Prêmio FCW 2009

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Especial

prêmio

fcw fundação conrado wessel

Os vencedores do prêmio conrado wessel de arte, ciência e cultura 2009


Conselho c ura d o r e di reto r ia d a F C W

conselho curador Presidente Dr. Antonio Bias Bueno Guillon Membros Dr. José Álvaro Fioravanti Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto Dr. José Hermílio Curado Capitão PM Kleber Danúbio Alencar Júnior Dr. Reinaldo Antonio Nahas Prof. Stefan Graf Von Galen

diretoria executiva Diretor Presidente Dr. Américo Fialdini Júnior Diretor Vice-Presidente Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese

superintendente Dr. José Moscogliatto Caricatti Coordenador Científico Dr. Erney Plessmann de Camargo Coordenador Cultural Dr. Carlos Vogt

coordenação desta edição Dr. José Moscogliatto Caricatti

F u n d a ç ã o Con ra do Wessel Rua Pará, 50 - 15º andar Higienópolis - 01243-020 São Paulo, SP - Brasil Tel./fax: 11 3237-2590 www.fcw.org.br diretoria@fcw.org.br


índice

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Como Conrado Wessel desenvolveu um novo papel fotográfico no Brasil Fundação continua trabalhando para melhorar normas que regem a premiação

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A homenagem aos vencedores na Sala São Paulo

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as fotos das páginas 5-7, 14, 16-19 e capa são de autoria dos fotógrafos fernando silveira, pedro vertulli e polini prizmic

FCW se torna referência no apoio à ciência, arte e cultura no Brasil

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Talento, sorte e superação marcam a trajetória do bioquímico Jerson Lima da Silva

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João Fernando Gomes de Oliveira transita entre cálculos matemáticos e notas musicais

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Ricardo Pasquini, hematologista, foi o pioneiro dos transplantes de medula óssea no Brasil

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Antonio Nóbrega busca na música e na dança a essência da identidade brasileira Veja as fotos que ganharam o Prêmio FCW de Arte As instituições parceiras da fundação e o júri responsável pela seleção


Investimento no futuro Fundação Conrado Wessel se torna referência no apoio à ciência, arte e cultura no Brasil

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Fundação Conrado Wessel (FCW) é uma instituição cujas bases foram criadas no século XX, em 1994, mas começou a atuar no século XXI, sempre investindo no futuro. De 2002 a 2009, a FCW distribuiu mais de R$ 8,5 milhões de prêmios à arte, à ciência e à cultura, concedeu 12 bolsas complementares de pós-doutorado no exterior para pesquisadores e financia uma de graduação nos Estados Unidos. Apoia com doações anuais cinco instituições fixas – determinadas pelo seu estatuto – e 31 entidades escolhidas conjuntamente com o Ministério Público. Até este ano foram atendidas 13.233 famílias. A solidez e seriedade já se tornaram marcas notórias da fundação, sempre de acordo com os propósitos de Ubaldo Conrado Augusto Wessel, seu instituidor. Os objetivos do fotógrafo, inventor e empresário Wessel se concentraram em duas vertentes complementares.A primeira era fazer “aporte de recursos para utilização educativa, cultural e científica”, mediante doa­ções. Para isso, a fundação recebeu uma relação de entidades definidas pelo próprio fundador, por meio das quais ela destina anualmente os recursos à educação e à formação cultural e científica. São elas: Aldeias Infantis SOS do Brasil, Associação Benjamin Constant, Cor­po de Bombeiros da Polícia Militar, Exér­cito de Salvação, Fundação Antonio Prudente. As demais entidades são escolhidas pela diretoria da fundação e in­ dicadas pe­lo Ministério Público do Estado de São Paulo. A outra meta de Conrado Wessel era incentivar a arte, a ciência e a cultura, com prêmios. Foram criados, então, os Prêmios FCW, além de multiplicar ações similares em parceria com instituições nacio-


Os violonistas Fabio Zanon (esq.) e Yamandu Costa se apresentaram na festa dos Prêmios FCW na Sala São Paulo

nais ligadas à ciência e à cultura, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, ligada ao Ministério da Educação), entre outras. As premiações distinguem pesquisadores, escritores e artistas brasileiros reconhecidos internacionalmente e é essa uma das razões que levaram a fundação a se tornar referência nacional no meio acadêmico. A FCW é uma instituição privada que nasceu oficialmente em 1994, quando se cumpriu o desejo de Conrado Wessel, expresso no seu testamento

feito em 1988, cinco anos antes de sua morte, e no qual está determinada a criação da fundação à qual destinava “todos os bens” para cumprir as duas incumbências exigidas por ele. A FCW funciona sob a vigilância do Ministério Público – como determina a lei – e é gerida por administradores que devem seguir o estatuto e a legislação. Para evitar o colapso do patrimônio original, crescer e impedir que a organização se torne insolvente e inviável é preciso que a administração seja eficiente e parcimoniosa na gestão. Wessel legou um patrimônio inicial constituído de 41 imóveis na capital paulista, em grande parte alugados, nos bair-

ros da Barra Funda, dos Campos Elísios e de Santa Cecília, que totalizavam 18.722 metros quadrados (m²) de área construída. E seis outros imóveis em Higienópolis onde deveria ser erguido “um empreendimento imobiliário cuja renda seria destinada à concessão de prêmios”, de acordo com o testamento. A gestão de seu patrimônio demonstra um crescimento de 630%, a partir de 2000, quando terminou a transição do espólio de Conrado Wessel para a fundação e, simultaneamente, tomou posse a nova administração, que imprimiu outra dinâmica para reverter o perfil de rentabilidade patrimonial: desconcentrou, construiu novos e maiores prédios, fez aquisições e


Os ganhadores de 2009: Antonio Nóbrega, Jerson da Silva, Ricardo Pasquini e João de Oliveira

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atualizou a carteira imobiliária. Hoje são 51 imóveis e mais de 22.000 m² construídos. A administração da FCW é formada por Conselho Curador e Diretoria Executiva. Para a primeira diretoria, cuja gestão foi iniciada em 1995, Wessel havia indicado os seus testamenteiros como diretores nos três primeiros anos da fundação. O Ministério Público nomeou os dois testamenteiros – um diretor administrativo e um diretor gerente financeiro – que ocuparam a direção por tempo de mandato superior ao especificado pelo fundador Wessel. Eles permaneceram nos cargos não por três, mas por cinco anos.

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ara o Conselho Curador Conrado Wessel não indicou ninguém, mas o Ministério Público nomeou um afilhado dele em sua homenagem. Desse conselho também fazem parte

permanentemente três representantes das entidades beneficiárias, ou seja, aquelas que recebem uma doação significativa da FCW a cada ano. No caso, a Fundação Antonio Prudente, o Corpo de Bombeiros e a Associação Benjamin Constant. Após o período de transição e auditoria dos bens houve a posse da nova Diretoria Executiva em fevereiro de 2000. A partir dessa gestão, o legado de Conrado Wessel foi integralmente administrado de acordo com os objetivos definidos para o patrimônio da FCW. Esses objetivos são dois, co­­mo foi dito acima: doações e prêmios à arte, à ciência e à cultura. As doações são feitas e vêm dos recursos obtidos com as locações dos imóveis. Os prêmios distinguem os nomes reconhecidos na Ciência Geral; na Ciência Aplicada ao Campo, à Água, ao Meio Ambiente, à Tecnologia, à Biolo-

gia; na Medicina; e na Cultura. Para esse fim, a fundação usou os seis imóveis de Higienópolis para transformá-los num grande empreendimento, o Shopping Pátio Higienópolis.

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a época, surgiram numerosas propostas para os seis terrenos. A mais atraente delas foi construir um . Entretanto eram necessários no mínimo 15.000 m² de área e a fundação tinha apenas 68% do necessário. Para chegar aos 100% foi preciso se unir a mais dois proprietários vizinhos, a Obra de Santa Zita e a empresa Plaza. O conjunto então formado atingiu 15.223,22 m². A participação no empreendimento foi estabelecida em 25% das cotas para a FCW e a Obra de Santa Zita; e 75% para o investidor responsável pelo custo de implantação e construção. Como


tinha 68% da área, a fundação recebeu 17% das cotas (68% x 25% = 17%); e como a Obra Santa Zita detinha 32% da área, ficou com 8% das cotas (32% x 25% = 8%). O Shopping Pátio Higienópolis foi construído, se tornou um sucesso em pouco tempo e é de seu movimento comercial que vem a maior parte da renda destinada aos vencedores dos Prêmios FCW. Atualmente ele está sendo ampliado. Para conceder os prêmios de Ciência e Cultura a personalidades ou entidades de reconhecimento nacional, a fundação tem oito instituições parceiras, como a FAPESP (). In­tegram ainda a Comissão Jul­gadora representantes dos ministérios da Agricultura, da Cultura, da Ciên­cia e Tecnologia, da Educação, do Meio Ambiente, da Saúde, da Pesca e da Defesa (por meio da

Marinha). Na concessão do prêmio de Arte, a comissão julgadora é formada por fotógrafos e publicitários de renome internacional, vinculados à Associação dos Profissionais de Pro­paganda, revista , Bi­ blio­­te­ca Nacional, Fundação Ar ­­­­­­­­m an­­­­d o Álvares Penteado, Fotosite, Museu da Imagem e do Som e Uni­­versidade de São Paulo (USP).

