente após a lesão vascular, mas que se recompõe quando há reposta no organismo animal. "Já estamos avaliando o polimorfismo no gene da NADPH em seres humanos, para arterial verificar se existem ou não alterações semelhantes e se ela está ou não relacionada com maior incidência de infarto", explica Laurindo. Na sua avaliação, a expansão da área e das linhas de pesquisa do laboratório é resultado da boa interação entre o Incor e as agências de fomento, sobretudo a FAPESP. "Não teríamos condições de fazer essas mudanças sozinhos", comenta. "A maior parte dos equipamentos do laboratório foi adquirida com recursos da FAPESP e da Finep, e todo o mobiliário foi comprado com recursos da Reserva Técnica da Fundação': exemplifica. Bioengenharia - O Incor está reavaliando outras áreas tradicionais de pesquisas, como a de bioengenharia, afirma Ramires. O laboratório será transferido para as novas instalações equipadas para desenvolver estudos com cerâmica, eletrônica, cultura de tecidos, biologia molecular. O retorno dos investimentos está no aprimoramento da forma de tratar a doença e no benefício que isso traz aos pacientes. "A melhoria no conhecimento da doença e nos processos de tratamento também colabora para que outros centros adotem o mesmo procedimento. Essa é a importância de um hospital-escola:' • PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 23
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L
• CIÊNCIA
LABORATÓRIO
Os vilões da saúde dos japoneses Um estudo com imigrantes japoneses e seus descendentes na cidade de São Paulo confirma os fatores ambientais que prejudicam a saúde dos habitantes: má alimentação, consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas, vida sedentária e estresse. O atual estilo de vida é o grande responsável pelo crescente aumento na incidência das chamadas doenças crônicodegenerativas, como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares, assegura Gerson Shigueaki Hamada, diretor científico do Centro NipoBrasileiro de Prevenção de Doenças e coordenador do projeto, financiado pela FAPESP. O Brasil abriga a maior comunidade nipônica fora do Japão: cerca de 1,2 milhão de pessoas. Des-
• Sai atlas de areal gaúcho As dimensões de uma pouca conhecida região de dunas e areais do país acabam de ser delimitadas. De acordo com o recém -lançado Atlas da Arenização no Sudoeste do RS, resultado de um trabalho de um grupo de professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordenado pela geógrafa Dirce Maria Surtegaray, a área dessas formações soma pouco mais de 52 quilômetros quadrados, equivalentes a aproximadamente 0,018% do território gaúcho. Fragmentos dessas dunas e areais podem ser encontrados em dez municípios do Estado. A 24 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
de 1984, o Centro Nacional do Câncer de Tóquio constata diferenças significativas na incidência de doenças e nas taxas de mortalidade. Um estudo de 1990, que serviu de referência para a pesquisa de Hamada, mostrou que certas doenças afetam mais os japoneses no Ia-
existência desses segmentos áridos é conhecida desde pelo menos o início do século 19, mas havia o temor de que o aumento da fronteira agrícola no Rio Grande do Sul, sobretudo o avanço das áreas de cultivo de soja, pudesse ter contribuído decisivamente para a expansão das dunas. Para os cientistas, a ação do homem pode ajudar na formação dos areais do sudoeste gaúcho, mas a origem das dunas é decorrente principalmente de processos naturais. A existência dos areais gaúchos não é um indício cabal de que a desertificação começa a tomar conta dos pampas. Segundo os autores do atlas, fruto de uma parceria com o governo do Estado, ainda não
pão do que em outros países. O câncer de estômago, por exemplo, tem alta incidência no Japão: para cada 100 mil habitantes homens, surgem 80,3 casos novos por ano. Já na população de imigrantes e descendentes de São Paulo, a incidência é sensivelmente menor: 69,3
é possível precisar se as dunas estão se expandido ou retrocedendo. Em alguns pontos, os areais parecem estar aumentando de tamanho; em outros, diminuindo. •
Areal no sudoeste do RS
casos. Considerada toda a população da cidade, o índice é menor ainda: 45,7. "Isso significa que o simples fato de mudar-se do Japão para São Paulo é suficiente para diminuir o risco de se contrair a doença': afirma Hamada. Mas há situações inversas: nos casos dos cânceres de próstata, mama e cólon, bem como de diabetes e doenças cardiovasculares, a incidência entre os imigrantes é consideravelmente maior. Em São Paulo a mortalidade por diabetes é 174% maior do que no Japão; e a mortalidade por doença isquêmica do coração é o dobro aqui. Sabe-se que a incidência dessas doenças em imigrantes tende a aproximar-se do padrão da comunidade local. •
• Diagnóstico sem invasão Um estudo publicado no New England [ournal of Medicine (27 de dezembro de 2001) traz uma nova ferramenta de diagnóstico importante ao alcance dos cardiologistas: a ressonância magnética para identificar artérias obstruídas, uma das principais causas de morte no mundo. Por não ser invasivo, o exame poderia ser uma alternativa mais segura à angiografia, método tradicionalmente empregado para esse fim, no qual o paciente recebe uma injeção de um líquido corante, o contraste, antes de ter suas artérias radiografadas. Na ressonância magnética, a identificação
de artérias entupidas é feita a partir de uma imagem congelada do coração em atividade. Segundo o autor do estudo, o pesquisador Warren Manning, do Centro Médico Beth Israel Deaconess, além de segura, a ressonância magnética é eficiente: os exames foram precisos em 87% dos casos .•
• Xenotransplantes seguros à vista No começo de janeiro deste ano duas empresas anunciaram o nascimento de nove porcos donados com genes modificados. O fato é importante porque abre a possibilidade de se usar órgãos de animais no homem - o chamado xenotransplante. O porco é o animal mais adequado para prover órgãos para transplante, como o coração, por exemplo. O problema é o medo de se transmitir vírus suínos para o homem e a rejeição do organismo humano a um tipo de açúcar produzido por um gene específico do porco. A PPL Therapeutics, da Escócia, divulgou primeiro a notícia de ter dona do cinco leitoas com um gene desativado - justamente um dos que provocam a rejeição no organismo. Um dia depois, a revista Science publicou trabalho de pesquisadores da Universidade do Missouri e da empresa Immerge Bio Therapeutics sobre o nascimento de outras quatro leitoas transgênicas, que haviam nascido três meses antes. A corrida entre as companhias de biotecnologia para divulgar a novidade ocorre porque há no horizonte um mercado estimado em US$ 5 bilhões anuais só nos Estados Unidos, onde existem 75 mil pessoas na lista de espera por um órgão. A turma do Missouri e da Immerge está na frente - seus
Leitoas transgênicas da PPL: disputa por mercado bilionário
porcos são pequenos e os órgãos de tamanho compatíveis com o do homem. Já os da PPL são uma espécie comum, que pode chegar a 450 quilos e têm órgãos muito grandes para serem transplantados. •
• Células-troncos contra o mal de Chagas O uso de células tronco retiradas da medula para tratar do mal de Chagas é promissor. Os resultados de um es-
tudo com camundongos que sofriam da doença, feito pela filial baiana da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostrou que o nível de fibrose e inflamação no coração dos animais, causados pelo mal, diminuiu de 80% a 90% com o emprego dessa terapia, inédita no mundo. As células-troncos conseguem se transformar em células do músculo cardíaco, reestabelecendo as funções do órgão. Em março, Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz, coordenador das pesquisas, planeja iniciar estudo semelhante com 20 doentes. "Não há risco de rejeição, pois, como no caso dos camundongos, cada paciente vai receber células tronco de sua própria medula", diz. Em seis meses, espera-se já ter indícios se a abordagem funciona com humanos. •
Um novo Vênus nas lentes de Chandra O Observatório Chandra, :z da Nasa, conseguiu captar a primeira imagem de raios X de Vênus, trazendo novas informações a respeito da atmosfera do planeta chamado pelos astrônomos de "irmão" da Terra, em razão das semelhanças de dimensão, massa, densidade e volume. Vênus vista em raios X é parecida com Vênus na luz visível, mas há significativas diferenças. Nos raios X, o planeta é ligeiramente "menor e mais brilhante nas extreRaios X de Vênus: novas informações sobre o planeta midades, resultado da própria constituição atmosférica. Enquanto a luz óptica fera de Vênus que são difímos na atmosfera entre é causada pelo reflexo de ceis de investigar por ou120 e 140 quilômetros acinuvens que ficam 50 a 70 tros meios': diz o coordema da superfície do planequilômetros da superfície, ta. "Temos, agora, a incrível nador da pesquisa Konrad os raios X são produzidos Dennerl, do Instituto Max possibilidade de usar obpor radiação fluorescente Planck para Física Extraservações de raios X para do oxigênio e outros átoterrestre, da Alemanha. • estudar regiões na atmos-
PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 2S
na linguagem de sinais dos deficientes auditivos: 16 desses eram filhos de deficientes, mas com audição normal, tendo aprendido a linguagem de sinais quando crianças. Os outros 11 aprenderam os sinais depois da puberdade. Todos tiveram sua atividade cerebral medida por imagens de ressonância magnética, enquanto recebiam informações nas duas formas de linguagem. Maior fluência na comunicação, coincidente com maior ativação do hemisfério direito do cérebro, foram verificadas nas pessoas que haviam aprendido as duas linguagens durante a infância .•
• Inaugurado o Telescópio Gemini
• Aprendizado é mais eficaz na puberdade A idéia de que o cérebro, em seu desenvolvimento, passa por "janelas de oportunidade", ou momentos ideais para o aprendizado de certas aptidões, não é exatamente uma novidade na neurociência. Mas o pesquisador David Corina, da Universidade de Washington, Estados Unidos, reforça esse conceito com um dado surpreendente: o aprendizado de uma linguagem, verbal ou não, se dá com maior eficiência quando ocorre até a puberdade, graças ao 26 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
funcionamento do giro angular direito, área localizada na junção dos lóbulos temporal e parietal. Até esse estudo, publicado na Nature Neuroscience (janeiro de 2002), o
aprendizado de uma linguagem era, geralmente, relacionado ao hemisfério esquerdo do cérebro. Corina estudou o cérebro de 27 pessoas capazes de se comunicar em inglês e
O primeiro dos dois telescópios Gemini foi inaugurado dia 18 de janeiro em Cerro Pachón, no Chile, a 2.720 metros acima do nível do mar. O telescópio de 8 metros é parte de um consórcio internacional de seis países, que dividirão o número de horas escolhidas proporcionalmente à participação nos custos. O Brasil entrou com 2,5% do financiamento de US$ 176 milhões por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Outro telescópio de igual tamanho será instalado em Mauna Kea, no Havaí, a 4.220 metros. •
• Lentidão para evitar congestionamento Menos força nos pedais: está provado que dirigir suavemente evita congestionamentos. Novos modelos computacionais de tráfego mostram que um fluxo pesado de veículos mantém-se em movi-
mento desde que os motoristas evitem acelerações e freadas bruscas. O estudo, divulgado na revista Nature (24 de dezembro de 2001), foi realizado por um grupo de pesquisadores alemães e franceses ligados à Universidade de Duisburg, Alemanha, e poderá ajudar engenheiros a desenvolver rodovias mais velozes e seguras. A partir dos modelos testados, os cientistas chegaram à condusão de que, em situações de acúmu10 de veículos, a melhor forma de movimentação é o fluxo sincronizado - um dos três estados de trânsito descritos pelos especialistas da área. Os outros dois são o fluxo livre, no qual cada motorista está longe o suficiente dos outros para imprimir a velocidade que preferir, e o congestionamento, que pode ir da lentidão à total imobilidade. No fluxo sincronizado, há vários veículos movendose com mais ou menos a mesma velocidade e com poucas mudanças de pista - condição que mantém o tráfego pesado se movendo e reduz os acidentes de trânsito. •
Congestionamento:
andar rápido na estrada pode ser inútil
• Teoria da Relatividade passa em teste Físicos das universidades de Konstanz e de Düsseldorf, na Alemanha, reforçaram experimentalmente um dos fundamentos da Teoria da Relatividade Restrita, do físico Albert Einstein: mostraram
que a velocidade da luz, chamada C, independe da posição e da própria velocidade do observador. Cogitava-se que uma pessoa dentro de um trem em movimento veria a luz de um semáforo como outra, parada a poucos metros dos trilhos - o problema era provar. Os ale-
mães, de acordo com o experimento descrito na revista Physical Review Letters (7 de janeiro), inicialmente compararam feixes de luz se movendo em diferentes direções. Em outro tipo de teste, ainda mais acurado, que coroou a idéia de que C não depende nem da velocidade nem da posição do laboratório, a equipe coordenada por Claus Braxmaier e Holger Müller, da Universidade de Konstanz, manteve uma onda estacionária em uma cavidade resfriada durante 190 dias nesse tempo, a Terra percorre pouco mais da metade de sua órbita ao redor do Sol e a velocidade do laboratório varia em cerca de 60 quilômetros por segundo. A freqüência das ondas em relação à cavidade, feita de safira, manteve-se estável e confirmou o princípio relativístico com uma precisão três vezes maior que estudos anteriores. Comparadas constantemente com um relógio atômico, as ondas mudariam de freqüência caso a velocidade da luz variasse com a velocidade do laboratório. •
Alerta sobre animais clonados , Entre dezembro de 2001 e janeiro deste ano, duas notícias levaram os pesquisadores que trabalham com técnicas de donagem de animais a refrear o próprio entusiasmo. Ian Wilmut, do Instituto Roslin, na Escócia, anunciou que a ovelha Dolly, o primeiro mamífero donado do mundo, estava com artrite. "O fato de Dolly ter artrite numa idade relativamente jovem sugere que possa haver problemas", afirmou o pesquisador. O problema é
Ovelha Dolly: com artrite
~ que não há meio de saber se é apenas uma coincidência ou se houve algo errado com a donagem. Algumas semanas antes do anúncio de Wilmut, a empresa de biotecnologia norte-americana Advanced Cell Technology divulgou informações sobre pesquisas com dones de embriões de macacos rhesus. Segundo a pesquisadora Tanja Dominko, os embriões donados pareciam "uma galeria de horrores". Tanja diz que há alguma coisa nos óvulos
dos prima tas que torna a donagem mais difícil de ser conseguida do que nos outros mamíferos. Embora a maioria dos embriões pareça normal, quase todos têm o DNA alterado e morrem em pouco tempo - até agora, ninguém conseguiu donar um macaco a partir do DNA de um animal adulto. Ian Wilmut fez um apelo a todos que trabalham com donagem para que passem a trocar informações sobre a saúde de seus animais donados. •
PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 27
FÍSICA
Átomosde ouro entram. • • no circuito Descobertas sobre nanofios impulsionam. a pesquisa de chips para computadores que operam em escala molecular
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• fEVEREIRODE2002 • PESQUISA
FAPESP
o
aramente a teoria e a experiência se integraram tão bem. No dia 17 de dezembro do ano passado, três físicos brasileiros assinaram o artigo de capa da Physical Review Letters, uma das mais importantes revistas especializadas de física no mundo. Em quatro páginas, descrevem as descobertas sobre o comportamento dos átomos de nanofios de ouro, estruturas que medem bilionésimos do metro e representam um material estratégico para a fabricação de componentes para a próxima geração de computadores, que nas próximas décadas devem ocupar o lugar dos atuais, à base de silício. Os resultados se assentam sobre os dados acumulados desde o dia 20 de outubro de 1999, quando pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, ajustaram o foco de um microscópio eletrônico de alta resolução, com um poder de ampliação de 1,2 milhão de vezes, e observaram pela primeira vez o rompimento de nanofios de ouro. Muito provavelmente, é a primeira vez que a revista concede seu espaço de maior destaque a um trabalho de pesquisadores brasileiros. Nas quatro páginas do artigo, intitulado How
R
Do Gold Nanowires Break? (Como se Rompem os Nanofios de Ouro?), Edison Zacarias da Silva, da Universidade de Campinas (Unicamp), e Adalberto Fazzio e Antônio José Roque da Silva, ambos da Universidade de São Paulo (USP), mostram, por meio de uma simulação em computador, a formação e a evolução das estruturas que aparecem no fio de ouro antes e depois da ruptura. A seqüência, descrita passo a passo, exibe um detalhamento impossível de ser obtido no microscópio eletrônico, dadas as proporções do próprio átomo, mesmo o de ouro, de porte intermediário, com 79 elétrons ao redor do núcleo, e as limitações dos equipamentos. "Queríamos contribuir para a interpretação dos experimentos e entender os mecanismos envolvidos no processo dinâmico que leva à
formação da linha de átomos e finalmente à sua ruptura': diz Zacarias. Conhecer esses processos é importante por uma razão básica: o ouro, devido a suas características - sobretudo a capacidade de não reagir com o oxigênio e de poder ser estirado longamente sem se partir, a chamada ductilidade -, é visto como o melhor material para formar os contatos elétricos entre os novos dispositivos a serem criados para substituir os chips de silício, hoje o material básico dos atuais computadores. As perspectivas se apóiam nas descobertas, feitas na década de 90, de que as moléculas conseguem conduzir eletricidade do mesmo modo que os fios e os próprios semicondutores. As máquinas de hoje já são vistas como seres em extinção. "A física do silício, que provê todos os computadores atuais, está com os dias contados': comenta Fazzio. "Talvez a miniaturização baseada no silício perdure por mais 10 ou 15 anos, mas dificilmente passará disso:' Num artigo publicado também em dezembro na revista Nanotechnology, Ramón Campafió, diretor-geral do programa europeu de desenvolvimento de nanocircuitos, pondera que a chamada Lei de Moore, segundo a qual a capacidade dos microprocessadores dobra em períodos de 18 a 24 meses, foi válida durante 30.anos, mas não há mais como se manter. Rapidez e velocidade - Uma das for-
mas mais adotadas de aumentar a rapidez e a velocidade dos computadores tem sido diminuir o tamanho dos transistores, as unidades que processam as informações. Hoje, cabem cerca de 40 milhões de transistores em um chip do tamanho de um selo. Cada um deles é 60 mil vezes maior que uma molécula - indicação de que não será fácil passar da microeletrônica para a nanoeletrônica, na qual a informação corre numa dimensão de bilionésimos do metro, de um átomo a outro (um nanômetro corresponde a um bilionésimo do metro). Imagina-se que, quanto menor, melhor. Os chips da próxima geração terão de ser centenas de vezes menores que os atuais. Calcula-se que suas dimensões fiquem
na faixa de 10 a 1.000 angstrõns, no máximo - o angstrõn é um décimo bilionésimo de metro, o equivalente ao diâmetro de um átomo médio. É provável que, nos contatos para a transmissão da corrente elétrica, o computador das próximas décadas adote pelo menos uma das formas de pontas dos nanofios, que representa um dos principais achados científicos do trabalho dos pesquisadores da USP e Unicamp: o chapéu francês, como foi batizado pelos pesquisadores. É um arranjo de átomos em forma de trapézio, com dois hexágonos (cada ponto corresponde a um átomo) nos lados e um na base, que lembra o chapéu feito com uma folha de jornal dobrada, adotado nas antigas brincadeiras de crianças. Os físicos concluíram que se trata de uma das formas mais estáveis do nanofio de ouro, que se forma momentos após o rompimento. Esse trabalho põe em evidência o valor científico da simulação computacional, a técnica que permitiu a análise do comportamento dos átomos. A partir dos cálculos realizados nos computadores do Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad), em Campinas, analisados e visualizados nas estações de trabalho da Unicamp e USP, os físicos puderam não apenas reproduzir e explicar, com admirável precisão, os resultados que emergem da observação direta dos átomos no microscópio, mas também conseguiram informações novas sobre as formas inusitadas de organização dos átomos, a exemplo do próprio chapéu francês, que escapa à observação experimental. Com esses resultados, os físicos abriram simultaneamente uma larga porta para uma nova atuação da simulação em computador, que pode também se antecipar à própria experimentação e permitir, entre outras coisas, economia de tempo e dinheiro: tal qual os químicos e biólogos, que já se valem de computadores para projetar medicamentos, molécula por molécula, na área de pesquisa cunhada de alquimia virtual, os físicos logo poderão se sentir à vontade para projetar materiais em escala atômica. PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 29
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CAPA Manipular átomos e construir moléculas é a essência da nanotecnologia, uma área de fronteira que mobiliza o mundo (ver quadro abaixo). Na física, uma das frentes principais da nanotecnologia é justamente a substituição do silício. Em seu lugar, de acordo com as pesquisas em andamento, podem ser usados nanotubos de carbono e moléculas orgânicas como os fulerenos ou buckyballs, moléculas de forma geodésica formada por 60 átomos de carbono. As descobertas se intensificam. Em agosto do ano passado, pesquisadores da IBM anunciaram um circuito semicondutor feito com nanotubos de carbono. Em novembro, a revista Science registrava o desenvolvimento de transistores montados com moléculas orgânicas unidas por pontas de ouro. artigo de dezembro sobre os nanofios não foi o único dos pesquisadores da USP e da Unicamp na Physical Review Letters, embora tenha sido o de maior destaque. Em 2001, o grupo liderado por Fazzio publicou outros dois trabalhos nessa mesma revista sobre propriedades eletrônicas e estruturais de materiais, além de quase 20 em revistas internacionais, em colaboração com pesquisadores da Unicamp e das universidades federais de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, e de Uberlândia (UFU).
Outras descobertas brasileiras sobre nanofios de ouro - construídos em câmaras de vácuo ultra-alto - devem aparecer nos próximos meses, novamente na
Physical Review Letters. Em um artigo já aceito para publicação, On the
Origin of Anomalous Long Interatomic Distances in Suspended Gold Chains (Origem das Anômalas Distâncias Interatõmicas Longas em Cadeias Suspensas de Ouro), Daniel Ugarte e Varlei Rodrigues, do LNLS, em colaboração com Sérgio Legoas e Douglas Galvão, da Unicamp, expliA partir do alto à esquerda, o rompimento do cam por que a distância nanofio de ouro no microscópio eletrônico (acima) ... entre os átomos nos nanofios de ouro é tudo é resolvido matematicamente maior do que no ouro, usado, por porque não há como identificar o carexemplo, para fazer jóias. bono: por ter uma massa muito meDe acordo com os cálculos do nor que a do ouro (tem apenas seis grupo, nos nanofios podem existir elétrons e, no núcleo, seis prótons), é átomos de carbono entre os de ouro, transparente para o microscópio elede modo que a distância seja maior trônico de transmissão. que no ouro comum. Os intrusos jusBuscava-se desde 1998 uma explitificariam até mesmo distâncias excação para as distâncias interatômitremamente longas, de 5 angstrôns, enquanto para distâncias de 3 a 3,6 cas maiores do que o esperado. Foi angstrõns podem coexistir situações nesse ano que pesquisadores do Japão descobriram que nos nanofios a com e sem carbono, os nanofios condistância entre os átomos de ouro, taminados e os limpos. Nesse caso, I
Os quatro centros da nanorrede brasileira Começam a operar este ano os quatro centros de pesquisa selecionados em dezembro pelo Programa Nacional de Nanociências e Nanotecnologia, criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e lançado em novembro de 2000 para definir os rumos de atuação do país numa área considerada estratégica. O primeiro deles encontra-se na Universidade Federá! do Rio Grande do Sul
30 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
(UFRGS), será coordenado por Israel Baumvol e incorpora as propostas do LNLS e do grupo da Universidade Federal de Minas Gerais; outro está centrado na Unicamp, liderado por Nélson Durán; e os dois outros estão na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenados por Eronides Felisberto da Silva Junior e Oscar Loureiro Malta. Os centros deverão funcionar em rede, em conjunto com cerca de 40
instituições de pesquisa do Brasil e seis do exterior, além de duas empresas (France Telecom e PQSD - Ponto Quântico Sensores e Densímetros), em atividades que incluem o desenvolvimento de nanotubos de carbono, cerâmicas, materiais semicondutores, peneiras moleculares e medicamentos. São objetivos tão amplos quanto a própria nanotecnologia, uma área que prevê, por exemplo, a criação de adesivos que possam colar ponto a
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Os mistérios se desfazem, mas o mundo nanométrico permanece intrigante, inteiramente imprevisível. Nessa escala, os nanofios não obedecem mais à clássica Lei de Ohm, um dos pilares básicos da microeletrônica, segundo a qual a intensidade da corrente elétrica varia linearmente, numa escala regular, de acordo com o diâmetro do fio. "No caso dos nanofios",explica Ugarte, "a corrente apresenta patamares separados por saltos, ou seja, enquanto variamos o diâmetro do fio, a corrente fica em um valor fixo (patamar), e de repente dá um salto para outro patamar':
...e na simulação por computador: a estrutura perde a simetria hexagonal e vai se afinando até formar uma linha com cinco átomos, quando ocorre a ruptura
quando um se alinha ao lado do outro, momentos antes de se soltarem, pode chegar a 3,6 angstr6ns - enquanto no ouro normal, o das joalherias, é de 2,9 angstr6ns. No ano seguinte, a equipe do Centro de Microscopia Eletrônica de Alta Resolução do LNLS, que trabalha com nanofios de ouro, prata e platina desde 1995, conseguiu reproduzir o achado dos japoneses e foi além. Num artigo publicado em 2000 na Physical Review Letters, o grupo do LNLS mos,
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a
ponto urna superfície em outra e drogas que atuem no organismo com precisão inimaginável. "Pelo menos não seremos espectadores", pondera Celso Pinto de Melo, coordenador do programa nacional e pesquisador da UFPE. "Temos condições de entrar no jogo." Segundo ele, o Brasil deve investir este ano cerca de R$ 3 milhões (pouco mais de US$ 1 milhão) e adotar uma estratégia similar à do modelo alemão, que, com um orçamento da ordem de dezenas de milhões de dólares, resolveu criar ou consolidar
trou pela primeira vez que, antes da ruptura, os nanofios de ouro assumem somente três formas, cada uma delas com comportamentos mecânicos diferentes. Duas dessas formas são dúcteis: os nanofios são facilmente esticados, como goma de mascar. E uma é quebradiça: o nanofio se rompe facilmente quando esticado. "Esses resultados foram relacionados, com sucesso, com propriedades de resistência elétrica, não entendidas até então", comenta Rodrigues.
centros de excelência nas principais vertentes da nanotecnologia. Os Estados Unidos já buscam a liderança, com recursos crescentes para as pesquisas em nanotecnologia: US$ 270 milhões em 2000, US$ 422 milhões em 2001 e US$ 520 milhões (ainda sujeitos à aprovação) em 2002. Outra iniciativa brasileira é a implantação do Centro Nacional de Referência em Nanotecnologia. Cylon Gonçalves da Silva, que até julho do ano passado dirigia o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, mantido pelo Ministério da Ciência e Tecnolo-
Praça da Sé - Numa analogia, é como se os elétrons se convertessem em pessoas que devem atravessar um espaço e entregar um pacote, a corrente elétrica. Num primeiro momento, que equivale à escala microeletrônica e, de modo mais amplo, a qualquer fio elétrico, os elétrons-pessoas se movem com dificuldade em meio a uma multidão na Praça da Sé, centro de São Paulo. O número de elétrons-pessoas que consegue chegar do outro lado depende do tamanho da praça: se for maior, o número de cargas transportadas também crescerá, de modo contínuo. A entrada de mais portadores de pacotes nem é percebida - e sempre cabe mais um. No segundo, a escala nanométrica, os elétrons-pessoas têm de atravessar corredores, nos quais podem avançar livremente. Mas
gia, é quem está cuidando do planejamento, que pretende concluir ainda este semestre. Segundo ele, o centro vai atuar em poucas áreas, que possam conectar as instituições de pesquisa e as indústrias, de modo a beneficiar o desenvolvimento econômico do país. "Temos habilidade em unir pesquisa teórica e experimental': diz. "O desafio é fazer com que a pesquisa fundamental e a inovação andem de braços dados." O centro, cuja montagem conta este ano com recursos da ordem de U$ 3 milhões, deve começar a operar em 2003.
PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 31
CAPA em cada corredor só cabe um elétronpessoa por vez. Primeiro segue um e depois outro, sucessivamente. Mais de um elétron-pessoa só pode avançar ao mesmo tempo se houver mais corredores - e só é possível perceber que se alterou a quantidade de cargas transportadas quando o espaço cresce exatamente na proporção de um corredor. A quantidade de pacotes (corrente elétrica) aumenta de modo descontínuo, aos saltos, à medida que os elétrons-pessoas ganham os corredores. Os físicos chamam de quantização esse avanço aos saltos, já observado experimentalmente. Nos últimos anos, outros grupos tentaram entender o comportamento dos átomos já dispostos em linha, momentos antes do rompimento, mas não foi gratificante. Os físicos da USP e da Unicamp preferiram uma estratégia de mão cheia, se é que se pode dizer assim no caso de objetos tão minúsculos. "Buscamos uma forma mais realista, o próprio nanofio, imaginando que os átomos, de algum modo, deveriam guardar a lembrança de uma estrutura a que pertenceram': diz Roque da Silva. Os átomos, que se mostram reais - na forma de pontos pretos - nos microscópios do LNLS, são representados por tabelas de números que saem dos computadores e indicam suas posições relativas ao longo do tempo. Só depois de feitos todos os cálculos, no final do trabalho, é que assumem a forma, inegavelmente mais compreensível, de bolinhas coloridas. simulação a por computador, os físicos partiram de uma estrutura análoga à do cristal de ouro, com um átomo em cada vértice de um hexágono regular e outro no centro - é a configuração mais compacta possível, com o maior número possível de elementos por unidade de espaço. Cada hexágono forma um plano. O empacotamento dessas figuras compõe o cristal, representado na simulação em computador por uma estrutura global de dez planos, com 70 átomos.
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32 • fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
o desejo Todo físico do mundo deseja ver sua pesquisa publicada na Physical Review Letters ou simplesmente PRL, uma das mais - se não a mais - importante revista científica nessa área. Mas não é nada fácil. O prestígio dessa publicação, editada pela American Physical Society (APS), dos Estados Unidos, assenta-se em uma rigorosa seleção dos artigos. ''A Physical Review Letters só aceita trabalhos que realmente representem avanços relevantes",reitera José Roberto Leite, presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Desde 1988, o índice de aceitação de trabalhos para publicação oscila entre 37% e 41% ao ano.
dos físicos Em 2001, saíram 71 artigos de pesquisadores de instituições brasileiras na PRL. Desse total, 30 eram de São Paulo. A revista começou a circular em 1Q de julho de 1958, com o objetivo de divulgar resultados de pesquisa de interesse geral para os físicos de qualquer área - da atomística à cosmologia. Não parou mais de crescer, atingiu em 1999 o recorde de artigos publicados em um ano (2.800, esco-
17 December
Espaço nobre: apenas quatro de cada dez artigos enviados pelos pesquisadores são aceitos para publicação
Em seguida, os pesquisadores deixaram a estrutura se reconstruir segundo as equações da mecânica quântica, com os átomos buscando espontaneamente as posições de menor energia. A • redistribuição dos átomos origina o nanofio, uma estrutura tubular extremamente fina, cuja superfície, densa e compacta, composta pelas células de sete átomos, constitui a configuração de maior empacotamento atômico possível- não há outra forma geométrica que permita pôr mais átomos no mesmo espaço. Depois de darem as coordenadas para a formação do cristal, a única ordem que os pesquisadores deram ao computador foi aplicar uma força de tração às duas pontas, como se duas mãos puxassem o fio, a uma temperatura de aproximadamente 300°C. Simulou-se desse modo o esticamento do nanofio, que no primeiro momento evita o rompimento imediato com o sacrifício de seu próprio recheio: os átomos do centro pulam para a su-
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Volume 87. Numbcr 25
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perfície. Como resultado, o comprimento do fio aumenta. "Ninguém antes tinha visto o fio ficar oco", comenta Roque da Silva. Simetria perdida - Quando todos os
átomos de dentro se esgotam, o nanofio se vê num beco sem saída: ou quebra ou afina. Prefere afinar e deixa de ser hexágono em um ponto não especificado, embora ainda procure preservar estruturas triangulares entre os átomos. Nesse ponto, surge um novo plano, o décimo primeiro, com apenas cinco átomos. Forma-se ali um defeito, uma região de instabilidade: é onde o fio vai afinar e, mais tarde, se romper.
lhidos entre os 7.650 recebidos) e prepara-se para se superar este ano, ao prever a publicação de 3.100 artigos e de 11.800 páginas ao longo de suas 52 edições. Seu índice de impacto - que dá a dimensão da importância da revista no meio científico, medida pelo número de citações dividido pelo número de artigos publicados - é de 6,10, um dos mais altos na área de física. Não se recomenda chamar a publicação apenas de Physical Review por causa das outras publicações da American Physical Society, que publica também as Physical Review A, B, C, D e E, destinadas à divulgação de resultados de pesquisas em áreas ainda mais específicas, a Physical Review Special Topics e a Review of Mo-
dern Physics.
Na porção não-defeituosa do fio, a simetria fez com que, apesar de tracionada, a estrutura se mantenha. Já na região de instabilidade, a deformação prossegue. De acordo com as análises realizadas, a estrutura passa por diversos estágios até chegar à configuração de um só átomo unindo duas pontas. Nesse estágio, fios de metais como o sódio se romperiam, mas não o de ouro: a ductilidade do metal nobre confere ao fio uma sobrevida, com a região crítica incorporando, novos átomos, puxados das pontas, em seqüência linear. Essa linha atômica, cujos átomos chegam a ficar 15% mais distantes do que no cristal de ouro, sustenta-se até incorporar apenas de quatro a cinco átomos - as distâncias entre eles também foram verificadas e, novamente, concordaram com os resultados experimentais. Mas os átomos alinhados não se sustentam: as tensões se tornam insuportáveis e o fio se rompe. Para os pesquisadores, uma das preocupações foi entender justamente as estruturas que se formam nas imediações do ponto de ruptura são elas que possibilitam o contato do fio de ouro com os nanodispositivos e lhe conferem a perspectiva de
aplicação tecnológica. É nesse momento, logo após o fio se romper, que as duas pontas resultantes, com configurações muito simétricas e estáveis, formam a estrutura chamada de chapéu francês. Tamanha é a estabilidade dessa forma, segundo Roque da Silva, que nenhum átomo consegue mais sair da ponta para entrar no fio que ainda cresce. A constatação é sugestiva. "Pode ser que toda vez que o fio for puxado forme-se o chapéu francês nas pontas", cogita ele. Alcance amplo - Embora enfatize atual-
mente o estudo de fenômenos na escala atômica, a simulação em computador tem, geralmente, aplicações mais amplas. Em um dos artigos publicados no ano passado, Roque da Silva, Fazzio, o doutorando Gustavo Dalpian e Anderson Ianotti, ex-doutorando da USP, simulam um experimento realizado em microscópio de tunelamento eletrônico, para entender como átomos de germânio se acumulam na superfície do silício - mais uma vez, apenas pela prática não tinha sido possível entender algumas estruturas que se formam após essa deposição. Os resultados a que chegaram beneficiam tanto a microeleOS PROJETOS Centro de Microscopia Eletrônica de Alta Resolução MODALIDADE
Programa de lnfra-Estrutura Equipamento Multiusuário
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COORDENADOR
DANIELMÁRIO UGARTE- Laboratório Nacional de Luz 5íncrotron INVESTIMENTO
R$ 5.075.635,07 Estudos de Materiais: Propriedades Eletrônicas e Estruturais MODALIDADE
Linha regular
de auxílio
à pesquisa
COORDENADOR
ADALBERTOFAZZIO- Instituto de Física da U5P INVESTIMENTO
R$ 143.061,48
trônica atual quanto o aperfeiçoamento de células solares, utilizadas como fonte de energia elétrica. No momento, os pesquisadores estudam o transporte de corrente elétrica entre, por exemplo, os nanofios de ouro e os nanotubos de carbono. Além, evidentemente, das descobertas que possam fazer sobre o comportamento dos átomos, de caráter puramente científico, a aplicação dos resultados também os inquieta. "Temos algo ritmos para soluções de equações da mecânica quântica que nos dão confiança no desenho de novos materiais no computador e no planejamento de experimentos mais baratos, com resultados bastante confiáveis" comenta Fazzio. "A simulação computacional pode ser decisiva no estudo de nanomateriais, não só na nanoeletrônica, mas também na nanoquímica e na nanobiologia. O Brasil perdeu a oportunidade de se tornar independente na microeletrônica, quase não produz chips, mas ainda temos alguma chance na nanotecnologia, porque ninguém sabe exatamente qual material vai substituir o silício. Esse é o momento da escolha." Evidentemente, não basta somente a ciência fundamental. Por essa razão é que Fazzio considera indispensável o engajamento de engenheiros e de empresas no nanomundo, já que o enredo científico está pronto. Teoricamente, a partir do conhecimento detalhado da geometria das pontas dos nanofios de ouro, pode-se pensar em aplicar uma diferença de potencial elétrico (cargas mais intensas de um lado e menos de outro) entre os fios. O dispositivo funciona como um transistor de uma só molécula, no qual passa um único elétron (a carga elétrica mínima) de cada vez. Se à passagem do elétron for associado o número 1 e à não-passagem o número O, estarão criadas as condições mínimas para o sistema operar uma linguagem binária. Embora ainda se esteja longe de compreender toda a física envolvida no processo, pode-se imaginar seu desdobramento prático: um conjunto desses dispositivos pode compor o futuro nanochip. • PESQUISA FAPESP . FEVEREIRODE2002
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ísi~os do Rio de Jan~iro cnaram um novo metodo de conduzir um experimento em que um feixe de luz parece fazer uma viagem ao passado. Para desorganizar a trajetória da luz, em vez de papéis e gases especiais - adotados desde que o experimento foi criado, no fim dos anos 60 -, usaram duas fontes de laser e um cristal. Divulgado em setembro do ano passado num artigo da Physical Review Letters, o novo experimento marca a entrada em cena de um grupo criado há três anos e que no ano passado publicou mais dois artigos em revistas de primeiro nível. Mais que a recriação do experimento, o grupo do laboratório de óptica quântica do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou como lidar com fótons emaranhados, duas partículas de luz que mantêm uma ligação estranha, como se fossem gêmeos com capacidade telepática: o que acontece com uma acontece com a outra, mesmo que estejam a milhões de quilômetros de distância.
