Prêmio FCW 2006

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E S P E C I A L prêmio

FCW

F u n d a ç ã o C o n r a d o We s s e l

Os vencedores do Prêmio Conrado Wessel de Arte, Ciência e Cultura 2006


conselho curador e diretoria da FCW

  Presidente Dr. Antonio Bias Bueno Guillon Membros Dr. José Álvaro Fioravanti Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto Dr. José Hermílio Curado Capitão PM Kleber Danúbio Alencar Júnior Dr. Lélio Ravagnani Filho Dr. Reinaldo Antonio Nahas Prof. Stefan Graf Von Galen

  Diretor Presidente Dr. Américo Fialdini Júnior Diretor Vice-Presidente Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese Diretor Financeiro Dr. José Moscogliatto Caricatti Diretor Administrativo Dr. Adilson Costa Macedo

   Dr. José Moscogliatto Caricatti

F undação C onrado W essel Rua Pará, 50 - 15º andar Higienópolis - 01243-020 São Paulo, SP - Brasil Tel./fax: 11 3237-2590 www.fcw.org.br diretoria@fcw.org.br


índice 4

FCW apóia a arte, a ciência e a cultura e distribui bolsas de estudo

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Já foi premiado um elenco de biografias de importância capital para o país

12

Festa na Sala São Paulo teve o piano de Arnaldo Cohen e o violino de Moisés Cunha

38

As sete instituições parceiras que colaboram com a FCW

17

Aldo Rebouças garante que há soluções para a seca do Nordeste

26

Carlos Nobre tornou-se um combativo defensor da Amazônia

6

A vida e obra do inventor, empresário e filantropo Conrado Wessel

20

Pesquisa em temas variados marca a carreira de Ricardo Brentani

29

Magno Ramalho melhora geneticamente o feijoeiro há mais de 30 anos Capa Mayumi Okuyama | Foto da capa Miguel Boyayan

14

Sérgio Mascarenhas dissemina conhecimento e oportunidades na física

23

Escritora Ruth Rocha valoriza a criança com senso crítico

32

Conheça os ganhadores de Foto Publicitária e Ensaio Fotográfico


U ma referência nacional

Fundação Conrado Wessel tem forte atuação no apoio à arte, à ciência e à cultura; e na concessão de bolsas para pós-doutores e jovens talentos musicais

No 13º ano de sua cria­ ção, a Fundação Con­ ■ rado Wes­sel (FCW) tor ­nou-se uma re­fe­rên­cia no ce­ná­rio na­ci­ o­nal: a de apoio à arte, à ci­ên­cia e à cul­tu­ra. A pró­pria exis­tên­cia des­te su­ple­men­to es­pe­ci­al da re­ vis­t a Pes­q ui­s a FA­P ESP, pelo quar­to ano con­se­cu­ti­vo, con­fir­ ma o fato. Ubal­do Con­ra­do Au­ gus­to Wes­sel le­gou à FCW um pa­tri­mô­nio ba­si­ca­men­te cons­ti­ tu­í­do de imó­veis que os atu­ais di­ri­gen­tes con­se­gui­ram di­na­mi­ zar, mul­ti­pli­car e con­so­li­dar a par­tir de 2000. Esse es­for­ço tor­ nou pos­sí­vel uma for­te atu­a­ção de apoio à arte, à ci­ên­cia e à cul­ tu­ra, com a ou­tor­ga anu­al dos 4 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

mai­o­res prê­mi­os do país des­de 2002.Além de­les, con­ce­de bol­sas de es­tu­do de pós-dou­to­ra­do pa­ ra os Gran­des Prê­mi­os Ca­pes de Te­ses e para ta­len­tos mu­si­cais na Uni­ver­si­da­de de In­di­a­na, nos Es­ta­dos Uni­dos, um re­co­nhe­ci­ do pólo de ex­celência no ensino e desenvolvimento de músicos. As ati­vi­da­des da Fun­da­ção não se en­c er­r am no mun­d o aca­dê­mi­co. To­dos os anos são con­ce­di­das gran­des do­a­çõ­es a seis en­ti­da­des be­ne­fi­ci­á­r i­as. Em 2007, o Cor­po de Bom­bei­ros de São Pau­lo pôde, com os re­ cur­s os re­p as­s a­d os pela FCW, man­dar para Ade­lai­de, na Aus­ trá­lia, 42 bom­bei­ros a fim de

par­t i­c i­p a­r em do World Fire Ga­mes. No ano pas­sa­do 45 de­ les fo­r am a Hong Kong; no pró­xi­mo ano de­ve­rão ir a Li­ ver ­po­ol. Os ob­je­ti­vos fi­lan­tró­ pi­c os des­s e in­t er­c âm­b io são in­cal­cu­lá­veis. Pelo me­nos um bom­bei­ro de cada uni­da­de da cor ­po­ra­ção no es­ta­do de São Pau­lo foi pre­mi­a­do com uma vi­a­gem de tra­ba­lho ao ex­te­r i­or a fim de aper­fei­ço­ar-se. Mis­são cum­pri­da - Os nú­me­ ros tam­bém são ex­pres­si­vos em re­la­ção às ou­tras en­ti­da­des be­ ne­fi­ci­a­das, o Hos­pi­tal do Cân­ cer, a Pro­m o­ç ão So­c i­a l do Exér­ci­to da Sal­va­ção, as Al­dei­as PESQUISA FAPESP


GABRIEL VALLEJO/FAAP

Apresentação do violinista Moisés Bonella Cunha, primeiro bolsista da FCW em música, com o pianista Arnaldo Cohen na cerimônia na Sala São Paulo, em 2007

In­fan­tis SOS do Bra­sil, a Es­co­ la Ben­ja­min Cons­tant da Vila Ma­r i­a ­n a, em São Pau­lo, e as mais de 2.800 fa­mí­li­as que anu­ al­m en­t e re­c e­b em do­n a­t i­vos. São qua­tro quo­tas para do­na­tá­ ri­as in­di­vi­du­ais e uma quin­ta trans­for­ma­da em ces­tas bá­si­cas. So­man­do to­dos os be­ne­fi­ci­á­r i­ os – não es­tão in­clu­í­dos nes­te cál­cu­lo os prê­mi­os e as bol­sas –, além do Cor­po de Bom­bei­ros, na atu­al ges­tão a FCW já con­ ta­bi­li­za mi­lhõ­es de re­ais em do­ a­ç õ­e s. Os nú­m e­ros in­d i­c am cla­r a­m en­t e que a Fun­d a­ç ão cum­pre sua mis­são de en­ti­da­de so­ci­al­men­te res­pon­sá­vel. No seu prin­ci­pal seg­men­ to, o dos prê­mi­os FCW à arte, PESQUISA FAPESP

à ci­ên­cia e à cul­tu­ra e das bol­ sas de es­t u­d o, a ins­t i­t u­i­ç ão ofe­re­ce a ci­en­tis­tas e uni­ver­si­ tá­r i­o s os mai­o­res prê­m i­o s e bol­s as co­n he­c i­d os no Bra­s il. Para pre­mi­ar as ca­te­go­r i­as de Fo­to­g ra­fia Pu­bli­ci­tá­r ia, En­saio Fo­t o­g rá­f i­c o, Ci­ê n­c ia Ge­r al, Ci­ên­cia Apli­ca­da (Água, Cam­ po, Meio Am­bi­en­te), Me­di­ci­ na, Li­te­ra­tu­ra e Prê­mio Al­mi­ ran­te Álvaro Al­ber­to, a FCW des­pen­de pelo me­nos 30% de seu mo­v i­m en­t o bru­t o anu­a l. O Prê­m io Al­m i­r an­t e Ál­varo Al­b er­t o é o mai­o r atri­bu­í­d o pelo Con­s e­l ho Na­c i­o­n al de De­sen­vol­vi­men­to Ci­en­tí­fi­co e Tec­n o­l ó­g i­c o (CNPq), com pa­tro­cí­nio da FCW.

Ela pro­cu­ra sem­pre a com­ pa­nhia de gran­des ins­ti­tu­i­çõ­es para tra­ba­lhar. São as en­ti­da­des par­cei­ras que ava­li­am os no­mes dos ci­en­tis­tas e uni­ver­si­tá­r i­os in­di­ca­dos aos prê­mi­os e às bol­ sas. Esse fil­tro de in­for­ma­çõ­es é de­m o­r a­d o, in­g en­t e e de alta res­pon­sa­bi­li­da­de. As ins­ti­tu­i­çõ­ es são, além do CNPq, a Ca­pes, a FA­PESP, a ABC, a ABL, a SB­ PC, o CTA e a Uni­ver­si­da­de de In­di­a­na, nos Es­ta­dos Uni­dos. Essa re­la­ção (mais in­for­ma­çõ­es na pá­gi­na 38) traz a cer­te­za da ele­ va­ção de prin­cí­pi­os, isen­ção e éti­c a aci­m a de tudo. É as­s im que se cris­t a­li­z a o fu­t u­ro e é por tudo isso que a FCW se tor­nou re­fe­rên­cia na­ci­o­nal. ■ ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 5


O entusiasmo de um inventor Apaixonado por fotografia, Conrado Wessel criou a primeira fábrica brasileira de papel fotográfico

Ci­ê n­c ia e arte sem­pre fo­ram as pai­x õ­e s de ■ Con­ra­do Wes­sel. Como in­ven­ tor nato, cri­ou um pa­pel fo­to­ grá­fi­co ino­va­dor; como em­pre­ en­de­dor obs­ti­na­do, foi dele a pri­mei­ra fá­bri­ca bra­si­lei­ra para pro­du­zir esse pa­pel. Há 86 anos, Con­ra­do con­se­guia jun­to com o pai, Gui­lher­me Wes­sel, a ex­ pe­di­ção da car­ta pa­ten­te do in­ ven­to, as­si­na­da pelo pre­si­den­te Epi­tá­cio Pes­soa. Mes­mo com a for­te con­cor ­rên­cia es­tran­gei­ra, ele con­q uis­t ou o mer­c a­d o e for­mou um pa­tri­mô­nio imo­bi­ li­á­r io que, obe­de­cen­do ao de­ 6 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

se­jo ex­pres­so em seu tes­ta­men­ to, foi uti­li­za­do como las­tro para cri­ar uma fun­da­ção que apoi­as­se ati­vi­da­des edu­ca­ti­vas e cul­tu­rais de seis en­ti­da­des e in­cen­ti­vas­se a arte, a ci­ên­cia e a cul­tu­ra por meio de prê­mi­os. A Fun­da­ção foi ins­ti­tu­í­da em 1994, um ano após sua mor­te, aos 102 anos, e hoje cum­pre exem­plar­men­te as me­tas de seu ide­a­li­za­dor. Con­ra­do Wes­sel nas­ceu em Bu­e­nos Ai­res, em 1891, fi­lho de fa­mí­lia tra­di­ci­o­nal de fa­bri­can­ tes de cha­péus de Ham­bur­go, na Ale­ma­nha, em me­a­dos do sé­cu­ lo XIX. No ano se­guin­te ao seu

nas­ci­men­to, a fa­mí­lia mi­g rou para So­ro­ca­ba, in­te­r i­or de São Pau­lo, e pos­te­r i­or­men­te para a ca­pi­tal pau­lis­ta.Apai­xo­na­do por fo­to­gra­fia, Gui­lher­me Wes­sel, o pai, pre­via um gran­de fu­tu­ro pa­ ra o se­tor. Pa­ra­le­la­men­te às au­las de ma­te­má­ti­ca que le­ci­o­na­va no Se­m i­n á­r io Epis­c o­p al de São Pau­lo, no bair­ro da Luz, per­to da Es­co­la Po­li­téc­ni­ca, ele alugou uma loja onde ins­ta­lou uma cli­ che­r ia e na qual também vendia ma­te­r i­al fo­to­grá­fi­co, na rua Di­ rei­ta n° 20. Con­ra­do her­dou a pai­xão do pai e sem­pre se aven­tu­rou a PESQUISA FAPESP


Conrado Wessel na foto clássica com seu aparelho fotográfico: “Insista, não desista”

ex­pe­r i­ên­ci­as mis­tu­ran­do o ni­ tra­to de pra­ta ao bro­me­to de po­tás­sio, ao clo­re­to de só­dio e ao io­de­to de po­tás­sio. Che­guei à con­clu­são de que a mis­tu­ra de uma pe­que­na dose de iodo ao bro­mo dava mu­i­to me­lhor re­ sul­ta­do, as­sim como a adi­ção do bro­mo ao clo­ro.”

FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL

De­pois de mu­i­tas ex­pe­r i­ ên­ci­as, Con­ra­do Wes­sel ■ che­gou a uma fór ­mu­la sa­tis­fa­

fa­zer fo­tos – ain­da jo­vem, ga­ nhou dois prê­mi­os em con­cur­ sos pro­mo­vi­dos pela Se­cre­ta­r ia de Agri­cul­tu­ra.Tam­bém au­xi­li­ a­va Gui­lher ­me na ge­rên­cia da loja. Por in­sis­tên­cia do pai foi paraVi­e­na, na Áustria, em 1911, es­tu­dar quí­mi­ca. Lá apren­deu fo­to­quí­mi­ca na K.K. Lehr und Ver­suchs Ants­talt, re­no­ma­da es­ co­la de fo­to­gra­fia, es­pe­ci­a­li­zan­ do-se em cli­chês para jor­nais e re­vis­tas. Vol­tou ao Bra­sil dois anos de­pois com um pro­je­to am­bi­ci­o­so: so­nha­va com uma fá­bri­ca de pa­pel fo­to­grá­fi­co na­ ci­o­nal. Posteriormente, Con­ra­ PESQUISA FAPESP

do as­sis­tiu por quatro anos às au­las na Escola Po­li­téc­ni­ca co­ mo alu­no-ou­vin­te do cur­so de en­ge­nha­r ia quí­mi­ca e foi um as­sis­ten­te in­for­mal do pro­fes­sor ale­mão Ro­ber­to Hot­tin­ger, res­ pon­sá­vel pela ca­dei­ra de bi­o­ quí­mi­ca, fí­si­co-quí­mi­ca e ele­ tro­quí­mi­ca. “Du­ran­te qua­tro anos fiz de tudo ali”, con­tou Wes­sel. “Des­ de a pre­pa­ra­ção do ni­tra­to de pra­ta até os es­tu­dos das di­fe­ren­ tes qua­li­da­des de ge­la­ti­nas. Da ação dos ha­l o­g ê­n i­o s como o bro­mo, o clo­ro e o iodo so­bre o ni­tra­to de pra­ta. Fiz inú­me­ras

tó­r ia para o pa­pel, cu­jas pro­vas, como ele su­bli­nhou, agra­da­ram mu­i­t o ao seu pai. “Em ple­n a pu­jan­ça da mo­ci­da­de, ta­xa­do de lou­co in­clu­si­ve pelo en­tão re­ pre­sen­tan­te de uma in­dús­tria es­tran­gei­ra de fo­to­g ra­fia que por to­dos os mei­os quis me per­ su­a­dir a de­sis­tir de con­ti­nu­ar no meu so­nho de fa­bri­car pa­pel fo­to­grá­fi­co no Bra­sil, no ano de 1921 eu ins­ta­lei a fá­bri­ca de pa­ péis fo­to­grá­fi­cos si­tu­a­da à Rua Lo­pes de Oli­vei­ra, 198”, es­cre­ veu Wes­s el. “Com­p rei umas má­qui­nas que es­ta­vam de pos­se do dr. Pi­ca­rol­lo, pro­fes­sor de fi­ lo­so­fia na Es­co­la Nor­mal, hoje Cae­ta­no de Cam­pos. Quan­do eu sou­be que ele e o fi­lho que­ ri­am ven­der as má­qui­nas me apres­sei em com­prá-las. De­pois de re­ga­te­ar con­se­gui ad­qui­r ir tudo por oito con­t os e qui­ nhen­tos.” Na épo­ca, os fo­tó­g ra­fos do Jar­dim da Luz, um dos prin­ci­pais lo­cais de la­zer da ci­da­de, tra­ba­ lha­vam com uma câ­me­ra-la­bo­ ra­tó­rio. Era uma cai­xa de ma­dei­ ra com uma ob­je­ti­va so­bre um tri­pé. A câ­me­ra era di­vi­di­da em duas par­tes. A in­fe­r i­or con­ti­nha ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 7


