Prêmio FCW 2004

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E S P E C I A L prêmio

FCW

F u n d a ç ã o C o n r a d o We s s e l

Os vencedores do Prêmio Conrado Wessel de Arte, Ciência e Cultura 2004


Conselho Curador e Diretoria da FCW Conselho Curador Presidente Dr. Antonio Bias Bueno Guillon Membros Dr. José Hermílio Curado Dr. Reinaldo Antonio Nahas Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto Stefan Graf Von Galen Dr. Lélio Ravagnani Filho Dr. José Álvaro Fioravanti Capitão PM Kleber Danúbio Alencar Júnior

Diretoria Executiva Diretor Presidente Dr. Américo Fialdini Júnior

Diretor Vice-Presidente Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese

Diretor Financeiro Dr. José Moscogliatto Caricatti

Diretor Administrativo Dr. Adilson Costa Macedo

Coordenação Desta Edição José Moscogliatto Caricatti

Fundação Conrado Wessel Rua Pará, 50 - 15º andar Higienópolis - 01243-020 São Paulo, SP - Brasil Tel./fax: 11 3237-2590 www.fcw.org.br diretoria@fcw.org.br


índice

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FCW cumpre desejo de seu idealizador: faz filantropia e dá prêmios

Na terceira edição, Fundação aprimora formato da premiação A festa dos ganhadores reuniu cerca de 750 pessoas no Masp Conheça as sete instituições parceiras da Fundação

Pesquisas de César Victora moldaram políticas públicas

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Museu Goeldi ajuda a manter a riqueza biológica da Amazônia

Wessel criou a primeira fábrica brasileira de papel fotográfico

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Isaias Raw transformou o ensino da ciência e melhorou o Butantan

IAC desenvolveu 700 cultivares desde sua fundação

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Estudos de Alberto Franco são fundamentais para a navegação

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Capa Hélio de Almeida - Foto da capa: Miguel Boyayan

Ferreira Gullar faz verso e prosa com a mesma competência

As fotos publicitárias que ganharam o prêmio de Arte


Ideal

consolidado Fundação Conrado Wessel cumpre desejo de seu idealizador ao fazer filantropia e premiar arte, ciência e cultura

A

Fun­da­ção Con­ra­do Wes­sel (FCW), cri­a­ da em 1994, em pou­ cos anos de vida já cum­ pre fi­el­­men­te o de­se­jo de seu ide­a­ ­li­za­dor, Ubal­do Con­ra­do Au­gus­ to Wes­sel, de tor­ná-la uma ins­ti­ tu­i­ção que car­reie re­cur­sos com “ob­je­ti­vos fi­lan­tró­pi­cos, be­ne­fi­cen­tes, edu­ca­ti­vos, cul­ tu­rais e ci­en­tí­fi­cos”. Hoje seis en­ti­da­des re­ce­bem uma do­a­ ção anu­al re­le­van­te que be­­ne­fi­ cia di­re­ta­men­te 1.600 jo­vens e cri­an­ças ca­ren­tes e 370 adul­ tos. A fun­da­ção ofe­­re­ce tam­ bém, des­de 2002, o mai­or prê­ mio des­ti­na­do à arte, à ci­ên­­cia e à cul­tu­ra no Bra­sil. Tudo isso sem ter uma em­pre­sa que vise ven­der pro­du­tos com sua mar­ ca. A FCW exis­ te para fa­ zer fi­lan­tro­pia e pre­mi­ar ar­tis­tas e pes­qui­sa­do­res ou ins­ti­tu­tos de pes­qui­sa com tra­ba­lhos re­le­ van­tes no país. As en­ti­da­des que re­ce­bem do­a­ção são as Al­dei­as In­fan­

tis SOS do Bra­sil, o Co­lé­gio Ben­ja­min Cons­tant, o Cor­po de Bom­b ei­ros da Po­l í­c ia Mi­li­tar do Es­ta­do de São Pau­ lo, a Fun­da­ção An­tô­nio Pru­ den­te, a Pro­mo­ção So­ci­al do Exér­ci­to da Sal­va­ção e uma ins­ti­tu­i­ção de aju­da a cri­an­ ças ca­ren­tes es­co­lhi­da anu­al­ men­te pe­los di­ri­gen­tes da FCW. Em 2003 fo­ram do­a­dos R$ 480 mil; em 2004, R$ 640 mil; em 2005, R$ 720 mil. Os Prê­mi­os FCW de Arte, Ci­ên­cia e Cul­tu­ra ti­ve­ram a pri­mei­ra edi­ção em 2002. Nes­ta ter­cei­ra edi­ção foi ou­tor­ga­do o prê­mio à Fo­to­ gra­fia Pu­bli­ci­tá­ria, na ca­te­go­ ria Arte, dis­tri­bu­í­do a três fo­tó­gra­fos, no to­tal de R$ 140 mil lí­qui­dos; às res­pec­ti­vas agên­ci­as foi con­ce­di­do um di­plo­ma de hon­ra ao mé­r i­to. Em Ci­ên­cia e Cul­tu­ra, os pre­ mi­a­dos fo­ram pes­qui­sa­do­res em ci­ên­cia e tec­no­lo­gia e um po­e­­ta. Cada um ga­nhou um tro­féu e R$ 100 mil lí­qui­dos

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– o mai­or va­lor para es­co­lhas do gê­ne­ro do país. No caso da Ci­ên­cia, o sis­te­ma de se­le­ ção dos ga­nha­do­res con­tri­bui sig­ni­fi­ca­ti­va­men­te para sua cre­di­bi­li­da­de en­tre a co­mu­ni­ da­de ci­en­tí­fi­ca. Os no­mes fo­ram es­co­lhi­dos a par­tir de in­di­ca­çõ­es fei­tas por 104 uni­ ver­si­da­des fe­de­rais e es­ta­du­ ais, aca­­de­mi­as, ins­ti­tu­tos e ou­tras en­­ti­da­des de tra­di­ção no meio aca­dê­mi­co na­ci­o­nal. Por to­das es­sas ca­rac­te­rís­ ti­cas, a FCW acre­di­ta es­tar con­tri­bu­in­do para o in­cen­ti­vo de ati­vi­da­des que fa­rão o Bra­ sil mai­or e mais va­lo­ri­za­do do que é hoje. A pre­sen­te edi­ção des­ti­na-se a di­vul­gar as açõ­es da fun­da­ção para o pú­bli­co in­te­res­sa­do – no caso, pro­vá­ veis can­di­da­tos aos prê­mi­os no fu­tu­ro –, con­tar a his­tó­ria de Con­ra­do Wes­sel (na pá­gi­ na 6) e apre­sen­tar os ga­nha­ do­ res do Prê­ mio FCW de 2004 (a par­tir da pá­gi­na 14), co­nhe­ci­dos este ano. • PESQUISA FAPESP


FOTOS MIGUEL BOYAYAN

Alunos durante aula no Colégio Benjamin Constant e pesquisa no Hospital do Câncer, da Fundação Antônio Prudente: apoio da FCW

PESQUISA FAPESP

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Re­tra­to de um inv ­ ent­ or Conrado Wessel criou a primeira fábrica brasileira de papel fotográfico

C

on­ra­do Wes­sel era apai­xo­na­do pela ci­ên­­cia e pela ar­te. In­ven­tor na­to e e m­­p r e­e n­d e­d o r obs­ti­na­do, cri­ou a pri­mei­ra fá­­bri­ca bra­si­lei­ra de pa­pel fo­to­grá­fi­co, no iní­cio dos anos 1920, uti­li­zan­do tec­no­lo­ gia de­­­sen­vol­vi­da e pa­ten­te­a­da por ele. Con­quis­tou um mer­ca­ do até en­tão do­mi­na­do por for­ne­­ce­do­res es­tran­gei­ros e for­mou um pa­tri­mô­nio imo­bi­li­ á­rio que, obe­de­cen­do ao de­se­ jo ex­­­pres­so em seu tes­ta­men­to, foi uti­­li­za­do como las­tro para cri­ar uma fun­da­ção que apoi­as­ ­se ati­vi­da­des edu­ca­ti­vas, cul­tu­­ rais e ci­en­tí­fi­cas de seis en­­ti­da­ des e in­cen­ti­vas­se a ar­te, a ci­ên­cia e a cul­tu­ra por meio de prê­mi­os. A fun­da­ção foi ins­­ti­tu­

í­da em 1994, um ano de­pois da sua mor­te, aos 102 anos. Con­ra­do Wes­sel nas­ceu em Bu­e­nos Ai­res, em 1891, fi­lho de fa­mí­lia tra­di­ci­o­nal de fa­bri­can­tes de cha­péus, em Ham­bur­go, na Ale­ma­nha, que imi­gra­ra para a Ar­gen­ti­na, em me­a­dos do sé­cu­lo 19, para se es­ta­be­le­cer como es­tan­ci­ei­ra. No ano se­guin­te ao seu nas­­ci­ men­to o pai, Gui­lher­me Wes­ sel, for­ma­do em fí­si­ca, mi­grou para So­ro­ca­ba e, pos­te­ri­or­ men­te, para São Pau­lo, con­­vi­ da­do a le­ci­o­nar na re­cémfun­da­da Es­co­la Po­li­téc­ni­ca, no bair­ro da Luz. A pai­xão pela fo­to­gra­fia Con­ra­do Wes­sel her­dou do pai, que, pa­ra­le­la­men­te às au­las na Po­li­téc­ni­ca, ad­qui­riu uma loja de ma­te­ri­al fo­to­grá­fi­

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co onde ins­ta­lou um ate­liê de fo­to­gra­fia, na rua São Ben­to. Ain­da jo­vem, Con­ra­do Wes­sel ga­nhou dois prê­mi­os em con­ cur­sos pro­mo­vi­dos pela Se­cre­ta­ria da Agri­cul­tu­ra. O in­te­res­se pela fo­to­gra­fia le­vou-o ao es­tu­do da quí­mi­ca e, em 1911, Con­ra­do Wes­sel foi para Vi­e­na, na Áustria. Lá apren­d eu fo­t o­q uí­m i­c a na K.K. Lehr und Ver­suchs Ants­ talt, re­no­ma­da es­co­la de fo­to­ gra­fia, es­pe­ci­a­li­zan­do-se em cli­chês pa­ra jor­nais e re­vis­tas. Vol­ tou ao Bra­ sil, dois anos de­pois, cer­to de que o co­nhe­ ci­men­to ad­qui­ri­do na Eu­ro­ pa não era su­fi­ci­en­te para o seu “de­sen­vol­vi­men­to téc­ni­co e co­mer­ci­al”, como ele mes­­ mo ob­ser­vou em uma bre­ve au­to­bi­o­gra­fia. Seu pro­je­to era PESQUISA FAPESP


FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL

Conrado Wessel com aparelho fotográfico: paixão herdada do pai, professor da Politécnica

am­bi­ci­o­so: so­nha­va com a cri­ a­ção de uma fá­bri­ca de pa­pel fo­to­grá­fi­co na­ci­o­nal. Na épo­ca, os fo­tó­gra­fos do Jar­dim da Luz, um dos prin­ci­ pais lo­cais de la­zer da ci­da­de, tra­ba­lha­vam com uma câ­me­rala­bo­ra­tó­rio: uma cai­­xa de ma­dei­ra com uma ob­je­ti­va so­bre um tri­pé. A câ­me­ra era di­vi­di­da em duas par­tes.A in­fe­ ­ri­or con­ti­nha os ba­nhos de re­ve­la­dor e fi­xa­dor uti­li­za­dos para o pro­ces­sa­men­to quí­mi­ co de fil­­mes e pa­péis. O pa­pel uti­li­za­do era im­por­ta­do de fa­bri­can­tes como a Ko­dak, Agfa e Ge­vaert. Para re­a­li­zar seu pro­je­to de pro­du­zir pa­pel com qua­li­da­de equi­va­len­te ao do im­por­­ta­do, e a pre­ços mais bai­xos, Con­ra­do Wes­sel ma­tri­­cu­lou-se como PESQUISA FAPESP

ou­vin­te na Es­co­la Po­­li­téc­ni­ca. “Du­ ran­ te qua­ tro anos fiz de tudo ali”, con­tou. “Des­de a pre­ pa­ra­ção do ni­tra­to de pra­ta até os es­tu­dos das di­fe­ren­tes qua­li­ da­des de ge­la­ti­nas. Da ação dos ha­lo­gê­ni­os como o bro­mo, o clo­ro e o iodo so­bre o ni­tra­to de pra­ta. Fiz inú­me­ras ex­pe­ri­ên­ci­as mis­­tu­ran­do o ni­tra­to de pra­ta ao bro­­me­to de po­tás­sio, ao clo­re­to de só­dio e ao io­de­to de po­tás­ sio. Che­guei à con­clu­são de que a mis­tu­ra de uma pe­que­na dose de iodo ao bro­mo da­va mu­i­to me­lhor re­sul­ta­do, as­sim como a adi­ ção do bro­ mo ao clo­ ro.” De­pois de cen­te­nas de ex­pe­­ri­ ên­ci­as, Con­ra­do Wes­sel che­gou a uma fór­­mu­la sa­tis­fa­tó­ria para o pa­pel, cu­jas pro­vas, co­mo ele su­bli­nhou, agra­da­ram mu­i­to ao seu pai.