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o trabalho tem aplicações práticas potenciais. Conhecer a fundo o entrelaçamento de fótons é fundamental para o avanço dos futuros computadores quânticos, capazes de fazer em segundos tarefas que levariam anos no mais rápido dos computadores atuais. É decisivó também para a criptografia quântica, que cria um código inviolável,e até mesmo para a idéia fantástica do teletransporte - imaginada na série de TV Jornada nas Estrelas e que permite levar e trazer a tripulação da espaçonave Enterprise a lugares distantes por meio de decomposição e recomposição atômica. Trajetória invertida ~ A impressão de
uma viagem ao passado, dada pelo experimento dos anos 60 e pelo que o grupo da UFRJ conduziu, ocorre quando um feixe de luz laser incide sobre um material difuso - uma folha de papel manteiga, por exemplo -, que o desorganiza e espalha em diversas direções. Ao atravessar esse anteparo, a luz laser perde sua principal característica - partículas (fótons) organizadas em fila indiana - e fica semelhan-
te à luz comum, como a de uma lâmpada caseira. O inesperado é que, ao encontrarem um meio não-linear um recipiente com um gás especial, por exemplo -, os raios de luz são refletidos de modo a refazer as trajetórias de volta, atravessam de novo o papel manteiga e retomam a organização inicial. Parece que voltaram no tempo. "Na verdade, para esse feixe refletido, o tempo continua passando normalmente': explica Paulo Henrique Souto Ribeiro, coordenador do laboratório. "Há apenas uma inversão de sua trajetória." Ribeiro repetiu o experimento com outro meio não-linear. A base do experimento foram duas fontes de luz laser. A primeira, bombeadora, passa por um cristal, que dá aos fótons propriedades especiais e os divide em dois feixes. A segunda fonte, auxiliar, cruza a trajetória do primeiro laser dentro do cristal e reforça a intensidade dos dois feixes bifurcados. A interação que ocorre dentro do cristal faz com que um dos feixes bifurcados passe a ter exatamente as mesmas ca-
racterísticas do auxiliar, mas com trajetória invertida, o que o põe num estado de reversão temporal, como se o feixe auxiliar fosse refletido num espelho. Para demonstrar isso, o grupo pôs um anteparo que bloqueou metade do feixe auxiliar. O feixe conjugado teve então a outra metade bloqueada. "Exatamente como se fossem imagens num espelho", diz o coordenador.
ções, uma delas com o professor Paulo Nussenweig, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). O trabalho da equipe baseia-se nas propriedades especiais que a luz adquire no interior de um cristal especial em forma de cubo, com aresta de um centímetro. É ali que se formam as partículas gêmeas - ou fótons emaranhados' um dos fenômenos mais bizarros do mundo das partículas. Uma vez criados os pares de fótons, qualquer medida feita num deles afeta instantaneamente a partícula companheira, mesmo que esteja a milhões de quilômetros de distância. Por isso, já foram comparados, por brincadeira, ao vodu, feitiço que faz a vítima sentir instantaneamente ações executadas a distância - agulhas espetadas num boneco de pano causariam dor numa pessoa nos pontos em que o boneco é espetado. Como as agulhadas, o fenômeno dos pares entrelaçados é fugidio: o laser de hélio e cádmio usado na UFRJ emite luz violeta e, a cada segundo, dispara cerca de 10 mil trilhões de fótons que, depois de penetrar o cristal, chocam-se contra espelhos que absorvem pouquíssima luz e são captados por detectores capazes de indicar a chegada coincidente de cada um dos pares. A cada segundo, os aparelhos instalados sobre uma mesa com um sistema de amortecedores que impede qualquer vibração - produzem cerca de mil pares de fótons gêmeos. Os fenômenos do mundo atômico e molecular, habitado pelas partículas gêmeas, são regidos pelas leis da mecânica quântica, que parecem um contra-senso para quem se atém às dimensões do mundo visível. Partículas como elétrons e fótons comportam-se como corpúsculos e ondas ao mesmo tempo e só optam por um desses comportamentos quando observados. Há outras coisas estranhas. As partículas podem ocupar duas posições no espaço ao mesmo tempo ou se despedaçar em numerosos fragmentos - ou ondas - e mesmo assim manter suas propriedades. Diferentemente dos corpos macroscópicos, nunca revelam simultaneamente Mundo estranho -
Ribeiro é um engenheiro eletricista que mandou para os ares um emprego de manutenção de aviões e alçou vôo numa pós-graduação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutorou-se em 1995, passou uma temporada na École Normale Supérieure de Paris e instalou-se em 1998 no Rio com o objetivo de levar sua visão experimental a um grupo de físicos teóricos. Depois, montou o laboratório - com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Fundação Universitária José Bonifácio (FUJB) - e estreitou colaboraPoder do cristal -
sua posição e sua velocidade. Essas peculiaridades levaram a um intenso debate os maiores cientistas do século 20. O comportamento dos pares entrelaçados perturbava o físico alemão Albert Einstein (1879-1955), que classificou a ligação instantânea entre eles como "fantasmagórica ação à distância': Num artigo de 1935, tentou mostrar o que considerava a incoerência da teoria quântica e previu que isso estaria resolvido quando a teoria chegasse a uma fase adulta. Em resposta, o dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), com quem Einstein manteve um debate por três décadas, mostrou que o microuniverso atômico fere mesmo o senso comum e que cada um que se aventurasse a estudá-lo deveria conformar-se com isso. A história parece dar certa vantagem à Escola de Copenhague, liderada por Bohr: contrariando a vontade de Einstein, as menores entidades do universo continuam a se comportar estranhamente. Perspectivas - As máquinas que podem ser construídas a partir de fótons entrelaçados ainda estão em gestação. Os computadores quânticos, por enquanto, não têm semelhança alguma com os computadores que conhecemos. Já houve testes com criptografia quântica, mas nada que se possa usar em transmissão segura de dados. Em setembro último, a equipe de Eugene Polzik, da Universidade de Arhus, Dinamarca, relatou à revista Nature ter conseguido entrelaçar duas nuvens de césio. Cada nuvem continha cerca de um trilhão de átomos e seu entrelaçamento é considerado um primeiro passo para o teletransporte de partículas massivas. "O emaranhamento quântico",diz Ribeiro, "é a propriedade física por trás da realização do teletransporte. O teletransporte do estado de polarização de um fóton foi realizado experimentalmente com a utilização de pares de fótons entrelaçados ou emaranhados': Já o teletransporte de objetos maiores seria bem mais complexo: o corpo humano, por exemplo, tem cerca de 1025 (o número 1 seguido de 25 zeros) átomos, ou dez trilhões de vezes o tamanho das nuvens gêmeas. • PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 35
• CIÊNCIA ECOLOGIA
Pouco gás na Floresta Amazônica Novos cálculos sugerem que o ecossistema tropical pode absorver menos dióxido de carbono do que se pensava MARCOS
PIVETTA
peso da Amazônia na luta contra o aumento do efeito estufa, o aquecimento excessivo do clima da Terra, pode ser menor do que se pensava. Novos cálculos do fluxo do principal composto atmosférico responsável pelo aumento da temperatura média do planeta, o dióxido de carbono (C02), revelam que a quantidade desse gás absorvida naturalmente por esse ecossistema tropical é igualou apenas ligeiramente maior do que a emitida - e não absurdamente maior, como estudos prévios indicaram. Feita no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera -Atmosfera na Amazônia (LBA) - megaprojeto internacional de US$ 80 milhões que, desde 1999, reúne mais de 300 pesquisadores da América Latina, Es-
tados Unidos e Europa, sob a liderança do Brasil -, a revisão dos números aponta para um saldo anual positivo, em favor da absorção, de cerca de 2 toneladas de carbono por hectare de floresta preservada. Balanços anteriores, alguns conduzidos dentro do próprio LBA, chegaram a indicar absorção líquida, descontado o que foi emitido, de 5 a 8 toneladas de carbono por hectare. "É possível que esse valor esteja até mesmo próximo de zero", diz Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF/USP), responsável por um pro-
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Todas as pontas doLBA Desvendar o papel da Amazônia nos balanços regional e planetário do carbono é um dos grandes objetivos do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, o LBA, mas não o único. projeto internacional, com liderança brasileira, também se debruça sobre os ciclos da energia solar, água, gases traços (compostos, como o metano e óxido nítrico, que também contribuem para o aumento do efeito estufa na baixa atmosfera), aerossóis (partículas sólidas da atmosfera que influenciam a formação de nuvens) e outros nutrientes. Iniciada em 1999, essa ambiciosa iniciativa multidisciplinar tenta entender o funcionamento e interação de todas as partes desse inigualável ecossistema: fauna, flora, solos, rios e seu habitante, o homem. De forma geral, o projeto busca compreender e quantificar de modo integrado como mudanças, provocadas ou não pela mão humana, no uso do solo da região - como a derrubada de florestas para abrir pastagens - e em seu clima alteram os componentes físicos, químicos e biológicos da própria Amazônia e, eventualmente, de outras partes do Brasil e do planeta. Com uma iniciativa do porte do LBA, os pesquisadores esperam levantar novos elementos que lhes permitam responder a uma série de questões sobre a Amazônia e auxiliar o país a elaborar uma estratégia de desenvolvimento sustentável para a região.
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jeto temático financiado pela FAPESP sobre o assunto e um dos coordenadores do LBA. Em cada 3,67 toneladas de dióxido de carbono, também conhecido como gás carbônico, há 1 tonelada do elemento químico carbono. Em linhas gerais, pode-se dizer que quanto mais CO2 uma floresta absorve, maior deve ser a sua biomassa, medida na forma de carbono, visto que a fotossíntese da vegetação se intensifica. Em outras palavras, grande absorção de CO2 equivale, teoricamente, a grande crescimento de um ecossistema. De acordo com a nova contabilidade, somadas todas as fontes conhecidas de entrada (absorção) e saída (emissão) de CO2 da floresta, a Amazônia parece retirar do ar uma quantidade relativamente modesta desse gás por hectare de floresta preservada. Ainda assim, como a região amazônica é imensa - abrangendo apenas em território nacionaiS milhões de quilômetros quadrados (500 milhões de hectares), dos quais cerca de 80% são florestas nativas seu impacto no balanço mundial de dióxido de carbono pode não ser nada desprezível. Nem vilão, nem salvação - Um cálculo rápido e simplista, levando em conta uma taxa de fixação anual de carbono entre uma e duas toneladas anuais por hectare de floresta, mostra que a Amazônia brasileira, que engloba cerca de 70% desse ecossistema sulamericano, seria capaz de retirar da atmosfera algo entre 400 e 800 milhões de toneladas de carbono a cada 12 meses. Isso equivale a algo entre 5% e 10% das emissões globais de carbono no mesmo período em razão da ação do homem, basicamente devido à queima de combustíveis fósseis e ao desmatamento de florestas. "O Brasil não é o vilão do mundo por causa do desmatamento e das queimadas na Amazônia (que emitem quantidades significativas de CO2 para a atmosfera), mas sua principal floresta também não representa a salvação do planeta", comenta Artaxo.
• FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
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Segundo o meteorologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, coordenador científico do LBA, estima-se que todo ano a Amazônia seja responsável por despejar no ar aproximadamente 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono, em razão do desmatamento de áreas antes preservadas e da prática das queimadas, sobretudo nos meses de seca, de julho a novembro. Até agora, cerca de 14% da cobertura original da Amazônia já foi desmatada, a uma taxa de aproximadamente 0,5 por cento ao ano, pouco menos de 20 mil quilômetros quadrados. saldo em favor da absorção de CO2 na Amazônia diminuiu por que os pesquisadores do LBA descobriram impreClsoes metodológicas na forma como vinham calculando o balanço de dióxido de carbono na floresta tropical. Basicamente, três pontos foram cuidadosamente revisados. Primeiro tópico reavaliado: os especialistas constataram que as 12 torres de medição do fluxo do gás na floresta tropical, instaladas em diversos pontos da Amazônia, não registravam adequadamente a entrada e saída de CO2 durante a noite, justamente o período do dia em que as emissões de dióxido de carbono são mais altas, pois a respiração das plantas predomina. "Estimamos que, anualmente, cerca de uma tonelada de carbono por hectare, antes ignorada, é emitida à noite': avalia Artaxo. A boa notícia é que os pesquisadores acreditam já ter conseguido identificar a origem da imprecisão e, melhor de tudo, corrigido a metodologia empregada. Segundo tópico revisto: os participantes do LBA verificaram que, ao respirar, a vegetação amazônica emite, além do CO2, níveis expressivos dos chamados Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs). Parte desses VOCs, um conjunto de gases que contêm carbono, transforma-se em dióxido de carbono na atmosfera, fazendo desse tipo de emissão uma fonte indi-
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reta do principal agente responsável pelo efeito estufa. "Normalmente, a saída de VOCs é considerada desprezível na maior parte dos ecossistemas de clima temperado, mas, na Amazônia, é importante", destaca Artaxo. Estima-se que cada hectare preservado da região despeje no ar anualmente uma quantidade de VOCs capaz de gerar cerca de meia tonelada de carbono na atmosfera. Por fim, os cientistas conseguiram quantificar uma terceira fonte de escape de CO2, até então pouco estudada: os rios e áreas de várzea da Amazônia, que se encontram saturados de carbono e, por difusão, perdem concentrações desse gás para a atmosfera. "Ninguém olhava para o papel das águas no balanço de dióxido de carbono", comenta Reynaldo Victoria, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP), em Piracicaba, coordenador da parte de biogeoquímica das águas do LBA e de um projeto temático da FAPESP. "Os rios da região são grandes reatores que processam matéria orgânica", acrescenta. Em parceria com colegas da Universidade de Washington, também participantes do LBA, a pesquisadora Maria Victoria Ballester, da equipe do Cena, mostrou que sai anualmente cerca de 1 tonelada de carbono por hectare dos rios em direção à atmosfera. Três Franças - A rigor, o dado projeta-
do não se refere à Amazônia em sua totalidade, mas sim a um grande pedaço da região, um quadrilátero de 1,7 milhão de quilômetros quadrados, na parte central da bacia do Amazonas - equivalente a um terço da maior floresta tropical do mundo ou a três Franças. Ainda assim, é um número bastante representativo das trocas de dióxido de carbono que se processam na Amazônia. No artigo
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científico em que expõe seus cálculos sobre a evasão de CO2 dos rios da região em direção à atmosfera, submetido à publicação numa grande revista científica internacional, Maria Victoria, em conjunto com os pesquisadores norte-americanos, afirma que o saldo geral do ciclo de carbono em florestas tropicais maduras e intactas, levando-se em conta a soma dos ambientes terrestre e aquático, deve estar perto de seu ponto de balanceamento. Em outras palavras, próximo a zero. As correções nos números do balanço de carbono se devem, em grande medida, ao caráter único e pioneiro do LBA. Não há em nenhuma outra grande floresta tropical do mundo um esforço sistemático de medição do fluxo de CO2 nos moldes do executado na Amazônia. "Esse tipo de trabalho existe apenas em ecossistemas temperados da América do Norte e Europa, que são bastante diferentes da floresta tropical", diz o físicoArtaxo. "Não temos nenhum modelo de pesquisa pronto para copiar e colocar em prática aqui. Tudo precisa ser desenvolvido e ajustado à realidade da Amazônia." Em muitos casos, esse ajuste pode fazer toda a diferença na conta final. As dificuldades em in-
terpretar corretamente os dados fornecidos pelas torres instaladas na Amazônia para medir o fluxo de CO2 entre a mata e a atmosfera ilustram bem essa questão. ompradas a um custo unitário de aproximadamente US$ 200 mil, as torres, que medem 55 metros de altura, foram colocadas em 12 pontos da Amazônia, tentando cobrir realidades diferentes da imensa região. As torres não são tão altas à toa. Seu topo foi projetado para ficar entre 20 e 30 metros acima da copa das árvores, posição privilegiada onde ficam seus sensores de alta precisão, instrumentos capazes de medir dez vezes por segundo a velocidade do vento vertical e as concentrações de CO2. Para o instrumento, o CO2 que faz o movimento ascendente, da floresta para a atmosfera, é contabilizado como emitido pela primeira em direção à segunda. que realiza o percurso inverso entra no cálculo como absorvido pela vegetação ou solo (ou seja, retirado do ar). Ao longo do tempo, o balanço (a soma do dióxido de carbono que entrou e do que saiu) fornece o fluxo líquido do CO2 num local.
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o mistério do carbono perdido Não é só na Amazônia que entender e quantificar o ciclo do carbono leva constantemente os pesquisadores a rever cálculos e modificar métodos de trabalho. Em todo o mundo, é assim. Trata-se de um terreno científico no qual, no momento, parece haver poucas certezas e muitas hipóteses, a despeito de toda a atenção provocada pelo comprovado aumento da concentração de CO2 na atmosfera depois da Revolução Industrial do século 19 e da ameaça do aumento do efeito estufa. Alguns pontos do ciclo do carbono ainda estão tão em aberto que os cientistas não sabem responder ela-
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no planeta
ramente a muitas perguntas-chaves para o futuro do clima do planeta. Uma das mais importantes é sobre a questão do chamado "carbono perdido" e de seus sorvedouros - locais que absorvem CO2, retirando, portanto, esse gás da atmosfera. Cálculos globais feitos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) , espécie de comitê mantido pela Organização Mundial de Meteorologia e pelo programa ambiental das Nações Unidas, mostram que anualmente são emitidos cerca de 7,9 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera, das quais 6,3 bilhões devido à quei-
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Como se vê, o sistema de medição das torres funciona muito bem desde que haja constante circulação e turbulências verticais de ar no ponto da medição. Isso acontece diuturnamente nas florestas temperadas da América do Norte e Europa, matas bem mais abertas do que a Amazônia. Na floresta tropical, mais fechada, a densa copa das árvores, que constantemente dificulta a passagem da luz, pode funcionar como uma tampa capaz de represar o ar abaixo de seus domínios. Durante o dia, esse efeito de aprisionamento atmosférico proporcionado pela exuberante vegetação equatorial não chega a atrapalhar o funcionamento dos sistemas de medição das torres, pois os períodos de calmaria do clima (com pouca turbulência atmosférica, sem vento ou chuvas) não são dominantes. Tanto o CO2 absorvido pelas plantas durante a fotossíntese (processo no qual os vegetais retiram dióxido de carbono da atmosfera e o convertem em energia e biomassa) quanto o emitido em decorrência de sua respiração são registrados a contento. À noite, tudo muda e os períodos de calmaria, sem turbulência, passam a ser dominantes - com o agravante de que o ar nesse período do dia se
ma de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) e 1,6 bilhão pelo desmatamento. Para onde vai todo esse carbono? Aproximadamente 2,3 bilhões de toneladas são absorvidos pelos oceanos e 3,3 bilhões de toneladas vão para a atmosfera, sobretudo na forma de CO2. Como o carbono não desaparece, falta ainda encontrar o destino de 2,3 bilhões de toneladas que foram emitidas, mas não se sabe exatamente para onde foram. Um desses possíveis destinos são as florestas, temperadas, boreais e tropicais como a Amazônica, que têm a capacidade de, com a fotossíntese,
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torna mais rico em CO2. Sem a presença da luz do sol, as plantas não fazem fotossíntese. Apenas respiram, devolvendo ao ar uma parte do CO2 absorvido durante o dia. Para onde foi o (02? - Essa limitação na medição do fluxo noturno de CO2 é mais acentuada em torres cujo raio de medição englobe áreas alagadas e que estejam instaladas em locais com topografia não totalmente plana. Isso porque a inclinação do terreno faz o CO2, que tem dificuldade de escapar por cima devido ao efeito tampão da copa das árvores, "escorregar" para os lados durante a noite. Quando isso acontece, o dióxido de carbono emitido logo abaixo de uma torre sai de sua área de medição, não sendo, portanto, contabilizado adequadamente pelo equipamento. Somente em áreas extremamente planas, o dióxido de carbono liberado durante a noite pela respiração das plantas não "escorrega" e fica represa-
converter esse dióxido de carbono em biomassa. problema é que o homem ainda não sabe com certeza qual a real capacidade de absorção - e emissão - de CO2 de cada um desses ecossistemas nos dias de hoje. Além disso, o status de um ecossistema pode mudar com o tempo. Uma floresta jovem e em crescimento é, possivelmente, uma grande consumidora de CO2 atmosférico, usando enormes quantidades de carbono para aumentar sua biomassa. Mas, se for um dia cortada e queimada num ritmo frenético, essa mesma formação vegetal deixará de fixar carbono e passará a emiti10 na forma de CO2 devido à combustão de sua biomassa.
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do pelas copas até o dia seguinte. Dessa forma, esse CO2 noturno que não foi registrado pela torre acaba passando, com alguma sorte, pelo sensor do equipamento no início do dia seguinte, sendo, assim, contabilizado de forma adequada no fluxo total diurno. "Descobrimos isso depois de analisar detalhadamente os dados de várias torres do LBA, em particular as duas situadas em Manaus, operadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)", conta Artaxo. istantesapenas 20 quilômetros, as duas torres registravam balanços de carbono diferentes. . Uma dizia que a floresta absorvia de 20% a 30% a mais de dióxido de carbono do que a outra. Examinando em detalhes os locais onde ambos equipamentos foram assentados, os pesquisadores verificaram que as porções alagadas dentro do raio de ação de uma das torres eram bem diferentes das áreas inundadas dentro do campo de cobertura da outra. Constataram ainda que a inclinação do terreno onde estavam assentadas as torres apresentava variações significativas. Segundo Artaxo, essas peculiaridades eram suficientes para intensificar o escape horizontal do CO2 emitido à noite em uma das torres, explicando, dessa forma, os dados aparentemente conflitantes fornecidos pelas torres da capital amazonense. Para medir corretamente a quantidade de CO2 emitida à noite, os pesquisadores do LBA instalaram sensores desse gás em diversos pontos de cada uma das 12 torres, e também abaixo da copa das árvores. Assim, o registro noturno da presença de dióxido de carbono sob as árvores ficou mais fácil de ser obtido. Neste ano, com o auxílio de técnicas mais precisas de topografia, os pesquisadores vão determinar a inclinação do relevo nas áreas em que estão instaladas as torres, outra medida que visa a minorar eventuais imprecisões dos dados fornecidos por esse tipo de equipamento e dar mais credibilidade ao
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cálculo do balanço geral de carbono. "Em meados deste ano, serão instaladas duas torres na Ilha do Bananal, em Tocantins, as primeiras em áreas inundadas da Amazônia': afirma Artaxo. Com esse aprimoramento, mais um pequeno buraco na medição do fluxo de CO2 na Amazônia começa a ser preenchido. Afinal, 14% da região é coberta por rios ou áreas alagadas, um tipo de hábitat onde o LBA ainda não conta com nenhuma forma de monitoração permanente dos fluxos de CO2. Antes mesmo da revisão dos números do balanço de carbono na Amazônia, alguns pesquisadores do próprio LBA viam com ressalvas os primeiros dados levantados pelo projeto, que apontavam a região como um grande sorvedouro de carbono. A história da floresta tropical e sua constituição física pareciam, de certa forma, desmentir as cifras que sinalizavam um saldo anual em favor da absorção de até 8 toneladas de carbono por hectare. Afinal de contas, a floresta amazônica não é uma formação vegetal jovem. É relativamente antiga e já atingiu sua maturidade. Portanto, teoricamente, seu fluxo de carbono deveria ser próximo de zero. Ou seja, a quantidade de carbono absorvida e emitida deveria se equivaler. da floresta - Como um hectare de floresta tropical intacta corltém de 140 a 200 toneladas de carbono na forma de biomassa, a Amazônia brasileira teria, teoricamente, de dobrar de tamanho a cada 28 anos se Crescimento
o PROJETO Estudos das Interações Físicas e Químicas na Interface BiosferaAtmosfera na Amazônia MODALIDADE
Projeto
temático
COORDENADOR
PAULOARTAXO- Instituto da USP
de Física
INVESTIMENTO
R$ 718.131,52 e US$ 550.954,00
sua capacidade de absorção de dióxido de carbono fosse equivalente a, por exemplo, 5 toneladas anuais (de carbono) por hectare. "Isso não está acontecendo", afirma Artaxo. "AAmazônia não cresce nesse ritmo." Alguns cientistas, no entanto, argumentam que a floresta amazônica hoje não se comporta mais como uma clássica formação vegetal madura. Florestas antigas, diz a ecologia tradicional, absorvem e emitem a mesma quantidade de dióxido de carbono, tendo um crescimento em termos de biomassa próximo a zero. A causa dessa mudança de atitude seriam as altas concentrações de CO2 encontradas nos dias de hoje na atmosfera do planeta, as mais elevadas da história recente - a concentração do gás pulou de 280 ppm (partes por milhão) em 1850 para os atuais 370 ppm. Com mais CO2 disponível no ar para absorção, o nível de fixação do dióxido de carbono por florestas maduras teria se elevado devido a esse aumento na oferta desse composto atmosférico. "No balanço geral, a maioria das torres na Amazônia mostra mais absorção do que emissão de dióxido de carbono pela floresta preservada': diz o meteorologista Carlos Nobre. "O debate é se essa absorção é grande ou moderada." Diretamente envolvido no processo de revisão dos números de balanço de carbono na Amazônia, o físico Artaxo, da USP, figura entre os pesquisadores do LBA que acreditam num saldo modesto em favor da absorção de CO2 pela floresta. Já o biogeoquímico Antonio Nobre, do Inpa, responsável pela operação das duas torres do LBA em Manaus, ainda não está convencido de que o saldo entre a quantidade de CO2 absorvida e emitida na região seja tão moderado. "Pode até ser que esse balanço seja da ordem de duas toneladas anuais de carbono (por hectare de floresta preservada), mas há torres que mostram anualmente uma absorção líquida anual de mais de 5 toneladas de carbono (por hectare de floresta)", diz Nobre. "É lógico que ainda há incertezas sobre a metodologia aplicada nessas medições e
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sobre o ciclo do carbono, mas não dá para simplesmente ignorar esse dado. Ainda não conhecemos bem o ecossistema amazônico, que é muito complexo. As plantas se adaptam aos níveis de dióxido de carbono atmosférico e buscam um novo equilíbrio:' Como quase tudo em ciência, os novos números sobre o ciclo de carbono na Amazônia não são definitivos nem inquestionáveis. Ainda mais quando se sabe que esses valores alimentam um tema palpitante da política e diplomacia internacional, o do Protocolo de Kyoto, acordo assinado e em processo de ratificação pela maior parte das nações do planeta (com exceção digna de nota dos Estados Unidos), que prevê metas de redução nos níveis de emissão de CO2 para os países industrializados como forma de reduzir o efeito estufa. "Para não ficarmos na dependência apenas de informações vindas do estrangeiro, extrapoladas a partir de medições feitas em florestas temperadas, nós, brasileiros, temos de entender e produzir nossos próprios dados sobre o ciclo de carbono na Amazônia", diz Artaxo. Em tempo: o efeito estufa, causado por uma cortina de gases atmosféricos, com destaque para o CO2, que impedem o retorno ao espaço de todo o calor irradiado pelo Sol em direção à Terra, é um fenômeno natural, desejável, sem o qual não haveria clima propício no planeta ao florescimento da vida. É ele que faz o globo terrestre ser quente o suficiente para ser habitável. aumento do efeito estufa, em razão da elevação exagerada dos níveis de dióxido de carbono atmosférico e outros gases, é que faz a temperatura esquentar mais do que o desejável, provocando o derretimento de geleiras e, eventualmente, colocando em risco o equilíbrio do planeta. •
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• CIÊNCIA BIOLOGIA
A origem das espécies Estudo de peixes que habitam cavernas revela os mecanismos de diferenciação progressiva que registram sua evolução
scuridãopermanente e escassez de alimentos estão na base das transformações que diferenciaram os peixes de caverna de seus parentes de fora. Descobrir como essas mudanças ocorrem e a partir de que ponto configuram uma nova espécie foi o desafio de uma equipe do Instituto de Biociências da Universi-
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dade de São Paulo (IB-USP) coordenada por Eleonora Trajano, que pesquisou cavernas de Goiás. O trabalho, que ajuda a entender o papel do ambiente na formação de novas espécies, já rendeu frutos em outros locais: graças a ele, os bagres cegos do Vale do Ribeira foram declarados ameaçados de extinção e o Poço Encantado da Chapada Diamantina, Bahia, foi interditado para mergulhos. O cenário da pesquisa é o Parque Estadual de Terra Ronca, situado no município de São Domingos, nordeste de Goiás, na região do Alto Tocantins. Ali as águas esculpiram na rocha calcárea cerca de 30 cavernas, pelo menos cinco delas com mais de 5 quilômetros de extensão. A área apresenta a mais rica fauna de peixes
troglóbios (de cavernas) do Brasil: das 14 espécies registra das no país, cinco se encontram nessa região. Existem no parque cavernas secas, algumas com pinturas rupestres, mas as que mais interessam à equipe da USP são aquelas atravessadas por rios, como a Angélica, a Bezerra, a Passa Três e a São Vicente. "Nossa luta é pela preservação desse santuário goiano', enfatiza Eleonora. O Parque Estadual de Terra Ronca foi tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, a área está sendo desapropriada e demarcada, mas, devido à falta de recursos para a aquisição de terras, as nascentes dos rios ficaram fora do espaço delimitado. "Se as nascentes forem comprometidas por desmatamento, quei-
madas e poluição, toda a vida no local estará ameaçada", alerta a bióloga. O estudo inclui o levantamento da biodiversidade das cavernas e arredores, e a caracterização das espécies não só de peixes. O grupo investiga a biologia molecular, a morfologia, a ecologia e o comportamento dos animais: "Muitas vezes': observa a pesquisadora, "a biologia molecular nos diz que dois animais pertencem à mesma espécie, enquanto as análises morfológica e comportamental indicam, com clareza, que se trata de espécies diferentes': Ao ser caracterizado, um peixe é comparado a parentes próximos que vivem fora das cavernas e a espécies de caverna não aparentadas, habitantes de outras regiões. O método permite distinguir características comuns a espécies não aparentadas, que apresentam respostas convergentes ao mesmo ambiente - no caso, o meio subterrâneo. Função e regressão - Segundo os pesquisadores, ao se interromper a troca de genes entre as populações de
peixes cavernícolas e aquelas do mundo exterior (chamadas epígeas), as sucessivas gerações de caverna sofrem uma progressiva redução do aparato visual e da pigmentação escura (melânica). Pode ocorrer também uma diminuição no tamanho corporal e modificações comportamentais, como perda da fotofobia, dos ritmos circadianos (diários) de atividade e do hábito de se esconder. Outras modificações notáveis nos peixes estudados são o afilamento do focinho e a redução do tamanho relativo da cabeça. Tudo resulta de mutações genéticas que, sob as condições específicas das cavernas, não são eliminadas por seleção natural como seria normal. Em ambiente iluminado, um peixe que nascesse cego, por exemplo, teria poucas chances de sobreviver. Essas mutações afetam caracteres como olhos, pigmentação e ritmicidade circadiana, que perdem a função no ambiente permanentemente escuro das cavernas e podem regredir após muitas gerações em isolamento nesse hábitat. Segundo Eleonora, outros caracteres,
como os envolvidos na obtenção de alimento, geralmente escasso em cavernas devido à ausência das plantas, "são selecionados positivamente, resultando em maior eficiência na localização, captura e aproveitamento desse alimento". Num estágio das mudanças, o acúmulo de características divergentes define uma nova espécie, exclusivamente subterrânea ou troglóbia. Casos limítrofes - Mas há formas fronteiriças cuja conceituação é um desafio. Maria Elina Bichuette, integrante da equipe, conta: "Existem populações troglóbias totalmente cegas e despigmentadas. Outras apresentam esses traços de maneira apenas parcial. São casos nos quais a regressão ainda não se completou". Há situações limítrofes nos quais a regressão parece estar em fase tão inicial que fica difícil distinguir completamente os peixes de caverna dos do exterior. É o que ocorre com o peixe elétrico Eigenmannia vicentespelaea, da mesma ordem do poraquê, mas cujas descargas não são fortes. Sua classificação como espécie gera dúvidas: não se observam diferenças morfológicas acentuadas entre a espécie subterrânea e as parentes do ambiente epígeo. Os pesquisadores observaram na espécie cavernícoIa não só exemplares com olhos bem reduzidos e despigmentados, como também indivíduos com pigmentação cutânea e olhos bem desenvolvidos. Essas espécies duvidosas são o maior quebra-cabeça que já encontraram. Os peixes são vistos em várias situações. Alguns vivem em cavernas que se tornaram iluminadas em função de desmoronamentos, mas são totalmente cegos e despigmentados - prova de que sua diferenciação ocorreu
Lapa do Angélica, uma das cavernas de São Domingos, Goiás: ambiente preserva mutações genéticas PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 45
antes da abertura desses amplos contatos da caverna com o exterior. Outros habitam cavernas escuras, mas estão apenas começando a se diferenciar. Pode ser um sinal de que colonizaram o local há pouco tempo, mas nem sempre. "Pode ocorrer de o animal habitar a caverna há muito tempo, mas seu isolamento genético ser fato recente", diz Eleonora. "Só quando deixam de trocar genes com seus parentes epígeos é que os troglóbios começam a se diferenciar': A perda da visão, por exemplo, progride ao longo de quatro etapas: diminuição do tamanho dos olhos, com preservação das estruturas; desorganização do cristalino e de estruturas associadas; desorganização da retina; e atrofia do nervo óptico. Caso misterioso - "Encontramos bagrinhos troglóbios,da família Trichomycteridae, com olhos relativamente desenvolvidos';relata Maria Elina."Peloexame macroscópico, acreditamos que se encontrem entre a primeira e a segunda etapa:' A redução dos olhos, no entanto, só tende a progredir, porque, segundo ela, não existe uma população externa capaz de contribuir com genes associados ao desenvolvimento da visão. Se nesse caso é fácil entender a dinâmica da diferenciação, o mesmo não se pode dizer do cascudo Ancistrus cryptophthalmus, que tem possibilidade de contato com populações externas e, no entanto, está divergindo. É um mistério. "Talvez estejamos diante de um caso raro de especiação parapátrica (sem isolamento)", diz Maria Elina. "A especiação por isolamento, chamada alopátrica, explica as características da maioria das populações brasileiras, mas não de todas': A especiação alopátrica segue um roteiro conhecido. Inicialmente, haveria uma única espécie ocorrendo tanto dentro como fora da caverna. Então, uma mudança climática poderia eliminar a população externa. Protegida, a população da caverna se preserva mas, sem a população externa, deixa de haver troca de genes. Então, as mutações 46
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De qualquer modo, diz a bióloga, "as exceções são importantíssimas para o desenvolvimento dos modelos, porque lhes conferem balizas. Quanto mais delimitado um modelo, maior sua capacidade de predição':
Áreas de rochas solúveis em que se desenvolvem ambientes subterrâneos 1 • Vale do Ribeira 2 • Serrada Bodoquena 3·Bambul 4·5ao Domingos S·Una 6· Rio Pardo 7 • Altamlra ·Italtuba
vão diferenciando essespeixes, que acabam por formar uma nova espécie. "Com base nesse modelo'; diz Eleonora, "seria de se esperar que houvesse mais espécies troglóbias em regiões que sofreram muitas modificações paleoclimáticas do que em regiões que sofreram poucas." As cavernas de São Domingos confirmam essa expectativa para a fauna de invertebrados terrestres, mas a desmentem para os peixes. A região passou por modificações paleoclimáticas pouco acentuadas e, no entanto, ali são encontradas cinço espécies de peixes troglóbios, mais do que em qualquer outra área cárstica formada por rochas solúveisonde se desenvolvem cavernas - do Brasil. O problema é que o modelo alopátrico é insuficiente para explicar essa situação.