os ba­nhos de re­ve­la­dor e fi­xa­dor uti­li­za­dos para o pro­ces­sa­men­to quí­mi­co de fil­mes e pa­péis. O pa­pel uti­li­za­do era im­por­ta­do de fa­bri­can­tes eu­ro­peus. O pró­xi­mo de­sa­fio de Wes­ sel era ini­ci­ar a pro­du­ção. “As fór­mu­las que eu ha­via ela­bo­ra­ do pa­re­ci­am boas, mas não po­ de­r ia as­se­gu­rar que se­r i­am boas tam­bém na fa­bri­ca­ção”, ele re­ gis­trou, pre­o­cu­pa­do. O pa­pel ne­ces­sá­r io para os tes­tes foi mais di­fí­cil, já que no Bra­sil não ha­via ne­nhu­ma fá­bri­ca para for­ne­cer o pa­pel ba­r i­ta­do. O ma­te­r i­al ti­ nha que ser com­pra­do na Fran­ ça, fa­bri­ca­do pela Ri­vers, ou na Ale­ma­nha, pela Schol­ler. O jo­ vem in­ven­tor saiu à cata de um im­por­ta­dor.“En­quan­to a en­co­ men­da não che­ga­va, es­tu­dei co­ mo pen­du­rar o pa­pel emul­si­o­ na­d o para se­c ar no pe­q ue­n o es­pa­ço de que dis­pu­nha”, dis­se. O aca­so aju­dou-o a en­con­ trar a so­lu­ção. Wes­sel es­ta­va na Ta­­pe­ça­r ia Schultz, para a qual re­a­li­za­va um ser­vi­ço de pro­pa­ gan­da, quan­do lhe cha­mou a aten­ção o sis­te­ma de cor­ti­nas que se mo­vi­am por cor­di­nhas usa­das pe­los ta­pe­cei­ros. Fez um cro­qui do sis­te­ma uti­li­za­do na Schultz e ima­g i­nou que, em­ pre­gan­do mé­to­do se­me­lhan­te, po­de­r ia se­car mais de 100 me­ tros de pa­pel. O pa­pel che­gou e a pe­que­na fá­bri­ca ini­ci­ou sua pro­du­ção. “Foi um de­sas­tre”, re­su­miu. Não se apro­vei­ta­ram mais do que 10 cen­tí­me­tros dos 10 me­tros de pa­pel emul­si­o­na­dos. Nova ten­ ta­ti­va, nova frus­tra­ção. O pa­pel, ele des­cre­veu, es­ta­va qua­se todo “ei­va­do de pe­que­nas bo­lhas e ou­tras par­tí­cu­las in­de­se­já­veis”. En­quan­to pen­sa­va so­bre o pro­ ble­ma, mais uma vez o aca­so – e o olhar ar­gu­to – trou­xe a so­lu­ ção.Wes­sel foi cha­ma­do à fá­bri­ ca das Li­nhas Cor­ren­tes, no Ipi­ ran­ga, para exe­cu­tar um ser­vi­ço 8 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

Carta patente de novo processo de produção de papel fotográfico assinada pelo presidente Epitácio Pessoa em 1921

de cli­chês. No sa­lão de es­pe­ra, re­pa­rou numa pe­que­na má­qui­na uti­li­za­da para pas­sar goma no ver­so das eti­que­tas. “Ha­via uma cuba e um rolo imer­so den­tro dela. Com a má­qui­na em mo­vi­ men­to, o rolo pas­sa­va uma cer­ta quan­ti­da­de da so­lu­ção, dei­xan­do es­tri­as so­bre o pa­pel, que tam­ bém se­guia seu cur­so. Eu­re­ca, pen­sei, meu pro­ble­ma está re­sol­ vi­do”, descreveu. Mais uma vez fez um cro­qui e adap­tou a má­ qui­na de emul­si­o­na­gem ao mo­ de­lo da­que­la uti­li­za­da para go­ mar eti­q ue­t as. E de­t a­l hou os re­sul­ta­dos: “A má­qui­na se re­su­ mia no se­guin­te: uma cuba de

bar ­ro vi­dra­do (na­que­la épo­ca não exis­tia o aço ino­xi­dá­vel) cheia de emul­são e um rolo de ebo­ni­te que mer­gu­lha­va nela. O pa­pel pas­sa­va en­tre um ou­tro eixo fixo, re­gu­la­do como o rolo. Des­sa ma­nei­ra, as bo­lhas fi­ca­ vam to­das na cuba. Mais tar­de esse sis­te­ma foi me­lho­ra­do, com mais de um rolo de ebo­n i­t e, tor ­nan­do im­pos­sí­vel o sur­g i­ men­to de bo­lhas so­bre o pa­pel. Fi­z e­m os no­vas ex­p e­r i­ê n­c i­a s com ple­no êxi­to.Va­mos fa­bri­car e ven­der”, co­me­mo­rou. Nas­ceu as­sim a Fá­bri­ca Pri­vi­le­gia­da de Pa­péis Pho­­­­to­gra­phi­cos Wes­sel. Ele não ima­g i­na­va, no en­ tan­to, que te­r ia que en­fren­tar ain­da a re­sis­tên­cia dos fo­tó­gra­ PESQUISA FAPESP


FOTOS FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL

Fábrica de papel Kodak-Wessel (ao lado) e placa explicativa. No alto, as caixas de papel fotográfico

fos, seus po­t en­c i­a is cli­e n­t es. “Eles ex­pe­r i­men­ta­ram o ma­te­ ri­al, acha­ram bons os re­sul­ta­ dos, mas jul­ga­ram me­lhor con­ ti­nu­ar com o pos­tal da Ri­dax, da Ge­vaert, ape­­sar de o pre­ço do meu ser bem me­nor.” Foi nes­sa épo­ca que Wes­­­­sel for­jou o lema que o acom­pa­nha­r ia por toda a vida: “In­sis­ta, não de­sis­ta”. Os ne­g ó­c i­o s iam mal até que a his­tó­r ia re­ver­teu o ris­co do fra­cas­so. No dia 5 de ju­lho de 1924 Isi­do­ro Dias Lo­pes de­ fla­grou o mo­vi­men­to co­nhe­ci­ do como a Re­vo­lu­ção dos Te­ nen­tes. São Pau­lo fi­cou si­ti­a­da, iso­la­da do res­to do país. Aos fo­tó­g ra­fos da Luz fal­tou pa­pel im­por­ta­do. “Numa ma­nhã de PESQUISA FAPESP

um dos pri­mei­ros dias de re­vo­ lu­ç ão apa­re­c eu um de­l es em mi­nha casa e per­gun­tou se eu ti­nha pos­tais para ven­der”, con­ tou. A re­vo­lu­ção abriu-lhe o mer­ca­do. Ao fim de 29 dias de cer­co, os re­bel­des se ren­de­ram. O flu­xo de pa­pel im­por­ta­do foi res­ta­be­le­ci­do, mas a fá­bri­ca de pa­p éis cr i­a­d a por Con­r a­d o Wes­sel já ti­nha, de­fi­ni­ti­va­men­te, con­quis­ta­do a cli­en­te­la que lhe per­ma­ne­ceu fiel. Os gran­des fa­bri­can­tes es­ tran­g ei­ros, como a Ge­vaert, ten­t a­r am ain­d a re­c u­p e­r ar o mer­ca­do ofe­re­cen­do pro­du­tos mais ba­ra­tos. Wes­sel tam­bém bai­xou os pre­ços. “Por in­crí­vel que pa­re­ça, es­tes pos­tais mais

ba­ra­tos não fo­ram acei­tos pe­los am­bu­lan­tes. Nem os meus, nem os da Ge­vaert”, escreveu. A pro­du­ção bra­si­lei­ra cres­ ceu, Con­ra­do Wes­sel com­prou um pré­dio mai­or e con­so­li­dou sua po­si­ção no mer­ca­do. Não fal­ta­ram pro­pos­tas de em­pre­sas es­t ran­g ei­r as in­t e­res­s a­d as em par­ce­r ia com a ago­ra prós­pe­ra fá­bri­ca bra­si­lei­ra de pa­péis, até que o in­ven­tor – e ago­ra em­ pre­sá­r io – fir­mas­se um con­tra­to com a Ko­dak, ga­ran­tin­do para ela pra­ti­ca­men­te toda a sua pro­ du­ç ão, por mu­i­t os anos. Em 1949 fi­cou acer­ta­do que a sua pa­ten­te se­r ia ce­di­da à em­pre­sa nor­te-ame­r i­ca­na, me­di­an­te um acor­do so­ci­e­tá­r io de cons­tru­ção de nova fá­bri­ca em San­to Ama­ ro com ma­qui­ná­r io mo­der­no e o nome de Kodak-Wessel, sob a ge­rên­cia e par­ti­ci­pa­­­­­­­­ção nos lu­cros de Con­ra­do Wes­sel. Isso ocor­reu em 1949 e du­rou até 1954. A par­tir des­sa data a pa­ ten­te pas­sou de­fi­ni­ti­va­men­te à Ko­dak e o nome da fá­bri­ca dei­ xou de ser Ko­dak-Wes­sel. Ao lon­g o des­s e pe­r í­o­d o, com o lu­cro dos ne­gó­ci­os bem ad­mi­nis­tra­dos, Con­ra­do Wes­sel com­prou imó­veis nos bair ­ros de Cam­­­­­­­­­pos Elí­si­os, Bar­ra Fun­ da, San­ta Ce­cí­lia e Hi­gie­nó­po­ lis e os dei­xou, em tes­ta­men­to, como pa­t ri­m ô­n io ini­c i­a l da Fun­da­ção Con­ra­do Wes­sel. ■ ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 9


U m time

dos sonhos O Prêmio FCW já reconheceu um elenco de biografias de importância capital para o país

Na ga­le­ria dos lau­re­a­ dos nas úl­ti­mas edi­çõ­es ■ do Prê­mio FCW de Arte, Ci­ên­ cia e Cul­tu­ra vis­lum­bram-se bi­ o­gra­fi­as que aju­da­ram e se­guem aju­dan­do o Bra­sil a en­fren­tar seus de­sa­fi­os e in­cer­te­zas. Na ca­ te­go­r ia Ci­ên­cia Ge­ral já hou­ve dois pre­mi­a­dos no cam­po da bi­ o­lo­g ia e dois no de fí­si­ca. São no­mes que pro­du­zi­ram den­sas con­tri­bu­i­çõ­es para o de­sen­vol­ vi­men­to do país, como Isai­as Raw, pre­cur­sor da edu­ca­ção ci­ en­tí­fi­ca e ar­tí­fi­ce da trans­for­ma­ ção do Ins­ti­tu­to Bu­tan­tan no mai­or cen­tro na­ci­o­nal de pro­du­ ção de va­ci­nas; Wan­der­ley de Sou­za, pa­ra­si­to­lo­gis­ta com mais de 400 ar­ti­gos ci­en­tí­fi­cos pu­bli­ ca­dos em re­vis­tas in­ter­na­ci­o­nais; o ex-rei­tor da Uni­camp e atu­al di­re­tor ci­en­tí­fi­co da FA­PESP Car­los Hen­ri­que de Bri­to Cruz, es­pe­ci­a­lis­ta em fe­nô­me­nos ul­trará­pi­dos, la­ser e se­mi­con­du­to­res; e Sér­gio Mas­ca­re­nhas, pro­fes­sor da USP e au­tor de des­co­ber­tas dos bi­o­e­le­tre­tos e de no­vos mé­ to­dos de do­si­me­tria e da­ta­ção ar­queo­ló­gi­ca. A mas­sa crí­ti­ca que aden­sou a res­pei­ta­bi­l i­d a­d e do prê­m io con­tem­pla ain­da in­te­lec­tu­ais de pri­mei­ra gran­de­za como o crí­

ti­co Fá­bio Lu­cas e os es­cri­to­res Fer­rei­ra Gu­llar e Lya Luft e ci­ en­tis­tas da área mé­di­ca como o ci­rur­gião Adib Ja­te­ne e o on­co­ lo­gis­ta Ri­car­do Ren­zo Bren­ta­ ni, atu­al di­re­tor pre­si­den­te da FA­PESP. Na ca­te­go­r ia Ci­ên­cia Apli­c a­d a, a im­p or­t ân­c ia dos lau­re­a­dos pode ser vis­ta na me­ sa dos bra­si­lei­ros. A far­tu­ra de ce­nou­ra, mi­lho e café e a for­ça do agro­n e­g ó­c io têm uma dí­v i­d a com pes­qui­sa­do­res como Jai­ro Vi­d al, Luiz Car­l os Fa­z u­o­l i ou Mag­n o Ra­m a­l ho. Da mes­m a for­ma, fez um jus­to re­co­nhe­ci­ men­to a pes­qui­sa­do­res que pro­ du­zi­ram con­tri­bu­i­çõ­es de­ci­si­vas no es­tu­do dos re­cur­sos hí­dri­cos e dos ocea­nos e na de­fe­sa da Ama­zô­nia, como é o caso de Aziz Ab’Sá­ber, de José Ga­li­zia Tun­di­si e de Aldo Re­bou­ças. A FCW che­gou a essa co­le­ ção de gran­des no­mes gra­ças a in­di­ca­çõ­es fei­tas por 142 en­ti­da­ des do país e à aju­da de uma equi­pe de bus­ca, for ­ma­da por pro­fis­si­o­nais de ab­so­lu­ta com­pe­ tên­cia, que pesquisam cur­rí­cu­los para apre­sen­tar à co­mis­são jul­ga­ do­ra, à qual cabe de­fi­nir o ga­ nha­dor em cada área. Essa co­ mis­são é com­pos­ta por mem­bros in­di­ca­dos por oito en­ti­da­des e

10 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

mi­nis­té­ri­os par­cei­ros do prê­mio (veja o fi­nal des­ta edi­ção com a lis­ta dos ju­ra­dos e o lo­go­ti­po das par­cei­ ras). Os ven­ce­do­res de cada ca­ te­go­ria re­ce­bem um prê­mio no va­lor de R$ 100 mil lí­qui­dos – o mai­or já con­fe­ri­do por uma ins­ ti­tu­i­ção bra­si­lei­ra – e uma es­cul­ tu­ra do ar­tis­ta plás­ti­coVla­vi­a­nos. Se­gun­do in­for­ma a FCW, a par­ tir do pró­xi­mo ano os prê­mi­os te­rão subs­tan­ci­al au­men­to. En­tre maio e ju­nho de 2007, 70 ima­gens de fo­tó­gra­fos fi­na­lis­ tas do Prê­mio FCW de Arte per­ ma­ne­ce­ram ex­pos­tas na 8ª Fei­ra In­ter­na­ci­o­nal Del Li­bro de San­ta Cruz de la Si­er­ra, na Bo­lí­via. O su­ces­so da ini­ci­a­ti­va mo­ti­vou o in­te­res­se para a par­ti­ci­pa­ção da FCW em no­vos even­tos in­ter­na­ ci­o­nais. Além de ul­tra­pas­sar as fron­tei­ras do país, a edi­ção 2006 do Prê­mio FCW de Arte bus­cou no­vos ho­ri­zon­tes den­tro do ter­ ri­tó­rio na­ci­o­nal. Ao lado da tra­ di­ci­o­nal ca­te­go­ria Fo­to­gra­fia Pu­ bli­ci­tá­r ia, pas­sou a con­tem­plar tam­bém En­sai­os Fo­to­g rá­fi­cos Te­má­ti­cos. O mote des­te ano é o meio am­bi­en­te bra­si­lei­ro. A pre­ mi­a­ção está pro­g ra­ma­da para acon­te­cer no Mu­seu Na­ci­o­nal da Re­pú­bli­ca, em Bra­sí­lia, no dia 17 de ou­tu­bro. A es­co­lha de Bra­sí­lia PESQUISA FAPESP