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lém da premiação, o apoio às instituições parceiras tornou a fundação uma participante obrigatória no fomento à pesquisa e à divulgação da ciência. O Prêmio Almirante Álvaro Alberto, do CNPq, é patrocinado pela FCW, que também concedeu 12 bolsas complementares no exterior para os ganhadores dos Grandes Prêmios Capes de Teses e uma bolsa de graduação em música, de quatro anos (2007-2011), na

Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Com a Academia Brasileira de Ciências bancou 13 edições anuais dos e apoiou a publicação dos livros e. Com a FAPESP, publica sempre em outubro este suplemento especial, completando agora sete anos de parceria. As atividades da fundação são sempre dinâmicas. Elas vêm se aperfeiçoando e apenas uma parte está resumidamente exposta nesta edição. Em especial, o perfil dos ganhadores de Ciên­cia e Cultura (), a festa na Sala São Paulo (), com a apresentação dos violonistas Fabio Zanon e Yamandu Costa, e as fotos dos vencedores de Arte (), além da biografia de Wessel (), com novas imagens e informações. No final do ano, como faz sempre, a FCW lançará o livro com os trabalhos de todos os fotógrafos finalistas, uma referência no setor. ✦

Público de pesquisadores, autoridades e parentes esteve presente na homenagem aos vencedores


Criatividade e perseverança

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m 1916, três anos depois de ter voltado de Viena, na Áustria, o jovem Ubaldo Conrado Augusto Wessel (1891-1993) convenceu o pai, Guilherme, quanto à fórmula nova para o banho do papel fotográfico que vinha perseguindo: ela estava finalmente pronta, não obstante fossem necessários alguns aperfeiçoamentos. Guilherme não perdeu tempo e pediu orientação sobre registro de patente, em 10 de novembro, ao escritório Moura & Wilson, do Rio de Janeiro, representante da International Patent Agency. Rapidamente, em 13 de novembro, Moura & Wilson respondeu se dispondo a requerer o privilégio desde que fossem remetidos, já preparados, “todos os papeis, como sejam relatorio, desenhos, etc., mediante a quantia de R$ 220,000”. Havia sido dado o primeiro passo para obter direitos pela invenção do papel fotográfico Wessel. O novo papel começou a ser fabricado com sucesso em 1920 e o pedido de privilégio

foi depositado no ano seguinte no Ministério da Agricultura. Em 26 de outubro de 1921, o presidente da República, Epitácio Pessoa, assinou a carta-pa­ tente no 12.267. Tratava-se de “novo processo para fabricação de material photographico, sensível à luz, para o processo positivo e negativo à base de emulsões de saes de prata ou gelatina, albumina ou collodio, servindo de supportes para estas emulsões papel, vidro, celluloide ou qualquer outro supporte que seja apropriado”, segundo o registro do documento. No mesmo ano, Conrado Wessel instalou sua fábrica na rua Lopes de Oliveira, 198. A caminhada para o total sucesso do empreendimento, porém, ainda não estava terminada. O inventor teve de aperfeiçoar a produção até conseguir um papel confiável para o mercado e vencer a resistência inicial dos fotógrafos, seus clientes potenciais. Nos anos seguintes houve grande instabilidade política no país, como os episódios da revolta dos 18 do Forte de

Copacabana, em 1922, e a revolução paulista de 1924. Nesse último ano, em particular, os fornecedores tradicionais de papel não conseguiam abastecer os fotógrafos em razão do conflito e eles começaram a usar aquele fabricado por Wessel. Quando veio a paz, ele já estava com sua primeira fábrica em plena atividade e um produto de primeira linha pronto, o cartão-postal Jardim. Em pouco tempo ganhou o mercado. A produção cresceu com o passar dos anos e foi necessária uma fábrica maior, construída em 1949. Antes, o empresário já vinha sendo assediado por empresas do exterior.Tornou--se inicialmente fornecedor de grande parte do papel Kodak e, em 4 de julho de 1936, garantiu para a Kodak a totalidade da produção de papel, que ficou conhecido por muito tempo com o nome Kodak-Wessel. O prazo do contrato foi de 10 anos e, assim, em 1947, chegou a visitar a sede da Kodak em Rochester, nos Estados Unidos, para negociar a renovação

fotos fundação conrado wessel

Como Conrado Wessel desenvolveu um novo papel fotográfico no Brasil


Conrado Wessel (sentado, terceiro da esq. para a dir.) com a diretoria da Kodak, em 1948, em Rochester


Wessel em Rochester (1947) e a última emulsão feita na fábrica usando bromuto como contraste, antes da passagem para a Kodak, em 1954

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da parceria por mais 10 anos com opção de compra de sua patente. Desse acordo surgiu nova fábrica, em 1949, e a partir de 1954 a patente passou definitivamente à companhia norte-americana, que difundiu o papel fotográfico Wessel pelo mundo todo.

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nquanto esteve à frente dos negócios, o empresário amea­lhou recursos e os aplicou em imóveis, legados ainda em vida para a Fundação Conrado Wessel, conforme testamento de 11 de maio de 1988 (ver documento na página 11). Após a morte em 1993, seu ideal se tornou concreto, com o registro da fundação em 24 de maio de 1994. O sucesso alcançado por Conrado Wessel não foi pro-

duto do acaso. Ele investiu na própria formação, trabalhou seis anos pesquisando e levou outros cinco anos aperfeiçoan­ do sua descoberta enquanto aguardava a aprovação oficial do governo, em 1921. Wessel nunca esteve sozinho nessa bus­ca. Quando decidiu estudar no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt, em Viena, ele sabia que o instituto era avançadíssimo na tecnologia gráfica, especialmente em fotografia. Sua pretensão era aprimorar- -se em fotoquímica e clicheria. Quem garantiu os recursos para isso foi o pai, que considerava a clicheria um segmento de muita perspectiva – em São Paulo, na época, só existiam três oficinas, todas com máquinas e processos primitivos.

Em Viena, Wessel iniciou seus estudos no instituto em julho de 1911 e terminou em dezembro de 1912. Seu objetivo principal estava no setor de fotoquímica que o instituto mantinha. Sua atenção, porém, visava ao uso do papel, à escolha do mais indicado para cada tipo de emulsão. Foi também em Viena que o então estudante fez o estágio profissional obrigatório em uma das mais importantes empresas especializadas na área de mídia, gráfica e fotografia, a casa Beissner & Gottlieb, finalizado em 1913.

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uilherme Wessel foi dono da Casa Importadora de Artigos para Photographia, aberta na rua Direita, 20, em 1902, e depois transferida para a rua Líbero Badaró, 48, provavelmente em 1905. Filho de pais alemães imigrados para Buenos Aires no século XIX, Guilherme viu os dois filhos nascerem na capital argentina, mas decidiu tentar a sorte no Brasil um ano depois do nascimento de


Conrado, em 1892, inicialmente na cidade paulista de Sorocaba. Embora a família Wessel fosse uma tradicional fabricante de chapéus em Hamburgo, Alemanha, o pai de Conrado tinha fascínio por fotografia, paixão herdada pelo filho.

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m 26 de dezembro de 1908, a morte do filho mais velho, Georg Walter, auxiliar do pai na loja, leva-o a propor a Conrado assumir o lugar do irmão. O caçula, no entanto, preferiu “trabalhar no ramo fotográfico por conta própria”. Guilherme fechou o estabelecimento e encerrou a atividade comercial. Mas convenceu Conrado a ajudá-lo de outra forma: aperfeiçoar-se na Europa e trazer o equipamento para ambos trabalharem em São Paulo, com uma clicheria avançada. Enquanto isso, com o apoio de um amigo, H. Prault, Guilherme foi nomeado fotógrafo oficial da Secretaria da Agricultura, em 1909. Em meados de setembro de 1911, quando Conrado já esta-

va na Áustria, conheceu casualmente no instituto o professor Josef Maria Eder, especialista em química aplicada à fotografia e fundador do Instituto para Fotografia e Reprodução Técnica, hoje conhecido como Höhere Graphischen Bundes-Lehr-und Versuchsanstalt. Seu professor havia perguntado se Wessel já trabalhara com chapas secas. Ele disse que sim. Ato contínuo recebeu um original para reproduzir. Eram chapas que Wessel não conhecia, muito rápidas na secagem. Ao observá-las, calculou apenas cinco segundos para a exposição. Quando Wessel mostrou ao professor as reproduções que havia feito, Eder disse que estavam “muito boas”. A partir desse episódio, foi Wessel quem passou a fazer os trabalhos mais difíceis, em especial os destinados aos livros de Eder. Ganhou a confiança do professor, que o convidou a ir aos sábados aju­dá-lo no laboratório. Entre 1912 e 1913, ele conseguiu fazer o estágio na casa Beissner & Gottlieb. Lá foi seu

11 de maio de 1988: Wessel reinventa seu ideal e cria em testamento a Fundação Conrado Wessel

grande laboratório. Em carta à família, datada de 14 de novembro de 1912, ele dizia: “Hoje eu terminei na Casa Beissner o meu estudo em fotografia (...). Fiz algumas chapas, e ele deu ao copista para copiar, ele copiou em colloidim e saíram umas cópias regulares, porém não o que eu queria. Eu disse ao senhor Beissner que daquelas chapas obteria melhor resultado, pois que eles desejavam copiar com contrastes, então ele me disse se eu podia fazer seria de grande vantagem. Eles compraram o papel que pedi, isto é: Velox”. O Velox foi escolhido por Wessel porque permitia usar luz artificial para revelar a fotografia. A escolha condizia com experiências feitas separadamente, sempre tendo em mira uma nova forma de papel fotográfico.