O pró­xi­mo de­sa­fio era ini­ ci­ar a pro­du­ção. Fal­ta­vam-lhe no en­tan­to di­nhei­ro, má­qui­ nas e pa­pel. As má­­qui­nas, ele ad­qui­riu “por 8 con­­tos e 500” de um es­tu­dan­te de fo­to­quí­ mi­ca que, tal como ele, ten­­ta­ ra fun­ dar uma fá­ bri­ ca de pa­pel fo­to­grá­fi­co. O ne­gó­cio não ti­n ha dado cer­to e o equi­pa­men­to es­ta­va dis­­po­ní­ vel. As má­qui­nas fo­ram ins­ta­ la­das num pe­que­no pré­dio de pro­pri­e­da­de do pai, na Bar­ra Fun­da, em 1921. “As fór­mu­las que eu ha­via ela­bo­ra­do pa­re­ ci­am boas, mas não po­de­ria as­se­gu­rar que se­ri­am boas tam­bém na fa­bri­ca­ção”, ele re­gis­trou, pre­o­cu­pa­do. Fal­ta­va-lhe, ain­da, o pa­pel ne­ces­sá­rio para os tes­tes, já que no Bra­sil não ha­via ne­nhu­ ma fá­bri­­ca que pu­des­se for­ne­ cer o pa­pel ba­ri­ta­do. O ma­­­te­ri­ al ti­nha que ser com­pra­do na Fran­ça, fa­bri­ca­do pela Ri­vers, ou na Ale­ma­nha, pela Schol­ler. Con­ra­do Wes­sel saiu à cata de um im­por­ta­dor. “En­quan­to a en­co­men­da não che­ga­va, es­tu­ dei como pen­ du­ rar o pa­ pel emul­si­o­na­do para se­car no pe­que­no es­pa­ço de que dis­pu­ nha”, dis­se. O aca­so, ele re­co­nhe­ceu, aju­dou-o a en­con­trar a so­lu­ ção. Con­ra­do Wes­sel es­ta­va na Ta­pe­ça­ria Schultz, para a qual re­a­li­za­va um ser­vi­ço de pro­ pa­gan­da, quan­do lhe cha­mou a aten­ção o sis­te­ma de cor­ti­ nas que se mo­vi­am por cor­di­ nhas usa­das pe­los ta­pe­cei­ros. Fez um cro­ qui do sis­ te­ ma uti­li­za­do na Schultz e ima­gi­ nou que, em­pre­gan­do mé­to­ do se­me­lhan­te, po­de­ria se­car mais de 100 me­tros de pa­pel. O pa­pel che­gou e a pe­que­

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Documento atesta “uso effectivo” do novo processo de produção de papel fotográfico patenteado por Conrado Wessel em 1921

na fá­bri­ca ini­ci­ou sua pro­du­ ção. “Foi um de­sas­tre”, re­su­ miu Con­ra­do Wes­sel. Não se apro­ vei­ tou mais do que 10 cen­tí­me­tros dos 10 me­tros de pa­pel emul­si­o­na­dos. Nova ten­ta­ti­va, nova frus­tra­ção. O pa­pel, ele des­cre­veu, es­ta­va qua­se todo “ei­va­do de pe­que­ nas bo­lhas e ou­tras par­tí­cu­las in­de­se­já­veis”. En­quan­to “ma­tu­ta­va” so­bre o pro­ble­ma, mais uma vez o aca­ so – e o olhar arguto – trou­xe a so­lu­ção. Con­ra­do Wes­sel foi cha­ma­do à fá­bri­ca das Li­nhas Cor­ren­tes, no Ipi­ ran­ga, para exe­cu­tar um ser­vi­ ço de cli­ chês. Sozinho no sa­lão de es­pe­ra, re­pa­rou nu­ma pe­que­na má­qui­na uti­li­za­da para pas­sar goma no ver­so das eti­que­tas. Ele des­cre­veu esse

equi­pa­men­to: “Ha­via uma cuba e um rolo imer­so den­tro dela. Com a má­qui­na em mo­vi­ men­ to, o rolo pas­ sa­ va uma cer­ta quan­ti­da­de da so­lu­ção, dei­xan­do es­tri­as so­bre o pa­pel, que tam­bém se­guia seu cur­so. Eu­re­ca, pen­sei, meu pro­ble­ma está re­sol­vi­do”. Mais uma vez fez um cro­qui e adap­tou a má­qui­na de emul­si­ o­na­gem ao mo­de­lo da­que­la uti­li­za­da pa­ra go­mar eti­que­tas. E de­ta­lhou os re­sul­ta­dos: “A má­qui­na se re­su­mia no se­guin­ te: uma cuba de bar­ro vi­dra­do (na­que­la épo­ca não exis­tia o aço ino­xi­dá­vel) cheia de emul­são e um rolo de ebo­ni­te que mer­gu­lha­va nela. O pa­pel pas­sa­va en­tre um ou­tro eixo fixo, re­ gu­ la­ do como o rolo. Des­sa ma­nei­ra, as bo­lhas fi­ca­

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vam to­das na cuba. Mais tar­de esse sis­te­ma foi me­lho­ra­do, com mais de um rolo de ebo­ ni­te, tor­nan­­do im­pos­sí­vel o sur­gi­men­to de bo­lhas so­bre o pa­pel. Fi­ze­mos no­vas ex­pe­ri­ ên­ci­as com ple­no êxi­to.Va­mos fa­bri­car e ven­der”, co­me­mo­ rou. Nas­ceu as­sim a Fá­bri­ca Pri­vi­le­gia­da de Pa­péis Pho­to­ gra­fi­cos Wes­sel. Con­ra­do Wes­sel não ima­gi­ na­va, no en­tan­to, que te­ria que en­fren­tar ain­da a re­sis­tên­cia dos fo­tó­gra­fos, seus po­ten­ci­ais cli­en­tes. “Eles ex­pe­r i­men­ta­ ram o ma­te­ri­al, acha­ram bons os re­sul­ta­dos, mas jul­ga­ram me­lhor con­ti­nu­ar com o pos­ tal da Ri­dax, da Ge­vaert, ape­ sar do pre­ço do meu ser bem me­nor.” Foi nes­sa épo­ca que ele for­jou o lema que o acom­ PESQUISA FAPESP


IMAGENS FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL

Conrado Wessel foi premiado em concursos de fotografias no início do século 20

Parceria com a Kodak permitiu a construção de nova fábrica de papel fotográfico

pa­ nha­ ria por toda a vida: “In­sis­ta, não de­sis­ta”. Os ne­gó­ci­os iam mal até que a sor­te – ou tal­vez a his­ tó­ ria – re­ ver­ teu o ris­ co do fra­cas­so. No dia 5 de ju­lho de 1924, Isi­do­ro Dias Lo­pes de­f la­grou o mo­vi­men­to co­nhe­ci­do como a Re­vo­lu­ção dos Te­nen­tes. São Pau­lo fi­cou si­ti­a­­da, iso­la­da do res­to do país. Aos fo­tó­gra­fos da Luz fal­ tou pa­pel im­por­ta­do. “Numa ma­nhã de um dos pri­mei­ros dias de re­vo­lu­ção apa­re­ceu um de­­­ les em mi­ nha casa e per­gun­tou se eu ti­nha pos­tais para ven­der”, con­tou Con­ra­ do Wes­sel. A re­vo­lu­ção abriulhe o mer­ca­do. Ao fim de 29 dias de cer­co, os re­bel­des se ren­de­ram. O flu­xo de pa­pel im­por­ta­do foi res­ta­be­le­ci­­do, PESQUISA FAPESP

mas a fá­bri­ca de pa­péis cri­a­da por Con­ra­do Wes­sel já ti­nha, de­fi­ni­ti­va­men­te, con­quis­­­­­ta­do a cli­en­te­la que lhe per­ma­ne­ ceu fiel. Os gran­des fa­bri­can­tes es­tran­gei­ros, como a Ge­vaert, ten­ta­ram ain­da re­cu­pe­rar o mer­ca­do ofe­­re­cen­do pro­du­ tos mais ba­ra­tos. Con­ra­do Wes­sel tam­bém bai­xou os pre­ços. “Por in­crí­vel que pa­­ re­ça, es­tes pos­tais mais ba­ra­ tos não fo­ram acei­tos pe­los am­bu­lan­tes. Nem os meus, nem os da Ge­vaert.” A pro­du­ ção bra­si­lei­ra cres­ceu, Con­ra­ do Wes­sel com­prou um pré­ dio mai­or, na mes­ma rua, e con­so­li­dou sua po­si­ção no mer­ca­do. Não fal­­ta­ram pro­ pos­tas de em­pre­sas es­tran­ gei­ras in­te­res­sa­das em par­ce­

ria com a ago­ ra prós­ pe­ ra fá­­bri­ca bra­si­lei­ra de pa­péis, até que Con­ra­do Wes­sel fir­ mas­ se um con­ tra­ to com a Ko­dak. Fi­cou acer­ta­­do que a em­p re­s a nor­t e-ame­r i­c a­n a cons­tru­i­ria uma fá­bri­ca no­va em San­to Ama­ro, com ma­qui­ ná­­r io mo­der­no, que se­r ia ad­mi­nis­tra­da por Con­ra­do Wes­sel por um pe­rí­o­do de 25 anos ao fim do qual a fá­bri­ca e a pa­ten­te pas­sa­r i­am à Ko­dak. Ao lon­go des­se pe­rí­o­do, com o lu­cro dos ne­gó­ci­os bem ad­mi­nis­tra­dos, Con­ra­do Wes­sel comprou imóveis nos bair­ros de Cam­p os Elí­­se­os, Bar­ra Fun­da, San­ta Ce­cí­lia e Hi­gie­nó­po­lis, que, no fu­tu­ro, se tornariam o pa­tri­mô­nio da fun­da­ção. •

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Ciência,

arte e cultura FCW apri­mo­ra for­ma­to da mai­or pre­mi­a­ção em di­nhei­ro con­fe­ri­da por uma ins­ti­tu­i­ção bra­si­lei­ra

A

cada edi­ção do Prê­ mio FCW de Arte, Ci­ên­cia e Cul­tu­ra, a Fun­da­ção vem aper­f ei­ç o­a n­d o seu for­ma­to para tor­ná-lo mais in­te­res­san­te e co­brir even­tu­ais la­cu­nas. Na ter­cei­ra edi­ção, de 2004, cuja ce­ri­mô­nia de en­tre­ga dos prê­ mi­os ocor­reu em 30 de maio de 2005, hou­ve uma mu­­dan­ ça: ago­ra, na ca­te­go­ria Ar­te, em que a FCW ho­me­na­geia o fo­tó­gra­fo pu­bli­ci­tá­rio, são lem­ ­­bra­das tam­bém as agên­­ci­as de pu­bli­ci­da­de às quais as fo­tos se vin­cu­la­ram – seus di­re­­to­res re­ce­­bem um di­plo­ma de hon­ ra ao mé­ri­to. O nome do prê­ mio Ci­ên­cia Apli­ca­da ao Mar foi su­bs­­­ti­tu­í­do por Ci­ên­cia Apli­ca­­da à Água para am­pli­ar o es­co­­po do prê­mio e per­mi­tir a can­di­­da­tu­ra de es­pe­ci­a­lis­tas em es­tu­­dos so­bre re­cur­sos hí­dri­cos. Na ga­le­ria de lau­re­a­dos pe­lo Prê­mio FCW ob­ser­va-se uma pro­fu­são de ta­len­tos bra­ si­lei­ros. Na pri­mei­ra edi­ção,

Ciência Geral

em 2002, os prê­mi­os na área de Ciên­ci­a fo­­ram dis­tri­bu­í­dos por meio de con­ cur­ so nas es­co­las da rede pú­bli­ca de São Paulo. A FCW dis­tri­bu­iu 18 com­pu­ta­do­res e R$ 150 mil en­­ tre as es­co­las, pro­fes­so­res e alu­nos pre­mi­a­dos. Na área de Li­te­ra­tu­ra fo­ram pre­mi­a­dos três au­to­res iné­di­tos, se­le­ci­o­ na­dos por crí­ti­cos li­te­rá­ri­os en­tre 94 con­cor­ren­tes: No­ê­ mia Sar­to­ri Pon­ze­to, Ma­ria Fi­lo­ me­na Bou­is­­sou Le­pec­ki e San­ ti­a­go Na­za­ri­an. O prê­­mio foi a edi­ção do livro inédito de cada um, com ti­ ra­ gem de 2 mil exem­pla­res, com noi­te de au­tó­gra­fo no Mu­seu da Casa Bra­si­lei­ra, em São Pau­lo. O prê­ mio de Ar­te foi con­fe­ri­do aos fo­tó­gra­fos Klaus Wer­ner Mit­ tel­dorf, Mau­rí­cio Sa­lo­mão Na­has Fi­lho, Al­lard Wil­len Mein­dert van Wie­link. Na se­gun­da edi­ção, em 2003, a pre­mi­a­ção ad­qui­riu novo for­ma­to para des­ta­car o tra­ba­lho de pes­qui­sa­do­res vin­ cu­la­dos a uni­ver­si­da­des e ins­ ti­tu­tos de pes­qui­sa. O prê­mio

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Medicina

Ciência Aplicada ao Campo

foi di­vi­di­do em seis ca­te­go­ri­ as: Ci­ên­cia Ge­ral (Car­los Hen­ri­ que de Bri­to Cruz foi o ga­nha­ dor), Ci­ên­cia Apli­ca­da ao Meio Am­bi­en­te (Phi­lip Mar­tin Fe­arn­si­de), ao Cam­po (Jai­­ro Vi­dal Vi­ei­ra), ao Mar (Die­ter Carl Ernst Hei­no Mu­e­he), Me­di­ci­na (Ma­ria Inês Schmidt) e Li­te­ra­tu­ra (Lia Luft). Na ca­te­ go­ria Arte ga­­nha­ram os fo­tó­ gra­fos Bob Wol­fen­son, Le­o­nar­ do Mar­tins Vi­le­la e Már­cia Ra­ma­lho. Para am­pli­ar a par­ti­ci­pa­ção dos ci­en­tis­tas, a FCW fir­mou acor­do com en­ti­da­des de fo­men­to à ci­ên­cia e tec­no­lo­ gia, en­tre elas a FA­PESP, que pas­sou a in­te­grar a co­mis­são de or­ga­ni­za­ção e ava­li­a­ção das can­di­da­tu­ras. Os ven­ce­do­res de ca­da ca­te­go­ria re­ce­bem um prê­mio no va­lor de R$ 100 mil lí­qui­dos – o mai­or já con­ fe­ri­do por uma ins­ti­tu­i­ção bra­si­lei­ra – e uma es­cul­tu­ra de Vla­vi­a­nos. A lis­ta com o nome dos in­di­ca­dos foi sub­me­ti­da à ava­li­a­ção de um júri for­ma­do por en­ti­da­des par­cei­ras da PESQUISA FAPESP