o PROJETO Estudo dos Peixes Subterróneos Brasileiros: Ecologia e Comportamento de Ancistrus cryptophthalmus, Cascudo Cavernrcola da Região de São Domingos, Goiás MODAUDADE
Unha regular de auxilio à pesquisa COORDENADORA ELEONORA TRAJANO -
Instituto de
8iociências da USP INVESTIMENTO
R$ 41.120,98 e US$ 1.082,87
Forma corporal - Para distinguir espécies, a equipe usou a morfometria geométrica: gravou imagens digitalizadas dos animais por um sistema de vídeo acoplado a um computador e, depois, aplicou sobre elas uma grade cartesiana, cuja deformação indica como e quanto a figura estudada diverge de uma forma padrão. O método foi aplicado ao estudo de quatro populações do cascudo Ancistrus cryptophthalmus das cavernas, comparadas à população epígea de Ancistrus na região. Um gráfico desse levantamento mostra a transformação gradual, da população epígea para a das cavernas. "Partindo-se do princípio de que a espécie epígea atualmente encontrada na região é uma forma pouco modificada do ancestral das populações troglóbias, pode-se concluir que, a partir de um ancestral de cabeça grande e corpo curto, focinho largo e olhos grandes, originaram-se populações que gradualmente sofreram redução dos olhos e da pigmentação, afilamento da cabeça e aumento relativo do corpo", resume Eleonora. Outra parte da pesquisa implica capturar, marcar e devolver cada animal ao meio - tarefas nada fáceis com ambientes escuros, peixes pequenos e rios que desaparecem em fendas. Esse trabalho é fundamental para a avaliação dos impactos ambientais, identificação de espécies potencialmente ameaçadas e formulação de estratégias de conservação. "Os troglóbios em geral'; diz Eleonora, "apresentam um ciclo de vida longo, associado à baixa fecundidade, ao crescimento individuallento e à maturidade retardada': Disso resulta uma renovação populacionallenta. Em conseqüência, perdas populacionais causadas por perturbações ambientais são repostas com dificuldade, fazendo dos troglóbios organismos particularmente suscetíveis às modificações do ambiente. •
• CIÊNCIA no perfil epidemiológico da doença no Brasil. A raiva urbana, transmitida por cães e gatos, encontra-se controlada nas regiões Sul e Sudeste. Mas, como ainda é intensa nas outras regiões, esses animais continuam a ser os principais transmissores do vírus: causam cerca de 70% dos casos taria de Saúde do Ceará, de quem parnotificados - foram, em média, 26 Pesquisadores relatam tiu os relatos de campo que levaram por ano, de 1996 a 200l. às descobertas, alerta para os riscos do primeiros casos de transmissão Em contrapartida, cresce a transcontágio e incentiva a vacinação em do vírus por sagüis no Ceará missão por morcego, um dos princicaso de mordidas de macacos. pais reservatórios silvestres do vírus, Não se trata de um problema lojá responsável por cerca de 15% dos cal. No início do ano passado, o Pascasos. A causa é a expansão das áreas antidos como animais de estiteur identificou a mesma variante do de ocorrência, incluindo as densamenmação no sertão do Nordesvírus em um caso de raiva em humate povoadas. "Os morcegos estão se te, os sagüis-de-tufo-branco (Callitrix nos já confirmado no Piauí, também deslocando e atualmente são enconjacchus jacchus) se tornaram um motransmitida por sagüi. Além disso, os trados próximos à cidade de São Pautivo de preocupação: podem transmimoradores de regiões mais pobres lo", observa Ivanete Kotait, vice-diretir o vírus da raiva. Os mais comuns do Nordeste capturam os sagüis que tara do Instituto Pasteur de São dos sagüis causaram oito mortes de vivem nas matas e os vendem, ilegalPaulo. Houve casos recentes de raiva moradores do Ceará de 1991 a 1998, mente, para outras regiões. Altamente em cães e gatos transmitida por morde acordo com um artigo publicado adaptáveis, esses macacos vivem tamcegos em Itapevi, Barueri e Santo Anna edição de novembro-dezembro do bém próximos a plantações e em pardré, municípios vizinhos à capital. Emerging Infectious Diseases, do Cenques e áreas verdes de cidades como "Não vai surpreender nada se encontro de Controle e Prevenção de DoenSão Paulo e Rio de Janeiro. trarmos cães ou gatos contaminados ças (CDC), dos Estados Unidos, assino município de São Paulo." nado por pesquisadores do Instituto Entre morcegos - O aparecimento de Em Porto Alegre, no Rio Grande Pasteur de São Paulo, da Secretaria casos de raiva transmitida por prido Sul, foi registrado no ano passado Estadual de Saúde do Ceará e do Mimatas no Ceará é uma das alterações o primeiro caso de raiva em 11 nistério da Saúde. Foi o primeianos - em um gato, contamiro relato de que uma espécie de nado provavelmente por um primata é fonte de infecção por raiva em humanos. morcego, de acordo com os estudos já realizados. PreocuNão bastasse o transmissor, as características do vírus - a pa, em especial, a transmissão chamada variante - também são realizada por meio do Desmonovas. Com base em análises dus rotundus, uma das espécies realizadas no Pasteur São Paucentrais do Seminário Internacional Morcegos como Translo e no próprio CDC, Silvana missores de Raiva, realizado Regina Favoretto, pesquisadora do Pasteur, demonstra que o em dezembro em São Paulo. vírus encontrado nos sagüis Outro problema que aflige constitui um grupo único, sem os pesquisadores é que morcerelação com amostras encongos hematófagos, chamados de vampiros, infectam espéciesque tradas em morcegos ou mamínão se alimentam de sangue. feros terrestres. Esse trabalho reforça a susNa edição de janeiro da revista peita de que os sagüis sejam do CDC, pesquisadores chileum reservatório natural do vínos relataram o primeiro caso rus da raiva: estudos anteriores de raiva humana causada no Chile por um morcego insetíjá haviam indicado que esses macacos são altamente suscetívaro, o Tadarida brasiliensis, veis à inoculação intracerebral que lá é o principal reservatório do vírus, tal qual, no Brasil, do vírus. Nélio Moraes, coordenador de zoonoses da Secre- Sagüi-de-tufo-branco: do Nordeste para outras regiões o Desmodus rotundus. •
EPIDEMIOLOGIA
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A raiva se espalha
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PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 47
• CIÊNCIA PSIQUIATRIA
Enzima denuncia Alzheimer Identificada molécula que pode servir para diagnosticar doença anos antes de sua manifestação SUZEL TUNES
ma equipe da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) obteve uma vitória importante na luta contra o grande desafio do mal de Alzheimer: compreender o mecanismo da degeneração cerebral'que caracteriza a doença para estabelecer um diagnóstico precoce e preciso. Wagner Farid Gattaz, Cássio Bottino e Orestes Forlenza, do Instituto de Psiquiatria, identificaram uma enzima - a fosfolipase A2 - que esperam poder ser um eficiente marcador biológico para a detecção precoce da doença ou mesmo a chave de sua cura. A partir da medição dessa enzima no sangue, eles pretendem atuar na prevenção de Alzheimer vários anos antes de a doença se manifestar. Atualmente, embora se baseie em evidências clínicas, o diagnóstico de Alzheimer é dado como "possível" ou "provável". Certeza mesmo, só na autópsia, quando o cérebro revela seu terrível estado de degradação: tecido cerebral atrofiado, fibras nervosas emaranhadas, neurônios invadidos por placas da proteína beta-amilóide. Os pesquisadores acreditam que os primeiros sintomas do mal de Alzheimer, normalmente só aparentes depois dos 60 anos de idade, sejam o ponto culminante de um processo silencioso que começa de 20 a 30 anos antes - mas pode deixar suas marcas no sangue desde o início.
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Gattaz examinou o sangue de idosos saudáveis e o comparou com amostras coletadas de pacientes de Alzheimer e de transtorno cognitivo leve (TCL) - distúrbio caracterizado apenas por declínio de memória. Os dois grupos apresentaram diminuição dos níveis de fosfolipase A2 (ou PLA2), enzima que atua no metabolismo dos fosfolípides, componentes da membrana celular. Além disso, quanto mais comprometidas as funções cerebrais, menores eram as taxas da fosfolipase. Esquizofrenia e demência - As primei-
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ras hipóteses sobre a ação da fosfolipase no cérebro são da década de 80, quando Gattaz estava na Universidade de Heidelberg, Alemanha, e estudava os mecanismos da esquizofrenia. A fosfolipase era então pouco conhecida. Descobriu-se que, além de ser produzida como enzima digestiva pelo pâncreas, está presente em todas as células, inclusive os neurônios: "Amembrana dos neurônios é formada por uma camada dupla de fosfolípides. É nessa camada, fronteira da célula com o meio externo, que estão os neurorreceptores - responsáveis pela transmissão de informações de um neurônio a outro. Alterando a composição dessa membrana pela ação de enzimas, você altera sua arquitetura e, conseqüentemente, a ação dos neurorreceptores", explica Gattaz. Sua hipótese inicial foi conceber a esquizofrenia como doença do pâncreas, e não do cérebro. Supôs que pudesse ter um mecanismo semelhante ao de outros quadros neuropsiquiátricos, não originados primariamente do cérebro, mas do metabolismo periférico - como a fenilcetonúria, doença do fígado decorrente da falta de uma enzima e que leva a distúrbios da maturação do sistema nervoso central. Para a esquizofrenia, não se constatou falta de fosfolipase, mas excesso. Não demorou para que Gattaz voltasse a atenção para o mal de Alzheimer, por ter este uma característica oposta à esquizofrenia: é muito raro um esquizofrênico desenvolver esse tipo de demência (deterioração cerebral). Mesmo quando há déficits graves de memória
e compreensão, os exames cerebrais post-mortem não revelam deposições da proteína beta-amilóide - as placas, senis, marcas típicas de Alzheimer. Se nos esquizofrênicos havia aumento dos níveis de fosfolipase, convinha verificar isso nos pacientes de Alzheimer. "Verificamos que a fosfolipase A2 estava diminuída no cérebro e a diminuição se relacionava com a intensidade da lesão cerebral: quanto mais baixo o nível da enzima, maior a ocorrência das placas senis." Foi encontrado um paralelo entre a diminuição da enzima no cérebro e no sangue: ''Avaliamos a presença de fosfolipase A2 tanto em tecido cerebral post-mortem quanto em plaquetas. A presença da fosfolipase no sangue permite fazer extrapolações para a atividade no cérebro e facilita o acesso do pesquisador". Estava descoberto um potencial marcado r biológico do mal de Alzheimer.
nóstico. "O risco estatístico - duas vezes e meia - é muito pequeno se comparado a marcadores de outras doenças, onde você encontra um aumento de 100, 1.000 vezes",ressalva Gattaz.
Já a fosfolipase A2 tem animado os pesquisadores com a perspectiva de ser mais do que um marcador, mas uma substância envolvida na própria origem da doença. "Para a doença de Alzheimer", diz Gattaz, "tudo indica que essa enzima tenha significado duplo: contribui tanto para a formação das placas senis quanto para a diminuição da atividade colinérgica - de liberação do neurotransmissor acetilcolina" A liberação de acetilcolina, um neurotransmissor fundamental para o funcionamento do cérebro, fica diminuída nos doentes de Alzheimer. Por isso, os remédios mais utilizados agem no sentido de aumentar essa liberação no cérebro. Entre eles, há substâncias precursoras de acetilcolina e outras inibiAlelo suspeito - Não é o único marcadoras da acetilcolinesterase - enzima dor investigado. Num grupo de pacienque degrada esse neurotransmissor. tes que acompanhou por quase cinco São tratamentos sintomáticos, que meanos, Cássio Bottino testou um potencial marcado r genético, o alelo e4. Lolhoram a qualidade de vida de cerca de 70% dos pacientes. calizado no cromossomo 19, o e4 é Acontece que a diminuição da enuma das três formas do gene que cozima fosfolipase A2 também prejudica difica a apolipoproteína E, ou ApoE (as outras são os alelos e2 e eô). A a formação da acetilcolina: ''A fosfolipase libera colina da membrana celular ApoE é uma proteína do plasma relapara formar acetilcolina. Portanto, uma cionada ao transporte de colesterolpara o fígado, o cérebro e outros tecidos. diminuição da atividade dessa enzima resultaria num agravamento do déficit Acontece que, segundo várias pesquicolinérgico já existente na doença de sas, portadores do alelo e4 têm mais Alzheimer. Esse déficit é primariaÍnenchance de desenvolver o mal de AIte conseqüência da morte maciça de zheimer e tendem a apresentar os sinneurônios colinérgicos em regiões do tomas mais cedo do que os portadocérebro relacionadas com a memória". ras de alelos e2 e e3. Na tipagem para alelo e4 de 20 paOutro mecanismo que sofreria influência dessa enzima é a própria forcientes-controle (idosos saudáveis)" mais 41 doentes de Alzheimer e 21 mação das placas senis, segundo hicom TCL, Bottino confirmou estudos' pótese de Gattaz. Ele explica que a proteína beta-amilóide, que forma as que indicam nos idosos portadores, do alelo e4 um risco 2,4 vezes maior placas, é recortada de uma proteína para o desenvolvimento de Alzheimer. maior chamada PPA - proteína precursora de amilóide - que fica anco"Nos pacientes com TCL, o risco foi um rada na membrana da célula nervosa. pouquinho aumentado. Não atingiu. significância estatística, mas aponta ' O metabolismo ou digestão da PPA é uma tendência': revela. feito pela enzima alfa-secretase, que normalmente a quebra ao meio. No Esse marcado r genético, porém, entanto, a diminuição da fosfolipase está longe de permitir um bom diagNeurotransmissor
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resulta numa redução do metabolismo dos fosfolípides. Isso significa que ocorre um aumento na quantidade de fosfolípides da membrana. A alteração da arquitetura da membrana muda também os pontos de clivagem (quebra) da PPA. Agora, a alfa-secretase que a quebrava não atua mais. Ela é, então, clivada por uma beta-secretase e depois por uma gama-secretase, que liberará a molécula inteira do beta-amilóide - livre, portanto, para formar as placas.
res: em ratos, formaram-se anticorpos contra a proteína. Pouco depois, pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard usaram o mesmo princípio para criar um imunizante em forma de spray nasal, também testado em ratos.
ma outra linha da pesquisa mundial com a beta-amilóide segue no sentido de evitar a agregação da proteína. Uma equipe dos departamentos de Bioquímica Médica e de Anatomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Alvo mundial- "Seria muito otimismo coordenada pelo bioquímico Sérgio pensar que a fosfolipase seja a única Teixeira Perreira, desenvolveu um mecausa do Alzheimer", pondera Gattaz. dicamento à base de nitrofenóis para "No entanto, por ter uma implicação impedir a agregação da beta-arnilóide direta com a produção de placas senis em culturas de células neuronais e em e com a neurotransmissão colinérgiratos. O estudo foi publicado em 20 ca, talvez possamos vir a considerá-Ia de março de 2001 no Faseb [ournal, como a doença em si - da mesma forpublicação da Federação das Sociedama que a glicose, por exemplo, não é des Americanas de Biologia Experiapenas um marcador diagnóstico para mental dos Estados Unidos. o diabetes, mas a própria doença. EnAlém de investigar a origem da tão, poderíamos desenvolver estratégias doença, a pesquisa de Alzheimer no terapêuticas alternativas, para evitar a mundo busca melhores métodos de formação das placas. Pelo menos, esse diagnóstico e novas drogas. O Institué o nosso desejo." to de Psiquiatria da FM-USP também É um desejo compartilhado com investe nesse campo. No Laboratório grupos de pesquisa de todo o mundo. de Neurociências, coordenado por Por diferentes abordagens, a formação Gattaz, a equipe de Orestes Forlenza das placas de beta-amilóide é um dos faz culturas de neurônios e testes com alvospreferenciais de trabalhos que buscobaias, que recebem substâncias para cam o combate ao Alzheimer na oriinibir ou estimular a fosfolipase. O lagem. Já se desenvolveu até vacina contra boratório, inaugurado em 1999, é dos essa proteína. Em 1999, o laboratório americano Elan Pharmaceuticals criou , beneficiados pelos recursos do Programa de Infra-estrutura da FAPESP: uma vacina com pequenas doses sinbem equipado para análises neurotetizadas de beta-amilóide. Os resulquímicas, de biologia molecular e de tados preliminares foram animado-
U
OS PROJETOS Metabolismo dos Fosfolípides na Esquizofrenia e na Doença de Alzheimer MODALIDADE
Projeto
Demência do Tipo Alzheimer, Transtorno Cognitivo Leve e Envelhecimento Normal: Estudo Longitudinal de Aspectos Clínicos, Neuropsicológicos, Genéticos, Neuroquímicos e de Neuro-imagem
temático MODALIDADE
Linha
COORDENADOR
WAGNER FARID GAnAZ - Faculdade de Medicina
da Usp
INVESTIMENTO
regular
de auxílio
à pesquisa
COORDENADOR
CASSIO MACHADO DE CAMPOS Bornso FM/USP
R$ 1.590.193,43 INVESTIMENTO
R$ 102.961,39 e US$ 86.119,09
genética, permite aos pesquisadores atuar em outras frentes, como exames de neuroimagem funcional, que podem mostrar as regiões do cérebro onde há baixo metabolismo, e exames de ressonância magnética, nos quais se pode ver a redução de estruturas cerebrais. Bottino notou, por exemplo, que a comparação das medidas volumétricas da amígdala, hipocampo e giro para-hipocampal permite separar portadores de doença de Alzheimer leve a moderada dos saudáveis com uma precisão de 88%. Também são promissores os resultados obtidos com os portadores de transtorno cognitivo leve, um distúrbio ainda pouco estudado. "O TCL é diagnosticado, geralmente, em pessoas com mais de 50 anos que se queixam de problemas de memória e apresentam piores resultados em testes cognitivos, comparados aos idosos saudáveis, mas ainda não têm comprometimento das atividades do diaa-dia. Alguns melhoram com o passar do tempo, mas 5% a 10% evoluem para Alzheirner', revela Bottino. Os pacientes com TCL tiveram níveis menores de fosfolipase A2 em relação ao grupo controle, mas níveis maiores em relação ao grupo com Alzheimer. Esses dados permitiram estabelecer um gráfico no qual o TCL ocupa a porção mediana. No entanto, o grupo de TCL é muito heterogêneo: alguns tinham valores muito semelhantes ao da normalidade, enquanto outros beiravam os limites da demência."Por isso,queremos, agora, fazer um estudo de seguimento com amostra maior. Como 10% dos portadores de TCL evoluem para demência, precisamos de uma amostra com 100, 150 pessoas. Assim, poderemos investigar se os pacientes que se encontram mais para baixo no gráfico serão aqueles que evoluirão para Alzheimero Seria mais um estudo confirmatório do valor preditivo da enzima e é isso que está nos movendo agora", informa Gattaz. E resume: "Essa é a medicina do século 21. Nosso objetivo não é tratar ninguém, mas evitar que se fique doente". • TCL e Alzheimer -
PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • Sl
• CIÊNCIA
MEDICINA
Cerco à proteína mortal Grupo da UFRJ abre caminho para compreender e deter a reprodução do príon, que destrói cérebros e mata ríon é uma proteína que se Pmultiplica como um ser vivo, produz uma doença incurável no cérebro e leva à morte. Pesquisas do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear de Macromoléculas (CNRMN), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trazem indícios para explicar a reprodução desenfreada dos príons, bem como para detê-los: o grupo descobriu uma molécula, a SFC, que pode bloquear a multiplicação dos príons. Embora não contenha material genético, o príon, uma proteína celular alterada, multiplica-se como vírus e bactérias. Atinge seres humanos e animais com uma doença degenerativa que dá ao cérebro uma aparência esponjosa, tal o estrago que causa nas células nervosas, os neurônios. Não há cura ou tratamento para esse tipo de doença, chamada encefalopatia espongiforme e que pode ser transrnissível, esporádica ou hereditária. De duas formas da mesma proteína, uma é anormal: o príon. Supõese que se combine com seus equivalentes normais e os torne anormais, S2 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
numa reação em cadeia. A doença ocorre quando um organismo é contaminado por quantidades elevadas de príon assim geradas. Ao se reproduzir em grande escala, o príon provoca as encefalopatias, que causam tremores incontroláveis, demência e morte. Uma delas é a forma humana do mal-da-vaca-louca, variante da doença de CreutzfeldtIacob, que seria causada pela ingestão de carne bovina infectada. Ácidos nucléicos - Como pode uma proteína multiplicar-se como um ser vivo? A pergunta é um desafio desde a descoberta do príon, na década de 80. Segundo propõe o grupo da UFRJ, um ácido nucléico - DNA ou RNA desempenharia papel-chave nessa multiplicação. Por essa hipótese, um ácido nucléico modularia as respostas do organismo às proteínas anormais: assim, na presença de pequenas quantidades de príons alterados, o ácido nucléico os manteria aprisionados, prevenindo a replicação. O consumo de carne contaminada, porém, faria aumentar a concen-
tração de príons no organismo. Isso descontrolaria o ácido nucléico que, ao invés de eliminar o príon, passaria a estimular sua multiplicação. "O ácido nucléico age, nesse caso, como um catalisador para a formação de placas de príons', diz Ierson Lima Silva, um dos pesquisadores da equipe. A teoria foi levantada quando testes do grupo levaram a uma descoberta: os príons eram impedidos de multiplicar-se na presença de uma substância que neutraliza os ácidos nucléicos. O resultado da pesquisa foi publicado em 16de outubro último na revista Iournal of Biological Chemistry, dos Estados Unidos, em artigo assinado por Lima Silva,Débora Foguel e Yraima Cordeiro, do CNRMN, mais os co-autores Luiz [uliano Neto e Maria Aparecida Iuliano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Ricardo Brentani, do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, de São Paulo. salvadora - Noutro artigo, serão divulgados resultados obtidos com uma molécula que pode servir de base para remédios que bloqueiem Molécula
na mesma região onde o ácido nucléico une-se ao príon. Sem ter como se ligar ao ácido nucléico, os príons não se multiplicaram. "Temos um composto que se mostrou promissor para a inibição da agregação de príons e que ainda compete com o DNA catalisador usado na multiplicação deles", diz Lima Silva. A proteína anormal PrP-Sc foi descoberta em 1982 pelo neurologista americano Stanley Prusiner, da Universidade da Califórnia. Ele formulou a hipótese de que o agente da doença seria formado de material protéico e ganhou o Nobel de Medicina de 1997
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Mal-da-vaca-Iouca: uma das encefalopatias causadas pelo príon. Ao lado, placas de príon em células nervosas (em cima) e rodeadas de degenerações espongiformes
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a multiplicação dos príons. Chamada de SFC - iniciais dos sobrenomes Silva, Foguel e Cordeiro - a molécula deriva do composto anilino naftaleno, usado para mapear o enovelamento de proteínas. "Estávamos usando essa molécula para outros fins, quando observamos que ela evitava a agregação entre os prions', conta a bioquímica Débora. Essa molécula, segundo a equipe, encaixa-se em sítios de ligação entre a proteína normal (PrP) e o príon (PrPSe), atuando como um envoltório que inibe a agregação. Impedidos de se associar, os príons deixam de se multiplicar e de formar as placas. Nos testes, a molécula não se mostrou tóxica a células em cultura, mesmo quando usada em concentração 50 vezes maior que a necessária à inibição da agregação. Os ensaios demonstraram ainda que a SFC liga-se
por seus estudos sobre o tema. Um neurônio atacado pelo príon apresenta buracos e forma estruturas fibrilares, com aspecto de esponja. As encefalopatias espongiformes provocam sintomas parecidos em homens e animais: alterações no comportamento, demência; tremores violentos, paralisia progressiva e morte. Há também dificuldades para falar e andar, embora a inteligência prossiga normal. A incubação demora mas, quando chegam os primeiros sinais, a doença evolui em poucos meses para a morte. Vaca louca - A doença
de CreutzfeldtIacob, uma das formas de encefalopatia espongiforme que atinge pessoas, também se manifesta de modos diver-
sos. O príon pode ser transmitido pelo uso de hormônio do crescimento retirado de cadáveres (prática já abolida) ou transmitido a pessoas submetidas a transplantes de córnea. Outra forma, a hereditária, atinge pessoas que herdam um gene mutante e desenvolvem a doença depois dos 50 anos. Há registros de centenas de famílias no mundo que são portadoras dessa mutação. Em 1986, foi descoberta uma encefalopatia que atinge animais e ganhou notoriedade mundial: a doença da vaca louca, cuja causa apontada foi o uso de restos de carneiro e de boi em rações para bovinos. Estudos divulgados em setembro último pela Universidade de Edimburgo, Escócia, indicam que a forma humana das encefalopatias espongiformes cresce 20% ao ano na Grã-Bretanha e 140 mil pessoas já poderiam estar atingidas. Em janeiro de 2000, uma variação dessa doença (chamada scrapie), que atinge ovelhas e cabras, foi confirmada em três animais de uma fazenda de Guarapuava (PR) e motivou o sacrifício de 290 cabeças. Mais proteínas - Noutra linha de trabalho com proteínas como o príon, o alvo da equipe é o peptídeo (parte de proteína) beta-amilóide, importante no desenvolvimento do mal de Alzheimer. Para o tratamento dessa doença, que provoca demência e afeta milhões de pessoas com mais de 65 anos, só há medicamentos contra os sintomas. "Estamos testando compostos para inibir a agregação do beta-amilóide, com resultados promissores", diz Débora. O grupo estuda outra proteína, a transtirretina, responsável pela amiloidose sistêmica senil, doença que, segundo os pesquisadores, atinge cerca de um quarto das pessoas acima de 80 anos. A transtirretina provoca paralisia e morte ao se acumular sobre células nervosas e do coração. A mesma substância contra os príons, a SFC, também inibe a agregação da transtirretina. Em cooperação com a Universidade de Harvard, o grupo testa ainda substâncias para bloquear a agregação de alfa-sinucleína, proteína ligada à instalação do mal de Parkinson, que também atinge a população idosa. • PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 53
• TECNOLOGIA
LINHA
DE PRODUÇÃO
Sensor brasileiro vai para o espaço Está previsto para março o lançamento do satélite Aqua, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), que levará a bordo o sensor de umidade brasileiro HSB
i Na Nasa, o HSB passa por testes antes de ser instalado no Aqua
(Humidity Sounder for BraziT), produzido pela empresa Equatorial Sistemas, de São José dos Campos, em parceria com a Matra Marconi Space, da Inglaterra. O HSB é fruto de um acordo de cooperação entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Nasa. Segundo César Guizonni, diretor da Equatorial, o sensor será usado para medir a radiação da atmosfera de forma a obter perfis de umidade que se-
• Aparelho móvel para cartão de crédito Pagar uma pizza ou uma corrida de táxi com cartão de crédito será um procedimento sem muitas complicações assim que o Ponto de Vendas Móvel On-Line (PDV-MOL) for lançado comercialmente no Brasil, o que está previsto para acontecer ainda no primeiro semestre deste ano. O PDV-MOL foi desenvolvido pela empresa Conception em parceria com a Visanet. O aparelho, que funciona como uma dessas máquinas onde se passa o cartão após uma compra, consiste de um dispositivo controlador de fluxos de dados conectado a um leitor de cartão de trilhas magnéticas, teclado para senha e impressora. O sistema é administrado por um palm S4 . fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
rão empregados na previsão do tempo. "Ele irá melhorar muito os modelos de previsão meteorológica', afirma Guizonni. A Equatorial foi contratada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para desenvolver os módulos de
top e a transmissão dos dados pode ser via celular ou satélite, ao contrário dos PDV móveis convencionais existentes no exterior, que usam radiofreqüência. "Isso faz com que nosso aparelho possa ser usado em qualquer lugar': diz I Richard Günther, diretor exe-
PDV-MOL: móvel e prático
eletrônica, alguns aparelhos de suporte e os equipamentos de teste do sensor. O valor do contrato foi de US$ 2 milhões. O Brasil terá acesso aos dados do Aqua por meio de uma estação de recepção em Cuiabá, no Mato Grosso. •
cutivo da Conception. A empresa, baseada em São José dos Campos, estima em 233 mil unidades o mercado para o produto nos próximos cinco anos. Os equipamentos serão comprados pela Visanet por R$ 2 mil e alugados aos lojistas por um valor entre R$ 60 e R$ 80 por mês. A Conception foi a única empresa paulista presente na 5a edição do Venture Fórum Brasil, promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no final do ano passado, quando se apresentou às instituições financiadoras de capital de risco. "Fomos procurados por sete empresas e três ainda estão interessadas", diz Cünther, A Conception negocia um aporte financeiro de US$ 1 milhão para: viabilizar a produção em larga escala do ponto-de-venda móvel. •
• Vencedores do prêmio da Finep Vallée, Pollux, OPP e Embraco foram as empresas que receberam o Prêmio de Inovação Tecnológica 2001, concedido pela Finep. O prêmio tem por objetivo estimular empresas que se sobressaiam no mercado em função da capacidade de criar e inovar. A Vallée, de Minas Gerais, foi a vencedora da categoria Grande Empresa. Ela fabrica vacinas, medicamentos e suplementos alimentares veterinários e investe, anualmente, em pesquisa e desenvolvimento 5% do seu faturamento. Na categoria Pequena Empresa, a vencedora foi a catarinense Pollux, líder nacional no mercado de sistemas ópticos para inspeção de produtos nas linhas de montagem industriais. Dotados de câmaras de vídeo, esses sistemas detectam produtos defeituosos e contam peças em alta velocidade. A OPP, que pertence ao grupo Odebrecht, da Bahia, recebeu o prêmio pela categoria Processo. A companhia desenvolveu, com o apoio do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), um condensador que acelera a polimerização durante o processo de fabricação de tubos Pvc. Pelo sistema antigo, o tempo de fabricação é de 12 horas. Agora, tudo é feito em três horas, aumentando a produtividade da empresa em 80%. A Embraco, também de Santa Catarina, foi premiada na categoria Produto, em função de seu compressor - equipamento essencial em geladeiras e freezers que reduz em 40% o consumo de energia elétrica desses aparelhos. •
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• Energia gerada com biogás de esgoto
• Da universidade para o mercado
Dentro de alguns anos, o Brasil poderá ganhar uma nova matriz energética com grandes vantagens ambientais: o biogás extraído do esgoto. Para que isso se torne realidade, o Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), entidade ligada ao Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP), firmou um convênio com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que prevê a realização de um conjunto de estudos e testes para a geração de energia elétrica a partir da utilização do biogás produzido em sistemas de tratamento de esgotos. "Para testar o processo, serão instaladas na Estação de Tratamento de Barue ri, na Grande São Paulo, duas microturbinas a gás, cada uma com capacidade para 30 quilowatts (kW) de potência", afirmou Suani Teixeira Coelho, secretária executiva do Cenbio e pesquisadora do IEE. As microturbinas, fabricadas pela empresa norte-americana Capstone, utilizam a mesma tecnologia das turbinas de avião, porém, adaptadas para a geração de energia elétrica. A pesquisadora estima que, em função do pequeno porte das turbinas, do tamanho de uma geladeira, elas serão ideais para geração de energia nos pequenos municípios brasileiros. Paralelamente aos testes que serão feitos em Barueri, o Cenbio vai acompanhar as atividades das plantas industriais que produzem energia elétrica a partir do biogás extraído de esgoto nos Estados norte-americanos da Califórnia e da Pensilvânia. •
Fabricar suplementos alimentares com fins terapêuticos para animais. Esse é o objetivo da Microbiol Comércio e Indústria de Alimentos, empresa baiana sediada no distrito industrial de Camaçari, que permaneceu cinco anos abrigada na Incubadora de BaseTecnológica (Incubatec) do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Ceped), da Universidade Estadual da Bahia. Esses suplementos alimentares, conhecidos como probióticos, regulam a flora intestinal dos animais, além de prevenir e curar a diarréia. "Eles também substituem os antibióticos e outras drogas usados como promotores de crescimento", diz a professora Elenalva Maciel, da Universidade Estadual de Feira de Santana, e proprietária da empresa. Os probióticos promovem um melhor desenvolvimento físico do animal ao proporcionar uma conversão mais efetiva dos alimentos. "Em cinco anos, os probióticos serão uma rotina na engorda de animais", afirma. Atualmente, a Microbiol tem dois produtos no mercado, um destinado a animais domésticos e outro para bovinos, eqüinos, caprinos e suínos. Em breve, será lançado um terceiro para aves. A capacidade de produção da empresa é de 40 mil ampolas por mês e o faturamento gira em torno de R$ 220 mil por ano. Para Elenalva, o sucesso se deve, em parte, à incubadora. "Ela foi essencial para que eu conseguisse deslanchar o negócio." Os produtos da empresa tiveram o seu desenvolvimento iniciado a partir da dissertação de mestrado de Elenalva na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. •
Microturbinas
a biogás: 30 quilowatts
• Fertilizante que vem das pedreiras Pode estar nas pedreiras brasileiras uma alternativa para a recuperação da fertilidade dos solos do país. Pesquisa coordenada pelo professor Jorge de Castro Kiehl, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, demonstrou que o resíduo em forma de pó da britagem do basalto, encontrado em centenas de pedreiras que explodem rochas eruptivas, tem alta capacidade de fertilizar o solo. "O pó da brita", explica Kiehl, "faz uma equaliza-
de energia elétrica
ção dos elementos do solo, porém, sem dispensar outros tipos de adubação': A vantagem do material sobre os fertilizantes normalmente usados é que o pó de brita é um recurso renovável e bem mais barato. Segundo o pesquisador, é necessário aplicar de 50 a 100 toneladas do produto por hectare para obter a fertilização. Por isso, para que o processo seja economicamente vantajoso, as lavouras adubadas devem estar localizadas a, no máximo, 100 quilômetros da pedreira, senão o gasto com o transporte inviabiliza o negócio. •
PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • SS
Satélites comunicam-se por meio de laser Na ilustração, a simulação da comunicação via laser entre os satélites da Agência Espacial Européia (ESA):Artemís e Spot-4
o que parecia coisa de filme de ficção cientifica tomouse realidade: dois satélites da Agência Espacial Européia (ESA) conseguiram trocar informações entre si graças a um feixe de laser que transmitiu informação nu-
• Eucalipto fértil com lodo de esgoto Pesquisadores descobriram que o lodo resultante do tratamento do esgoto pode ser usado como adubo para plantações florestais com excelentes resultados, melhores até do que os adubos minerais, que após dois ou três anos desaparecem no solo. No caso da cultura de eucaliptos, por exemplo, o emprego do material aumentou em 40% a produtividade e ainda melhorou a fertilidade da plantação. Os estudos, iniciados há cinco anos, são conduzidos pelo Instituto de Pesquisas Estudos Florestais, conveniado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de
e
56 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
ma velocidade de 50 megabites por segundo com uma taxa de erro de 1 bite a cada 1 bilhão. Foi a primeira comunicação óptica entre satélites realizada na história. A façanha foi concretizada pelos satélites Spot-4 e Ar-
São Paulo (USP) de Piracicaba, e pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Segundo o professor Fábio Poggiani, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), também em Piracicaba, o destino final do lodo produzido nas estações de tratamento de esgoto tem sido uma das maiores preocupações das empresas geradoras deste resíduo, dos órgãos de controle ambiental e da sociedade. Ao contrário do que se possa pensar, no entanto, o lodo de esgoto não é aplicado diretamente nas áreas de florestas. Antes, ele passa por uma série de tratamentos biológicos que reduzem sua carga orgânica e promovem a estabilização do material. O composto re-
temis, que orbitam ao redor da Terra. O Spot-4 é um satélite de sensoreamento e o primeiro dotado de um terminal de comunicação Silex, a sigla em inglês para experiência de comunicação entre satélites por meio de
sultante, chamado de biossólido, só é recomendado, por enquanto, em sistemas de reflorestamento, já que eles não estão incorporados à cadeia alimentar humana. Mas já estão sendo realizados testes em plantações de cana-deaçúcar, hortaliças e frutas. •
• Sensor cerâmico detecta vazamento A situação é muito comum na maioria dos municípios brasileiros: a contaminação do lençol freático por vazamentos ocorridos em postos de combustível. Isso acontece quando os tanques de armazenamentos têm fissuras, e a gasolina, o álcool ou o óleo diesel atingem a água presente no subsolo. Agora, gra-
laser de sernicondutor. O Artemis é usado em telecomunicações. De acordo com o professor José Joaquim Lunazzi, do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade de Campinas (Unicamp), o avanço reveste-se de importância porque a transmissão de dados no espaço apresenta vantagens sobre a comunicação via fibra óptica realizada na terra que não dispensa o uso do cabo. No futuro, as transmissões via satélite poderão se valer de feixes de laser. ''Assim, consegue-se passar muito mais informação com menos interferência': diz ele.