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uando voltou para São Paulo, em 1914, trazia na bagagem as máquinas e instrumentos que conseguiu adquirir na Áustria, na França e na Alemanha, uma clicheria completa que instalou para seu pai na rua Guayanases, 139. Ele, no entanto, logo percebeu que precisava estudar mais. Conseguiu inscrever-se na Escola Politécnica como aluno ouvinte e a cursou entre 1915 e 1919. Lá se tornou amigo e auxiliar de laboratório de Roberto Hottinger, titular da cadeira de bioquímica, físico-química e eletroquímica do curso de engenharia química. Hottinger confiava-lhe a preparação do laboratório nas aulas práticas e o incentivava a continuar sua pesquisa. Foi durante esse período que o futuro empresário e benemérito da FCW consolidou e esmerou sua invenção, que viria a dar os frutos hoje colhidos pela fundação e destinados parte aos prêmios de arte, ciência, cultura e parte à filantropia. ✦


Critérios aprimorados FCW continua trabalhando para melhorar normas que regem premiação

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s critérios adotados na premiação nas áreas de Ciência, Arte e Cultura são decididos pela Fundação Conrado Wessel após consulta às suas parceiras. Ano após ano, os responsáveis pela decisão de laurear os melhores cientistas, artistas e fotógrafos se esmeram em aprimorar as normas que regem o Prêmio FCW. Esse esforço tem levado a algumas mudanças, em especial nas subcategorias de cada área. Em Arte há uma gradativa alteração no enfoque do prêmio para fotografia favorecendo os ensaios. Até 2009 havia sempre um ganhador para Fotografia Publicitária. Já em 2010 o prêmio principal será para o melhor Ensaio Fotográfico, que já estava presente antes, dividido entre Ensaio Inédito e Ensaio Publicado, mas de modo secundário. Os valores do prêmio também serão ampliados: o vencedor do primeiro lugar ganhará R$ 114 mil. Os que ficarem em segun­do e terceiro levarão R$ 43 mil cada um. Os três prê­mios irão para Ensaio Fotográfico, sem a divisão de Inédito e Publicado. A alteração se explica pelo crescente interesse e número de inscrições desse tipo de fotografia. Em 2009, 198 fotógrafos de 20 estados mais o Distrito Federal submeteram 2 mil fotos ao Prêmio FCW de Arte apenas nas subcategorias Ensaio Inédito e Ensaio Publicado. Todos os estados do Nordeste tiveram trabalhos inscritos, algo que não havia ocorrido até então. Outras modificações importantes ocorrerão na edição de 2010 (com a outorga em 2011). A área de Ciên­cia, que já teve cinco subcategorias, ficará com duas. Assim, além da Arte, serão premiadas personalidades da Ciência, Medicina e Cultura. Quando os prêmios começaram a ser distribuídos, em 2003,

Vencedores de 2007 a 2009


Leopoldo de Meis

liane neves

Iván Izquierdo

eduardo cesar

João de Oliveira

Ernesto Paterniani

eduardo cesar

Hisako Higashi

jader rocha

Ricardo Pasquini

Fulvio Pileggi

fábio motta/ae

Ivo Pitanguy

SilviaMachado

Antonio Nóbrega

Ariano Suassuna

gláucia rodrigues

Affonso Ávila

2009

paulo soares/esalq

Leo Ramos

Jerson Lima da Silva

2008

2007


Ciência era dividida em Ciência Geral, Ciên­cia Aplicada ao Campo, Ciência Aplicada ao Mar, Ciência Aplicada ao Meio Ambiente e Medicina. A partir de 2007 as subcategorias se agruparam em três, Ciência Geral, Ciência Aplicada e Medicina. Agora, em 2010, Ciência concentrará todas as áreas à exceção da Medicina. A experiência de sete anos selecionando e analisando indicações de cientistas de todos os setores mostrou que é possível trabalhar apenas com esses dois quesitos. O laureado ganhará R$ 300 mil – em 2003, os vencedores receberam R$ 100 mil.

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premiação de Cultura tem uma trajetória que, a exemplo de Ciência e Arte, aos poucos vem se definindo para melhor. Os organizadores dos Prêmios FCW sempre souberam que o ganhador dessa área não deveria vir apenas da literatura. Os primeiros quatro vencedores foram os escritores Lya Luft (2003), Ferreira Gullar (2004), Fábio Lucas (2005) e Ruth Rocha (2006). A partir de Affonso Ávila (2007) começaram a ocorrer mudanças. Embora excelente poeta, sua principal contribuição para a cultura brasileira é divulgar para o mundo o acervo barroco mineiro, por meio das pesquisas publicadas na revista Barroco, editada por ele e conhecida no exterior. O dramaturgo Ariano Suassuna (2008) é igualmente um homem de cultura, assim como Antonio Nóbrega (2009), alguém versado em música clássica e dança que faz um trabalho com grande participação popular em São Paulo no seu Instituto Brincante. Nos próximos anos serão laureados outros representantes de segmentos que formam

a cultura nacional: cinema, televisão, artes plásticas e música, entre outros.

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ara a FCW é importante premiar personalidades que indiquem novos caminhos para a sociedade, seja na ciência ou na cultura. Até 2009 ganharam o prêmio 65 cientistas, escritores, artistas e fotógrafos (ver os ganhadores de Ciência e Cultura nas páginas 13 e 15). Todos tiveram seus principais trabalhos descritos em reportagens de edições semelhantes a esta – uma parceria entre Pesquisa FAPESP e a FCW. No caso dos fotógrafos, as imagens foram

publicadas. Duas instituições, o Instituto Agronômico, de Campinas, e o Museu Paraense Emílio Goeldi, além de três escolas estaduais, também receberam o Prêmio FCW. Basta passar os olhos pelas biografias escritas nesses anos para notar que o principal beneficiário dos esforços e conquistas de tantos notáveis foi o país. Quando recebem, como pequeno reconhecimento a seu talento, prêmios da ordem de R$ 300 mil e uma escultura do artista plástico Vlavianos, identificam no troféu FCW a energia que os irmana aos destinos da Fundação Conrado Wessel. ✦


2003

2004

2005

Miguel Boyayan

Aziz Ab’Sáber

eduardo cesar

José Galizia Tundisi

Miguel Boyayan

Alberto Franco

Aldo Rebouças

Miguel Boyayan

Miguel Boyayan

Fábio Lucas

Ricardo Brentani

Ruth Rocha

eduardo cesar

Ferreira Gullar

Sergio Mascarenhas

Carlos Nobre

ÂNgelo abreu/ufla

Leo Ramos Eduardo Cesar Eduardo Cesar

Luiz Carlos Fazuoli

Miguel Boyayan

Philip Fearnside

Adib Jatene

Francisco Emolo/Jornal da USP

Léo Ramos

Dieter Muehe

Miguel Boyayan

Divulgação

Lya Luft

Arquivo pessoal

Marcos Esteves/Embrapa

Jairo Vieira

César Victora

Wanderley de Souza

Léo Ramos

Eduardo Tavares

Maria Inês Schmidt

Isaias Raw

Eduardo Cesar

Miguel Boyayan

Brito Cruz

ASCOM/INPA

Ganhadores entre 2003 e 2006

Magno Patto Ramalho

2006


Américo Fialdini Júnior, diretor presidente da FCW, em seu discurso de abertura

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1 Premiação de Medicina (esq. para a dir.): Adib Jatene, Ricardo Pasquini, Renata Caruso Fialdini, Erney Plessmann de Camargo, José Renato Nalini e João Otaviano (secretário municipal de Gestão); 2 Premiação de Ciência Geral: tenente-brigadeiro do ar Cleonilson Nicácio Silva, Jerson Lima da Silva, Jacob Palis, tenente-brigadeiro do ar Ailton dos Santos Pohlmann (diretor-geral do DCTA) e Américo Fialdini Júnior; 3 Premiação de Ciência Aplicada: Luciano Santos Tavares de Almeida (secretário estadual de Desenvolvimento), representando o governador Alberto Goldman, José Policarpo Gonçalves de Abreu, João Fernando de Oliveira, Jorge Guimarães (Capes), Carlos Vogt (secretário estadual de Ensino Superior), Carlos Aragão de Carvalho (CNPq), José Caricatti (FCW)

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Antonio Bias Bueno Guillon, presidente do Conselho Curador da FCW, abre a cerimônia de premiação

Reunião de competências

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4 Premiação de Cultura: João Grandino Rodas (reitor da USP), Domício Proença Filho, Antonio Nóbrega, Celita Procopio de Carvalho, ministro Ricardo Lewandowski e Sérgio Roberto F. S. Marchese

s nove vencedores do Prêmio FCW de Ciência, Arte e Cultura 2009 foram homenageados no dia 14 de junho na Sala São Paulo, no centro da capital paulista, como já ocorre tradicionalmente há oito anos. Cerca de 900 pessoas, entre autoridades de diversos setores da sociedade, pesquisadores, parentes e demais convidados, compareceram à cerimônia, assistiram à entrega do troféu de Vlavianos e viram um show com Fabio Zanon e Yamandu Costa, dois virtuoses do violão. O público pôde visitar também, em outra sala, a exposição com os trabalhos dos fotógrafos ganhadores na categoria Arte (Fotografia Publicitária, Ensaio Fotográfico Publicado e Ensaio Publicado Inédito). Nestas páginas e nas outras duas a seguir dá para acompanhar um pouco do que foi a festa.