MIGUEL BOYAYAN

Literatura

Ciência Aplicada ao Meio Ambiente

FCW (veja a lis­ ta no fi­ nal des­ta edi­ção). Em 2004, na ter­cei­ra edi­ ção, o bi­o­quí­mi­co Isai­as Raw, pre­si­den­te da Fun­da­ção Bu­tan­tan, ga­nhou o prê­mio de Ci­ên­cia Ge­ral. Raw tem uma ex­ten­sa his­tó­ria como pes­qui­sa­dor na Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo (USP) e em cen­ tros dos Es­ta­dos Uni­dos, como o Ins­ti­tu­to de Tec­no­lo­gia de Mas­sa­chu­setts (MIT) e a Uni­ ver­si­da­de Har­vard, e de Is­rael, como a Uni­ver­si­da­de He­brai­ ca de Je­ru­sa­lém. Exer­ceu im­por­tan­te pa­pel na for­ma­ção de pes­qui­sa­do­res e na di­fu­são da ci­ên­cia no Bra­sil e foi um dos fun­da­do­res da Fun­da­ção Car­los Cha­gas e do Cen­tro de Bi­o­tec­no­l o­g ia do Ins­t i­t u­t o Bu­tan­tan (co­­nhe­ça o per­fil dos ga­ nha­ do­ res de 2004 a par­tir da pá­gi­na 14). Cé­sar Go­mes Vic­to­ra, pro­ fes­sor da Fa­cul­da­de de Me­di­ ci­na da Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral de Pe­lo­tas (UFPel), ga­nhou o prê­mio de Me­di­ci­na em ra­zão de seus tra­ ba­ lhos para a PESQUISA FAPESP

Ciência Aplicada à Água

Arte

me­lho­ria da saú­de in­fan­til no Bra­sil e em ou­tros 40 paí­ses. Dos dez tra­ba­lhos mais ci­ta­ dos so­bre alei­ta­men­to ma­ter­ no na Amé­ri­ca La­ti­na, sete são de sua au­to­ria ou co-au­to­ria, de acor­do com da­dos do Ins­ ti­tu­te for Sci­en­ti­fic In­for­ma­ti­ on (ISI). Na ca­te­go­ria Ci­ên­cia Apli­­ca­da à Água ga­nhou o al­mi­ran­te Al­ber­to dos San­tos Fran­co, es­pe­ci­a­lis­ta na aná­li­se e pre­vi­são das ma­rés, tra­ba­lho de gran­de im­por­tân­cia para a Ma­ri­nha e to­do o trans­por­te ma­rí­ti­mo por per­mi­tir com­ ple­ta mo­ni­to­ra­ção de na­ve­ga­ bi­li­da­de do país. Em Ci­ên­cia Apli­ca­da ao Cam­po o es­co­lhi­do foi o Ins­ti­ tu­to Agro­nô­mi­co de Cam­pi­nas (IAC) por pes­qui­sas so­bre pro­ du­ção ve­ge­tal vi­san­do ao de­sen­vol­vi­men­to so­ci­o­e­co­nô­ mi­co com qua­li­da­de am­bi­en­ tal. O IAC é ór­gão da Agên­cia Pau­lis­ta de Tec­no­lo­gia dos Agro­ne­gó­ci­os, da Se­cre­ta­ria de Agri­cul­tu­ra e Abas­te­ci­men­to do Es­ta­do de São Pau­lo e tem 118 anos – foi cri­ a­ do pe­ lo

im­pe­ra­dor d. Pe­dro II. O Mu­seu Pa­raen­se Emí­lio Go­el­ di, de Be­lém, foi o pre­mi­a­do na ca­te­go­ria Ci­ên­cia Apli­ca­da ao Meio Am­bi­en­te. Pri­mei­ra ins­ti­tu­i­ção ci­en­tí­fi­ca da Ama­ zô­nia, o Emí­lio Go­el­di pro­duz e di­f un­d e co­nhe­ci­men­tos so­bre a re­gião, ca­ta­lo­ga e ana­ li­sa sua di­ver­si­da­de bi­o­ló­gi­ca e so­ci­o­cul­tu­ral, além de con­tri­ bu­ir para a for­ma­ção da me­mó­r ia cul­tu­ral, para o de­sen­vol­vi­men­to re­gio­nal e edu­ca­ção. Fer­rei­ra Gul­lar, po­e­ta ma­ra­nhen­se ra­di­ca­do no Rio de Ja­nei­ro, foi o lau­re­a­do em Li­te­ra­tu­ra. Es­cri­tor ver­sá­til, é ex­­po­en­te da crí­ti­ca e da dra­ ma­tur­gia na­ci­o­nais. Po­e­ma sujo, Na ver­ti­gem do dia e Den­tro da noi­te ve­loz são al­ guns de seus li­vros de po­e­mas mais co­­nhe­ci­dos. Por fim, os pre­mi­a­dos na ca­te­go­ria Ar­te (Foto Publicitária) fo­ ram os fo­tó­gra­fos Ri­car­do Cu­nha, em pri­mei­ro lu­gar, Pau­lo Vai­ner, em se­gun­do, e Fe­li­pe Hell­ meis­ter, em ter­cei­ro. •

ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 11


GABRIEL VALLEJO

Os ganhadores do Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura 2004 durante a cerimônia no Masp FERNANDO SILVEIRA

Festa dos

vencedores no masp

12 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

Antonio Bias Bueno Guillon, presidente do Conselho Curador da FCW, e Ferreira Gullar GABRIEL VALLEJO

A

cerimônia de entrega do Prêmio FCW 2004 de Arte, Ciência e Cultura foi realizada no dia 30 de maio de 2005 no Museu de Arte de São Paulo (Masp), na capital paulista. Os sete vencedores das áreas de Ciência, Cultura e Arte, os integrantes do júri que fez a escolha final, o Conselho Curador e os diretores da Fundação Conrado Wessel estiveram presentes no auditório do museu. Cerca de 750 pessoas assistiram à cerimônia. Na mesma ocasião foi aberta a Mostra de Fotografia Publicitária, que ficou no Masp até o dia 12 de junho. A exposição apresentou o que de melhor foi produzido pelos fotógrafos da área e que concorreram ao prêmio de Arte da FCW. Veja nestas duas páginas alguns flagrantes da festa.

Isaias Raw com Julio Neves, presidente do Masp, logo depois da cerimônia de premiação PESQUISA FAPESP


FERNANDO SILVEIRA

Almirante Alberto dos Santos Franco e Fernando de Arruda Botelho, da FCW

GABRIEL VALLEJO

GABRIEL VALLEJO

Secretário estadual da Cultura, João Batista de Andrade (esq.), Américo Fialdini Jr. e José M. Caricatti, da FCW, e Carlos Vogt, da FAPESP

FERNANDO SILVEIRA

FERNANDO SILVEIRA

Integrantes do júri que escolheu os vencedores (primeira fila), do Conselho Curador e da diretoria da FCW

Felipe Hellmeister, Ricardo Cunha e Paulo Vainer ganharam o prêmio de Arte com suas fotos

PESQUISA FAPESP

Visitantes observam fotos na abertura da Mostra de Fotografia Publicitária

ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 13


CIÊNCIA GERAL

A arte de

transformar Isaias Raw revolucionou o ensino da ciência e a produção de insumos para a saúde

I

sai­as Raw di­ver­te-se fa­zen­do ci­ên­cia. E vive ar­qui­te­tan­do mei­os e mo­dos de com­par­ti­lhar esse pra­ zer com as no­vas ge­ra­çõ­es. Ainda aluno do ginásio, na dé­ca­da de 1940, trans­for­mou a ga­ra­ gem de sua casa em um la­bo­ ra­ tó­ rio que vir­ aria base de ope­ ra­ ção, no futuro, de um pro­gra­ma re­vo­lu­­ci­o­­ná­r io de edu­c a­ç ão em ci­ê n­­c ia: os fa­mo­sos kits de Quí­m i­c a, Ele­t ri­­c i­d a­d e e Bi­o­lo­gia. Durante anos esses kits foram distribuídos em es­co­ las e, posteriormente, passaram a integrar o port­ fólio de produtos da editora Abril. Es­tu­dan­te da Fa­cul­da­ de de Me­di­ci­na da Uni­ver­si­ da­de de São Pau­lo (USP), aos

20 e pou­­cos anos cons­tru­iu um Mu­seu de His­tó­ria Na­tu­ ral e fun­dou a re­vis­ta Cul­tus para di­fun­dir in­for­ma­çõ­es so­bre a bi­o­lo­gia mo­der­na en­tre pro­fes­s o­res. Aos 75 anos, tan­to fez até que con­se­ guiu inau­ gu­ rar, em 2002, o Mu­seu de Mi­cro­bi­o­lo­gia, no Ins­ti­tu­to Bu­tan­­­tan, cuja mis­ são é es­ti­mu­lar a cu­ri­o­si­da­de ci­en­tí­fi­ca en­tre alu­­­­­nos e pro­ fes­so­res do en­si­no fun­da­men­ tal e mé­dio. Um dos de­par­ta­ men­tos mais con­cor­r i­­­dos do mu­seu é o seu la­­bo­ra­tó­r io, equi­pa­do com mi­­cros­­­­­­có­­pi­os in­di­vi­du­ais e mo­der­nas ver­sõ­ es dos ve­lhos kits de ex­pe­ri­ men­tos ci­en­tí­fi­cos que in­clu­ em, en­t re ou­t ros, a ma­ni­pu­la­ção de or­ga­nis­mos uni­­ce­lulares.

14 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

Não fo­ram as ini­ci­a­ti­vas na área de edu­ca­ção em ci­ên­ cia que de­ram fama a Isai­as Raw. No iní­cio da dé­ca­da de 1960, ele já era um bi­o­quí­mi­­ co re­co­nhe­ci­do in­ter­na­ci­o­ nal­m en­t e. “En­t rei na fa­c ul­ da­de in­te­res­sa­do em fa­zer pes­­qui­sa, não em ser mé­di­ co”, ex­pli­ca o cientista. Iso­ lou uma das en­zi­mas do ci­clo de oxi­da­ção de áci­dos gra­ xos, obteve a cris­ta­li­za­ção da cro­to­na­se, en­zi­ma do ci­clo de oxi­da­ção de áci­dos gra­­xos, de­­mons­trou a exis­tên­cia de uma via al­ter­na­ti­va de trans­ por­te de elé­trons na mem­bra­ na ex­ter­na da mi­to­côn­dria e – con­­tri­bu­i­­ção mai­or – pro­ vou que subpar­tí­cu­las mi­to­ con­dri­ais eram ca­pa­zes de con­ser­var ener­gia quí­mi­ca na PESQUISA FAPESP


MIGUEL BOYAYAN

Ainda aluno do ginásio, Raw transformou a garagem de casa num centro de produção de kits distribuídos em escolas

mo­lé­cu­la de ATP. Suas ob­ser­ va­çõ­es con­fron­ta­ram o dog­­ ma de que a mi­ to­ côn­ dria de­ve­r ia es­tar in­tac­ta para ha­ver fos­fo­ri­la­ção e in­co­mo­ daram os pa­pas da bi­o­­quí­mi­ ca. A des­co­ber­ta da exis­tên­ cia de uma via al­ter­na­ti­va de elé­trons na mem­bra­na ex­ter­ na da mi­to­côn­dria só foi re­­ co­nhe­ci­da em 1967. Foi tam­ bém pi­o­nei­ro na in­ves­ti­ga­ção de en­zi­mas do me­ta­bo­lis­mo do Try­pa­nos­o­ma cru­zi. Na épo­ ca, ele tam­ bém da­va au­las na Fa­cul­da­de de Me­di­ci­na. “Isai­as era de­sa­fi­a­ dor”, lem­bra Ri­car­do Bren­ta­ ni, di­re­tor pre­si­den­te da FA­PESP e diretor do Instituto Ludwig de Pesquisa contra o Câncer, ex-alu­no e dis­cí­pu­lo de Isai­as Raw. Na ter­ça-fei­ra, PESQUISA FAPESP

quan­do che­ga­vam as re­vis­tas in­ter­na­ci­o­nais, Isai­as com­ parecia à bi­bli­o­te­ca bem an­tes do iní­cio do ex­pe­di­en­te – um pri­vi­lé­gio ex­­clu­si­vo dos pro­fes­so­res – e lia tudo que ha­v ia de no­v i­d a­de para de­pois ins­ti­gar seus alu­nos com in­for­ma­çõ­es que eles não ti­nham. No la­bo­ra­tó­r io, es­ti­mu­la­va-os a ex­pe­r i­men­ tar qual­quer idéia, mes­mo que a úni­ca con­clu­são fos­­se a de que só se apren­ de fa­ zen­ do er­ra­do. “Isai­as foi fun­da­men­ tal na nos­sa for­ma­ção como ci­en­tis­tas e como gen­te”, re­co­nhe­ce Bren­ta­ni. O ci­en­tis­ta-pro­fes­sor teve seu mo­men­to de em­pre­en­de­ dor: criou na Fundação para o Desenvolvimento do Ensi­ no de Ciências (Funbec), en­ tão

sob sua direção, uma in­dús­tria de equi­pa­men­tos mé­di­cos e ci­en­tí­fi­cos, de onde saí­ram os pri­mei­ros ele­tro­car­di­ó­gra­fos, mo­ni­to­res, car­di­o­ver­so­res, pH­me­tros e fo­to­co­lo­rí­me­tros pro­­du­zi­dos no país. A qua­li­da­de da pes­qui­sa cre­den­ci­ou-o para o car­go de pro­fes­sor de Quí­mi­ca Fi­si­o­ló­ gi­ca da Fa­cul­da­de de Me­di­ci­ na em 1964, logo de­pois de ter saí­do da pri­são, acu­sa­do de sub­ver­s i­vo. Isai­a s Raw, ali­ás, foi pre­so duas ve­zes. A se­gun­da, em 1969, o le­vou ao exí­lio. De­sem­bar­cou na Uni­ ver­si­da­de He­brai­ca de Je­ru­ sa­lém, em Is­rael, que ele con­­ si­de­ra­va sua se­gun­da pá­tria, com pla­nos de con­tri­bu­ir para o en­si­no da ci­ên­cia – mas a ex­pe­ri­ên­cia foi frus­tran­te. “É

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MIGUEL BOYAYAN

mu­i­to di­fí­cil in­ter­fe­r ir na edu­ca­ção de um ou­tro país se vo­cê é es­tran­gei­ro”, re­co­ nhe­ceu. Um ano de­pois es­ta­ va no Ins­ti­tu­to de Tec­no­lo­gia de Mas­sa­chu­setts (MIT), nos Es­ta­dos Uni­dos. Lon­ge de seu gru­po de pes­qui­sa, de­ci­ diu de­­di­car-se à ve­lha pai­ xão: a edu­ca­ção em ci­ên­ci­a. O pro­gra­ma foi capa da pres­ ti­gia­da Che­mi­cal News e vi­rou li­vro.“Quan­do o pro­gra­ ma mor­reu, fui con­vi­da­do para ir para a Es­co­la Pú­bli­ca da Uni­ver­si­da­de Har­vard, no De­par­ta­men­to de Nu­tri­ção”, lem­bra. No exí­lio es­cre­veu o li­v ro From mo­le­cu­le to me­di­ci­ne-ane­mia, em que de­fen­deu a idéia – co­lo­ca­da em prá­ti­ca anos an­tes, na USP – de in­te­gra­ção da ci­ên­cia bá­si­ca e clí­ni­cas num cur­so de me­di­ci­na ex­pe­ri­men­tal.