ças a um projeto desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que prevê o desenvolvimento de sensores cerâmicos para monitoramento de lençóis freáticos, o problema poderá ser facilmente detectado. Os sensores são capazes de apontar a presença de hidrocarbonetos como benzeno, etanol e tolueno, presentes em combustíveis, nos lençóis freáticos. Misturadas à água e consumidas pela população, essas substâncias podem causar câncer e outros problemas à saúde. Segundo o químico Aldacir Pazini, assessor da diretoria técnica da Tecpar e coordenador do projeto, será empregada a tecnologia de resso-
• Polímero orgânico ganha instituto
nância de plasma - um estado da matéria provocado por um gás ionizado a temperaturas elevadas - para o desenvolvimento do sensor, que permitirá medições em tempo real. Um protótipo deverá ficar pronto em 2003. •
o Instituto
• Peixe moído evita o desperdício
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Cerca de 13% das 125 mil toneladas de peixes pescadas anualmente nos rios da Amazônia são desperdiçadas, seja por causa da precária infraestrutura da indústria local ou pela baixa aceitação de determinadas espécies de peixe pela população. Por meio de processos de tecnologia de alimentos, uma alternativa para evitar essa perda é o minced fish, uma pasta produzida a partir da carne moída do pescado de baixo valor comercial. A vantagem do minced fish, que serve para fazer bolinhos de peixe, almôndegas, nuggets e até sopa, é que ele pode ser consumido na entressafra pesqueira, quando a produção é baixa. Para isso, a pasta pode ser congelada por alguns meses. Estudos conduzidos pelo pesquisador Rogério Souza de Jesus, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), mostraram que as espécies amazônicas aracu (Schizodon fasciatum) e jaraqui (Semaprochilodus sp.), usadas para fabricação do minced fish, podem ser mantidas sob refrigeração por até 150 dias sem que haja perda de suas qualidades protéicas. Outra espécie analisada, o mapará (Hypophtalmus edentatus), foi considerada gorda e com menor concentração de proteína. Hoje, o minced fish, que pode ser usado para combater o desperdício e reduzir a fome, ainda não é comercia-
lizado em larga escala. No entanto, graças à sua comprovada qualidade nutricional, já é utilizado na merenda escolar do Estado. •
• De olho nas ondas do mar Pescadores, surfistas, velejadores e outros profissionais que trabalham no mar e nas regiões costeiras serão os grandes beneficiados com um novo projeto desenvolvido pelo Laboratório de Hidráulica Marítima (Lahimar) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). No
Ondógrafo: mais precisão
final do ano passado, pesquisadores do laboratório lançaram, a 35 quilômetros da costa, um ondógrafo direcional, aparelho que mede as ondas superficiais do oceano de forma muito precisa. O ondógrafo foi projetado para aferir a direção, a altura e o período de maior energia das ondas. Depois da medição, o aparelho, posicionado a 80 metros de profundidade, envia os dados por rádio para uma estação receptora em terra, que os retransmite via Internet para o Lahimar. O passo final será disponibilizar essas informações através da homepage da instituição (www.lahimar.ufsc.br), que está no ar desde o mês passado. "Essa é uma iniciativa pioneira", afirma o professor Elói Melo, coordenador dos trabalhos. "O sistema será uma fonte preciosíssima de dados e terá utilidade, entre outras coisas, para orientar projetos de engenharia na zona costeira, inclusive a construção de usinas de energia movidas por ondas do mar:' O projeto faz parte do Programa de Informação Costeira On -Line da UFSC e conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado de Santa Catarina (Funcitec). •
Multidisciplinar de Materiais Poliméricos (IMMP), do qual fazem parte 16 instituições científicas do país, entre elas a Escola Politécnica e o Instituto de Física de São Carlos, ambos da Universidade de São Paulo (USP), é uma das entidades integrantes do programa Institutos do Milênio, criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e que tem por missão apoiar o desenvolvimento de pesquisas que contribuam para o progresso social e econômico do país. O objetivo do IMMP é realizar pesquisas para aperfeiçoar tecnologias ligadas a uma nova classe de materiais, os polímeros orgânicos, que podem ser usados como camada ativa em dispositivos eletrônicos, fotônicos e optoeletrônicos. Essa é uma área nova no mundo e é importante o Brasil se manter atualizado nos estudos de ponta sobre polímeros orgânicos. Outro campo de estudo é a área de polímeros isolantes elétricos, usados pelas redes de distribuição de energia como isoladores de cabos e acessórios. Pesquisas realizadas pelo IMMP mostram que é possível evitar perdas de energia por falhas em rede de distribuição devido à degradação dos isoladores poliméricos. Segundo Roberto Mendonça Faria, coordenador do instituto e professor de física da USP de São Carlos, a tecnologia de dispositivos com materiais poliméricos ainda está na sua "infância", mas o mercado para esses produtos é de grande dimensão. Até 2005, estima-se que apenas o mercado mundial de displays e LEDs, sinalizadores feitos com materiais poliméricos atinja, US$ 3 bilhões por ano. • PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • 57
TECNOLOGIA ENGENHARIA
AGRÍCOLA
Imagensdo , ceuparaa agricultura Sensores instalados em satélites e em aviões captam informações para análise do solo e para estimar as safras agrícolas MARIA
APARECIDA
splantadores de canade-açúcar já podem deixar de lado o velho problema da dificuldade em estimar com precisão a safra que será colhida. A solução está em uma nova metodologia desenvolvida pelos pesquisadores do Grupo de Estudos em Geoprocessamento da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com imagens digitais captadas por sensores instalados em aviões e satélites, eles colocam à disposição dos agricultores um sistema que permite prever, com antecedência de quatro a cinco meses, a tonelagem da produção de cana em
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• fEVEREIRODE2002 • PESQUISA
FAPESP
MEDEIROS
uma determinada área. Sob a coordenação do professor Iansle Vieira Rocha, o grupo conseguiu o fato inédito de usar as imagens de satélite para calcular a variabilidade da biomassa na cultura da cana. A metodologia empregada está em fase de patenteamento pela Unicamp. Um teste preliminar feito na Usina São João Açúcar e Álcool, de Araras (SP), que deu apoio de campo ao projeto, mostrou que, com a ajuda das imagens de satélite, os erros de avaliação de biomassa caíram de 15% para 2% em algumas áreas. Para o setor sucroalcooleiro, isso representa um grande avanço. A produção de cana dessa usina foi de quase 3 milhões de
toneladas na safra 2000-2001. Um erro de 15% nesse total corresponde a 450 mil toneladas. Como o produtor geralmente negocia em março o açúcar que vai ser produzido a partir de dezembro, não importa se para mais ou para menos, os erros nas previsões de safra sempre acarretam prejuízos. O projeto, que contou com a parceria de dois pesquisadores do Centro de Ensino e Pesquisas em Agricultura da Unicamp (Cepagri), Rubens Augusto Camargo Lamparelli e Jurandir Zullo Iúnior, foi premiado no final do ano passado num evento em que foram apresentados mais de 150 trabalhos do mundo todo, a Third International Conference on Geospatial ln-
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Na imagem obtida em avião, o azul é a área com grande biomassa, o verde pouca e o amarelo, intermediário. O vermelho é o solo
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formation in Agriculture and Forestry, realizada na cidade de Denver, nos Estados Unidos. Outro estudo brasileiro também premiado no mesmo evento, coordenado por JoséAlexandre Demattê, do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), com participação de Marcos Nanni, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mostrou o potencial do sensoriamento remoto aplicado na estimativa dos componentes do solo. As imagens de satélite foram usadas para mapear a variabilidade da composição da terra, avaliar seus componentes e servir de
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guia para o agricultor, indicando as áreas onde devem ser coletadas amostras para o levantamento dos solos e para as análises de laboratório. Cálculos precisos - No estudo dos pes-
quisadores da Unicamp, o objetivo inicial era puramente acadêmico comparar três diferentes métodos para medir a biomassa em plantações de cana: por radiometria (com sensor instalado em terra), videografia multiespectral (a bordo de aviões ou helicópteros) e imagens de satélites. O radiômetro permite fazer medidas muito precisas, mas o seu alcance, 17 x 17 em, não permite fazer medições em áreas extensas. As imagens aéreas
dão uma visão panorâmica e ao mesmo tempo detalhada - cada ponto da imagem (pixel) corresponde a uma área de 25 x 25 em -, mas o custo da operação é elevado. Já as imagens orbitais, como as do Landsat 7, utilizadas no projeto, que têm pixels de 30 x 30 m, dificultam a visualização dos detalhes, mas têm a vantagem de englobar imagens de áreas muito extensas, de 185 x 185 km. "Com 19 imagens podemos mapear todo o Estado de São Paulo", diz o pesquisador. O custo ainda é relativamente alto: R$ 1.200,00 por imagem. "Mas a tendência é que o preço venha a cair nos próximos anos, com o lançamento de novos satélites", diz Rocha. "Além disso, as imagens podem ser adquiridas num sistema de cooperativa, o que viabiliza o uso para os pequenos agricultores." Mas, ao mapear a área de 36 hectares de cana cedida para a pesquisa pela Usina São João em busca de correlações entre os três sistemas de medição, os pesquisadores logo perceberam que os mapas gerados tinham aplicação imediata. Eles poderiam ser usados como guias para os supervisares de campo - técnicos das usinas encarregados de fazer as estimativas de produção. Atualmente, os supervisares percorrem de carro as estradas que margeiam as extensas áreas plantadas, observam o estado geral da plantação e, com base na experiência, estimam qual será a produção daquela área. "Eles têm muita experiência nesse trabalho e são capazes de fazer boas PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • S9
são dois doutorandos, estimativas", afirma Rocha. "O problema três mestrandos e é que eles avaliam apedois alunos de iniciação científica. nas aquilo que podem ver, ou seja, a cana que Uso planejado - Ouestá na periferia, mas a produtividade nas tro trabalho que também possui um plantações costuma ser bastante heteroamplo campo de atuação na agriculgênea." Enquanto altura é o do professor gumas áreas produDemattê, do Deparzem 95 toneladas por tamento de Solos e hectare, outras proNutrição de Plantas duzem apenas 50 toda Esalq. Com a ajuneladas por hectare. da de um sensor insEssa variabilidade talado no laboratório ocorre por diversos e imagens de satélite, motivos - diferentes ele constrói as bases tipos de solo, proFoto do Landsat7: a cidade de Araras e o local da pesquisa. O que está em vermelho é cana-de-açúcar, áreas em azul são solo ou cidade. Em preto, água de uma tecnologia blemas de fertilidapara auxiliar no made, ataque de pragas, peamento e avaliação dos solos. Os ervas invasoras, problemas com excesso à safra, o problema seria ainda pior. mapas de solos são informações imde água - e muitas vezes só pode ser "Poderíamos ter uma queda no preço portantes para a agricultura de preciobservada numa visão aérea, ou numa do açúcar no momento da negociasão, que tem como objetivos princiimagem de satélite, onde as manchas ção e um prejuízo certo na hora da mais claras, ou amarelas, mostram áreas pais o aumento da produtividade ea entrega", afirma. de menor produtividade, e as mais espreservação do meio ambiente. "Cocuras, ou vermelhas, mostram áreas nhecer as características do solo é a Repasse de tecnologia - Os pesquisabase para qualquer planejamento de mais produtivas. "Com esse mapa nas dores da Unicamp receberam muitos uso da terra", diz o pesquisador. "Mas mãos e a ajuda de um GPS (Sistema de telefonemas de empresários do setor no Brasil temos uma carência muito Posicionamento Global), o supervisor interessados na nova metodologia. O grande de mapas mais detalhados." de campo vai ter condições de identigrupo já está preparado para atender ficar as áreas mais e menos produtivas O uso de sensores em estudos de à demanda e o repasse da nova técnie, com base nisso, selecionar os locais caracterização de solos não é novidaca deve acontecer em dois anos. "No que precisam ser avaliados de perto': de. As pesquisas começaram na déprimeiro ano vamos produzir mapas e cada de 70, mas foi só a partir da dédiz o pesquisador. promover cursos para que os técnicos Estimativas mais precisas são imcada seguinte, com a evolução dos aprendam a interpretar as imagens. sensores e o uso disseminado do GPS, portantes para evitar a repetição dos No segundo, vamos implementar os problemas enfrentados pelo setor em que elas ganharam impulso. "Os resoftwares e supervisionar o trabalho decorrência da previsão incorreta da sultados das pesquisas, quando relanas usinas", diz Rocha. As empresas cionadas à quantificação dos atributos safra do ano passado. "Tínhamos uma terão de arcar com os custos das imaestimativa de que a produção na redos solos, estavam em desenvolvigens, treinamento de pessoal e prestamento, mas hoje estamos retomando gião Centro-Sul do país seria de 220 ção de serviços. milhões de toneladas, mas, no início esses trabalhos para rever a base e A Usina São João não pensa em fide dezembro, antes do encerramento avançar, como apoio à agricultura de car de fora. No próximo ano, os pesprecisão", explica Demattê. Desde das colheitas, a produção já atingia quisadores vão expandir a área de estu232 milhões de toneladas", afirma 1995, ele, juntamente com alunos de do, cobrindo todos os 40.300 hectares da João Martins, gerente agrícola da Usiiniciação científica, mestrado e douusina. O projeto de pesquisa termina na São João. "Esses 12 milhões de totorado, desenvolve pesquisas básicas em abril, mas para os pesquisadores neladas de cana produzidos a mais senessa área. "Nossa proposta é aliar à ele foi apenas um começo. "Nós parrão absorvidos na produção de álcool, metodologia tradicional uma nova timos de um único auxílio à pesquisa gerando um excedente de 1,10 milhão forma de estudar o solo, ou seja, pela e abrimos um campo enorme de trasua energia eletromagnética refletide metros cúbicos, o que deve fazer o balho", diz o pesquisador. Atualmente, da. O uso de sensores na agricultura preço do produto despencar no mersete alunos se dedicam a pesquisas soé um processo em contínuo desencado': diz Martins. Numa situação inbre temas relacionados à variabilidavolvimento". versa, se a previsão fosse 10% inferior de na produção da cana-de-açúcar 60
• FEVEREIRO DE21X12 • PESQUISA FAPESP
primeiros passos mostraram que a análise de solo com o uso de sensores é capaz não apenas de diferenciar classes de solos, como também de quantificar diversos componentes, como argila, ferro, titanita, silte e material orgânico. Nessa etapa do estudo, o pesquisador usou um espectrorradiômetro IRIS instalado no laboratório. As amostras de solo são expostas a uma fonte de luz halógena e o sensor capta a energia que reflete nos diferentes comprimentos de onda. Essas informações são registradas como curvas de refletância, que indicam diversas características do solo, permitindo sua identificação e discriminação. Na medida em que os resultaUsina dos avançavam, Demattê passou a quantificar os elementos do solo. O estudo de refletância foi feito em paralelo com análises químicas em laboratório, com metodologias tradicionais, que serviram como base de comparação. A etapa seguinte foi usar o sensoriamento para mapear uma área de 198 hectares no município de Rafard, na região de Piracicaba. Com a ajuda de um GPS, foram marcados os pontos de amostragem, um por hectare. Em cada ponto foram coletadas duas amostras, em profundidades de O a 20 em e de 80 a 100 em. As 396 amostras obtidas foram analisadas no senso r do laboratório. "Nós procuramos seguir uma rotina já estabelecida entre Energia refletida - Os
São João: radiômetro
para medir a biomassa
os agricultores. Eles trazem suas amostras para o laboratório e elas são analisadas pelo método tradicional. O que nós fizemos foi usar um outro método, também físico, porém, baseado em informações obtidas por sensores sem haver contato com a amostra de terra", explica o pesquisador. As informações espectrais dessas amostras foram então comparadas com os resultados das análises químicas. "Pudemos observar altíssimas correlações entre os dois métodos para determinar, principalmente, argila, areia, ferro, matéria orgânica e inclusive CTC (capacidade de troca de cátions)," Só a partir desse ponto Demattê começou a usar as imagens de satélite.
OS PROJETOS
e Sensoriamento Remoto Aplicado ao Mapeamento da Variabilidade Espacial da Produtividade da Cana-de-Açúcar para Agricultura de Precisão
MODALIDADE
MODALIDADE
Linha regular
de auxílio
à pesquisa
COORDENADOR
JANSLEVIEIRA ROCHA - Flagri/Unicamp
a
Avaliação de Dados Radiométricos Obtidos nos Níveis Terrestre e Orbital na Caracterização e Mapeamento de Solos
INVESTIMENTO
R$ 83.339,61 e US$ 13.837,00
Linha
regular
de auxílio
à pesquisa
COORDENADOR
JOSÉALEXANDREDEMAn~ - Esalq/USP INVESTIMENTO
R$ 28.145,75 e US$ 8.098,00
As informações de refletância pela imagem de satélite do local da coleta das amostras foram comparadas com as obtidas em análise de laboratório tradicional. "Também obtivemos boas correlações, principalmente para argila e ferro. Isso mostrou que há um potencial enorme no uso de sensores instalados em laboratório e outras plataformas para o estudo do solo'; diz o pesquisador. Mas o objetivo, pelo menos a curto prazo, não é substituir as análises tradicionais. A idéia é que os mapas obtidos a partir de imagens sejam usados como um instrumento para orientar os agricultores na identificação das classes de solos e suas características físicas e químicas, auxiliando na escolha dos pontos mais adequados para coletar as amostras para análise tradicional de levantamento e fertilidade. Detalhe do solo - Atualmente,
a escolha de locais para coleta de amostras de terra é feita com base nas diferenças de cores, relevo ou tipo de cultivo. "Dessa forma, o agricultor pode estar gastando mais dinheiro em laboratório e insumos porque não coletou amostras nos lugares certos para fins de fertilidade, ou seja, pode estar usando adubo em excesso ou aplicando menos que o necessário, enfim, ele perde em produtividade e degrada o meio ambiente'; ressalta Demattê. Outra vantagem do mapeamento mais detalhado do solo é que ele permite identificar áreas com alto risco de erosão. Sabendo disso, o agricultor pode fazer o manejo adequado do solo e evitar a perda de áreas produtivas. Por enquanto, os estudos envolvendo sensoriamento remoto não permitem recomendações para fins de fertilidade, ou seja, para identificar os nutrientes presentes no solo. Mas, ao identificar diferenças físicas e algumas químicas, auxíliam no manejo e no planejamento racional do solo transformando-se em uma ferramenta moderna e avançada para a agricultura. • PESQUISA FAPESP . fEVEREIRODE2002
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• TECNOLOGIA
MEDICINA
VETERINÁRIA
8iotério renovado Pequena empresa lança ambiente compacto para animais de laboratório s pesquisas científicas com animais de pequeno porte ganharam um novo ambiente de estudo, um gabinete microambiental que pode ser utilizado até na sala do pesquisador. Concebido e construído com o objetivo de criar condições ideais para a pesquisa animal em laboratório, o Environs, nome comercial do produto, garante a manutenção de condições de temperatura, umidade, iluminação, controle sanitário e do fotoperíodo, processo que imita a variação de luz da noite e do dia para o animal se desenvolver de forma natural. Foi projetado com medidaspadrão de 2 metros de altura, 1,45 metro de comprimento e 0,71 metro de largura. Suas dimensões são compatíveis com os acessos dos laboratórios e requerem o mínimo possível de adaptações físicas dos biotérios. O projeto, apoiado pela FAPESP dentro do Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), foi idealizado e coordenado por Habib Guy Nahas, diretor da HVAC Tecnologia em Sistemas Ambientais. Segundo Nahas, a concepção do biotério microambientallevou em conta as recomendações ideais para o bemestar do animal e normas técnicas internacionais que garantem a confiabilidade nos resultados de pesquisas científicas. Entre elas destaca -se o fato de ser totalmente fechado, o que atenua os sons e ruídos externos, causa de estresse nos animais. O Environs tem seu lançamento previsto ainda para este mês de fevereiro. Os primeiros protótipos foram
A
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encomendados à HVAC há cinco anos, por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), sob a coordenação do professor José Luis Merusse, do Departamento de Patologia. Esse protótipo foi citado em conclusões de trabalhos de mestra do e doutorado orientados por Merusse. Nos estudos ficou caracterizado que a concentração de amônia no sistema microambiental é menor que a de sistemas convencionais, mesmo com maiores intervalos de troca de cama (de limpeza). O índice menor de amônia e os baixos níveis de umidade do sistema microambiental mantiveram o pulmão dos animais em perfeita condição, conforme atestaram os pesquisadores da USP. Nos sistemas convencionais é comum a presença de bronquites e de pneumonias crônicas. Outro resultado confirmou a eficiência do sistema. "Ratos acasalaelos e mantidos em sistema microambiental com intervalo de troca de cama a cada 14 dias não mostraram diferenças físicas, bem como no estado sanitário' quando comparados com grupos similares mantidos em biotério convencional", diz Nahas. Enquanto os resultados estavam sendo comprovados em laboratório, ele apresentou o projeto ao PIPE, o que permitiu a continuidade do desenvolvimento do produto e a construção de dois novos protótipos. População de camundongos - O gabinete microambiental, quando fechado, é parecido com uma geladeira industrial, de porta dupla. Na sua extremidade superior há indicadores de temperatura, umidade, pressão e iluminação que permitem ao pesquisador controlar as condições ambien-
tais internas. Aberto, acondiciona 30 caixas que comportam entre 150 e 180 camundongos, com comedouro acoplado. E pode ser adaptado para experimentos com outros animais de pequeno porte. Na avaliação de Nahas, além do controle de umidade e temperatura, que é independente das condições das salas, o sistema oferece vantagens em relação aos biotérios convencionais, como a efetiva diluição dos vapores de amônia com a garantia de não haver mistura e cruzamento de fluxo de ar, diminuindo a possibili-
I Painel facilita o controle das condições internas de temperatura e iluminação
Environs representa baixos custos operacionais para os bioteristas e laboratórios, uma vez que o manejo dos animais, que em biotérios convencionais é realizado com periodicidade de três dias, pode ser feito em até 15 dias. Isso significa economia na quantidade de maravalha (aparas de madeira usadas para cobrir o chão das caixas), no consumo de energia e água e, principalmente, na contratação de mão-de-obra. Comemoração já - Nahas está ansioso com o iminente lançamento do produto. "Quero comemorar o término do projeto e comunicar a todos que ele já está disponível para a comercialização." Além de apresentar o Environs para a comunidade científica de universidades e institutos de pesquisa, Nahas prevê ainda visitas a laboratórios e indústrias farmacêuticas. A experiência de quase 35 anos de Nahas foi importante para traçar os rumos dos negócios da HVAC. Físico com pós-graduação em engenharia nuclear, ele trabalhou em. empresas do ramo de climatização de ambiente, coordenou projetos de climatização em plataformas de petróleo da Petrobras, além de prestar serviços para indústrias químicas, eletroeletrônicas e para laboratórios. Esse co-
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dade de contaminação cruzada dos animais. Segundo o empresário, o fato de o equipamento ser rigorosamente fechado possibilita a pressurização do ambiente, não deixa o ar sair e evita a contaminação da área fora do gabinete. Outro fator positivo é a iluminação interna do microambiente, de coloração azul e âmbar, projetada para não agredir os olhos do animal. "Conseguimos um sistema de iluminação sem brilho, com baixos níveis de luminosidade", afirma o coordenador do projeto. Segundo Nahas, o
o PROJETO Desenvolvimento Tecnol6gico de Sistemas Microambientais para Biotérios de Criação, Manutenção e Experimentação de Pequenos Animais MODALIDADE
Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE) COORDENADOR HABIB GUY NAHAS -
INVESTIMENTO
R$ 249.250,00
HVAC
nhecimento foi fundamental para que, há 20 anos, fundasse a HVAC. Atualmente, a empresa dedica-se a climatizações em laboratórios de universidades e em indústrias químicas e farmacêuticas. O mais recente projeto foi desenvolvido para o Arquivo Público do Estado de São Paulo, onde foram instalados sistemas de climatização para ajudar na preservação de fotos, desenhos, documentos e mapas, alguns com até 200 anos. Segundo Nahas, o faturamento da empresa em 2001 ficou perto dos R$ 500 mil, um pouco abaixo dos R$ 700 mil faturados em 2000. Ele conta que o ano passado foi atípico. Houve diminuição, a partir de junho, da energia para fins de refrigeração e climatização, o que influiu também na renda obtida pela empresa com a manutenção de equipamentos. Para este ano a empresa planeja trabalhar em outro projeto, o sistema de ar-condicionado que acompanha o Environs, que custará R$ 350 mil na fase de protótipo. Segundo Nahas, o aparelho consiste em um condicionador de ar supercompacto, com controles digitais. "Dessa forma, poderemos oferecer um completo sistema de climatização para o laboratório, já que o controle do sistema de refrigeração do local onde o Environs vai ser instalado também é importante para chegar a uma condição ideal de pesquisa", afirma. Produção e pesquisas - Ainda sem preço de venda do Environs, Nahas espera fabricar dez gabinetes por mês. "Se eu tiver de aumentar a produção para cem equipamentos por mês, por exemplo, aí terei de buscar ajuda financeira no mercado, seja como aporte de capital de risco, sócio ou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES):' As chances de uma produção alentada são grandes. "Esse tipo de equipamento não existe nem no exterior:' Por tudo isso, as espectativas comerciais de Nahas são muito boas e as perspectivas para as áreas das ciências biológicas e farmacêuticas são de pesquisas mais eficientes, rápidas e seguras. • PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 63
Planejamento
da produção: melhor utilização dos sistemas de engarrafamento
ENGENHARIA
de bebidas com menor custo de estoque
DE PRODUÇÃO
Controle avançado Estudo traz inovações para o gerenciamento da produção industrial eduzir custos, melhorar a qualidade e ser competitivo tornaramse palavras-chaves no mantra que rege a indústria mundial em busca de espaço nos mercados. As empresas brasileiras, na última década, investiram pesado em sistemas de informação para gerenciar os fluxos de caixa, compras, vendas e estoques e também na automação das tarefas produtivas. A nova fronteira desse processo é a automação dos sistemas de administra-
R
64 . FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
ção da produção, em que há gargalos para os quais os softwares de planejamento e controle da cadeia produtiva ainda não apontam soluções satisfátórias. Para colaborar na resolução desses problemas, 30 pesquisadores paulistas estudaram nos últimos três anos as ferramentas matemáticas e computacionais que estão à disposição do setor produtivo para ajudar no desenvolvimento de softwares para uso nas indústrias. Eles estudaram, por exemplo, novos enfoques para sistemas de controle da produção com possíveis aplicações em indústrias engarrafadoras de bebidas e de móveis. O grupo é formado por sete docentes e alunos de mestrado e doutorado ligados a quatro instituições: La-
boratório Associado de Computação e Matemática Aplicada do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto de Ciências Matemáticas de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde trabalha o coordenador do projeto, o professor Paulo Morelato França. "O objetivo foi promover o intercâmbio de diferentes experiências e conhecimentos desenvolvidos em cada instituição", diz França. Apesar de a proposta não envolver a elaboração de sistemas para uso prático e comercial, os pesquisadores foram buscar os objetos de seus estudos nos problemas reais enfrentados por empresas de manufatura. Números produtivos - O projeto de pesquisa - que gerou 17 dissertações de mestra do, 6 teses de doutorado e a
publicação de 32 artigos em periódicos e 86 em congressos - teve como base a constatação de que a maioria dos softwares comerciais não é capaz de encontrar soluções para os problemas de planejamento e controle da produção que levem em conta aspectos cruciais de custos e capacidades. Segundo França, "o grupo trabalhou com algoritmos matemáticos para alcançar a maior otimização possível dos processos produtivos". Os pesquisadores concentraramse em quatro temas: planejamento e
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Organização e logística do empacotamento
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programação da produção, problemas de cortes industriais e de empacotamento. Na área de planejamento, uma das questões pesquisa das foi a do dimensionamento de lotes de produção. Como uma engarrafadora, por exemplo, pode utilizar de forma mais apropriada seu equipamento para diminuir custos, considerando que há vários tipos de embalagens e líquidos a serem envasados ? Outra necessidade importante é obter o maior ganho de escala possível, atendendo adequadamente à demanda, sem comprometer custos com estoques. O sistema computacional mais utilizado para resolver esse tipo de questão é o MRP, do inglês Material Requirements Planning ou Planeja-
mento das Necessidades de Material. "Esse sistema é bastante criticado por seus usuários, principalmente por aqueles que comandam cadeias produtivas complexas. Em geral, o sistema fornece uma solução única para o plano de produção, ignora restrições de capacidade e tem dificuldades em considerar questões específicas de cada aplicação", conta França. Uma das propostas mais originais da equipe para reduzir essas deficiências foi a forma de abordar os problemas de cortes de materiais. Foi anali-
mum na indústria a separação dos processos de corte e de planejamento da produção. A equipe procurou soluções que transformassem esses processos em um trabalho conjunto. Com isso, pode-se planejar melhor o dimensionamento dos lotes das peças e executar de forma criteriosa os cortes da chapa, reduzindo o desperdício de material. Custos antecipados - Na
programação da produção, um dos problemas refere-se ao desvio de tempo de término de tarefas de uma máquina em relação à data de entrega. A maior parte dos estudos sobre o assunto considera como medida de desempenho o tempo de atraso médio e as penalidades impostas por esses atrasos. No entanto, com a adoção dos sistemas de produção do tipo just-in-time, em que é valorizada a entrega no tempo certo, as tarefas que terminam antes da data também passaram a ser um problema, porque adicionam aumento de custos ao estoque. É uma área de pesquisa recente, em que ainda não se produziram métodos capazes de englobar questões como o tempo de preparação da máquina para a realização da tarefa e os tempos ociosos dedipermitem ocupar espaços de forma mais eficiente cados à manutenção, carga e descarga de matéria-prima. sada a cadeia de produção de uma indústria de móveis. Nesse ambiente, Para o empacotamento, foram esgrandes chapas de madeiras são cortudadas soluções de armazenagem e tadas para se obter itens menores, que transporte da produção que reduzem os custos de logística. A organização serão então processados e montados para compor um produto final. É codo empacotamento permite a melhor ocupação dos espaços em contêineres, caminhões e gôndolas de supero PROJETO mercados. Planejamento e Controle da Produção Todas as tarefas desenvolvidas pelo em Sistemas de Manufatura grupo têm como objetivo gerar tecnologia para o gerenciamento das diMODALIDADE versas etapas da cadeia produtiva, de Projeto temático forma a possibilitar à indústria proCOORDENADOR duzir da forma mais rápida, barata e PAULO MORELATO FRANÇA - Unicamp eficiente possível. Obter avanços nessa área e saber aplicá-los é o que disINVESTIMENTO R$ 88.000,00 e US$ 93.712,00 tingue hoje os vencedores e os perdedores no mercado global. • PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 65
• TECNOLOGIA AGRONOMIA
Cardápio
básico com qualidade Pesquisadores realizam estudos sobre seleção genética e controle das doenças que prometem tornar mais produtiva a cultura do feijão ma das principais e muitas vezes única fonte de proteína na dieta alimentar do brasileiro, o feijão é item indispensável na cesta básica e no cardápio da população, especialmente para as classes sociais mais pobre. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cada habitante consome, em média, 16 quilos de feijão por ano, o que torna o Brasil o maior mercado produtor e consumidor de grãos da espécie Phaseolus vulgaris. A importância desse alimento reforça o mérito de dois inovadores estudos, realizados com o apoio da FAPESP.São o projeto temático coordenado por Armando Bergamin Filho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), e o auxílio-pesquisa do pesquisador Sérgio Augusto Morais
U
66 • fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
Carbonell, do Centro de Plantas Graníferas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Eles se dedicam, respectivamente, ao desenvolvimento de estudos de fitopatologia e de mefhoramento genético do feijoeiro. O desafio de Bergamin, professor de Fitopatologia da Esalq, é desenvolver uma metodologia que, futuramente, permita aos agricultores adotar um calendário seguro para a aplicação de defensivos na área de cultivo do feijão, a exemplo do que acontece com outras culturas graníferas como soja, trigo e milho. Carbonell desenvolve uma nova seleção de variedades de feijão resistentes a doenças, mais especificamente à antracnose, mal que provoca necrose em toda a parte aérea das plantas, inclusive os grãos, . cujo agente infeccioso é o fungo Colletotrichum lindemuthianum. Os estudos de Carbonell também abrangem
a obtenção de cultivares de maior qualidade tecnológica e culinária. A grande preocupação desses pesquisadores - apesar das distintas linhas de trabalho - é a alta incidência de doenças nas lavouras, em especial a antracnose. Outras doenças importantes que atacam o feijoeiro são a mancha angular provocada pelo fungo Phaeoisariopsis griseola e o crestamento bacteriano com a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli. "Essas doenças atingem as folhas e as vagens da planta, afetam a qualidade dos grãos e chegam a provocar perdas de 30% a 40% da produção agrícola, podendo levar.. em alguns casos, à perda total': diz Bergamin. "Além disso, os patógenos são transmissíveis pelas sementes, o que compromete não só a lavoura diretamente infectada, mas também as safras subseqüentes", completa Carbonell.
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Feijão Carioca: 70% do total de 3 milhões de toneladas por ano consumidas no Brasil
em um nível baixo, mas seu estrago nas funções fisiológicas da planta pode ser irremediável." Para calcular o chamado "limiar de dano" - o ponto em que a queda na produção "empata" com o valor do investimento em pesticidas e, a partir daí, a pulverização é necessária para que o agricultor não tenha prejuízo -, os agrônomos usam a técnica de medição da área foliar das plantas atingidas pelas doenças. "Quanto maior a área foliar doente, maior a queda na produção, o que pode ser demonstrado graficamente, mas não no caso do feijão", diz Bergamin. Esse procedimento é bastante utilizado nos cinturões cerealistas dos Estados Unidos, especialmente para as culturas de trigo e milho, nas quais há relação direta entre a severidade das doenças e a perda produtiva da planta.