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1 Américo Fialdini Júnior, Denise Wichmann e Rubens Figueiredo Júnior; 2 José Eduardo Sabo Paes, Marco Mendes, Marcio Rodrigues, Ana Maria Garms e Airton Grazzioli; 3 José Caricatti, João Roberto Ripper e Sérgio Roberto Marchese; 4 Ricardo Barcellos, Antonio Bias Bueno Guillon e Stefan Graf von Galen

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5 Casal Yara e Ricardo Lewandowski com João Grandino Rodas; 6 José Eduardo Sabo Paes, Antonio Bias e Ricardo Lewandowski

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7 Carlos Aragão de Carvalho, Américo Fialdini, Erney Plessmann de Camargo e Jacob Palis; 8 José Policarpo Gonçalves de Abreu com Sérgio Mascarenhas e Telma Coimbra e Ana e Marco Antonio Sala


ciência geral

General de Napoleão Talento, sorte e superação marcam a trajetória do bioquímico Jerson Lima da Silva

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biografia do cientista carioca Jerson Lima da Silva desperta atenção por qualquer ângulo que se observe. Sua produção acadêmica é farta e versátil. Com mais de 130 artigos publicados, boa parte deles em revistas de alto índice de impacto, já orientou 25 dissertações de mestrado e 27 teses de doutorado e tem contribuição expressiva no campo da biologia estrutural. Seu grupo trabalha com ferramentas de espectroscopia, como fluorescência e ressonância magnética nuclear (RMN), e acumula avanços em temas como a montagem de estruturas virais, com impacto no desenvolvimento de vacinas, e no entendimento dos mecanismos responsáveis pelo dobramento incorreto de proteínas, fenômeno importante em moléstias como câncer e Parkinson e doenças causadas por príons, como a encefalopatia espongiforme transmissível, conhecida como mal da vaca louca. Paralelamente ao trabalho como pesquisador e professor titular do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele também atua como gestor. Desde 2003 é o diretor científico da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), agência de fomento que ganhou importância nos últimos cinco anos graças à disposição do governo fluminense de investir fortemente em ciência e tecnologia. Também dirige o Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear Jiri Jonas da UFRJ, principal centro da América Latina aparelhado com equipamentos de ressonância magnética nuclear de alto campo. E é coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Biologia Estrutural e Bioimagem, uma das 122 redes temáticas


Leo Ramos

Jerson: rotina de pesquisador e administrador

criadas pelo governo federal em parceria com estados. O extenso currículo científico contrasta com a aparência jovem – nascido num dia 29 de fevereiro de 1960, tem 50 anos – e ganha contornos ainda mais notáveis quando se analisa sua origem. Nascido num subúrbio da zona norte carioca, Jerson Lima da Silva sempre estudou em escolas públicas. “Eu talvez tenha sido o primeiro carioca a publicar em um dos periódicos de maior prestígio na área de bioquímica sem conhecer a zona sul”, afirma Jerson, referindo-se a um artigo que publicou aos 20 anos de idade no Journal of Biological Chemistry, que seria um dos 15 trabalhos feitos no Brasil no período de 1970

a 1985 mais citados no campo da bioquímica. O pesquisador vive hoje em Copacabana com a segunda mulher, a pesquisadora Débora Foguel, 45 anos, atual diretora do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, e quatro filhos, Juliana, de 25, Estevão, 22, Vitor, 21, e Ana Luisa, de 12.

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s pais de Jerson, um sargento da Marinha e uma dona de casa que fazia flores ar­­tificiais e doces para complementar o orçamento doméstico, ressentiam-se de não ter podido estudar e fizeram sacrifícios para dar essa chance aos filhos. Por isso, Jerson sempre estudou em boas escolas públicas e aos 12 anos pôde frequentar um curso de inglês. “Ga-

nhava mesada e podia com­­prar fascículos semanais no jornaleiro”, lembra, referindo-se a enciclopédias paradidáticas como Conhecer e Os Animais. Leitor voraz e aluno curioso, sentia-se em desvantagem nas brincadeiras com os vizinhos. “Uma teimosia quase doentia me fazia jogar futebol, às vezes oito horas por dia, para tentar vencer uma total falta de irmandade com a bola. Aprendi um pouco a perder batalhas e a conviver com um traço de minha personalidade, o de ser altamente competitivo”, diz Jerson.“Sempre me considerava como o que tinha menos sorte entre os garotos, pela falta de destreza. Mais tarde eu descobri que estava errado, e que sorte


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sse vislumbre sobre sorte e oportunidade aconteceu em meados dos anos 1980, quando, aos 25 anos, encerrou o primeiro ano de estágio na Universidade de Illinois, no laboratório de Gregorio Weber (1916-1997), e recebeu o convite para permanecer mais um ano. “Fiquei muito agradecido e ensaiei um discurso sobre o merecimento daquela oportunidade”, recorda-se Jerson.Weber respondeu-lhe: “Quando Napoleão precisava nomear um general para uma determinada batalha, ele perguntava a seus conselheiros se aquele general tinha sorte. Pois na ciência e na medicina a sorte também é um fator determinante, senão o mais importante”. Weber, que morreu em 1997 aos 81 anos poucos dias depois de receber uma homenagem no Brasil organizada por Jerson, foi um dos “mestres certos” que passaram pelo caminho do pesquisador carioca, mas ele dá crédito a vários outros, da professora primária na Tijuca que o levou a tomar gosto pela leitura (hoje ele é um aficionado na obra de Marcel Proust) ao professor da Escola Técnica no bairro do Maracanã que lhe revelou o método científico. Há uma figura-chave nessa lista: Sérgio Verjovski-Almeida. Então professor da UFRJ, o hoje pesquisador do Instituto de Química da Universidade de São Paulo foi um grande incentivador quando Jerson ingressou no curso de medicina e arrumou um estágio de iniciação científica. “Ele me deu um projeto para eu conduzir sozinho, quando tinha apenas 19 anos. Ele me dava pistas, mas

não a receita. Quando, alguns anos mais tarde, eu recebi a resposta de que havia sido selecionado para ser pesquisador do Howard Hughes Medical Institute, falei com o Sérgio e lhe agradeci. Ele respondeu que apenas me ensinou a me virar sozinho. Aprendi com ele que orientar é como lapidar pedras de origens diferentes e torná-las brilhantes, mesmo que com cores ou matizes diferentes”, diz.

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om Verjovski, Jerson participava de estudos que usavam a técnica de fluorescência para estudar alterações da proteína Ca2-ATPase do retículo sarcoplasmático, responsável pelo bombeamento de cálcio

e crucial para a função da fibra muscular. “Um aspecto interessante destes estudos é que a dissociação da Ca2-ATPase ocorria em uma faixa de concentração de proteína menor do que a teoricamente esperada”, recorda-se. Resultados parecidos haviam sido encontrados no laboratório de Gregorio Weber para a proteína enolase. Isso aproximou-o de Weber e resultou no convite para ir a Illinois. Jerson trabalharia em seu laboratório entre 1985 e 1986. Recebeu convites para radicar-se nos Estados Unidos, mas optou por retornar.“Conversei com Weber e concluí que poderia contribuir mais e realmente fazer diferença se Leo Ramos

não me faltava, especialmente por ter conhecido as pessoas certas, e de ter tido os mestres certos, nos momentos certos.”

O pesquisador: “Orientar é lapidar pedras de origens diferentes”


Jerson Lima da Silva

Mapeamento de príon por ressonância magnética, um dos alvos de Jerson

voltasse ao Brasil. Se ficasse lá, do jeito que sou competitivo, a busca por uma trajetória de sucesso poderia comprometer um pouco a minha liberdade científica, e isso não era o que eu queria”, afirma.

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laboratório de Weber mantinha uma interação com o Instituto Max Planck de Biofísica-Química em Goet­ tingen, em que métodos de fluorescência e de eletroforese de alta pressão eram usados em estudos sobre a dissociação do DNA. Foi nesse período que Jerson começou a interessar-se por vírus de interesse médico. Junto com Weber, começou a aplicar os conhecimentos adquiridos com modelos proteicos simples para o estudo de partículas virais, imaginando a possibilidade de produzir partículas virais em estado inativado utilizáveis no desenvolvimento de vacinas. Eles iniciaram estudos com o BMV (brome mosaic vírus) e SV40 (simian

vírus 40) que serviram de base para pesquisas com vírus de importância médica e veterinária. Hoje o grupo de Jerson é referência no emprego de métodos de alta pressão tanto para inativar partículas virais patogênicas quanto para gerar novas vacinas, em parceria com a Fiocruz. “Recentemente, registramos no Brasil e no exterior uma patente de uma formulação de vaci­­na oral antipoliomielite que aumenta a estabilidade da vacina atenuada Sabin, dispensando a refrigeração”, diz. No início dos anos 1990, voltou à Universidade de Illinois para uma temporada de 18 meses. Nessa época passou a dedicar-se com afinco a um novo tema de pesquisa: o estudo das proteínas envolvidas nas chamadas doenças do enovelamento proteico, como Alzheimer, Parkinson, mal da vaca louca e também o câncer. “Em geral, dentro da célula, o enovelamento de uma proteína é rápido e robusto. Às vezes,

porém, mudanças súbitas no balanço entre essas diferentes forças resultam no mau enovelamento da cadeia peptídica, que pode acabar gerando agregados dentro da célula que levam à perda de uma função ou ao ganho de uma função tóxica.” No caso do mal da vaca louca, o grupo de Jerson descreveu como a proteína do príon precisa de auxílio de moléculas de ácido nucleico que não lhe pertencem para se converter em sua forma patogênica.“Esses resultados mudaram o paradigma segundo o qual a conversão da proteína do príon para sua forma patogênica era catalisada por ela própria quando na sua conformação alterada.” Os estudos mostram que ácidos nucleicos do hospedeiro participam de forma decisiva na conversão e propagação da doença.