Alberto Franco

Philip Fearnside

2003

PESQUISA FAPESP

LEO RAMOS MIGUEL BOYAYAN

Ferreira Gullar

FRANCISCO EMOLO/JORNAL DA USP

Dieter Muehe

LEO RAMOS

Lya Luft

EDUARDO CESAR

MIGUEL BOYAYAN

EDUARDO CESAR

César Victora

Jairo Vieira

EDUARDO CESAR

LÉO RAMOS ASCOM/INPA

Isaias Raw

MIGUEL BOYAYAN

Maria Inês Schmidt

ARQUIVO PESSOAL

Brito Cruz

DIVULGAÇÃO

MARCOS ESTEVES/EMBRAPA

EDUARDO TAVARES

MIGUEL BOYAYAN

Os vencedores em seis categorias entre 2003 e 2005

2004

Wanderley de Souza

Adib Jatene

Luiz Carlos Fazuoli

Fábio Lucas

José Galizia Tundisi

Aziz Ab’Sáber

2005

como sede da pre­mi­a­ção não foi oca­si­o­nal. A in­ten­ção é le­var co­ mo re­fe­rên­cia à ca­pi­tal do país o con­cei­to de efi­cá­cia so­ci­al es­ta­be­ le­ci­do na mis­são da FCW. A par­tir de 2006 a Fun­da­ção pas­sou a pa­tro­ci­nar tam­bém o Prê­mio Al­mi­ran­te Álvaro Al­ber­ to de Ci­ên­cia e Tec­no­lo­gia, cri­ a­d o em 1981, de­s a­t i­va­d o em 2000 e re­a­ti­va­do em 2006 por con­v ê­n io en­t re a Fun­d a­ç ão Con­ra­do Wes­sel e o Con­se­lho Na­ci­o­nal de De­sen­vol­vi­men­to Ci­en­tí­fi­co e Tec­no­ló­gi­co (CN­ Pq), um dos mais tra­di­ci­o­nais do país. O prê­mio de 2006 foi con­ ce­di­do ao pes­qui­sa­dor Fer­nan­do Ga­lem­beck, da Uni­ver­si­da­de Es­ ta­du­al de Cam­pi­nas (Uni­camp), que re­ce­beu di­plo­ma, me­da­lha e o mon­tan­te de R$ 150 mil das mãos do pre­si­den­te da Re­pú­bli­ ca. O prê­mio é con­ce­di­do anu­ al­men­te, em sis­te­ma de ro­dí­zio, en­tre três gran­des áre­as do co­ nhe­ci­men­to: Ci­ên­ci­as da Vida; Ci­ên­ci­as Hu­ma­nas e So­ci­ais; e Ci­ên­ci­as Exa­tas, da Ter­ra e En­ ge­nha­r i­as, esta úl­ti­ma a área se­ le­ci­o­na­da este ano. A par­ti­ci­pa­ ção da FCW no prê­mio com­ ple­ta seu es­for­ço de apoi­ar a pes­qui­sa, o ta­len­to e a in­te­gri­da­ de cí­vi­ca e in­te­lec­tu­al do país. ■

ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 11


1.

1. Ganhadores ladeados por Antonio Bias Bueno Guillon (esq.) e Américo Fialdini Jr., respectivamente presidente do Conselho Curador e diretor presidente da FCW; 2. Diretoria da FCW e integrantes do júri; 3. (da esq. para dir.) deputado Vaz de Lima, presidente da Assembléia Legislativa, Américo Fialdini Jr., José Caricatti, diretor financeiro da FCW, e Brasília de Arruda Botelho, responsável pelo cerimonial; 4. (da esq. para dir.) Gwyn Richards, diretor da Jacobs School of Music da Universidade de Indiana, o ex-embaixador Sérgio Amaral, Arnaldo Cohen, Bárbara, esposa de Richards, Fialdini e Renata Fialdini, presidente da categoria Medicina; 5. (da esq. para dir.) conselheiros Reinaldo Nahas, Stefan Von Galen e José Álvaro Fioravanti; presidente Antonio Bias; diretor Sérgio Marchese; e conselheiro Lélio Ravagnani Filho; 6. Público durante a cerimônia

5. 12 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

6. PESQUISA FAPESP

FOTOS FERNANDO SILVEIRA

3.


2.

4.

M úsica para

os vencedores Um recital do pianista Arnaldo Cohen, acompanhado do ■ jovem violinista Moisés Bonella Cunha, marcou a cerimônia de premiação dos vencedores do Prêmio FCW 2006 de Arte, Ciência e Cultura. Cohen, também professor da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e Cunha, primeiro bolsista da FCW em música, tocaram PESQUISA FAPESP

para uma platéia de cerca de mil pessoas da Sala São Paulo, na capital paulista, no dia 4 de junho. Os dez vencedores, os integrantes do júri que fez a escolha final, pesquisadores, publicitários, fotógrafos, o Conselho Curador e os diretores da Fundação estiveram presentes. Veja nestas páginas alguns momentos da cerimônia. ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 13


ciência geral

D inamismo e

generosidade Sérgio Mascarenhas dissemina conhecimento e oportunidades na pesquisa e educação em física

Al­g uns subs­tan­t i­vos re­la­ti­vos a de­ter­mi­nadas dis­po­si­çõ­es hu­ma­nas de hu­mor cos­tu­mam ser in­sis­ten­te­men­te re­pe­ti­dos quan­do o fí­si­co Sér­gio Mas­ca­re­nhas, 79 anos fei­tos em maio pas­sa­do, é o alvo de uma con­ver­sa. En­tu­si­as­mo, por exem­ plo. Ou di­na­mis­mo. Em par­te por­que ao lon­go de sua vida, como ob­ser­va o em­pre­sá­rio José Fer­nan­do Pe­rez, 62 anos, tam­ bém fí­si­co e ex-di­re­tor ci­en­tí­fi­ co da FA­P ESP (1994-2005), Mas­ca­re­nhas sem­pre te­nha co­ lo­ca­do “es­sas duas be­las qua­li­da­ des a ser­vi­ço de duas ini­ci­a­ti­vas” que o dis­tin­guem de for­ma mu­ i­to es­pe­ci­al no meio da co­mu­ni­ da­de ci­en­tí­fi­ca: “a for­ma­ção de pes­s o­a l e a cri­a­ç ão de no­vos fronts ins­ti­tu­ci­o­nais” para o de­ sen­vol­vi­men­to da ci­ên­cia no Bra­sil. “A área de fí­si­ca da Uni­ ver­si­da­de de São Pau­lo (USP) em São Car­los, no fi­nal dos anos 1950, a Em­bra­pa Ins­tru­men­ta­ ção Agro­pe­cu­á­r ia, no fi­nal da dé­ca­da de 1960, e a Uni­ver­si­da­ de Fe­de­ral de São Car­los (UFS­

Car), no co­me­ço dos anos 1970, são al­gu­mas das fun­da­men­tais cri­a­çõ­es ins­ti­tu­ci­o­nais de Mas­ ca­re­nhas”, re­su­me Pe­rez, até re­ cen­te­men­te pro­fes­sor ti­tu­lar do Ins­ti­tu­to de Fí­si­ca da USP em São Pau­lo. No que­s i­t o for ­m a­ç ão de pes­so­al, é tão for­te a vin­cu­la­ção do nome de Sér­g io Mas­ca­re­ nhas à sua di­men­são de edu­ca­ dor que Van­der­lei Bag­na­to, 48 anos, pro­fes­sor ti­tu­lar de fí­si­ca na USP de São Car­los, diz que co­nhe­cia sua fama mu­i­to an­tes de se tor­nar alu­no da uni­ver­si­ da­de. “Mo­le­que ain­da, cor­ren­ do pe­las ruas da ci­da­de, jo­gan­do bola, eu já ou­via fa­lar do pro­fes­ sor Sér­g io Mas­c a­re­n has e da uni­da­de de fí­si­ca que es­ta­va se ins­ta­lan­do na En­ge­nha­r ia.” Na ver­d a­d e, Mas­c a­re­n has che­ga­ra a São Car­los an­tes mes­ mo de Bag­na­to apor­tar no mun­ do. Em 1956 ele de­sem­bar­cou na ci­da­de com a mu­lher, a fí­si­ca Yvon­ne P. Mas­ca­re­nhas, vin­dos am­bos de seu ama­do Rio de Ja­ nei­ro na­tal, por­que ele en­ten­de­

14 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

ra que na­que­le cen­tro uni­ver­si­ tá­rio emer­gen­te te­ria uma chan­ ce de pro­vo­car o de­sen­vol­vi­ men­to da fí­si­ca do es­ta­do só­li­do, ou fí­si­ca da ma­té­ria con­den­sa­da, área in­ci­pi­en­te no Bra­sil e mu­i­to dis­tan­te do pres­tí­gio que des­fru­ ta­va en­tre nós a fí­si­ca de par­tí­cu­ las, por exem­plo – mas, em sua vi­são, ab­so­lu­ta­men­te es­tra­té­gi­ca para o país. O jo­vem ca­r i­o­ca de Co­pa­ca­ba­na per­ce­bia, com uma cla­re­za sur­pre­en­den­te para seus ver­des anos,“que o fu­tu­ro da so­ ci­e­da­de es­ta­va nos se­mi­con­du­ to­res do es­ta­do só­li­do, aqui­lo que deu o tran­sis­tor, e de­pois a ex­plo­são dos com­pu­ta­do­res”, dis­se ele numa lon­ga en­tre­vis­ta que con­ce­deu a Pes­qui­sa FA­ PESP (edi­ção 137, de ju­lho de 2007), logo de­pois de ga­nhar o Prê­m io Con­r a­d o Wes­s el. Na ver­da­de, essa área da fí­si­ca está nos fun­d a­m en­t os do mun­d o con­tem­po­râ­neo, por­que ela é que está na base dos com­pu­ta­ do­res, da in­for­má­ti­ca, da tec­no­ lo­gia da in­for­ma­ção e das te­le­ co­mu­ni­ca­çõ­es. PESQUISA FAPESP


por seu tra­ba­lho à fren­te do Cen­ tro de Pes­qui­sa em Óptica e Fo­ tô­ni­ca (Ce­pof), mar­ca­do por um for­te ca­rá­ter edu­ca­ti­vo e de di­ vul­ga­ção da ci­ên­cia com a po­pu­ la­ção de São Car­­­­los, a par da pes­ qui­sa de pon­ta que ali se faz. Tan­ta ên­fa­se no lado edu­ ca­d or de Mas­c a­r e­n has pode ge­rar a fal­sa no­ção de que a pes­qui­sa ci­en­tí­fi­ca em si não teve tan­to peso em seu ca­mi­ nho. Ao con­trá­r io, ela sem­pre teve, prin­ci­pal­men­te a pes­qui­sa ex­pe­r i­men­tal, e, hoje ain­da, a in­ves­ti­ga­ção que visa de­ter ­mi­ na­dos aper­fei­ço­a­men­tos tec­no­ ló­g i­cos, em es­pe­ci­al na área de fí­si­ca mé­di­ca, ocu­pa mu­i­tas ho­ ras de seus dias. É cu­r i­o­so como o jo­vem que até os 15 ou 16 anos, se­gun­do suas pró­pri­as re­ ve­la­çõ­es, pa­re­cia que iria se en­ ca­mi­nhar mal na vida, tão avo­ a­do e de­sin­te­res­sa­do dos es­tu­

dos se mos­tra­va, fa­r ia anos de­ pois as des­co­ber­tas dos bi­o­e­le­ tre­tos e de no­vos mé­to­dos de do­si­me­tria e da­ta­ção ar­queo­ló­ gi­ca, en­tre ou­tras, e es­ta­be­le­ce­ ria co­l a­b o­r a­ç õ­es im­por­tan­tes com al­guns dos mais res­pei­ta­ dos fí­si­cos do sé­cu­lo pas­sa­do, como Lars On­sa­ger, da Uni­ver­ si­da­de Yale, ga­nha­dor do Prê­ mio No­b el por seu tra­b a­lho so­b re efei­t os fí­s i­c os fora do equi­lí­brio.Vale a pena re­to­mar aqui o que dis­s e com mu­i­t a gra­ça o pró­prio Mas­ca­re­nhas a esse res­pei­to, na ci­ta­da en­tre­vis­ ta a Pes­qui­sa FA­PESP, de­pois de qua­l i­f i­c ar On­s a­g er como um ci­en­tis­ta de “vi­são real­men­ te am­pla, in­ter­dis­ci­pli­nar”. “Ele fez umas equa­çõ­es, um

Mascarenhas: empenho na for­ma­ção de pes­so­al e na cri­a­ção de no­vos fronts ins­ti­tu­ci­o­nais

FOTOS MIGUEL BOYAYAN

Mal se ins­ta­la­ra, Mas­ca­re­nhas co­me­çou a pen­sar em abrir as por­tas dos la­bo­ra­tó­r i­os de fí­si­ca para alu­nos que ha­vi­am aca­ba­do de en­trar no cur­so gi­na­si­al. E tem­pos de­pois, no fim dos anos 1960,Van­der­lei Bag­na­to foi um da­que­les mu­i­tos me­ni­nos que fi­ ca­ram fas­ci­na­dos com o uni­ver­so ex­ci­tan­te que o jo­vem pro­fes­sor des­cor­ti­na­va, im­pe­lin­do-os su­a­ ve­men­te para o mun­do da pes­ qui­s a ci­e n­t í­f i­c a. “E mais: ele trans­mi­tiu a idéia de quan­to era ne­ces­sá­rio a co­mu­ni­da­de aca­dê­ mi­ca ofe­re­cer à co­mu­ni­da­de lo­ cal algo de que é tão ca­paz, isto é, lhe dar fer­ra­men­tas para des­per­ tar a cu­ri­o­si­da­de, o in­te­res­se ge­ral pelo co­nhe­ci­men­to”, diz. Uma li­ção que, sem ter sido exa­ta­men­ te dis­cí­pu­lo de Mas­ca­re­nhas, da­ do que se en­ca­mi­nhou para ou­ tro cam­po da fí­si­ca e fez só even­ tu­ais dis­ci­pli­nas com ele, Bag­na­to in­cor­po­rou mu­i­to bem, a jul­gar