Controle fitossanitário - Além das três principais doenças do feijoeiro, Bergamin investiga também a ação e o controle da ferrugem, causada pelo fungo Uromyces appendiculatus, e do mosaico dourado do feijão, causado por um virus da família dos geminivirus, o Bean Golden Mosaic Virus (BGMV), que é transmitido pela mosca-branca (Bemisia tabaci). A ferrugem causa lesões circulares nas folhas do feijoeiro, circundadas por um halo amarelado, e o mosaico dourado infecta sistemicamente toda a planta. "O mosaico dourado tem forte incidência no Paraná, onde há muitas lavouras de soja. A mosca-branca vive nessas plantações e em determinadas épocas do ano é totalmente inviável cultivar feijão nesse Estado, pois o mosaico destrói entre 80% e 100% da produção': conta. Carbonell relata que em São Paulo a época de maior
incidência dessa doença nas lavouras vai de fevereiro a maio. O problema dos produtores de feijão, até agora, era definir o momento exato para a aplicação dos defensivos. "Se a pulverização não é feita a tempo, essas doenças causam perdas de, no mínimo, 30% da safra", revela Bergamin. Mas a maioria dos agricultores adota um calendário fixo de pulverização, pelo qual a plantação é tratada duas a seis vezes por safra, mesmo que não haja risco de infecção da lavoura, ou só pulveriza a área quando a doença já atingiu certo patamar. "No primeiro caso, além do alto custo das pulverizações, essa prática polui o ambiente, pois os defensivos são razoavelmente tóxicos. A segunda alternativa, por sua vez, não funciona para o feijão tão bem quanto para outras culturas de cereais: aparentemente a doença pode estar
Nova abordagem - Diversas tentativas de adaptar essa metodologia para o agronegócio do feijão no Brasil acabaram em malogro, pois não há relação matemática entre as medições da área foliar doente e o nível na produção. Bergamin partiu para nova abordagem e passou a medir a área foliar remanescente. Foram realizados 12 ensaios em campo com as variedades rosinha e carioca do feijão. O estratagema deu certo e, dessa forma, tornou-se possível calcular graficamente o limiar do dano para o feijoeiro. "Partimos da constatação de que o crescimento foliar da planta varia de 20 a 60 folhas, portanto um número irregular diferente dos cereais mais cultivados, que possuem número determinado de folhas", revela Lílian Amorim, da Esalq. "A medição da área doente não levava isso em conta." Invertendo a lógica, a equipe da Esalq demonstrou que, quanto maior a área foliar remanescente, maior a produção. Além de registrar a dimensão da área foliar sadia, os pesquisadores rePESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 67
solveram medir também a eficiência fotossintética (RUE, do inglês Radiation Use Efficiency), o que permitiria avaliar a extensão do dano provocado pelas doenças nas folhas e vagens. "Precisávamos descobrir se as doenças ficavam restritas à área foliar visivelmente doente ou se elas afetavam também a área ao redor do ponto atingido': diz Lílian. Foi utilizada para isso uma câmara de troca gasosa, que mede a absorção de CO2 pelas folhas e, por conseguinte, a taxa de fotossíntese da planta. Por esse método, a equipe constatou que a antracnose é a doença mais prejudicial ao feijoeiro, pois afeta uma área considerável em torno da região na qual é visível a presença do fungo. A ferrugem, no outro extremo, praticamente só age no ponto onde é possível visualizar a ação do fungo. As demais doenças - mancha angular, crestamento bacteriano e mosaico dourado estariam no meio-termo, não sendo tão nocivas quanto à antracnose nem tão brandas, nesse aspecto, como a ferrugem. O próximo passo é testar os resultados encontrados no projeto em grandes lavouras, para encontrar a melhor forma de o agricultor aplicar, na prática, os resultados confirmados pelo estudo. Melhoramento genético - Outro recurso cada vez mais empregado no cultivo de feijão é o plantio de cultivares obtidas por seleção genética. Já existem no mercado sementes resistentes a alguns dos agentes causadores das doenças do feijoeiro. "Hoje, mais de 90% dos produtores usam cultivares melhoradas geneticamente. Suas sementes são duas a três vezes mais caras que os grãos utilizados para consumo, geralmente usados como se68 • FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
Amostras do Banco de Germoplasma do IAC (acima). Ao lado, folhas com antracnose
po, a todas as doenças. O sonho de Carbonell é conseguir ~ selecionar varieda~ des de feijoeiro total~ mente resistentes à ~ mancha angular, à !!II.~~~ ~ antracnose e ao crestamento bacteriano as três doenças mais devastadoras das lavouras brasileiras. Para tanto, o cientista iniciou em 1996 um ousado programa de melhoramento genético, que tinha como objetivo formar populações básicas com resistência múltipla aos patógenos e estudar a variabilidade deles, bem como sua agressividade e distribuição no Estado de São Paulo. Esse projeto financiado pela FAPESP foi coordenado por Carbonel1 e desenvolvido por mais quatro pesquisadores do IAC e do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (SP). O primeiro passo para viabilizar o projeto foi a montagem e a organização do Banco de Germoplasma do IAC, que reúne mais de 1,2 mil tipos O>
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mentes pelos agricultores, mas a economia com a redução do uso de pesticidas, a uniformidade de plantas na lavoura e a certeza de não estar introduzindo novas doenças por sementes em sua propriedade valem a pena", conta Carbonel1. Entre 1998 e 1999, ele realizou seu primeiro projeto, intitulado Melhoramento Genético do Pei-
joeiro para Resistência aos Agentes Causadores de Antracnose, Mancha Angular e Crestamento Bacteriano. Agora está desenvolvendo o segundo, que complementa o anterior. O melhoramento genético, no entanto, não substitui inteiramente o procedimento de pulverização das lavouras, pois ainda não existem cultivares de feijão resistentes, ao mesmo tem-
Câmara de troca gasosa mede a taxa de fotossíntese da planta
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de feijão da espécie P. vulgaris. Desse banco, Carbonell escolheu as variedades sabidamente resistentes a pelo menos um do patógenos das doenças estudadas para efetuar cruzamentos entre os feijoeiros. De 1996 e 1998, foram feitos 134 cruzamentos múltiplos, envolvendo os vários genes de resistência às doenças - trabalho que continua, atualmente, com linhagens de plantas na sexta geração. Ao obter a população da segunda geração, resultante dos cruzamentos originais, o pesquisador conseguiu selecionar, sob condições controladas em laboratório, feijoeiros resistentes, a todos os patógenos da antracnose. "Foi o primeiro passo para que o IAC possa vir a produzir uma cultivar de
feijão resistente às outras doenças, o que, no futuro, poderá reduzir o uso de defensivos agrícolas nas lavouras", declara. O trabalho com mancha angular e crestamento bacteriano ainda esbarra em dificuldades, pois a maioria das plantas continua suscetível a alguns desses patógenos. Qualidade tecnológica - Em 1998, quando a série de cruzamentos atingiu a quinta geração, Carbonell deu início a seu segundo projeto, com a participação de pesquisadores do Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal e das estações experimentais de agronomia do IAC nas cidades de Monte Alegre do Sul, Tatuí e Tietê, todas de São Paulo. O intuito
o PROJETO
O PROJETO Uma Nova Abordagem para o Desenvolvimento de um Sistema Sustentável de Manejo de Doenças do Feijoeiro Baseado na Duração da Área Foliar Sadia e na Eficiência Fotossintética
Avanço de Gerações e Seleção de Plantas, Linhas e Famílias de Feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) para Alta Produtividade, Resistência à Antracnose e Qualidade Tecnológica
Ul-
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MODALIDADE
Projeto
MODALIDADE
temático
COORDENADOR
Ia
zado JOS
regular
de auxílio
à pesquisa
COORDENADOR
ARMANDO BERGAMIN FILHO - Esalq/USP INVESTIMENTO
R$ 238.249,30
Linha
SERGIOAUGUSTO MORAIS CARBONELL- IAC INVESTIMENTO
e US$ 130.892,51
R$ 99.827,10
e US$ 4.636,00
desse trabalho, ainda em andamento, é selecionar as melhores linhagens resistentes à antracnose e, ao mesmo tempo, plantas com maior qualidade tecnológica. Nesse mesmo ano, o Ministério da Agricultura começou a exigir que, além de ser resistente a doenças, os cultivares de feijão melhorados geneticamente devem proporcionar qualidade culinária. Da quinta geração, com cerca de 2,5 mil linhagens de plantas selecionadas, a equipe do IAC separou as 98 mais produtivas, com plantas de porte ereto, totalmente resistentes à antracnose e com alta qualidade tecnológica. Entre essas plantas, 32 linhagens são do tipo carioca - que representa cerca de 70% do consumo nacional de 3 milhões de toneladas por ano - e 19 do feijão preto. Essas plantas estão sendo testadas no campo, em três municípios paulistas: Tatuí, Monte Alegre do Sul e Capão Bonito, áreas de climas diferentes, para análise do efeito da interação genótipo com o ambiente. Segundo Carbonell, as linhagens que mostrarem bom desempenho nas três regiões - tanto em termos de resistência como de qualidade - serão escolhidas para, em 2003, entrar em competição com variedades de outros institutos de pesquisa. Mudança de hábitos - O IAC é pioneiro no Brasil nos programas de melhoramento genético de feijão. Foi lá que o pesquisador Luís Dartagnan de Almeida produziu a primeira variedade do feijão carioca, o "carioquinha", lançado em 1970. Essa variedade - 30% mais produtiva do que os outros tipos de feijão na época - revolucionou o cultivo no país e tomou a dianteira na preferência dos brasileiros. O feijão carioca já está em sua quarta geração e passou a contar com vários genes de resistência à antracnose a partir de sua terceira geração. "A quinta geração de novas cultivares do feijoeiro, resistentes à antracnose e outras doenças e também com alta qualidade tecnológica, está estimada para ser lançada em 2006 e, assim, empreender uma nova revolução no mercado do feijão nosso de cada dia." • PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002
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HUMANIDADES HISTÓRIA
As Marias da fumaça Estudo refaz a difícil trajetória das primeiras mulheres que trabalharam na estrada de ferro Noroeste do Brasil, em Bauru istante350 quilômetros da capital paulista e ponto de entroncamento de três importantes ferrovias (a Noroeste do Brasil, a Paulista e a Sorocabana), a interiorana, mas efervescente, Bauru, que há pouco tempo tinha deixado para trás a condição de "boca do sertão': viu nascer um novo tipo de mulher que exercia sua ocupa cão no ambiente público, a partir de 1918. Em março desse ano, a Noroeste, a pioneira e mais importante das estradas de ferro a cortar a cidade, que ali instalara seu quartel-general em 1905, rasgando o oeste paulista em direção ao confins de Mato Grosso, contrata a primeira funcionária do sexo feminino: Flordaliza Meira Monte, de 16 anos, nascida na também paulista Capivari, admitida em caráter temporário, como prática de telégrafo, profissão que seu pai exercia na ferrovia. Até então, das estações e oficinas aos escritórios, passando obviamente pelos vagões das composições, a companhia era um ambiente de trabalho exclusivamente masculino. Saias por ali só eram vistas, quando vistas, nas passageiras de algum comboio vindo da capital. Ou ainda nos cabarés e
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bordéis, geralmente próximos à estação de trem, onde predominava, para usar o linguajar corrente da época, o protótipo de mulher pública de então, dancarinas e prostitutas, vulgarmente chamadas de "vagabundas': Portanto, o recrutamento da futura escriturária, que arrumara o emprego de sua vida (viria a se aposentar na própria Noroeste por invalidez em 1942), inaugura uma nova fase na estrada de ferro: a era das ferroviárias de Bauru, moças sérias, solteiras, geralmente vindas de várias regiões paulistas ou de outros Estados, exibindo de 15 a 30 anos de idade. Como as ditas "vagabundas", com quem eram confundidas freqüentemente, as ferroviárias também eram mulheres públicas. Públicas no sentido de que haviam optado, talvez por influência do cinema norte-america-
no, por trabalhar fora de casa, no espaço coletivo da sociedade, em vez de ficarem restritas aos tradicionais papéis de mãe e dona de casa, exercidos tipicamente no ambiente privado, no seio do lar. "Para o imaginário feminino da época, a ferrovia representava a liberdade", diz a historiadora Lidia Maria Vianna Possas, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Marilia, que rastreou fragmentos da quase desconhecida trajetória das primeiras trabalhadoras da Noroeste, uma das mais importantes estradas de ferro do país, no livro Mulheres, Trens e Trilhos (Editora da Universidade do Sagrado Coração de Jesus), publicado no final de 2001, resultado de anos de pesquisas. Para evitar cantadas indesejadas no serviço e dissociar sua figura da pecha de prostitutas, as trabalhadoras da Noroeste adotam uma postura de-
liberadamente sisuda no trabalho. Entre 1918 e 1945, período enfocado pelo estudo, a pesquisadora conseguiu encontrar nos registros da Noroeste a passagem de 250 mulheres pela companhia, que fizeram um percurso semelhante ao da desbravadora Flordaliza. Isso em meio a 14 mil prontuários de funcionários da estrada de ferro vasculhados por Lidia. Entre essas duas centenas e meia de ferroviárias, as mais instruídas, geralmente oriundas da classe média, tornaram-se telefonistas, datilógrafas ou faziam toda sorte de serviços burocráticos. As mais humildes se dedicavam aos serviços de cozinha, lavanderia, faxina e atendimento público. No se-
Funcionárias da contadoria da Noroeste do Brasil, em '944, e estação: locomotivas e machismo
PESQUISA FAPESP • FEVEREIRO DE 2002 • 71
gundo grupo de mulheres, era comum a mudanca de ocupação, pois tinham mais dificuldade em se adaptar ao severo regime de trabalho. O trabalho feminino raramente estava ligado diretamente à atividade fim da ferrovia: fazer os trens andarem. E pior: a figura das mulheres, embora alvo de constantes tentativas de assédio sexual, é praticamente ignorada pela história oficial da estrada de ferro e até por muitos ferroviários aposentados, que, não raro, custam a se lembrar de que também havia colegas do sexo oposto entre os funcionários da companhia. "É mais ou menos como se não tivesse havido mulheres trabalhando ali", comenta Lidia, uma carioca que mora em Bauru há 15 anos. "A história oficial retrata de maLidiaPossas: história de 250 ferroviárias neira repetitiva a ferrovia como exibia costureiras em seus ateliês, instrumento vigoroso do progresso, da luta de classes e não como agente contava com professoras em suas esprovocador de mudanças de comporcolas e garantia o sustento das secretátamento e valores." rias de seus profissionais liberais (veja quadro). Sobre essas, no entanto, o esCapitalismo - É claro que Bauru, a essa tigma de ser uma mulher pública altura, nos anos 1920, com 20 mil haisto é, de ser comparada às dançarinas bitantes, integrada pelas locomotivas e meretrizes que trabalhavam nos ao capitalismo e à modernidade, já cabarés próximos da estação - não empregava moças em seu comércio, pairava tão fortemente como era o
caso das empregadas da Noroeste. Afinal, o ambiente no comércio era mais familiar e menos masculino do que na estrada de ferro. Para afastar qualquer insinuação maldosa, as ferroviárias incorporaram ao pé da letra a disciplina e o formalismo que a Noroeste exigia de seus funcionários. "Não queriam ser confundidas com as prostitutas': afirma Lidia. Tanto que muitas não se casaram, nem tiveram filhos. Algumas, a partir do anos 30, passaram a se interessar por política, especialmente pelo integralismo, versão nacional do fascismo que ganhou adeptos entre os ferroviários de Bauru. Como as mulheres conseguiram trabalho na Noroeste? A forma de entrada na companhia não é muito clara e transparente até 1938, quando foram instituídos concursos públicos abertos a homens e mulheres com mais de 18 anos, concursos cujos primeiros lugares eram preenchidos freqüentemente por postulantes de saias. Durante muito tempo, no entanto, uma anedota circulava entre os ferroviários - não só os de Bauru, mas os de outros lugares também - tentando Mulher na vaga do burro -
De "boca d,o sertão" a cidade de espantos Num mapa da então província (hoje Estado) de São Paulo de 1886, o último povoado urbano do noroeste paulista é Bauru, então uma vila com fama de ser a "boca do sertão': Tudo a oeste do lugarejo é descrito como "terrenos desconhecidos povoados por indígenas': parte do mundo dito selvagem. Dez anos mais tarde, essa localidade é elevada à condição de município. Mas a cidade, que tem pouco menos de 8 mil habitantes na virada do século 19, só começa a se estruturar e crescer de verdade com a chegada dos trilhos de ferro. A Noroeste do Brasil, que ali instala sua sede, é inaugurada em 1905, a Paulista
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chega no ano seguinte e a Sorocabana, em 1910. Com o auxílio das locomotivas, Bauru, que está no centro geográfico do Estado, "conecta-se com a capital paulista - e com o mundo da modernidade e do capitalismo nascente no país, cujas principais figuras viriam a ser os barões de café. Rapidamente, quase todos os hábitos, costumes e modas vigentes nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro são importados pelos habitantes de Bauru, em sua maioria forasteiros, homens e mulheres sem família constituída, que migraram para a "entrada do Brasil novo." Em 1920, pouco depois de as primeiras
ferroviárias serem contratadas pela Noroeste, sua população bate na casa das 20 mil pessoas. Em 1940, esse número sobe para 55 mil. O comércio se desenvolve. Pensões e hotéis são abertos, aproveitando a vocação de ponto de passagem da cidade das três ferrovias. A vida mundana também se desenvolve. Cabarés afrancesados, como o Maxim, abrem as portas perto da área ferroviária. Bordéis proliferam, como a Casa de Eny, que criaria fama em todo o Estado. Diante do movimento de gente vinda de todo lugar, ávida por ascensão social e diversão, entre as quais as drogas ilícitas, o poeta Rodrigues de
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explicar a origem de trabalhadoras num ambiente tão masculino. A primeira mulher teria sido contratada na vaga de um burro da ferrovia, que morrera. Ou seja, sai o animal, entra a mulher, paga com a verba anteriormente gasta para alimentar a besta. A anedota era tranqüilizadora: nenhum homem cedeu vaga para mulher. Ainda que contratadas, as mulheres não tinham os mesmos direitos trabalhistas dos homens. Até 1928, segundo o levantamento da professora da Unesp, grande parte delas não tinha vínculo mais formal com a Noroeste. Algumas eram registradas com o nome de homens, geralmente um parente que havia trabalhado na ferro-
via, do qual haviam meio que herdado o posto de trabalho. Essa situação só melhorou substancialmente com a adoção dos concursos públicos para admissão. As ferroviárias também tinham de provar constantemente que eram competentes em seus afazeres. "Sempre existia aquela onda (... ) de que mulher é fraca. Mulher não pode isto e aquilo': recorda Hermínia Malheiros de Oliveira, que trabalhou como telefonista na Noroeste, num depoimento concedido em 1997, quando tinha 81 anos, para o livro sobre as ferroviárias da Noroeste. Sexualidade - Além das demonstrações de falta de reconhecimento profissio-
Apesar de ter encontrado valiosos documentos e registros nos arquivos do Centro de Memória Regional, museu em Bauru mantido pela Unesp e Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), a historiadora teve dificuldades em seguir o paradeiro da maioria das exfuncionárias da ferrovia, sobretudo o daquelas que exerciam as funções menos nobres. Os registros contêm dados apenas até o momento em que as funcionárias deixam a ferrovia - e as mais simples eram justamente as que tinham mais dificuldade em se adaptar à rigidez da empresa e acabavam desistindo freqüentemente do emprego ou eram mandadas embora, às vezes sem receber as devidas indenizações. À escassez de documentos, somam-se outros inconvenientes: muitas ex-ferroviárias já morreram e, entre as vivas, há quem prefira esquecer o passado. "Muitas dessas mulheres se sentiam pessoas fora do lugar, em razão das inúmeras exclusões que sofreram': afirma Lidia. O estudo da história das primeiras ferroviárias se encerra em 1945, quando o acesso aos concursos da Noroeste foi praticamente negado às mulheres e elas mesmas começaram a ambicionar outros horizontes profissionais. A partir dos anos 1950, o país optou por carros, em vez de locomotivas. Felizmente, ainda há pesquisadores como Lidia, apaixonada por trens desde menina. Em sua casa em Bauru, sobre a mesa de trabalho, ela mantém um telefone em forma de uma velha locomotiva. Presente de amigos, o aparelho funciona e seu toque, em vez do tradicional "trim", reproduz o barulho de uma maria-fumaça encostando numa estação. "Meu trabalho não é defender as ferroviárias': afirma Lidia. "Mas dar maior visibilidade às suas trajetórias, evidenciando a sua luta social:' •
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Bauru na década de 20: calma transformada para que ela pudesse ser a "entrada do Brasil novo"
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Abreu, que se mudou para a cidade em 1923 e virou funcionário do cartório local, qualifica Bauru de "Cidade de Espantos". Num trecho do poema Bauru, da década de 30, Abreu faz alusão ao espírito de vanguarda e sem limites da sociedade bauruense da época: "Eu já tomei cocaína em teus bairros baixos, onde há Milonguitas de pálpebras murchas e de olhos brilhantes!':
nal, das cantadas no trabalho, da repressão à própria sexualidade, as ferroviárias ainda enfrentavam inconvenientes mais comezinhos em seu cotidiano na Noroeste. Só ganharam banheiros exclusivos, por exemplo, em 1934, quando foi construída a nova estação ferroviária da Noroeste em Bauru. Até então, tinham de obedecer a horários pré-determinados para ir ao toalete. Um dos argumentos patronais contra os banheiros femininos era o de que esses locais virariam ponto de bate-papo entre as mulheres. Como se homens não conversassem no trabalho.
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Ban mer tem 74 . fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
Pesquisa mostra o português antigo,que saiu de São Paulo no século 17 e ainda sobrevive na linguagem cotidiana de outros Estados
açadores de ouro, domadores de índios, engolidores de matas: os mamelucos de São Paulo de Piratininga avançaram sertão adentro no entardecer do século 17. Com arcabuzes, alfanjes e uma bandeira puída, abriram caminho no mato, enquanto arrasavam aldeias, pedras preciosas, missões jesuítas e quilombos. Os bandeirantes eram mercenários sem escrúpulos, mas heróis da geografia e da língua. Ampliaram as fronteiras do país e os sinais de sua influência proliferam até hoje nas culturas e línguas locais. É com essa certeza que um grupo de estudiosos do idioma se largou pelo interior de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás para fisgar vestígios sertanistas na fala brasileira. Professor de filologia e língua portuguesa da Universidade de São Paulo, Heitor Megale é o bandeirante da nova expedição com seu projeto Filplogta Bandeirante, que contou com apoio da FAPESP. "Na rota sertanista surgiram muitos vilarejos. Alguns viraram cidades, como Cuiabá. Após o fim do ciclo do ouro e da escravatura, muitos permaneceram isolados, parados no tempo", explica. "Com seus costumes, manifestações culturais e religiosas, mantiveram a variante lingüística da época colonial ou, pelo menos, alguns traços dela." O projeto buscou colher vestígios da língua da colonização, que permane-
Bandeirante segundo Henrique Bernadelli: mercenários sem escrúpulos e ao mesmo tempo heróis da geografia e da língua
ceram ou sofreram variação. A idéia é flagrar a herança oral de lugares fundados por sertanistas ou que surgiram com seu avanço. "Não há rota de colonização mais importante com movimentação demo gráfica contínua por mais de meio século", confirma Megale. "É possível, por isso, encontrar traços de camada lingüística antiga, que se expandiram, chegaram a escritos e acabaram restritos à fala rural." Os pesquisadores tiveram como base o roteiro da marcha de 1674, iniciada pelos 40 homens liderados por Fernão Dias Paes. O trajeto original foi uma aventura sem par. Fernão Dias era um veterano de 65 anos quando chefiou uma imensa monção atrás de prata e esmeraldas. Saiu de São Paulo até as cabeceiras do rio das Velhas (MG), atravessando a serra da Mantiqueira. Fez pouso em arraiais como Ibituruna, Sumidouro do Rio das Velhas, Esmeraldas, Mato das Pedreiras e Serro Frio, futuros núcleos do povoamento de Minas. Do rio das Velhas, atravessou o Vale do Jequitinhonha, até a Lagoa de Vupabuçu, onde ele encontrou pedras verdes após sete anos de trilha. Eram meras turmalinas, sem valor. Mas o caminho aberto por Fernão Dias lançou as bases de expedições que descobririam ouro em Minas. "Em torno dessa trilhá, priorizamos os caminhos usados à exaustão na caça ao ouro dos séculos 17 e 18", diz Megale. O grupo retomou a rota, ao máximo oeste (na baixada cuiabana) ao extremo norte, em Niquelândia (Goiás), Sumidouro e Diamantina (MG). "Incluímos locais de outras incursões e evitamos pontos com forte influência moderna, como Ouro Preto", completa um dos integrantes do projeto, Sílvio de Almeida Toledo Neto. Além de Cuiabá, a equipe passou pela picada de Goiás, por Pacaratu e Catalão. A equipe de 19 pesquisadores trabalhou em duas frentes. Um esforço foi o de coletar os traços da fala identificáveis em documentos da época. O outro foi gravar a conversa com analfabetos idosos das regiões. Com isso, querem tabular marcas orais não per-
tencentes ao português-padrão para verificar o que se reteve do arcaico. "É na comparação entre os dados de época e a fala dos informantes que está a raiz do Filologia Bandeirante': diz Toledo Neto. Como não há banco de dados da fala da época que vire referência para a pesquisa de campo, o primeiro ato da equipe de Megale foi procurar a base em documentos do século 17.Foram caixas com centenas de documentos cartoriais. "Inventários de testamentos, cartas e relatórios de entradas para o sertão costumavam transcrever as comunicações orais do povo': relata Toledo Neto. Em Taubaté, o Arquivo Histórico mantém ofícios das entradas como as de Borba Gato e Amador Bueno, no século 18."Protestos, causas CÍveis e pregões são as notícias indiretas da língua falada no período:' Ao todo, são 975 folhas e cópias de manuscritos dos séculos 17 e 18, além do arquivamento digital de documentos mais antigos, de 1723. A esse volume, juntaram-se dezenas de minidiscos (MD) de 74 minutos com as entrevistas de idosos analfabetos, arquivos ambulantes de um modo de falar remoto, popular, menos influenciado pela oralidade contemporânea. Quanto mais longínquo o lugar, melhor para o projeto. No interior de Minas, 12 rincões foram varridos pela equipe de Maria Antonieta Cohen. Em São Paulo, foram seis localidades, enquanto em Goiás a equipe de Maria Sueli Aguiar percorreu 14, duas a mais do que o grupo de Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, em Mato Grosso. As escolhas em São Paulo foram estratégicas. O movimento demográfico para o sertão de Cataguá, como na época se chamava a região em que se entrava, seguia pelo Vale do Paraíba até Pinheiros, após atravessar as gargantas da Mantiqueira. "Assim, a região de Taubaté e Cunha nos interessou, pois era caminho para atravessar a Mantiqueira e para o retorno do ouro à casa de fundição em Taubaté ou em Parati', descreve Megale. Em cada recanto, o cuidado de selecionar os entrevistados a dedo. "Nós PESQUISA FAPESP . fEVEREIRO DE 2002 • 7S
Domingos Jorge Velho: só passou a ser chamado de bandeirante no século 19
nos preocupamos menos em ter um número grande de informantes do que com o valor de um único registro de qualidade': defende Megale. Sua equipe suou para encontrá-Ias. "Tínhamos de andar muito e conversar com o máximo de moradores do lugar, tudo à margem das instituições, como a prefeitura, a Igreja ou a Emater", lembra. "Quando acionávamos alguém da prefeitura, nos enviavam as pessoas que falavam 'errado: mas tinham escolaridade e usavam gírias adquiridas com a TV:' Foram inúmeras entrevistas antes de fechar o cerco em nomes como os mineiros José Felipe dos Santos, de 72 anos, de Ibituruna; Maria Cristina Reis, de 86, em São Tiago, e, em Bom Sucesso, José Pedro de Oliveira, com 92. O que encontraram deixou os pesquisadores boquiabertos. "Flagramos traços que nunca pensamos existir",
~ o passado, em seu modo de agir e falar." O trabalho preliminar da equipe começou em 1997, com mapeamento e seleção de localidades, e a pesquisa de campo avançou pelo ano passado. A parte "braçal" do projeto se encerra em 28 de fevereiro deste ano, mas a análise e tabulação dos dados, assim como a publicação do trabalho, avançarão até 2003. Resultados, no entanto, não faltam. Durante a pesquisa, foram encontradas desde palavras obsoletas às pronúncias de herança paulista em território mineiro, goiano e matogrossense. "Todos devem ter sido incorporados após a expansão bandeirante", acredita Megale. Há termos esquecidos, como "mamparra" (fingimento), flagrado na boca de José Pedra de Oliveira, em Minas, e em informantes paulistas. Pronúncias típicas do século 17, como em "tchapéu" e "tchuva" ou o ditongo nasal [õ 1 por [ãw l, como em "mão" [rnõ], "muntcho", por "muito", que se
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lembra Megale. "Uma das riquezas da pesquisa é o encontro com pessoas que vivem sem água encanada ou esgoto e padecem de problemas vitais já resolvidos nas cidades. No entanto, elas logo se põem à vontade, como se fossem amigos de infância", continua. "É um encontro com um tipo de brasileiro que a vida urbana conside;aria
Linguagem bandeirante ainda é um mistério A linguagem de época é um problema para quem pesquisa os bandeirantes. Primeiro, não há descrição exaustiva da língua falada no século 17. Segundo, o português usado pelos bandeirantes ainda é cheio de mistérios. A língua tupi reinava nos primeiros séculos de Brasil. Os colonizadores só se impuseram no litoral no século 17 e, no interior, no 18. O mais português dos sertanistas tinha de usar urna fala mista, de base tupi, chamada língua brasílica ou geral.
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Do século 17,acredita-seque só dois de cada cinco moradores da cidade de São Paulo falavam português. Segundo Bruno Bassetto, em Elementos de Pilologia Românica, em meados do século 18 a língua em comum ainda era o tupi: só um terço da população usava o português, além do tupi. "Índias casadas com brancos eram excluídas da alfabetização, mas suas crianças ficavam expostas à língua materna. Já os bandeirantes precisavam ser bilíngües para tocar os negócios", diz o professor Silvio Toledo Neto.
O projeto de resgatar os traços de linguagem deixados pela rota dos bandeirantes pode ser um passo decisivo na reconstituição do idioma. "A história da língua antiga está sendo feita agora por iniciativas como essa", relata Heitor Megale. "É preciso cercar o objeto de várias formas. Deixar os dados falarem, pelos documentos cartoriais e pelos resquícios encontrados na fala de hoje': completa ToIeda Neto. Os documentos encontrados pela equipe de Megale são reveladores da
apagaram mesmo em cidades do interior, e hoje ainda se realizam no Norte de Portugal, são ouvidas no interior de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. No sul de Minas e no interior paulista, encontraram-se expressões como "dá uma esmolna por amor de deus", que remontam ao português
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condição da língua do período. "Não há outra língua que não o português nos documentos, uma indicação de que os bandeirantes dominavam até a escrita. Havia assinaturas de 'entrantes' e transcrição de suas falas pelos tabeliões, nos livros de registros", diz Megale. O próprio termo "bandeirante" é controverso. Documentos confirmam que não se designavam como tal. O movimento de ida para o sertão era chamado "armação", "entrada", "jornada" ou "tropa". Só ganhou o termo "bandeirante" no século 19, por iniciativa de historiadores e escritores.
do século 13, em que o atual "esmola" era tomado por "eleernosyna", depois "esmolna" Muitas palavras obsoletas estão em uso. Em Minas, há "demudar" usado no lugar de "mudar", assim como, em vez de "possuir", a preferência por "pessuir" ou "pessuido", do século 18. O também obsoleto "despois', em uso no sul de Minas, remonta a obras arcaicas, de uso culto nos séculos 15 e 16."Preguntar', usada no século 17 alternadamente com "perguntar", também foi encontrado. São do português arcaico do século 13 a meados do 16 que remontam as formas "quaje"
o PROJETO Fil%gia Bandeirante MODALIDADE
Projeto temático COORDENADOR HEITOR MEGALE - Universidade
de São Paulo INVESTIMENTO
R$19.280,OO
Encontro de Monções no Sertão, de Pereira da Silva: nessas reuniões, eram trocadas informações e palavras
ou "quage" (o atual "quase"), "quige" O'') , "fige"("fi")z. (( qUiS Os sufixos de derivação, como em "mensonha" (que remonta ao século 13) e "mentireiro" (Gil Vicente), sinônimos de "mentira" e "mentiroso", ainda hoje pontuam a fala interiorana, preservada pelos informantes do Pilologia Bandeirante. Embora tudo deva ser editado até 2003, alguns dos subprojetos do temático central já começam a ser publicados, com resultados interessantes para os especialistas. A meta do grupo de Megale, ao final, é mostrar que uma camada antiga da língua sobrevive em outros pontos do país como herdeira da São Paulo colonial. "Tudo leva a crer que a língua que foi para lá, saiu de São Paulo': afirma ele. "O fato é que há marcas históricas de uma língua ao longo das trilhas das bandeiras auríferas que partiram de São Paulo, percorrendo os velhos caminhos dos índios e abrindo outros:' • PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 77
• HUMANIDADES
ENTREVISTA:
REGINALDO
PRANDI
A tenda ilustrada dos milagres odos riram quando, no filme O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria J únior (baseado no romance homônimo de [ô Soares), o vetusto detetive inglês Sherlock Holmes é reconhecido como um filho do poderoso orixá. Mas, além das curiosidades e do que se chama erradamente de "macumba': pouco sabemos da rica crença trazida ao país pelos escravos africanos que, hoje, permeia a cultura e a arte brasileira. Na entrevista abaixo, o professor titular de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP)Reginaldo Prandi, autor de Mitologia dos Orixás (Companhia das Letras), explica como o candomblé foi incorporado à cultura brasileira e como se adaptou a novos conceitos sociais. Mas não se iluda: essa explicação não é tão elementar como gostaria o caro Watson.
T
• Um branco estudando a comunidade negra. Houve algum problema? - Não. A comunidade do candomblé está muito acostumada com a xeretice dos brancos e há uma tradição de pesquisadores brancos, como Roger Bastide e Pierre Verger, que tiveram contato muito intenso com o candomblé. Até recentemente, os candomblés foram muito perseguidos pela polícia, e então homens com alguma importância na sociedade branca, como intelectuais, artistas, militares, médicos etc., funcionavam como uma espécie de ponte entre o terreiro e a sociedade, defendendo os candomblés e seus seguidores. Esses homens passaram a receber do candomblé, em retribuição, um título de alto prestígio, chamado ogã, que em iorubá significa superior, mestre, pai protetor. São aqueles a quem se recorre 78 • fEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
em momentos difíceis. Passada a fase de perseguição policial, o título continuou a ser atribuído aos amigos e cultores da tradição dos orixás. Como alguns dos sociólogos e antropólogos que me precederam na pesquisa dos terreiros, tenho esse título de ogã. Mas minhas pesquisas foram feitas antes de eu receber essa honra. • Qual é o valor do mito? - O mito no candomblé é extremamente importante, pois, antes de mais nada, ele ensina quem são os orixás, quais os seus poderes mágicos, seus campos de atuação, de onde eles vieram, quais as suas preferências e tabus, como o devoto deve se relacionar com cada um deles. Além disso, os mitos explicam como o mundo e a própria humanidade foram criados e, mais que isso, explicam como o ser humano é constituído. Para o cristianismo, por exemplo, o ser humano é formado de corpo e alma. Para o candomblé, o ser humano é constituído d~ corpo e várias almas, sendo que cada alma contém as seguintes dimensões do espírito: a individualidade da pessoa ou a sua cabeça, a sua herança familiar ou o antepassado reencarnado, e a sua origem primordial ou o orixá. Como se crê que na vida tudo se repete, cada pessoa é em parte a reencarnação de alguém que viveu antes e, ao mesmo tempo, a descendência de um orixá determinado. Se me perguntam: "Você é filho de quem?". Respondo: "Sou filho de Oxalá", assim como outra pessoa pode ser um filho de Oxum, ou de Iemanjá, Xangô, Ogum etc. Como cada pessoa herda de seu orixá as virtudes e defeitos de que falam os seus mitos, os mitos podem ensinar porque somos assim e assim agimos.