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a temporada em Illinois, aproximou-se do então diretor da Escola de Química da instituição, Jiri Jonas, pioneiro no uso da ressonância nu­ clear magnética em alta pressão. Ele utilizou essa técnica para o estudo de uma proteína chamada repressor ARC. Com Jonas, que homenagearia em 1997 batizando o Centro de Ressonância Magnética da UFRJ, Jerson compreendeu a importância de conciliar a rotina de pesquisador com o trabalho de administrador, o que o levaria a aceitar a incumbência de acumular a diretoria científica da Faperj, em 2003. “Tive que diminuir um pouco o número de alunos. Mas isso teve um lado bom: me tornei um colaborador de meus ex-alunos e tenho pouco tempo para atrapalhá--los. Aprendi que os trabalhos deles são os trabalhos deles e que posso ajudar sem exercer uma influência exagerada.” ✦


ciência aplicada

ENGENHO E MÚSICA João Fernando Gomes de Oliveira sempre transitou entre cálculos matemáticos e notas musicais

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a minha casa só se falava de engenharia”, diz o professor João Fernando Gomes de Oliveira, presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), ao recordar que o tema sempre foi recorrente nas conversas familiares. Afinal, ele nasceu em uma família de engenheiros. O avô estudou engenharia elétrica na ETH Zürich, o Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, uma das mais conceituadas universidades europeias nas áreas de química, física e engenharia elétrica. Na época, ainda não havia cursos de engenharia no Brasil. O pai e os irmãos mais velhos cursaram engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). “Com 16 anos eu já lia desenhos técnicos, entendia o que era motor, bomba e transmissão”, relata. A proximidade e o interesse que sempre teve pela área o levaram ao curso de engenharia mecânica na USP de São Carlos. Mas a vocação para a área de exatas tinha um contraponto – a música, que também fazia parte do seu universo desde a infância. Ao chegar à universidade já havia estudado acordeão e flauta. E, além desses dois instrumentos, tocava também clarinete, que havia sido comprado pela mãe. Mas um dia, durante uma serenata, o clarinete deixado sobre o banco do carro foi roubado. Um anúncio de saxofone, visto enquanto cursava a universidade em 1980, fez com que Oliveira se apaixonasse pelo novo instrumento, que comprou e toca até hoje em suas apresentações. “Durante a graduação de engenharia meu tempo era dividido entre fotografia, engenharia e música”, diz.Trabalhava como fotógrafo em um jornal da cidade


eduardo cesar

João Fernando Gomes de Oliveira: aplicação do conhecimento

e tocava de três a quatro vezes por semana na noite, com uma orquestra de jazz, um quarteto, e em botecos. No final do curso, em 1982, decidiu que queria mesmo ser músico. Estava se preparando para o vestibular do curso de música popular na Universidade Estadual de Campinas, mas foi convidado pelo professor João Lirani, líder do grupo de máquinas, a trabalhar na USP de São Carlos, já que havia uma vaga a ser preenchida. “Além de trabalhar como fotógrafo e tocar nos bares, à tarde eu fazia um estágio na faculdade na área de desenho mecânico, projetando máquinas”, diz. Na época a contratação era indicação do colegiado.

Oliveira ficou em dúvida. Tinha apenas 23 anos e uma namorada que morava em Campinas. Mas foi convencido por um amigo que já estava fazendo pós-graduação a aceitar a vaga na USP e depois, com o tempo, poderia ir para o exterior fazer uma pós e estudar música. “Aceitei o emprego e a minha namorada mudou-se para São Carlos”, diz. O resultado é que em um único fim de semana de março de 1983 sua vida mudou radicalmente. “Na sexta participei da minha colação de grau, no sábado me casei e na segunda comecei a dar aula”, conta. “Foi assim que comecei a minha carreira acadêmica,

mas sem nunca largar os instrumentos.” Ainda hoje, com uma agenda repleta de compromissos profissionais, todos os dias, religiosamente, ele toca saxofone pelo menos durante uma hora. Já dividiu o palco com profissionais conceituados, como o saxofonista e clarinetista Paulo Moura, morto em julho de 2010, seu mestre e amigo de quase três décadas. Uma das últimas vezes em que se apresentaram juntos foi no dia 27 de junho de 2009, na Sala São Paulo, nas comemorações pelos 110 anos do IPT. A sessão solene foi encerrada com um show de música que te­­­­­­­ve a participação de Paulo Moura e do pianista norte-


Agência Luz

-americano Cliff Korman. Oliveira foi chamado ao palco para fazer um dueto de sopros com o amigo que conheceu em São Carlos ainda na década de 1980, durante uma oficina de música. Alguns meses após essa apresentação, em maio de 2010, os dois contaram histórias e fi­zeram demonstrações sobre a fí­sica dos instrumentos de sopro no Centro Cultural São Paulo, como parte da programação da Virada Cultural Paulista. “Paulo Moura é um capítulo especial na minha vida”, diz Oliveira.

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dedicação à música corre em paralelo à vida acadêmica, com doutorado em engenharia mecânica pela Escola de Engenharia da USP de São Carlos em 1988, pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley, em 1994, além de mais de 200 artigos científicos publicados e cinco patentes depositadas. “Desde o início do meu trabalho na universidade, sempre procurei encontrar caminhos para transformar as pesquisas em realização prática”, diz. Assim que começou a trabalhar com projetos de pesquisa em processos de fabricação e manufatura foi atrás das fábricas para tentar entender quais eram os problemas que emperravam a produção. Foram muitas visitas a fábricas, entre elas a Bosch de Campinas, onde aprendeu muito sobre problemas industriais práticos. “Sempre procurei escolher nos meus temas de pesquisa algo que fizesse parte do problema da fábrica, com o objetivo de depois poder voltar lá e dizer ‘está tudo resolvido, se quiser pode usar’, mesmo sem receber benefício por isso.” A ideia de aplicação do conhecimento sempre esteve presente no grupo de pesquisa que coordenava, o que levou

Paulo Moura e Oliveira em dueto de sopros na Sala São Paulo

ao estabelecimento de uma estratégia de pedir patrocínio às empresas na forma de máquinas e equipamentos. “Juntamente com outros professores e colegas de departamento começamos a movimentar um grupo de pesquisa que foi crescendo e acabou se transformando em um grande projeto nacional de manufatura, que era o Instituto Fábrica do Milênio, com participação de 800 pessoas que tinham como objetivo identificar demandas industriais para poder dar resposta a elas.” Em três anos esse grupo depositou 20 patentes e consolidou parcerias de pesquisa e desenvolvimento

com mais de 100 empresas. Em vez de dedicar-se às inovações no produto, o grupo investiu em inovações nos processos, não só de fabricação, mas também os gerenciais. “Nessa trajetória de procurar otimizar o conjunto produto e processo em um ambiente industrial eu tive muitos professores e parceiros”, relata. O professor Henrique Rozenfeld, da Escola de Engenharia de São Carlos, sempre foi um grande mentor dessas ideias de integração, assim como o professor Reginaldo Coelho, parceiro na área de tecnologia de processos de fabricação. “O


O

outro grande aprendizado que Oliveira teve foi implementar inovação em empresas como a Zema, fabricante de máquinas, a Norton, de abrasivos, e alguns grupos internacionais como Saint Gobain nos Estados Unidos, onde fica a sede de divisão de materiais de alto desempenho, e o TRW nos Estados Unidos, Europa e Ásia, um dos maiores fabriPrecisão de robô gigantesco é testada no laboratório do IPT

cantes de autopeças do mundo. “Esse negócio de pesquisar manufatura e aplicar na fábrica, procurando aprender sempre com os desafios da aplicação, foi um projeto que durou 25 anos dentro da universidade”, relata. O resultado foi a inauguração em outubro de 2007 do novo Núcleo de Manufatura Avançada (Numa) em São Carlos, uma fábrica dentro da universidade. “Era o local para demonstrar o desenvolvimento de tudo o que fizemos”, diz. Na mesma época, recebeu um convite do então secretário estadual de Desenvolvimento, Alberto Goldman, e do secretário adjunto Carlos Américo Pacheco para presidir o IPT. Ele confessa que ficou di­vidido, porque estava inaugurando com colegas o novo laboratório e envolvido em projetos de pesquisa em São Carlos. Mas se sentiu muito honrado com o convite. “O IPT é uma instituição que tem um nome forte e uma história impressionante, que representa a viabilização do desenvolvimento de São Paulo pela tecnologia.”