PESQUISA FAPESP

ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 15


Mas­ca­re­nhas pu­bli­cou com On­sa­ger um dos ra­ros tra­ba­lhos dele na área de tran­si­çõ­es de fase com apa­re­ci­men­to de cam­pos elé­tri­cos. “Me or­gu­lho mu­i­to dis­so, por­que ele era mu­i­to bom e mu­i­to ge­ne­ro­so. Há ci­en­tis­tas as­sim e há ou­tros mu­i­to ar­ro­gan­ tes”, dis­s e. Ele ma­n i­f es­t a, ali­ás, com gran­de fre­qüên­cia o re­co­nhe­ci­men­to à ge­ne­ro­si­da­de alheia, quan­do toda sua vida pro­ fis­si­o­nal pa­re­ce de­mons­trar que pre­ci­sa­men­te a ge­ne­ro­si­da­de sem­pre foi uma das mar­cas de sua prá­ti­ca. E isso, re­cor­ren­do ain­da à mes­ma en­tre­vis­ta, em pa­ra­le­lo à “en­tre­ga à ati­vi­da­de in­te­lec­tu­al in­ces­san­te, in­can­sá­vel, prag­má­ti­ca em lar­ga me­di­da, jun­to com uma ima­gi­na­ção fer­vi­lhan­te, um bor­ bu­lhar de idéi­as sem fim”, que tor­na a bi­o­gra­fia de Sér­gio Mas­ ca­re­nhas “uma das mais ri­cas e mul­ti­fa­ce­ta­das na co­mu­ni­da­de ci­en­tí­fi­ca bra­si­lei­ra”. Sérgio Mas­ca­re­nhas gra­ duou-se em quí­mi­ca pela ■ Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral do Rio de

“Há cientistas generosos e outros muito arrogantes”, diz o físico, dono de uma das mais ricas e multifacetadas biografias da comunidade científica

mo­de­lo, que diz o se­guin­te: tu­ do o que acon­te­ce na vida co­ mum são es­ta­dos de equi­lí­brio. E es­ses es­ta­dos não le­vam a mu­ i­ta coi­sa por­que não se tem ex­ ci­t a­ç õ­e s, flu­t u­a­ç õ­e s fora do equi­lí­brio. Ele co­me­çou a ver que im­p or­t an­t e na fí­s i­c a era tam­bém o que saía do equi­lí­ brio. Isso vale para mu­i­to mais con­cei­tos e si­tu­a­çõ­es, cla­ro, mas On­sa­ger con­se­guiu re­la­ci­o­nar quan­ti­ta­ti­va­men­te, pela pri­mei­ ra vez, efei­t os fí­s i­c os fora do equi­lí­brio. Eu apli­quei as equa­ çõ­es dele para en­ten­der quan­ti­ ta­ti­va­men­te aque­­­le efei­to que eu des­cre­ve­ra, e pu­bli­quei numa

re­vis­ta fa­mo­sa na­que­le tem­po, Il Nu­o­vo Ci­men­to. As con­tas que fiz com a equa­ção do On­sa­ger ba­te­ram com a par­te ex­pe­r i­ men­tal. E quan­do On­sa­ger viu o meu tra­ba­lho dan­do base real às equa­çõ­es dele, gos­tou mu­i­to. Quan­do apre­sen­tei o tra­ba­lho na Eu­r o­p a, ele foi de uma imen­sa gen­ti­le­za. E eu, de re­ pen­t e, me vi sen­t a­d o à mesa num ho­tel, na Su­í­ça, ex­pli­can­do as equa­çõ­es de On­sa­ger para On­sa­ger! Nos­sa Se­nho­ra! Só mes­mo bra­si­lei­ro e ca­r i­o­ca! Ele cal­mo, quie­ti­nho, não fi­cou me­ lin­dra­do.Aca­bei fi­can­do gran­de ami­go dele.”

16 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

Ja­nei­ro (UFRJ) em 1951 e em fí­si­ca pela mes­ma ins­ti­tu­i­ção em 1952.Acu­mu­la dou­to­ra­men­to e pós-docs por gran­des centros de pesquisa in­ter ­na­ci­o­nais, en­tre eles Prin­ce­ton, Har­vard e Lon­ dres. No Bra­sil es­pa­lha­va ex­pe­ ri­ên­cias edu­ca­ci­o­nais para além de São Pau­lo, mas vol­ta­va sem­ pre a São Car­los, onde hoje, pro­fes­sor apo­sen­ta­do da USP, pode-se con­tu­do en­con­trá-lo to­can­do o Ins­ti­tu­to de Es­tu­dos Avan­ça­dos da mes­ma uni­ver­si­ da­de, ela­bo­ran­do a idéia de um gran­de por­tal de di­vul­ga­ção ci­ en­tí­fi­ca, ou em an­dan­ças pe­los la­bo­ra­tó­r i­os de fí­si­ca, quí­mi­ca e me­di­ci­na, aper­fei­ço­an­do um de seus mais no­vos in­ven­tos, um apa­re­lho para me­dir de for ­ma não in­va­si­va a pres­são in­tra­cra­ ni­a­na.Ati­vo sem­pre, vol­ta­do pa­ ra a ci­ên­cia e com imen­sa pre­o­ cu­pa­ção so­ci­al. ■ PESQUISA FAPESP


ciência aplicada à água

O homem das

águas subterrâneas Aldo Rebouças garante que há solução para a seca do Nordeste

bli­car o re­la­tó­r io Brun­tland – o pri­mei­ro do­cu­men­to a su­ge­r ir a in­clu­são do tema sus­ten­ta­­­­­bi­li­da­ de na agen­d a de de­s en­vol­v i­ men­to dos paí­ses –, Aldo da Cu­nha Re­bou­ças, um jo­vem ge­ó­lo­go for­ma­do pela Uni­ver­ si­da­de Fe­de­ral de Per­nam­bu­co, já aler­ta­va os ór­gãos pú­bli­cos para o fato de que a má ges­tão e o uso ina­de­qua­do da água com­ pro­m e­t e­r iam a qua­l i­d a­d e da ofer­ta do pro­du­to. Ao lon­go de mais de 40 anos de pes­qui­sa, ele de­fen­deu ob­ses­si­va­men­te a pre­ mis­s a de que “o con­c ei­t o de água abun­dan­te, ines­go­tá­vel e gra­tu­i­ta, uma dá­di­va de Deus ou de qual­quer ou­tra fi­gu­ra cós­mi­ ca, da Igre­ja ou de po­lí­ti­cos, dos co­ro­néis ou do ho­mem, da na­ tu­re­za”, era uma fic­ção ob­so­le­ta. Bran­diu esse aler­ta di­an­te de vá­r i­os go­ver ­nos. No fi­nal dos anos 1960 e iní­cio de 1970, foi di­re­tor da Ba­cia Es­co­la de Hi­ dro­ge­o­lo­gia da Su­pe­r in­ten­dên­ cia do De­s en­vol­v i­m en­t o do Nor­des­te (Su­de­ne). “Cons­ta­tei que o pro­ble­ma do Nor­des­te PESQUISA FAPESP

MIGUEL BOYAYAN

Em 1962, um quar­to de sé­cu­lo an­tes de a Or­ga­ ■ ni­za­ção das Na­çõ­es Uni­das pu­

não é de seca, mas de cer­ca”, lem­bra. A re­g ião tem uma im­ por­tan­te fon­te de re­cur­sos hí­dri­ cos: a água sub­ter­râ­nea. Boa par­ te des­sa água está pro­te­g i­da da eva­po­ra­ção e po­de­r ia abas­te­cer o do­bro da po­pu­la­ção do Po­lí­ go­no das Se­cas, que com­pre­en­ de nove es­ta­dos do Nor­des­te e o nor­te de Mi­nas Ge­rais. “A água sub­ter ­râ­nea está pre­sen­te nos ter­re­nos se­di­men­ta­res e não pre­ ci­sa de ne­nhum tra­ta­men­to es­ pe­ci­al, ex­ce­to a clo­ra­ção”, ex­pli­ cou em en­tre­vis­ta à Ra­di­o­bras, em 1999. Esse po­ten­ci­al, no en­ tan­to, é subapro­vei­ta­do, ape­sar de as tec­no­lo­gias de re­ti­ra­da des­sa água se­rem re­la­ti­va­men­te sim­ ples e de bai­xo cus­to: bas­ta uma

bom­ba ma­nu­al ou ca­ta­ven­tos mo­vi­dos a ener­g ia eó­li­ca que cus­tam en­tre R$ 200 e R$ 400. Um in­ven­tá­r io re­cen­te dos po­ ços já per­fu­ra­dos re­ve­lou, no en­ tan­to, que cer­ca de 30 mil de­les não es­ta­vam equi­pa­dos para a ex­tra­ção de água. Uma das so­lu­ç õ­e s para o Nor­des­te, na sua ava­li­a­ção, es­ta­ ria na cons­tru­ção de po­ços ar­te­ si­a­nos in­cli­na­dos, já que a re­gião está lo­ca­li­za­da so­bre uma fra­tu­ra de ro­chas an­ti­gas, pré-cam­bri­a­ nas, de mu­i­to mo­vi­men­to. A ou­tra, e a re­gra vale para todo o país, está na edu­ca­ção. “O ci­da­ dão bra­si­lei­ro pre­ci­sa ser in­for­ ma­do ao má­xi­mo para uti­li­zar de for­ma cada vez mais efi­ci­en­te ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 17


cada gota d’água dis­po­ní­vel, re­ du­zin­do-se os des­per­dí­ci­os nas gran­des ci­da­des onde ain­da se uti­li­zam ba­ci­as sa­ni­tá­ri­as que ne­ ces­si­tam de des­car­gas que con­ so­mem de 18 a 20 li­tros, quan­do se tem mo­de­los no co­mér­cio que ne­ces­si­tam de ape­nas 6 li­ tros”, afir­mou em en­tre­vis­ta ao Di­á­rio de Pe­tró­po­lis, em 2003. Hoje Re­b ou­ç as as­s is­t e per­ple­xo ao de­ba­te so­bre ■ a trans­po­si­ção do rio São Fran­ cis­co. “Um ab­sur­do”, como ele qua­li­fi­ca o pro­je­to, mo­vi­do por in­te­res­ses po­lí­ti­cos e pela ve­lha rixa en­tre en­ge­nhei­ros – “que só se pre­o­cu­pam com a água que está aci­ma do solo” – e ge­ól­o­gos – “que só se pre­o­cu­pam com a água sub­ter­râ­nea”. Su­ge­re rei­te­ ra­da­men­te que é pre­ci­so in­ves­tir mais no ho­mem e me­nos em obras: “Não adi­an­ta cons­tru­ir bar­ra­gens se os ho­mens não sa­ bem usá-las”, ar­gu­men­ta. Cita o exem­plo de re­giões em Is­rael e nos Es­ta­dos Uni­dos, com o mes­ mo cli­ma, e que são bas­tan­te prós­pe­ras. Para ele, a seca do Nor­des­te de­ve­r ia ser en­ca­ra­da como uma opor­tu­ni­da­de.“Tudo que se plan­ta no semi-ári­do dá, ele não é um solo pior para o cul­ti­vo que os ou­tros.” Re­bou­ças tem fun­da­men­ta­ do suas te­ses so­bre hi­dro­lo­gia na his­t ó­r ia da hu­m a­n i­d a­d e. Em 2003 re­cor­reu a es­ses dois ar­gu­ men­tos para cri­ti­car o go­ver­no de Luiz Iná­cio Lula da Sil­va que ele­geu o pro­gra­ma Fome Zero como po­lí­ti­ca pri­o­ri­tá­ria de go­ ver­no, em de­tri­men­to de açõ­es de de­mo­cra­ti­za­ção do sa­ne­a­ men­to e aces­so à água po­tá­vel. “Há 25 mil anos a.C., pelo me­ nos, já se sa­bia que o uso cada vez mais efi­ci­en­te da gota d’água dis­po­ní­vel era a al­ter­na­ti­va mais ba­ra­ta de com­ba­te à fome. Pa­re­ ce, to­da­via, que esta li­ção não foi apren­di­da até ago­ra, à me­di­da

que ain­da se pro­cu­ra com­ba­ter a fome com a dis­tri­bu­i­ção de ali­ men­tos, como fez a Co­roa por­ tu­gue­sa nas suas ten­ta­ti­vas ini­ci­ ais de co­lo­ni­za­ção do Bra­sil”, es­cre­veu na épo­ca. No mes­mo tex­to in­vo­ca­va o Có­di­go Ha­ mu­ra­bi, edi­ta­do na Ba­bi­lô­nia en­tre 1850 e 1750 a.C., como o pri­mei­ro do­cu­men­to a “de­fi­nir o di­rei­to de uso da água por to­ do e qual­quer in­di­ví­duo, pres­ cre­ven­do es­tí­mu­los às prá­ti­cas con­si­de­ra­das ade­qua­das e cas­ti­ gos se­ve­ros aos que in­frin­gis­sem es­sas con­di­çõ­es”.

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Hoje, aos 70 anos, in­vo­lun­ta­ ri­a­men­te apo­sen­ta­do por do­en­ça, acha que o Bra­sil – con­tem­pla­do pela na­tu­re­za com a mai­or des­ car­g a mé­d ia de água doce de todo o mun­do: 34 mil metros cúbicos per ca­p i­t a/ano – não aprendeu a li­ção.“Aqui não fal­ta água, fal­t a água boa. To­d as as águas es­tão con­ta­mi­na­das pelo es­go­ta­men­to sa­ni­tá­rio”, la­men­ta. “As­sim, fica di­fí­cil ex­pli­car ao mun­do de água es­cas­sa que até nas ci­da­des mais im­por­tan­tes da re­g ião ama­z ô­n i­c a, tais como Ma­naus e Be­lém, qua­se me­ta­de PESQUISA FAPESP


EDUARDO CESAR

“Aqui no Brasil não falta água. Falta boa água”, diz Aldo Rebouças

das po­pu­la­çõ­es que aí vi­vem es­ te­ja su­jei­ta aos mes­mos pro­ble­ mas de sa­ne­a­men­to bá­si­co que ocor­rem nas re­giões me­tro­po­li­ ta­nas de For­ta­le­za, Re­ci­fe ou São Pau­lo, por exem­plo.” Vai ain­da mais lon­ge em suas crí­t i­c as: “Es­t a­m os ■ per­den­do tem­po e en­ro­lan­do o mun­do, que­ren­do que to­dos co­ lo­quem di­nhei­ro aqui, quan­do tem um ser­vi­ço pú­bli­co três ve­ zes mais caro do que lá fora, já que a cor­rup­ção do­mi­na”. E va­ ti­ci­na:“O país vai pre­ci­sar so­frer PESQUISA FAPESP

o que es­tão so­fren­do os paí­ses ca­ren­tes de água para apren­der”. A água foi ob­je­to de suas te­ ses de mes­tra­do e dou­to­ra­do, na Uni­ver­si­da­de de Stras­bourg, na Fran­ça; e de pós-dou­to­ra­do, na Uni­ver­si­da­de Stan­ford, nos Es­ ta­dos Uni­dos. Nas suas an­dan­ ças pelo mun­do, as­sis­tiu ao pri­ mei­ro se­mi­ná­r io pa­tro­ci­na­do pela Unes­co, em 1965, em Was­ hing­ton, que re­sul­tou num pro­ gra­ma mun­di­al de es­tu­dos so­ bre as águas sub­ter ­râ­ne­as. “Foi fei­to um ba­lan­ço hi­dro­ló­gi­co e cons­ta­tou-se que 30% da água

do pla­ne­ta era sub­ter ­râ­nea. O ho­mem já ti­nha pi­sa­do na Lua e ain­da não sa­bia o que ha­via sob os seus pés...” No iní­cio dos anos 1970, a nova des­co­ber­ta fez a ge­o­lo­gia “ex­plo­dir” como a ci­ên­cia do fu­ tu­ro, ten­do como meca a Fran­ça. Re­bou­ças es­ta­va lá, de­sen­vol­ven­ do a tese de dou­to­ra­do so­bre a ba­cia Po­ti­guar. “Mos­trei que o pro­je­to de de­sen­vol­vi­men­to pa­ tro­ci­na­do pelo Ban­co Mun­di­al es­ta­va ins­ta­la­do na re­g ião mais cara da ba­cia, sem ne­nhu­ma im­ por­tân­cia do pon­to de vis­ta hi­ dro­ló­g i­co. A re­g ião cor ­re­ta, e mais ba­ra­ta, era a da Ser­ra do Mel e de Ser­ra Azul, on­­­de es­ta­vam os mi­ni­fún­di­os”, lem­bra. Em me­a­dos de 1970 o Nor­ des­te “não lhe cou­be mais”. Já ca­sa­do com dona Su­za­na e com três fi­lhos, Re­bou­ças trans­fe­r iuse para a Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo (USP), onde re­a­li­zou o que con­si­de­ra a sua mai­or con­ tri­bu­i­ção para a hi­dro­lo­gia bra­ si­l ei­r a: des­c re­veu o aqüí­f e­ro Gua­­­ra­ni, um ma­nan­ci­al de água doce sub­ter­râ­nea de pro­por­çõ­ es gi­gan­tes­cas, lo­ca­li­za­do na re­ gião cen­tro-les­te da Amé­r i­ca do Sul, que se es­ten­de pelo Bra­sil, Pa­ra­guai, Uru­guai e Ar­gen­ti­na. “Des­co­bri que o cris­ta­li­no tem mu­i­ta água”, re­su­me, mo­des­to. Até en­tão a ci­ên­cia des­cre­via ape­nas uma par­te des­sa imen­sa for­ma­ção, o aqüí­fe­ro Bo­tu­ca­tu. A des­co­ber­ta de Re­bou­ças foi ba­ti­za­da pelo ge­ó­lo­go uru­guaio, Da­ni­lo An­ton, em me­mó­r ia dos povos in­dí­ge­nas da re­gião. ■