.É difícil para quem entra no candom-
blé assumir essa nova crença? - A grande dificuldade é que a lógica do candomblé é diferente daquela a que alguém criado segundo os valores ocidentais está acostumado. Um novo adepto do candomblé tem que aprender conceitos que são completamente novos para ele, que vem de uma cultura branca, cristã, européia. O tempo, por exemplo, é circular e demarcado pela realização de tarefas e não pelo relógio. A sabedoria se obtém com a experiência de vida, é algo que se constrói ao longo da vida, e nunca por meio de livros e da escola, pois o candomblé se origina de uma cultura ágrafa, em que a transmissão do conhecimento se faz pela oralidade. Por isso, no candomblé só os velhos podem ser sábios. Disso tudo derivam outros conceitos e muitas regras que regulam a vida religiosa e interferem na vida cotidiana dos iniciados . • O candomblé já pode ser encontrado no Brasil inteiro? - Praticamente sim. Nas capitais e grandes cidades, com certeza. Nas cidades de 10 mil, 15 mil habitantes, é mais difícil que o candomblé tenha chegado, mas a umbanda, que se propagou a partir da década de 50, está lá. • O senhor falou que o candomblé está se transformando. Como isso ocorre? - O candomblé se formou no Nordeste no século 19, especialmente na Bahia e em Pernambuco, donde se espalhou pelo Brasil na segunda metade do século passado. Nesse movimento de expansão, vai se adaptando às novas geografias e aos tempos. Por exemplo, o candomblé usa muito as ervas para preparar banhos, fazer remédios e outras práticas rituais. Se diz
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que sem as folhas não existiria o culto dos orixás. O terreiro ideal deveria ter um terreno coberto de mata, onde as ervas pudessem nascer espontaneamente e ser colhidas livremente. Que terreno poderia ter seu bosque sagrado numa cidade como São Paulo? Em termos de preço de terra, isso é inviável. Então tem de adaptar. Buscar as ervas longe é cada vez mais trabalhoso e perigoso, por causa dos assaltos. Melhor é comprá-Ias num fornecedor especializado. No Largo da Pólvora, no centro de São Paulo, por exemplo, há bancas de vendedores que oferecem todas as ervas necessárias aos diferentes rituais. Os vendedores são gente da religião com um novo negócio, impensável há 30 anos: plantam, colhem, transportam e vendem as folhas. Isso é uma adaptação à sociedade atual. Reginaldo Prandi: organização em livro da mi!ologia viva Outra: antes, quando alguém ia se iniciar, pegava suas trouxas, ia para o terreiro e tos, sistematizados e reescritos, uma lá ficava recolhido durante um, dois, espécie de reunião de histórias que estrês meses, vivendo nesse período tavam espalhadas, de lendas que se uma vida totalmente alheia ao munencontravam por aí, em centenas de do fora do terreiro. Hoje, o tempo de fontes escritas e orais. recolhimento no terreiro não pode durar mais do que as quatro semanas • No Brasil, estamos mais acostumados de férias no trabalho, um pouco mecom outras mitologias. nos até, para usar alguns dias com ou- Sim, sobretudo a grega clássica, tras providências. E assim, 21 dias que é, de certa forma, constituída de acabaram se transformando no temmuitos elementos importantes do po da iniciação de hoje. Essa é uma pensamento ocidental. A mitologia adaptação importante, que acarreta greco-romana é parte da cultura ocioutras mudanças em termos de dental há muitos séculos. Já os mitos aprendizado religioso e disciplina. africanos, quem conhece? Li um simpático comentário de que a mitologia • Quais as principais descobertas em que organizei seria a maior mitologia seu livro Mitologia dos Orixás? viva. Porque a grega está morta, só - Eu não chamaria de descobertas. O existe no livro. A que organizei está livro é uma coleção organizada de miviva nos terreiros dos cultos afro-brasi-
~ leiros. Agora, na medida " em que esse livro dispo~ nibiliza para todos um conhecimento que antes era restrito a um grupo minoritário, os seguidores do candomblé, talvez seu conteúdo venha a ser futuramente mais conhecido. Mal comparando, veja o caso da novela Porto dos Milagres, da TV Globo, transmitida no ano passado. Com ela, os telespectadores aprenderam algo sobre Iemanjá que antes desconheciam. Com o livro, talvez a mitologia africana que está em nossas raízes culturais possa ser aprendida e estimada por muitos, independentemente da religião, e possa, quem sabe, ser incorporada pelos segmentos da cultura brasileira até então acostumados tão somente com os mitos ocidentais. Num tempo de valorização crescente da diversidade cultural, Mitologia dos Orixás pode ter alguma utilidade. iil
dos terreiros
«Há alguma correspondência entre mitos grego e os do candomblé? - Existem muitas. Xangô, por exemplo, é um orixá muito parecido com Zeus, da mitologia grega. Os dois lidam com a justiça, com raios e ambos são grandes chefes, exercem poder sobre os outros deuses. Oxum é a deusa do amor e da beleza, como Vênus. Exu, o mensageiro do panteão, equivale a Hermes, e assim por diante. Nas regiões politeístas, que é o caso dessas religiões, há uma divisão de trabalho entre os deuses, o que nos leva a estabelecer tais aproximações. É até possível que os deuses africanos e gregos tenham origens comuns, mas não há pesquisa conclusiva que nos permita afirmar com segurança. • PESQUISA FAPESP . FEVEREIRO DE 2002 • 79
LIVROS
Por um programa de educação ambiental Especialistas discutem meios de delinear políticas públicas sobre o tema DANIEL
JOSEPH
HOGAN
mbientalismo e Participação na Contemporaneidade é uma coletânea de textos resulambientalismo e tantes do ciclo de semináparticipação na coutcmporaneidade rios com o mesmo nome, 1-:""=,.,:-:.==,,.-= realizados na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), como parte das atividades previstas no projeto Avaliação de Processos Participativos em Programas de Educação Ambiental: Subsídios para o Delineamento de Políticas Públicas, financiado pela FAPESP por meio do Programa de Pesquisas em Políticas Públicas. A coordenação do trabalho foi feita por Marcos Sorrentino. O livro apresenta uma discussão dos principais eixos do pensamento necessários para conceber, implementar e monitorar um programa de educação ambiental. Novos paradigmas teóricos (a referência é Boaventura Souza Santos); participação como direito, como fenômeno social, psicológico e filosófico; e aspectos de avaliação de projetos de intervenção são discutidos , por 11 especialistas no assunto, que trazem ao tema da participação longas folhas de serviços prestados nos diversos aspectos que compõem o quadro. Não é um livro sobre a educação ambiental, mas para a educação ambiental e para todos os interessados na questão da relação entre participação, democracia e um novo paradigma de sociedade. A confusão conceitual instalada com o surgimento de novos atores sociais e novas formas de ação social nas últimas décadas é tratada aqui com competência e clareza. As associações religiosas, as comunitárias, de mútua-ajuda, de classe, de defesa da cidadania e as organizações não-governamentais (ONGs) não são iguais nas origens, objetivos e participantes. Igualar tudo por baixo sob a rubrica de ONG faz vista grossa de longas tradições de pesquisa nas ciências sociais. Ilse Scherer- Warren coloca ordem nessa discussão e prepara o terreno para uma discussão
A
80
• FEVEREIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP
mais conseqüente. Lúcia da Costa Ferreira analisa o ambientalismo da década de 1990 não como um somatório das ações de ONGs, mas Coordenação de como movimento social, da Marcos Sorrentino perspectiva da ação social. Trabalhos como esses contriEduc/FAPESP buirão para uma visão mais 229 páginas crítica do processo participaR$ 27,50 tivo e, conseqüentemente, para uma educação ambiental mais coerente. O livro inclui, também, ensaios sobre direito (Dalmo Dallari) e poder (Carlos Walter P. Gonçalves), entre outros assuntos. Estudos sobre realidades concretas incluem o capítulo de Suzana Pasternak Taschner, resumindo seu trabalho recente sobre São Paulo. Todos os autores convergem na centralidade do processo participativo como constituinte da sustentabilidade. A sustentabilidade, ou o desenvolvimento sustentável, é multi dimensional, não se restringindo apenas aos processos ecológicos. A dimensão sociopolítica tem como ponto central a participação dos indivíduos nas decisões que afetam suas vidas. A essência ética do desenvolvimento sustentável implica que não só os fins, mas também os meios, são parte necessária do processo. Nesse sentido, o comprometimento e o engajamento dos indivíduos na definição dos destinos coletivos - incluindo as relações natureza/sociedade - são fundamentais para configurar um novo quadro de valores, sem o qual não há perspectiva da sustentabilidade. Visto desse ponto de vista, o ambientalismo não é um lobby a favor do verde, mas um movimento que luta para integrar os esforços progressistas contemporâneos para fazer valer a cidadania. Ambientalismo e Participação na Contemporaneidade
é professor do Departamento de Sociologia e Coordenador do Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
DANIEL JOSEPH HOGAN
LANÇAMENTOS
.
o Preço da Leitura
Estudos Avançados
Editora Ática Marisa Lajolo e Regina Zilberman 183 páginas / R$ 29,90
2001 - volume 43
Em geral, o tema costuma inspirar relatos apaixonados e nostálgicos, mas as pesquisadoras decidiram mostrar de que forma a realidade toca a genialidade. Assim, o novo ângulo é a maneira como o escritor se insere no universo capitalista como um profissional da escrita, em especial ao longo da história da sociedade brasileira. São discutidos a fundo a noção de autor, propriedade literária e valor da obra de ficção, seja no seu aspecto estético, seja no econômico. Também descobrimos como Brasil e Portugal tinham leis atrasadas sobre direitos de autores. Leitura indicada.
Espaços de Representação da Loucura: Religião e Psiquiatria E 5 P A
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DE
REPRESENTAÇÃO DA
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Papirus Editora Ana Lúcia Machado 127 páginas / R$ 21,00
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Ana Lúcia Machado reúne dois campos que por muito tempo ficaram apartados: religião e psiquiatria. Num estudo bem articulado, a pesquisadora discute como esses dois locus são espaços importantes de representação social da loucura, para ambos um total descontrole do homem. Ana traz um modelo alternativo para o tratamento da chamada loucura, que rejeita o manicômio e dá novas estratégias de cura. ,
S I QUI"
REVISTAS
T R I ~
A Alegoria'do Patrimônio Estação Liberdade e Editora UNESP Françoise Choay 282 páginas / R$ 34,00
A defesa do patrimônio histórico . e artístico, hoje, é um fato que não se questiona. Mas como se pode explicar esse desejo de conservar obras, prédios e cidades e de que forma essa vontade acabou por se tornar um desafio para todos os Estados civilizados do globo? Segundo Françoise Choay isso não se explica só pelos óbvios conceitos de valor cognitivo e artístico, mas tem raízes mais obscuras. Esse é justamente o tema deste estudo fascinante. Para ela, as respostas são duplas: um desejo narcisístico de se reconciliar com o passado e ao mesmo tempo a angústia pela constatação da competência antiga de edificação, que cremos perdida.
Retomando um assunto cuja análise foi iniciada no número 31, EsruoosAv",,,,,,,oos de 1997, a revista da Universidade de São Paulo agora encerra o ciclo de discussão com um dossiê sobre o desenvolvimento rural. Entre 'iff::rOil,;,oenlo vários artigos: Velhos e Novos Mitos do Rural Brasileiro, de José Graziano da Silva; Propriedade, Estrutura Fundiária e Desenvolvimento Rural, de Pedro Ramos; O Futuro da Sociologia Rural e sua Contribuição para a Qualidade da Vida Rural, de José de Souza Martins; O Brasil Rural Ainda não Encontrou seu Eixo de Desenvolvimento, de José Eli da Veiga; Os Dilemas do Desenvolvimento Agrário, de Washington Novaes; e O Absurdo da Agricultura, de José Lutzenberger.
43
Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais 2001 - número 50
A publicação semestral editada pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) traz em seu volume mais recente os seguintes textos: Política Regulatória: Uma Revisão de Literatura, de Marcus Andre Melo; Violência, Criminalidade, Segurança Pública e Justiça Criminal no Brasil: Uma Bibliografia, de Roberto Kant de Lima, Michel Misse e Ana Paula Mendes de Miranda; Teorias Econômicas Aplicadas ao Estudo da Religião, de Alejandro Frigerio; entre outros.
Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas 2001 - número 113
A revista quadrimestral da Fundação Carlos Chagas traz como tema de destaque de sua edição de julho a pesquisa em educação com os seguintes artigos: Identidade de Pesquisas Qualitativas, de Ana Cristina Leonardos; Relevância e Aplicabilidade da Pesquisa em Educação, de Alda Iudith Alves-Mazzotti; Implicações e Perspectivas da Pesquisa Educacional no Brasil Contemporâneo, de Bernadete Gatti. Ainda neste volume: A Dialética Micro e Macro na Sociologia da Educação, de Zaia Brandão; O FUNDEF e os Equívocos na Legislação e Documentação Oficial, de Nicholas Davies; entre outros. PESQUISA FAPESP • fEVEREIRO DE 2002 • 81
~}RTE FINA LAERTE
82 • FEVEREIRO DE 2002 • PES QUISA FAPESP
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ESTADO DE
Sテグ PAULO
Secretaria da Ciテェncia, Tecnoloqia e Desenvolvimento Econテエmico
#tJAPESP
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INFRA-ESTRUTURA 4
Vocação para a pesquisa Laboratórios paulistas se equiparam aos melhores do mundo m1994, quando implantou o Programa de Infra-Estrutura, a FAPESP quebrou um paradigma: o de que agências de fomento deveriam financiar exclusivamente bolsas e auxílios à pesquisa, mas não a reforma e modernização de laboratórios, isto é, sua infra-estrutura. Os resultados do programa mostram que a FAPESP estava certa. Desde o início do Infra, a FAPESP destinou um total de R$ 505.215.402,68 para financiar 4.474 projetos de modernização de infra-estrutura apresentados pelas diversas áreas de pesquisa das universidade estaduais e federais e institutos de pesquisa estaduais, federais e municipais localizados no Estado de São Paulo. Na sua primeira fase, em 1995, o Infra I financiou 849 projetos, divididos em dois módulos, o de infraestrutura geral e o de biotérios. No Infra 11,de 1996, aprovou 1.261 projetos, desta vez em cinco módulos: equipamentos especiais multiusuários, redes locais de informática, infra-estrutura para bibliotecas, FAP-Livros - destinado a compra de acervo de bibliotecas - e infra-estrutura geral. No Infra I1I, de 1997, foi excluído
E
PESQUISA
FAPESP
o módulo FAP-Livros - que se tornou autônomo - e aprovados 1.044 projetos, enquadrados nos quatro módulos restantes. Em 1998, no Infra IV, o módulo de financiamento de equipamentos multiusuários foi incorporado às linhas permanentes de fomento da FAPESP, sendo, portanto, excluído do programa, e dois novos módulos foram acrescentados para apoiar museus e arquivos. Naquele ano, 1.053 projetos foram aprovados. Foi realizado também uma nova fase do FAP-Livros, sendo aprovados 191 projetos. O Infra V, lançado em 1999, foi dividido em dois grandes módulos: o de tratamento de resíduos químicos e o de centros de informações, incluindo bibliotecas, museus e arquivos. Nesta fase foram aprovados 76 projetos e 86 encontram-se em análise. Os investimentos já somam R$ 8.125.698,06 (ver tabelas 1 e 2). A revista Pesquisa FAPESP tem publicado, desde o ano passado, uma série de suplementos especiais com reportagens sobre as diversas áreas de pesquisa beneficiadas. O primeiro Suplemento Especial, publicado junto com a edição n= 63 da revista Pesquisa FAPESP, apresen-
tou os resultados dos investimentos do Programa de Infra-Estrutura na revitalização de bibliotecas, museus e arquivos. O segundo Suplemento Especial, que acompanha a edição nv 64 da Pesquisa FAPESP, mostra os investimentos e o impacto da implantação das redes de informática na produção científica paulista. O terceiro Suplemento Especial, que circulou com a edição nv 66 da revista, reuniu reportagens sobre os resultados do apoio do programa nos laboratórios das áreas de Ciências Agrárias e Veterinárias, Biologia e Saúde. Neste suplemento, o foco das atenções são os laboratórios de Física, Química e Engenharia e as áreas de Ciências Humanas. Nas tabelas 3, 4 e 5 estão apresentados os recursos liberados para os laboratórios de pesquisa. Além de computar os recursos do programa no módulo de apoio à infra-estrutura geral, foram incorporados, ainda, dados e valores dos invetimentos do módulo equipamentos multiusuários, já que eles destinaram-se aos laboratórios de pesquisa, e dados e valores do módulo de tratamento de resíduos químicos, mais uma etapa na modernização dos laboratórios. Ao todo, nesses três módulos, o programa destinou R$ 329,5 milhões para apoiar 2.751 projetos de reforma e modernização de laboratórios das universidades e ins-
titutos de pesquisas sediados em São Paulo, em todas as áreas do conhecimento.
OS NÚMEROS DO INFRA (Situação em 30.11.2001) INFRA I
INFRA 11
INFRA 111
1.103
3.017
247
INFRA IV
INFRA V
1.824
1.797
570
1.745
750
734
407
849
1.261
1.044
1.053
76
7
11
30
10
849
1.257
1.029
,
1.015 87
O INVESTIMENTO NO PROGRAMA (Situação em 30.06.2001) PROJ. APROVADOS
INFRA I
849
76.901.764,51
INFRA 11
1.261
146.469.282,89
INFRA 111
1.044
121.011.151.69
INFRA IV
1.053
136.642.624,17
INFRA V
76
8.125.698,06
191
16.064.881,36
4.474
505.215.402,68
FAP-LlVROS IV TOTAL
2
VALORES R$
Engenharia, Física e Química - Nas áreas de Engenharia, Física e Química, o total de recursos ultrapassou a casa dos R$ 124 milhões. Além da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) foram beneficiados com recursos do Programa de Infra-Estrutura importantes institutos de pesquisa estaduais e federais como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Na área de Ciências Humanas, foram beneficiados 168 projetos com um total de recursos da ordem de R$ 16,7 milhões. De forma semelhante ao que ocorria com os laboratórios das áreas de Ciências Agrárias, Biologia e Saúde, os laboratórios da áreas de Engenharia, Física, Química e Ciências Humanas também estavam bastante deteriorados quando do surgimento do Programa. Durante mais de duas décadas, as condições de trabalho nos laboratórios das universidades públicas paulistas e nos institutos representaram uma séria limitação ao trabalho dos pesquisadores. Faltavam equipamentos e FAP instalações adequadas. SoLIVROS IV TOTAL bravam rachaduras, vaza8.520 209 mentos e até cupins. No La12 3.895 boratório de Física Nuclear da USP, em São Paulo, por 4.474 191 exemplo, a torre de 40 me6 64 tros de altura que abriga4.197 46 va o acelerador Pelletron, 87 construída há 30 anos, corria o risco de rachar. Na Unicamp, os quatro departamentos do Instituto de Física Gleb Wataghin, sofriam com constantes interrupções no fornecimento de energia elétrica. O Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, em suas diversas fases, destinou R$ 32,1 milhões para apoiar reformas propostas em 235 projetos na área de Física. Boa parte desses recursos foi empregada na substituição das redes elétricas, hidráulicas e no sistema de refrigeração, adequando o fornecimento de energia à demanda das pesquisas e permitindo a instalação de equipamentos modernos. Nos laboratórios de Química a situação não era diferente. Recursos da ordem de R$ 37,8 milhões do Programa de Infra-Estrutura para 262 projetos foram fundamentais para que os laboratórios operassem com mais PESQUISA
FAPESP
A DEMANDA POR RECURSOS (Situação em 30.11.2001) PROJETOS
FASE IV
FASE V
INFRA
FASE 11 EQUIP.
INFRA
EQUIP.
INFRA
RESíDUOS
GERAL
MUlTIUSUÁRIO
GERAL
MUlTIUSUÁRIO
GERAL
FASE I INFRA
BIOTÉRIOS
GERAL
TOTAL
1.005
98
1.209
642
939
364
1.050
52
5.359
226
21
772
431
441
174
465
33
2.563
772
77
432
209
494
169
580
18
2.751
5
2
4
21
5
44
432
207
489
163
559
2.697
7 Concluídos
FASE 111
770
77
OS RECURSOS LIBERADOS (Situação em 30.11.2001) MÓDULOS
Infra Geral
FASE 11
FASE I
FASE 11I
FASE IV
FASE V
PROJ.
VALOR
PROJ.
VALOR
PROJ.
VALOR
PROJ
VALOR
PROJ
VALOR
APROV.
R$
APROV.
R$
APROV.
R$
APROV.
R$
APROV.
R$
772
66.903.432,73
432
50.255.342,56
494
47.661.149,53
580
68.796.334,86-
77
9.998.331,78 209
46.393.822,41
169
36.045.745,23 18
INVESTIMENTO POR ÁREA DO CONHECIMENTO VALOR (R$)
N° PROJETOS CONTRATADOS
Humanas e Sociais Interdisciplinar
404
57.896.935,62
17
1.727.877,58
10
768.487,70
325
38.156.780,30
9
876.610,65
544
54.282.050,82
235
32.134.791,17
113
11.022.161,28
168
16.730.476,08
1
232.436,00
52
8.954.915,43
262
37.823.170,28
611
68.955.252,13 329.561.945,04
PESQUISA
FAPESP
segurança. Hoje, eles estão equipados para desenvolver pesquisa de ponta com refratários, nanossensores, síntese de feronômios ou biossensores, apenas para citar alguns exemplos. As tradicionais escolas e institutos de engenharia paulistas também tinham suas atividades de pesquisas comprometidas pela péssima qualidade das instalações. Um dos maiores problemas era a falta de espaço e as oscilações freqüentes de energia, que acabavam por queimar placas e filamentos, causando prejuízos consideráveis. O Programa de Infra- Estrutura aprovou as propostas de reformas de 544 projetos e destinou R$ 54,2 milhões para o financiamento de modernização das instalações e equipamentos. A área de Ciências Humanas também foi beneficiada. Foram aprovados 168 projetos que contaram com recursos da ordem de R$ 16,7 milhões para reformas e modernização das instalações. Este suplemento, que circula junto com a edição n72 da Pesquisa FAPESP, traz reportagens de Silvia Mendes, Maria Aparecida Medeiros e Marcelo Tamada. A edição deste suplemento é de Claudia Izique, e a diagramação, de Luciana Facchini. • 3
• FíSICA
Programa cria bases sólidas para o avanço das pesquisas Reformas modernizam universidades paulistas Ao criar condições de urante mais de funcionamento adequado aos duas décadas, equipamentos, o Programa de as condições de Infra-Estrutura deu uma base trabalho nos lasólida para o ensino e o avanço boratórios de das pesquisas no Estado, ao física das universidades púmesmo tempo em que ajudou blicas de São Paulo impusea preservar e ampliar um patriram sérios limites ao trabalho mônio incalculável em termos dos pesquisadores, contrariande instalações, ferramentas do todo o esforço na busca da de precisão e computadores. máxima precisão. Por falta de "Sem laboratório, não há físiinvestimentos em Infra-Esca': define o diretor do Institrutura, as instalações foram tuto de Física da Universidase tornando precárias, comde de São Paulo (USP), Silvio prometendo o desenvolvimenRoberto de Azevedo Salinas. to das pesquisas. Por meio do módulo e"Tínhamos dinheiro e quipamento multiusuário, equipamentos sofisticados muitos laboratórios pudepara tocar as pesquisas, mas ram adquirir equipamentos faltava o básico", diz Vanderde última geração, aumenlei Salvador Bagnato, do Instando sua capacidade produtituto de Física da Universitiva e a qualidade dos trabadade de São Paulo (USP), em lhos publicados. Na UFSCar, São Carlos. A lista dos probleo professor Wilson Aires mas denunciava a iminente Ortiz, do Grupo de Superconfalência dos centros de pesGás armazenado na Oficina de Criogenia, da Unicamp dutores e Magnetismo, insquisa: faltavam bancadas, talou, com recursos do Promesas, sistemas adequados grama, um Squid (Superconducting , Boa parte desses recursos foi emde fornecimento de gases, iluminaQuantum Interference Device), senção, refrigeração, ar-condicionado pregada na substituição das redes sor de campo magnético de alto alelétricas, adequando o fornecimento e, ainda mais grave, água e energia cance que permite analisar materiais elétrica. à crescente demanda de energia geautomaticamente e com precisão. A O Programa de Infra-Estruturada com a aquisição de equipamenpossibilidade de ter um equipamenra da FAPESP financiou a modertos modernos, e na instalação de sisto desses foi fundamental para a nização dos laboratórios de Física, temas de ar-condicionado. "Hoje nós produção de novas teses, formar redestinando R$ 32,1 milhões a 235 temos equipamentos altamente sencursos humanos e expandir a fronprojetos distribuídos pelos labosíveise sofisticados,que requerem uma teira das áreas. "Estamos trabalhanInfra- Estrutura confiável do ponto ratórios de diversas instituições de do num laboratório como poucos pesquisa. Foram beneficiados, por de vista de estabilidade da rede eléno mundo", diz Ortiz. O professor exemplo, os institutos da USP, tanto trica, bons aterramentos, estabilidaRettori concorda. "Nossa pesquisa em São Paulo com no campus de de da temperatura ambiente do latem que ser competitiva, e nós jaSão Carlos, da Universidade Estaboratório e da água de refrigeração mais conseguiríamos chegar a isso dual de Campinas (Unicamp) e da dos equipamentos", destaca o profescom uma Infra-Estrutura de 30 Universidade Federal de São Carlos sor Carlos Rettori, do Instituto de fíanos atrás." • (UFSCar). sica da Unicamp.
D
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PESQUISA FAPESP
Da obsolescência à vanguarda da física nuclear Laboratórios da USP estão entre os melhores do mundo slaboratórios de física da Universidade de São Paulo (USP) estão entre os mais bem equipados do mundo. Sua Infra-Estrutura permite o desenvolvimento das mais avançadas linhas de pesquisas básicas e aplicadas nas áreas de física nuclear e atômica, nanociências, óptica, fotônica, biofísica molecular e espectroscopia, entre outras. O Programa de Infra-Estrutura da FAPESP contribuiu para que esses laboratórios ganhassem posição de destaque no cenário internacional, destinando recursos para a recuperação e ampliação dos prédios, reforma das instalações elétricas e hidráulicas e modernização dos equipamentos. No Laboratório de Física Nuclear da USP, em São Paulo, por exemplo, os pesquisadores participam de projetos arrojados. Embora as pesquisas sejam de interesse puramente acadêmico, envolvem experimentos que resultam numa gama enorme de informação e numa série de equipamentos com aplicação em outras áreas do conhecimento. "Hoje em dia, grande parte da ciência ambiental é baseada em estudos e técnicas de física nuclear. Uma grande parte da instrumentação usada em ciência de materiais tem sua origem e fundamento em técnicas e idéias desenvolvidas na física nuclear", exemplifica Torre de Alejandro Szanto Toledo,
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coordenador do Laboratório Aberto de Física Nuclear da Universidade de São Paulo (USP). Os equipamentos da física médica, como os aparelhos de radioterapia e os traçadores para diagnóstico em medicina nuclear e na investigação biogenética, também são importantes subprodutos da física nuclear. Mas essa posição de destaque do laboratório é recente. Há cerca de cinco anos, havia problemas que iam desde o desgaste da estrutura física do prédio até a limitação imposta por equipamentos ultrapassados. Até a torre de 40 metros de altura que abriga o coração do laboratório, o acelerador Pelletron - equipamento que permite precipitar os núcleos dos átomos uns sobre os outros -, corria o risco de ser inter-
ditada. A estrutura de concreto, construída há mais de 30 anos, corria o risco de rachar. Não haveria o risco de contaminação do meio ambiente, já que o laboratório só trabalha com elementos radioativos de vida curta, mas paralisaria toda a atividade do laboratório. Com a reforma do prédio, toda a instalação elétrica e hidráulica foi refeita, assim como a instalação de arcondicionado e de ar comprimido. "Estamos em pé de igualdade com as melhores universidades da Europa e dos Estados Unidos': garante o pesquisador. O grupo coordenado por Toledo participa de pesquisas que buscam provas experimentais do exato momento em que ocorreu o Big Bang. Esse trabalho é feito em conjunto com
40 metros que abrigava o acelerador Pelletron corria risco de ser interditada
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Nanociência: uma grande revolução Um dos temas mais excitantes no mundo científico, atualmente, é a Nanociência. Na escala nano, os pesquisadores trabalham com partículas na proporção da milionésima parte do milímetro, o que significa poder manipular átomos individualmente. Para tanto, é preciso uma Infra-Estrutura laboratorial sofisticada. "O Brasil já participa do seleto grupo de países com tecnologia de ponta': diz José Roberto Leite, chefe do Laboratório de Novos Materiais Semicondutores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). O Brasil montou uma estrutura na pesquisa de Nanociência na década de 80, quando foram investidos recursos na aquisição de equipamentos para pesquisa. Atualmente há 49 instituições brasileiras que pesquisam temas
pesquisadores do Relativistic Heavy Ion Colider (RHIC), em Brookhaven, Nova York, um dos maiores laboratórios do mundo capacitados para pesquisas que envolvem alta energia. "Essa participação só foi possível graças à excelente Infra-Estrutura do nosso laboratório", explica o pesquisador. Os recursos da FAPESP permitiram ainda a modernização do laboratório. Foram adquiridos vários equipamentos periféricos, como detectores e câmaras, que permitem analisar as partículas liberadas com a explosão do núcleo. "Hoje, 90% do instrumental de detecção e observação vem de recursos da FAPESP, tanto dos programas de Infra-Estrutura como de auxílio em diversos projetos temáticos," Com os novos investimentos, a capacidade do laboratório dobrou. "No passado, chegávamos a aproveitar apenas 20% do tempo de ope6
relacionados à Nanociência, 75% na região Sudeste. Alguns desses laboratórios possuem máquinas sofisticadas, de última geração raios X de alta resolução, microscópios eletrônicos, lasers, bobinas supercondutoras, espectrômetros ópticos e de massa por íons secundários, etc. "No Estado de São Paulo, o Programa de Infra-Estrutura da FAPESP foi fundamental para criar as condições ideais de funci-
Leite: manipulando
onamento desses equipamentos': afirma Leite. A Nanociência, acredita-se, será agente de uma revolução com efeitos comparáveis aos da popularização do transistor nas décadas de 40 e 50. Estima-se que, atualmente, o mercado anual de produtos originados da Nanociência gire em torno de US$ 250 bilhões por ano, entre eles, os transistores de alta velocidade usados nos telefones celulares, radares anticolisão, televisão digital de alta resolução e comunicação via satélite e os lasers semicondutores usados nos CDs e DVDs, etc. "Certamente a Nanociência nos trará o computador quântico do futuro", aposta o pesquisador.
partículas de átomos
ração da máquina. Os outros 80% eram perdidos em função de freqüentes problemas na manutenção", conta Toledo. Hoje o acelerador funciona 24 horas por dia, nos sete dias da semana. Com a operação mais confiável, a produtividade aumentou. "Nossa média atual é de dois trabalhos por ano por pesquisador, publicados nas melhores revistas internacionais", afirma Toledo. Até o final deste ano deverá entrar em operação um pós-ace-
lerador linear supercondutor, que deverá expandir ainda mais as atividades do laboratório. O novo equipamento tem capacidade equivalente a quatro aceleradores Pelletron, e foi em grande parte financiado pela FAPESP, incluindo toda a obra civil necessária para sua instalação. "É um equipamento de última geração, que utiliza supercondutividade, o que deverá abrir uma porta para essa nova tecnologia no Brasil", afirma o pesquisador. Enquanto a visibilidade do laboratório cresce, aumentam as perspectivas de participação nacional nos grandes projetos internacionais. "Dentro de dez ou 15 anos haverá uma resposta muito clara para questões sobre a formação do universo, e o Brasil tem grande chance de estar envolvido nisso", afirma. • PESQUISA FAPESP
Um marco histórico para a expansão das pesquisas Física da USp, em São Carlos, faz lasers para medicina uando retornou dos Estados Unidos após concluir o curso de doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, em 1987, para trabalhar na área de física atômica no Instituto de Física da USP, em São Carlos, Vanderlei Salvador Bagnato jamais poderia supor que, 15 anos depois, estaria coordenando um dos mais avançados, produtivos e bem equipados centros de pesquisa do país. A Infra-Estrutura que encontrou não lhe permitia sonhar tão alto. Assim como tantos outros pesquisadores que passaram anos no exterior e retornaram, em meados dos anos 90, Bagnato teve de arregaçar as mangas e começar praticamente do zero. Nos primeiros seis anos de trabalho, o principal desafio foi criar as condições mínimas necessárias à atividade de pesquisa. A cada projeto, uma pequena parte da verba era
Instituto
está entre os mais avançados, produtivos
destinada a corrigir problemas na rede elétrica, hidráulicae refrigeração, caso contrário, não haveria meios de ligar os equipamentos.
Soluções para agricultura e saúde o grupo de pesquisa em Biofísica Molecular e Espectroscopia, da USP, em São Carlos, também contou com recursos do Programa para trocar as velhas bancadas e a capela, que não tinha boa exaustão. ''Antes de podermos contar com o Programa, não havia um sistema adequado de ventilação e refrigeração artificiais", diz Leila Maria Beltramini, coordenadora. PESQUISA FAPESP
A falta de Infra-Estrutura também comprometia o funcionamento de equipamentos como cromatógrafos, utilizados para separação e purificação de amostras e espectrômetros, utilizados na análise de amostras purificadas. O sistema de refrigeração, com 12 anos de uso, estava ultrapassado e sobrecarregado. A todos esses problemas somava-se ainda outro sério fator de risco: a in-
e bem equipados do país
Como os recursos eram insuficientes para uma obra planejada, tudo era feito na base do improviso. "Naquela época havia tantos fatores ex-
tensa sobrecarga na rede elétrica. ''Atualmente, nossos laboratórios equiparam-se aos do primeiro mundo", diz Leila. O objeto de estudo do grupo, a estrutura de proteínas extraídas de fontes naturais, proteínas recombinantes (obtidas pelas técnicas de engenharia genética) e metaloproteínas, é de grande interesse para áreas como a da saúde e da agricultura. O grupo também vem investigando alguns mecanismos de interação e transporte através de membranas biológicas.
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Atendimento sob medida Na Oficina Mecânica, da USP, em São Carlos, fabrica-se desde um simples parafuso até engrenagens sofisticadas. Sua modernização foi uma das prioridades do Instituto de Física na apresentação de projetos para o Programa de Infra-Estrutura, conta o diretor do instituto, Horácio Carlos Panepucci. O investimento foi fundamental para ampliar seu espaço e instalar equipamentos que permitissem atender à atual demanda dos laboratórios. Hoje, os 540 m' da Oficina Mecânica dispõem de tornos e fresadores, alguns com comando digital e controladores numéricos. Em
ternos comprometendo o trabalho que nós não podíamos garantir se o experimento iniciado hoje teria continuidade amanhã ou se estaria totalmente perdido", afirma Bagnato. A solução definitiva só veio a partir de 1995, com os recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. "Tínhamos lasers de US$ 500 mil, mas o chão não era apropriado, as mesas não eram firmes e nem a energia suficiente para ligá -los", conta. A reforma beneficiou todo o Instituto de Física. Os laboratórios ganharam novas instalações elétricas, com uma linha de voltagem especial e sistema de ar-condicionado central. Os problemas com a água foram resolvidos com a construção de um sistema fechado, que permite que a água volte a ser refrigerada, após o uso, podendo ser reutilizada. Todos os prédios do instituto ganharam uma proteção especial contra raios. "Antigamente, a cada tempestade queimavam-se de dois a seis computadores e outros equipamentos", conta o pesquisador. Na opinião de Bagnato, a organização dos bastidores proporcio8
uma ala devidamente climatizada, estão as máquinas mais sofisticadas adquiridas por meio do módulo Equipamento Multiusuários, como a Discovery 4022, um centro de usinagem que executa, com precisão de centésimos de milímetro, peças projetadas em programas, como o Autocad.
Não menos importante foi a instalação de um setor de metrologia de precisão para medidas de dureza e rugosidade de superfícies e para aferição e calibragem com uso de bloco padrão. "Muitas vezes o que o pesquisador necessita é de um produto que ele próprio criou, com uma finalidade bem específica", conta Panepucci. A Oficina construiu, por exemplo, um aparelho de ressonância magnética que está instalado na Santa Casa de São Carlos. Toda a tecnologia, das peças ao software, foi desenvolvida no campus.
paralisados. Também coordenou o projeto que resultou na construção do primeiro relógio atômico da América Latina amplamente utilizado em telecomunicações. Agora, ele está investindo na construção do Fauntain, um chafariz atômico. "São os Ressonância magnética para a San~a Casa novos padrões de tempo e freqüência, uma tecnologia na qual, por enquanto, poucos paínada pelo programa foi um marco ses estão investindo", afirma. histórico. Exemplo disso está no Na Oficina de Óptica, as pespróprio Centro de Pesquisa em Ópquisas estão focadas no desenvoltica e Fotônica, um dos dez Cenvimento de lasers para medicina e tros de Pesquisa, Inovação e Difuodontologia. Atualmente, o centro são (Cepids) formados com apoio da mantém parceria com a Faculdade FAPESP, coordenado por Bagnato e de Medicina da USP em Ribeirão por Carlos Henrique de Brito Cruz, Preto, com o Hospital Amaral Cardiretor do Instituto de Física da Univalho, de Iaú, a Faculdade de Odoncampo O centro reúne pesquisadores tologia da Unesp, em Araraquara, e da USP-São Carlos, Unicamp e Insa Faculdade de Odontologia de Bautituto de Pesquisas Energéticas e Nuruo Um dos trabalhos desenvolvidos cleares (Ipen). Na extensa lista de é a implantação da técnica de fotoprojetos, oito já resultaram em paterapia dinâmica para tratamento tentes registradas. de câncer, uma técnica extremaNa área da física atômica, Bagmente moderna, que compete com nato busca alcançar a condensação quimioterapia e radioterapia em Bose- Einstein, um estado da matémuitos casos. • ria em que os átomos se encontram PESQUISA
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Qualidade fortalece intercâmbio com o exterior Instituto de Física da Unicamp investe em instalações urantecerca de 30 anos, pesquisadores e alunos dos quatro departamentos do Instituto de Física Gleb Wataghin, na Unicamp, enfrentaram sérias dificuldades de trabalho. A falta de investimentos na manutenção dos laboratórios fez acumular uma série de problemas, como a obsolescência da rede elétrica. ''A Infra-Estrutura dos laboratórios não tinha acompanhado a evolução tecnológica das últimas décadas': afirma Carlos Rettori, coordenador do Grupo de Propriedades Opticas e Magnéticas dos Sólidos do Departamento de Eletrônica Quântica. Era necessário garantir, no mínimo, condições adequadas de funcionamento de equipamentos computadorizados, propiciando boa estabilidade de temperatura e de energia. A atualização dos laboratórios exigiu um investimento alto e con-
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Departamento de Eletrônica Quântica incorporou novas tecnologias
tou com o apoio do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. Durante o período de obras, tudo teve de ser desligado, acarretando prejuízos para o andamento das pesquisas e a
Ofldna.de Criogenia No ano passado, o Instituto de Física da Unicamp consumiu mais de 28 mil litros de gás hélio líquido. Boa parte das pesquisas exige baixíssimas temperaturas. No caso dos supercondutores, por exemplo, a temperatura mínima necessária é de 130 graus Kelvin, o equivalente a cerca de 140°C abaixo de zero. Assim, o líquido refrigerante (criogênico) é usado para manter esses materiais suficientemente frios, condição fundamental para que exibam a superconduti-
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vidade. "Sempre que algum grupo adquire um sistema que requer resfriamento com hélio líquido, nosso consumo aumenta consideravelmente': explica Maria José Pompeu Brasil, coordenadora do Centro de Criogenia. Os registros do centro mostram que, ano a ano, o consumo vem aumentando. O apoio do centro é crucial para o andamento das pesquisas em laboratórios, como os de Heteroestruturas de Semicondutores, de Materiais Magnéticos e de Super-
conclusão das teses dos alunos. Mas, segundo Rettori, valeu a pena esperar. "Hoje temos instalações adequadas, tanto do ponto de vista da quantidade de energia como da se-
condutores. Para reduzir os gastos com a compra de gás hélio, o Centro de Criogenia reaproveita o gás utilizado pelos laboratórios. Para dar conta da demanda, a oficina teve de passar por uma grande reforma, que permitiu ampliar a área e readequar as redes elétrica e hidráulica. Foi preciso também adquirir novos equipamentos, como um liquefator de hélio. Segundo a coordenadora, a aprovação dos projetos pelo Programa de Infra-Estrutura foi fundamental para manter o setor em atividade e expandir a produção de líquidos criogênicos.