Foi quando conheceu as pes­­soas que considera seus mentores e parceiros de gestão, o presidente do conselho do IPT, Paulo Cunha, o secretário de Desenvolvimento de São Paulo, Luciano de Almeida, e os diretores do instituto.“O IPT é uma sociedade anônima e gerenciar uma empresa é um desafio diferente de ser professor, aqui precisamos promover o alinhamento de todos, buscar eficiência e perseguir metas muito objetivas, tenho aprendido muito.” Após conversas com Cunha e outros membros do conselho, assumiu o desafio de ajudar a ge­renciar um investimento de R$ 100 milhões do governo do estado no instituto. “Em pouco mais de dois anos e meio a verba está comprometida com a construção de prédios e laboratórios, com a compra de 500 equipamentos e a contratação de 150 pessoas”, diz.“E eu estou muito feliz por estar aqui e poder participar disso.” ✦

eduardo cesar

professor Sergio Mascarenhas sempre foi muito próximo e produziu muito estímulo”, diz Oliveira. “Ele é o exemplo do semeador de ideias e ajudou muita gente que hoje desempenha um papel importante na ciência do Brasil.”A admiração é recíproca. “Oliveira é uma figura singular na comunidade de ciência, tecnologia e inovação”, diz Mascarenhas. “Além disso é um humanista, transitando pela música com a mesma criatividade com que faz ciência e tecnologia.”


medicina

Doutor esperança Hematologista paranaense Ricardo Pasquini foi o pioneiro dos transplantes de medula óssea no Brasil

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m outubro de 1979, uma equipe brasileira conseguiu realizar o primeiro transplante bem-sucedido de medula óssea na América Latina. A façanha não foi obtida em São Paulo ou no Rio de Janeiro, centros normalmente associados à pesquisa clínica de vanguarda do país. A boa notícia veio de Curitiba, onde um grupo de médicos coordenados pelo hematologista Ricardo Pasquini, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR), realizou o delicado procedimento num paciente com um tipo de câncer de sangue. O pioneirismo do médico paranaen­se não parou por aí. Em 1993, sua equipe também foi a responsável pela realização do primeiro transplante de células do cordão umbilical na América Latina e, em 1995, fez o primeiro transplante de medula óssea entre indivíduos não aparentados no Brasil. Essas contribuições fizeram do nome de Pasquini, um curitibano de poucas palavras e muitas ações, uma referência no estudo e tratamento de doenças do sangue e do metabolismo. Hoje, passados 31 anos da conduta pioneira, o Serviço de Transplante de Medula Óssea (STMO) do HC paranaense contabiliza mais de 2 mil procedimentos realizados, cerca de um quinto do total efetuado no Brasil. “Os transplantes se disseminaram pelo país e atualmente mais de 50 centros são capazes de fazê-los”, diz Pasquini. “Em 80% dos casos, os procedimentos são cobertos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).” Extremamente organizado, o hematologista mantém uma base de dados com informações detalhadas sobre cada um dos pacientes transplantados em Curitiba. Registros tão duradouros são raros no país e permitem


jader rocha

Pasquini: dados detalhados sobre mais de 2 mil transplantes

acompanhar a eficiência dos transplantes para o tratamento de distintas doenças. Filho de uma dona de casa e de um gerente de uma fábri­ca de louças, Pasquini exibia um pendor para a área biológica desde muito cedo. Aos 4 anos de idade, surpreendeu a irmã Ruth, cinco anos mais velha, com uma frase precocemente assertiva: “Eu quero ser médico”. Nunca mais tirou a ideia da cabeça. Aos 14 anos, ensaiou os primeiros passos rumo ao objetivo. Começou a dar expediente no laboratório de análises clínicas do irmão, Darcy.“Achava tão bom trabalhar e passava as tardes no laboratório”, lembra. O emprego no negócio da

família lhe abriu, literalmente, as portas do mundo da medicina. Pôde prestar serviços ao Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e estagiar no HC, onde aprendeu novas técnicas laboratoriais. Em 1956, quando entrou aos 18 anos no curso de medicina da UFPR, já tinha mais experiência com certos temas médicos do que a maioria dos colegas.

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a faculdade teve aulas com Paulo Barbosa da Costa, o primeiro hematologista de Curitiba, uma influência para que o jovem universitário se encaminhasse para a mesma disciplina médica. Aluno de destaque, já no segundo ano

do curso foi enviado ao Rio de Janeiro para aprender novas técnicas de coagulação do sangue e, mesmo antes de formado, frequentava os congressos de hematologia. “Naquela época, a gente tinha de fazer tudo no laboratório, inclusive os reagentes”, conta. Como ainda não havia sido instituída a residência médica na faculdade, os alunos da graduação ganhavam experiência clínica atuando como voluntários em tempo parcial do HC. Pasquini formou-se em dezembro de 1963 e em março do ano seguinte casou-se. Não demorou muito para o médico recém-formado virar professor universitário. Em 1965 foi contratado como


Reprodução

prática o jeito de trabalhar que aprendera nos Estados Unidos. Em paralelo às pesquisas em hematologia, dedicou-se a organizar toda a residência médica do curso da UFPR. Sabia que tinha de estruturar esse setor para dar um bom suporte ao trabalho clínico-acadêmico do hospital.

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Pasquini aos 14 anos: trabalho no laboratório de análises do irmão

instrutor de ensino, cargo hoje equivalente a auxiliar de ensino, pela faculdade em que se formara. Em paralelo às atividades acadêmicas, tornou-se sócio do laboratório de análises clínicas da Santa Casa e começou a exercer a clínica hematológica num consultório particular.Antes do final da década, tomou uma decisão que iria influenciar de forma substancial sua maneira de trabalhar: resolveu se especializar ainda mais em hematologia e optou por procurar aperfeiçoamento nos Estados Unidos. “As pessoas então não saíam tanto do Brasil e a hematologia ainda era vista mais como uma especialidade de laboratório do que da área clínica”, afirma. Passou três anos, de 1969 a 1972, em Salt Lake City, na Universidade de Utah, como bolsista da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A temporada no exterior foi proveitosa e proporcionou um grande impulso em sua carreira. Em Salt Lake City Pasquini adquiriu a disciplina e o treino médico que se tornariam marcas de atuação como pesquisador e clínico.“A viagem mudou meu comportamento”, diz.“Aprendi a avaliar o contexto, a enxergar o ser humano no paciente. Tudo ficou mais organizado na minha cabeça.” Na Universidade de Utah teve também a oportunidade de ser orientado por Maxwell Wintrobe, médico austríaco-canadense que praticamente deu à hematologia o status de especialidade ao editar nos anos 1940 o primeiro tratado sobre a área, intitulado Clínica hematológica. Quando voltou a Curitiba, começou a pôr em

ais de três décadas atrás, não era uma tarefa trivial criar a infraestrutura necessária para realizar com segurança um transplante de medula óssea, um procedimento com particularidades em relação aos transplantes de órgãos como coração, rim ou fígado. Afinal, as defesas imunológicas do receptor de uma nova medula têm de ser suprimidas – sua medula original é destruída e são dados medicamentos para minimizar o risco de rejeição – antes de o doente ser submetido ao procedimento e há sempre o risco de ocorrer intolerância às células transplantadas. Para realizar o transplante de medula com um mínimo de segurança, um centro médico deve passar por uma pequena revolução em termos organizacionais e assepsia. Ele precisa de uma equipe treinada de médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais da saúde. Necessita de instalações apropriadas para isolamento do paciente e de pessoal disponível para dar atenção médica 24 horas por dia. Isso sem contar a obrigatoriedade de ter de dar apoio a longo prazo para o pa­ ciente em recuperação e sua família. 

 “A execução bem-sucedida de um transplante de medula é uma verdadeira operação de guerra”, afirma o hematologista Marco Antonio Zago, pró-reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), colega de profissão e amigo de Pasquini.


médica do serviço. O nome da entidade, ativa até hoje, é uma homenagem ao primeiro paciente que recebeu o transplante.

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asquini está oficialmente aposentado da universidade desde 2008, mas continua dando expediente matutino normalmente em sua sala no 17º andar do HC. Fotos de an­tigos amigos, de momentos importantes da carreira e um desenho dos pais dos transplantes de medula óssea (Robert A. Good, E. Donnall Thomas e George W. Santos) adornam seu escritório. Sua rotina de trabalho não mudou muito. Mantém, por exemplo, o hábito adquirido há 25 anos de participar às segundas e quartas-feiras, sempre às 7h30, de uma reunião com a equipe médica para discutir a situação dos pacientes transplantados e dos candidatos a receber uma nova medula. “A reunião tem de ser cedo para não perdemos toda a manhã e deve durar não mais do que uma hora”, afir-

ma Pasquini. À tarde, passa pelo Hospital Nossa Senhora das Graças, onde cuida do setor de transplantes de medula óssea, e três ou quatro vezes por semana ainda atende pacientes em seu consultório particular.


 Sua produção acadêmica continua alta. Os artigos científicos sobre formas raras de falência congênita ou adquirida da medula óssea, causadas por doenças como a anemia aplástica severa e a anemia de Fanconi, são referência mundial. Nos últimos 10 anos, participou da maioria dos estudos sobre o tratamento da leucemia mieloide crônica, um tipo de câncer do sangue, com um novo grupo de fármacos revolucionários da oncologia moderna, os inibidores de tirosino-quinases. Para ter uma ideia de seu prestígio internacional, basta mencionar que em junho deste ano Pasquini foi um dos coautores de dois artigos no New England Journal of Medicine, umas das revistas médicas mais prestigiosas do mundo.