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medicina

V astos

interesses

Pesquisas em temas variados e liderança acadêmica marcam a biografia de Ricardo Brentani

Em qua­se cin­co dé­ca­das de car­rei­ra, o mé-dico e ■ pes­q ui­s a­d or Ri­c ar­d o Ren­z o Bren­ta­ni pro­du­ziu cer­ca de 150 a r­t i­g o s c i­e n­t í­f i­c o s e m re­vis­tas in­ter­na­ci­o­nais que evi­ den­ci­am uma tra­je­tó­r ia ir ­re­ quie­ta. Já no terceiro ano do cur­so da Fa­cul­da­de de Me­di­ci­na da Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo (FMUSP), que con­clu­i­r ia em 1962, Bren­ta­ni as­si­nou com o pro­fes­sor Mi­chel Ra­bi­no­vitch um ar­ti­go na re­vis­ta Na­tu­re, so­ bre a ati­vi­da­de de uma en­zi­ma, a ri­bo­nu­cle­a­se. Sob a li­de­ran­ça de Ra­bi­no­vitch, que hoje é pro­ fes­sor da Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral de São Pau­lo (Uni­fesp), Bren­ta­ ni fa­zia par­te de um gru­po de jovens pesquisadores que ga­nha­ ria des­ta­que no am­bi­en­te aca­dê­ mi­co, ao lado de Nel­son Faus­to, hoje pro­fes­sor da Uni­ver­si­da­de de Was­hing­ton,Tho­mas Maack, que teve de dei­xar o Bra­sil em 1964 e fez car­rei­ra na Uni­ver­si­ da­de Cor ­nell, e Sér­g io Hen­r i­ que Fer­rei­ra, pro­fes­sor da Fa­cul­ da­de de Me­di­ci­na da USP em

Ri­bei­rão Pre­to e ex-pre­si­den­te da So­ci­e­da­de Bra­si­lei­ra para o Pro­gres­so da Ci­ên­cia (SBPC). O iní­cio de car­rei­ra es­tu­dan­ do a es­tru­tu­ra e a ati­vi­da­de do RNA, en­tão um cam­po novo da ci­ên­cia, le­vou Bren­ta­ni a in­te­res­ sar-se por pro­teí­nas das mem­bra­ nas ce­lu­la­res, como co­lá­ge­nos e la­mi­ni­nas. Esse in­te­res­se ge­ra­r ia um ar­ti­go se­mi­nal, pu­bli­ca­do na re­vis­ta Sci­en­ce em 1985, mos­tran­ do que re­cep­to­res de la­mi­ni­na es­ta­vam pre­sen­tes nas mem­bra­ nas de es­ta­fi­lo­co­cos pa­to­gê­ni­cos. O es­tu­do, es­cri­to em par­ce­r ia com José Da­ni­el Lo­pes, mos­trou pela pri­mei­ra vez como a bac­té­ ria Staphy­lo­coc­cus au­reus dei­xa­va a cir­cu­la­ção san­güí­nea para fa­zer abs­ces­sos a dis­tân­cia. De­pois des­ se acha­do des­co­briu-se que ou­ tras bac­té­ri­as e tam­bém pro­to­zo­ á­ri­os pa­to­gê­ni­cos usa­vam o mes­ mo me­ca­nis­mo. A des­co­ber­ta abriu ca­mi­nho para a bus­ca de no­vas es­tra­té­gias de de­sen­vol­vi­ men­to de dro­gas mi­cro­bi­a­nas e qui­mi­o­te­rá­pi­cas e re­ce­beu 300 ci­ta­çõ­es em ou­tros ar­ti­gos.

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Ou­tros ar­ti­gos mar­ca­r i­am a car­rei­ra ir­re­quie­ta do pes­qui­sa­ dor, que nas­ceu em Tri­es­te, na Itá­lia, e ra­di­cou-se em São Pau­ lo na in­fân­cia. Ele tra­ta com ca­ ri­nho es­pe­ci­al três ar­ti­gos que as­s i­n ou na Na­t u­r e em 1964, 1967 e 1997. Os dois pri­mei­ros, no cam­po da bi­o­quí­mi­ca, fo­ram fei­tos em par­ce­r ia com sua mu­ lher, a pro­fes­so­ra da FMUSP Ma­ria Mit­zi Bren­ta­ni (um de­les, ali­á s, re­s ul­t ou de sua tese de dou­to­ra­do, sob ori­en­ta­ção de Isai­as Raw, que pro­vou a ação do nu­clé­o­lo no pro­ces­sa­men­to do RNA-men­sa­gei­ro). O ar­ti­go mais re­cen­te tem en­tre os au­to­ res a psi­q uia­t ra He­l e­n a Pau­l a Bren­ta­ni, ter­cei­ra dos qua­tro fi­ lhos do ci­en­tis­ta, e tra­ta de as­pec­ tos da do­en­ça psi­quiá­tri­ca cau­sa­ da por prí­ons, pro­teí­nas que se mul­ti­pli­cam como um ser vivo, que pro­duz a do­en­ça in­cu­rá­vel no cé­re­bro co­nhe­ci­da como mal da vaca lou­ca. A iden­ti­fi­ca­ção de um re­cep­tor ce­lu­lar li­ga­do à do­ en­ça da vaca lou­ca foi o mote de ou­tro ar­ti­go pu­bli­ca­do em 1997, PESQUISA FAPESP


FOTOS EDUARDO CESAR

O cientista: cerca de 150 artigos em quase cinco décadas de carreira

esse em par­ce­ria comVil­ma Mar­ tins, uma das pu­pi­las de Bren­ta­ni no Ins­ti­tu­to Lud­wig. “O Bren­ tani é um pesquisador que per­ tence a uma categoria rara. Em vez de se enterrar num mesmo assunto a carreira inteira, como faz a maioria, teve a capacidade de descobrir problemas originais diversos para estudar e envolveu alunos e assistentes na busca por respostas”, define o professor Isa­ ias Raw.“Conheci-o ainda estu­ dante e ele já demonstrava uma notável capacidade de fazer pesquisa.” Os si­nais da influên­­cia aca­ dê­mi­ca de Brentani vão mu­i­to além do elen­co de pa­pers que pu­bli­cou. Em 1981 tor­nou-se o pri­mei­ro pro­fes­sor ti­tu­lar da Fa­ cul­da­de de Me­di­ci­na da Uni­ver­ PESQUISA FAPESP

si­da­de de São Pau­lo e tam­bém do Bra­sil numa jo­vem es­pe­ci­a­li­ da­de, a on­co­lo­gia, e foi um dos prin­ci­pais ar­tí­fi­ces da cri­a­ção do ser­vi­ço de on­co­lo­gia no Hos­pi­ tal das Clí­ni­cas de São Pau­lo. Res­pon­sá­vel pelo La­bo­ra­tó­r io de On­co­l o­g ia Ex­pe­r i­m en­tal, um dos 62 la­bo­ra­tó­r i­os de in­ ves­ti­ga­ção mé­di­ca da fa­cul­da­de, Bren­ta­ni foi con­vi­da­do por su­ ces­si­vos di­re­to­res da FMUSP a pre­si­dir vá­r i­as ve­zes a Co­mis­são de Pes­qui­sa da ins­ti­tu­i­ção. Na USP e à fren­te do bra­ço bra­si­lei­ro do Ins­ti­tu­to Lud­ wig de Pes­qui­sa so­bre o Cân­cer en­tre 1982 e 2005, Bren­ta­ni es­ti­ mu­lou o flo­res­ci­men­to de uma ge­ra­ção de pes­qui­sa­do­res, en­tre os quais Ro­ger Cham­mas, hoje pro­

fes­sor do De­par­ta­men­to de Ra­di­ o­lo­gia da FMUSP, o epi­de­mi­o­lo­ gis­ta Edu­ar­do Fran­co, que tra­ba­ lha na Uni­ver­si­da­de McGill, no Ca­na­dá, e a bi­o­quí­mi­ca Lu­i­za Vil­la, su­ces­so­ra de Bren­ta­ni na di­ re­ção do ins­ti­tu­to. Fran­co e Lu­i­za co­or­de­nam o es­tu­do lon­gi­tu­di­nal Lud­wig/ McGill, um dos mai­o­res já fei­tos so­bre a in­fec­ção de HPV e cân­cer cer­vi­cal em mu­lhe­res. “Se não ti­ves­se vin­do tra­ba­lhar co­nos­co, tal­vez o Edu­ar­do não ti­ ves­se con­quis­ta­do a re­a­li­za­ção pro­fis­si­o­nal que ob­te­ve. A Lu­i­za de­sen­vol­veu uma li­nha de pes­qui­ sa que foi cru­ci­al para o de­sen­vol­ vi­men­to de uma va­ci­na con­tra o pa­pi­lo­ma­ví­rus que já está no mer­ ca­do e vai er­ra­di­car 5% dos tu­mo­ res que atin­gem os hu­ma­nos”, or­gu­lha-se Bren­ta­ni.

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Brentani: habilidade em levantar problemas originais e coordenar equipes

No pe­rí­od­ o em que o ci­en­ tis­ta es­te­ve à fren­te do Lud­wig, o ins­ti­tu­to de­di­cou-se in­ten­si­ va­m en­t e a pes­q ui­s as vol­t a­d as para com­pre­en­der as cau­sas do cân­cer e iden­ti­fi­car al­vos de di­ ag­nós­ti­co e in­ter­ven­ção te­ra­ pêu­ti­ca. A par­ce­r ia do Lud­wig com o Hos­p i­t al do Cân­c er – Fun­d a­ç ão An­t ô­n io Pru­d en­t e, em cu­jas ins­ta­la­çõ­es o ins­ti­tu­to fun­c i­o­n ou até re­c en­t e­m en­t e, aju­dou a al­can­çar mar­cos im­ por­tan­tes. No âm­bi­to do Pro­je­ to Ge­no­ma Hu­ma­no do Cân­ cer, uma rede de pes­qui­sa­do­res de 30 ins­ti­tu­i­çõ­es li­de­ra­dos por Bren­ta­ni con­se­guiu iden­ti­fi­car, em me­nos de um ano, 1 mi­lhão de se­qüên­ci­as de ge­nes de tu­ mo­res mais fre­qüen­tes no Bra­sil e abriu ca­mi­nho para a pro­cu­ra de no­vas for­mas de di­ag­nós­ti­co

e tra­ta­men­to do cân­cer a par­tir do es­tu­do de ge­nes ex­pres­sos. A par­tir de 1990, o cien­tis­ta pas­sou a di­ri­gir tam­­­bém o Hos­ pi­tal do Cân­cer, que, sob sua ba­ tu­ta, tor­nou-se um cen­tro de re­ fe­rên­cia in­ter­na­ci­o­nal.“Eu acha­ va que o hos­pi­tal de­via ser mais que um hos­pi­tal. De­via ser um cen­tro de en­­­­si­­no e pes­qui­sa. Em 1996 cre­den­ci­a­­­­mos uma pósgra­du­a­ção no MEC.Tra­ta-se do úni­co hos­pi­tal pri­va­do que tem pós na área no MEC.A pri­mei­ra ava­li­a­ção foi 4, a se­gun­da 6 e a ter­cei­ra 7, a nota má­xi­ma. Foi um dos dois com 7 na área mé­di­ca”, diz o pro­fes­sor. “Essa vi­são de cen­tro de en­si­no e pes­qui­sa foi a re­den­ção para o pro­ble­ma de re­ cur­sos. Hoje é um hos­pi­tal fi­nan­ cei­ra­men­te sa­dio.” Agora o co­ man­do do hos­pi­tal está a car­go de

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um exe­cu­ti­vo, mas Bren­ta­ni se­ gue como di­re­tor pre­si­den­te do Con­se­lho Ad­mi­nis­tra­ti­vo. Em abril de 2005 as­su­miu o car­go de di­re­tor pre­si­ ■ den­te do Con­se­lho Téc­ni­coAd­minis­tra­ti­vo (CTA) da FA­ PESP. “É uma po­si­ção hon­ro­sa que re­pre­sen­ta o co­ro­a­men­to de uma car­rei­ra”, dis­se o pes­qui­sa­ dor. Apo­sen­ta­do na USP des­de o úl­ti­mo dia 21 de ju­lho, quan­do com­ple­tou 70 anos, Bren­ta­ni viu-se, de­pois de mu­i­to tem­po, lon­ge de la­bo­ra­tó­r i­os. Mas não se quei­xa.“Pas­sei mi­nha car­rei­ra aju­dan­do a for­mar pes­so­as e es­ ti­mu­lan­do-as a pro­g re­dir. Não tem sen­ti­do, a essa al­tu­ra, com­ pe­tir com a cria”, ex­pli­ca.“Hoje pre­fi­ro me li­mi­tar a con­ver­sar com os ga­ro­tos e dar pal­pi­tes.”■ PESQUISA FAPESP


literatura

I ndependência ou morte

FOTOS MIGUEL BOYAYAN

Escritora Ruth Rocha valoriza a criança com senso crítico

Ruth Rocha: “Criança precisa aprender o valor da liberdade e do respeito”