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., • FíSICA gurança, com bom aterramento e proteção contra raios': diz. Foi o fim do caos que se instalava nos dias de tempestade, quando os raios chegavam a queimar várias máquinas e computadores. O sistema de nobreak acabou com os freqüentes apagões, que desligavam equipamentos e destruíam o trabalho de várias semanas. Na fase de preparação de amostras, por exemplo, os materiais geralmente precisam passar por um tratamento térmico de uma semana. "Quando isso é interrompido, volta-se à estaca zero': explica Rettori. Já na etapa de análise, a medição das propriedades físicas dos materiais é feita em equipamentos automatizados, previamente programados de acordo com o tipo de experimento e que precisa funcionar 24 horas por dia. "Se ele entra em colapso, nós perdemos todas as medições:' Os recursos do programa também permitiram a instalação de um sistema de ar-condicionado central que garantiu o bom funcionamento
Tecnologia do plasma O Laboratório de Plasma Industrial desenvolve aplicações industriais do plasma térmico. O plasma é obtido com o aquecimento de gases a mais de 3.000 graus centígrados. Experiências em temperaturas tão elevadas era uma tarefa impossível no antigo laboratório, instalado num dos edifícios do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Unicamp. "Nós precisávamos de um local mais adequado", diz Aruy Marotta. Nos experimentos com plasma, a potência mínima exigi da nos experimentos é de 10 quilowatts (kW), enquanto os demais laboratórios consomem no máximo 1 kW. Além disso, o laboratório tem alto consumo de água e de
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e conservação adequada dos equipamentos. "Temos máquinas muito sofisticadas e sensíveis às variações de temperatura': diz Rettori. É o caso do espectrômetro de ressonância paramagnética eletrônica para medidas por microondas, equipamento de US$ 1 milhão recentemente adquirido num projeto temático financiado pela FAPESP. "Um equipamento desse porte não poderia ser instalado se não tivéssemos uma boa Infra-Estrutura." Hoje, os laboratórios operam a pleno vapor, desenvolvendo pesquisas tanto na análise como no desenvolvimento de novos materiais se-
micondutores, que têm diversas aplicações em tecnologia eletrônica e óptica, e supercondutores. Parcerias - O intercâmbio com insti-
tuições no exterior está cada vez mais fortalecido. O grupo desenvolve projetos em conjunto com equipes importantes, como a de Los Alamos National Laboratory, no Novo México; Florida State University, em Tallahassee, Flórida; San Diego State University, em San Diego, Califórnia; Rattgers University, Nova [ersey; Ames Laboratory, de Iwoa; Universidad Del Pais Vasco, Bilbao, Espanha; e Instituto Balseiro, em Bariloche, Argentina. A competitividade do grupo no cenário internacional, segundo Rettori, se deve em boa parte aos recursos do Programa e aos sucessivos projetos temáticos que garantiram a continuidade e o financiamento das pesquisas nos últimos 12 anos. •
chado de água para refrigeração do laboratório, com capacidade para 55 metros cúbicos por hora, sistema de gases criogênicos e de ar comprimido, a central de gases e de exaustão e até um sistema de segurança com câmeInstalações especiais para aplicações de plasma ras, já que o novo laboratório fica em local gases, o que requer um sistema de isolado e sujeito a roubos. Foram instalados dois transformadores, exaustão adequado para evitar riscos de intoxicação. " Sem instasendo um de 500 kVA e 440 volts lações especiais não poderíamos só para a tocha de plasma. Hoje, dar prosseguimento ao trabalho, Marotta desenvolve projeto em diz Marotta. parceria com a Villares Metals S.A.para a aplicação de uma tocha A Unicamp solucionou parte do problema cedendo terreno e de plasma na produção de aço. O sistema atualmente usado na recursos para a construção de Villares Metals propicia uma vaum novo prédio. A outra parte riação muito grande na tempeficou por conta do Programa de Infra-Estrutura, que financiou a ratura do metal, o que compromete a qualidade do produto. construção de um circuito fe-
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Reformas, competitividade e pesquisa de fronteira Supercondutores no Departamento de Física da UFSCar
Recursos do Infra proporcionaram
j\
espaço e instalações adequadas para
Péssimas condições de trabalho no laboratório do Departamento de Física' do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) minavam o esforço dos pesquisadores para desenvolver pesquisas competitivas. Os problemas de infra-estrutura eram semelhantes aos encontrados nas universidades estaduais e institutos de pesquisa: rede elétrica inadequada, falta de ar-condicionado para manter equipamentos funcionando com segurança e pouco espaço para acomodar máquinas e pessoas. Ao longo de 25 anos, o pequeno departamento, criado com o objetiPESQUISA FAPESP
~esenvolver
vo de ensinar física, cresceu. Mas, até meados da década de 80, a atividade de pesquisa ainda era pouco expressiva. "Em 1982, menos da metade dos cerca de 40 professores desenvolvia alguma atividade de pesquisa", afirma Wilson Aires Ortiz, coordenador do Grupo de Supercondutores e Magnetismo. Novos laboratórios - Não foram poucas as dificuldades que esse pequeno grupo de pesquisadores teve de superar para estabelecer uma infra-estrutura laboratorial que os habilitasse a desenvolver pesquisas de fronteira. Até o final de 1994, com recursos do Ministério da Educação (MEC), foi possível du-
pesquisa de fronteira
plicar a área construída, criando novos laboratórios didáticos e oficinas. Na mesma época, surgiram os programas de Infra-Estrutura da FAPESP, que permitiram investimentos na reforma e modernização dos laboratórios. O apoio da Fundação permitiu que toda a rede elétrica fosse substituída para atender à demanda de consumo do Departamento. Também foi possível instalar um sistema de refrigeração e equipamentos de ar-condicionado de forma a criar um ambiente mais adequado para a investigação e preservação dos equipamentos utilizados. "Tínhamos muitos equipamentos instalados de forma precária", lembra Ortiz. 11
f • FíSICA
Otimizando OS investimentos Nos laboratórios do Grupo de Semicondutores, da UFSCar, coordenado por José Cláudio Galzerani, os recursos do Programa de Infra-Estrutura financiaram as reformas de pisos, forros, bancadas e a construção de novas divisórias, solucionando problemas críticos para o funcionamento de sofisticados equipamentos de óptica. Os lasers operavam sem refrigeração adequada, o que representava um sério risco. Mas o problema mais grave estava no laboratório de espectroscopia Raman. "Sem refrigeração adequada e ar-condicionado, o equipamento funcionava abaixo das especificações recomendadas pelo fabricante': conta Galzerani. As instalações tampouco comportavam a operação de mais um espectrômetro. Hoje, os dois laboratórios de espectroscopia estão totalmente reformados e equipados com arcondicionado, mesas mais está-
veis, redes elétricas e de refrigeração adequadas. Outro ponto positivo foi a construção de uma sala limpa para preparação de amostras. "Agora temos capela, fluxo laminar e temperatura adequada, que são condições essenciais para o manuseio dos materiais': diz Galzerani. Ele trabalha com nanoestruturas, materiais produzidos artificialmente cuja principal aplicação é a produção de dispositivos optoeletrônicos, como lasers e memórias de computadores. Nos últimos anos, Galzerani tem se dedicado a estudar as super-redes semicondutoras - camadas muito finas, crescidas praticamente átomo a átomo, que são colocadas de forma alternada. "Conhecer as características elétricas e ópticas desses novos materiais é fundamental' pois eles têm um excelente potencial para o avanço. da indústria opto eletrônica", afirma.
Segurança para crescer Os recursos do Programa de Infra-Estrutura melhoraram as condições de trabalho do Grupo de Cerâmicas Ferroelétricas, da UFSCaro Com as reformas, foi possível dividir os espaços dos laboratórios para acomodar as 18 pessoas que ali trabalham. Faltavam mesas para estudo e não havia armários onde pudessem guardar seu material de estudo e as amostras usadas nos experimentos. Como a construção não permitia uma divisão adequada a cada atividade, a solução foi construir divisórias, separando as salas de experimento, leitura e interpretação de dados das áreas de estudo.
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A construção de novas bancadas também ajudou a economizar espaço' acomodando os equipamentos de forma mais racional e segura. Outro ponto fundamental para o bom funcionamento do laboratório foi a construção das redes elétrica, de refrigeração e de gases. Hoje, tubulações aparentes percorrem praticamente todas as paredes dos laboratórios e garantem o funcionamento de dezenas de equipamentos. Antes das reformas, os fornos especiais, onde as cerâmicas são queimadas a altas temperaturas, e a prensa a quente usada na preparação de material cerâmico trans-
parente eram refrigerados com água corrente, o que não garantia uma refrigeração adequada e ainda provocava um grande desperdício, pois a água não era reaproveitada. A nova rede de gás, atualmente com dezenas de pontos de alimentação, garante o fornecimento contínuo de ar comprimido, argônio, nitrogênio e oxigênio, necessários em várias etapas dos experimentos. A rede elétrica também teve de ser redimensionada. "Hoje o laboratório dispõe de energia suficiente para ligar todos os equipamentos e ainda temos um fôlego que vai nos permitir instalar novas máquinas", diz. Competência - O item segurança não
foi esquecido. Na sala de fornos,
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Grupo de Semicondutores: reforma de pisos, bancadas e sala mais limpa
Para o Grupo de Supercondutores e Magnetismo, os recursos do Programa de Infra-Estrutura foram fundamentais para adequar os laboratórios experimentais e a oficina de criogenia. "Para nós, essa oficina é tão importante como ter água e luz", diz o pesquisador. Os supercondutores, ele justifica, são potencialmente importantes para se fazer gravações magnéticas. Apresentam resistência zero, isto é, operam sem perda de energia. Exigem, entretanto, temperaturas extremamente baixas. Devido o alto custo para se manter uma peça dessas funcionando em temperaturas tão baixas, os supercondutores estão restritos a aplicações muito específicas, como em dispositivos usados nas centrais de distribuição de energia elétrica para controlar as oscilações de energia. "Como físicos, nossa tarefa é entender melhor as características intrínsecas desses materiais, assim como a maneira pela qual eles são processados", diz o pesquisador. •
uma rede de exaustão se encarrega de eliminar os gases tóxicos liberados com a queima de alguns tipos de material cerâmico. As estufas a vácuo, que estavam desligadas por falta de bancadas adequadas, também puderam entrar em operação. Com isso, muitos materiais preparados com solventes inflamáveis e tóxicos passaram a ser secados em baixa temperatura e a vácuo, evitando riscos de intoxicação. Também na preparação química das misturas, o trabalho ficou mais seguro. Agora o laboratório tem duas capelas e uma ducha, para o caso de acidentes com produtos químicos. "Graças ao Programa de InfraEstrutura, nós pudemos não apenas instalar vários equipamentos
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que haviam chegado recentemente ao laboratório como também preparar toda a infra-estrutura física para a instalação de novos equipamentos que estão sendo adquiridos por meio de projetos de pesquisa já aprovados pela FAPESP", afirma Dulcinei. É o caso do Sputtering de RF, um equipamento para a fabricação de filmes finos de cerâmica ferro elétrica, utilizados na confecção de sensores e atuadores. A pesquisa tem como objetivo estudar o desenvolvimento de películas adequadas para a produção de sensores de gases e será realizada em parceria com a Universidade Federal do Recife. O Grupo de Cerâmicas da UFSCar, que já tem tradição na pesqui-
sa fundamental dos materiais ferroelétricos, vem ganhando cada vez mais destaque no desenvolvimento de pesquisas aplicadas. Em conjunto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolveu um equipamento para medir a gordura em rebanhos de suínos. Outro trabalho bem-sucedido foi o desenvolvimento de um sensor para medir vibrações em processos de retífica em conjunto com o Núcleo de Manufatura Avançada (Numa), em Campinas. As parcerias, como se vê, somam competências. "Nós procuramos desenvolver os materiais mais adequados e nos associamos a outros grupos com capacitação no desenvolvimento de produtos", explica Eiras.
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Uma nova performance para os centros de pesquisa Modernização amplia parcerias com empresas e indústrias ngenharia
é dos setores mais tradicionais de pesquisa no Estado de São Paulo. Desde 1894, data ~ da inauguração da Escola Politécnica de São Paulo, os institutos, escolas e centros de pesquisa paulistas têm tido uma participação decisiva no desenvolvimento de novas tecnologias de ponta que têm alavancado o crescimento do país. A partir de 1995, esses institutos passaram a contar com o apoio do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, que beneficiou 544 projetos de modernização e melhoria de instalações de áreas de pesquisa, num total de R$ 54,2 milhões. As reformas garantiram um salto de qualidade nas pesquisas básica e aplicada. O novo padrão de desempenho tem atraído parcerias importantes com empresas, indústrias e redes de pesquisas e produzido resultados reconhecidos nacional e internacionalmente. "Os pesquisadores devem se concentrar em sua missão fim, sem se preocupar com condições de trabalho'; afirma Nilson Dias Vieira [únior, chefe da Coordenadoria de Caracterização de Materiais do Centro de Lasers e Aplicações, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Ele comanda o único grupo de pesquisa na América Latina que consegue fazer crescer mono cristais de grandes dimensões para uso em lasers, de ampla aplicação industrial, médica e odontológica. O desenvolvimento de produtos de interesse da comunidade e a obtenção de novas patentes em áreas importantes foram impulsionados por reformas realizadas em vários laboratórios das universidades, entre eles, 14
o Laboratório de Bioquímica de Alimentos, da Escola de Engenharia de Alimentos da Unicamp. Foi de lá que saiu o New Sugar, adoçante natural sem calorias, obtido de processos de fermentação. A modernização do laboratório também criou condições para o desenvolvimento de pesquisas sobre compostos nutrientes para alimentos funcionais, com propriedades antiturnorais e de controle de colesterol e hipertensão, entre outras, coordenadas por Yong Park. "Nosso principal entrave era o espaço e tipo de instala. ção", diz Enrique Ortega Rodriguez, chefe do Grupo de Sistemas Agro Alimentares da Escola de Engenharia de Alimentos da Unicamp. Ali, os recursos do Programa de Infra-Estrutura estão financiando a reforma do novo prédio que abrigará um complexo de laboratórios. Será possível desenvolver projetos como os de diagnóstico ambiental da agricultura no Estado de São Paulo, de forma a atender às diretrizes da Agenda 21 para preservação da biodiversidade. Em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), será possível, com o apoio de satélite, analisar os principais cultivos usando informações georeferenciadas, desenvolver novas técnicas menos agressi-
vas de cultivo e propor novos meios de gestão de bacias hidrográficas. A reforma também criará condições para, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio ao Micro e Pequeno Empresário (Sebrae), apoiar os produtores de alimentos orgânicos, por meio de projeto de orientação ao cultivo, adequando sua atividade às exigências de certificações e de financiamento. Os recursos do Programa de Infra-Estrutura também beneficiaram, dentro do mesmo Grupo de Agro Alimentos, o Laboratório de
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Automação de Processos de Alimentos, coordenado por Vivaldo Silveira [únior, O laboratório tem atualmente uma área cinco vezes maior, o que permite o desenvolvimento de protótipos de equipamentos sofisticados para auto mação de processamento de alimentos. Na avaliação de Celso Costa Lopes, do mesmo laboratório, o Programa de Infra-Estrutura da FAPESP permitiu que os espaços fossem mais bem aproveitados. Ainda na Escola de Engenharia de Alimentos da Unicamp, dois aportes do Infra possibilitaram a criação de espaços para as instalações do Departamento de Tecnologia de Alimentos. Reformas no espaço livre do prédio original tornaram disponível para pesquisa uma área total de 1.000 rrr', Foram montadas instalações físicas completas para quatro laboratórios - de Análise Sensorial, Embalagens, Leite e Derivados e
Processos - e um sistema de compressores, câmaras frias e refrigeração para o Laboratório de Carnes e Derivados. Importantes pesquisas foram estimuladas com o funcionamento dessas instalações, a partir do final de 1999, segundo José de Assis Fonseca Faria, chefe desse departamento. Entre elas, as de embalagens assépticas para sucos, leite, isotônicos e água de coco, de bandejas para embalar carnes fatiadas, de congelados e a criação de cadeia industrial para a produção de carne-seca. No Departamento de Engenharia de Materiais (Dema), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a instalação de rede própria de fornecimento e transmissão de energia elétrica, com sistemas de nobreaks, foi fundamental para os difratômetros de raio X e microscópios eletrônicos. Segundo Pedro Iris Paulin Filho, chefe desse Departamen-
to, antes dos recursos do Infra, oscilações de energia freqüentes queimavam placas e filamentos de milhares de dólares, impedindo a seqüência de vários projetos de pesquisas. Motivação - A melhoria das condições de trabalho aumentaram a motivação e contribuíram para uma maior estabilidade do quadro de pesquisadores das instituições e escolas beneficiadas."Na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, da Unesp, não era rara a evasão de docentes para outra instituição qúe lhes fornecesse melhor infra-estrutura de pesquisa", lembra Laurence Duarte Colvara, do Departamento de Engenharia Elétrica. Com recursos do Infra, a partir de 1995, foi possível melhorar a estrutura física de alguns laboratórios com uma rede elétrica adequada de alta -tensão. O aumento da capacidade e qualidade de trabalho também foi sentido no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP. Os recursos do Programa de Infra-Estrutura financiaram obras civis, aquisição de mobiliário, implantação de rede lógica e aquisição de equipamentos que modernizaram o Laboratório de MidImagem. Com isso, segundo Azael Rangel de Camargo, foi possível multiplicar por cinco o número de trabalhos de editoração por semana e triplicar o número de imagens escaneadas.Na mesma escolade Engenharia de São Carlos, os recursos do Programa de Infra-Estrutura permitiram que pesquisas, antes predominantemente dirigidas à Engenharia Civil, passassem a atingir também outras áreas, como as de Engenharia Mecânica, Engenharia de Materiais e Engenharia Industrial, explica João Bento de Hanai, coordenador do projeto Infra para os laboratórios do Departamento de Engenharia de Estruturas. • Pesquisadora utiliza o Polidor de lônio no Departamento de Engenharia de Materiais, na UFSCar
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• ENGENHARIA
Centro de produção de radiofármacos Ipen se destaca nas pesquisas e desenvolvimento nuclear m sofisticado equipamento instalado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) foi consumido pelo fogo, em 1996. O prejuízo, de US$ 50 mil, excluídas as perdas com a paralisação das atividades de parte da instituição, foi causado por uma falha de manutenção: não havia uma chave disponível para desligar a força do Departamento de Materiais Especiais - hoje Centro de Lasers e Aplicações -, fato que teria evitado a quase tragédia. O episódio, além de exemplar da fase precária vivida pelo Ipen na época, acabou por despertar os pesquisadores para a necessidade de uma ampla reforma nos laboratórios. Cinco anos depois e com recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, a realidade do Ipen é outra. O Centro de Lasers, mais uma vez, serve de exemplo. Reconhecido internacionalmente, o laboratório é o único da América Latina que domina a técnica de crescimento de cristais de grandes dimensões para uso em laser, um processo com aplicações em processamento industrial de materiais, medicina, odontologia e meio ambiente, conta Nilson Dias Vieira Iúnior, O Ipen, ligado à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), foi fundado em 1956, com o objetivo de realizar pesquisas e formar especialistas. Instalado no campus da USP, em São Paulo, numa área de 500 mil m2, o instituto é hoje o principal centro de pesquisa e desenvolvimento nuclear em todo o país, tendo sido pioneiro no domínio das
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Laboratório
de Química Atmosférica,
no lpen, está preparado
tecnologias do ciclo do combustível nuclear. Desenvolve papel importante na aplicações das radiações e radioisótopos, reatores nucleares, materiais e radioproteção. É reconhecido internacionalmente pela produção e distribuição de radioisótopos primários e radiofármacos e reagentes liofilizados utilizados no diagnóstico e terapia de várias doenças. Além de dois reatores nucleares, o instituto conta com laboratório de termo-hidráulica, dois aceleradores de elétrons, irradiadores de cobalto, usinas piloto responsáveis por todo o composto de urânio produzido no país, inclusive o gás hexafluoreto de urânio. O Ipen dispõe ainda de vários laboratórios de processamento e caracterização química, isotópica e
para crescer
física de materiais, entre eles, o Centro de Lasers e Aplicações. O prédio que o Centro de Lasers divide com outros 50 laboratórios foi construído em 1978. Recebia uma manutenção mínima, voltada apenas para emergências, como a do incêndio de 1996 que foi impossível de se evitar. Até pequenos alagamentos ocorriam por falta de impermeabilização no teto. Os recursos do Programa de Infra-Estrutura foram investidos, basicamente, na reforma dos sistemas elétrico e hidráulico do prédio. Em mais de 20 anos, foi o primeiro investimento significativo e lTlanejado na infra-estrutura do prédio. "A reforma preparou o centro para o crescimento e nos permitiu devolver, em aplicações concretas para a sociedade, os PESQUISA FAPESP
recursos aplicados em projetos científicos e tecnológicos", afirma Vieira Júnior. As novas instalações permitiram a realização de importantes estudos, como o do Laboratório de Jovens Pesquisadores. As pesquisas do grupo são baseadas em lasers de diodo, ava. liado em milhares de dólares, e que podem ser danificados por alterações mínimas de energia. «Uma infra-estrutura adequada é vital': diz Vieira Iúnior, A participação do grupo no Centro de Pesquisa em Optica e Fotônica, um dos Cepids mantidos pela FAPESP,ao lado dos institutos de Física de São Carlos e da Unicamp, para o desenvolvimento de novos lasers para aplicações médicas e odontológicas, permitiu a criação de um curso de mestrado profissionalizante para dentistas. Parceria recente foi firmada com a Universidade Técnica de Atenas, na Grécia, para o desenvolvimento de outra linha de pesquisa que prevê a monitoração ambiental. O laboratório também prepara, junto com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e a Companhia de Tecnologia
Instalado no campus da USP, Instituto
PESQUISA
FAPESP
de Saneamento Ambiental (Cetesb), a instalação do primeiro sistema de monitoramento ambiental a laser da cidade de São Paulo. Outro departamento do Ipen que também recebeu aporte significativo do Programa de Infra-Estrutura foi o de Química e Meio Ambiente, chefiado por Ademar Benevolo Lugão. Durante décadas as suas pesquisas estiveram voltadas para os processos do ciclo do combustível nuclear. Com a mudança da política energética governamental foi preciso buscar novos objetivos de trabalho. A área de diagnósticos ambientais foi considerada prioritária. Agora, com laboratórios totalmente adequados será possível cumprir a tarefa a que se propuseram. Benefícios - O primeiro grupo de laboratórios a se beneficiar do Programa de Infra-Estrutura foi o de Diagnóstico Ambiental. O desenvolvimento das pesquisas exigia reformas das redes hidráulica e elétrica, telhados novos, centrais de gases e cabines de força, pára-raios, sistemas de nobreaks e construção de novas capelas. Em 1996,o laboratório recebeu
realiza pesquisas e forma especialistas
o primeiro aporte de recursos do programa e investiu na melhoria das instalações, o que tornou possível adquirir equipamentos importantes para as novas pesquisas. O antigo laboratório de processo pode se transformar em áreas de tecnologias ambientais para pesquisas de reciclagem, aproveitamento de resíduos industriais, etc. O segundo aporte de recursos favoreceu o grupo de Tecnologia Ambiental, e o terceiro, entre 1999 e 2000, foi usado para criar um terceiro grupo de laboratórios, de Química Atmosférica, coordenado por Luciana Vanni Gatti. Hoje, cem pesquisadores, entre contratados e bolsistas, participam de três grupos de laboratório. «O ganho científico é inquestionável', afirma Lugão. As reformas patrocinadas pelo programa deram suporte a um projeto desenvolvido com a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) de modelamento de bacias hidrográficas, com estudo da qualidade da água para consumo humano e identificação de fontes poluentes. As pesquisas se desdobraram num projeto temático associado ao estudo das condições de dispersão de poluentes em São Paulo e permitiram a associação do grupo com um consórcio internacional, formado pelo Brasil, a Agência Espacial Norteamericana (Nasa) e a Comunidade Econômica Européia, para estudo do impacto do sistema atmosférico da Amazônia nas condições ambientais mundiais. Segundo Lugão, apenas o grupo de laboratórios de Tecnologia Ambiental ainda não apresentou resultados de maior impacto, pois suas reformas são muito recentes. Mesmo assim, estão em curso projetos nas áreas de reciclagem e de novas tecnologias de incineração de resíduos industriais e de desenvolvimento de novos polímeros mais compatíveis com o meio ambiente. E, com apoio da FAPESP e parceria com a USP, estão desenvolvendo projeto para tratamento de todos os resíduos da própria universidade. • 17
• ENGENHARIA
Mais qualidade • com menor risco Escola Politécnica da uSP reforça parcerias estratégicas scolaPolitécnica da Universidade de São Paulo, fundada em 1894, introduziu componentes técnicos e científicos ao conhecimento produzido no país, até então de caráter essencialmente humanista. Ao longo de 107 anos, a Poli tem cumprido com sucesso a missão de criar as bases para o desenvolvimento da indústria nacional. O ritmo de desenvolvimento das pesquisas e a ampliação do número de parcerias, no últimos anos, exigiu a ampliação das instalações e a modernização dos equipamentos de seus diversos laboratórios. Desde 1995, a Poli conta com o apoio do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, para financiar as reformas. O Laboratório de Caracterização Tecnológica (LCT), do Departamento de Engenharia de Minas da Escola Politécnica da USP,é um dos projetos beneficiados pelo programa. Implantado em 1991, seu crescimento se deu de forma desordenada, e em pouco tempo tornou-se necessária a modernização de instalações, rede de informática e equipamentos para atender com qualidade à demanda crescente de serviços, segundo seu coordenador, Henrique Kahn. "O Infra veio numa fase de consolidação não só da infra-estrutura já existente como do próprio grupo, mais amadurecido e reconhecido pela comunidade e com maior atuação junto às empresas e à própria universidade': diz Kahn. Atualmente, o LCT é um centro de excelência em pesquisas de matéria-prima mineral, visando ao aproveitamento de recursos não-renováveis. Seus trabalhos estão voltados para o processamento de amostras,
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Laboratório
de Caracterização
Tecnológica,
microscopia eletrônica e avaliação de materiais, orientação de investimentos em projetos de mineração e resolução de seus problemas tecnológicos. Empresas do porte de grupos como Bunge, Fertifós (Bunge/Cargill), Galvani, Companhia Vale do
da Poli, pesquisa matérias-primas
Rio Doce e Votorantim vêm se beneficiando da qualidade das pesquisas desenvolvidas no laboratório, segundo o seu coordenador, Henrique Kahn. O LCT treina e recicla pesquisadores e técnicos dessas empresas de mineração e oferece cursos perióPESQUISA FAPESP
dicos dentro do campus da universidade. O laboratório também mantém acordo com a Philips holandesa para o treinamento do pessoal de seus clientes brasileiros. Os recursos do programa da FAPESP foram utilizados para sanar problemas de infra-estrutura: fiação em contato com água, cupins, arcondicionado deficiente, inexistência de geradores próprios e de sistemas de estabilização e nobreaks. Os investimentos permitiram modernizar alguns setores e equipamentos como os de microscopia eletrônica de varredura, espectrômetro de raio X por extensão de comprimento de onda, de preparação de amostras e de difratometria de raio X."Se agora temos conforto em fornecimento de energia, instalações claras, bem iluminadas, funcionais e esteticamente adequadas, devemos aos recursos do Infra. Houve uma melhora muito expressiva das condições operacionais, minimizando riscos e aumentando a qualidade de vida de nossos pesquisadores", finaliza Kahn.
ria, com a Debis-Humaitá, subsidiária da Mercedes- Benz, está permitindo o desenvolvimento de instrumentação inteligente para a auto mação industrial. O primeiro aporte do Programa possibilitou a criação de uma área exclusiva para pesquisa dos grupos ligados à área de sensores. Foram
na fora do complexo da Escola Politécnica. O potencial de pesquisas alavancado pelos recursos do Programa de Infra-Estrutura foi fundamental para que o Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos fosse cadastrado no Projeto de Apoio e Desenvolvimento Científico (PADCT), do Con-
Silício poroso - Outro departamento
da Escola Politécnica beneficiado pelo Programa de Infra-Estrutura foi o de Engenharia de Sistemas Eletrônicos. O departamento utiliza a tecnologia de uso do silício poroso em pesquisas e que tem enorme potencial para aplicações em componentes de informática. O silício também é material utilizado no desenvolvimento de uma ampla série de sensores de larga utilização nas áreas petroquímicas e de diagnóstico médico, segundo Francisco Iavier Ramirez-Fernandez, que integra a equipe do departamento. Exemplo disso é o projeto de monitoração da qualidade dos combustíveis, por meio de um "nariz eletrônico" - um senso r que detecta aromas de diferentes gases químicos na composição de- combustíveis. O projeto é apoiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em cooperação com a Petrobras. Outra parcePESQUISA FAPESP
Departamento
de Sistemas Eletrônicos usa tecnologia
construí das bancadas, algumas divisórias e parte do piso. O segundo aporte financiou equipamentos especiais sofisticados, possibilitando o aumento do tempo de trabalho, capacitação de recursos humanos, finalização de programas de pós-graduação e aumento na produção de pesquisas. Para Ramirez-Fernandez, os dois investimentos contribuíram significativamente para o desenvolvimento de cinco grupos de trabalho em cinco laboratórios diferentes: Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), Laboratório de Microeletrônica (LME), Laboratório de Engenharia Biomédica (LEB), Laboratório de Automação Agrícola (LAA) e Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), o único que funcio-
de silício poroso
selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para continuar o desenvolvimento da tecnologia do silício poroso. Permitiu ainda a integração na Rede Cooperativa de Pesquisa de Sensores de Automação Industrial, apoiada pela Finep, para o desenvolvimento dos sensores, e ampliou a interação com outras universidades brasileiras. Desde1995, foram finalizados sete programas de mestrado e três de doutorado. Segundo Rarnirez-Fernandez, o salto de qualidade foi sentido também no aumento de publicações em revistas científicas conceituadas. "A capacitação local permitiu a aceitação do nosso grupo de pesquisa em redes de âmbito nacional e internacional", conclui. • 19
• ENGENHARIA
Do óxido de rosas ao Chanel n° 5 Laboratório de Bioaromas da Unicamp ganha mercado primeiro laboratório de bioaromas do país, inaugurado em 1998, na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, foi totalmente reformado e ampliado com recursos do Infra da FAPESP. "De uma simples 'casinha', onde eram feitas as pesquisas iniciais, surgiu um laboratório com instalações e equipamentos de ponta, que é atualmente referência no Brasile no exterior na produção de aromas naturais a partir da transformação de microrganismos", afirma Gláucia Maria Pastore, chefe do Laboratório de Bioaromas e Carotenóides. As novas instalações permitem o desenvolvimento de pesquisas como a de obtenção do óxido de rosas, base para aromatização de alimentos e cosméticos, como o perfume ChanelS, imortalizado por Marilyn Monroe. Retirado in natura apenas de roseiras da Bulgária e em quantidades muito pequenas, ele é comprado a preço de ouro no mercado internacional. "É um produto tão valioso que empresas alemãs buscam em todo o mundo quem detenha a tecnologia da sua produção': explica Gláucia Maria. O óxido de rosas é obtido a partir de amostras de folhas e frutos nativos, extraído do solo e da água de rios do interior de Alagoas e região do São Francisco. As amostras são incubadas em meio líquido e os microrganismos isolados são inoculados em cascas de laranja, um resíduo geralmente descartado em quantidade no Brasil e que contém limoneno. O resultado é o raríssimo óxido de rosas. O laboratório também produz aromas de queijo, obtidos com fun-
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gos em leite, utilizados em biscoitos, arroz semipronto e outros produtos alimentícios de interesse de empresas brasileiras. Ainda na área alimentícia, são feitos testes de bactérias com função antibiótica para tentar resolver problemas como os de armazenamento de salsichas em geladeiras domésticas. Outra linha de pesquisas, para a caracterização do licopeno, está sendo desenvolvida para a Associação de Produtores de Goiaba. O licopeno tem função anticancerígena e antiradicais livr~s e é encontrado nessa fruta em quantidade e qualidade mais significativas que no tomate. Cooperação - O padrão de qualidade adquirido pelo Laboratório de Bioaromas e Carotenóides possibilitou o estabelecimento de uma linha de
cooperação com a Universidade de Hannover, na Alemanha, que possui laboratório similar, para intercâmbio de alunos e professores. O laboratório também tem parceria com a Universidade de Milão, na Itália, e com a Ohio State University, nos Estados Unidos. O quadro de pesquisadores do laboratório inclui Délia Rodriguez Amaya, considerada a maior especialista do mundo em carotenóides. As suas pesquisas com pigmentos amarelos em frutas e vegetais contam com US$ 1 milhão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os resultados já foram publicados no exterior, divulgados em encontros internacionais e geraram acordo de colaboração com vários organismos e universidades internacionais. •
Engenharia de Alimentos: teste de bactéria com função antibiótica
PESQUISA FAPESP
Um núcleo de excelência no interior de São Paulo Recursos beneficiam laboratórios do Dema, na UFSCar Departamento de Engenharia de Materiais (Dema), do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é reconhecido como Núcleo de Excelência pelo Programa Pronex, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Essa posição foi garantida pela ampliação e racionalização dos laboratórios, aquisição e instalação de equipamento com recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP destinados à área de engenharia. "Foram recursos que dificilmente seriam conseguidos por outros modos, dada a debilidade dos recursos orçamentários das instituições", diz Maurízio Ferrante, que integra a equipe do Dema. O departamento é formado por vários laboratórios em três áreas - Polímeros, Cerâmica e Metais. Todos passaram por reformas para ampliação, recuperação da rede elétrica, instalação de ar-condicionado central, instalação de sistemas de armazenagem, resfriamento e recirculação de água e infra-estrutura operacional de fabricação. A rede elétrica foi planejada de forma a não gerar campo magnético e nem permitir oscilações de energia. A rede antiga foi desmembrada em rede "limpa': destinada a equipamentos de baixa potência, de instrumentação e medida, e a rede "suja': para equipamentos de grande potência e muito ruído, que foram isolados com o novo layout das instalações. Em apenas três anos, o Dema já registrava os efeitos da modernização de suas instalações: praticamente dobraram as teses de mestrado, de 22 para 4l.