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Jader rocha

“Em 1979 havia muito ceticismo quanto à capacidade de se realizar esse tipo de tratamento em nosso país.” Com ousadia e determinação, Pasquini preparou o hospital da universidade para vencer o desafio e realizou o primeiro transplante de medula no Brasil há exatos 31 anos. “Ele serviu de modelo e inspiração para muitos grupos de pesquisa e abriu caminho para jovens médicos e cientistas tanto no Brasil como em outros países, particularmente nos Estados Unidos”, comenta o médico Cármino Antonio de Souza, coordenador do Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 1988, o médico paranaense realizou outro sonho: ao lado de membros de destaque da sociedade curitibana, fundou a Associação Alírio Pfiffer, entidade sem fins lucrativos que visa prestar assistência aos pacientes e angariar recursos para manter equipada a unidade de transplantes e garantir a formação continuada da equipe

Quadro na sala do médico: retrato dos pais do transplante de medula óssea


cultura

Dois instrumentos Antonio Nóbrega busca na música e na dança populares a essência da identidade brasileira

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o palco, ele dá passos de maracatu, caboclinho, frevo e muito mais. Desce, desaparece na multi­ dão, tira pessoas para dançar, contagia, envolve, torna o movimento irresistível até para os mais tímidos. Reaparece em cena, às vezes pelos braços do próprio público, e continua o espetáculo. Aos 57 anos, a ener­ gia é mantida com dedicação por um rigoroso pro­ grama de exercícios. Mas o pernambucano Antonio Nóbrega não se atém às apresentações. Junto com sua mulher, Rosane Almeida, mantém na Vila Madalena, em São Paulo, o Instituto Brincante, onde promovem aulas de música e dança e têm projetos de inclusão social. Tudo com um objetivo nada modesto: ajudar a construir a identidade cultural brasileira. São 40 anos de atividade artística, mas, como diz Nóbrega,“a palheta começou a vibrar mais cedo”. O pai, médico, reparou que o menino de 7 anos batucava na mesa na hora das refeições. Em vez de impor um melhor comportamento à mesa (ou talvez além disso), encontrou uma professora de violino para o filho. Era dona Belinha, violinista da Orquestra Sinfônica do Recife. O cenário já era teatral, o que se tornou uma das características das apresentações do Brincante, que ele criou em São Paulo mais de 30 anos depois. “A casa era meio antiga, com ingredientes insólitos, quase fantasmagóricos.” A professora era “baixinha, corcunda e com uma camada muito grossa de caspa na cabeça”, relembra. Passado um ano de estudos, dona Belinha declarou ao pai de Nóbrega que já não tinha o que ensinar ao menino (“Olha que mentira!”). Mas já havia chegado no Recife o violinista catalão Luís Soler, que deu continuidade à sua educação musical.


SilviaMachado

Até o início dos anos 1970, Nóbrega era um músico dividi­ do entre dois mundos.A música erudita, na Orquestra Sinfônica do Recife, e as influências que chegavam pelo rádio e pela nascente televisão. Mantinha com as três irmãs um conjun­ to familiar (violino, violoncelo, piano e bongô) que tocava Bea­ tles, Roberto Carlos e outros sucessos da época. E também compunha – teve duas músicas finalistas no festival de música do Recife, nos anos 1960. Eram mundos musicais isolados, até que o dramatur­ go paraibano Ariano Suassuna reparou no jovem violinista na apresentação de um concerto para violino de Bach na igre­ ja São Pedro dos Clérigos e o convidou para seu Quinteto Armorial. Foi por intermédio de Suassuna que Nóbrega co­ nheceu o mundo cultural que não atravessava as fronteiras da periferia, e estava por isso mui­ to mais distante da classe média recifense do que o que vinha da Europa e a Jovem Guarda de São Paulo. O maracatu e ou­ tros ritmos regionais se revela­ ram “um território com uma imensidão e uma riqueza que surpreendiam e abismavam”, e mostraram ao músico de 19 anos a conexão entre o erudito e o popular, entre a expressão de uma cultura e a técnica ins­ trumentista. “Não existe cria­ dor que tire de si um universo criacional sem que deite raízes em alguma coisa”, explica. O que brotou dessas raízes não foi só um músico mais completo. Terno de pífanos, cabaçal e esquenta-mulher en­ traram no repertório de Nó­ brega, que ao explorar o novo mundo sentiu também a neces­ sidade de aprender as danças, expressão completa dessa cul­ tura. Desde o desabrochar do


“Reuni um conjunto de práti­ cas e de linguagens, e com elas ergui meu castelo de criação.” Para ele, o destilado desses anos de pesquisa e de produção musical é a dança, que privi­ legia em seu espetáculo mais recente: , de 2009, cujo DVD deve sair este ano. A música popular faz parte do cotidiano do brasileiro, mas a população não usufrui do universo rít­ mico de dança produzido no país, lamenta.

E

ssa distância em relação à expressão corporal vem de longe. E está ligada à origem da riqueza cultural nos arredores de Recife: a escravatura. A capi­ tania de Pernambuco, estabele­ cida no século XVI, era uma das mais prósperas devido à produ­ ção de cana-de-açúcar.A proxi­ midade entre escravos de várias nacionalidades africanas, índios e portugueses formou um cal­

deirão cultural de onde saiu o maracatu, o frevo, o caboclinho e outros ritmos. “Sem esse en­ contro com negros e índios o Brasil seria, culturalmente, um Portugal de segunda, modifica­ do pela geografia e pelo clima tropical”, especula Nóbrega. A proximidade entre casa-grande e senzala fazia com que a música produzida pelos escra­ vos chegasse à elite, mas permi­ tir a exuberância física da dan­ ça dentro da sala de estar já não era simples. “Houve mo­mentos em que a dança qua­se entrou na casa, mas voltou atrás e não che­ gou a nutrir a cultura aristocra­ ta.” Entender esse universo é uma janela essencial pa­ra se enxergar o Brasil. “A dança é uma representação cultural, e todos temos esse pigmento.” O

Naturalmente, espetáculo de 2009 centrado na dança

Especial Prêmio Conrado Wessel | Pesquisa Fapesp

Silvia Machado

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artista no Quinteto Armorial se passaram quatro décadas e 22 espetáculos montados por ele, sempre buscando potencializar aquele primeiro encontro. E foram décadas de reflexão e de estudos para entender a origem e os universos fundadores dessa cultura popular e seu papel na identidade cultural do país, tra­ jetória que incluiu uma parada universitária nos anos 1980, em que por cinco anos foi professor de dança na Universidade Esta­ dual de Campinas (Unicamp). Quem hoje vê um espetá­ culo de Nóbrega não fica imu­ ne à exuberância e à beleza dos movimentos que ele recolhe, elabora e apresenta em novas re­ ­leituras. “O toque de cabocli­ nho agora ressoa no corpo de outra maneira”, conta o mul­­­­­ti-instrumentista e dançarino, que já não faz propriamente passos de capoeira, mas cria espetácu­ los com base (também) neles.


Dudu Schnaider

africano, explica, é por nature­ za moldável. Para ele, vem daí o caráter cordial muitas vezes associado ao brasileiro.

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arte, como representação simbólica dessa persona­ lidade, facilita que as pessoas se coloquem melhor diante de si próprias. De origem em geral religiosa, a dança adquire aspectos teatrais e atinge uma dimensão arquetípica que trans­ cende o religioso. Assim como o japonês, a dança brasileira surge de uma conjunção de componentes culturais. Essa é a importância, diz ele, de trazer a dança, como o folguedo com cavalo-marinho, para o reper­ tório cotidiano da população. Mesmo com elementos constantes, essa produção es­ pontânea aos poucos muda. Nóbrega cita gravações reco­ lhidas em 1938, no Nordes­ te, por iniciativa do escritor Mário de Andrade, agora dis­ ponível em caixa produzida pela Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo e pelo Sesc São Paulo.“São as mesmas coisas que ouvi nos anos 1970, mas com diferenças”, conta. E pondera que talvez esteja na hora de voltar a Pernambuco para revisitar e renovar as pes­ quisas. Nóbrega lamenta que a so­ ciedade atual, cada vez mais es­ crava do consumo, torne a vida das pessoas limitada à escola, à empresa, à televisão.“As pessoas precisam de outras dimensões para se posicionarem como se­ res humanos”, reflete, pensan­ do num bancário que passa o dia atrás do balcão, chega em casa cansado e se deita diante da televisão. “Ninguém é feito para isso.” A busca por compor um melhor cidadão passa, para ele, pela formação de conjuntos artísticos que tragam novidades.

Multi-instrumentista: Nóbrega em Lunário perpétuo, de 2002

E isso depende de políticas públicas. Ele cita o choro, uma representação musical brasileira com grande divulgação inter­ nacional, mas pouco estudado no Brasil. Para Nóbrega, a po­ lítica cultural deveria dar prio­ ridade ao que é mais relevante para a cultura brasileira, propi­ ciar a formação de conjuntos que tragam novidades. Na escala que pode alcan­ çar, é o que busca no Instituto Brincante. Por meio dos cur­ sos de formação de educadores da rede pública, que indicam maneiras de ensinar expressão corporal baseada nos ritmos típicos deste país, Nóbrega es­ pera ajudar a formar cidadãos

mais completos. Mas a natureza contagiante de suas apresenta­ ções permanece mais impor­ tante do que o ensino formal, na opinião de Carlos Augusto Calil, secretário de Cultura do município de São Paulo. “Ele faz com o corpo uma sensibi­ lização das pessoas”, afirma, “e pode fazer isso porque toca dois instrumentos: é bom músico e bom dançarino”. Ao depurar o gesto sem entrar na produção cultural de ampla escala, e pôr essa arte espontânea brasileira diante dos olhos da classe mé­ dia, o papel de Nóbrega acaba sendo político. Vem daí o maior motivo para premiar a carreira desse artista. ✦


arte

Fotógrafos finalistas Fotografia Publicitária

Ensaio Fotográfico Publicado

Aderi Costa Zarella Neto Manolo Moran Henrique Lorca Mauricio Nahas Marlúcio Ferreira Ella Durst Marcus Hausser Ricardo Cunha Paulo Laborne Claudio Meneghetti Daniel Katz Bordin Cacalo Leo Luz Bruno Maluf Marco Antonio Santos da Rocha Filho Gustavo Zylbersztjan Carlão