“Emí­lia co­me­çou uma feia bo­n e­ca de pano, ■ des­sas que nas qui­tan­das do in­ te­r i­or cus­ta­vam 200 réis. Mas ra­pi­da­men­te evo­lu­iu, e evo­lu­iu ca­bri­ta­men­te – ca­bri­ti­nho no­ vo – aos pi­no­tes. E foi ad­qui­ rin­do tan­ta in­de­pen­dên­cia que, não sei em que li­vro, quan­do lhe per­gun­tam: ‘Mas que você é, afi­nal de con­tas, Emí­lia?’, ela res­pon­deu de quei­xi­nho em­pi­ na­do:‘Sou a In­de­pen­dên­cia ou Mor­te’. E é.Tão in­de­pen­den­te que nem eu, seu pai, con­si­go do­mi­ná-la”, de­sa­ba­fou Mon­ tei­ro Lo­b a­t o em car­t a a um ami­go. Pois é jus­ta­men­te essa “fe­r i­nha” a gran­de ins­pi­ra­ção da es­cri­to­ra Ruth Ro­cha, au­ to­ra de 130 li­vros in­f an­tis que já ven­de­ram mais de 12 mi­lhõ­ es de exem­pla­res e fo­ram tra­ du­zi­dos para 23 lín­guas, en­tre as quais hin­du, chi­nês e gre­go. Tudo isso dis­t ri­bu­í­d o em 30 anos de car ­rei­ra de mu­i­ta co­e­ PESQUISA FAPESP

rên­cia. “A Emí­lia me in­flu­en­ ci­ou para o res­to da vida. Ela re­pre­sen­ta a for­ça da ir­re­ve­rên­ cia, do hu­mor, da in­de­pen­dên­ cia. Quan­do es­cre­vo his­tó­r i­as, os va­lo­res que pas­so para as cri­ an­ças são meus va­lo­res. Te­nho rai­va de gen­t e au­t o­r i­t á­r ia e pre­zo a in­de­pen­dên­cia, a jus­ti­ ça, a li­ber­da­de, o res­pei­to pela cri­an­ça e pelo país”, con­ta. Daí a sua fe­li­ci­da­de em po­ der lem­brar que,“man­da­da pe­ la Emí­lia”, não se con­ten­tou com o fi­nal de seu mai­or su­ ces­so, Mar­­­­­­ce­lo mar­me­lo mar­te­lo, em no­me des­sa co­e­rên­cia. “Ao ter ­mi­nar a his­tó­r ia, ia fa­zer o per­so­na­gem de­sis­tir, mas vol­tei atrás, pois pen­sei que não po­ dia aca­bar sem dar um to­que de es­pe­ran­ça para os lei­to­res.” Ou­tro gran­de pra­zer des­sa “es­ cri­to­ra es­pi­ve­ta­da” é, após ter to­tal con­vic­ção do que es­cre­ veu, sen­tir os efei­tos so­bre as cri­an­ças. “Um dia, uma ga­ro­ti­

nha que ti­nha lido O rei­zi­nho man­dão me en­con­trou e fa­lou: ‘Eu era mu­i­to man­do­na, mas de­pois do li­vro eu mu­dei’. É mu­i­t o im­p or­t an­t e a cri­a n­ç a apren­der o va­lor do res­pei­to, da li­ber­da­de”, avi­sa. Pau­lis­ta­na, cres­ceu na Vila Ma­r i­a­na ou­vin­ do as his­tó­r i­as que lhe con­ta­va o avô, Ioiô, que en­si­nou à pe­ que­n a Ruth o pra­z er de ler Ma­c ha­d o de As­s is, Ma­n u­e l Ban­dei­ra, Ce­cí­lia Mei­rel­les e seu ído­lo mai­or, Lo­ba­to. “Eu era uma me­ni­na in­tro­ver­ti­da, tí­mi­da, lei­to­ra com­pul­si­va; mas, na in­ti­mi­da­de, era ex­pan­si­va, ale­g re e en­g ra­ça­da”, con­fes­sa. Por um “aca­so do des­ti­no”, seu pri­mei­ro em­pre­go foi na bi­bli­ o­te­ca do Co­lé­g io Rio Bran­co, em São Pau­lo, onde o pa­raí­so es­ta­va ao al­can­ce de suas mãos, nas es­tan­tes. Leu e não pa­rou: hoje tem uma bi­bli­o­te­ca de 4 mil vo­lu­mes.Tem tam­bém qua­ tro fi­lhos e 18 ne­tos.

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“Não acho que as crianças sejam tão felizes como os adultos acham”

A po­si­ção ocu­pa­da não pa­ re­cia con­di­zer com a re­cémfor­ma­da em so­ci­o­lo­gia e po­lí­ti­ ca pela Uni­ver­s i­d a­d e de São Pau­lo (USP), mas foi de­ter­mi­ nan­te na es­co­lha da sua car­rei­ra. Como vi­via cer­ca­da por cri­an­ ças, algo raro numa bi­bli­o­te­cá­ ria, a di­re­to­r ia da es­co­la con­vi­ dou Ruth para ser ori­en­ta­do­ra pe­da­gó­gi­ca, que le­vou a jo­vem de vol­ta para a aca­de­mia, onde fez pós-gra­du­a­ção em ori­en­ta­ ção edu­ca­ci­o­nal na Pon­ti­fí­cia Uni­ver­si­da­de Ca­tó­li­ca de São Pau­lo (PUC-SP), exer­cen­do a nova pro­fis­são por 15 anos. O tem­po foi pre­ci­o­so pa­ ra a fu­tu­ra es­cri­to­ra, pois ■ en­s i­n ou a ela a efe­t i­va­m en­t e en­ten­der as cri­an­ças a par­tir da pers­pec­ti­va dos pe­que­nos, e não do alto, como adul­ta.“Esse con­ ta­to foi fun­d a­m en­t al para eu en­ten­der as cri­an­ças. Mi­nha lin­ gua­gem se pren­de a um sen­ti­ men­to de gran­de so­li­da­r i­e­da­de

por elas.Acho mes­mo que, em­ bo­ra se ven­da por aí a idéia de que são fe­li­zes (e, efe­ti­va­men­te, pas­sam por mo­men­tos de gran­ de ale­g ria), sin­to que elas não são tão fe­li­zes as­sim como os adul­tos pen­sam”, ex­pli­ca. “Elas se sen­t em im­p o­t en­t es. Daí a iden­ti­fi­ca­ção gran­de que sin­to com as cri­an­ças, pois quan­do era pe­que­na sen­tia um forte de­ se­jo de li­ber­da­de, mas me sen­tia in­c a­p az e, logo, in­f e­l iz. Isso, creio, acon­te­ce com as cri­an­ças tam­bém”, ava­lia.As­sim o cu­i­da­ do com o seu tra­ba­lho.“Tudo o que é fei­to para cri­an­ças de­ man­da cu­i­da­do, em­bo­ra a men­ sa­gem não pre­ci­se ser trans­mi­ ti­da de for ­ma tão ex­plí­ci­ta. O au­tor tem de ter um veí­cu­lo, ou seja, uma his­tó­r ia boa e ve­ros­sí­ mil. Fei­to isso, ele pode tra­tar de qual­quer tema”, avi­sa. Não sem ra­zão, sua es­co­la foi a im­pren­sa. Em 1967 co­me­çou a es­cre­ ver ar­ti­gos so­bre edu­ca­ção para a re­vis­ta Clau­dia e foi uma das

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cri­a­do­ras da an­to­ló­gi­ca Re­creio, onde pu­bli­cou, a par­tir de 1969, suas pri­m ei­r as his­t ó­r ias. Foi pro­mo­vi­da, den­tro da Edi­to­ra Abril, a di­re­to­ra da di­vi­são de in­fan­to-ju­ve­nis e, em 1976, lan­ çou Mar­ce­lo mar­me­lo mar­te­lo, so­ bre um me­ni­no que gos­ta de in­ven­tar no­­mes para as coi­sas. Quan­do trans­for­ma­do em li­vro, ven­d eu mais de 1 mi­lhão de exem­pla­res e con­ti­nua um hit da se­ção de in­fan­tis das li­vra­r i­as. Em 1978, ou­tro su­ces­so, O rei­ zi­nho man­dão.“Com sua lin­gua­ gem lú­di­ca, sua iro­nia e seu sen­ so crí­ti­co, Ruth pas­sa va­lo­res se­r iís­si­mos às cri­an­ças. Suas his­ tó­r i­as aban­do­nam a mo­ral dos con­tos an­ti­gos e tra­zem ver­da­ dei­ras li­çõ­es de vida”, elo­g ia a ex­pe­ci­a­lis­ta em li­te­ra­tu­ra in­fan­ til Nelly No­vaes Co­e ­lho, da USP. “O tra­ba­lho de Ruth é um dos mais re­le­van­tes da li­te­ ra­tu­ra in­fan­til no Bra­sil. Quan­ do a cri­an­ça lê seu li­vro, re­pen­ sa si­t u­a­ç õ­e s que ocor ­rem na PESQUISA FAPESP


vida real e pas­sa a re­a­gir de for­ ma mais crí­ti­ca a par­tir dos no­ vos va­l o­res apre­s en­t a­d os por ela”, faz eco ou­tra es­pe­ci­a­lis­ta do gê­ne­ro, a pro­fes­so­ra Ma­r i­sa La­jo­lo, da Uni­ver­si­da­de Es­ta­du­ al de Cam­pi­nas (Uni­camp).Afi­ nal, quan­tos au­to­res po­dem se “ga­b ar” de ter con­s e­g ui­d o adap­tar para a ga­ro­ta­da a Odis­ séia, de Ho­me­ro, fru­to de três anos de pes­qui­sa, e que ven­deu 6 mil exem­pla­res em 15 dias? Tan­to cu­i­da­do com sua obra ren­deu-lhe qua­tro ■ prê­mi­os Ja­bu­ti, da As­so­ci­a­ção Pau­lis­ta de Crí­ti­cos de Arte, e o Mon­tei­ro Lo­ba­to, da Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Le­tras, bem como teve seu nome in­clu­í­do vá­ri­as ve­ zes para o Hans Chris­ti­an An­der­ sen, o “No­bel dos in­fan­tis”. Em es­pe­ci­al, o que cha­ma a aten­ção na li­te­ra­tu­ra de Ruth é seu ma­ ne­jo im­pe­cá­vel da lin­gua­gem, acer­ta­do na me­di­da para seus lei­ to­res. “Sua vas­ta pro­du­ção or­ PESQUISA FAPESP

ques­tra um di­á­lo­go in­ter­no cons­ tan­te, o que pos­si­bi­li­ta que seus li­vros sem­pre se re­no­vem e se en­r i­q ue­ç am. O hu­m or, por exem­plo, des­sa­cra­li­za o tex­to, pa­ tro­ci­nan­do um olhar ma­ro­to ao tema”, nota Ma­ri­sa La­jo­lo. Para a pes­qui­sa­do­ra, Ruth traz a re­a­li­da­ de de seu tem­po pa­­­ra den­tro da obra e, de­pois de dei­xar o lei­tor sor­rin­do, de­vol­ve a ele essa re­a­li­ da­de.“Mas, na ope­ra­ção de rir do nar­ra­do, o lei­tor já está crí­ti­co e lú­ci­do.Trans­for­ma­do pela lei­tu­ra di­ver­ti­da”, ana­li­sa. Isso está pre­sen­te em Lei­la me­ni­na, O ja­ca­ré pre­gui­ço­so, A me­ ni­na que não era ma­lu­qui­nha, Mil pás­s a­r os pelo céu, na sé­r ie das Aven­tu­ras de Al­vi­nho, em Sapo vi­ ra rei, vira sapo e nos seus mu­i­tos ou­tros ori­gi­nais, bem como nas his­tó­ri­as que re­con­ta, in­cluin­dose mes­mo a Flau­ta má­gi­ca, de Mo­zart, e os Mú­si­cos de Bre­men, dos irmãos Grimm. Com toda essa ex­pe­r i­ên­cia, Ruth dá um con­se­lho para os pais com­pra­rem

li­vros para seus fi­lhos, to­man­do cu­i­da­do com a gran­de “quan­ti­ da­de de por­ca­r ia que está no mer­ca­do”. “Lei­am com sen­so crí­ti­co. His­tó­ria para cri­an­ça não é bo­ba­gem, pois se está for­man­ do uma men­te. É pre­ci­so ins­pi­rar as crian­ças a ir mais lon­ge, a cri­ ti­car o que está er­ra­do. Há, por aí, mu­i­ta his­tó­ria sem pé nem ca­be­ ça, li­vros que en­si­nam con­for­ mis­mo. To­mem cu­i­da­do com isso. É o fu­tu­ro de seus fi­lhos que está nes­sas pá­gi­nas. Mas como ter adul­tos ca­pa­zes de es­co­lher li­vros com sa­be­do­r ia se eles mes­mos não lêem?” Boa per­gun­ta e que me­re­ce uma re­fle­xão dos pais. Ruth já sabe a sua res­pos­ta. Per­ gun­ta­da se a Ruth cri­an­ça gos­ta­ ria dos li­vros da es­cri­tora Ruth Ro­cha, não ti­tu­beia. “Ado­ra­r ia, pois, quan­do jo­vem, gos­ta­va des­ se es­ti­lo lo­ba­ti­a­no, de his­tó­r i­as en­g ra­ç a­d as e as­s er ­t i­vas”, diz. “Mi­nha li­te­ra­tu­ra não traiu, não.” Nin­guém du­vi­da. E quem sou­ ber, que con­te ou­tra. ■

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ciência aplicada ao meio ambiente

O engenheiro da floresta

Sem olhar somente para as nuvens, Carlos Nobre tornou-se um dos mais combativos defensores da Amazônia

Em ou­tu­b ro de 1975, com a ha­b i­t u­a l voz ■ baixa e pau­sa­da, José Dion de Melo Te­les, en­tão pre­si­den­te do Con­se­lho Na­ci­o­nal de De­sen­ vol­vi­men­to Ci­en­tí­fi­co e Tec­no­ ló­gi­co (CNPq), li­gou para War­ wick Es­te­vão Kerr e anun­ci­ou: “Está aqui um en­ge­nhei­ro do ITA que quer tra­b a­lhar na Ama­zô­nia”. Sem­pre aco­lhe­dor, à fren­te do Ins­ti­tu­to Na­ci­o­nal de Pes­qui­sas da Ama­zô­nia (In­ pa), Kerr pe­d iu: “Man­d a ele para mim”. For­ma­do pelo Ins­ ti­tu­to Tecnológico de Ae­ro­náu­ ti­ca (ITA), Car­los Af­fon­so No­ bre ti­nha en­tão 24 anos, gran­ des es­pe­ran­ças e um pro­ble­ma ime­dia­to para re­sol­ver: ar ­ru­mar rou­pa para vi­a­jar no dia se­guin­ te a Ma­naus; como até aque­le mo­men­to pen­sa­va em vol­tar do Rio no mes­mo dia, não le­va­ra ba­ga­gem. Essa con­ver­sa o co­lo­cou em uma tra­je­tó­r ia que não o le­vou só à Ama­zô­nia, já en­tão sob in­ ten­so des­ma­ta­men­to por cau­sa dos pro­je­tos agro­pe­cu­á­ri­os apoi­ a­dos pelo go­ver ­no fe­de­ral, mas o tor­na­ria um dos mai­o­res es­pe­ ci­a­lis­tas em Ama­zô­nia, res­pei­ta­do

mun­di­al­men­te – o tra­ba­lho ci­en­ tí­fi­co de No­bre é hoje es­sen­ci­ al para en­ten­der as re­la­çõ­es en­ tre a flo­res­ta tro­pi­cal e o cli­ma, os im­pac­tos dos des­ma­ta­men­tos no cli­ma re­g io­nal e glo­bal e os im­pac­tos do aque­ci­men­to glo­ bal na Ama­zô­nia. Tem­pos de­pois, com o apo­ io de Kerr, ele se mu­dou para Cam­­­brid­ge, nos Es­ta­dos Uni­ dos, para fa­zer dou­to­ra­do em me­te­o­ro­lo­g ia com o re­co­nhe­ ci­do Jule Char ­ney no Ins­ti­tu­to de Tec­n o­l o­g ia de Mas­s a­c hu­ setts (MIT). Teve de es­t u­d ar mu­i­to so­bre nu­vens, chu­vas e cor­ren­tes de ar, mas não fi­cou só nos li­vros. Acom­pa­nhou as pas­se­a­tas do mo­vi­men­to am­bi­ en­ta­lis­ta emer­gen­te e apro­vei­ tou para as­sis­tir às pa­les­tras do c i­e n­t i s­t a p o­l í­t i­c o N o a m Chomsky, cu­jos li­vros co­me­ çou a ler com avi­dez. “Chomsky me aju­d ou a con­so­li­dar o co­nhe­ci­men­to de como fun­c i­o­n am as re­l a­ç õ­e s po­lí­ti­cas e so­ci­ais no mun­do”, con­ta ele. Foi tam­bém como des­co­briu que era de fato pos­ sí­vel pen­sar po­li­ti­ca­men­te com in­de­pen­dên­cia. Par­ti­ci­pou do