V

ol­tou ao Bra­sil, em 1980, e não acei­tou ser rein­ te­gra­do aos qua­ dros da USP. Ale­gou que o De­par­ta­men­ to de Bi­o­quí­mi­ca que, na prá­ti­ ca, ti­nha aju­da­do a fun­dar não ne­ces­si­ta­va mais dele. Foi aco­ ­lhi­do por ami­gos no La­bo­ra­tó­ rio La­voi­si­er de Aná­li­ses Clí­­ni­ cas até ser con­tra­ta­do pelo Ins­ti­tu­to Bu­tan­tan. Aí co­me­ çou ou­tra em­prei­ta­da: a de mo­­der­ni­zar o ins­ti­tu­to e trans­ for­má-lo num ór­gão de Es­ta­do com a mis­são de pro­du­zir in­su­mos para a pro­mo­ção da saú­de. Sob a li­de­ran­ça de Isai­as Raw, o ins­ti­tu­to am­pli­ou seus qua­dros, in­ves­tiu no de­sen­ vol­vi­men­to de pes­qui­sa e nas plan­t as de no­vos pro­d u­ tos. Hoje o Bu­tan­tan pro­duz 200 mi­lhõ­es de do­ses de va­ci­na por ano, en­tre elas a trí­pli­ce (co­que­lu­che, dif­te­r ia

O bioquímico levou o Instituto Butantan a produzir 200 milhões de doses de vacinas anualmente

e té­ta­no), a du­pla (dif­te­ria e té­ta­no), as va­ci­nas con­tra he­pa­ti­te B, con­tra a tu­ber­cu­ lo­se e gri­pe, além de um sur­ fac­tan­t e para pro­t e­ger cri­ an­ç as pre­m a­t u­ras. Isso sem fa­l ar no pro­je­to de cons­tru­ ção de uma fá­bri­ca de he­mo­ de­ri­va­dos, pro­teí­nas ob­ti­das a par­tir do plas­ma, uti­li­za­das no tra­ta­men­to de do­en­ças como a he­ mo­ fi­ lia A e B e como ma­té­ria-pri­ma na pro­ du­ção de va­ci­nas. Wal­t er Col­l i, pro­fes­s or ti­tu­lar do Ins­ti­tu­to de Quí­ mi­ ca da USP, as­ ses­ sor da

16 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

di­r e­t o­r ia ci­e n­t í­f i­c a da FA­PESP, ex-alu­­no e com­pa­ nhei­ro de Isai­as Raw, tes­te­ mu­nhou o seu es­for­ço trans­ for­ma­dor. “Em tu­do o que to­cou Isai­as foi re­vo­lu­ci­o­ná­ rio”, ele afir­mou no dis­cur­so em ho­me­na­gem aos seus 75 anos. “Fez a sub­ ver­ são da in­te­li­gên­cia con­tra a me­di­o­ cri­da­de; da pro­vo­ca­ção in­te­ lec­tu­al con­tra a aco­mo­da­ ção; da ver­da­de no dis­cur­so con­tra a im­pos­tu­ra da re­tó­r i­ ca va­zia; da mo­der­ni­da­de pro­gres­sis­ta con­tra a tra­di­ ção re­a­­ci­o­ná­r ia.” • PESQUISA FAPESP


PAULO ROSSI/DIÁRIO POPULAR

MEDICINA

A

bênção do leite materno Pesquisas de César Victora moldaram políticas públicas

O

epi­de­mi­o­lo­g is­ ta gaú­cho Cé­sar Go­mes Vic­to­ra, de 53 anos, ven­ cedor do Prê­ mio FCW na categoria Medi­­ ci­na, vive há mais de duas dé­ca­das em Pe­lo­tas, ci­da­de a 250 qui­lô­me­tros de Por­to Ale­ gre. Pro­fes­sor da Fa­cul­da­de de Me­di­ci­na da Uni­ver­si­da­de Fe­de­­ral de Pe­lo­tas (UF­Pel),Vic­ to­ ra li­ de­ ra o mai­ or e mais du­ra­dou­ro es­tu­do de acom­pa­ nha­men­to de uma po­pu­la­ção já fei­to nos paí­ses em de­sen­ vol­vi­men­to. Des­de 1982, seu gru­po acom­­pa­nha a saú­de das cer­ ca de 6 mil pes­ so­ as que nas­ce­ram na ci­da­de na­que­le ano. Perto de 80% des­se uni­ ver­so, hoje for­ma­do por jo­vens adul­tos, con­ti­nua sen­do mo­ni­ to­ra­do e, do tra­ba­lho, já bro­ta­ ram al­gu­mas de­ze­nas de pes­ qui­sas, a mai­o­ria so­bre o im­pac­to de pro­ble­mas ocor­ri­ dos na gra­vi­dez e nos pri­mei­ ros anos de vida na saú­de de in­di­ví­du­os adul­­­tos. A pes­qui­ PESQUISA FAPESP

Victora: maior estudo populacional já feito em países em desenvolvimento

sa demonstra o efei­ to du­ ra­ dou­ro das con­di­çõ­es ad­ver­sas, no­ta­da­men­te a des­nu­tri­ção, no ris­co de de­sen­vol­ver pa­to­lo­ gias como a obe­ si­ da­ de, a hi­per­ten­são ou o di­a­be­tes. Mas as ta­re­fas de pes­qui­sa­ dor e de pro­fes­sor são fre­qüen­ ­te­men­te in­ter­rom­pi­das por um ou­tro tra­ba­lho que Vic­to­ra de­sen­vol­ve, bem lon­ge do Bra­ sil. Des­de 1994, ele é um dos co­or­de­na­dores in­ter­na­ci­o­nais de um pro­gra­ma da Or­ga­ni­za­ ção Mun­di­al da Saú­de (OMS) e do Fun­do das Na­çõ­es Uni­das para a In­fân­cia (Uni­cef) que im­ple­men­ta açõ­es de com­ba­

te à des­nu­tri­ção e a do­en­ças pre­va­len­tes em cri­an­­ças de áre­ as ru­rais pau­­pér­ri­mas, onde a mor­ta­li­da­de in­fan­til é ele­va­da. Nes­te pro­gra­­ma, co­nhe­­ci­do como Ava­li­a­ção In­ter­na­ci­o­ nal do Im­pac­to do Pro­gra­ma AID­PI (Aten­ção In­te­gral à Saú­ de da Cri­an­ça), Vic­to­ra pla­ne­ja açõ­es, como o trei­na­­men­to de agen­tes co­mu­ni­tá­r i­os ou a re­for­mu­­la­ção do aten­di­men­ to em pos­tos de saú­­de, e de­pois acom­­­pa­nhan­do os re­sul­ta­dos. Só nes­te ano es­te­ve na Tan­ zâ­nia, nas Fi­li­pi­nas e no Peru, e se pre­pa­ra para ir a Ban­gla­ desh. E isso é ape­n as uma

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ARQUIVO PESSOAL

O pesquisador em área rural do Camboja: viagens freqüentes a regiões miseráveis como emissário da OMS

amos­tra dos 40 paí­ses onde já tra­ba­lhou. Mas tam­bém cos­tu­ ma vi­a­jar para gran­des ci­da­ des, como Lon­dres, Ge­ne­bra e Nova York, onde par­ti­ci­pa de reu­ni­õ­es da OMS e do Uni­cef. O con­vi­te para in­te­grar-se a esse pro­je­to in­ter­na­ci­o­nal re­sul­tou de sua ex­pe­ri­ên­cia no tema no Bra­sil. En­tre 1986 e 1994 re­a­li­zou tra­ba­lho se­me­lhan­te em ci­da­des do Nor­des­te bra­si­lei­ro, ce­ná­rio de vá­ri­as de suas pes­qui­sas. “Pas­ so no ex­ te­ ri­ or uns dez dias por mês e o res­tan­te eu fico em Pe­lo­tas, onde me fi­xei logo que foi cri­a­­da a uni­ver­si­da­de fe­de­ral. Já re­ce­bi con­vi­tes para sair da­­qui, mas op­tei por per­ ma­ne­cer. Em Pe­lo­tas reú­no as me­lho­res con­d i­ç õ­e s de re­a ­ li­z ar meu tra­ba­lho”, diz, re­fe­ rin­do-se às opor­tu­ni­da­des de pes­qui­­sa, como o es­tu­do com os nas­ci­dos em 1982. Ca­sa­do pela se­­gun­da vez, Vic­to­ra tem

dois fi­lhos adul­tos – um de­les se­guiu a car­rei­ra de pes­qui­ sa­dor na área da saúde: é imu­ no­lo­gis­ta – e uma en­te­a­da ado­les­cen­te.

S

eu in­te­res­se pela epi­ de­mi­o­lo­gia des­pon­ tou logo no iní­cio da car­rei­ra de mé­di­co. Quan­do con­clu­iu o cur­so de me­di­ci­na na Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral do Rio Gran­de do Sul, em Por­to Ale­gre, Vic­to­ra foi tra­ba­lhar num ser­vi­ ço de me­di­ci­na co­mu­ni­tá­ria numa fa­­ve­la da ci­da­de, o Mor­ro da Cruz.“Me pre­o­cu­pa­vam mu­i­ to aque­las cri­an­ças des­nu­tri­das, ma­cér­ri­mas, que não ga­nha­vam peso de­vi­do a uma di­e­ta ina­de­ qua­da, fal­ta de alei­ta­men­to e in­fec­çõ­es re­pe­ti­das, prin­ci­pal­ men­te a di­ar­réia. A po­pu­la­ção ti­nha um ter­mo para des­cre­ver esta do­en­ça,‘a mín­gua’, que em ter­mos mé­di­cos cor­res­pon­de

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ao ma­ras­mo, ou des­nu­tri­ção se­ve­ra”, re­cor­da-se o mé­di­co. “Eu tra­ta­va aque­las cri­an­ças re­pe­ti­das ve­zes, e elas aca­ba­vam re­tor­nan­do sem­­pre, em sua mai­ o­ria sem apre­sen­tar me­lho­ra. Foi en­tão que sur­giu meu in­te­ res­se em es­tu­dar saú­de pú­bli­ca, para des­co­brir co­mo pre­ve­nir es­sas do­en­ças. E, den­tro da saú­ de pú­bli­ca, es­co­­lhi a epi­de­mi­o­ lo­gia, dis­ci­pli­na que iden­ti­fi­ca as cau­sas das do­en­ças nas po­pu­la­ çõ­es, pro­põe e tes­ta in­ter­ven­çõ­ es con­tra es­tas do­en­ças. Es­co­lhi tam­bém a epi­de­mi­o­lo­gia porque sem­pre gos­tei mu­i­to de ma­te­má­ti­ca e es­ta­tís­ti­ca“, diz. Em três dé­ca­das de car­rei­ra, acu­mu­la na bi­o­gra­fia a pu­bli­ ca­ção de cer­ca de 300 tra­ba­ lhos ci­en­tí­fi­cos so­bre a saú­de da cri­an­ça e do ado­les­cen­te, com des­ta­que para o pa­pel do alei­ta­men­to ma­ter­no na pre­ ven­­ção das do­en­ças e mor­ta­li­ da­­de na in­fân­cia. De acor­do PESQUISA FAPESP


ARQUIVO PESSOAL

Com crianças em Níger, país africano que ostenta um dos piores níveis de desenvolvimento humano

com o Ins­ti­tu­te for Sci­en­ti­fic In­for­ma­ti­on (ISI), que in­de­xa os me­­lho­res pe­ri­ó­di­cos ci­en­tí­fi­ cos do pla­ne­ta, dos dez tra­ba­ lhos mais ci­ta­dos so­bre alei­ta­ men­to ma­ter­no na Amé­ri­ca La­ti­na, sete são de au­to­ria ou co-au­to­ria de Vic­to­ra, in­clu­in­ do-se aí a pes­qui­sa que ocu­pa o pri­mei­ro lu­gar, Evi­den­ce for a strong pro­tec­ti­ve ef­fect of bre­ast-fe­e­ding against in­fant de­aths due to in­fec­ti­ous di­se­ a­ses in Bra­zil, pu­bli­­ca­do no jor­nal Lan­cet em 1987. Com 234 ci­ta­çõ­es em ou­­­tras re­vis­tas ci­en­tí­fi­cas até o fi­nal de 2004, este ar­ti­go foi o pri­mei­ro com mé­to­dos epi­de­mi­o­ló­gi­cos mo­der­nos a mos­trar uma for­te as­so­ci­a­ção en­tre a mor­ta­li­da­ de in­fan­til por di­ar­réia, pneu­ mo­nia e ou­tras do­en­ças in­fec­ ci­ o­ sas, com a fal­ ta de alei­ta­men­to ma­ter­no. O ris­co de mor­rer por di­ar­ réia em cri­an­ças des­ma­ma­das re­ve­lou-se 14 ve­zes mai­or do PESQUISA FAPESP

que na­que­las que to­ma­vam lei­ ­te ma­ter­no e mais nada (nem água, nem cha­zi­nhos, nem lei­te em pó). Para pneu­mo­nia, o ris­ co dos des­ma­ma­dos é qua­tro ve­zes su­pe­ri­or. Em 2000, Vic­to­ ra co­or­de­nou um gru­po de tra­ba­lho da OMS que ana­li­sou da­dos de seis paí­ses di­fe­ren­tes, com­pro­van­do a im­por­tân­cia do alei­ta­men­to ma­ter­no para evi­tar a mor­ta­li­da­de de cri­an­ ças me­no­res de 2 anos de ida­ de. Esse estudo, com 106 ci­ta­ çõ­ es no ISI, foi tam­ bém pu­bli­ca­do na re­vis­ta Lan­cet. Suas pes­qui­sas ser­vi­ram de las­ tro pa­­ra as no­vas di­re­tri­zes da OMS e do Uni­ cef, ado­ ta­ das pelo Mi­nis­­té­rio da Saú­de do Bra­sil, re­­co­men­dan­do o alei­ta­ men­to ma­­­­ter­no ex­clu­si­vo até os 6 me­­­ses de ida­de, e a con­ti­ nu­i­da­de do alei­ta­men­to, com­ ple­men­ta­do por ou­tros ali­men­ tos, até o se­gun­do ano de vida. Seu cam­po de in­te­res­se não se li­ mi­ ta à ques­ tão do

alei­ta­men­­to. Tam­bém par­ti­ci­ pa de pes­­­qui­sas nas áre­as de Ava­li­a­ção de Ser­vi­ços de Saú­ de, De­si­gual­da­des em Saú­de, Se­xu­a­­li­da­­de na Ado­les­cên­cia e Es­tu­dos An­tro­po­mé­tri­cos, en­ tre ou­ tros. Em 1996 foi in­di­ca­do pela OMS para pre­ pa­rar o pro­to­co­lo de um es­tu­ do que irá es­ta­be­le­cer no­vas cur­vas de cres­ci­men­to in­fan­ til, ba­se­a­das em cri­an­ças ama­ men­ta­das, que têm pa­drão de cres­ci­men­to di­fe­ren­te das cri­ an­ças que re­ce­bem ou­tros ti­pos de lei­te. A Universidade Federal de Pe­­lo­tas foi o pri­ mei­ro cen­tro a co­le­tar da­dos para o Es­tu­do Mul­ti­cên­tri­co de Cur­vas de Cres­ci­men­to, se­gui­do de Da­vis (Ca­li­fór­nia, EUA), Oslo (No­ru­e­ga), Nova De­lhi (Índia), Omã (Omã) e Ac­cra (Gana). As no­vas cur­vas de cres­ci­men­to es­tão em fase fi­nal de pre­pa­ra­ção e se­rão pu­bli­ca­das pela OMS no início de 2006. •