Valéria Simões André François Araquém Alcântara Zé Paiva Fernando Figueiroa Ensaio Fotográfico Inédito Sergio Ranalli Ricardo Teles Tadeu Vilani Pedro David

36

Especial Prêmio Conrado Wessel | Pesquisa Fapesp

Foco na imagem

D

enise Wichmann, de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, ganhou o Prêmio FCW de Arte, em Fotografia Publicitária, com Ousadia ímpar. Este ano, o primeiro lugar de Ensaio Publicado foi dividido por dois profissionais que trabalham juntos, Marcio Rodrigues e Marco Mendes, de Belo Horizonte, pela série O sol no céu de nossa casa. O segundo lugar ficou com João Roberto Ripper, do Rio de Janeiro, com Imagens humanas. Em Ensaio Inédito ganhou Ricardo Barcellos, de São Paulo. O valor total distribuído foi de R$ 285 mil, divididos entre os cinco fotógrafos. Nesta edição de 2009 do Prêmio FCW de Arte foram recebidas 198 inscrições de 22 estados (mais o Distrito Federal), número superior aos 19 estados da edição anterior. Nas páginas seguintes será possível conhecer os trabalhos dos cinco fotógrafos. No livro comemorativo deste ano haverá as fotos dos demais finalistas.


fotografia publicitária 1º lugar Ousadia ímpar, de Denise Wichmann


Especial PrĂŞmio Conrado Wessel | Pesquisa Fapesp

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ensaio fotográfico publicado 1º lugar O sol no céu de nossa casa, de Marcio Rodrigues


Especial PrĂŞmio Conrado Wessel | Pesquisa Fapesp

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ensaio fotográfico publicado 1º lugar O sol no céu de nossa casa, de Marco Mendes


Especial PrĂŞmio Conrado Wessel | Pesquisa Fapesp

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ensaio fotogrรกfico publicado 2ยบ lugar Imagens humanas, de Joรฃo Roberto Ripper


Especial PrĂŞmio Conrado Wessel | Pesquisa Fapesp

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ensaio fotográfico inédito 1º lugar Sem título, de Ricardo Barcellos


Instituições Parceiras da FCW Fun­da­ção de Am­pa­ro à Pes­qui­sa do Es­ta­do de São Pau­lo – FA­PESP Li­ga­da à Se­cre­ta­r ia de Ensino Superior do Estado de São Paulo, é uma das prin­ci­pais agên­ci­as de fo­men­to à pes­qui­sa ci­en­tí­fi­ca e tec­no­ló­gi­ca. Des­de 1962 con­ce­de au­xí­lio à pes­qui­sa e bol­sas em to­das as áre­as do co­­nhe­ci­men­to, fi­nan­ci­an­do ati­vi­da­des de apoio à in­ves­ti­ga­ção, ao in­ter­câm­bio e à di­vul­ga­ção da ci­ên­cia e tecnologia em São Paulo.

Co­or­de­na­ção de Aper­fei­ço­a­men­to de Pes­so­al de Ní­vel Su­pe­ri­or – Capes Vin­cu­la­da ao Mi­nis­té­r io da Edu­ca­ção, pro­mo­ve o de­sen­vol­vi­men­to da pós-gra­du­a­ ção na­ci­o­nal e a for­ma­ção de pes­so­al de alto ní­vel, no Bra­sil e no ex­te­r i­or. Sub­si­dia a for ­ma­ção de re­cur­sos hu­ma­nos al­ta­men­te qua­li­fi­ca­dos para a do­cên­cia de grau su­pe­r i­or, a pes­qui­sa e o aten­di­men­to da de­man­da dos se­to­res públicos e privados.

Con­se­lho Na­ci­o­nal de De­sen­vol­vi­men­to Ci­en­tí­fi­co e Tec­no­ló­gi­co – CNPq Fun­da­ção vin­cu­la­da ao Mi­nis­té­r io da Ci­ên­cia e Tec­no­lo­gia para apoio à pes­qui­sa bra­ si­lei­ra, que con­tri­bui di­re­ta­men­te para a for­ma­ção de pes­qui­sa­do­res (mes­tres, dou­to­res e es­pe­ci­a­lis­tas em vá­r i­as áre­as do co­nhe­ci­men­to). É uma das mais só­li­das es­tru­tu­ras pú­bli­cas de apoio à ci­ên­cia, tec­no­lo­gia e ino­va­ção dos paí­ses em desenvolvimento.

So­ci­e­da­de Bra­si­lei­ra para o Pro­gres­so da Ci­ên­cia – SBPC Fun­da­da há mais de 50 anos, é uma en­ti­da­de ci­vil, sem fins lu­cra­ti­vos, vol­ta­da prin­ci­ pal­men­te para a de­fe­sa do avan­ço ci­en­tí­fi­co e tec­no­ló­g i­co e do de­sen­vol­vi­men­to edu­ca­­ci­o­­­­­­­­­­­­­nal e cul­tu­ral do Bra­sil.

Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Ci­ên­ci­as – ABC So­ci­e­da­de ci­vil sem fins lu­cra­ti­vos, tem por ob­je­ti­vo con­tri­bu­ir para o de­sen­vol­vi­men­ to da ciência e tecnologia, da edu­ca­ção e do bem-es­tar so­ci­al do país. Reúne seus membros em 10 áre­as das Ciências: Ma­te­má­ti­cas, Fí­si­cas, Quí­mi­cas, da Ter­ra, Bi­o­ló­gi­ cas, Bi­o­­­­­mé­di­cas, da Saúde, Agrárias, da Engenharia e Humanas.

Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Le­tras – ABL Fun­da­da em 20 de ju­lho de 1897 por Ma­cha­do de As­sis, com sede no Rio de Ja­nei­ro, tem por fim a cul­tu­ra da lín­gua na­ci­o­nal. É com­pos­ta por 40 mem­bros efe­ti­vos e per­ pé­tu­os e 20 mem­bros cor­res­pon­den­tes es­tran­gei­ros.

Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial Criado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espaciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia.

Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa Organização sem fins lucrativos que tem por objetivo maior articular os interesses das agências estaduais de fomento à pesquisa em todo o país. Criado oficialmente em 2007, o conselho já agrega fundações de 22 estados mais o Distrito Federal.


J ú r i d o s prê mi os FC W de 20 09 ciência geral

parceira que indicou

Jacob Palis | Presidente ABC Adalberto Ramon Vieyra Capes Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho CNPq Eduardo Moacyr Krieger FAPESP Erney Plessmann de Camargo FCW Iván Izquierdo FCW José Machado Moita Neto Confap Leopoldo de Meis FCW Marco Antonio Sala Minucci CTA Marco Antonio Raupp SBPC

ciência aplicada Jorge Almeida Guimarães | Presidente Carlos Vogt Glaucius Oliva Guilherme Suarez Kurtz João Batista Calixto José Galízia Tundisi José Oswaldo Siqueira José Policarpo Gonçalves de Abreu Monica Ferreira do Amaral Porto Paulo Sergio Lacerda Beirão Sergio Mascarenhas

Capes FCW CNPq FCW Capes FCW CNPq Confap FAPESP SBPC FCW

medicina

Renata Caruso Fialdini | Presidente FCW Egberto Gaspar de Moura Confap Helena Bonciani Nader SBPC Cesar Victora FCW Erney Plessmann de Camargo FCW Marcello André Barcinski Capes Marco Antonio Zago FCW Mario José Abdalla Saad FAPESP Ricardo Renzo Brentani FCW Protásio Lemos de Luz FCW

cultura

Celita Procopio de Carvalho | Presidente FCW Alfredo Bosi FAPESP Ana Mae Tavares Bastos Barbosa FCW Carlos Vogt FCW Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho CNPq Domício Proença ABL João Grandino Rodas FCW Martha Tupinambá de Ulhôa Capes Mauro William Barbosa de Almeida SBPC Patrícia Maria Melo Sampaio Confap

arte / fotografia publicitária Rubens Fernandes Junior | Presidente Gilberto dos Reis Gisele Centenaro Juan Esteves Marcos Chagas Magaldi Ricardo Ramos Quirino

arte / ensaio fotográfico publicado e inédito Rubens Fernandes Junior | Presidente Alexandre José Belém de Souza Helouise Costa Hélio Campos Mello Joaquim Marçal Ferreira de Andrade Ricardo Chaves Ronaldo Entler

FCW Clube de Criação de São Paulo Revista About Revista Fotografe Melhor Abrafoto APP FCW Olha Vê MAC/USP Revista Brasileiros Biblioteca Nacional/Iconografia Jornal Zero Hora Unicamp


Cronograma da premiação 2010

Prazo para recebimento das indicações (Ciência e Cultura)

15 de novembro de 2010

Preparação dos dossiês dos indicados (Ciência e Cultura)

15 a 20 de novembro de 2010

Julgamento e escolha dos premiados (Ciência e Cultura)

25 e 26 de novembro de 2010

Prazo para recebimento das inscrições (Arte) Escolha dos premiados (Arte) Divulgação dos trabalhos (Arte)

5 de março de 2011

14 a 18 de março de 2011 13 de junho de 2011

Fundação Conrado Wessel | www.fcw.org.br


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