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mo­vi­men­to es­tu­dan­til e era por de­mais crí­ti­co, o que lhe trou­xe al­guns pro­ble­mas no ITA. Esse pau­l is­t a­n o nas­c i­d o em 1951 des­co­briu no meio do cur­so de en­ge­nha­r ia ele­trô­ni­ca que gos­ ta­va mes­mo era de fa­zer pes­qui­ sa. Seu tra­ba­lho de con­clu­são de cur­so era um mo­de­lo ma­te­máti­co de dis­per­são de po­lu­en­tes em São José dos Cam­pos, a meio ca­mi­nho en­tre São Pau­lo e Rio de Ja­nei­ro. Ao vol­tar do MIT, co­me­çou a tra­ba­lhar no Ins­ti­tu­to Na­ci­o­ nal de Pes­qui­sas Es­pa­ci­ais (Inpe), tam­bém em São José dos Cam­ pos. Ten­tou, mas não se sen­tiu con­for­tá­vel nas rou­pas de pes­ qui­sa­dor am­bi­en­tal tí­pi­co; di­fí­cil s a b­ e r s e f o i p o r t e r l i d o Chomsky ou, lá pe­los 15 anos, o Pri­ma­ve­ra si­len­ci­o­sa, o li­vro de Ra­chel Car­son que abriu os ol­ hos do mun­do (e dele pró­prio) para a cons­ci­ên­cia am­bi­en­tal ao mos­trar como um in­se­ti­ci­da, o DDT, não ma­t a­va só in­s e­t os, mas tam­bém ou­tros ani­mais, in­ clu­s i­ve o ser hu­m a­n o. No­b re mer­g u­l hou en­t ão nas lei­t u­r as so­bre a his­tó­r ia e as po­lí­ti­cas de ocu­pa­ção da Ama­zô­nia. PESQUISA FAPESP


FABIO COLOMBINI

“Acho que hoje leio mais so­bre ge­o­po­lí­ti­ca do que so­ bre me­te­o­ro­lo­g ia”, co­men­ta, exem­p li­f i­c an­d o al­g uns au­t o­ res pre­f e­r i­d os: a ge­ó­g ra­f a Ber­t ha Bec­ker, da Uni­ver­s i­ da­d e Fe­d e­r al do Rio de Ja­ nei­r o (UFRJ), o so­c ió­l o­g o ar­g en­t i­n o Edu­a r­d o Vi­o­l a, da U n i­ve r­s i­d a­d e d e B r a­s í­l i a (UnB), e o an­tro­pó­lo­go Ro­ ber­t o Araú­j o, do Mu­s eu Pa­ raen­s e Emí­l io Go­e l­d i. In­t e­ PESQUISA FAPESP

res­s a­d o por ci­ê n­c i­a s so­c i­a is, ain­da que nem sem­pre se sin­ ta à von­t a­d e com os con­c ei­ tos que po­dem le­var para um lado ou para ou­t ro, gos­t a tam­b ém de con­ver­s ar com pes­qui­sa­do­res como o an­tro­ pó­l o­g o cu­b a­n o Emí­l io Mo­ ran, pro­fun­do co­nhe­ce­dor da Ama­zô­nia bra­si­lei­ra que atu­ al­m en­t e li­d e­r a um gru­p o de pes­q ui­s a na Uni­ver­s i­d a­d e de In­di­a­na, nos Es­ta­dos Uni­dos.

As lei­tu­ras, con­ver­sas, vi­a­ gens, o tra­ba­lho e, cla­ro, a vi­são de mun­d o pró­p ria de quem co­m e­ç ou a tra­b a­l har aos 14 anos e es­tu­dou em es­co­las pú­ bli­cas de pe­r i­fe­r ia fi­ze­ram de No­bre um dos mais com­ba­ti­ vos de­fen­so­res da Ama­zô­nia e res­pei­tá­vel crí­ti­co da po­lí­ti­ca pú­bli­ca – ou da fal­ta de po­lí­ti­ ca, como ele diz – do go­ver­no fe­d e­r al para a mai­o r flo­res­t a bra­si­lei­ra.

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EDUARDO CESAR

“Um mo­de­lo de de­sen­vol­ vi­men­to ca­paz de efe­ti­va­men­te in­te­g rar a Ama­zô­nia à eco­no­ mia na­ci­o­nal deve ser ba­se­a­do em ci­ên­cia e tec­no­lo­gia, mas o go­ver­no fe­de­ral ain­da não acre­ di­ta que deva in­ves­tir pe­sa­da­ men­te na Ama­zô­nia”, comenta. Para ele, por trás des­sa si­tu­a­ ção per­sis­tem res­quí­ci­os de uma vi­são ar­cai­ca, se­gun­do a qual a Ama­zô­nia se­ria ape­nas um es­pa­ ço a ser con­quis­ta­do, em nome da so­be­ra­nia na­ci­o­nal, como há 30 anos – e não um es­pa­ço de ri­que­zas e opor­tu­ni­da­des de va­lor mun­di­al que pre­ser­vem a flo­res­ta. “Os 500 anos de ex­plo­ra­ção da Ama­zô­nia ge­ra­ram ape­nas qua­tro pro­du­tos glo­bais, a cas­ta­nha, a bor­ra­cha, o gua­ra­ná e o açaí”, ob­ serva.“Será que a Ama­zô­nia não pode ofe­re­cer mais e ser uma ma­triz de es­ca­la glo­bal?” Dotado da rara habilidade de apre­sen­tar os pro­ble­ ■ mas am­bi­en­tais em lin­gua­gem sim­ples, No­bre às ve­zes cria ter­ mos – e en­cren­cas. Em um es­tu­ do pu­bli­ca­do em 1991 na re­vis­ ta Jour­nal of Cli­ma­te, ele lan­çou o ter­mo sa­va­ni­za­ção para des­cre­ver o que pode acon­te­cer com a Ama­zô­nia em con­se­qüên­­cia do des­ma­ta­men­to e do aque­ci­men­ to glo­bal: a flo­res­ta alta, den­sa e úmi­da pode se trans­for­mar em ou­tro tipo de flo­res­ta, me­nos den­sa, mais seca e me­nos rica em bi­o­di­ver­si­da­de, como o Cer­ra­do, um tipo de sa­va­na. Os es­pe­ci­a­ lis­tas em Cer­ra­do se re­vol­ta­ram: como um en­ge­nhei­ro ousa de­ pre­ci­ar o Cer­ra­do? Seu pro­pó­si­ to, evi­den­te­men­te, não era pro­ vo­car nem ofen­der, mas aler­tar para per­das que, a seu ver, po­ dem ser evi­ta­das. Anos atrás, em um momento de autocrítica da ciência bra­ sileira, No­bre co­men­tou na TV que os ci­en­tis­tas do Experimen­ to de Grande Escala da Bios­ fera-Atmosfera na Amazônia

Nobre, ao avaliar o desempenho da primeira fase do LBA: “Tínhamos a ilusão de que o conhecimento naturalmente se converteria em tecnologia”

(LBA), um programa interna­ cional de pesquisas que ele havia ajudado a planejar e a coordenar, ha­vi­am ob­ti­do mu­i­to co­nhe­ci­ men­­­­­­­to so­bre a Ama­zô­nia, mas não sa­bi­am como trans­for­má-lo em po­lí­ti­cas pú­bli­cas para a re­ gião.“Tí­nha­mos a ilu­são de que o co­nhe­ci­men­to na­tu­ral­men­te se con­ver­te­r ia em tec­no­lo­gia”, diz. Re­es­tru­tu­ra­do, o LBA co­ me­ça uma se­gun­da fase no pró­ xi­mo ano e tal­vez con­si­ga su­prir essa de­fi­ci­ên­cia. Em agos­to, mu­i­tos anos de­ pois de se em­bre­nhar pela flo­res­ ta por ex­pe­di­çõ­es de qua­se dois

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me­ses, me­din­do o flu­xo de gás car­bô­ni­co e de va­por d’água, No­bre es­te­ve por uma se­ma­na no nor­te de Mato Gros­so. Seu pro­pó­si­to era ver como an­da­va o des­ma­ta­men­to. Gos­tou do que viu. Pela pri­mei­ra vez, nas con­ ver­sas e no cam­po, no­tou que o des­ma­ta­men­to ile­gal co­me­ça a não ser mais so­ci­al­men­te acei­to. “A flo­res­ta co­me­ça a ser tra­ta­da com mais res­pei­to”, co­men­tou No­bre en­quan­to se­gu­ra­va no colo uma qua­se-po­o­dle pre­ta à fren­te da casa em que vive com a es­po­sa,Ana Amé­lia Cos­ta, oito cães e oito ga­tos. ■ PESQUISA FAPESP


ciência aplicada ao campo

E scolha

acertada

MAGNO PATTO RAMALHO/UFLA

Magno Patto Ramalho participa do melhoramento genético do feijoeiro há mais de 30 anos

Planta de ciclo curto, o feijoeiro ideal tem alta produtividade, resistência a doenças e boas propriedades culinárias

De fala man­ s a, o m i­n e i­r o M a g­n o ■ An­to­nio Pat­to Ra­ma­lho con­

ta que a es­co­lha da pro­fis­são, fei­ta por fal­ta de op­ção, foi a de­ci­são mais acer­ta­da da sua vida. “Hoje es­tou cada vez mais con­vic­to de que apren­ de­mos a gos­tar das coi­sas”, diz o pro­fes­sor do cur­so de agro­ no­mia da Uni­ver­si­da­de Fe­de­ ral de La­­­­­­vras (Ufla), em Mi­nas Ge­r ais, es­p e­c i­a­l i­z a­d o em ge­né­ti­ca e me­lho­ra­men­to de plan­tas. Fi­­­­lho de pai fer­ro­vi­á­ rio, cons­tan­te­men­te trans­fe­r i­ do de ci­da­­­­­de, Mag­no que­r ia ser en­g e­n hei­ro ci­v il, para cons­tru­ir fer ­ro­vi­as e ser um pro­f is­s i­o­n al bem-su­c e­d i­d o. PESQUISA FAPESP

Aos 15 anos, de­pois de vá­r i­as mu­dan­ças, vol­tou para Ri­bei­ rão Ver­me­lho, ci­­­­da­de ao sul de Mi­nas on­de nas­ceu, com cer­ca de 4 mil ha­­­­bi­tan­tes. Após ter­ mi­nar o co­­le­g ial em La­vras, mu­n i­c í­p io vi­z i­n ho, de­c i­d iu es­tu­dar agro­no­mia ali mes­mo, já que não ti­ n ha como se man­ter em Be­lo Ho­r i­zon­te para cur­sar en­­­­ge­­­­­nha­r ia ci­vil. O ca­mi­nho pro­fis­si­o­nal de Mag­no Ra­ma­lho, hoje com 59 anos, ca­sa­do e pai de dois fi­lhos adul­tos, co­me­çou a ser tra­ça­do em 1968, quan­do es­ ta­ va no se­gun­do ano da fa­cul­da­de. “O pro­fes­sor de ge­né­ti­ca me dis­se que es­ta­va indo em­bo­ra e que eu fi­ca­r ia no lu­gar dele”, con­

ta. Al­guns anos de­pois isso efe­ ti­va­men­te ocor­reu. Logo após a for­ma­tu­ra foi con­tra­ta­do em 1971 como au­xi­li­ar de en­si­no e co­me­çou a dar au­las, ini­ci­al­ men­te de es­ta­tís­ti­ca. O pro­fes­ sor de ape­nas 22 anos teve como pri­mei­ro de­­sa­fio en­ca­rar uma tur­ma com 180 es­tu­dan­ tes. Na­que­la épo­ca, eram pou­ cos pro­fes­so­res para mu­i­tos alu­nos. Em pou­co tem­po re­a­ li­zou a pro­fe­cia do an­ti­go pro­ fes­sor e co­me­çou a dar au­las de ge­né­ti­ca na uni­ver­si­da­de. Pas­ sa­dos 36 anos, Mag­no Ra­ma­ lho já par­ti­ci­pou da for­ma­ção de mais de 4 mil agrô­no­mos. Em 1972, um ano após ser con­tra­ta­do pela uni­ver­si­da­de

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mi­nei­ra, mu­dou-se para Pi­ra­ ci­ca­ba, no in­te­r i­or de São Pau­ lo, para fa­zer o mes­tra­do em agro­no­mia ge­né­ti­ca e me­lho­ ra­men­to de plan­tas pela Es­co­la Su­pe­r i­or de Agri­cul­tu­ra Luiz de Quei­roz (Esalq) da Uni­ver­ si­ da­ de de São Pau­ lo, onde tam­bém fez o dou­to­ra­do. Ain­da na gra­du­a­ção viu des­­­­per­ta­do seu in­te­res­se pela cul­tu­ra do fei­jo­ei­ro. “Es­co­lhi o fei­jo­ei­ro para meu tra­ba­lho de con­clu­são de cur­so por­que é uma cul­tu­ra de ci­clo cur­to”, con­ta o pro­fes­sor. “Foi amor à pri­mei­ra vis­ta e des­de en­tão te­nho tra­ba­lha­do com me­lho­ ra­men­to des­sa plan­ta.” Mag­no Ra­m a­l ho tra­b a­l hou com ou­tras es­pé­ci­es du­ran­te cur­tos pe­­­­rí­o­dos de tem­po, mas cal­cu­ la que 85% da pes­qui­sa re­a­li­za­ da nes­ses anos to­dos tem como te­­ma o fei­jão. O foco prin­ci­pal do me­lho­ra­men­to ge­né­ti­co, área de sua pes­qui­sa, é au­men­ tar a pro­du­ti­vi­da­de da cul­tu­ra. “Para isso pre­ci­sa­mos de cul­ti­ va­res to­le­ran­tes ao es­tres­se bi­ó­ ti­co cau­sa­do por agen­tes pa­to­ gê­ni­cos”, re­la­ta. Nas três úl­ti­mas dé­ca­ das par­t i­c i­p ou ati­va­ ■ men­te do pro­ces­so de re­du­ ção de da­n os pro­vo­c a­d os pe­las doenças, com ex­pres­si­ vos avan­ços. “Inú­me­ras li­nha­ gens de cul­ti­va­res re­sis­ten­tes a uma ou mais ra­ças de de­ter­ mi­na­do pa­tó­ge­no fo­ram ob­ti­ das, mas a vi­­­­d a útil des­s as li­nha­gens é efê­me­ra e logo apa­re­cem no­vas ra­ças exi­g in­ do a subs­ti­tu­i­ção da cul­ti­var”, diz. Ra­ma­lho res­sal­ta que esse é um tra­ba­lho con­jun­to, fei­to por um pe­ que­no gru­ po de me­lho­r is­tas que tem de­di­ca­ do a vida a isso. Por essa ra­zão acre­di­ta que o prê­mio re­ce­bi­ do por ele é tam­ b ém um re­co­nhe­ci­men­to ao tra­ba­lho dos co­le­gas.