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CIÊNCIA APLICADA AO CAMPO

Conhecimento repartido

Des­de sua cri­a­ção, em 1887, IAC co­lo­cou 700 no­vas es­pé­ci­es ve­ge­tais nas me­sas dos bra­si­lei­ros

C

ri­a­do com o apoio dos ba­rõ­es do ca­fé no fi­n al do sé­cu­lo 19, pre­o­cu­ pa­dos em me­­lho­ rar o cul­ ti­ vo da plan­ta, o Ins­ti­tu­to Agro­nô­mi­ co (IAC) já co­lo­cou des­de a sua fun­da­ção 732 va­ri­e­da­des ve­ge­tais à dis­po­si­ção da agri­ cul­tu­ra bra­si­lei­ra com base em pes­qui­sas de café, ar­roz, fei­jão, soja, mi­lho, tri­go, canade-açú­car, se­rin­guei­ra, fru­tas, hor­t a­l i­ças, ci­tros e fi­­bras. Es­ses re­sul­ta­dos só fo­ram al­can­ça­dos por­que o ins­ti­tu­to tem como ro­ti­na um in­ten­si­vo e con­tí­nuo tra­ba­lho de me­lho­ra­men­to ge­né­ti­co de plan­­ tas, por meio de cru­ za­ men­tos nos la­bo­ra­tó­ri­os ou nas ca­sas de ve­ge­ta­ção. “Pa­ra ob­ter uma nova cul­ti­var de fei­ jão ou soja são ne­ces­sá­ri­os de oito a dez anos de pes­qui­sas”, diz Or­lan­do Melo de Cas­tro, di­re­tor-ge­ral do IAC, ór­gão da Agên­cia Pau­lis­ta de Tec­no­lo­gia

dos Agro­ne­gó­ci­os (Apta), da Se­cre­ta­ria de Agri­cul­tu­ra e Abas­te­ci­men­to do Es­ta­do de São Pau­lo.As ati­vi­da­des do ins­ ti­tu­to cri­a­do por d. Pe­dro II em 1887, cha­ma­do en­tão de Im­pe­ri­al Es­ta­ção Agro­nô­mi­ca de Cam­pi­nas, não se re­su­mem ape­­nas ao me­lho­ra­men­to ge­né­ti­co de es­pé­ci­es ve­ge­tais que ge­ram no­vas cul­ti­va­res. Dois im­por­tan­tes pro­gra­ mas ge­nô­mi­cos, o do café e o dos ci­tros, en­cer­ra­dos em 2004, fo­ram co­or­de­na­dos pelo IAC, que tam­bém par­ti­ci­pou do pro­ ­je­to de se­qüen­ci­a­men­to da bac­ ­té­ria Xylel­la fas­ti­di­o­sa, cau­sa­ do­ra da pra­ga do ama­re­li­nho, que traz gran­des pre­ju­í­zos às plan­ta­çõ­es de la­ran­ja. Nes­se mes­­mo ano, a des­co­ber­ta fei­ta no ins­ ti­ tu­ to de um tipo de ca­fé na­tu­ral­men­te des­ca­fei­na­ do, o ca­fe­ei­ro ará­bi­ca, ga­nhou es­pa­ço nas pá­gi­nas da re­vis­ta Na­­tu­re. Para che­ gar ao café des­ca­fei­na­do, os pes­qui­sa­do­ res do IAC, em par­ce­ria com a

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Uni­ver­si­da­de Es­ta­du­al de Cam­pi­nas (Uni­camp), ana­li­sa­ ram 3 mil plan­tas de ca­fe­ei­ro ará­bi­ca da Eti­ó­pia. O tra­ba­lho, que te­ve iní­­cio em 1999, con­ sis­tiu da aná­li­se de plan­ta por plan­ta em bus­ca de bai­xa quan­ti­da­de de ca­feí­na. Fo­ram iden­ti­fi­ca­das três plan­tas com tra­ços mí­ni­mos des­­sa subs­tân­ cia nas se­men­tes – elas apre­ sen­tam 0,07% de ca­feí­na, en­quan­to o café co­mum tem em tor­ no de 1%. O ín­ di­ ce en­con­tra­do é pró­xi­mo da quan­ti­da­de exis­ten­te no café des­ca­fei­na­do en­con­tra­do no mer­ca­do, só que ob­ti­do por pro­­­ces­sos quí­mi­cos. A des­co­ber­ta do café des­ ca­fei­na­do só foi pos­sí­vel por­ que o ins­ti­tu­to man­tém ban­cos de ger­mo­plas­ma das cul­tu­ras de in­te­res­se. “Esse é o mai­or pa­­tri­­mô­nio que um país tem, por­que é a base para qual­quer pro­­gra­ma de me­lho­ra­men­to”, diz Cas­tro. Não por aca­so o IAC, que ao lon­go de sua tra­ PESQUISA FAPESP


EDUARDO CESAR

Fru­tos de café ará­bi­ca cul­ti­va­dos em fazenda do IAC

je­tó­ria não pára de ren­der bons fru­tos, foi pre­mi­a­do pela Fun­da­ção Con­ra­do Wes­ sel na ca­te­go­ria Ci­ên­cia Apli­ca­ da ao Cam­po. Em­bo­ra o con­cei­to de me­lho­ra­men­to ge­né­ti­co nem exis­­tis­se na épo­ca em que a pri­mei­ra es­ta­ção agro­nô­mi­ca do Bra­sil foi cri­a­da em Cam­pi­ nas, já exis­tia a pre­o­cu­pa­ção em me­­lho­rar o cul­ti­vo do café, prin­ci­pal pro­du­to agrí­co­la cul­ ti­va­do na re­gião, que ha­via mi­gra­do do Vale do Pa­raí­ba por con­ta do es­go­ta­men­to do solo.“Não por coin­ci­dên­cia o pri­mei­ro di­re­tor do ins­ti­tu­to, o aus­trí­a­co Franz Wi­lhelm Da­fert, era es­pe­ci­a­li­za­do em quí­mi­ca apli­ca­da na agri­cul­tu­ ra”, res­sal­ta Cas­­tro. Os pri­mei­ ros en­sai­os re­a­­li­za­dos na épo­ ca eram fo­ca­dos em adu­ba­ção, por­que já se sa­bia na Ale­ma­ nha, onde es­ses es­tu­dos es­ta­ vam mais avan­ça­dos, que o solo se es­go­ta­va por fal­ta de nu­tri­en­tes. PESQUISA FAPESP

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EDUARDO CESAR

Clo­na­gem de plan­tas pela téc­ni­ca de re­pro­du­ção in vi­tro uti­li­za pe­que­nas por­çõ­es de te­ci­do para fa­zer a mi­cro­pro­pa­ga­ção

A cri­se do café no fi­nal dos anos 1920 con­ tri­ bu­ iu para a di­ver­si­fi­ca­ção da agri­cul­tu­ra pau­lis­ta. Os es­tu­dos ain­da in­ci­ pi­en­tes so­bre cana, uva, al­go­ dão e ou­tras cul­tu­ras ga­nha­ram for­ça. Em 1928 o instituto ha­via cri­a­do a es­ta­ção de São Ro­­que para es­tu­dar a uva e em 1932 am­pli­ou suas pes­qui­sas com a inau­gu­ra­ção da es­ta­ção experi­ mental de Jun­di­aí, hoje Centro de Frutas do IAC. Com a di­ver­ si­fi­ca­ção da agri­cul­tu­ra, era pre­ ci­so cri­ar va­­ri­e­da­des adap­ta­das às con­di­çõ­es bra­si­lei­ras. Foi quan­do efe­ti­va­men­te co­me­çou o tra­ba­lho de me­lho­ra­men­to de plan­tas, com a cri­a­ção de uma área de ge­né­ti­ca no insti­ tuto. “A cri­a­ção de va­ri­e­da­des para as nos­sas con­di­çõ­es tro­pi­ cais fez a nos­­sa agri­cul­tu­ra for­ te”, diz Cas­tro. Nos anos 1940 e 50 fo­ram fei­tos por­ta-en­xer­tos tro­pi­ca­li­za­dos de uvas ori­gi­ná­

ri­as de cli­mas tem­pe­ra­dos. Es­ses por­ta-en­xer­tos de­ram ori­ gem às uvas plan­ ta­ das no Vale do São Fran­cis­co, no semiári­do nor­des­ti­no, que têm como prin­ci­pal des­ti­no o mer­ ca­do ex­ter­no. Se an­tes os pro­gra­mas de me­lho­ra­men­to ti­nham como foco a re­sis­tên­cia da plan­ta a do­en­ças e pra­gas por mo­ti­vos eco­nô­mi­cos, para que os pro­ du­to­res ti­ves­sem me­nos gas­tos com de­fen­si­vos agrí­co­las, hoje esse ob­je­ti­vo de­cor­re tam­bém da pres­são am­bi­en­tal. Den­tro des­sa li­nha de atu­a­ção, o IAC lan­çou este ano qua­tro no­vas va­ri­e­da­des de fei­jão que, pela resistência às principais doen­ ças do feijoeiro, dispensam ou reduzem o uso de defensivos e, conseqüentemente, dimi­ nuem o custo de produção e o impacto ambiental. En­ tre os lan­ça­men­tos que me­re­cem

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des­ta­que en­con­tram-se tam­ bém uma nova va­ri­e­da­de de gi­ ras­ sol com 42% de óleo, ideal para pro­du­zir bi­o­di­e­sel, além de qua­tro no­vas va­ri­e­­da­ des de ar­roz e qua­tro no­­vas va­­ri­e­da­des de cana-de-açú­car, que têm como ca­rac­te­rís­ti­ca o fato de se­rem adap­ta­das para de­ter­mi­na­das re­giões. O co­nhe­ci­men­to ad­qui­ri­ do nes­ses 118 anos de ati­vi­da­ de tem sido desde 1999 re­­pas­ sa­do para os in­te­res­sa­dos tan­to por meio de um cur­so de pós-gra­du­a­ção re­­fe­ren­da­ do pela Co­or­de­na­ção de Aper­ fei­ço­a­men­to de Pes­so­al de Ní­­ vel Su­pe­ri­or (Ca­pes), di­vi­di­do pe­las áre­as de Ges­tão de Re­c ur­s os Agro­am­bi­en­tais, Me­lho­ra­men­to Ge­né­ti­co Ve­ge­ tal e Tec­­no­lo­gia da Pro­du­ção Agrí­co­la, co­mo por cur­sos a dis­ tân­ cia, dias de cam­ po e pa­les­tras para pro­du­to­res. • PESQUISA FAPESP


FOTOS LÉO RAMOS

CULTURA

O poeta

múltiplo Ferreira Gullar faz verso e prosa com a mesma competência

E

le é co­nhe­ci­do pe­la plu­ra­li­da­de: fez, e faz, te­a­tro, te­le­vi­são, pin­tu­ra, crí­ti­ca de arte e, é cla­ro, po­e­sia. Mas o pró­prio Fer­rei­ra Gul­lar gos­ta mes­mo de se re­co­­nhe­cer em sua du­a­ li­da­de: “Sou um po­e­ta que es­ta­be­le­ce uma con­ver­sa­ção cons­tan­te com seu al­ter ego: José Ri­ba­mar Fer­rei­ra, nas­ci­do em São Luís do Ma­ra­nhão em 1930. Sem­pre que o seu es­ta­ do exis­­ten­ci­al está pro­pí­cio pa­ra fa­zer nas­cer um po­e­ma, José Ri­ba­mar se trans­for­ma em Fer­rei­ra Gul­lar. Se esse está frio, se não é ca­paz de es­cre­ ver po­e­­sia, ele dei­xa que seu lu­gar se­ja ocu­pa­do pelo ho­mem co­mum, José Ri­ba­ mar. Quan­do este úl­ti­mo per­ ce­be que a tem­pe­ra­tu­ra sobe e que é tem­po de es­cre­ver, é ele que dá lu­gar ao po­e­ta: eis que nas­ce, com fre­qüên­cia, Fer­rei­ra Gul­­lar”, ex­pli­ca ele, con­si­de­ra­do um de nos­sos mai­o­res po­e­tas. PESQUISA FAPESP

Gullar: “Poderia virar pintor, qualquer coisa assim, mas virei poeta”

Essa al­ter­nân­cia de per­so­ nas co­ me­ çou com um fato pro­sai­co: aos 18 anos, Gul­lar leu no jor­nal de São Luís um po­e­ma as­si­na­do com seu no­me ver­da­dei­ro, Ri­ba­mar Fer­rei­ra (em ver­da­de, a po­e­sia era de um tal Ri­ba­mar Pe­rei­ ra). Mas a vi­são não agra­dou ao jo­vem e ele tro­cou o no­me, usan­do como ins­pi­ra­ção Gou­ lart, da mãe. Não foi sua úni­ca de­ci­são drás­ti­ca. Mais jo­vem, ao se apai­xo­nar pela vi­zi­nha, Te­re­za, e não ser cor­­res­pon­di­ do, tran­cou-se em casa para ler o que po­ dia e es­­ cre­ ver po­e­mas. Não pa­rou por aí. Na es­co­la, em 1945, es­cre­veu

uma re­da­ção em que iro­ni­za­ va que, no Dia do Tra­ba­lho, não se tra­ba­lha­va e ga­nhou um 9,5, por cau­ sa de dois er­ros de por­tu­guês. Ou­tra de­ci­são ou­sa­da que o le­vou a só es­tu­dar gra­má­ti­ca por dois anos e, de­pois, a pu­bli­car o seu pri­mei­ro po­e­ma, O tra­ba­ lho, de ins­pi­ra­ção par­na­si­a­na. O fas­cí­nio pelo ver­­so an­ti­qua­ do con­ti­nu­ou até 1949, quan­ do edi­tou seu pri­mei­ro li­vro, Um pou­ co aci­ ma do chão. Era o “rei dos po­e­tas” ma­ra­ nhen­ se, mas um crí­ ti­ co do Rio, ao ler o que es­cre­ve­ra, de­san­cou o jo­vem pe­lo seu pas­sa­dis­mo.