O
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PESQUISA FAPESP
Dema é reconhecido como Núcleo de Excelência pelo Pronex, do MCT Nos Laboratórios para Ensino em Cerâmica, foram instalados pisos, bancadas, capelas e sistemas de refrigeração. As reformas permitiram a instalação de equipamentos de grande porte. Ali são realizadas pesquisas com nanoestruturas para aplicação aeroespacial e eletrônica. O laboratório utiliza fornos de altas temperaturas, que queimam a cerca de 2000oC, a vácuo. A instalação desses fornos só foi possível graças às reformas de rede elétrica e de refrigeração. Sem isso, os equipamentos estariam sujeitos a explosões. Controle de energia - No Laboratório de Corte e Moinhos de PÓ foi instalada uma prensa esostática que necessita de controle rígido de energia. Dois aportes de recursos do Infra criaram espaço para a
instalação de equipamentos doados por instituições alemãs no Laboratório de Metalurgia. A instalação de torres de refrigeração e rede elétrica balanceada foi fundamental para o desenvolvimento das pesquisasno Laboratório de Processos Avançados, para o Lab Nano. Ali, um equipamento melt spinning prepara material cerâmico para aplicações aeroespaciais e eletrônicas. O Laboratório de Ensaios Mecânicos teve sua área aumentada. Na Oficina Mecânica do Dema, são produzidos corpos de provas, peças e dispositivos para manutenção de equipamentos de outros laboratórios. Foram adquiridas máquinas com comando numérico programável, dois tornos, duas fresas, uma plaina, duas máquinas de solda, solda plasma e serra de fita. • 21
• ENGENHARIA
Tecnologia a serviço da comunidade Mudanças ampliam as atividades de Divisão do 1PT iSSãO
do centenário Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) é atender a comunidade, empresas e indústrias interessadas ~ na aplicação prática de pesquisas tecnológicas. Ao longo desse período, o IPT construiu uma sólida parceria com a iniciativa privada. Desde 1995, com o apoio do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP, o instituto reformou e modernizou seus laboratórios, o que resultou em mudanças qualitativas no seu padrão de atendimento e relacionamento com o meio externo. Exemplo dessa mudança está na Divisão de Química, Inicialmente, foram beneficiados quatro grandes projetos que abrangiam desde a reforma de rede telefônica até a reforma de cabines de força, construídas ainda na década de 50, conta Marco Giulietti, do Agrupamento de Processos Químicos/Divisão de Química. A partir de 1998, foram contemplados os projetos ligados a laboratórios específicos. Um deles foi o Laboratório de Tecnologia de Partículas, coordenado por Giulietti e Maria Inês Ré, que teve sua área ampliada de 300 m' para 600 rrr'.As novas instalações permitiram instalar equipamentos avaliados em US$ 500 mil, que estavam sem uso ou alocados em outros departamentos. As reformas viabilizaram o desenvolvimento de pesquisa de processos de microencapsulação de perfumes, aromas e produtos veterinários, além de pesquisas de gargalos tecnológicos e de valores a serem agregados a produtos industriais. Estas últimas já geraram duas novas patentes de interesse de empresas nacionais. 22
Laboratório
de Biotecnologia
estuda microrganismos,
"Nos dois últimos anos, após as reformas feitas pelo Infra, nossa atividade simplesmente dobrou e nossa previsão é de alcançarmos US$ 35B mil em 2001", conta Giulietti. Os pesquisadores do Laboratório de Biotecnologia/Divisão de Química do IPT também foram beneficiados. O laboratório realiza, há mais de 20 anos, análises e desenvolvimento de processos que utilizam microrganismos, bactérias, fungos e células animais na transformação de matérias-primas em produtos de interesse da comunidade. Um dos maiores projetos nesta área tem como cliente a Cooperativa de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo Ltda. (Coopersucar). Segundo Elizabeth de Fátima Pires Augusto, doo Agrupamento de Biotecnologia, a verba do Programa foi utilizada para adequar os laboratóri-
bactérias e fungos
os às exigências de manipulação de microrganismos patogênicos. "Sem essa certificação não há possibilidade de receber verbas federais,como as do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep )", explica. Os recursos Infra cobriram cerca de 80% das despesas realizadas. O próprio IPT bancou o restante. O prédio Tokio Morita dos Laboratórios de Análises Químicas Orgânicas e Inorgânicas, da Divisão de Química do IPT, também contou com recursos do Infra para modernizar suas instalações. Realiza hoje cerca de 300 análises de amostras por mês, com possibilidade de ampliar esseatendimento. Antes das reformas era um local com sérios problemas operacionais e de segurança de trabalho. A reforma atendeu às normas de segurança exigi das pelo Ministério do PESQUISA FAPESP
Trabalho, de forma a evitar contaminação por gases químicos, substâncias corrosivas e acidentes pessoais com membros da equipe, explica a prof= Regina Nagamine, chefe do Agrupamento de Materiais Inorgânicos. Foram substituídos os equipamentos de ar-condicionado, a torre de resfriamento muito antiga e foi instalado sistema de detecção e alarme de incêndio. Também foram reformadas as caldeiras e instalações elétricas. "O maior beneficiado foi o cliente do IPT", concluiu Regina. Gás halon - No Laboratório de Segurança ao Fogo, da Divisão de Engenharia Civil (DEC), do IPT, as pesquisas têm como foco a prevenção e proteção de incêndios em edificações, resistência de materiais à combustão e pesquisas de extinção de incêndios. Não existe no país outro similar, garante Rosária Ono, da equipe do Laboratório. Parte da equipe pesquisa alternativas ao uso do gás halon em sistemas de prevenção e combate a incêndio em centrais telefônicas e centros de processamentos de dados (CPDs), locais onde o fogo não pode ser debelado com utilização de água. Esse gás, no entanto, é prejudicial à camada de ozônio. A necessidade de proteção ambiental e de observância a protocolos internacionais de segurança levou concessionárias de telefonia, como a Telefônica e a BCP, a Companhia da Saneamento Básicode São Paulo (Sabesp) e outras empresas estatais e privadas a buscar soluções alternativas ao uso do halon. Segundo Rosária, já existem várias soluções desenvolvidas e utilizadas no exterior. A idéia inicial era testá-Ias aqui, mas o grande empecilho era a falta de condições do laboratório. Para resolver essa questão, um galpão abandonado foi reformado. O equipamento básico das pesquisas são duas câmaras em escala real, resistentes a grandes alterações de temperatura, com sistema de exaustão, para ensaios e testes de materiais de construção e de extinção de incêndio. • PESQUISA FAPESP
Decifrando o código de proteínas LNLS busca a chave para o desenho de novos fármacos Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) é um centro de pesquisas multidisciplinares que possui a única fonte de Luz Síncrotron no Hemisfério Sul. A Luz Síncrotron é de altíssima velocidade e abrange o infravermelho, o ultravioleta e os raios X. Desde 1987, o LNLSjá realizou 800 projetos científicos, sendo 221 em cristalografia de proteinas. Em 1998,ampliou sua atuação na área de biologia molecular implantando o Centro de Biologia Molecular Estrutural (CBME). O CMBE tem papel estratégico no desenvolvimento de estudos funcionais dos genes seqüenciados. Ali estão instalados dois espectômetros de ressonância nuclear magnética (RNM), além de laboratórios decristalografia com raios X, que permitem a elucidação da estrutura das proteínas expressas por esses genes, chave para o desenho racional de drogas inibidoras de processos patológicos. Coordenado por Rogério Meneghini, integra o Centro de Biologia Molecular Estrutural, um dos
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LNLS: a única fonte de Luz Síncrotron no
dez Cepids mantidos pela FAPESP. Está instalado numa área de 3 mil rrr', distribuídos em dois andares de um prédio construído pelo próprio LNLS, que recebeu recursos da FAPESP para a montagem de toda a infra-estrutura necessária ao seu funcionamento. Proteínas - A tecnologia Luz Síncrotron já permitiu definir a estrutura tridimensional de 15 proteínas nestes últimos dois anos, entre elas estão a do DNA de células cancerígenas, a proteína X da hepatite B e as proteínas da malária e doença de Chagas. De acordo com Meneghini, a definição das estruturas dessas proteínas permite desenhar e definir as características da substância química mais adequada para servir de base para a confecção de medicamentos que possam segurar o avanço das doenças a elas relacionadas. Um conhecimento de grande importância, já que mais de 50% dos remédios empregados atualmente agem como inibidores de proteínas. As instalações do CBME foram concebidas dentro das mais rígidas regras de segurança, limpeza, layout e qualidade das instalações. "A estrutura montada com recursos do Infra, mais estimulante e motivadora, vai permitir que a equipe do Centro, hoje com 42 pessoas, dobre em doia anos;' Hemisfério Sul diz Meneghini. • 23
• QUíMICA ,
Investimentos colocam o risco sob controle Laboratórios reorganizam suas áreas de pesquisa m 1988, uma reação de hidrogenação provocou um incêndio no Laboratório de Síntese do Departamento de Química do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ferindo gravemente um aluno e um técnico. Oito anos depois, foi a vez de um dos laboratórios do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). Esses são apenas dois exemplos dos acidentes ocorridos em laboratórios paulistas. Problemas nas instalações elétricas, inadequação das redes às necessidades dos equipamentos, falta de manutenção e de um sistema adequado de exaustão eram responsáveis por incêndios, explosões, queimaduras e intoxicações que, além de colocar em risco pesquisadores e alunos, comprometiam o desenvolvimento das pesquisas e resultavam em graves prejuízos aos laboratórios das universidades paulistas. A partir de 1995, os laboLaboratório de Produtos Naturais, da Unicamp ratórios de química da USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estamotivação para o trabalho e a qualidual Paulista (Unesp) e da UFSCar e dade da formação dos alunos. As de outros institutos de pesquisa pesquisas ganharam competitividade paulistas, puderam contar com R$ e prêmios importantes. Também cres37,8 milhões do Programa de Infraceu o número de publicações de arEstrutura da FAPESP para financiar tigos e de pedidos de novas patentes. reformas e modernizar instalações O Programa de Infra-Estrutura propostas em 262 projetos, de forma a estabeleceu condições mais seguras viabilizar pesquisas de ponta. A mede trabalho. No caso do Laboratório lhoria das instalações aumentou a de Síntese Orgânica e Cromatografia
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Líquida de Alta Eficiência (CLAE), do Departamento de Química da UFSCar, foi possível até criar uma Sala de Reações Perigosas de uso comum de todo o Departamento de Química, conta Quezia Bezerra Casso Queda de energia - "Antes
das reformas, estava difícil trabalhar já que chovia nos equipamentos", lembra Walter Colli, duas vezes diretor do Instituto de Química (IQ) da USP, em São Paulo. As quedas freqüentes de energia queimavam lâmpadas de aparelhos e peças importadas que muitas vezes demoravam de três a quatro meses para serem substituídas. "Num único fim de semana, chegamos a perder US$ 30 mil em produtos químicos destinados às experiências que estavam estocados num freezer, queimado numa dessas quedas de energia." As . bancadas de madeira, feitas artesanalmente há 30 anos, estavam corroídas por cupins. Uma delas, ele revela, ruiu durante uma das experiências. As condições das instalações hidráulicas não eram melhores: dos canos entupidos e enferrujados jorrava "água marrom" que servia os laboratórios, exigindo uma tripla destilação para torná-Ia usável. "A pesquisa científica, que sempre foi de alto nível no IQ-USP, estava sendo prejudicada pela falta de infra-estrutura. Sem o auxílio da FAPESP não poderíaPESQUISA FAPESP
Á
mos, por exemplo, estar abrigando hoje grupos do Projeto Genoma. Não tínhamos condições assépticas, nem estrutura hidráulica e estabilidade elétrica para permitir o funcionamento dos sensíveis seqüenciadores de DNA", afirma. Os recursos do Infra garantiram ao Instituto de Química da Unicamp um salto de qualidade em pesquisa e a possibilidade de trabalhar com equipamentos de última geração, diz Anita Jocelyne Marsaioli. O seu grupo, formado por 24 professores e cerca de cem alunos, passou a contar com um espectômetro de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) no desenvolvimento das pesquisas, a partir de 1996. O equipamento era a última palavra em espectômetros e permitiu, entre outras coisas, a ampliação de pesquisas em ressonância, estudos de difusão por RMN, determinações estruturais de amostras de menos de um miligrama e RMN de Carbono 13. Em dois anos, cada professor do grupo chegou a publicar entre cinco e sete trabalhos, além das teses associadas dos alunos de pós-graduação. Na mesma universidade, o Infra patrocinou, em 1999, as reformas no Laboratório de Eletroquímica e Eletroanálise para Desenvolvimento de Sensores. Segundo Lauro Tatsuo Kubota, elas contribuíram para que o número de orientandos crescesse de um patamar de 6 a 8 para até 16 alunos. Isso sem falar na melhoria da qualidade e aceleração do ritmo das pesquisas com diferentes tipos de biossensores que têm aplicação na detecção de microrganismos, de glutationa-peroxidase (avaliação de níveis de estresse) e de compostos fenólicos em efluentes. O laboratório já gerou cinco pedidos de patentes de biossensores no Brasil. Na avaliação de Luiz Otávio de Souza Bulhões, do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec), daUFSCar, "o Infra permitiu o crescimento e a reorganização do trabalho acadêmico e de pesquisa aplicada nos institutos de Química': • PESQUISA FAPESP
Pesquisa atrai interesse de empresas privadas Instituto de Química da USP aposta no futuro riado em 1970, o Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP/SP) sempre foi uma referência científica. "Com o passar do tempo, muitos equipamentos e toda a estrutura física, elétrica e hidráulica dos antigos laboratórios foram se deteriorando': lembra Paulo Sérgio Santos, atual diretor do IQ. Cupins, falta de exaustão adequada, sobrecarga elétrica, quedas de força e contaminação de ambiente laboratorial comprometiam os experimentos e a saúde dos pesquisadores, e a estrutura saturada impedia a aquisição de equipamentos mais modernos. O IQ recursos do Programa de Infra-Estrutura da FA-
C
Reformas permitiram
PESP para reformar e ampliar os laboratórios. Hoje, o instituto reúne 80 grupos de pesquisadores em 50 laboratórios, distribuídos por 13 blocos, e conta com o apoio de uma Central Analítica onde estão grandes equipamentos, como os de ressonância magnética nuclear e de espectometria de massas de uso comum. Esses equipamentos também são utilizados na prestação de serviços para as comunidades interna e externa à instituição. "A ciência evolui rapidamente e os equipamentos e instalações podem ficar ultrapassadas em pouco tempo': comenta Santos. A renovação da infraestrutura de pesquisa exige, no entanto, muito dinheiro. Por isso, muitas indústrias desativaram seus labora-
a instalação de novos laboratórios
no 10 da USP
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• QUíMICA
Vanguarda da pesquisa Unicamp conquista espaço s recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP financiaram as reformas e a . modernização dos laboratórios do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os investimentos, num total R$ 5,340 milhões, garantiram condições adequadas para o desenvolvimento do ensino e de pesquisas importantes com aplicações nas áreas de meio ambiente, telecomunicações e medicina, entre outras. O Laboratório de Química do Estado Sólido, por exemplo, conta com uma área de pesquisa totalmente modernizada. Suas instalações estão equipadas com pias de inox, armários embaixo das bancadas com rodízios para facilitar o acesso à rede hidráulica e elétrica, bancadas ergonômicas, linhas de gases e encanamentos padronizados e sala com temperatura e umidade controladas. A parte elétrica recebeu uma atenção especial, já que as pesquisas utilizam fornos de até 1700°C para fusão de vidros e cerâmicas especiais. "Precisávamos de linha elétrica específica (de 50KVA), independente da usada para os computadores, e equipamentos eletrônicos mais sensíveis", relata o coordenador do laboratório, Oswaldo Luiz Alves. Havia, ainda, a necessidade de realocar esses fornos instalados num laboratório de ensino, e que por isso só podiam ser usados à noite, nos finais de semana ou em horários não ocupados pelos alunos, e garantir que eles operassem de acordo com padrões de seguranças. "Trabalhamos com óxidos de enxofre e gás sulfídrico que podem
o Instituto de Química da USP é referência científica em todo o país
tórios e buscaram soluções para problemas e novas tecnologias em centros de pesquisa como o do IQ. Santos cita como exemplo o sistema de conversão de energia solar em energia elétrica desenvolvido no Laboratório de Fotoquímica, já em fase de negociação de patente e que tem despertado interesse de empresas multinacionais. Também tem despertado interesse das empresas as pesquisas que estudam a relação entre estruturas moleculares e atividades biológicas de moléculas, realizadas no Laboratório de Espectometria Molecular e que poderão ajudar no estudo do diabetes e mal de Alzheimer. Análises clínicas - Os recursos do Infra permitiram também que a pesquisadora Marina Franco Maggi Tavares instalasse o Laboratório de Cromatografia e Eletroforese Capilar (Lace), há dois anos. Desde então, sua equipe trabalha no desenvolvimento de novos métodos de análises clínicas, como o de hemoglobina glicada, que permite avaliar, por um período de dois a três meses, o tratamento de um diabético . Na linha de pesquisa em alimentação, as suas análises estão utilizando eletroforese capilar para propor novas técnicas de análise de leites, achocolatados e cereais. 26
Uma das áreas de maior investimento no laboratório é a de desenvolvimento de métodos para análise de compostos e produtos fitoterápicos e cosméticos, para atender a uma necessidade de monitoramento e normatização da Vigilância Sanitária. "As excelentes condições de trabalho no Lace permitiram que, no primeiro semestre de 2001, ele fosse o único laboratório considerado apto pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos do Ministério da Saúde para analisar impurezas em remédios genéricos para Aids, distribuídos gratuitamente em postos de saúde", diz. No Laboratório de Química de Produtos Naturais, a necessidade de salas assépticas sem vírus ou bactérias era fundamental para as pesquisas com cultura de tecidos vegetais. "Antes das reformas não podíamos realizar nosso trabalho adequadamente nem integrar programas como o BiotaFAPESP': conta Paulo Moreno. Agora é possível realizar pesquisas de identificação de plantas e isolamento de substâncias químicas de interesse, como taxol, quinino, etc. Essas linhas de pesquisa são importantes já que 25% dos medicamentos existentes no mercado são feitos a partir de plantas ou de seus derivados com bioatividade. •
PESQUISA FAPESP
causar reações alérgicas e até sério comprometimento do aparelho respiratório", justifica Alves. A instalação de capelas com fluxo laminar veio proporcionar a exaustão necessária. Após as reformas, várias pesquisas importantes puderam ser realizadas nesse laboratório que, hoje, integra o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica, um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) mantidos pela FAPESP. O laboratório estuda, por exemplo, o desenvolvimento de materiais porosos para retirada de corantes que são descartados nos efluentes por empresas de tingimento de tecido, e que podem comprometer o ambiente, e tecnologias de depósito de películas sobre substratos vítreos (filmes finos), que podem ser usados como sensores para gases de poluição em situações industriais. Pesquisa também a utilização de partículas nanométricas que dão ao vidro propriedades ópticas não lineares ou efeitos quânticos, de utilização em telecomunicações rápidas. "Além do aumento de motivação, o Infra proporcionou à equipe um laboratório de padrão internacional aumentaram a nossa competitividade em relação a outras universidades e despertar o interesse de pesquisadores estrangeiros", afirma Alves.
criavam, muitas vezes, situações embaraçosas. Numa área de apenas 50m2, pesquisadores e alunos se revezavam num único espectômetro. Hoje, com uma área quase cinco vezes maior, de 240m2, utilizada só para pesquisas e um novo laboratório totalmente estruturado, a equipe pode se dedicar ao desenvolvimento e aplicação de novas técnicas para resolução de problemas analíticos de poluentes em água, solo e ar e de existência de metabólitos em fluidos biológicos, apenas para citar alguns exemplos. A infra-estrutura adequada possibilitou a instalação do primeiro espectômetro concebido para ser um pentaquadrupolar (acopla espectômetros de massas de triplo estágio - três análises de mas-
Área maior - O Programa
também beneficiou alunos e pesquisadores do Laboratório Thomson de espectometria de massas do IQ-Unicamp. O seu coordenador, Marcos Nogueira Eberlin, lembra que, antes das reformas, as condições de trabalho PESQUISA FAPESP
Espectometria de Massa teve área ampliada
sas). Trata-se de um aparelho mais sensível, que permite multiplicar a potencialidade de uso do equipamento e realizar uma maior quantidade de experimentos, explica Eberlin. "Pudemos sair na frente na pesquisa básica de mecanismos de reações. Hoje, desenvolvemos novas técnicas para determinação da homocisteína - aminoácido no sangue -, que pode substituir com vantagens as tradicionais dosagens de colesterol", conta Eberlin. A equipe também está pesquisando novas técnicas de monitoração de reações químicas em meio aquoso (análise de compostos orgânicos em água). O laboratório mantém parcerias com várias universidades de São Paulo e de outros Estados e cooperação com grupos de pesquisas da Dinamarca, Finlândia e Estados Unidos. Junto com a Universidade de Purdue, em Indiana (EUA), por exemplo, es- . tão sendo realizados trabalhos com biomoléculas, baseados na descoberta de processo de seleção natural de aminoácidos quirais. O Laboratório de Produtos Naturais, Síntese e Isolamento, onde trabalham cinco professores, não passava por reformas desde sua construção, em 1972. Segundo Anita Iocelyne Marsaioli, só a alvenaria estava intacta. Os recursos do Programa de Infra-Estrutura permitiram a reforma de suas instalações, numa área de 300 m', e o desenvolvimento de pesquisas importantes. "Uma de nossas alunas de pós-doutoramento recebeu recentemente menção honrosa do prêmio Mário Covas por suas pesquisas de filtro solar com ação anticâncer in vitro", revela Anita. • 27
• QUíMICA
Investigação estratégica, • • parcerias promissoras Pesquisas deslancham na área de Química da UFSCar m1989, o Departamento de Química do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com graves problemas de espaço físico, firmou um convênio com empresas privadas, o que possibilitou a aquisição da área atual. As novas instalações permitiram alavancar financiamentos importantes, mas os novos projetos ampliaram as demandas de pesquisa e acabaram por sobrecarregar a infra-estrutura. "Nossos encanamentos entupiam, os disjuntores caíam, a fiação pegava fogo. E não havia recursos da União para solucionar esses problemas", conta o professor Luiz Otávio de Souza Bulhões, do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (Liec). Os recursos do Programa financiaram a modernização dos laboratórios e garantiram a expansão de pesquisa de ponta. O Liec, por exemplo, desenvolve atualmente tecnologia para utilização de grafite na baterias de celulares, em parceria com a Empresa Nacional de Grafite. A modernização da infra-estrutura também teve contribuição decisiva para o desenvolvimento de pesquisas na área de cerâmica. O setor utiliza fornos especiais, que atingem até 1600 °C, e equipamentos de defração de raios X com tubos de emissão que operam com 15KVA. "Com recursos do primeiro Infra refizemos a rede elétrica e todo o cabeamento. Trocamos transformadores, adequamos o sistema de exaustão, solucionamos os problemas do primeiro raio X e pudemos construir uma sala adequada e com condições de salu-
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Novas instalações e mais segurança nas pesquisas da área de Cerâmica
bridade para os fornos de altas temperaturas que eliminam gases com eventuais traços de metais pesados", explica Bulhões. O programa também financiou a instalação de sistema de pára-raios e aterramento e a reforma da parte hidráulica. Depois das reformas, afirma Bulhões, o números de alunos dobrou e a produção acadêmica aumentou significativamente. O suporte de Infra-Estrutura permitiu ao Liec sediar o Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos, dirigido pelo professor Elson Longo da Silva, um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão(Cepids) mantidos pela FAPESP. O aporte do Programa de Infra-Estrutura, aliado a um financiamento de cerca de R$ 1 milhão do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), do Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT), possibilitou a compra de acessórios sofisticados para melhorar a performance dos equipamentos já existentes. Com isso deslancharam, por exemplo, as pesquisas sobre corrosão de refratários que permitiram alterar os tipos de proteção usados nesses materiais. Também foi possível criar o refratário magnésia carbono, muito usado na indústria siderúrgica em carros-torpedo para o transporte do gusa do alto-forno até o conversor e em panelas para o tratamento final do aço. O principal cliente é a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Para Elson Longo, do Liec, outro grande impacto das melhorias foi permitir a realização de pesquisas em nanotecnologia para criação de nanossensores de detecção de umidade, incêndio ou temperaturas de corpos, para uso em alarmes. As rePESQUISA FAPESP
formas também permitiram o desenvolvimento de tecnologia de adição de oxigênio na temperatura de 500°C a 900°C durante a queima para a produção de cerâmicas mais brancas, sem defeitos ou pontos escuros, causados pela queima inadequada do material orgânico que compõe a sua massa. No laboratório de Síntese Orgânica e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (Clae), os recursos do programa financiaram a montagem de um laboratório com condições de segurança, dotado de chuveiros, escadas e portas de saídas rápidas para emergências, bancadas com tampo de granito, sistema de exaustão, etc. Com as reformas, as pesquisas deslancharam. "Desenvolvemos tecnologia para análise de fluidos biológicos como plasma, urina, saliva e para separação de compostos ópticos" explica Quezia Bezerra Cass.O laboratório realiza,ainda, estudos farmacocinéticos e metabólicos de disposição de drogas no organismo humano. Na avaliação de Massami Yanashiro, do Clae, o programa contribuiu para diminuir a insalubridade no trabalho e trouxe tranqüilidade para o desenvolvimento de suas pesquisas de síntese de feronômios, compostos exalados por insetos para atrair companheiros para o acasalamento, que podem ser utilizados no controle de pragas em culturas como as de milho e café. Os recursos do Infra também beneficiaram os pesquisadores do L~boratório de Cinética e Aluminiscência. ''A falta de condições me fez interromper pesquisas durante três a quatro anos", conta Edward Ralf Dóckal. Hoje, com a reforma e a padronização de acordo com normas de segurança, não existem mais os riscos de intoxicações do passado. Suas pesquisas envolvem sínteses de produtos inorgânicos como reações catalíticas - oxidação de álcool, de compostos de enxofre - e pesquisas de química analítica com biossensores para determinação de presença de substâncias como ácido ascórbico, peróxidos e fenóis. • PESQUISA
FAPESP
Apoio estratégico para a indústria nacional USP de São Carlos investe em energias alternativas Instituto de Química . da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, desenvolve pesquisas de ponta com energias alternativas, polímeros condutores para aplicação aeroespacial e tratamento de resíduos, entre outras investigações de interesse estratégico para a indústria nacional. A modernização dos laboratórios foi financiada com recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. Os investimentos contribuíram para a reforma e ampliação das áreas de pesquisa. O novo laboratório do Grupo de Eletroquímica, por exemplo, ocupa atualmente o antigo pré-
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Destiladores de resíduos no LEI
dio da oficina mecânica do Instituto de Química. Ali, seis professores coordenam as pesquisas com energias alternativas com células a combustível, dispositivos eletroquímicos para converter energia química em energia elétrica. As novas instalações vão permitir, por exemplo, a expansão das áreas de testes de protótipo com células a hidrogênio, conhecidas como células a combustível de eletrólito polímero sólido, foco de interesse do grupo, como explica Francisco Carlos Nart. "Com a nova estrutura pretendemos desenvolver protótipos de 2kW(quilowatt), capazes de mover pequenos veículos, como os utilizados em campos de futebol para transporte de jogadores machucados", prevê. O Laboratório de Eletroquímica Interfacial (LEI), outra área de pesquisa do Instituto de Química, também foi beneficiado. Lá são realizadas pesquisas para o desenvolvimento de polímeros condutores para aplicação aeroespacial, de interesse do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e da Embraer. O uso desses polímeros condutores envolve ainda a preocupação com a proteção à corrosão, que pode ocorrer em outros tipos de condutores, explica Arthur de Jesus Motheo, da equipe do laboratório. Esses estudos já renderam um recente pedido de patente, em novembro de 2001. O LEI também desenvolve pesquisas na área de eletroquímica ambiental, com degradação de resíduos em efluentes. • 29
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Instituto apóia políticas públicas municipais IQ da Unesp, em Araraquara, diversifica pesquisas No Laboratório de Materiais FoXPansão atual do Instituto de nova fábrica na cidade de Gavião Peixoto. tônicos, o programa criou condiQuímica (IQ), da Unesp de Paralosé Arana Varela, do Laboções para a instalação de uma torre de Araraquara e sua crescenextensão de fibras ópticas da Telebrás, ratório de Síntese de Processamente participação em importo Cerâmico e do Centro Multidisúnica na América Latina. Com isso tantes projetos científifoi possível fechar um convênio com cos estão diretamente relacionadas ciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos, um dos a Ericsson para desenvolvimento de com as reformas realizadas com reCepids mantidos pela FAPESP, o novas fibras ópticas. cursos do Programa de Infra-EstruInfra contribuiu significativamente Também no Laboratório de tura da FAPESP. "O Infra está em Química Ambiental, as melhores para o desenvolvimento da pesquisa toda a instituição': diz a professora básica. ''A construção de uma sala limcondições de trabalho ampliaram Elizabeth Berwerth Stucci, diretora pa com boa exaustão, ar-condicioa interação com prefeituras, para do IQ. OS recursos financiaram renado e fluxo de ar filtrado nos percontrole e monitoramento de usiformas das redes elétricas, hidráulicas mitiu deslanchar pesquisas com nas de compostagem de lixo, e com e de sistemas de segurança. "A mefilmes finos e estudos de nanomateempresas como a Embraer, para alho ria de qualidade de nossas pesquiriais", diz ele. "A nova estrutura de companhamento e avaliação dos sas nos permitiu pleitear a participatrabalho alavancou pesquisas de mananciais da área de instalação da ção no Cepid, junto com o Centro ponta e vai possibilitar a Multidisciplinar para o Demelhoria de atendimento às senvolvimento de Materiais necessidades de empresas Cerâmicos da UFSCar. E para abrigá-lo, a universidade já de porte como a Companhia Siderúrgica Nacional está construindo um terceiro (CSN) e White Martins", prédio", conta Elizabeth. A conclui Varela. modernização dos laboratórios possibilitou a participaVidraria - A Vidraria da ção dos pesquisadores no Unesp, única na região, projeto de seqüenciamento também recebeu verbas para do Genoma Xanthomonas e no Programa Biota-FAPESP. reformas no sistema de exaustão, de vital importânA nova estrutura possibicia para a atividade. "Nossos litou também ao IQ participar vidreiros trabalham com sído CT-Petro, um programa nacional gerenciado pela Finanlica e maçaricos, em altas temperaturas e muito próciadora de Estudos e Projetos ximo das partículas de sílica (Finep) que investiga novas que podem causar problemetodologias de análise da mas de saúde", explica Anqualidade dos combustíveis, e tônio Eduardo Mauro, coainda manter um Centro de ordenador. Outra melhoria Monitoramento e Pesquisa da Qualidade de Combustível, em proporcionada pela reforma foi a construção de uma caconvênio com a Fundunesp e pela, anexa à oficina, para a Agência Nacional do Petróleo 'uso de gravação em vidros (ANP) para monitoramento de 1.340 postos de abastecique exige a manipulação de Melhores condições de trabalho na vidraria da Unesp solventes tóxicos. • mento no Estado.
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A arte de proteger o ensino e o patrimônio Melhoria das instalações alavancam institutos paulistas
Laboratório de fotografia da: FAU ganhou sistema de iluminação, de exaustão e aparelhos de ar-condicionado Instituto de Artes (IA) da Unesp, em São Paulo, está entre as melhores escolas brasileiras que oferecem curso de graduação e pós-graduação em música, artes plásticas e educação artística. "Há seis anos, éramos o terceiro mundo da universidade': lembra Iohn Boudler, professor titular do Departamento de Música. A partir de 1995,recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP,equivalentes "à receita de custeio de dois anos", na comparação de Boudler, permitiram a reconstrução da biblioteca e do auditório, melhorando substancialmente
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as condições de ensino. "O antigo auditório não tinha tratamento acústico e sonoro, refrigeração e sequer banheiro': ele conta. Com o apoio do programa também foi possível implantar uma rede de informática. As reformas das instalações, encerradas em 1997, tiveram reflexona procura pelos cursos oferecidos pelo instituto, que conta, atualmente, com 600 matrículas no conjunto dos cursos. "Agora é hora de reestruturar o instituto", afirma Boudler. Os recursos do Programa de Infra-Estrutura para 142 projetos na área de Ciências Humanas e Sociais beneficiaram também o Insti-
tuto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo (USP). O IEB reúne importantes documentos sobre a história do pensamento brasileiro. Integram seu acervo obras raras, como o Incunábulo, um livro composto no século 15, e seus arquivos reúnem manuscritos e fotos de grandes personagens da cultura brasileira como Graciliano Ramos, Mário de Andrade ou Guimarães Rosa. Isso sem falar nas coleções de intelectuais como lan de Almeida Prado e do historiador carioca Alberto Lamego. Hoje, essa documentação está preservada com segurança e, ao mesmo 31
• HUMANIDADES
Auditório do Instituto de Artes, da Unesp, tem tratamento acústico e sonoro tempo, acessível ao público. No entanto, antes das reformas e modernização das instalações propiciadas pelo Infra, as condições precárias das instalações do IEB representavam uma ameaça a esse patrimônio. Não existia, por exemplo, nenhuma forma de proteção contra incêndio. Apenas a biblioteca contava com ar-condicionado. O sistema elétrico do prédio era gerido por centrais de força distintas, o que dificultava o controle da carga e aumentava o risco de sinistros fatais. As reformas e a melhoria das instalações do prédio foram realizadas com recursos do Programa de Infra-Estrutura da FAPESP. "O Infra foi a solução", sintetiza Marta Rossetti Batista, pesquisadora de História da Arte do 1EB.No caso das áreas de arquivo do instituto, optou-se por um sistema de proteção contra incêndio à base de gás carbônico - já que nesse tipo de documentação a água pode causar tanto estrago quanto o fogo, destruindo todo o material. No arquivo também foi instalado sistema de ar-condicionado e construída uma central de energia elétrica própria, independente da dos demais departamentos e ainda mais potente. O programa financiou a construção de cabines 32
especiais para consultas por meio de microfilmes e computadores, o que facilitou o acesso dos pesquisadores e alunos aos documentos que integram o seu acervo. Os recursos do Infra financiaram, ainda, a troca do mobiliário, a compra de servidores e computadores e a montagem de uma rede de informática. A coleção de artes visuais ganhou um sistema de climatização com ar-condicionado e umidificadores para a conservação das obras, além de nova fiação elétrica e iluminação adequada. As reformas do espaço da biblioteca, que será reaberta ao público este mês, aumentaram a área disponível para guardar um número maior de coleções. "Hoje o IEB está totalmente equipado': garante Marta. A consolidação de uma boa infra-estrutura aumentou o fluxo de consultas nos arquivos e mudou os processos de trabalho. "Foi preciso organizar e metodizar o material de forma a atender melhor e com mais recursos", explica Marta. O apoio do Infra também foi fundamental para a consolidação e expansão do Laboratório de Recursos Áudio Visuais (LRAV) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da USP. O antigo LRAV,criado em 1975, reunia laboratório de
fotografia de uso dos alunos e outro para a prestação de serviços. No início da década de 90, com a ampliação da área de pesquisa de História e do número de bolsistas, fez-se necessário implantar um terceiro laboratório, para uso exclusivo da pós-graduação, com equipamentos mais sofisticados e, conseqüentemente, mais caros, adquiridos com recursos da FAPESP. Mas a única área disponível estava no porão no prédio principal da FAU, e todo o LRAV acabou sendo transferido para um prédio anexo. "As insta1ações eram péssimas e impossibilitavam o trabalho': lembra Nestor Goulart Reis Filho, do Departamento de História da Arquitetura da faculdade. O laboratório não tinha sistema de exaustão de ar para dar vazão aos vapores químicos que exalavam das áreas de revelação de fotos e a cabine de revelação de filmes estava instalada numa sala com janela iluminada, voltada para os jardins da FAU. A área era contígua à oficina da faculdade, onde operavam serras elétricas. O barulho era ensurdecedor e as paredes, de gesso, vibravam perigosamente. E mais: voltado para a face poente, o calor do laboratório era insuportável. "Com os recursos do Infra substituímos o forro por outro, desta vez acústico, adequamos o sistema de iluminação, colocamos persianas, instalamos sistemas de exaustão e ar-condicionado, reformamos o sistema hidráulico e ainda vedamos as salas de forma a melhorar as condições de instalação dos equipamentos': conta Goulart. Para maior segurança de alunos, pesquisadores e do patrimônio, foram instalados detectores de fumaça, sistema de vigilância eletrônica e grades. As reformas permitiram, por exemplo, colocar em operação um equipamento de revelação em cores que estava inoperante. As reformas, ele diz, inauguraram uma nova fase de trabalho no laboratório de pesquisa histórica. • PESQUISA
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FAPESP N째 72, DE FEVEREIRO
DE 2002
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DE ALMEIDA
- FOTO EDUARDO
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