Magno Ramalho acompanha no campo o resultado dos melhoramentos feitos na cultura do feijoeiro

Além do tra­ba­lho com os pa­tó­ge­nos, com a in­tro­du­ção do fei­jão-ca­r i­o­ca, o pes­qui­sa­ dor e ou­tros me­lho­r is­tas de­ram iní­cio à se­le­ção para ob­ter vá­r i­ os ti­pos de fei­jão se­me­lhan­te ao ca­r i­o­ca, po­rém mais pro­du­ ti­vos que o ori­gi­nal.“O me­lho­ ra­men­to é uma acu­mu­la­ção de van­ta­gens, va­mos sem­­pre acres­ cen­tan­do al­gu­ma coi­sa nova”, diz. Isso re­ sul­ tou em no­ vas li­nha­gens sur­g i­das nes­ses 30 anos que o fei­jão-ca­r i­o­ca está no mer­ca­do. A bus­ca é sem­pre por li­nha­gens que as­so­ci­em alta pro­d u­t i­v i­d a­d e, re­s is­t ên­c ia a inú­me­ras do­en­ças, cor de grãos den­tro do pa­drão co­mer­ci­al e

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boas pro­pri­e­da­des cu­li­ná­r i­as. “Para con­se­guir um fei­jão com pa­d rão co­m er­c i­a l, exis­t em mu­i­tas di­fi­cul­da­des a se­rem ul­tra­pas­sa­das”, re­la­ta o pes­qui­ sa­dor. Ape­nas com a cor do grão exis­tem pelo me­nos 18 ge­nes des­cri­tos. Isso sig­ni­fi­ca que quan­do se cru­za uma li­­­nha­ gem ca­r i­o­ca com ou­tra de pa­drão de cor di­fe­ren­te, o pre­ ­to por exem­plo, para re­cu­pe­rar uma ou­t ra li­n ha­g em com pa­drão ca­r i­o­ca, é ne­ces­sá­r io ma­nu­se­ar al­guns mi­lha­res de plan­tas, pois a pro­ba­bi­li­da­de de se con­cen­trarem to­dos os ale­los (ge­nes que de­ter­mi­nam PESQUISA FAPESP


e aten­di­men­to a agri­cul­to­res. “O con­ta­to com os agri­cul­to­ res é es­sen­ci­al para os me­lho­ ris­tas, sig­ni­fi­ca a opor­tu­ni­da­de de iden­ti­fi­car pro­ble­mas que po­d em ser re­s ol­v i­d os pelo me­l ho­r a­m en­t o ge­n é­t i­c o”, re­la­ta.

ÂNGELO ABREU/UFLA

O livro Genética na agro­ pecuária, de au­to­­r ia de ■ Ramalho em parceria com

ca­rac­te­rís­ti­cas) fa­vo­rá­veis à cor de­se­ja­da é mu­i­to pe­que­na. Du­ran­te um cur­to pe­rí­o­do, de 1979 a 1981, es­te­ve afas­ta­do da uni­ver­si­da­de, mas man­te­ve o vín­cu­lo. Foi quan­do, a con­ vi­te, ocu­pou o car­go de che­fe ad­jun­to téc­ni­co da Em­bra­pa Mi­lho e Sor­go, em Sete La­go­ as, Mi­ nas Ge­ rais. “Foi uma ex­pe­r i­ên­cia mu­i­to boa, que me per­mi­tiu en­ten­der me­lhor o agro­n e­g ó­c io e as vá­r i­a s nu­an­ces das pes­qui­sas em um país da di­ men­ são do Bra­ sil”, diz o pes­qui­sa­dor. Em 1982 vol­tou para a uni­ver­si­da­de e en­vol­veu-se de­fi­ni­ti­va­men­te com o en­si­no de ge­né­ti­ca. Em PESQUISA FAPESP

1986 par­ti­ci­pou da cri­a­ção do pro­gra­ma de pós-gra­du­a­ção da Ufla, que já ti­tu­lou cer­ca de 300 mes­tres e dou­to­ res em ge­n é­t i­c a e me­l ho­r a­m en­t o. Des­ses, pelo me­nos 70 mes­tres e 20 dou­to­res fo­ram ori­en­ta­ dos por Ra­ma­ lho, que tam­ bém foi co­or­de­na­dor do pro­ gra­ma en­tre 1988 e 1993. “Em todo o lu­gar do Bra­sil que eu vou en­con­tro um ex-alu­no”, diz o pro­fes­sor. “Isso sig­ni­fi­ca que aju­dei a for­ mar al­guém, dar um rumo na vida.” A ex­ten­são uni­ver­si­tá­r ia tam­bém sem­pre es­te­ve pre­sen­te em sua vida pro­fis­si­o­nal, por meio de pa­les­tras, dias de cam­po, vi­si­tas

João Bosco dos Santos e César Augusto Pereira Pinto, está na terceira edição e é utilizado em quase todos os cursos de ciências agrárias do Bra­­­­­s il. En­t re as vá­r i­a s ati­v i­d a­d es ad­mi­nis­tra­ti­vas que to­mou par­ te des­ta­cam-se o car­go de pre­ si­d en­t e re­g io­n al de Mi­n as Ge­rais da So­ci­e­da­de Bra­si­lei­ra de Ge­né­ti­ca, de mem­bro do co­mi­tê as­ses­sor da Co­or­de­na­ ção de Aper­fei­ço­a­men­to de Pesso­al de Ní­vel Su­pe­ri­or (Ca­ pes), do Mi­nis­té­r io da Edu­ca­ ção, e de mem­bro da Co­mis­ são Téc­ni­ca Na­ci­o­nal de Bi­os­ se­g u­r an­ç a (CTNBio), do Mi­nis­té­r io da Ci­ên­cia e Tec­ no­lo­g ia. Pre­si­de atu­al­men­te a So­ci­e­da­de Bra­si­lei­ra de Me­lho­ ra­men­to de Plan­tas, as­so­ci­a­ção que aju­dou a cri­ar em 1993, e tam­bém é mem­bro do co­mi­tê as­ses­sor de agro­no­mia do Con­ se­lho Naci­o­nal de De­sen­vol­vi­ men­to Cien­tí­fi­co e Tec­no­ló­gi­co (CNPq). “Mi­­­­­nha luta é para que os ór­gãos de fo­men­to per­ ­­­­ce­bam que o me­lho­ra­men­to con­ven­ci­o­nal não pode aca­bar, por­que a so­ci­e­da­de hu­ma­na sem­pre vi­veu em fun­ção dis­­­ so”, diz Ra­ma­lho. “As téc­ni­cas bi­otec­no­ló­gi­cas mo­der­nas são uma fer­ra­men­ta adi­ci­o­nal, mas a se­le­ ção de plan­ tas foi, é e con­ti­nu­a­rá sen­do a prin­ci­pal for­ça que a so­ci­e­da­de tem para mol­dar as plan­tas e os ani­mais, vi­san­do aten­der os seus in­te­ res­ses de ali­men­tos, fi­bras, fru­ tos e me­di­ca­men­tos.” ■

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Foto publicitária 1º lugar Tim: viver sem fronteiras, de Gustavo Lacerda 2º lugar Abraço, de Ricardo de Vicq

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arte

M elhores fotos Nestas duas páginas é possível ■ ver as fotos vencedoras do Prêmio FCW de Arte 2006, categoria Foto Publicitária. Gustavo Lacerda ganhou com Tim: viver sem fronteiras, da agência Lew Lara. O segundo lugar ficou com Ricardo de Vicq, com Abraço, da agência PESQUISA FAPESP

TBWA/BR. Nas quatro páginas seguintes estão os Ensaios Fotográficos. O primeiro lugar é de Tiago Santana, com O chão de Graciliano, e o segundo ficou com Julio Bittencourt, com o trabalho Numa janela do edifício Prestes Maia 911. Os ganhadores dividiram um prêmio de R$ 286 mil. ■ ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL 33


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Ensaio fotográfico 1º lugar O chão de Graciliano, de Tiago Santana

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Ensaio fotográfico 2º lugar Numa janela do edifício Prestes Maia 911, de Julio Bittencourt

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I nstituições P arceiras

da

FCW

Fun­da­ção de Am­pa­ro à Pes­qui­sa do Es­ta­do de São Pau­lo – FA­PESP Li­ga­da à Se­cre­ta­r ia de Ci­ên­cia, Tec­no­lo­gia, De­sen­vol­vi­men­to Eco­nô­mi­co e Tu­r is­mo, é uma das prin­ci­pais agên­ci­as de fo­men­to à pes­qui­sa ci­en­tí­fi­ca e tec­no­ló­gi­ca do país. Des­ de 1962 a FA­PESP con­ce­de au­xí­lio à pes­qui­sa e bol­sas em to­das as áre­as do co­nhe­ci­ men­to, fi­nan­ci­an­do ou­tras ati­vi­da­des de apoio à in­ves­ti­ga­ção, ao in­ter­câm­bio e à di­vul­ ga­ção da ci­ên­cia e tec­no­lo­gia em São Pau­lo.

Co­or­de­na­ção de Aper­fei­ço­a­men­to de Pes­so­al de Ní­vel Su­pe­ri­or – Capes Fun­da­ção vin­cu­la­da ao Mi­nis­té­r io da Edu­ca­ção, tem como mis­são pro­mo­ver o de­sen­ vol­vi­men­to da pós-gra­du­a­ção na­ci­o­nal e a for­ma­ção de pes­so­al de alto ní­vel, no Bra­sil e no ex­te­r i­or. Sub­si­dia a for­ma­ção de re­cur­sos hu­ma­nos al­ta­men­te qua­li­fi­ca­dos para a do­cên­cia de grau su­pe­r i­or, a pes­qui­sa e o aten­di­men­to da de­man­da dos se­to­res pú­bli­co e pri­va­do.

Con­se­lho Na­ci­o­nal de De­sen­vol­vi­men­to Ci­en­tí­fi­co e Tec­no­ló­gi­co – CNPq Fun­da­ção vin­cu­la­da ao Mi­nis­té­r io da Ci­ên­cia e Tec­no­lo­gia (MCT), para apoio à pes­qui­ sa bra­si­lei­ra, que con­tri­bui di­re­ta­men­te para a for­ma­ção de pes­qui­sa­do­res (mes­tres, dou­ to­res e es­pe­ci­a­lis­tas em vá­r i­as áre­as do co­nhe­ci­men­to). Des­de sua cri­a­ção, é uma das mais só­li­das es­tru­tu­ras pú­bli­cas de apoio à ci­ên­cia, tec­no­lo­gia e ino­va­ção dos paí­ses em de­sen­ vol­vi­men­to.

So­ci­e­da­de Bra­si­lei­ra para o Pro­gres­so da Ci­ên­cia – SBPC Fun­da­da há mais de 50 anos, é uma en­ti­da­de ci­vil, sem fins lu­cra­ti­vos, vol­ta­da prin­ci­pal­ men­te para a de­fe­sa do avan­ço ci­en­tí­fi­co e tec­no­ló­gi­co e do de­sen­vol­vi­men­to edu­ca­­ci­o­ ­­­­­­­­­­­­nal e cul­tu­ral do Bra­sil.

Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Ci­ên­ci­as – ABC So­ci­e­da­de ci­vil sem fins lu­cra­ti­vos, fun­da­da em 3 de maio de 1916, tem por ob­je­ti­vo con­tri­bu­ir para o de­sen­vol­vi­men­to da ci­ên­cia e tec­no­lo­gia, da edu­ca­ção e do bem-es­tar so­ci­al do país. Atu­al­men­te reú­ne seus mem­bros em dez áre­as: Ci­ên­ci­as Ma­te­má­ti­cas, Ci­ ên­­ci­as Fí­si­cas, Ci­ên­ci­as Quí­mi­cas, Ci­ên­ci­as da Ter­ra, Ci­ên­ci­as Bi­o­ló­gi­cas, Ci­ên­ci­as Bi­o­­mé­ di­cas, Ci­ên­ci­as da Saú­de, Ci­ên­ci­as Agrá­r i­as, Ci­ên­ci­as da En­ge­nha­r ia e Ci­ên­ci­as Hu­ma­nas.

Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Le­tras – ABL Fun­da­da em 20 de ju­lho de 1897 por Ma­cha­do de As­sis, com sede no Rio de Ja­nei­ro, tem por fim a cul­tu­ra da lín­gua na­ci­o­nal. É com­pos­ta por 40 mem­bros efe­ti­vos e per­pé­ tu­os e 20 mem­bros cor­res­pon­den­tes es­tran­gei­ros.

Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial ­– CTA Criado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espa­ ciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia.


JÚRI DOS PRÊMIOS FCW CIÊNCIA GERAL

INSTITUIÇÃO DE ORIGEM

Erney Plessmann Camargo – Presidente do Júri CNPq Alejandro Szanto de Toledo USP Gerhard Malnic USP Isaac Roitman Min. da Ciência e Tecnologia Marco Antonio Sala Minucci IEAv Osvaldo Augusto Brazil Esteves Sant’Anna Instituto Butantan Walter Colli USP

PARCEIRA QUE INDICOU

FCW FAPESP CNPq Min. da Ciência e Tecnologia CTA SBPC ABC

CIÊNCIA APLICADA À ÁGUA José Galizia Tundisi – Presidente do Júri IIE Eric Arthur Bastos Routledge Seap/PR José Almir Cirilo UFPE Mônica Ferreira do Amaral Porto USP Ricardo Hirata USP Sergio Antonio da Conceição Freitas IEAPM

FCW Sec. de Aqüicultura e Pesca CNPq FAPESP SBPC Marinha do Brasil

CIÊNCIA APLICADA AO CAMPO Jorge Almeida Guimarães – Presidente do Júri Capes Armando Bergamin Filho Esalq/USP Ernesto Paterniani Esalq/USP Félix Humberto França Embrapa Joaquim José de Camargo Engler FAPESP José Oswaldo Siqueira UFLA José Roberto Postali Parra Esalq/USP

FCW CNPq SBPC Ministério da Agricultura FAPESP Capes ABC

CIÊNCIA APLICADA AO MEIO AMBIENTE Carlos Alberto Vogt – Presidente do Júri Adalberto Luis Val Bráulio Ferreira de Souza Dias

FAPESP e Unicamp USP Ministério do Meio Ambiente

FCW ABC Ministério do Meio Ambiente

UFRJ Ibama IEA/USP USP

Capes CNPq FAPESP SBPC

Fabio Rubio Scarano Marcus Luiz Barroso Barros Umberto Giuseppe Cordani Vera Lucia Imperatriz Fonseca

MEDICINA Renata Caruso Fialdini – Presidente do Júri FCW Erney Felicio Plessmann de Camargo CNPq Moacyr Scliar ABL Moisés Goldbaum Ministério da Saúde

FCW FAPESP ABL Ministério da Saúde

LITERATURA Celita Procopio de Carvalho – Presidente do Júri FCW Alfredo Bosi IEA/USP Benjamin Abdala Jr. USP Carlos Alberto Ribeiro de Xavier Ministério da Educação Carlos Alberto Vogt FAPESP e Unicamp Domício Proença ABL Elmer Cypriano Barbosa Fundação Biblioteca Nacional Marisa Philbert Lajolo Unicamp

FCW CNPq Capes Ministério da Educação FAPESP ABL Ministério da Cultura SBPC


cronograma da premiação 2007

Prazo para recebimento das indicações pela FCW

29 de fevereiro de 2008

Preparação dos dossiês dos indicados

Março de 2008

Julgamento e escolha dos premiados

Março e abril de 2008

Divulgação dos trabalhos

Abril de 2008

Premiação

2 de junho de 2008

Fundação Conrado Wessel www.fcw.org.br


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