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O cho­que o le­vou a pro­cu­ rar a mo­der­ni­da­de. Teve bons guias e lei­ tu­ ras: Má­ rio de An­dra­de, Mu­ri­lo Men­des e Drum­mond. Mu­dou-se para o Rio em bus­ca de no­vos ho­ri­ zon­tes e en­con­trou ami­gos fun­da­men­tais, en­tre eles o crí­ ti­co de arte Má­rio Pe­dro­sa seu mes­tre nas ar­tes plás­ti­cas, e Os­wald de An­dra­de, seu tu­tor de van­guar­da.Vi­rou po­e­ta pro­ fis­si­o­nal.“Eu des­co­bri a po­e­sia tal­vez por não ter o que fa­zer da vida. Eu re­jei­ta­va as ocu­pa­ çõ­es nor­mais das pes­so­as. Po­de­ria vi­rar pin­tor, qual­quer coi­sa as­sim, mas vi­rei po­e­ta”, con­ta. E o par­na­si­a­no se ren­ deu ao novo. A par­tir de um galo pre­sen­te num anún­cio de sal de fru­tas, es­cre­veu o po­e­ ma O galo, que ven­ce o con­ cur­so do Jor­nal de Le­tras, com um júri que in­clu­ía Ma­nu­ el Ban­dei­ra. Em 1954 pu­bli­ca A luta cor­po­ral, com um pro­ je­to vi­su­al ou­sa­do que qua­se o obri­gou a fa­zer jus ao tí­tu­lo do li­vro em bri­ga com os grá­fi­cos da re­vis­ta O Cru­zei­ro, onde o tex­ to foi im­ pres­ so. Em São Pau­lo, os con­cre­tis­tas nas­cen­ tes, os irmãos Cam­pos e Dé­cio Pig­na­ta­ri, ado­ra­ram a co­ra­gem do jo­vem e o cha­ma­ram para in­te­grar seu gru­po. Gul­lar par­ ti­ci­pa da Pri­mei­ra Ex­po­si­ção de Arte Con­ cre­ ta no Masp, mas em pou­co tem­po se can­sa do “ce­re­bra­lis­mo te­ó­ri­co” dos pau­lis­tas e rom­pe com o gru­ po, cri­an­do a sua van­guar­da, o mo­vi­men­to ne­o­con­cre­to, em par­ce­ria com Amíl­car de Cas­ tro, Lygia Clark e Lygia Pape. Em 1959 es­cre­ve o Ma­ni­fes­to ne­o­con­cre­to. Em 1961, du­ran­te o go­ver­ no de Jâ­nio Qua­dros, di­ri­giu a Fun­da­ção Cul­tu­ral de Bra­sí­lia e, no ano se­guin­te, pas­sou a in­­te­grar e fun­dar o Cen­tro Po­pu­lar de Cul­tu­ra (CPC), da

UNE, ao lado de Oduvaldo Vianna Filho, o Vi­a­ni­nha. Começa o seu na­mo­ro di­le­má­ ti­co com a arte so­ci­al. De iní­ cio, se ir­ri­ta com a “ne­ces­si­da­ de” de fa­zer “po­e­sia po­lí­ti­ca”, como pre­ga­do pelo Par­ti­dão, o Partido Co­munista. A res­pos­ta que se deu foi: “A po­e­sia tem que mu­dar al­gu­ma coi­sa. A úni­ ca ra­ zão de ela exis­ tir é mu­ dar algo, nem que seja a mim mes­mo”. Era o meio-ter­ mo ide­al de um ar­tis­ta sin­ce­ro. A lei­tu­ra de Marx, num li­vro es­cri­to para de­ses­ti­mu­lar pa­dres a ade­rir ao co­mu­nis­mo, o en­can­tou. “Quan­do li Marx, vi uma co­isa con­cre­ta, den­sa, real. Não era aque­le ne­gó­cio lá das idéi­as. Eu vi­rei mar­xis­ta por cau­sa da con­cre­tu­de e pelo elo­gio do tra­ba­lho.”

N

o sin­to­má­ti­co dia 1º de abril de 1964 fi­ lia-se ao Par­ti­do Co­mu­nis­ ta. Mais tar­ de, pa­ ra se opor, como mo­de­ra­do, ao gru­po ra­di­cal de Carlos Ma­­rig­he­la, de­ci­de se can­di­da­tar a um car­go de di­re­ção, ape­nas para de­fen­der suas idéi­as. Ven­ce. E per­de. Pois com a che­­ga­da do AI-5 Gul­lar, que pou­co ti­nha de di­ri­gen­te co­mu­nis­ta, pas­sa a ser uma pre­sa va­li­o­sa para a di­ta­du­ra. As­sim, vê-se obri­ ga­do a se exi­lar. Vai para Mos­ cou, apren­de mar­xis­mo na fa­cul­da­de e, de­pois de idas e vin­das, aca­ba em Bu­e­nos Ai­res. Lá, só, iso­la­do num apar­ta­men­ to, ven­do os ami­gos sen­do pre­ sos pe­los mi­li­ta­res ar­gen­ti­nos, de­ci­de es­cre­ver Po­e­ma sujo (que aca­ba de com­ple­tar 30 anos), com o es­pí­ri­to de es­tar pon­do no pa­pel a sua obra der­ra­dei­ra. Daí o peso de res­ ga­te de toda uma vida e de sua de­si­lu­são com a in­jus­ti­ça

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so­ci­al do Bra­sil. Se­gun­do Gul­ lar, o po­e­ma era sujo porque não ti­nha re­ser­va mo­ral, por­ que rom­pia com va­lo­res es­té­ ti­cos (in­clu­si­ve os seus) e por­ ­que fa­la­va da mi­sé­ria de seu país na­ tal. Com mais de 70 pá­gi­nas, a po­e­sia che­gou ao Bra­sil con­tra­ban­de­a­da em uma fi­ta cas­se­te tra­zi­da por Vi­ni­ci­us de Mo­raes. Quan­do foi lan­ça­da em li­vro, em 1976, por Ênio Sil­vei­ra, o au­tor, exi­ la­do, não es­ta­va pre­sen­te. De­ pois de sete anos na Ar­gen­ti­na, vol­ta ao Bra­sil, on­de é pre­so e tor­tu­ra­do. PESQUISA FAPESP


O poeta em casa: sem tempo para polêmicas, Gullar prefere apenas criar

Li­vre, pas­sou a es­cre­ver para o jor­nal O Pas­quim, com o pseu­dô­ni­mo ma­ro­to de Fre­ de­ri­co Mar­ques (ho­me­na­gem a En­gels e Marx). Aos pou­cos, vai ocu­ pan­ do seu lu­ gar na cena cul­tu­ral na­ci­o­nal, como crí­ti­co, dra­ma­tur­go e po­e­ta. Che­ga mes­mo a tra­ba­lhar na Re­de Glo­bo, es­cre­ven­do sé­ri­ es es­pe­ci­ais e uma no­ve­la, Ara­pon­ga, com Dias Go­mes. Em 1990 per­de o fi­lho mais no­vo. No Dia de Fi­na­dos do ano se­guin­te vai ao ce­mi­té­ rio, pe­ga um pe­da­ço de pa­pel e es­cre­ve: “Eu te amo, meu PESQUISA FAPESP

fi­lho”. A mor­te não dei­xa­rá mais de par­ti­ci­par de sua po­e­sia.“A po­e­sia me aju­dou a en­fren­tar pro­ble­mas, me aju­ dou a vi­ver. Sem ela não sei o que se­ria de mim. A po­e­sia nos dá a ca­pa­ci­da­de de nos in­dig­nar­mos e, ao mes­mo tem­po, man­ter­mos a nos­sa dig­ni­da­de hu­ma­na”, ex­pli­ca. Quan­do o po­e­ta des­can­sa, sur­ge o crí­ti­co pre­ci­so de arte, ca­paz de pro­vo­car fris­ son ao de­cre­tar a mor­te das van­guar­das em Ar­gu­men­ta­ ção con­tra a mor­te da arte, uma as­ser­ti­va in­ter­pre­ta­da

er­ra­da­men­te por mu­i­tos. “Não acho que a van­guar­da, des­de o seu iní­cio até hoje, seja char­la­ta­nis­mo. O pro­­ces­ so que deu ori­gem à van­guar­ da, o ques­ti­o­na­men­to das lin­ gua­gens ar­tís­ti­cas exis­ten­tes, ge­rou uma ex­pe­ri­ên­cia nova na arte. Só que, exa­ta­men­te por­que pro­du­ziu o que pro­ du­ziu, es­go­tou-se”, ana­li­sa Gul­lar. Não gos­ta de per­der tem­­po em po­lê­mi­cas e pre­fe­ re usá-lo para cri­ar. De quan­ do em quan­do, vol­ta, tran­qüi­ lo, a ser o ci­ da­ dão José Ri­ba­mar Fer­rei­ra. •

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CIÊNCIA APLICADA AO MEIO AMBIENTE

O coração

de uma floresta Mu­seu Go­el­di revela e aju­da a preservar a ri­que­za bi­o­ló­gi­ca e cul­tu­ral da Ama­zô­nia

N

o fi­nal de 2003, so­ci­ó­lo­gos e an­tro­pó­lo­gos do Mu­seu Pa­raen­se Emí­lio Go­el­di (MPEG), em conjunto com bi­ó­­lo­gos e ge­ó­ gra­fos, re­ve­la­ram que em uma re­gião cen­tral do Pa­rá co­nhe­ci­ da como Ter­ra do Meio ha­via uma rede de ati­vi­da­des ilí­ci­tas: tra­ba­lho es­cra­vo, trá­fi­co de dro­ gas e de ar­mas e ven­da ile­gal de ter­ras e de ma­dei­ra. Foi um dos pri­mei­ros re­sul­ta­dos da Rede Te­má­ti­ca de Pes­qui­sa em Mo­de­la­gem Am­bi­en­tal da Ama­ zô­nia (Rede Geoma), que ha­via sido cri­ a­ da em 1999 pelo Mi­nis­té­rio da Ci­ên­cia e Tec­no­ lo­gia, com a par­ti­ci­pa­ção de cin­co ou­tras ins­ti­tu­i­çõ­es, com

o propósito de acom­pa­nhar a ocu­pa­ção ter­ri­to­ri­al, de­tec­tar pro­ble­mas e au­xi­li­ar na for­mu­ la­ção de po­lí­ti­cas pú­bli­cas para a re­gião ama­zô­ni­ca. O aler­ta so­bre os con­f li­tos la­ ten­ tes da Ter­ ra do Meio é tam­­bém uma amos­tra da di­ver­ si­da­de de açõ­es do mu­seu cri­ a­do em 1866 para ze­lar pela di­ver­si­da­de de cul­tu­ras, de plan­tas e de ani­mais da Ama­zô­ nia. Uma das mais an­ti­gas ins­ti­ tu­i­çõ­es ci­en­tí­fi­cas do país, o Mu­seu Pa­raen­se Emí­lio Go­el­di con­ci­lia um in­ten­so tra­ba­lho de aten­di­men­to ao pú­bli­co (cer­ca de 400 mil vi­si­tan­tes por ano) com uma ati­vi­da­de ci­en­tí­fi­ca que se ex­pres­sa por uma média de 90 ar­ti­gos ci­en­ tí­fi­cos pu­bli­ca­dos anu­al­men­te

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em re­vis­tas es­pe­ci­a­li­za­das do Bra­sil ou do exterior. Os es­pe­ci­a­lis­tas do MPEG tra­tam de te­mas tão di­ver­sos como a clas­si­fi­ca­ção de ara­ nhas, a iden­ti­fi­ca­ção de um com­pos­to quí­mi­co em al­gu­ma planta ou a gra­má­ti­ca de uma lín­gua in­dí­ge­na. A ta­re­fa de es­tu­dar a di­ver­si­da­de na­tu­ ral e cul­tu­ral ama­zô­ni­ca pode hoje pa­re­cer am­pla, em­bo­ra no fi­nal do sé­cu­lo 19, quan­do o mu­seu foi cri­a­do, te­nha sido ne­ces­sá­ria, por fal­ta de ins­ti­ tu­i­çõ­es de pes­qui­sa que tra­tas­ sem da Ama­zô­nia. Com o tem­ po, o MPEG foi ga­nhan­do mais atri­bu­i­çõ­es, sem ab­di­car das an­ti­gas. Seus es­pe­ci­a­lis­tas são fre­qüen­te­men­te con­vo­ca­dos para ava­li­ar as pro­pos­tas de de­­ PESQUISA FAPESP


REPRODUÇÃO ARTE RUPESTRE NA AMAZÔNIA/EDITHE PEREIRA

mar­ca­ção de terras indígenas ou de uni­da­des de con­ser­va­ ção, ou os im­pac­tos de em­pre­ en­di­men­tos de gran­de por­te, como as hi­dre­lé­tri­cas. A con­tri­bu­i­ção ci­en­tí­fi­ca do Museu Go­el­di exi­be-se tam­ bém pela ha­bi­li­da­de em in­ter­ vir na re­a­li­da­de ama­zô­ni­ca. “É pre­ci­so que a ci­ên­cia se apro­ xi­me da re­a­li­da­de e aju­de a re­sol­ver pro­ble­mas”, comenta Ima Vi­ei­ra, agrô­no­ma com dou­to­ra­do em eco­lo­gia que tra­ba­lha no mu­seu des­de 1988 e em setembro to­mou pos­se como di­re­to­ra. “A taxa de co­nhe­ci­men­to so­bre a re­gião ama­zô­ni­ca ain­da está aquém da taxa de des­tru­i­ção”, diz ela. Ao Mu­seu Go­el­di, ga­nha­ dor do Prê­mio FCW 2004 na PESQUISA FAPESP

ca­te­go­ria Ci­ên­cia Apli­ca­da ao Meio Am­bi­en­te, cabe tam­bém um am­plo tra­ba­lho de inventário e mo­ni­to­ra­men­to da bi­o­di­ver­si­da­de ama­zô­ni­ca. Em boa par­te, tais pes­qui­sas são con­du­zi­das na Es­ta­ção Ci­en­tí­­fi­ca Fer­rei­ra Pen­­na, a mais re­cen­te de suas três ba­ses fí­si­cas. Inau­gu­ra­da em 1993, ocu­pa uma área de 33 mil hec­ ta­res (ha) em meio à Floresta Nacional de Caxiuanã, a 400 quilômetros de Be­ lém. A ela soma-se um campus de pes­ qui­sa com 10 ha na periferia da cidade e o Par­que Zo­o­bo­tâ­ ni­co, uma sín­te­se da Flo­res­ta Ama­zô­ni­ca en­cra­va­da no cen­ tro da capital do Pará, com 5,3 ha, cem es­pé­ci­es de animais e 3 mil de plan­tas.

Desenho esculpido na rocha em um dos 111 sítios arque­ ológicos já mapeados: a arte de antigos habitantes do Pará

O Museu Go­el­di tem sido um exem­plo no­tá­vel so­bre co­mo o tra­ba­lho ci­en­tí­fi­co pode re­tor­nar à po­pu­la­ção – e não é de hoje. Con­ta-se que há cer­ca de 40 anos apa­re­ceu por lá um ar­te­são co­nhe­ci­do como Mes­tre Car­do­so, que tra­ba­lha­va no pólo ce­ra­mis­ta da Vila de Ico­a­ra­ci, em Be­lém. Na­que­la épo­ca, a pro­du­ção ar­te­sa­nal de va­sos e po­tes não guar­da­va mais vín­ cu­ los com as princi­ pais tra­di­çõ­es ce­ra­mis­tas da re­gião – a ma­ra­jo­a­ra e a ta­pa­ jônica –, pois as po­pu­la­çõ­es que as ha­vi­am cri­a­do já es­ta­ vam ex­tin­tas. Ca­bo­clo cu­ri­o­so,

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MPEG

Mes­tre Car­do­so pe­diu para ver as pe­ças de que ape­nas ou­vi­ra fa­lar. Os téc­ni­cos do mu­seu lhe abri­ram as por­tas do acer­vo – hoje com cer­ca de 17 mil pe­ças et­no­grá­fi­cas e 80 mil pe­ças e frag­men­tos ar­queo­ló­gi­cos – e o en­si­na­ram como fa­zer ré­pli­ cas dos va­sos e po­tes fabrica­ dos an­tes da che­ga­da dos eu­ro­ peus. O in­te­res­se se es­pa­lhou en­tre ou­tros ar­te­sãos. Há pou­ cos anos a demanda por esse tipo de informação se tornou tão intensa que o MPEG se uniu ao Ser­vi­ço Bra­si­lei­ro de Apoio às Mi­ cro e Pe­ que­ nas Em­pre­sas (Se­brae) para publi­ car um catálogo e oferecer um cur­so para os ce­ra­mis­tas de Ico­a­ra­ci, ampliando o res­ga­te dos pa­drõ­es his­tó­ri­cos do ar­te­ sa­na­to lo­cal.

JANDUARI SIMÕES/ MPEG

Floresta Amazônica do Pará: pesquisadores do MPEG detectam e ajudam a resolver problemas

R

e­sul­ta­dos se­me­ lhan­tes emer­gem do Gru­po de Lin­ güís­ti­ca In­dí­ge­na do Mu­ seu. Os es­pe­­ci­a­lis­tas des­sa área não se con­ten­ta­ram em ape­nas co­nhe­­cer as línguas faladas na re­gião – e já registr­ aram, por meio de audiovi­ suais, 52 lín­guas ame­a­ça­das de ex­tin­ção. Tam­bém elaboram gra­má­ti­cas, di­ci­o­ná­ri­os e ma­te­ ri­ais pe­da­gó­gi­cos que ofe­re­ cem aos edu­ca­do­res in­dí­ge­nas para man­ter vi­vas es­sas cul­tu­ ras à bei­ra do de­sa­pa­re­ci­men­ to. Um caso ex­tre­mo é a lín­gua po­ru­bo­rá, fa­la­da por ape­nas duas pes­so­as no mu­ni­cí­pio de Cos­ta Mar­ques, em Rondônia. O MPEG foi cri­ad ­ o em 1866 a par­tir da As­so­ci­a­ção Phi­lo­má­ti­ ca. Di­ri­gi­do ini­ci­al­men­te por Do­min­gos So­a­res Fer­rei­ra Pen­ na, o então chamado apenas Museu Paraense fe­chou as por­ tas em 1889 e só re­a­briu em 1891. Foi quando che­ gou a Be­lém, aos 34 anos, o zo­ó­lo­go

Ponta de lança (esq.) e ponta de machado: instrumentos dos primeiros habitantes da Amazônia

su­í­­ço Emí­lio Go­el­di, vin­do do Rio de Ja­nei­ro para trans­for­mar a instituição em um cen­tro de pes­qui­sa de re­no­me in­ter­na­ci­o­ nal. Foi ele quem coordenou a coleta de informações científi­ cas sobre o Amapá, de 1895 a 1900, que permitiram ao gover­ no brasi­leiro pleitear a posse de um largo trecho desse estado em um tribunal internacional. O episódio imortalizou o zoólogo suíço, cujo nome então se incor­ porou ao do museu.

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O MPEG está reabrindo a área de exposições da Roci­ nha, uma construção que é um mar­ co arquitetônico do sé­cu­lo 19 e es­te­ve fechada por no­ve anos. O primeiro ins­ti­tu­to da Amé­ri­ca do Sul a ser di­ri­gi­do por uma mu­lher – a ale­mã Emi­le Sneth­la­ge, de 1914 a 1921 – chega aos 140 anos, em outubro de 2006, sob a tutela de outra mulher – e, pela pri­meira vez, uma paraense. • PESQUISA FAPESP


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CIÊNCIA APLICADA À ÁGUA

Mes­tre das mar ­ és Es­tu­dos de Al­ber­to dos San­tos Fran­co são fun­da­men­tais para a na­ve­ga­ção

O

in­gres­so na Es­co­la Na­val do Rio de Ja­nei­ ro acon­te­ceu aos 16 anos, em 1930, por ins­pi­ ra­ção da fa­mí­lia. O avô ma­ter­no e dois tios ti­nham per­cor­ri­do a mes­ma tra­­je­tó­ria. Já apai­xo­na­ do pe­los oce­a­nos, en­can­tou-se pela ma­­te­má­ti­ca. “Não é nada com­pli­ca­da, mas mal en­si­na­da. É fas­ci­nan­te­men­te ra­ci­o­nal”, diz o al­mi­ran­te Al­ber­to dos San­ tos Fran­­co. E de­ci­diu usar os nú­me­­ros para es­tu­dar o com­ por­­ta­men­to das ma­rés. Nas úl­ti­ mas seis dé­ca­das, os tra­ba­lhos de Fran­co fo­ram – e con­ti­nu­am sen­do – fun­da­men­tais para que se pu­des­se com­preen­der e ana­­li­sar com mais de­ta­lhes fe­nô­me­nos como as al­tas e as bai­xas das ma­rés, a in­f lu­ên­cia da Lua e de efei­tos me­te­o­ro­ló­ gi­cos so­bre es­ses mo­vi­men­tos, bem como as re­cen­tes ele­va­çõ­ es do ní­vel dos oce­a­nos, in­for­ ma­çõ­es es­tra­té­gi­cas para a na­ve­ga­ção. Es­ses es­tu­dos ren­ de­ram ao al­mi­ran­te o Prê­mio

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Almirante: re­fe­rên­cia na oce­a­no­gra­fia e re­co­nhe­ci­men­to in­ter­na­ci­o­nal

FCW na ca­te­go­ria Ci­ên­cia Apli­­ ca­da à Água. A pri­mei­ra gran­de con­tri­ bu­ iç­ão veio ain­ da nos anos 1940. Pre­o­cu­pa­do com as te­o­­ ri­as, e não ape­nas com a apli­ ca­ção de con­cei­tos, Fran­co in­ves­tiu seu tem­po na in­ves­ti­ ga­ção do mé­to­do de aná­li­se e com­por­ta­men­to de ma­rés que ha­via sido ide­a­li­za­do por Ar­thur Do­od­son, do Ti­dal Ins­ti­ tu­te, li­ga­do à Uni­ver­si­da­de de Li­ver­po­ol, In­gla­ter­ra. Na­que­­la épo­ca, o in­glês ana­li­sa­va a ma­ré com um en­ge­nho­so al­go­rit­mo de sua au­to­ria, que con­si­de­ra­va 62 com­po­nen­tes

de ori­­­gem pu­ra­men­te as­tro­nô­ ­mi­ca. As de­mais com­po­nen­tes eram ge­ra­das por efei­to hi­dro­­­ di­nâ­mi­co da pe­que­na pro­fun­ di­da­de. Essa es­tra­té­gia re­pre­ sen­ta­va uma es­pé­cie de pa­drão mun­di­al e era o que de me­lhor se po­dia re­a­li­zar com as cal­cu­la­do­ras da épo­ca. Mas, além dis­so, ad­ver­te Fran­co, era um mo­de­lo ex­tre­ma­men­te rí­gi­do, pois ad­mi­tia que aque­ las com­po­nen­tes eram as que de­ve­ri­am ser con­si­de­ra­das em di­fe­ren­tes lo­cais do pla­ne­ta. Sua ta­re­fa foi mos­trar as li­mi­ta­ çõ­es e apon­tar a ne­ces­si­da­de de for­mu­la­ção de no­­vos mé­to­

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Ti­des: fundamentals, analysis and prediction, li­vro de Al­ber­to Fran­co pu­bli­ca­do no ex­te­ri­or, que deve sair em por­tu­guês em bre­ve

dos.“Ain­da es­tá­va­mos pre­sos a con­cei­tos e téc­ni­cas de aná­li­se do sé­cu­lo 19”, ex­pli­ca. As má­qui­nas eram len­tas, com­pa­ ra­das com as de hoje.” O de­sa­fio es­ta­va co­lo­ca­ do: en­con­trar ou­tras for­mas de aná­li­se, que uti­li­zas­sem to­da a po­ten­ci­a­li­da­de dos com­pu­ta­ do­res que co­me­ça­vam a ser de uso cor­ren­te. Na­que­le mo­men­to, o obs­tá­cu­lo a ser ven­ci­do era a tec­no­lo­gia – ou a fal­ta dela. Pa­ci­en­te, apro­vei­ tou a dé­ca­da se­guin­te para apro­fun­dar-se nos co­nhe­ci­ men­tos so­bre o fe­nô­me­no. O re­co­nhe­ci­men­to no Bra­sil não de­ mo­ ra­ ria. Em 1961, já como al­mi­ran­te da re­ser­va, e cada vez mais es­pe­ci­a­li­za­do no as­sun­to, foi in­di­ca­do pela Ma­­ri­nha para con­cor­rer às elei­çõ­es para o car­go de di­re­ tor do Bu­re­au Hi­dro­grá­fi­co In­ter­na­ci­o­nal, com sede em Mô­na­c o, di­r i­g i­d o por um co­mi­tê com três in­te­gran­tes de di­fe­ren­tes paí­­ses. Foi elei­ to e as­su­miu o pos­­to em 1962. Fo­ram cin­co anos ines­

que­cí­veis. “Fi­quei co­nhe­cen­ do a eli­te da oce­a­no­gra­fia mun­di­al. Tra­vei con­ta­to com as­sun­tos cor­ri­quei­ros para a co­m u­n i­d a­d e in­ter­na­ci­o­nal, mas que para mim eram no­vi­ da­des.”

A

vol­ta ao Bra­sil, em 1967, foi trau­má­ti­ca. Fran­co per­deu a pri­mei­ra es­po­sa no ano se­guin­te, ví­ti­ ma de cân­cer. Pas­ sou tam­ bém a de­d i­c ar mais aten­ç ão ao fi­ lho mais moço, com pro­ ble­mas psi­co­ló­g i­cos. Não fos­sem o tra­ba­lho e a von­t a­ de de com­p re­e n­d er as ma­rés, ad­mi­te, tal­vez não ti­ves­se su­por­ta­do os per­cal­ ços. Du­ ran­ te 1968 e 1969 es­te­ve no Ins­ti­tu­to Na­ci­o­nal de Pes­q ui­s as Es­p a­c i­a is (Inpe). No iní­cio de 1970 foi con­vi­da­do para as­su­mir a di­re­to­r ia do Ins­ti­tu­to Oce­a­ no­grá­­fi­co da Uni­ver­si­da­de de São Pau­ l o (IO/USP). Em­bo­ra ain­da não sou­bes­se

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me­x er com as má­qui­nas, ti­nha à dis­po­si­ção enor­mes com­pu­ta­do­res e pôde fi­nal­ men­te avan­çar na for­mu­la­ ção de um mo­de­lo de aná­li­se mais fle­xí­vel que o de Do­od­ son. Me­lhor ain­da: a téc­ni­ca ide­a­l i­z a­d a pelo al­m i­ran­t e não mais tra­ba­lha­ria di­re­t a­ men­t e com os da­d os ob­ser­ va­dos, e sim com o re­sul­ta­ do da aná­li­se des­ses da­dos. Ele ex­ pli­ ca: as ma­ rés são cons­­ti­tu­í­das por vá­ri­os gru­ pos de com­po­nen­tes: um gru­ po que re­a­li­za um ci­clo por dia, ou­tro que efe­tua dois ci­ clos di­á­­ri­os e as­sim por di­an­te até 12 ci­clos di­á­ri­os. Fi­nal­men­ te, há gru­pos de va­ri­a­ção len­ ta, des­de um ci­clo tri­mes­tral até um anu­al. Até en­tão era usu­al se­pa­rar aque­les gru­pos usan­do fil­tros ma­te­má­ti­cos. Com base em um so­fis­ti­ca­do sis­te­ma de equa­çõ­es, Fran­co con­se­guiu cri­ar um al­go­rit­mo de aná­li­se re­fi­na­do, ca­paz de se­pa­rar to­dos aque­les gru­ pos, ofe­re­cen­do ain­da in­for­ ma­­çõ­es úteis so­bre pos­sí­veis PESQUISA FAPESP


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ano­­ma­li­as. “Os re­sul­ta­dos co­­ me­ ça­ ram a sair em al­ guns mi­­nu­tos”, diz. A pas­sa­gem pelo IO/USP ter­mi­nou em 1974, quan­do o al­mi­ran­te foi con­tra­ta­do pelo Ins­ti­tu­to de Pes­qui­sas Tec­no­ ló­gi­cas (IPT) para as­ses­so­rar a área de en­ge­nha­ria na­val. Em 1976 de­fen­deu a tese de dou­to­ra­do, sem ne­ces­si­da­de do mes­tra­do, na Es­co­la Po­li­ téc­ni­ca da USP, so­bre as ma­rés em águas ra­sas. Foi uma es­pé­ cie de sis­te­ma­ti­za­ção de boa par­te dos es­tu­dos de­sen­vol­vi­ dos até aque­le mo­men­to. Em me­a­dos dos anos 1980, de­ci­ diu sair do IPT e tra­ba­lhar em casa. E é as­sim que atua até hoje. Ca­sa­do pela se­gun­da vez, o al­mi­ran­te pro­cu­rou re­fú­gio no sos­se­go da Gran­ ja Vi­a­na – dis­tan­te da ro­ti­na ace­le­ra­da do cen­tro da ca­pi­ tal pau­lis­ta. Em seu es­cri­tó­rio re­cor­re ago­ra a um PC para ro­dar seus pro­gra­mas.“Va­mos ver como es­ta­vam as ma­rés na re­ gião de Ca­ na­ néia, no li­to­ral nor­te de São Pau­lo, há PESQUISA FAPESP

dez anos.” A res­pos­ta apa­re­ce na tela em me­nos de um mi­nu­ ­to. “É fan­tas­ti­ca­men­te rá­pi­do.” Mes­mo dis­tan­te das uni­ ver­si­da­des e dos cen­tros de pes­qui­sa, Fran­co não pa­rou de pro­­du­zir. Apro­vei­tan­do os avan­­ços tec­no­ló­gi­cos, cri­ou, no iní­cio da dé­ca­da de 1990, um mé­to­do de aná­li­se ex­tre­ ma­men­te rá­pi­do para o tra­ta­ men­to de lon­gas sé­ri­es de ob­ser­va­çõ­es ca­paz de se­pa­ rar 1.014 com­po­nen­tes, sem per­der as van­ta­gens dos mé­to­dos an­te­ri­o­res. Quan­do os es­tu­dos so­bre as ma­rés oce­â­ni­cas, por exem­plo, são fei­tos com equi­pa­men­tos ba­se­a­dos em acús­ti­ca sub­ma­ ri­na, há va­ri­a­çõ­es in­de­se­já­ veis que al­te­ram al­guns va­lo­ res im­por­tan­tes. “Com meus mé­to­dos de aná­li­se para pe­rí­ o­dos cur­tos é pos­sí­vel de­tec­ tar as cau­sas de con­ta­mi­na­ ção dos re­sul­ta­dos fi­nais”, ex­pli­ca. Ele con­ta que ou­tra van­ta­gem é po­der tra­ba­lhar com pe­rí­o­dos de aná­li­se mais lon­gos.

Para Afrâ­nio Ru­bens de Mes­ ­­qui­ta, pro­fes­sor do IO/USP, o al­mi­ran­te é um pi­o­nei­ro. “Co­­ me­çou a tra­ba­lhar pra­ti­ca­ men­­­te so­zi­nho, em con­di­çõ­es inós­­pi­tas, de­ci­fran­do ar­ti­gos pu­bli­ca­dos no ex­te­ri­or e pro­ cu­ran­do adap­tá-los à re­a­li­da­de bra­si­lei­ra”, diz. “Gra­ças a es­ses es­tu­dos, trans­for­mou-se em re­fe­rên­cia na área e o Bra­sil pas­sou a ser re­co­nhe­ci­do pela oce­a­no­gra­fia in­ter­na­ci­o­ nal”, com­ple­ta. Aos 91 anos, Alber­to Fran­co apro­vei­ta o tem­po li­vre com a lei­tu­ra, prin­ci­pal­men­te de obras que tra­tem de his­tó­ria e re­li­gião. Quan­do po­de, não per­de a chan­ce de man­ter con­ta­to di­ re­ to com o mar. Tem um ve­lei­ro guar­da­­do no Iate Clu­ be de San­to Ama­ro, às mar­ gens da re­p re­s a de Gua­­ra­ pi­ ran­ ga, em São Paulo. “Por con­ta da ida­de, não me ar­ris­ co mais a ve­le­jar so­zi­nho. Pre­ ci­so de com­pa­nhia. Quan­do a opor­tu­ni­da­de apa­re­ce, não a des­per­di­ço. O mar é mi­nha gran­de pai­xão.” •

ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 31


RICARDO CUNHA/GIOVANNI, FCB

1º lugar: Irado, de Ricardo Cunha, para a agência Giovanni, FCB

ARTE

As fotos

escolhidas

32 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

R

icardo Cunha, carioca, foi o grande vencedor do Prêmio FCW de Arte 2004 (fotografia publicitária). Sua foto Irado integra a campanha da agência Giovanni, FCB para a revista Vizoo. Ele ganhou o troféu criado por Vlavianos e R$ 80 mil. Paulo Vainer, de São Paulo, ficou com o segundo lugar e R$ 40 mil com a foto Borboleta, estrelada pela modelo Gisele Bündchen, para a campanha da Grendene, da W/Brasil. E Felipe Hellmeister, também da capital paulista, ganhou em terceiro mais R$ 20 mil, com a foto Gordinha, para os Sucos Camp, da agência Age Comunicações. • PESQUISA FAPESP


PAULO VAINER/W/BRASIL FELIPE HELLMEISTER/AGE

2º lugar: Borboleta, de Paulo Vainer, para a W/Brasil

3º lugar: Gordinha, de Felipe Hellmeister, para Age Comunicações PESQUISA FAPESP

ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 33


Instituições Parceiras

da

FCW

Fun­da­ção de Am­pa­ro à Pes­qui­sa do Es­ta­do de São Pau­lo – FA­PESP Li­ga­da à Se­cre­ta­ria de Ci­ên­cia, Tec­no­lo­gia, De­sen­vol­vi­men­to Eco­nô­mi­co e Tu­ris­mo, é uma das prin­ci­pais agên­ci­as de fo­men­to à pes­qui­sa ci­en­tí­fi­ca e tec­no­ló­gi­ca do país. Des­de 1962 a FA­PESP con­ce­de au­xí­lio à pes­qui­sa e bol­sas em to­das as áre­as do co­nhe­ ci­men­to, fi­nan­ci­an­do ou­tras ati­vi­da­des de apoio à in­ves­ti­ga­ção, ao in­ter­câm­bio e à di­vul­ga­ção da ci­ên­cia e tec­no­lo­gia em São Pau­lo.

Co­or­de­na­ção de Aper­fei­ço­a­men­to de Pes­so­al de Ní­vel Su­pe­ri­or – Capes Fun­da­ção vin­cu­la­da ao Mi­nis­té­rio da Edu­ca­ção, tem como mis­são pro­mo­ver o de­sen­ vol­vi­men­to da pós-gra­du­a­ção na­ci­o­nal e a for­ma­ção de pes­so­al de alto ní­vel, no Bra­sil e no ex­te­ri­or. Sub­si­dia a for­ma­ção de re­cur­sos hu­ma­nos al­ta­men­te qua­li­fi­ca­dos para a do­cên­cia de grau su­pe­ri­or, a pes­qui­sa e o aten­di­men­to da de­man­da dos se­to­res pú­bli­co e pri­va­do.

Con­se­lho Na­ci­o­nal de De­sen­vol­vi­men­to Ci­en­tí­fi­co e Tec­no­ló­gi­co – CNPq Fun­da­ção vin­cu­la­da ao Mi­nis­té­rio da Ci­ên­cia e Tec­no­lo­gia (MCT), para apoio à pes­qui­sa bra­si­lei­ra, que con­tri­bui di­re­ta­men­te para a for­ma­ção de pes­qui­sa­do­res (mes­tres, dou­ to­res e es­pe­ci­a­lis­tas em vá­ri­as áre­as do co­nhe­ci­men­to). Des­de sua cri­a­ção, é uma das mais só­li­das es­tru­tu­ras pú­bli­cas de apoio à ci­ên­cia, tec­no­lo­gia e ino­va­ção dos paí­ses em de­sen­vol­vi­men­to.

So­ci­e­da­de Bra­si­lei­ra para o Pro­gres­so da Ci­ên­cia – SBPC Fun­da­da há mais de 50 anos, é uma en­ti­da­de ci­vil, sem fins lu­cra­ti­vos, vol­ta­da prin­ci­pal­ men­te para a de­fe­sa do avan­ço ci­en­tí­fi­co e tec­no­ló­gi­co e do de­sen­vol­vi­men­to edu­ca­­ ci­o­nal e cul­tu­ral do Bra­sil.

Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Ci­ên­ci­as – ABC So­ci­ed ­ a­de ci­vil sem fins lu­cra­ti­vos, fun­da­da em 3 de maio de 1916, tem por ob­je­ti­vo con­tri­bu­ir para o de­sen­vol­vi­men­to da ci­ên­cia e tec­no­lo­gia, da edu­ca­ção e do bem-es­tar so­ci­al do país.Atu­al­men­te reú­ne seus mem­bros em dez áre­as: Ci­ên­ci­as Ma­te­má­ti­cas, Ci­ên­ ­ci­as Fí­si­cas, Ci­ên­ci­as Quí­mi­cas, Ci­ên­ci­as da Ter­ra, Ci­ên­ci­as Bi­o­ló­gi­cas, Ci­ên­ci­as Bi­o­­mé­ di­cas, Ci­ên­ci­as da Saú­de, Ci­ên­ci­as Agrá­ri­as, Ci­ên­ci­as da En­ge­nha­ria e Ci­ên­ci­as Hu­ma­nas.

Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Le­tras – ABL Fun­da­da em 20 de ju­lho de 1897 por Ma­cha­do de As­sis, com sede no Rio de Ja­nei­ro, tem por fim a cul­tu­ra da lín­gua na­ci­o­nal. É com­pos­ta por 40 mem­bros efe­ti­vos e per­ pé­tu­os e 20 mem­bros cor­res­pon­den­tes es­tran­gei­ros.

Centro Técnico Aeroespacial ­– CTA Criado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espaciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia.


JÚRI DOS PRÊMIOS FCW CIÊNCIA GERAL INSTITUIÇÃO DE ORIGEM Erney P. Camargo – Presidente do Júri CNPq Luiz Rodolpho R. Gabaglia Travassos Unifesp Helena Bonciani Nader Escola Paulista de Medicina Walter Colli USP Hugo Aguirre Armelin USP Marco Antonio Sala Minucci IEAv

FCW Capes SBPC FAPESP ABC CTA

CIÊNCIA APLICADA AO CAMPO Joaquim J. de C. Engler – Presidente do Júri FAPESP João Lúcio de Azevedo UMC José Oswaldo Siqueira UFLA Mariza Marilene Tanajura Luz Barbosa Embrapa Ernesto Paterniani USP Esalq

FCW CNPq Capes Min. da Agricultura ABC

CIÊNCIA APLICADA AO MEIO AMBIENTE José Galizia Tundisi – Presidente do Júri IIE Monica F. A. Porto USP Umberto Giuseppe Cordani USP Bráulio Ferreira de Souza Dias

FCW FAPESP ABC Min. Meio Ambiente

CIÊNCIA APLICADA À ÁGUA Fernando de Arruda Botelho – Presidente do Júri FCW Belmiro Mendes de Castro Filho USP Arthur Germano Fett Neto UFRGS Rolf Roland Weber USP Luiz Fernando Palmer Fonseca IEMAPaulo Moreira José Galizia Tundisi IIEcologia Odmir Andrade Aguiar

FCW CNPq Capes FAPESP Marinha do Brasil ABC Sec. Esp. Aqüi. e Pesca

MEDICINA Renata Caruso Fialdini – Presidente do Júri FCW Manoel Barral Netto CNPq Emmanuel de Almeida Burdmann USP Rib. Preto Marco Antonio Zago USP Rib. Preto Mario José Abdalla Saad Unicamp Protásio Lemos da Luz InCor

FCW CNPq Capes SBPC FAPESP ABC

LITERATURA Celia Procopio Araujo Carvalho – Presidente do Júri FCW Marisa Philbert Lajolo Unicamp Carlos A. Vogt Unicamp Antonio Carlos Secchin UFRJ e A. B. de Letras José Ephim Mindlin Carlos Alberto Ribeiro De Xavier Sérgio Sá Leitão

FCW CNPq FAPESP ABL ABC Min. Educação Min. Cultura

PARCEIRA QUE INDICOU


Cronograma da Premiação 2005

Divulgação para a imprensa e convite oficial para que as instituições e entidades encaminhem à FCW suas indicações

Outubro de 2005

Prazo para recebimento das indicações pela FCW

31 de dezembro de 2005

Preparação dos dossiês dos indicados

Janeiro a março de 2006

Julgamento e escolha dos premiados

Março de 2006

Divulgação dos trabalhos

Abril de 2006

Premiação

Maio de 2006

F u n da ç ã o C o n r a d o W e s s e l www.fcw.org.br


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